Um Natal Perfumado
Um Natal Perfumado
O espírito natalino tomara conta da casa número 12 do largo Grimmauld de maneira tão intensa que seus ocupantes mais pareciam uma única família feliz, esquecidos de que aquela era a sede da Ordem da Fênix, de que Voldemort estava à solta e de qualquer outra adversidade. Era nessa atmosfera que Hermione, Harry, Sirius e os Weasley estavam passando os dias, enquanto limpavam e decoravam a casa. Os cômodos ficaram praticamente irreconhecíveis; havia menos mofo, mais guirlandas, bolas coloridas e luzes piscantes, menos pessoas preocupadas e mais pessoas felizes. Até Hermione foi obrigada a reconhecer que as cabeças de elfos nas paredes ficaram engraçadas usando barbas e chapéus de Papai Noel e, na sala de estar, a árvore genealógica da família de Sirius ficou escondida atrás de uma grande árvore de Natal.
Talvez o efeito mais notável fosse a felicidade saltitante de Sirius, contente em ter a casa cheia para o Natal como não tinha esperado, mas Hermione não conseguia resolver se era mais surpreendente do que a onda de paz que tomara conta de seu relacionamento com Rony. Desde o dia em que ela chegara à casa, os dois não tinham brigado nenhuma vez. Se normalmente discutiriam por qualquer motivo, agora eles conversavam normalmente, como dois amigos fariam.
Harry e Gina pareciam abismados quando os viam conversando, Fred e Jorge faziam piadinhas a todo instante e até a sra. Weasley e Sirius lhes dirigiam olhares de surpresa. Nos raros momentos em que Hermione ficava totalmente sozinha, como os instantes deitada no escuro antes de pegar no sono, ela pensava esperançosamente que algo poderia até vir a acontecer entre os dois. Depois afastava a idéia, não querendo ser otimista demais para não se decepcionar depois.
Certa noite, Hermione ficou acordada até mais tarde com Rony, Harry e Gina, jogando snap explosivo e xadrez de bruxo alternadamente, com intervalos para conversas animadas entre as rodadas. Em um determinado momento, Gina piscou um olho para Hermione e resolveu ir pegar bebidas.
— Harry, será que você pode me ajudar? É difícil trazer quatro copos sem magia.
— Claro — disse o garoto, seguindo-a.
Hermione respirou fundo diante da deixa. Rony olhava para o tabuleiro de xadrez.
— Já decidiu o que vai comprar para mim no Natal? — ela perguntou.
— Não... — ele respondeu. — Nós vamos amanhã, não é? Você não acha estranho a mamãe ter deixado nós irmos junto ao Beco Diagonal comprar presentes para o Natal? No verão ela estava tão preocupada, não nos deixava pôr nem o pé para fora de casa...
— Achei, sim... Mas já que ela deixou, vamos aproveitar. Aliás, ela não é a única pessoa daqui que está mais tranqüila.
— É verdade... O que é Sirius correndo pela casa cantando músicas de Natal?
Os dois riram. Ele a olhou, e ela achou lindo o brilho que havia naqueles olhos azuis. — Você também está mais tranqüila. — ele disse.
— Eu? Eu sou sempre tranqüila.
— É, eu sei muito bem disso. Se você estivesse normal, não estaríamos a tanto tempo sem brigar.
Era a primeira vez que falavam sobre isso. Ela pigarreou.
— Então você quer dizer que nossas brigas são sempre minha culpa?
— E não são? — ele ria, estava tentando provocá-la.
— Claro que não. Não sempre... Mas, voltando ao assunto, nós não vamos comprar as coisas juntos, não é? Quero dizer, nós não podemos ver os presentes uns dos outros... Não teria o menor sentido.
— Podemos nos separar lá — ele disse, novamente focado no jogo.
— Eu já sei o que vou comprar para você.
— E o que é?
— Não vou contar!
Hermione moveu sua peça, sabendo que não tinha mais alternativas; o jogo estava perdido. Rony fez uma jogada e anunciou outra vez, mais uma de incontáveis vezes naquela noite, sem surpreendê-la:
— Xeque-mate!
— Que triste — ela murmurou, sorrindo.
— Francamente! — ele disse, imitando o jeito dela de falar. — Você é muito ruim! Será que você esquia tão mal quanto joga xadrez?
— Ora, todo mundo tem suas vulnerabilidades... — ela disse, na defensiva.
— E suas habilidades... Sou tão bom em xadrez de bruxo quanto sou ruim em quadribol.
— Não seja bobo, você não é ruim em quadribol. Se fosse, não estaria no time da Grifinória.
— A não ser que os outros concorrentes à vaga fossem piores ainda...
— Pare de se colocar para baixo! É tão irritante quando você faz isso... — ela se esforçou para não dar àquela frase um tom de crítica. — Você já tentou se valorizar? Quero dizer, você poderia muito bem ter dito que é muito bom em xadrez sem dizer que é ruim em quadribol, coisa que você nem é!
Rony sorriu com as faces coradas, rearranjando as peças no tabuleiro.
— Você... — ele fez uma longa pausa, parecia estar tentando decidir entre continuar ou não. Depois falou, finalmente: — Você bateu mesmo em Malfoy por minha causa?
Foi a vez dela de sorrir.
— E ele merecia muito mais, você não acha?
— Ele estava certo sobre...
— Não acabei de pedir para você parar com isso?
Ela se aproximou dele, empurrando o tabuleiro de xadrez para o lado. Ele engoliu em seco, corando novamente com a proximidade. — Eu bati em Malfoy por causa do que ele fez com você. Ele é um idiota, ele não consegue jogar quadribol e você sabe que ele só está naquele time por ter comprado todas aquelas vassouras no segundo ano. Além disso, ele é uma pessoa horrível, coisa que você não é. Não há como ele estar certo sobre você em nenhum aspecto. Nunca.
Rony pareceu tocado com as palavras e sacudiu a cabeça, concordando. Hermione o flagrou lançando um rápido olhar para sua boca, tomou aquilo como um incentivo e se aproximou ainda mais. Rony parecia perturbado, mas concentrado em manter-se firme. Os dois olhavam-se nos olhos muito fixamente.
— Ele não... Não conseguiu encostar um dedo em você... Certo? Senão eu acabo com ele, eu juro que eu... — ele se calou e dirigiu outro rápido olhar para a boca de Hermione.
— Ele conseguiu me desarmar — ela disse, observando atentamente a sobrancelha de Rony se crispando. — Mas não por muito tempo. Pansy Parkinson apareceu e nem juntos eles conseguiram me vencer. Deixei que fugissem correndo.
Ele sorriu. Hermione estava tremendo. Rony a olhava corajosamente como nunca antes. Para sua surpresa, agora foi ele quem se aproximou mais. E logo em seguida mais um pouco. O barulho de passos no corredor denunciou o retorno de Harry e Gina, e os dois acabaram se afastando subitamente, como se estivessem prestes a fazer algo errado. Hermione não poderia dizer se Rony tinha ficado envergonhado, pois passou a evitar o olhar dele deliberadamente. Harry empurrou a porta com o pé, pois nas mãos trazia dois enormes copos de suco de abóbora. Gina vinha logo atrás trazendo outros dois copos igualmente grandes.
Tão logo teve posse do seu copo de suco, Hermione tomou-o todo de praticamente um gole só, ainda sentindo o sangue latejar no rosto quente e o coração bater em algum lugar próximo à garganta. Arriscou um olhar para os arredores de Rony e viu que ele já deixara seu copo no chão, vazio.
E no dia seguinte, então, foram em um grande grupo para o Beco Diagonal. Além de Hermione, Harry e a sra. Weasley com seus filhos, também foram junto Olho-Tonto Moody, Tonks e Lupin, que trazia uma lista de presentes secretíssima que Sirius escrevera e pedira ao amigo para comprar, já que ele não podia sair de casa. A sra. Weasley deixou que Hermione, Rony e Harry separassem-se do grupo maior, e Hermione decretou que os três também separariam-se entre si. Insistiu porque queria ver o que Rony compraria para ela sem a ajuda da sra. Weasley, de Harry ou de qualquer outra pessoa.
Ela seguiu pelas ruas sozinha, então, e conseguiu encontrar presentes para todos. Procurou com cuidado algo especial para seus pais, mesmo sabendo que presentes não substituiriam a sua presença em casa, que ela vinha lhes negando tanto ultimamente. Passou numa agência de correio-coruja para enviá-los, solicitando que a entrega chegasse na manhã de Natal. Para Rony e Harry, comprou diários para anotar deveres. A cada página aberta, o diário avisava que o dever precisava ser feito e ameaçava com péssimas conseqüências para quem não o fizesse.
Depois que todos tinham ido deitar na véspera de Natal, Hermione ainda terminou de tricotar e embrulhou para presente uma colcha de retalhos que planejava dar a Monstro, para que ele pusesse na espécie de quarto que Sirius uma vez dissera que ele tinha na cozinha. Quando acordou na manhã seguinte, seu primeiro impulso foi procurar pelos presentes, onde quer que estivessem. Gina, na cama ao lado, parecia que demoraria muito para se acordar.
A pilha de presentes estava ao pé da cama, e ela nem se levantou dela para começar a vasculhar. Achou o de Rony sem muita demora; uma caixa de tamanho médio e relativamente pesada. Ela realmente não imaginava o que poderia haver ali dentro. Abriu o embrulho com cuidado e deparou-se com a caixa de um perfume. Franziu o cenho, imaginando Rony em uma loja escolhendo um perfume para ela. Abriu a caixa e dela tirou o vidro pesado e transparente que guardava um líquido num tom levemente azul-esverdeado. Tirou a tampa e aplicou o perfume no pulso para sentir a fragrância. Não entendia muito de perfumes, mas achou o cheiro levemente doce com um toque cítrico, numa combinação bem incomum, mas com um bom resultado.
— Onde ele arranjou isso? — murmurou, cheirando o pulso mais uma vez e não conseguindo decidir o que pensava do presente, embora soubesse que gostara.
O presente de Harry foi uma surpresa também, embora não tão fora dos padrões; um livro que ela andara procurando e não encontrara. Cerca de meia hora depois, em que abrira o resto dos presentes, se vestira e tentara sem sucesso acordar Gina, encontrou os meninos enquanto descia as escadas com o embrulho de Monstro em mãos. Aproveitou para comentar sobre os presentes.
— Há séculos eu estava querendo esse livro, Nova teoria da numerologia, Harry, obrigada! E aquele perfume é bem diferente, Rony.
— Sem problemas — foi a resposta displicente dele, que logo introduziu outro assunto. — Para quem é isso aí?
— Monstro — ela respondeu. Os dois foram com ela até a cozinha procurar o local de que Sirius lhe falara. — Pelo que sei, ele dorme debaixo do aquecedor, naquele armário junto à cozinha.
A sra. Weasley estava sentada ao lado do fogão quando eles chegaram lá, e Hermione percebeu que ela havia chorado pelo rosto inchado e pela voz anasalada dela quando desejou “Feliz Natal”. Sem graça, os três acenaram para ela em resposta e se afastaram em direção a uma portinha embaixo do aquecedor. Rony cochichou por sobre o ombro de Hermione:
— Parece que Percy devolveu o suéter que ela mandou para ele, sem nenhum bilhete, sem dizer nada. — ele fez uma pausa, na qual respirou com um pouco mais de força. Ainda cochichando, perguntou: — Você está usando o perfume?
Ela olhou-o sem saber o que dizer, pega de surpresa. Como que percebendo sua confusão, ele pigarreou e levantou a voz. — É aqui então o quarto do Monstro?
— É — Hermione respondeu um tanto nervosa. — Acho que é melhor batermos...
Rony bateu, e como não houve resposta abriu a porta, que encerrava uma espécie de ninho malcheiroso que mal devia abrigar o elfo. Em meio a trapos e pedaços de pão velho, havia os poucos objetos da família Black que Monstro conseguira salvar da limpeza que tinha sido feita na casa, na maioria fotos. À frente de todas as outras havia a de uma mulher que Harry já havia mostrado a ela e Rony, chamava-se Belatriz Lestrange e o garoto a vira na penseira de Dumbledore, no ano anterior, sendo julgada e sentenciada à prisão em Azkaban.
— Acho que vou deixar o presente aqui. — ela disse, acomodando o embrulho ali dentro. — Assim ele vai encontrar mais tarde.
— Aliás, — disse Sirius, que vinha se aproximando com um peru enorme em mãos, que ele acabara de tirar da despensa. — vocês têm visto o Monstro?
Hermione, de fato, não vira o elfo nenhuma vez desde que chegara. Harry respondeu:
— Não o vejo desde a noite em que voltamos.
À tarde, depois de um ótimo almoço de Natal, visitaram o sr. Weasley no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos, e Hermione achou o lugar fascinante. O prédio ficava no meio de uma rua de trouxas, mas para que eles não desconfiassem, estava disfarçado de loja de departamentos abandonada. Para entrar, era preciso informar ao único manequim da vitrine o motivo da visita, esperar por sua confirmação e simplesmente entrar pela parede, mais ou menos como se fazia para encontrar a plataforma nove e meia em King’s Cross.
O hospital em si não era tão diferente de um hospital de trouxas, exceto pelos avisos nas paredes, não referentes a vacinas ou cuidados para evitar acidentes domésticos, mas sim a feitiços mal feitos, poções venenosas e cuidados com objetos mágicos perigosos. E se ao invés de remédios eram usadas poções no mundo bruxo, no St. Mungus, ao invés de médicos havia curandeiros, e havia quadros com fotos deles pelos corredores. O prédio também estava todo decorado para o Natal.
O sr. Weasley estava em uma enfermaria com outros dois pacientes e pareceu bem feliz em ver todos eles. Logo após chegarem, porém, ele e a sra. Weasley começaram a discutir por ele ter decidido tentar, com a ajuda de um curandeiro estagiário, fechar seus ferimentos com a mais tradicional técnica dos trouxas, os pontos, mas que em seu caso não tinham tido efeito nenhum, aparentemente por causa do veneno da cobra.
— Na verdade os pontos funcionam muito bem com os ferimentos dos trouxas — Hermione disse a Gina, Harry e Rony quando eles conseguiram escapar da enfermaria e da discussão com a desculpa de procurar algum lugar para tomar chá. — Onde será que fica o salão de chá, aliás?
— Quinto andar — informou Harry.
Os quatro começaram seu caminho pelos corredores. Quando chegavam ao quarto andar, Harry parou abruptamente de andar na entrada de um corredor indicado com a placa DANOS CAUSADOS POR FEITIÇOS. Hermione viu que ele olhava pela janelinha de uma das portas, encarando um homem que havia lá dentro, e que Rony logo se adiantou para olhá-lo também. Era um homem de cabelos louros encaracolados e olhos muito azuis, alguém muito familiar. Ela e Gina deram um passo à frente e Hermione finalmente o reconheceu.
— Minha nossa... — murmurou, sentindo o ar lhe faltar aos pulmões. — Prof. Lockhart!
Gilderoy Lockhart empurrou as portas duplas e saiu ao corredor na direção deles, cumprimentando-os e oferecendo autógrafos. Logo em seguida apareceu uma curandeira chamando-o, e ela pareceu tão animada ao ver os quatro garotos, dizendo que Lockhart nunca recebia visitas, que eles não tiveram coragem de dizer que não tinham ido visitá-lo; acabaram acompanhando os dois até uma enfermaria para doenças prolongadas ou danos permanentes causados por feitiços.
A curandeira acomodou Lockhart em uma poltrona e lhe deu fotos para que ele autografasse, depois se afastou para continuar entregando os presentes de Natal aos ocupantes da enfermaria. Hermione observou-os, pareciam estar vivendo ali por um longo tempo. Uma das cabines estava fechada com as cortinas ao redor, mas logo elas se abriram e ela reconheceu instantaneamente os dois visitantes: Neville e sua avó.
— Já vai, sr. Longbottom? — perguntou a curandeira.
Hermione notou que o garoto parecia muito deprimido, e ela perguntou-se quem eram os ocupantes das duas camas que tinham estado cobertas com as cortinas, se seriam familiares de Neville e se esse era o motivo daquela terrível expressão de tristeza que ele tinha no rosto.
— Neville! — ela ouviu Rony chamar em voz alta, fazendo Lockhart dar um pulo em sua cadeira enquanto continuava autografando as fotos com cuidado numa caligrafia mal feita. — Somos nós!
Neville evidentemente não gostara de tê-los encontrado, pela expressão em seu rosto e pelo fato de não encará-los e sim os próprios pés. Sua avó fez as honras, cumprimentando a todos, e Hermione não se surpreendeu que a senhora não a reconhecesse, a menininha nascida trouxa que ela ajudara no Beco Diagonal alguns anos antes, não até que ela estendesse sua mão e dissesse:
— E você deve ser Hermione Granger. Neville disse que você já o ajudou muitas vezes. — Hermione estendeu sua mão para apertar a da avó de Neville. — Ele é um bom garoto, talentoso. Só não tanto quanto seu pai. — e ela apontou uma das camas.
— O quê? — Rony perguntou instantaneamente. — Aqueles são seus pais?
Entendendo subitamente a situação, Hermione desejou que Rony não tivesse reagido daquela forma, com sua indiscrição e indelicadeza habituais.
— Você não contou a seus amigos sobre seus pais, Neville? — perguntou a avó de Neville ao garoto, com alguma aspereza, ao que ele respondeu que não sacudindo a cabeça. A senhora agora pareceu bastante irritada. — Não é algo de se envergonhar, Neville! Você deveria se orgulhar! Eles não deram sua saúde e sua sanidade para que o filho deles se envergonhasse deles depois!
— Não tenho vergonha — defendeu-se Neville.
— Belo jeito de demonstrar! — ela virou-se para os garotos. — Meu filho e sua mulher foram torturados até a insanidade pelos seguidores de Você-Sabe-Quem.
Hermione cobriu a boca com as mãos, e viu pelo canto do olho que Gina fizera o mesmo. Rony, que estivera tentando ver melhor as camas dos pais de Neville, parou de se esticar e ficou com uma expressão péssima. A mãe de Neville levantou-se e veio andando em direção ao filho para lhe entregar algo. — Outra vez? — perguntou a avó de Neville. — Bem, pegue, querido, seja o que for.
— Obrigado, mamãe — Neville agradeceu, pois já tinha pego o que ela lhe oferecera; uma embalagem vazia de Chicle de Baba e Bola.
— Muito bem, Alice, querida — disse a avó de Neville, fingindo ânimo.
Depois que Alice Longbottom voltou para sua cama, Neville olhou para Hermione, Rony, Harry e Gina, pela primeira vez naquele dia, com uma expressão incomum de desafio, como se quisesse flagrá-los rindo. Hermione pensou com tristeza que ele no máximo os flagraria chorando. — Melhor irmos indo. Foi um prazer conhecer vocês todos. Venha, Neville, querido, e jogue esta embalagem no lixo, ela já lhe deu o suficiente para cobrir as paredes do seu quarto.
Eles saíram e Hermione sentiu sua garganta retorcendo-se num nó sufocantemente apertado. Olhou mais uma vez para os Longbottom, em suas camas, e inevitavelmente lembrou-se dos próprios pais, saudáveis e esquiando tristes sem ela. Nunca em sua vida sentira tanta vontade de abraçá-los e dizer a eles que os amava.
— Eu nunca soube...! — murmurou.
— Nem eu — disse Rony.
— E nem eu — Gina sussurrou.
Hermione olhou para Harry, esperando que ele dissesse “nem eu” também, mas ele tinha no rosto uma expressão esquisita e disse:
— Eu sabia. Dumbledore me contou, mas eu prometi que não contaria a ninguém. Foi por isso que Belatriz Lestrange foi para Azkaban, por usar a maldição Cruciatus nos pais de Neville até que enlouquecessem.
— Belatriz Lestrange fez isso? — Hermione perguntou. — Aquela mulher de quem Monstro tem uma foto?
Harry não respondeu. Hermione empertigou-se, subitamente desconfortável com tudo ao seu redor e sentindo-se como se não pertencesse a lugar algum, sentindo como se não pudesse suportar tanta injustiça, tanta crueldade. No retorno ao largo Grimmauld, ela pediu licença aos outros para ir à cabine telefônica que usara no verão para telefonar aos pais.
Tirou o fone do gancho e apoiou-o ao ouvido, enquanto observava os Weasley, Harry, Lupin, Tonks e Moody entrando no número 12, que logo depois sumiu como se tivesse evaporado. Lembrando-se subitamente de que não tinha um número a discar, considerando que os pais deviam estar viajando, tentou o número de casa sem muitas esperanças. Não houve resposta, e quando os toques cessaram para dar lugar ao pulsante sinal de linha cortada, ela começou a soluçar, prendendo o fone entre o rosto e o ombro e abraçando os próprios braços.
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