Capítulo 3
- Eu já disse que não é um encontro! – dizia Harry pela vigésima vez, mas Rony e Hermione continuavam insistindo em perturbá-lo.
Por não saber quem chamar, Harry havia pedido para que seus melhores amigos o acompanhassem, o que foi perfeito, pois já fazia algum tempo que Hermione reclamava ao marido que, desde que os gêmeos nasceram, ambos nunca mais saíram para namorar, o que não deixou de ser uma verdade. Harry e Rony estavam atrás de algumas roupas além das de trabalho e, após cerca de dez minutos, ambos vestiam camisas de gola de cores distintas e calças pretas, Hermione estava sentada sobre sua cama de casal, ela usava um vestido preto e justo que ia até os joelhos, as mangas compridas tinham babados nas bordas, e em seus pés um par de botas de salto de cinco centímetros de cano alto. Entre seus dedos havia uma agulha, e em seu colo uma minúscula saia xadrez.
- Se não é um encontro, porque vai sair com ela? – perguntou Rony enquanto ajeitava a gola da camisa.
- Quero entender quem ela é – disse Harry se sentando sobre a cama, quase ao lado de Hermione – quero dizer, ela é uma Black, e Sirius jamais me disse algo sobre uma filha ou uma sobrinha... E ela também não aparece na tapeçaria.
- Lembre-se, Harry, ele foi riscado de lá, assim como Andrômeda, se Ton ks não aparece, a filha de Sirius também não – disse ela, marcando alguns pontos na saia pela qual passava a agulha. – Ai! – exclamou ela, uma gota de sangre surgiu na ponta de seu dedo, e ela o levou à boca.
- Afinal, o que você esta fazendo, Hermione? – perguntou Harry, notando uma minúscula calça preta apoiada sobre a cadeira.
- Ela acha que Jack e Elizabeth devem ir à escola trouxa – disse Rony, pela sua expressão, era claro que não concordava com a idéia.
- E porque isso? – perguntou novamente.
- Ora essa, porque! E porque deveriam ver apenas o mundo do pai? – disse ela, ofendida, mostrando a pequena saia na qual fazia barra.
- Eu odiava a escola, Mione – disse Harry, ele tinha de concordar que a idéia era sem sentido.
- Viu só? Sem contar a Elizabeth! Ela mal deixa Harry encostar nela, imagine na escolinha!
- Ronald – interrompeu Hermione, e, pelo brilho em seus olhos, eles haviam alcançado o limite. – É exatamente por ela que quero que vão à escola, é lá que aprenderá a conviver com as pessoas, aceitá-las e ser aceita!
- Porque não deixa que minha mãe os alfabetize? Ela esta empolgada com a possibilidade.
- Você escreve xícara com “ch”, Ron!
- Esta dizendo que minha mãe ensina mal?
- Hey! – Exclamou Harry, ambos se encaravam raivosos – Vamos à droga da danceteria, ou vocês vão ficar ai discutindo?
Ambos viraram os rostos em direções opostas, Hermione desceu primeiro, e Rony e Harry foram mais atrás, Harry já havia explicado a situação a Ginny, ela não pareceu muito feliz, mas não discutiu e, para alegria de Quim, ela assumiu seu posto na patrulha, ao chegarem no térreo Hermione beijava a testa dos gêmeos, e os mandava dormir, jogando uma capa sobre os ombros, Rony a imitou, Harry passou a mão na cabeça de Jack, e desta vez Elizabeth fugiu para o seu quarto, sendo seguida pelo irmão.
Com a pasta da ficha da suposta mãe de Guinevere sob o braço, ele vestiu sua capa, os três se entreolharam e, como em um único giro e em um único estalo os três aparataram. A sensação mesmo depois de três anos ainda era horrível, seus ouvidos sendo pressionados com uma força absurda para dentro de seu crânio. Após alguns segundos, ele sentiu seus pés baterem no chão com força, seus joelhos falharam e ele quase caiu, pelo jeito, já Hermione aparatava tanto por causa do serviço que estava mais habituada.
- Ainda prefiro as vassouras – comentou Harry com Rony, que concordou com um sorriso.
Não se ouvia quase carro nenhum a essa hora, e duas taboas na porta d’O Caldeirão Furado informava para os bruxos não entrarem, eles seguiram pela calçada maltratada até o final da rua, onde uma porta em péssimo estado informava em letras flamejantes Fire Witch Danceteria.
- Fred e Jorge são geniais – disse Rony – fadas engana-trouxas, elas se apagam quando um trouxa se aproxima.
- Fred e Jorge? – repetiu Harry.
- Claro, são os sócios majoritários do negócio. – isso explicava porque os gêmeos haviam lhe dito para consumir.
Os três passaram pela porta, e se viram em uma recepção iluminada por uma luz roxa, dois balcões os cercavam e uma cortina tampava a passagem.
- Suas capas, por favor – disse uma bruxa não muito bonita, que Harry não sabia de onde havia surgido, Rony ajudou Hermione a tirar sua capa, e as entregou.
- Sr. e Sra. Weasley – disse ele, orgulhoso, Hermione sorriu e o beijou, ambos já haviam feito as pazes.
- Harry Potter – disse ele, entregando sua capa – a Senhorita Black já chegou?
A bruxa anotou seu nome e pegou sua capa, assentiu com cabeça e desapareceu por uma outra cortina. Os três atravessaram a cortina e uma música muito alta tomou seus ouvidos, o lugar era escuro e uma luz extremamente forte piscava, dando a impressão de que estavam em um filme em câmera lenta. Havia um balcão que tomava toda a parede a sua direita, e as demais tinham mesas para duas ou quatro pessoas, no meio, uma pista cheia de bruxos adolescentes que dançavam no ritmo do Rock d’As Esquisitonas, à margem de todo o medo e caos do mundo lá fora.
E fora quando Harry a viu, cercada por três rapazes, Guinevere dançava com desenvoltura, a luz piscava sobre ela e os homens a comiam com o olhar, ela parecia saber do fato e, mesmo assim, não se importar com ele. Sua camiseta deixava seus ombros à mostra, porém as mangas iam até seus pulsos, ela usava uma calça preta de couro, e um par de botas do mesmo material, Harry ficou deslumbrado, e sentiu algo rugir e se mexer em seu estômago toda vez que via os homens ao redor dela.
A música acabou, mas mal houve tempo para se respirar, quando outra começava, ela saiu do circulo, um copo de vinho em sua mão, e se sentou em uma mesa para quatro pessoas, enquanto ela dava um gole, o notou, e fez sinal com a mão para que se aproximassem. Harry tomou fôlego, e pode ouvir a
risada deles às suas costas, olhou irritado para os dois, seguiram até ela.
- Rony, Hermione, esta é Guinevere, Guinevere, estes são Rony e Hermione – apresentou-os. Harry, corado, eles apertaram educadamente as mãos.
- Moody disse para trazê-los? – indagou ela, Harry ficou sem graça e deixou que transparecesse – Era de se esperar – disse novamente – Ele não confia em mim.
Harry se sentiu péssimo por passar essa sensação para ela, sabia o quão ruim era quando as pessoas não confiavam em você, e mesmo que ele não concordasse com Moody, e não achasse que precisava de alguém na retaguarda, ele havia levado Rony e Hermione, o que significava que, no fundo, ele também concordava que ela não era alguém de confiança.
-Sentem-se – disse a garota amigavelmente, Rony e Hermione compartilharam o banco diante dela, enquanto Harry se viu obrigado a se sentar ao seu lado – Bem, - continuou Guinevere, após beber mais um gole de vinho – você ia me perguntar algo lá no Ministério...
- Ah, sim – disse Harry, um pouco envergonhado – é por causa do seu nome, Black, quero dizer, você é mesmo filha de Sirius Black?
Guinevere enrolava uma das mechas de seus cabelos em seu dedo indicador, olhava pensativa a taça de vinho a sua frente, onde o liquido cor de sangue refletia a festa que estava acontecendo naquele salão, Harry temeu que a houvesse ofendido, quando a garota suspirou.
- Sou – disse simplesmente, e nada mais.
Harry não sabia mais o que fazer, estava lá apenas para saber se ela era mesmo filha de Sirius, e agora? E agora que ele havia tido a resposta? E agora que sabia que nas veias dela corria o mesmo sangue do melhor amigo de seus pais, de seu padrinho, de uma das poucas pessoas em quem pode confiar durante toda a sua vida. E agora? Agora que sabia disso não podia simplesmente se levantar, sair e ir para casa, casa essa que tinha o nome dela na fachada. E foi pensando no que fazer, sem saber o que fazer com suas mãos, que ele se lembrou da pasta que trazia dentre seus dedos.
- A srta. conhece esta mulher? – perguntou ele, colocando a pasta aberta sobre a mesa, logo no inicio havia uma ficha básica sobre a mulher, um foto 3x4 dela, a mulher não sorria na foto, na verdade, dava a impressão de que jamais sorria, seus cabelos loiros e claros se mexiam junto com sua cabeça, enquanto seus olhos azuis olhavam para as bordas da fotografia, não muito satisfeita, parecia que a foto não gostava de ficar aprisionada, sua pele era extremamente branca, e seus lábios grossos e carnudos, assim como os e Guinevere.
Ela olhou para a foto com atenção, depois seus olhos começaram a passar pelas demais informações, o nome da mulher, Alice Malfoy, e, vendo tudo que havia na ficha, Harry havia chego a conclusão de que ela era irmã de Lucius, aparentemente mais nova, na ficha não trazia nenhuma informação sobre sua família.
- Sim, eu a conheço, – disse Guinevere, fechando a pasta e a devolvendo para Harry. – é a minha mãe.
Harry sentiu-se penalizado, pelos registros, a mulher estava morta há quase dezenove anos.
- Ela caiu em uma depressão profunda quando meu pai foi preso – prosseguiu ela, tornando um último gole – ainda não eram casados no papel, então continuou com o sobrenome Malfoy no atestado de óbito, enquanto eu fui registrada como Black...Como minha mãe era o que se chamava de ovelha negra da família, não há registros de seus pais ou família...Sabe, os Malfoy tem muito influência no Ministério, quero dizer, tinham, bem, depois disso fui parar em um orfanato.
Rony e Hermione se entreolharam e, como se houvessem se comunicado por telepatia, deram as mãos e se distanciaram, dançando uma música lenta pela metade da pista. Inicialmente, Harry sentiu pena dela, mas foi ao lembrar do seu destino semelhante que isso se desvaneceu, afinal, os únicos tios vivos dela seriam os Malfoy, e talvez a única coisa que se equipare em ser criado pelos Dursley no mundo bruxo, era ser criado pelos Malfoy. Guinevere não disse mais nada, apenas se serviu de outra taça de vinho com um dos garçons que estavam passando, Harry observou a pista, também bebendo agora, e viu que mais uma música lenta estava tocando, e observou seus amigos, abraçados, a dançarem, lançou um olhar para Guinevere, ela havia acabado de dar um gole em seu vinho, e agora passava o dedo pela borda, de forma até um pouco depressiva.
- Q-quer dançar? – convidou ele, hesitante, suas maçãs do rosto estavam rosadas, e havia um sorriso amarelo em seus lábios.
Guinevere sorriu, e aceitou o convite. E muitas noites como aquela vieram, abraçados na pista, dançando, de mãos dadas dividindo um drinque, abraçados em um dos sofás, distribuindo beijos e caricias. Mas as noites não podiam ser feitas apenas disto, e havia vezes que ele precisava dizer que não podia, e se entregar às patrulhas noturnas, caminhando pelas fantasmagóricas ruas de Londres, deixando-se tomar pelas brumas, afundando na escuridão, mas, assim como ele, havia noites em que ela não podia, que desaparecia nas sombras e não dava noticias, mal sabia ele com quem estava se envolvendo...
Ginny e Harry haviam se distanciado com isto, mas não apenas da parte dele, a própria Ginny andava distante, a relação entre eles se desfazia como areia no deserto, e nenhum dos dois parecia sentir falta dos entardeceres de mãos dadas à beira do rio, cercados de flores, ou sozinhos na noite, compartilhando uma xícara de café, ou uma cama. Fazia um certo tempo que ambos não patrulhavam juntos, mas desta vez Moody fizera questão que estivessem ali, àquela hora, ambos tão próximos banhados pela lua, ele sabia que seu chefe, e, se é que se podia dizer, grande amigo, não gostava de Guinevere, mas já fazia um certo tempo que ele ignorava isso. Eles caminhavam lado a lado agora, suas capas se erguiam impulsionadas pelas brumas que escondiam seus pés, e àquela altura, as nuvens já tampavam a lua e as estrelas.
- Você soube? – disse Ginny, tentando puxar assunto, olhando as sombras da rua. – Jack e Elizabeth estão freqüentando a escola trouxa.
- Sim, eu soube, – respondeu – parece que Hermione estava certa novamente, a escola esta fazendo bem a Elizabeth...Ela já esta deixando que falem com ela... – Harry parou abruptamente, e fez um sinal para que Ginny fizesse o mesmo, que mantivesse o silêncio.
Ao fim da rua, sobre a luz de um dos lampiões, havia um vulto encapuzado que parecia aguardar alguém, exatamente como Malfoy a última vez, Harry colocou a mão para dentro das vestes, e retirou sua capa da invisibilidade, cobrindo a ele e a Ginny, se esgueirando pelas sombras, e ocultos pela capa, ele se aproximaram, ficando prostrados do outro lado da rua. Dali, podendo ver o vulto de frente, Harry pode confirmar sua identidade, vendo novamente Malfoy, ansioso, por debaixo daquele véu, Ginny parecia um pouco ansiosa, e Harry a olhou carinhoso, tentando acalmá-la. Após alguns minutos de tocaia, um outro vulto apareceu das sombras, e se juntou a ele, fizeram o mesmo ritual novamente, exibindo as marcas verdes, que eram a marca de Voldemort, que levavam em seus punhos, e logo em seguida retirando o capuz, o cabelo de Malfoy havia crescido ainda mais, assim como suas olheiras, mas os olhos esmeralda de Harry estavam fixos em sua companheira, e foi ai que ele viu todas as mentiras que fizera para si mesmo e para os demais desmoronarem como um pequeno castelo de areia. Ele havia mentido para si mesmo, mas desta vez não podia negar, estava perto demais, o vulto que ele perseguira meses atrás, aquele que exibia sua Marca Negra e se encontrava com Malfoy, era o mesmo que ele abraçara durante todas as noites naquele salão iluminado.
Guinevere Black.
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