Capítulo 5



Harry sentiu uma onda de fúria explodir em seu interior, sem pensar duas, ou sequer uma vez, ele avançou com a varinha em punho, e um feitiço em sua mente.
- Potter, não! Não, seu imbecil! – berrou Draco, mas já era tarde, Snape pôs-se em pé, ocultando Narcisa aos seus pés com sua capa, a varinha em posição de batalha, Harry mentalizou o feitiço. “Sectusempra!”, mas, para o azar e desgosto de Harry, Snape o repeliu.
Ele o fitou irritado e surpreso, sem saber como o homem soubera qual seria o feitiço que ele usaria, os lábios do outro se crisparam em um sorriso zombeteiro, e então Harry compreendeu.
- Bravo, – disse ele, sarcástico – já sabe como se faz um feitiço mudo, agora – prosseguiu ele, como se estivessem em uma simples aula de poções – precisa aprender a bloquear meus pensamentos.
Snape tornou a posição de batalha, e Harry também, mas Draco se meteu entre eles, uma expressão mais do que insatisfeita no rosto.
- Não é hora para suas aulas não-didáticas, Snape – disse ele, e Harry pode ver a mancha de Lucius passar pelos olhos frios de Severus – e nem para suas vinganças, Potter!
Snape abaixou sua varinha e guardou-a em sua capa, voltando-se “carinhoso” para Narcisa, que estava caído no chão, se arrastando em direção ao quadro, Snape a pegou no colo, e ela se agarrou ao seu pescoço, chorando, Harry também recolheu sua varinha, seu coração doía com aquela cena, Snape não se voltou para eles, mas, por cima de seus ombros, Narcisa fitou o filho, que mais parecia um espectro de seu marido falecido, esticava as mãos, tentando segurar Draco, que se aproximou e segurou sua mão.
- Oh, meu filho! – lamentava ela – Tão jovem, a minha criança! Tão jovem!
“Jovem era eu” pensou Harry, se sentindo mesquinho por isso, ele olhou para Guinevere que, pela expressão gélida e desgostosa parecia ter pensado o mesmo que ele, Snape ajeitou-a em seus braços, e fez com que a mulher ocultasse seu rosto em seu ombro.
- Você precisa dormir, Narcisa – disse ele, ele e Draco entreolharam-se, e Draco assentiu, com este gesto Snape pôs-se a subir as escadarias da mansão, provavelmente em direção ao quarto dela. – Vou colocá-la na cama – disse ele, depois fitou Moody que tinha o olho mágico fixo nele – e em seguida desço, para se precisar de ajuda.
- Snape, – chamou ele, e Severus parou alguns degraus acima, fitndo-o – isso é dependência, não é amor.
Harry não entendeu o porque de suas palavras, mas Snape assentiu, e se virou novamente, subindo as escadarias. Harry ouviu alguns resmungos de vozes finas e extremamente agudas, e de alguém assoando um enorme nariz, olhou para um dos vãos entre os quadros e viu três elfos domésticos espremidos ali, olhando para Draco suplicantes, um deles tinha os enormes olhos marejados de lágrimas, talvez porque Lucius havia morrido, quer dizer, devia haver elfos tão burros quanto Monstro por ai, e foi por pensar isso que Harry agradeceu por estar pensando, se Hermione o ouvisse, teria de ouvir a longa cláusula sobre os direitos dos elfos doméstico que ela estava escrevendo, com o objetivo de criar uma lei contra o trabalho escravo dos pobres.
Draco suspirou, fitando-os com frieza.
- Vinho dos elfos ou chá? – perguntou ele para Harry e os demais, incluindo Guinevere.
- Vinho dos elfos – disse a garota, Lupin, “Tonks”, Moody e Ginny concordaram com ela.
- Tem uma simples cerveja amanteigada? – indagou Rony, que levou uma cotovela de reprovação da parte de Hermine – Ai! Só estou perguntando.
- Tem sim, Weasley – disse Draco – alguém mais vai querer cerveja?
- Eu – disse Harry, e, a contra gosto, Hermione se posicionou, já Luna e Neville preferiram se servir de chá.
- Seis taças de vinho dos elfos, três cervejas amanteigadas, e duas xícaras de chá – disse Malfoy, sem olhar para as criaturas que guincharam satisfeitas, e saíram correndo para a cozinha – por aqui – disse ele, guiando-os para mais uma das falhas de quadra da sala.
Ginny e ele caminhavam de braços entrelaçados, enquanto Harry os fitava com uma ponta de ciúme emergindo de seu interior, também de mãos dadas estavam Rony e Hermione, Remus e Ninfadora e Luna e Neville, apesar destes últimos serem um casal um tanto peculiar, já Moody tinha o olho mágico todo virado, provavelmente acompanhando Snape no andar de cima, Guinevere passou displicente por Harry, agitando seus longos cabelos negros que roçaram em seu rosto.
Draco os guiou pela enorme porta de vidro, cujas duas enormes cortinas verde esmeralda ocultavam o interior da sala, ele lançou um último e triste olhar para suas escadas, e em seguida escancarou as portas. Era uma sala muito grande, e cortinas como a da porta ocultavam duas janelas, as únicas que haviam no aposento, o chão de madeira era coberto em quase toda sua extensão por um tapete verde com bordados em prata, sobre o qual havia dois sofás para cinco pessoas, e seis poltronas, nos fundos da sala haviam uma bela lareira, e diante dela três poltronas. A maior e ao centro se assemelhava a um trono, e foi onde Draco se sentou. Ao lado dela havia duas outras, pouco menores, onde, do lado esquerdo, Guinevere se sentou, e ninguém se atreveu a sentar no lado direito.
Harry se sentou ao lado dela, olhando os belos quadros que havia nas paredes, e as fotografias na mesa de vidro que estava ao centro do circulo. Ele reparou em uma das tantas fotos, ela estava em branco e preto por opção, Draco devia ter cerca de onze anos naquela foto, estava com o uniforme de Hogwarts, sorrindo, orgulhoso, sua mãe tinha as mãos sobre seu ombro, e seu pai estava um pouco à parte, parecia irritado de ter de tirar aquela foto, mas mantinha a pose com a qual Harry o vira durante toda a vida, Harry ficou parado, olhando para a fotografia, como se procurasse algo.
-Eu nunca fui uma Malfoy – disse Guinevere, friamente, Harry a olhou, surpreso – ele sempre me dizia isso...
Harry abaixou sua cabeça, e deixou de olhar para o porta-retratos, não havia nenhuma fotografia sequer de Guinevere, e ele se viu na casa dos Dursley, era exatamente como era lá, mas, pelo menos, ela se dava bem com o filho de seus tios, e sentava-se em uma das cadeiras que, pelo que aparentava, era de honra.
Mal eles haviam se sentado, Snape irrompeu no salão, a capa se levantando com seu andar, logo atrás dele vieram os elfos, que distribuíram, animados, as bebidas, sendo que uma das taças de vinho era destinada a Snape, ele se dirigiu a Draco, mas não se sentou na cadeira a sua direita, como pensava Harry que ele fosse fazer, ele ficou em pé, encostado na parede, estando atrás de um dos enormes sofás.
- Ela dormirá até amanhã – disse ele, sem emoção.
- Valeu, Snape – disse Draco, suspirando, como se finalmente pudesse respirar ao saber que sua mãe estava ‘bem’.
- Posso saber o porque desta reunião? – indagou ele, que não desviava os olhos de Moody um segundo sequer, assim como o outro o olhava com o olho normal, e destinava o mágico para Guinevere e Draco.
- A morte de meu pai – disse Draco, fitando friamente Snape, que retribuiu o olhar.
Snape sempre fora o professor favorito de Draco, e, pelo que ele entendia, também era um homem de confiança dos Malfoy, afinal, já havia tido uma vez em que Narcisa deixara a vida de seu único filho nas mãos dele, e, apesar do clima pesado e de hostilidade que existia ali, Harry tinha certeza que Draco o via como um conselheiro, ou alguém que pudesse iluminar o seu caminho e o ajudar a superar aquele momento, e foi quando ele sentiu seu peito apertar, e pensou como desejaria que Sirius ainda estivesse ali, como sentia falta de alguém em quem pudesse confiar da forma que só se confia em um pai.
- Gui acha que você sabe quem o matou – disse ele.
- E o que te fez chegar a esta conclusão, srta. Black? – perguntou Snape, desviando seus olhos para ela, e crispando seus lábios.
- A Ordem não o matou – disse ela, e Harry viu Sirius discutir com Snape, nenhum dos dois estava calmo, apenas tentavam se controlar. A inimizade era declarada.
- E você supõe que...
- Queima de arquivo – completou ela, Draco acompanhava a conversa de ambos como todos os outros, como se vissem um jogo de ping-pong.
Snape crispou os lábios e estreitou seus olhos, fitando-a, depois de alguns segundos a encarando, ele deu um sorriso sarcástico, e suspirou.
- Bellatriz Lestrange – disse ele, Guinevere manteve a expressão séria, mas Draco ficou em pé, olhando-o assustado, os olhos arregalados e a face mais branca do que o normal.
- Ela...O próprio cunhado?
- O próprio primo – disseram Harry e Guinevere juntos, ambos viraram o rosto para o outro lado, e Snape ergueu uma sobrancelha, curioso.
- A Black e o Potter se dão mal? – zombou ele.
- O Potter é um trasgo – disse Guinevere.
- E a Black é uma veela – disse Harry, Rony o olhou intrigado – Traiçoeira...
- Ah ta...Achei que estivesse dizendo que ela é bonita – disse Rony, terminando a caneca de cerveja amanteigada.
Remus e Ninfadora riram, Harry ficou com as bochechas rosadas, assim como Guinevere, Draco tornou a se sentar, pensativo, os olhos azuis e cristalinos dispersos por algum lugar que Harry não sabia onde era. Luna e Neville entreolharam-se, e a garota se aproximou de Moody, dizendo algo para ele de forma que mais ninguém ouviu, ele concordou com a cabeça, e voltou-se para Snape.
- E como ela invadiu Azkaban? – indagou ele, a voz grossa rouca ecoando pela sala.
- Da mesma forma como anos atrás os comensais invadiram Hogwarts – disse Snape, simplista – infiltrados.
Moody resmungou alto, e ficou pensativo em sua poltrona, Harry, Rony e Hermione entreolharam-se, enquanto Draco e Guinevere sussurravam entre si. Luna se levantou e começou a caminhar pela sala, olhando os diversos quadros e espiando a rua pela cortina, Snape e Remus se encaravam sem pestanejar, enquanto Ninfadora se juntou a Luna na apreciação dos quadros. Alguns minutos depois dois elfos domésticos entraram desesperados na sala, mas antes que pudessem dizer algo com suas vozes esganiçadas, o som de algo se quebrando no andar de cima soou, Draco saltou em pé, enquanto Snape já corria escada acima. Guinevere e Draco se adiantaram até o hall, e fizeram um sinal para que eles não saíssem da sala.
- AHHHHHHHH! – o grito de Narcisa ecoou pelos aposentos da casa, Harry olhou pelas cortinas para a escadaria, e pode ver Snape abraçado a Narcisa, de seus olhos escorriam lágrimas que começavam a se manchar de vermelho, e ele dizia algo em seu ouvido que Harry não podia ouvir.
Harry pode notar os punhos de Guinevere se fecharem sobre a varinha que tinha neles, e pode logo entender o porque, uma mulher vinha de dentro da casa, parando diante de Narcisa e Snape, seus cabelos eram negros e volumosos, indo até seus cotovelos, os olhos da mesma cor se assemelhavam a Guinevere, mas seus lábios eram vulgarmente pintados de vermelho, e sua pele era branca como a morte, e era exatamente isso que Harry se lembrava ao vê-la, a assassina de seu padrinho estava parada na sala diante dele, um sorriso triunfante nos lábios enquanto sua irmã gritava em desespero.
- O que você fez, Bellatriz? – indagou Snape, segurando Narcisa com força, ela lhe arranhava o rosto com as unhas, e Harry já podia ver o sangue lhe escorrendo pelas bochechas, Bellatriz parecia se deliciar com aquela situação.
- Ora essa, Severus, vim ver a minha querida irmã – disse ela, o sarcasmo em sua voz era transbordante, assim como a raiva que brilhava nos olhos de todos ali.
- O que você fez, mulher? – Snape estava perdendo a clama, uma veia pulsava em sua têmpora gordurosa suja de sangue, e suas sobrancelhas negras estavam estritamente unidas formando rugas de ódio em sua testa.
- Vim contar a novidade para ela, Severus, e desde quando isto é da sua conta?
- Que tipo de novidade? – perguntou Draco, chamando a atenção de Bellatriz, que pareceu um pouco apreensiva quanto a sua presença, mas ao fitar Guinevere seu sorriso tornou.
- Ora essa, Draquinho, vim contar as boas novas...Que o marido dela fora fazer companhia para nosso querido primo... – ela sorria, triunfante, e Snape precisou lançar um impedimento para que Guinevere não avançasse a unhadas para cima da tia.
- Você disse a ela que foi você? – perguntou Snape, os gritos de Narcisa aumentaram, e ela agora distribuía tapas contra o peito de Snape.
Bellatriz riu com prazer.
- Claro que sim, seu idiota! Acha que eu iria perder o gosto de ver minha bem sucedida irmã desesperada? Ver a querida Narcisa cair? – Bellatriz gritava, histericamente, um sorriso alucinado em sua boca.
- O que? – Draco estava realmente surpreso, não parecia acreditar no que estava ouvindo.
- Achou que eu perderia a chance de ver a irmã que me abandonou cair? ACHOU MESMO, SNAPE?
- VOCÊ VEIO AQUI APENAS PARA ISSO? – berrou ele, irritado de uma forma que Harry só vira uma vez em sua vida, Narcisa havia bebido algo que ele forçara-a a engolir, e agora estava encostada na parede, as lágrimas ainda escorrendo, mas ela já não mais batia nem gritava, Snape se levantou, encarando Bellatriz. – Você veio aqui apenas para isso? – repetiu ele, apesar da voz controlada Harry podia apostar que ele gostaria de estar gritando.
- LÓGICO! – gritou ela, seguido de uma gargalhada, mas ela não pode aproveitar sua alegria, Snape dera-lhe um tapa na cara que a fez perder o equilíbrio, e cair escada abaixo, desmoronando aos pés de Draco.
Nem mesmo Snape parecia acreditar no que havia acabado de fazer, olhou friamente para Bellatriz, que tinha um filete de sangue escorrer por debaixo dos longos cabelos, e voltou-se para Narcisa, que o fitou com os olhos inundados de lágrimas, ele se agachou ao lado dela, e deixou que esta chorasse em seu colo, Bellatrz olhou para o sobrinho como se esperasse apoio, mas este apenas olhou-a tão friamente quanto uma geleira, enquanto Guinevere já podia se mexer: Snape havia desfeito o feitiço.
- Saia daqui – disse Draco, a voz firme.
- E desde quando você manda algo, Draquinho? – satirizou ela, soltando uma gargalhada.
- Desde que Lucius morreu – respondeu Guinevere no lugar dele, Bellatriz empalideceu – ele é o patriarca agora.
- Fique quieta, sua burrinha.
- Fique quieta você!
- Hah! – Bellatriz se levantou, era da mesma altura que Guinevere e tão bonita quanto ela – Logo se vê que é a filha do Sirius.
- Que bom... – Guinevere sorria sarcástica, mas Bellatriz riu melhor.
- Claro, lógico! Por isso até hoje você vive de favor nesta casa.
- Melhor do que você, que nem de favor vive em lugar algum! – Guinevere a encarava cheia de ódio, mas Draco se interpôs.
- Já chega – disse ele. – Eu já mandei que saísse da minha casa, Bellatriz, não me faça repetir.
Bellatriz o olhou, como se não acreditasse no que ele dizia, mas Draco se manteve firme diante dela.
- Vocês todos irão morrer! O Lorde irá castigar a todos vocês! – gritou ela.
- Veremos quem ele irá castigar quando eu lhe disser o que fez – disse Snape, Narcisa estava em pé ao lado dele, as lágrimas não escorriam mais, apesar de seus olhos estarem vermelhos, ela fitava a irmã com um desprezo indescritível.
Harry sentiu algo vibrar em seu bolso, e ao ver o que era encontrou o objeto metálico que usara para chamar os outros há cerca de uma hora, Moody estava avisando os aurores que Bellatriz estaria daqui a pouco no Largo Grimmauld, logo ela estaria atrás das grades de Azkaban novamente, mas antes haveria uma revista geral nos funcionários ligados à prisão dos bruxos, revista esta que provavelmente seria feita pelo próprio Moody. Ela se preparou para aparatar, quando Snape lhe apontou a varinha, e congelou-a, ela o olhou sem entender.
- Você sai andando daqui – disse Draco. – Já basta a sua petulância de aparatar dentro da minha casa...Ande!
Bellatriz pareceu mais ofendida que nunca e, assim que Snape desfez o feitiço, ela caminhou batendo os pés para fora da casa, neste instante, assim que ela se viu na rua, pode-se ouvir seus gritos desesperados e vários feitiços sendo lançados, e Draco ouviu ao longe.
- TRAIDOR! TRAIDOR!
Moody olhou surpreso para ele, assim como os demais, e ele os fitou por cima do ombro, com um sorriso diabólico.
- Quem disse que a única vingança é a morte? – disse Draco, sarcástico.
- Sempre há a tortura como opção – completou Guinevere, e os dois riram maliciosamente.
No alto da escada, Narcisa suspirou, estava com enormes olheiras em seu rosto, e apoiou a cabeça no ombro de Snape, que se afastou logo em seguida, ela o olhou sem entender, mas ele não lhe ofereceu respostas. Ele e ela se encararam, mas pareceu que o homem notou que Harry os mirava, pois encarou-o pelo vão do cortinado da sala.

- Draco já pode guiar este navio sozinho – disse Snape, beijando a mão de Narcisa, e recuando um pouco, Draco o olhou surpreso, e uma mancha rosada residia nas maçãs de seu rosto – Agora eu preciso ir, com licença, Narcisa.
E com um rodopio imperceptível, e um estalo, Snape aparatou, deixando Narcisa com a mão esticada ao léu. Draco pareceu se encher de segurança com aquelas palavras, e tinha um sorriso infantil nos lábios, Ginny abraçou-o com carinho, que foi retribuído.
- Bem, senhores, precisamos conversa.

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