Crianças da Ordem
Crianças da Ordem
— Dumbledore está aqui! — sussurrou Fred.
— Como você sabe? — Rony perguntou, desconfiado. — Ouviu alguma coisa?
— O vi lá embaixo, ora! As orelhas extensíveis ainda não estão funcionando direito, temos que fazer outros testes... Queria tanto poder ouvir o que eles estão dizendo lá embaixo...
Gina entrou no quarto mandando todos ficarem quietos.
— Dumbledore está subindo, acho que vem falar com a gente.
Hermione levantou-se de um pulo, subitamente ansiosa. O que será que Dumbledore diria a eles? Será que lhes traria alguma informação? Lá fora já anoitecera e parecia prestes a chover, e ela viu que Rony, Gina, Fred e Jorge estavam tão ansiosos quanto ela. A porta abriu-se e o diretor de Hogwarts apareceu, com uma expressão firme no rosto.
— Olá, como estão? — perguntou ele, casualmente.
— Bem — foi a resposta dos cinco, em uníssono.
— Ótimo. Bem, estou aqui para dizer-lhes algo muito importante... Gostaria de relembrar a importância de não dar informação alguma a Harry. Vocês têm se correspondido com ele?
— Ainda não mandamos cartas a ele — respondeu Rony, hesitante. — mas hoje chegou uma carta dele. Bem, eu diria que ele está bem ansioso por notícias.
Hermione quis intervir a favor de Harry; não achava justo que ele não soubesse de nada. Quando Dumbledore falou, sua voz era firme e baixa, mas enchia todos os cantos do quarto de Rony:
— Quando responderem, digam somente que não podem dar-lhe detalhes. Digam que estão bem e que vão encontrá-lo dentro de pouco tempo. Prometam que farão isso.
— Mas por que não podemos dizer nada a ele? E por que ele não pode vir para cá, conosco? — Hermione perguntou, tremendo de medo de irritar o professor.
— Posso lhes assegurar, srta. Granger, que Harry está seguro com os trouxas. Eu o tenho vigiado, estou acompanhando tudo o que se passa com ele. Não há necessidade de se preocuparem. Quanto às informações, não é seguro mandar coruja alguma revelando detalhes de onde estamos e o que estamos fazendo, pois as cartas podem ser interceptadas.
Mesmo que não fosse absolutamente convincente, a resposta do diretor tinha um tom de encerramento. Ele despediu-se dos garotos e deixou o quarto, voltando a fechar a porta. Os cinco entreolharam-se, frustrados por não terem ouvido nenhuma novidade.
Já era angustiante o suficiente estar dentro da sede da Ordem da Fênix sem acesso a informações, Hermione pensava, mas estar isolado e sem saber de nada devia ser pior ainda. Era horrível, então, ter que escrever sempre as mesmas coisas em resposta às cartas ansiosas de Harry: dizer que ele não se preocupasse, que não deixasse a rua dos Alfeneiros sozinho, que se encontrariam logo.
— Seria melhor então que não mandássemos resposta nenhuma. — Hermione comentou com Rony, irritada, enquanto observavam pela janela a coruja de Harry partir com o bilhete que havia pouco tinham escrito. — Assim, além de não saber de nada e de ficar preocupado, ele também vai nos odiar por não contarmos nada a ele.
— Se não mandássemos resposta nenhuma, ele ficaria mais preocupado ainda. — Rony retrucou.
— Pois eu acho que ele já está preocupado o suficiente. Escreva o que eu estou dizendo; mais cedo ou mais tarde essa falta de informações vai fazer ele cometer uma loucura.
— Você é tão positiva, não é mesmo?
— E você é muito conformado.
Ela deixou Rony sozinho na janela e saiu do quarto dele, irritada e preocupada. Parecia impossível, mas as coisas tinham piorado ainda mais para Harry. O Profeta Diário continuava desacreditando a história do retorno de Voldemort, e sua principal arma para tal era ridicularizar Harry Potter. O jornal criou a idéia de que o garoto era perturbado e inventava histórias excêntricas para chamar a atenção de todos. Como ele era a única pessoa que de fato vira Voldemort, além dos comensais da morte, a história caiu por terra quando ele foi considerado um mentiroso. Hermione perguntava-se se Harry estivera lendo o jornal ou se o fato de ter virado piada no mundo dos bruxos também lhe era completamente desconhecido.
Quando chegou a época do aniversário do amigo, Hermione insistiu com Rony que precisavam arranjar presentes para enviar a ele. Como a sra. Weasley não queria nem mesmo considerar a possibilidade de eles deixarem o largo Grimmauld para irem aonde quer que fosse, eles acabaram comprando pelo correio duas caixas de chocolates da Dedosdemel para enviar ao amigo.
— Por que não enviamos só uma? — Rony perguntou, sem desgrudar os olhos das caixas.
— Eu não vou me dar o trabalho de responder. — retrucou Hermione, sem desviar sua atenção do trabalho de embrulhar as caixas.
Os dias foram passando e quando Hermione percebeu já se passara quase um mês. De vez em quando pedia Pichitinho emprestado a Rony para enviar cartas aos pais, pois não tinha mais fichas para usar na cabine telefônica.
— Eu posso comprar para você, querida! — ofereceu-se o sr. Weasley, querendo uma desculpa para entrar em um estabelecimento trouxa.
— Não é necessário, sr. Weasley. Sempre me comuniquei com eles através de corujas, aquele dia eu quis telefonar para ouvir a voz deles, só isso.
Membros da Ordem que ela conhecia e não conhecia entravam e saíam da sede, alguns ficavam e outros não. A jovem bruxa que se chamava Tonks logo ficou amiga dela e de Gina, e mostrou a elas que era uma metamorfomaga, ou seja, podia mudar sua aparência da maneira que quisesse. Durante as refeições de que participava, ficava mudando a forma do nariz para fazer as meninas rirem.
Harry mandava cartas irritadas exigindo informações que Hermione e Rony nem mesmo tinham, mas que se tivessem não poderiam fornecer. O garoto não mencionou as caixas de chocolates que os dois lhe enviaram como presente de aniversário.
— Ele está furioso, podem apostar — disse Hermione, depois que Rony lera em voz alta a última carta de Harry. — E o pior é que ele tem toda a razão; eu ficaria louca se fizessem comigo o que estamos fazendo com ele.
— O pior é que ele não tem toda a razão, — discordou Rony. — pois nós também não fomos informados de nada.
— Somos crianças demais, nós cinco. — comentou Jorge, sorrindo, mas com um tom de indignação. — Seis, contando com Harry.
— Somos as crianças da Ordem. — completou Fred, rindo.
Alguns dias depois, já com a ajuda das orelhas extensíveis inventadas pelos gêmeos, eles descobriram alguns poucos detalhes a mais do que já sabiam sobre a Ordem da Fênix. Souberam que os membros da Ordem tinham lutado contra Voldemort antes de ele perder os poderes e que agora estavam divididos em funções; alguns seguiam comensais da morte para tentar descobrir algum plano de que pudessem estar participando, outros recrutavam novos membros para a Ordem e outros formavam a guarda que protegia Harry, que ao contrário do que eles pensavam não era formada apenas por Mundungo Fletcher e Arabela Figg.
Em conversa posterior com Gina, Hermione também soube de mais detalhes sobre o episódio de Percy. Segundo a amiga, ele fora promovido a assistente júnior do ministro, Cornélio Fudge.
— O que não era algo esperado, realmente, mesmo porque muita gente condenou Percy pelos erros que ele cometeu no ano passado, ao cumprir ordens de alguém que se fazia passar pelo sr. Crouch.
— Pois é, — ponderou Hermione — então por que ele ganhou a promoção?
— Aí é que está... Talvez o plano de Fudge fosse ter um espião dentro da Ordem.
Hermione arregalou os olhos.
— Mas Percy não poderia fazer isso!
— Era o que pensávamos, mas ele não cogitou em nenhum momento recusar o cargo — disse Gina, tristemente. — Ele e papai discutiram tanto, de uma forma que eu nunca vi papai discutir com ninguém... E Percy disse coisas horríveis! Disse que sentia vergonha do papai e que é por causa da falta de ambição dele que nunca ganhamos muito dinheiro.
— Ele não pode ter dito isso! — Hermione protestou, indignada.
— Mas disse. E foi embora.
— Nossa... Seus pais devem ter ficado péssimos...
— Papai continua furioso... E mamãe tem vontade de chorar sempre que lembra disso tudo.
Aquilo não fazia muito sentido. Será que Percy era tão ambicioso a ponto de pôr a carreira antes da família em sua lista de prioridades? Quando olhou para Gina, ela tinha o olhar perdido em algum ponto para o qual olhava através da janela.
— Será que Dumbledore vai deixar Harry vir para cá? — disse a garota.
— Bem, eu espero que sim, não é?
— Eu nem tanto... Quero dizer, eu sei que deve ser muito ruim lá com os tios dele... Mas pensando só em mim... Não sei se quero que ele venha.
— Por quê? — Hermione perguntou, surpresa.
— Porque eu me sinto idiota na presença dele. Tenho a impressão de que não só ele sabe do que eu sinto por ele como também me odeia por isso.
— Por favor! Harry não odeia você, é lógico que não!
— Ah, provavelmente não, mas é como eu me sinto.
— Então mude isso!
— O que eu posso fazer para mudar? Quando eu chego perto dele começo a tremer toda, sinto o rosto ficar vermelho, não consigo falar!
— Tente com mais empenho! Por exemplo... Converse mais com ele, aproxime-se mais dele. É normal que você se sinta constrangida na presença dele porque além de gostar dele vocês não se conhecem direito e nunca se falaram muito... Talvez o melhor jeito para você se aproximar dele seja fazendo amizade...
— Mas de que adianta me aproximar dele se ele gosta da Cho Chang?
— Bem, acredito que adianta mais do que não se aproximar, não é?
Gina suspirou longamente.
— Um pouco mais... Mas não o suficiente.
— Talvez você devesse notar a existência de outros garotos, então. Talvez algum dia Harry esqueça Cho e se interesse por você, não acha? Não acredito que ele vá se distanciar da sua família, então ele sempre estará por perto para haver chance de acontecer algo entre vocês. E enquanto isso você pode distrair a cabeça conhecendo outras pessoas.
A garota pareceu considerar a idéia, mas não disse mais nada.
Certa noite, as “crianças da Ordem” estavam reunidas, como de costume, no quarto de Rony; ele jogava xadrez de bruxo com Fred enquanto Jorge assistia e Hermione e Gina conversavam. Aparentemente seria uma noite como todas as outras, em que eles conversavam ou jogavam depois do jantar até que a sra. Weasley mandasse irem todos dormir em seus quartos. No entanto, um som alto e incomum de vozes vindo lá debaixo os deixou alerta.
— Tem alguma coisa acontecendo — disse Jorge.
— Vou pegar as orelhas! — disse Fred, excitado, desaparatando e aparatando pouco depois com orelhas extensíveis nas mãos.
— Como isso pode ter acontecido? — eles ouviram a sra. Weasley gritar. — Ah, aí está você, seu imprestável!
— Eu só saí por um momento — disse a voz de Mundungo Fletcher. — e quando voltei, ele tinha se livrado dos dementadores.
— Eu sabia! — bradou a sra. Weasley. — Sabia que isso ia acabar acontecendo! Mal pude acreditar quando recebemos, ainda agora, a coruja de Arthur contando o que tinha acontecido! E se Harry for mesmo expulso de Hogwarts?
— Dumbledore foi para o ministério, — disse Fletcher. — irá dar um jeito para que o garoto não seja punido.
— Não é bem assim! — disse a voz de Sirius, contida mas raivosa. — Dumbledore já não tem mais a influência que tinha sobre o ministério. A defesa dele agora vale o mesmo ou menos para o ministério do que a defesa de qualquer um.
— O que houve com Harry? — Hermione disse, assustada.
— Vamos descer — disse Gina. — Vamos ver isso mais de perto.
— Mas vão nos mandar subir... — disse Rony com desânimo.
— Venha — decretou a irmã mais nova, mas foi interrompida por Edwiges, a coruja de Harry, que acabara de entrar pela janela e entregou um bilhete a Rony, um a Hermione e manteve um terceiro preso à perna.
Hermione abriu rapidamente o seu, que dizia:
“Acabo de ser atacado por dementadores e posso ser expulso de Hogwarts. Quero saber o que está acontecendo e quando vou poder sair daqui.”
O de Rony dizia a mesma coisa, e Hermione viu que no terceiro estava escrito “Sirius”.
— Deve ser a mesma mensagem — disse Rony.
Foi então que Edwiges avançou sobre ela, bicando sua mão agressivamente. Rony tentou deter a coruja mas também foi atacado.
— Acho que Harry pediu que ela insistisse por uma resposta. — disse Rony.
— Eu também acho que ele merece uma resposta decente — Hermione tentou argumentar para Edwiges, choramingando, suas mãos cobertas de cortes e sangue. — Mas não é nossa culpa...
Com um movimento rápido, Fred e Jorge agarraram Edwiges e a colocaram sobre o armário.
— Corram! — disse Fred, e os cinco correram para fora do quarto, ele por último para trancar a porta. — Espero que ela se acalme!
— Agora vamos lá embaixo ver o que está acontecendo — disse Gina, começando a descer as escadas e sendo logo seguida pelos outros.
No final da descida, deram de cara com Dumbledore, que aparentemente acabara de chegar.
— Subam. Não há nada para verem aqui. — disse o diretor, ríspido.
— Mas professor, veja! — disse Hermione, estendendo o bilhete de Harry, sujo com seu sangue.
Dumbledore leu rapidamente, e Jorge disse tão logo o diretor levantou os olhos:
— O senhor nos garantiu que ele não corria perigo algum.
— É verdade, sr. Weasley — disse o diretor numa voz que mal continha sua irritação profunda. — Infelizmente, um erro foi cometido e as coisas fugiram ao meu controle. Mas vou consertá-las. Harry virá para cá o quanto antes. Agora subam!
Hermione estremeceu com o tom de voz do diretor, nunca o vira tão aborrecido. O olhar dele, porém, revelava também que ele estava realmente assustado com o que acontecera.
— Venham — ela disse, puxando Rony pelo braço.
Para não serem atacados novamente por Edwiges, seguiram direto para o quarto de Gina e Hermione. Lá dentro voltaram a escutar com as orelhas extensíveis.
— Haverá uma audiência no dia doze de agosto — disse Dumbledore. — em que decidirão se Harry será ou não expulso de Hogwarts por ter usado magia fora da escola; ele conjurou um patrono para se defender dos dois dementadores que o atacaram nos arredores de sua casa. Ele enfrentará também um processo. Nós o buscaremos dentro de alguns dias, montaremos um grupo que irá buscá-lo.
Rony olhou para Hermione; era um olhar de alívio por saber que Harry viria, de fato. Ela segurava com força a ponta do dedo indicador dele, na tentativa de estancar o sangue do corte profundo que Edwiges lhe fizera.
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