Ambigüidades



— CAPÍTULO VINTE —
Ambigüidades




Após ajudar Harry a organizar as almofadas e conforme a vontade de Gina, Hermione foi com ela, Rony, Parvati, Lilá e Neville de volta à sala comunal da Grifinória o mais rápido possível. Quando Rony perguntou o motivo da pressa, ela respondeu evasivamente:
— Você tem deveres, eu preciso responder uma carta.
Ele imediatamente levantou uma das sobrancelhas. Ainda irritada por causa das rondas, de todas elas, ela puxou Gina pelo braço e ultrapassou o grupo.
— O lugar dele no time... — comentou Gina. — Veja que ironia. Ela também é apanhadora. Aliás, ouvi dizer que ela está voando mal. Muito mal. Talvez até a tirem do time... Nós três somos apanhadores. Mas ela o apanhou primeiro. Entendeu? O apanhou!
Gina forçou uma risada. Hermione teve vontade de perguntar a respeito de Miguel Corner, mas mencioná-lo poderia piorar ainda mais a situação. Agora, conversando, Gina demonstrava muito mais que estava abatida do que durante a reunião. As duas disseram juntas a senha e entraram pelo buraco do retrato.
— Você vai deitar agora? — Hermione perguntou.
— Já. — Gina respondeu.
— Vou levá-la até lá em cima.
As duas subiram a escada em espiral até o quarto das quartanistas, que ainda estava vazio. Gina atirou tudo o que estava sobre a sua cama em um canto do chão e ia se deitando quando Hermione a interrompeu.
— Nada disso! Vista o seu pijama, não vai querer dormir de gravata, não é? Enquanto isso vou dar uma organizada nisso aqui.
Com dois feitiços simples, Hermione esticou os lençóis e cobertas e organizou as coisas que Gina tinha jogado no chão. A garota agradeceu com um sorriso ainda desanimado, enquanto terminava de se trocar.
— Talvez não dure muito... — ela comentou de repente. — Não acha, Mione? Talvez, depois que eles se beijarem algumas vezes, eles percam o interesse...
E então ela começou a chorar. Hermione a fez sentar-se na cama, sentou-se com ela e a abraçou. Por algum tempo a consolou, até que ela resolveu deitar para dormir.
— Se precisar de qualquer coisa, pode me chamar.
— Muito obrigada, Mione... Muito obrigada.
Hermione subiu até o quarto das quintanistas com o coração partido. Será que algo aconteceria mesmo entre Harry e Cho? Ela foi até a gaveta em que deixara a carta de Krum, pois estava determinada a respondê-la naquele instante, era nisso que estivera pensando quando dissera a Rony que ia responder uma carta. Imaginou subitamente a perspectiva de ver Rony com outra garota, como Gina estava receando ver Harry com Cho. A sensação foi tão ruim que ela tentou logo afastar a idéia de sua cabeça. E, de qualquer maneira, estava com raiva de Rony. Muita raiva.
Quando voltou à sala comunal, Harry ainda não tinha chegado. Imaginou o amigo e Cho se beijando, rodeados por aqueles retalhos de balões de “Harry Christmas”. Não pôde deixar de simpatizar com a idéia, afinal, era o que Harry queria. Era difícil para ela lidar com isso; o que Harry queria em oposição ao que Gina queria. Pegou sua mochila e levou para uma poltrona bem perto da lareira. Rony apareceu ali em seguida.
— Quais são mesmo as aulas de amanhã? — ele perguntou, mexendo preguiçosamente nos objetos dentro de sua mochila.
— Você tem o horário aí dentro; procure.
— O que há com você? Por que está tão estúpida?
— Me deixe em paz aqui, certo? Eu preciso escrever isso e você precisa fazer os seus deveres. É melhor nem conversarmos.
Ela não quis prestar atenção à reação dele. Simplesmente abriu o rolo de pergaminho e a carta e começou a escrever. Alguns minutos depois, Rony já estava deitado no tapete, à sua frente, fazendo seus deveres de Transfiguração.
Hermione começou a carta da maneira habitual. Contou o que tinha feito nos últimos tempos, o que tinha aprendido nas aulas, coisas do dia-a-dia. Comentou ainda sobre as coisas que Krum tinha contado em sua carta. Poderia finalizá-la naquele ponto, mas tinha vontade de escrever mais. Comentou a respeito de Gina, então. Não revelou o nome de nenhum dos envolvidos na história, mas comentou que se sentia dividida entre um amigo e uma amiga e seus respectivos sentimentos. Pela primeira vez ousou tocar neste tipo de assunto em carta. Perguntou-se seriamente se Krum ainda era apaixonado por ela, sem saber ao certo se queria uma resposta positiva ou negativa.
Uma negativa significaria que o garoto conseguira seguir em frente, que não sofreria mais por não ser correspondido por ela, que mandava cartas interessado apenas em manter a amizade. Uma positiva, porém, além de ser lisonjeira, significava que ela ainda o tinha como uma carta na manga, uma arma infalível contra Rony. Ela odiou-se por considerar tanto egoísmo. Voltou à carta, que já ocupava metade do rolo de pergaminho. Ouviu um barulho e levantou os olhos; Harry entrara pelo buraco do retrato e se aproximava. Havia agora muito poucas pessoas na sala comunal.
Harry sentou-se na poltrona ao lado da de Hermione. Rony não hesitou em perguntar:
— Por que demorou?
Como Harry não respondesse, Hermione examinou-o com mais cuidado; ele tinha uma expressão esquisita, olhava distraído para uma direção qualquer, sem demonstrar emoção.
— Você está bem? — perguntou.
Harry simplesmente deu de ombros.
— O que é? — Rony perguntou, ainda deitado, virando-se para enxergar o amigo melhor. — O que aconteceu?
O garoto não dava indícios de que ia responder. Hermione sabia quem era a pessoa responsável por Harry estar daquele jeito; só não sabia se por um motivo bom ou ruim.
— É a Cho? — perguntou. — Ela o encostou na parede depois da reunião?
Harry sacudiu a cabeça em afirmação, parecendo devastadoramente surpreso. Garotos eram tão bobos... Então ele não sabia que era óbvio que ele estava daquele jeito por causa de Cho? Rony estava dando risadinhas ridículas, mas parou no mesmo instante quando ela lhe dirigiu um olhar de reprovação.
— Ah... O que ela queria? — ele perguntou, tentando parecer casual.
— Ela... — Harry parecia desacostumado a usar sua própria voz. — Ela... Ahm... Hã...
— Vocês se beijaram? — Hermione perguntou objetivamente, já prestes a perder a paciência com os dois garotos.
Rony sentou-se como num estalo. Ela o achou ridículo. Não queria que ele dissesse mais nada; sua voz era totalmente irritante.
— E então? — ele perguntou, provocando um arrepio de desagrado na espinha dela.
Harry alternou o olhar entre os dois, e por fim sacudiu a cabeça afirmativamente.
— HA! — fez Rony, junto com uma ridícula vibração de vitória. Como se não bastasse, atirou-se no chão rindo e rolando pelo tapete.
Era mais que o suficiente. Enojada, Hermione tentou alienar-se voltando novamente sua atenção à carta. Seguiu escrevendo, mas isso infelizmente não anulava seu sentido de audição. — E então? — Rony perguntou. — Como foi?
— Molhado — Harry respondeu depois de alguma hesitação.
Rony fez um barulhinho com a voz que Hermione não sabia o que significava; sabia apenas que era patético e que preferia não ter ouvido. — Porque ela estava chorando — Harry completou. Hermione considerou a possibilidade de se retirar antes do próximo comentário inútil de Rony, mas não queria que Harry pensasse que sua impaciência era com ele.
— Ah... — disse Rony. Ela podia ouvir o cérebro dele funcionando para tentar relacionar aquela nova informação. O resultado dos cálculos foi desastroso, pois ele perguntou: — Você beija tão mal assim?
— Não sei — Harry respondeu vagamente. — Talvez sim.
— Claro que não — ela disse, vendo-se obrigada a afastar aquela idéia ridícula antes que Harry pudesse pensar em acreditar.
— Como você pode saber? — Rony perguntou agressivamente.
— Porque a Cho tem chorado metade do tempo nos últimos dias — ela respondeu. — Chora na hora de comer, no banheiro, em todo o lugar.
Na verdade, Hermione não a vira chorando tantas vezes assim. De qualquer forma, tinha uma boa idéia dos motivos que a deprimiam tanto.
— Mas era de se esperar que uns beijinhos a animassem um pouco. — Rony disse, com uma risadinha.
Ela não queria acreditar que ouvira certo, que ele tivera a capacidade de dizer aquilo.
— Rony, — disse, ainda escrevendo, lutando para manter a voz em um tom normal. — Você é o legume mais insensível que eu já tive a infelicidade de conhecer.
Ao final, ela percebeu que rasurara completamente a última frase que escrevera, de tanta raiva. Começou a escrever ao lado uma frase pedindo desculpas pelo “erro”.
— O que quer dizer com isso? — Rony retrucou indignado. — Que tipo de pessoa chora quando está sendo beijada?
— É, — Harry reforçou — quem?
Ela pressionou a pena sobre o pergaminho para imprimir um ponto final na frase e depois olhou para os garotos; seria Rony tão pior assim que Harry?
— Vocês não entendem como a Cho se sente nesse momento? — perguntou.
— Não — foi o que os dois responderam, juntos, e ela não esperava realmente que soubessem.
Ela suspirou e deixou a pena de lado, antes que rasurasse a carta de Krum em mais algum outro ponto. Os garotos esperavam pela explicação, atentos.
— Bem, em primeiro lugar, ela obviamente se sente muito triste com a morte de Cedrico. Depois, eu suponho que ela se sente confusa, pois antes ela gostava de Cedrico e agora gosta do Harry, e talvez ela não consiga distinguir de qual dos dois gosta mais. Além disso, ela se sente culpada, por achar que é um insulto à memória de Cedrico beijar Harry, e preocupada com o que as pessoas vão dizer sobre ela se ela começar a sair com Harry. Ainda deve ser bem esquisito para ela o fato de estar sentindo algo por Harry, que era a pessoa que estava com Cedrico quando ele morreu, portanto isso tudo é muito confuso e doloroso. Ah, claro, e ela está com medo de ser expulsa do time de quadribol da Corvinal, pois tem voado muito mal.
Depois de alguns momentos de profundo silêncio, Rony disse, sem desfazer sua expressão de total espanto, incredulidade e estranheza:
— Uma pessoa não pode sentir tudo isso ao mesmo tempo... Explodiria.
Ela o olhou, tentando transmitir toda a repugnância que ele lhe inspirava.
— Só porque você tem a amplitude emocional de uma colher de chá, isso não significa que sejamos todos iguais. — em silencioso triunfo, ela retomou a pena sem olhar para Rony, mesmo morrendo de curiosidade de ver sua expressão.
— Foi ela quem começou — Harry disse. — Ela meio que... Ela meio que veio até mim, e logo depois estava chorando em cima de mim, eu... Não sabia bem o que fazer.
— Não é sua culpa... — disse Rony, aparentando não ter o que mais acrescentar.
— Você só precisava ser legal com ela — Hermione disse, e parou de escrever para olhar para Harry. — Você foi legal com ela, não foi?
— Bem... — Harry devia estar calculando o que ele julgava significar “ser legal com ela”. — Eu meio que... Dei uns tapinhas nas costas dela.
Hermione conteve-se para não rir. Aquela situação de estar “dando uma palestra sobre como lidar com garotas” já ultrapassara o limite do ridículo.
— Acho que poderia ter sido pior... — disse vagamente. — Vai vê-la outra vez?
— Claro, não é? Temos as reuniões da AD...
— Você me entendeu — ela retrucou com frieza, não disposta a aceitar que Harry realmente não tivesse entendido o que ela quisera dizer. De qualquer forma, ele não respondeu. — Bem, você terá muitas outras chances de convidá-la.
— E se ele não quiser convidá-la? — Rony perguntou.
— Não seja idiota. Harry gosta dela há séculos, não é, Harry?
Novamente, Harry não respondeu. Depois de algum silêncio, Rony quis saber:
— Para quem é o livro que você está escrevendo, a propósito? — ele se esticava bobamente para tentar ler o pergaminho desenrolado que quase tocava o chão.
Hermione tirou o pergaminho do alcance dele e respondeu, com toda a indiferença que conseguiu fingir:
— Vítor.
Krum? — ele perguntou na mesma hora.
— Quantos outros Vítors nós conhecemos?
A expressão no rosto de Rony, em situações normais, teria lhe causado alguma pena. Agora, só lhe trazia satisfação. Ele virou-se, tornou a deitar no tapete e voltou ao dever de Transfiguração, enquanto ela voltou à sua carta e Harry permaneceu ali, sentado, pensando.
Hermione levou ainda cerca de vinte minutos para terminar a carta de Krum. Ao final, pediu desculpas por tantos detalhes e coisas que não interessavam a ele, e comentou que conseguira um feito incrível por ter escrito aquilo tudo durante uma discussão. Pensou em relatar a raiva que estava sentindo de Rony e o quanto aquilo contribuíra para seu descontrole nos assuntos da carta, mas achou melhor não mencioná-lo. Afinal, ainda não sabia se a resposta para aquela pergunta era negativa ou positiva.
Tão logo fechou a carta, ela juntou suas coisas e deu boa noite aos garotos, subindo em seguida ao dormitório. Estava realmente cansada agora, e sentiu que nada seria capaz de acordá-la uma vez que adormecesse. Guardou suas coisas e se trocou antes de deitar, remoendo sempre a mesma irritação com Rony. Rony e sua falta de coragem, e sua falta de tato, e sua falta de sensibilidade, e sua falta de tudo o mais que deveria ter e não tinha. Ela abraçou o travesseiro. Como Cho tinha tido coragem de se aproximar de Harry? O que aconteceria se ela resolvesse simplesmente encostar Rony na parede, como ela fizera?
De qualquer maneira, ele não merecia que ela tomasse tal atitude. Se ele era tão detestavelmente desprovido de todas as características que um garoto precisava ter, ele deveria pelo menos tomar a iniciativa. Era o mínimo que ele podia fazer. E ainda assim, ela não saberia se iria aceitá-lo... Aos poucos as idéias começaram a se mesclar e confundir, até desaparecerem por completo, todas juntas.

As quintanistas da Grifinória se vestiam em silêncio na manhã seguinte. Hermione foi a primeira a ficar pronta; guardou sua resposta à carta de Krum na mochila, pendurou-a no ombro e deixou o quarto. Seu primeiro objetivo era descobrir se Gina estava bem, então desceu até o quarto das quartanistas e bateu à porta, perguntando se podia entrar. As colegas de Gina disseram que ela não estava lá, e uma delas garantiu que a cama dela estava vazia desde muito cedo. Nenhuma das garotas sabia dizer quando ou por que Gina deixara o quarto.
Intrigada, Hermione desceu à sala comunal esperando encontrar Gina ou alguém que soubesse de algo sobre seu sumiço. Perguntou a alguns colegas dela se sabiam de algo, mas eles afirmaram que a tinham visto pela última vez no jantar da noite anterior. Ela agradeceu e resolveu descer para o salão principal. Talvez Gina estivesse tomando café, talvez tivesse ido ao corujal, talvez tivesse ido fazer qualquer coisa; provavelmente não era nada com que ela devesse se preocupar.
Sentou-se sozinha à mesa da Grifinória, pois Rony e Harry ainda não tinham chegado. Por que eles dormiam tanto? Acabariam chegando atrasados à aula de História da Magia. Pior ainda do que isso era que ela odiava comer sozinha. Sem outra distração, acabou comendo muito rápido, antes mesmo de as corujas adentrarem o salão com o correio. Ficou mais um tempo ali, esperando que as corujas chegassem para receber seu exemplar do Profeta Diário e principalmente esperando que os garotos chegassem ou Gina aparecesse.
As corujas chegaram e se foram, Hermione olhou bem seu jornal, leu algumas coisas e deu o café da manhã por encerrado. Por ter esperado tanto tempo, não poderia ir ao corujal antes da aula para enviar a carta de Krum se não quisesse se atrasar. De qualquer modo, não apenas Rony, Harry e Gina não tinham aparecido no salão principal, mas Fred e Jorge também não tinham tomado o café da manhã. Aquilo estava muito estranho.
Rony e Harry não apareceram nas aulas da manhã, e Hermione começou a se preocupar seriamente. Não conseguiu se concentrar nas aulas, tentando imaginar onde poderiam estar, e o pior era que não conseguia pensar em nenhuma possibilidade coerente que justificasse o sumiço deles. Deixou de almoçar para procurá-los pelo castelo. Queria se controlar para não entrar em pânico e sair perguntando a todos se sabiam de alguma coisa. Caminhou e correu pelos corredores e até foi à sala precisa para ver se os encontrava. Quando passou três vezes diante da parede em frente à tapeçaria de Barnabás, o Amalucado, apareceu uma porta que dava para uma sala que parecia uma réplica do corujal.
Hermione não se concentrara em nada em particular ao passar por ali, mas imaginou que as corujas que ali tinham aparecido vinham em seu socorro porque devia estar pensando em querer encontrá-los, querer falar com eles. Por muito pouco não mandou uma coruja; foi impedida apenas pelo pensamento de que uma coruja interceptada com a informação do sumiço dos Weasley e de Harry Potter de dentro de Hogwarts assim, da noite para o dia, poderia piorar ainda a situação, fosse qual fosse.
Perguntou-se se os professores sabiam de alguma coisa, mas imaginou que a profa. McGonagall viria lhe contar, sabendo que era a melhor amiga de Rony e Harry e que estaria preocupada com eles. Antes de deixar a sala precisa, ela aproveitou e mandou a carta de Krum por uma das corujas. Dali correu em busca da professora de Transfiguração.
Contudo, McGonagall não parecia estar em parte alguma. Hermione a procurou na sala dos professores, na torre da Grifinória, no salão principal e em todos os outros lugares da escola onde julgou que ela poderia estar. Imaginou que ela poderia estar no largo Grimmauld, participando de uma reunião extraordinária que tivesse como objetivo apurar o que poderia ter acontecido com Rony, Harry, Gina, Fred e Jorge. Sacrificando a aula de logo após o almoço, já à beira do desespero, Hermione saiu correndo à rua, rumo aos jardins, tão depressa que caiu várias vezes na neve fofa.
Chegou à cabana de Hagrid já aos prantos. Não sabia mais aonde ir ou o que fazer, não conseguia entender o que poderia ter tirado os cinco de suas camas durante a noite, e o pior era que ninguém parecia perceber que tinham sumido além dela, pois ninguém parecia preocupado ou falava no assunto. Bateu à porta insistentemente, mas Hagrid não respondeu. Não sabia se ele estava em aula ou se estava enfiado na floresta com seus bichos misteriosos, mas sentiu raiva por ele não estar ali; era o único que lhe restava e não estava ali para ajudá-la. Intensificou o choro, ajoelhada em frente à porta de entrada da cabana.
Havia ainda um último recurso, mas Hermione não sabia como usá-lo. Queria desesperadamente ir à sala de Dumbledore, sabendo que, se ele não soubesse de nada, então ninguém mais saberia. O problema era que ela nem ao menos sabia onde ficava a sala do diretor, pois nunca estivera lá. Harry já fora àquela sala mais de uma vez, mas agora ela não podia realmente perguntar a ele como fazer para chegar lá.
Só agora, que estava tendo algum tempo para pensar, sentada à porta da cabana de Hagrid, foi que Hermione lembrou-se de que passara o dia anterior inteiro irritada com Rony, odiando-o em cada aspecto. Agora só podia arrepender-se diante da devastadora situação a que tinha sido submetida sem nenhum aviso. Odiou-se por odiá-lo por motivos tão pequenos enquanto queria apenas esquivar-se do que realmente sentia por ele; odiou-se, pois agora que ele tinha sumido ela sentia falta de todo o tempo que perdera sentindo raiva dele.
Ela não saberia dizer quanto tempo ficara ali chorando, em frente à casa de Hagrid, mas quando se levantou percebeu que quase congelara por ter ficado sentada diretamente no chão, na rua, sem estar usando uma capa e ainda por um longo tempo. Olhou no relógio e viu que tinha cinco minutos para chegar à aula de Runas Antigas, sua próxima. Excepcionalmente displicente com os estudos como estava, decidira correr para chegar a tempo apenas porque esperava perguntar à professora como podia chegar à sala de Dumbledore.
Ocorreu-lhe de repente que era uma pena que nenhum outro aluno da Grifinória estivesse em sua turma daquela disciplina, pois não perguntara ainda aos garotos que dividiam o quarto com Rony e Harry se eles os tinham visto desaparecer. De qualquer maneira, correu até a sala de aula e chegou alguns minutos atrasada.
— Pensei que ia marcar uma falta para a senhorita pela primeira vez, srta. Granger — foi o comentário da profa. Janille Audsden.
— Sinto muito pelo atraso, professora. — disse Hermione, ainda muito ofegante, avançando para a mesa à qual a professora estava sentada. — Eu posso lhe fazer uma pergunta?
— Claro que sim, srta. Granger. Referente ao dever que eu deixei na aula passada...?
— Não — Hermione apressou-se em responder, já que a professora começara a procurar algo em seus pergaminhos. — Na verdade... Eu gostaria de saber onde fica a sala do prof. Dumbledore.
A profa. Audsden franziu o cenho.
— O que a senhorita quer com o diretor?
Hermione piscou os olhos repetidas vezes; ainda os sentia inchados.
— Estou com um problema — respondeu vagamente. — Há algo que eu gostaria de perguntar a ele ou à profa. McGonagall, mas não consegui encontrá-la.
— Isto significa que a senhorita não planeja ficar para a minha aula?
Audsden tinha uma expressão severa de desagrado, e Hermione percebeu que todos os colegas tinham erguido-se de suas tarefas para observar a conversa.
— Claro que não — ela respondeu, baixando a cabeça e encaminhando-se para uma carteira vazia, sem ânimo e sem a resposta que buscava.



***
NOTA DA AUTORA: Existe uma inconsistência na tradução original desse trecho no livro "Harry Potter e a Ordem da Fênix". Para escrever as fics, trabalho com o livro (traduzido para o português e publicado pela editora Rocco) e com uma versão em e-book do original (escrito pela J.K., em inglês evidentemente). Há uma diferença entre os dois no capítulo em que a Hermione chega ao largo Grimmauld para o Natal, o cap. n°23, "Natal na Enfermaria Fechada". Na versão brasileira, Hermione afirma: "Dumbledore me contou o que aconteceu ontem de manhã, mas precisei esperar o encerramento oficial do trimestre para viajar" (p. 408). Já na versão original, ela diz: "Dumbledore told me what had happened first thing this morning, but I had to wait for term to end officially before setting off" (ou "Dumbledore me contou o que aconteceu esta manhã bem cedo, mas eu precisei esperar pelo encerramento oficial do trimestre para viajar").
Ou seja: na versão brasileira do livro, Hermione fica sabendo do sonho de Harry, do ataque que o sr. Weasley sofreu e que Harry e os Weasley foram para o largo Grimmauld na manhã seguinte à noite em que Harry teve o sonho, enquanto na versão original, em inglês, Hermione só fica sabendo de tudo um dia mais tarde, o mesmo dia em que viaja para encontrar todos na sede da Ordem. Depois de muito pensar e esquematizar a diferença entre as duas versões na minha versão, vi que me era mais conveniente e que, afinal de contas, era mais justo levar em conta o original e não a tradução.
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