Capítulo 4



Harry estava branco como um fantasma, e frio como um,suas mãos estavam trêmulas, não de medo, mas de raiva e ódio por ter sido enganado por tanto tempo, ele não conseguia pará-las, assim como não conseguia acreditar naquilo que seus olhos e sua razão lhe apontavam, Ginny olhou para ele, preocupada. Não era possível. Não podia ser possível!
Guinevere passou uma de suas mãos e dos longos e elegantes pelos cabelos negros e lisos, ela parecia estar nervosa, mordendo o lábio inferior, mexendo em alguns anéis de sua outra mão, criando cachos em seus dedos com o cabelo, assim como Draco, que estava pálido, e suas mãos tremiam como Harry havia visto somente uma vez, naquela noite há anos atrás, quando Draco e Dumbledore estavam, supostamente, sozinhos na Torre de Astronomia, Draco apontava a varinha para o coração de Dumbledore, ele devia matá-lo, mas no final não conseguiu, e quem o fez fora Snape. Haryr sentiu a pena que havia sentindo por Draco naquela noite entornar novamente, mas, mesmo assim, a raiva e o ódio de ter sido enganado por Guinevere superava tudo isto, e, com um gesto, ele se desfez de sua capa, expondo tanto ele quanto Ginny à luz do lampião, a outra dupla recuou um passo ao vê-los, os olhos de céu de Draco cruzaram por um instante com os da jovem Weasley, enquanto os de Harry estavam fixos no de Guinevere, que, surpresa, tinha uma de suas mãos trêmulas sobre a boca.
- Guinevere – disse Harry entre dentes, o ódio que sentia era forte demais, e, com a varinha empunhada, segura entre seus dedos duros de raiva, ele a apontava diretamente para o coração da jovem.
- Harry, espere! Você não... – começou ela, tentando se explicar, mas Harry a cortou como um raio.
- É Potter! Para você, é Potter! – Guinevere recuou mais um passo, como se ele houvesse lhe dado um tapa, mas sua grosseria emotiva não atingiu somente a ela.
- Olha como fala, Potter – disse Draco, colocando-se diante de Guinevere, em posição de proteção.
- Não estou falando com você, Malfoy! – disse Harry, ríspido, Draco entortou a boca de insatisfação, como se houvesse comido algo amargo. – Porque nunca me disse? – prosseguiu Harry – Estava tentando obter informações, é isso? Se infiltrar na Ordem? Me usar? Era isso que você queria? – a voz de Harry era exaltada, e ele não deixava sequer um espaço de um segundo para que Guinevere pudesse se explicar, ou ao menos tentar, pois aquela traição era inexplicável, inconsolável, mas aquilo era a guerra. – Era você naquela noite! Por acaso me viu e resolveu que eu seria um bom veículo para dentro da Ordem?
- Ela não precisaria ter te visto naquela noite para saber que você seria um bom objeto – disse Draco, mas Harry prosseguiu como senão o houvesse ouvido.
- Tentou me ganhar pela lembrança de Sirius? Se é que você realmente é filha dele...
- Eu sou filha dele! – exclamou ela, ainda atrás do braço estendido de Draco. – Sou filha de Sirius Black e Alice Malfoy! – gritou ela, uma expressão angustiada em seu rosto. – E realmente fui parar em um orfanato...Eu apenas não lhe disse que, um ano depois, meus tios me adotaram...
- E foi ai que você pecou – disse Harry, suas palavras saiam amargas de sua boca – Você mentiu para mim...
- Não menti!
-...Ocultou a verdade! – Guinevere se calou.
- Então não era só boato – disse Malfoy, desdenhosamente, olhando para sua prima – minha prima estava mesmo tendo um caso com o Potter.
- E você com a Weasley, Draco! Não me venha com sermões – retorquiu ela, friamente, Harry olhou surpreso para Ginny, sua bochechas estavam da cor de seus cabelos, enquanto Malfoy encarava Guinevere de forma irritada.
- Ginny? – Harry olhou duvidoso para ela, mas ao notar que Malfoy estava tão corado quanto ela, sentiu que o mundo estava virando de cabeça para baixo – Vocês dois...? Não acredito...
- Porque não? – reclamou ela – Você não estava com a Black?
- Mas eu não sabia que ela era uma comensal.
Ginny se calou, vendo-se sem argumentos, e assim o grupo ficou até que uma luz saiu de um dos bolsos de Guinevere, ela colocou a mão nas veste e retirou um pequeno espelho de mão roxo, olhou para Draco, e se afastou, indo até uma das sombras da rua, abrindo o espelho e conversando com ele, Harry ergueu a sobrancelha, olhando incrédulo para a cena.
- Espelhofone – falou Malfoy, friamente – é parecido com o que os trouxas chamam de felitone.
- Telefone – corrigiu Harry, os dois se encararam por alguns segundos, quando os olhos de Draco e de Ginny se cruzaram, ambos desceram das calçada, e se uniram em algum ponto das sombras, neste meio tempo Guinevere retornou, uma expressão triste em seu rosto, como se houvesse acabado de retornar de um enterro.
Logo Draco e Ginny também retornaram, a garota se juntou a Harry, enquanto ele se aproximou de Guinevere.
- O que queriam? – perguntou Malfoy, sem dar muito importância na realidade.
- Draco – a voz de Guinevere estava um pouco fraca, e sua expressão era pesarosa – Seu pai...Ele...
- O que tem meu pai? – o tom de voz de Draco ganhou um tom mais preocupado, e menos desleixado.
- Ele morreu, Draco – o rapaz empalideceu, seus olhos se arregalaram, e suas pernas pareceram falhar, Draco se encostou na parede para que não caísse – informaram a sua mãe há poucos minutos...Foi encontrado morto na cela, em Azkaban.
Draco trêmulo, olhava para Guinevere como se esperasse que ela gritasse “Brincadeirinha! Só precisamos matar alguns trouxas”, mas isso não iria acontecer, Guinevere abaixou sua cabeça, em sinal de compaixão, enquanto Ginny tinha as mãos sobre a boca, de surpresa.
- Não pode ser, – disse ele, sua voz estava falha.
- Parece que foi uma maldição imperdoável...
- Não pode! – sua voz agora estava determinada, por mais que tremesse - ele não pode ter simplesmente morrido! Dumbledore disse...Disse que ele estava seguro, que ao menos ele estava seguro, pelo menos enquanto estivesse em Azkaban...!
- Ninguém poderia simplesmente invadir Azkaban... – disse Guinevere, pensativa, mais para si mesma do que para os demais, mas isso pareceu acender uma fagulha nos olhos de Draco.
- Foram vocês ... – disse ele, a varinha trêmula apontando Harry e Ginny – Foram vocês!
- Nós? – Harry ergueu a sobrancelha, Malfoy havia ficado louco.
- Sim, vocês, seus malditos!
- Draco, abra os olhos! Nós estávamos aqui o tempo todo – disse Ginny, tentando trazê-lo de volta à razão.
- Sua maldita Ordem! – os olhos de Draco estavam recheados de fúria e fixos, única e exclusivamente em Harry – Você e sua maldita Ordem mataram o meu pai!
- E você e seu querido Lord mataram os meus! – gritou Harry, simultaneamente, eles se puseram em posição de batalha, e dois lampejos saíram de suas varinhas, o de Draco fora arrebatado e acertara uma aranha, que agora se contorcia de dor, enquanto o de Harry lançara a varinha do outro longe, e o fizera perder o equilíbrio, caindo sentado no chão.
- Nós seguimos os ideais de Dumbledore – disse Harry, apontando ameaçadoramente a varinha para Draco – e nesses ideais não incluem matar.
- Dumbledore esta morto!
- Enquanto houver quem seja leal a ele, Dubledore continuará vivo – disse Harry, sério e firme, ele pode ver Draco engolir em seco quando se viu cercado por vultos que acabavam de chegar com estampidos surdos.
Guinevere recuou um passo, mas, como se houvesse trombado em algo voltara três, e realmente havia.
- Eu disse que ela não era confiável – a voz rouca e áspera de Moody soou na escuridão e, livrando-se do capuz, ele veio até a luz, Draco se tornou mais pálido, ele e Moody não simpatizavam-se mutuamente.
Os demais também abaixaram seus capuzes, Tonks agora com os cabelos roxos, curtos e arrepiados; ao seu lado estava Lupin, tão cansado quanto sempre estivera, as roupas maltratadas e cortes em sua fronte; Luna Lovegood que tinha os olhos avoados, agora sérios e severos, havia se tornado uma mulher muito bonita, os cabelos estavam cheios de tranças, e por debaixo de sua capa negra podia-se ver cores espalhafatosas; Neville Longhbotton, o colega desajeitado e gordo de Harry na época de escola estava alto e magro, os cabelos ajeitados e curtos, ele e Luna eram noivos agora, e enquanto ela se tornava editora da revista de fofocas de seu pai, O Pasquim, Neville ganhava espaço na herbologia; além destes, havia Rony e Hermione, todos com as varinhas apontadas para Draco e Guinevere.
Guinevere observou-os como se esperasse uma reação daquelas, mas Draco mal parecia notar que estava cercado, apesar de estar em pé, tremia dos pés à cabeça, as mãos em sua cabeça, e um olhar desesperado para o chão, Harry e Moody, cujo olho mágico estava fixo em Malfoy, entreolharam-se.
- Não compreendo – disse Draco, olhando para os seus pés – se não forma eles, que foi? Quem entrou em Azkaban apenas para matá-lo? – seus olhos se voltaram desesperados para Guinevere – Quem?
- Não sei – disse ela, seus olhos pareciam se controlar para não deixarem escapar lágrimas, fixando-se nas pedras da rua – mas talvez ele saiba.
- E quem seria ele? Voldemort? – intrometeu-se Harry, vários dos presentes tremeram, inclusive Draco, mas Guinevere não se mexeu.
- Não falo de um lord mestiço – disse ela, e seus olhos se voltaram para Harry friamente – falo de um Príncipe.
Os punhos de Harry se cerraram, e ele encarou-a irritado, ele sabia de apenas um príncipe mestiço, o assassino de Dubledore, Severus Snape, porém Guinevere não pareceu se importar, apenas olhou para Draco, que agora tinha a cabeça erguida, e o olhar amargo, mais do que nunca sua figura se assemelhava a Lucius.
- Você é o patriarca agora – disse ela – você decide o que devemos fazer.
Draco e os demais ficaram em silêncio durante alguns minutos, que se arrastavam como horas, quando o suspiro profundo de Draco soou na noite.
- Peço que venham comigo – disse ele, Harry pôde ver a sombra de um sorriso passar pelo rosto de Guinevere – não é muito esperto conversar sobre coisas assim no meio da rua, e em minha casa essa conversa desconfortável pode ser acompanhada de chá.
Draco parecia diferente, era como conversar com Lucius, sua classe irritante, sua postura, sua frieza, e até mesmo sua aparência, porém Draco não carregava uma ridícula bengala de cobra, e estava extremamente pálido. Todos se voltaram para Moody, mas este olhou para Harry, e os olhares seguiram até ele, com um suspiro irritado, ele concordou.
- Sem truques, Malfoy – grunhiu Moody.
- Nem se eu quisesse – Draco olhou por cima do ombro, Rony segurava sua varinha com firmeza.
Com passos firmes Draco abriu caminho no círculo, andando pela noite calma, ao menos é o que tentava aparentar, porém uma de suas mãos tremia furiosamente, apesar de seu esforço para pará-la, Ginny se adiantou até ele, e segurou sua mão, um meio sorriso tomou seus lábios, Harry ia logo atrás com Guinevere, enquanto os demais caminhavam em uma formação em “U”, criando um arco em volta deles, sem dar espaço para que os comensais escapassem.
- Você... como você está? – indagou Ginny, insegura para Draco, sua expressão não mudou, mas sua voz não foi nem ríspida nem desdenhosa, na verdade era até mesmo baixa.
- Perdido – disse ele – ele pegava em nossas mãos e decidia quais eram os caminhos que devíamos seguir ... Que eu devia seguir, e agora, ele simplesmente morre. Me sinto um navio à deriva.
- Eu sei como é – disse ela sorrindo – não sei o que faríamos se papai morresse – Draco envolveu delicadamente seu braço em volta dos ombros dela, Harry olhou para Rony, e deu um sorriso ao vê-lo cheio de ódio no olhar.
- Deve ser essa a segurança que um pai transmite – comentou Harry em um sussurro.
- É, deve ser – ele olhou surpreso para Guinevere, havia se esquecido que ela havia sofrido, ao menos um pouco, como ele, sem os pais, criada pelos tios e, até onde ele entendia, os Malfoy e os ditos sangue-puro, a mãe de Guinevere podia até ter sido deserdada por ter uma relação com Sirius.
E foi naquela altura que Harry notou o quão familiares lhe pareciam aquelas ruas decadentes pelas quais poucos se atreviam a passar, eram aquelas mesmas travessas desertas que levavam até o Largo Grimmauld, exatamente onde eles desembarcaram, casas maltratadas, com vidraças empoeiradas e quebradas, lampiões falhos e portas descascadas, o coração de Harry saltou, e olhou instintivamente para Alastor Moody, que emitiu um som que lembrava um enorme felino irritado, e fez um gestopara que olhasse para frente. Draco passou despercebido pelo nº 12 que faltava, porém os olhos de Guinevere olharam tristemente para os números 11 e 13.
- Ele nunca se lembrou de mim – disse ela, sua voz era fraca e triste – nunca se lembrou da criança que seus melhores amigos batizaram, nem quando fugiu de Azkaban, e nem quando escreveu seu testamento.
Harry baixou seus olhos, só agora ele percebeu que tudo aquilo que Sirius lhe deixou, deveria pertencer a ela. Draco seguiu em frente, e eles se afastavam cada vez mais da Mui antiga e nobre casa dos Black, até chegarem ao número 20, e só então Harry notou que faltava o 21.
- Achei que o feitiço iria se desfazer quando seu pai morresse – disse Guinevere, casualmente.
- Eu já sou o fiel do segredo há três anos, e os donos continuavam os mesmos – disse, displicente, - casas desta idade são registradas em um sobrenome – ele fechou os olhos, depois de reabri-los, entoou – A antiga e nobre casa dos Malfoy, cujas honras se arrastaram por eras, se encontra no número 21 do Largo Grimmauld, em Londres, Grã Bretanha.
Mal Draco recitara, e as palavras ecoaram na mente de Harry, uma porta de cerca de dois metros surgiu, majestosa, suas maçanetas prateadas tinham o formato de cobras, os olhos vermelhos de rubis, enormes e brancas paredes majestosas empurravam suas vizinhas para longe, janelas de quase dois metros de altura, com cortinas verdes as tampando.
- Tia Narcisa dizia que a casa dos Black sempre fora mais sombria, e que Monstro devia tê-la estragado – disse Guinevere ao ver a surpresa dos demais – Pelo que vejo ela estava certa.
- Entrem – disse Draco abrindo a porta, o grupo se esgueirou por ela, mas logo que ele fechara a porta ficaram paralisados, no centro do enorme hall de piso frio, aos pés das escadas duplas cobertas por tapetes verdes, um homem de cabelos pretos e oleosos, e uma capa tão escura quanto eles, abraçava uma mulher, ela estava ajoelhada no chão, e ele agachado, seus cabelos loiros como o sol, e suas mãos de dedos longos e elegantes, estavam erguidas em desespero, como se tentassem alcançar o majestoso quadro de Lucius Malfoy, situado entre seus ancestrais.
-Lucius...Lucius – chamava ela, as lágrimas escorrendo de seus olhos e molhando seu rosto branco cansado, ela se agitava, tentando fugir do homem que a abraçava, tentando se jogar contra o quadro, e então Harry pode ver o rosto de quem a apartava.
Sua pele era branca e macilenta, os cabelos negros eram pesados e oleosos, mas não tanto quanto ele se lembrava, caiam sobre seu rosto, tampando seus olhos, mas destacando o nariz um tanto maior do que o normal, ele se assemelhava em muito com uma planta que fora mantida no escuro. Harry sentia seus vísceras revirarem em seu estomago fitando o homem que agora ele podia identificar.
Severus Snape abraçava caridosamente a mãe de Draco, Narcisa Malfoy.

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