Quem é R.A.B.?
— HARRY DE ASSISTENTE??? – exclamou Hermione em tom de chacota, quando o caçula ruivo começou a exaltar a nova função do amigo em Hogwarts – Fala sério Rony, você não acredita realmente que a professora Minerva considere que ele assuma esta responsabilidade! – disse, apontando para “o Eleito”.
— Tudo bem! – concordou o garoto da cicatriz, ao perceber que o amigo iria iniciar uma discussão para defende-lo – Eu sei que a diretora só me fez esta oferta para que eu permanecesse no castelo, sob sua vigilância. De qualquer forma, não terei tempo para qualquer outra tarefa que não seja a de me aperfeiçoar em feitiços de combate.
— Pense bem, Harry! – insistiu o jovem Weasley – Você poderá mandar até nos monitores-chefe...
O garoto interrompeu a frase para dedicar sua atenção ao novo tipo de sobremesa que sua mãe acabara de colocar na mesa à frente do mais recente visitante d’A Toca, aliás, Molly Weasley não se cansava de oferecer guloseimas e outros confortos, ao “Menino-Que-Sobreviveu”, desde a sua chegada há poucas horas atrás. Hermione virou os olhos para o ruivo e dirigiu-se a um canto da cozinha, onde Gina permanecia ligeiramente isolada, desde que fora chamada a recepcionar o “amigo” Harry.
Este, por sua vez, experimentou educadamente a iguaria que lhe era oferecida pela bondosa senhora, e voltou sua atenção para uma conversa iniciada já há algum tempo com Lupin e que constantemente era interrompida pelos demais presentes. Vez ou outra, seu olhar cruzava discretamente com o de Gina, mas ambos estavam conseguindo disfarçar a situação sem levantar suspeitas.
Já era tarde da noite quando Harry deitou-se em uma cama improvisada no quarto do amigo Rony e finalmente pôde iniciar uma conversa mais reservada com seu anfitrião.
— Está acontecendo alguma coisa entre você e a Mione? – a pergunta foi incisiva.
— Está acontecendo alguma coisa entre você e a minha irmã? – a contra-ofensiva veio imediatamente.
Um breve instante de silêncio se instalou entre os dois, que aparentemente analisavam até onde aquele assunto poderia chegar se fosse dada seqüência à conversa, então, visivelmente devido a um pacto mútuo de silêncio, os dois murmuraram:
— Boa noite, Rony!
— Boa noite, Harry!
O tempo que se seguiu passou rapidamente para Harry, que havia permanecido na casa dos Weasley até poucas horas antes de seu aniversário, previamente comemorado com um farto jantar em que compareceram a quase totalidade de seus amigos e, antes que começassem a temer por sua segurança, o jovem desaparatou para o Monte dos Imortais, onde permaneceu estudando intensamente o livro de magias de Gryffindor, retirando-se para a sua masmorra particular apenas para se alimentar e dormir.
Quando finalmente chegou o dia da chegada dos alunos a Hogwarts para o re-início do ano letivo, Harry já dominava três feitiços muito interessantes, extraídos do velho livro: um deles criava uma imagem idêntica e estática de seu usuário por intermédio do comando “Duplicatus”, podendo substituir o original até que este retornasse ao ponto exato de sua convocação, outro fazia com que seu o corpo trocasse de lugar com a própria sombra, não alterando a aparência desta, utilizando a palavra mágica “Inversus” e, finalmente, o que lhe tomara mais tempo para dominar, em especial por tê-lo treinado também não verbalmente e sem a varinha – utilizando o comando “Corpóreum Dispersare”, as moléculas de seu corpo se separavam momentaneamente, dando-lhe a aparência de uma nuvem de fuligem que permitia que qualquer objeto o atravessasse, naquele determinado instante, sem lhe causar danos.
Faltando alguns minutos para a chegada do Expresso de Hogwarts em Hogsmeade, Harry tomou um rápido banho e vestiu-se com trajes comuns – o rapaz preferiu não utilizar as vestes da Grifinória – e dirigiu-se para a porta de entrada do castelo, onde, ao lado de Hagrid – que neste ano não acompanhou os alunos de primeiro ano, por ter sido escolhido pela professora McGonagall para ser o novo diretor da Casa Grifinória – ficou a cumprimentar os antigos colegas e amigos que chegavam e, com grande curiosidade, a observar os novos alunos, oriundos de Beauxbatons e Durmstrang, que se misturavam silenciosamente aos futuros companheiros de estudo.
Como já havia convivido durante quase um ano letivo inteiro numa situação semelhante, há algum tempo atrás, Harry não destacou nenhuma personalidade discrepante entre os colegas estrangeiros, com exceção de uma jovem de belíssimos cabelos negros que chegou acompanhada de Madame Máxime, e que parecia ter os olhos muito irritados e vermelhos – aspecto este, provavelmente, causado por ter permanecido um longo tempo chorando – e que também aparentava uma excessiva palidez e fraqueza, chegando a ser amparada pela meio-gigante para se locomover. Ao passar pelo bruxinho, a garota lançou-lhe um olhar muito profundo, em que havia um misto de ódio e desprezo, causando uma sensação que há muito o rapaz não sentia: um pequeno formigamento acompanhado de uma leve pontada em sua cicatriz.
Harry achou aquilo muito estranho mas, antes que pudesse dar maior atenção ao fato, ele e Hagrid foram chamados a ingressar no salão para a cerimônia de escolha do chapéu seletor. Mesmo os alunos estrangeiros que não estavam no primeiro ano foram convocados a serem selecionados para uma das quatro casas da escola, sendo proporcionalmente divididos entre estas. Harry permaneceu durante todo o evento em pé, ao lado da porta de entrada, não se sentando à mesa com os antigos companheiros, apesar de ser constantemente chamado por Rony e Hermione para lhes fazer companhia. Gabrielle, irmã de Fleur foi escolhida para a Grifinória e, uma das últimas alunas a serem chamadas para a seleção foi Michelle Bentley da Beauxbatons, que não era outra senão a jovem que havia causado o pequeno desconforto em Harry poucos momentos atrás. Mal ela havia se sentado no tradicional banquinho e ter o Chapéu Seletor aproximado de sua cabeça pelas mãos da professora McGonagall, o mesmo disparou: “Sonserina!”, fazendo o rapaz lembrar-se da vez em que Draco Malfoy participara do mesmo ritual, anos atrás.
Assim que teve início o banquete, Harry retirou-se para sua masmorra, deixando um olhar triste e resignado de Gina para trás, porém, após dois dias sem ter tido nenhuma notícia do rapaz, a ruivinha foi surpreendida no banheiro feminino por Winky, que lhe entregou um pacote contendo a capa da invisibilidade e um bilhete onde se lia: “Não fique triste, em breve darei um jeito para que nos encontremos. Um beijo. Harry”.
— Como? Não estava entre os passageiros do trem? – a voz do Lord das Trevas elevou-se com grande furor, diante da informação transmitida pela sua serva.
— Devem tê-lo conduzido ao castelo por outros meios. – a voz de Bellatrix demonstrava um leve tremor – Talvez até já estivesse em Hogwarts sem o nosso conhecimento, afinal, há mais de um mês que deixou a casa dos tios...
— Bem, não importa. – a víbora acalmou-se – Logo Rabicho nos dará notícias e ficaremos sabendo o que ocorreu com o jovem Potter. Mas, neste momento, vamos nos dedicar ao plano que envolve o velho Scrimgeour, como estão os preparativos?
— Temos dois comensais infiltrados no Ministério e um dos assessores controlado pela Maldição Impérius, basta apenas a sua ordem, meu amo.
— Em breve... em breve daremos início à investida final! – os olhos de cobra de Voldemort pareciam vislumbrar o futuro – Não vamos nos precipitar...
Durante uma semana inteira, Harry não retornou à área comum do castelo, permanecendo absorto em seus estudos no topo do monte gelado. Naquela manhã, Harry sabia que Gina teria aula de Herbologia em uma das estufas no lado oeste do castelo, pois, apesar de não estar participando da rotina escolar junto dos demais colegas, continuava mantendo contato freqüente com a ruivinha através de bilhetes e recados veiculados pelos seus elfos, então, manteve-se parcialmente oculto pela densa vegetação que circundava o local, aguardando uma oportunidade para ter com a menina.
— Você é Harry Potter, não é?
O garoto levou um susto ao ser surpreendido pela voz macia e feminina às suas costas.
— S-sim? – respondeu gaguejando, enquanto se voltava para identificar a garota dos olhos vermelhos da noite da cerimônia de seleção, um delicioso perfume emanava de seu corpo.
— Você não está estudando em Hogwarts? Eu te vi na primeira noite no castelo, e depois não te vi mais! – o tom de voz da jovem era extremamente cordial e sua presença era muito agradável, bem diferente da primeira impressão que seu olhar havia causado.
— Eu... sou assistente da diretora... não estudo mais... – aos seus ouvidos, aquela frase pareceu bastante idiota, mas foi só o que pode imaginar em responder no momento, aparentemente, o aroma que acompanhava a jovem tinha um interessante efeito sobre o rapaz.
— Deve ser um emprego bem legal! Está se escondendo de alguém? – apesar da garota não ser possuidora de uma beleza arrebatadora, sua jovialidade e espontaneidade cativavam de imediato.
— Estou esperando... digo... estou procurando...
— Olhe! Lá vem minha colega de aula... Gina! Gina! – interrompeu-o a menina, acenando para a ruivinha que se aproximava, enquanto dava minúsculos e graciosos saltinhos para se fazer enxergar.
— Oi! – disse a garota ao alcançar o local onde os dois se encontravam – Tudo bem? – seu olhar buscou o de Harry, tentando adivinhar o que estava acontecendo.
— Tudo bem! – respondeu a ex-Beauxbatons, antecedendo-se ao rapaz – Estava conversando com o Harry. – e, voltando-se para o rapaz – Vamos nos encontrar uma hora qualquer para nos conhecermos melhor! – e, lançando um dos braços ao redor do pescoço do atônito bruxinho, deu-lhe um longo e úmido beijo no rosto.
— Vamos Gina, vamos logo senão vamos nos atrasar! – e, tomando a perplexa ruivinha pelo braço, arrastou-a em direção à estufa mais próxima, a mesma ainda lançou um olhar gelado para o garoto que exibia no rosto um vermelho tão forte que nem Rony conseguiria desbancar.
Naquela noite, Hermione entrou na Sala Comunal da Grifinória batendo os pés fortemente, e se dirigiu a um dos sofás onde Rony e Gina se encontravam estudando, esta última visivelmente perturbada e de mau humor.
— A diretora Minerva me disse que o Harry não fez contato com ela também. – anunciou, largando seu corpo no espaço existente entre os dois irmãos e cruzando os braços com indignação.
— Que será que está havendo? – o garoto ruivo preocupou-se – Agora que estamos todos juntos, não há motivo para este sumiço... você sabe de alguma coisa Gina?
Diante do silêncio da menina, Hermione girou seu corpo para o lado da colega e, analisando sua expressão, disse:
— Será que aconteceu alguma coisa? Você parece chateada!
— Talvez tenha acontecido! – respondeu, com rispidez, a enfezada menina – Talvez ele tenha caído de uma das escadas e quebrado o pescoço, ou talvez tenham envenenado a sua comida, ou, ainda, pode ser que tenha se congelado até a morte naquele maldito monte! – e, levantando-se abruptamente, saiu correndo em direção ao dormitório, quase trombando com Neville que acabara de passar pelo buraco do retrato, trazendo o gato de Hermione no colo.
— O que aconteceu? – perguntou Longbottom, aproximando-se dos outros dois que se entreolhavam perplexos com o ocorrido.
— Bichento! – exclamou a menina, esquecendo momentaneamente a cena que se passara, ao observar o animal de estimação nos braços do outro – Onde você estava? Faz dias que não o vejo! – concluiu, levantando-se e tomando o bichinho para si.
— Ele estava circundando a entrada para a Sala Comunal da Sonserina, tem uma garota da Beauxbatons que possui uma ratazana.
— Sim, é a Michelle! – observou o jovem Weasley, com grande entusiasmo.
A garota fitou o rosto eufórico do rapaz com estranheza, ao que o ruivo, percebendo a expressão de interrogação da menina, acrescentou:
— É bem parecido com o Perebas, mas tem uma das patas prateada.
— Como? Quem? Do que está falando? Como conhece esta garota? – finalmente a jovem conseguiu formular a pergunta que estava engasgada em sua garganta.
— Foi a Gabrielle que me disse o nome dela. – justificou-se rapidamente – Mas, ela me procurou outro dia, perguntando sobre o Harry...
— Sobre o Harry? – a garota repetiu a última frase, olhando desde Rony até o topo da escada que dava para o quarto das meninas, onde há poucos instantes a ruivinha havia desaparecido, dando um longo suspiro e demonstrando uma expressão de quem finalmente havia entendido alguma coisa.
Entretanto, apesar de acreditar que havia compreendido a atitude tomada pela amiga, sentia que algum detalhe que havia vindo à tona nesta conversa, estava fugindo de sua percepção.
Já era noite alta quando, no topo da enorme mansão há muito abandonada, uma figura magra e completamente camuflada pela grande quantidade de carvão e fuligem que impregnava seu corpo, saiu com muita dificuldade do interior da chaminé da antiga lareira pertencente à família Prince, o rapaz olhou sorrateiramente à sua volta e, ao certificar-se que não havia nenhum vigia ou encantamento que pudesse impedir o desenrolar de sua fuga, sacou de sua varinha mágica e, murmurando um encantamento, saltou do cume do velho telhado para o vazio negro à sua frente, indo pousar suavemente no jardim seco e abandonado que um dia enfeitara a entrada da antiga construção.
Draco Malfoy respirou fundo o ar da liberdade que, há muito, estava lhe sendo negado, mas, como ainda não se sentia seguro defronte à residência em que fora mantido prisioneiro no último mês, decidiu desfrutar daquele sentimento um pouco mais tarde, quando estivesse bem longe daquele lugar, que mal sabia onde se situava.
Gina havia se deitado já há algum tempo, mas não conseguira dormir, dividida entre os sentimentos que lhe haviam atormentado naquele longo e conturbado dia. Quando Mione e as demais colegas de quarto haviam se recolhido para o repouso, ela fingira que já estava dormindo, pois não saberia o que responder pela sua atitude de momentos atrás. Repentinamente sentiu alguém lhe cutucando as costas e, ao virar-se, deparou com Winky, que lhe acenou para que descesse à Sala Comunal. A garota sentiu um novo ânimo tomar conta de si, se Harry estivesse desejando vê-la, ela o perdoaria imediatamente pela cena que presenciara logo pela manhã, e que, afinal de contas, ela sabia muito bem que não acontecera por culpa dele.
A garota desceu as escadas já parcialmente oculta pela capa da invisibilidade, encontrando com o elfo no último degrau.
— O mestre Harry Potter pediu que a senhora Gina me acompanhasse. – disse realizando uma pequena reverência.
— Vamos, vamos! – disse a menina ansiosamente, enquanto tomava a outra pela mão e se dirigia para o buraco do retrato, já completamente invisível.
Seguiram em silêncio até a passagem existente na parte oculta da estátua da velha vidente, no final do corredor da sala de Poções, onde Winky indicou-lhe com um dedo que a menina seguisse sozinha, desaparatando em seguida. Descobrindo-se da capa mágica, ela desceu rápida e ansiosamente os degraus em curva, até deparar-se com a figura de Harry ao final da escada, então, como já se tornara um hábito nos encontros entre os dois, atirou-se ao seu pescoço, abraçando-o e beijando-o efusivamente.
Após corresponder com igual intensidade, o garoto a tomou pelas mãos e, sem ainda quebrar o silêncio, encaminhou-se para a porta oculta da antiga masmorra de Godric Gryffindor, atravessando-a rapidamente e trazendo a garota junto de si, cingida pela cintura.
— Que bom que você não ficou brava comigo! – disparou a falar – Eu não tive culpa de nada, estava esperando por você quando aquela garota surgiu do nada e...
A menina o interrompeu colocando dois dedos de sua mão na frente dos lábios do outro.
— Eu sei que não teve culpa, apesar de ter ficado bastante brava durante o dia todo, acho até que dei bandeira na frente do meu irmão e da Mione, mas agora que estamos aqui, nada mais importa.
Mais aliviado, Harry mostrou-lhe toda a masmorra e depois a levou até o Monte dos Imortais, onde Fawkes, já quase em sua forma adulta, voava alegremente de um lado a outro. Após ter ensinado à jovem o feitiço do clone para que ela pudesse se ausentar de seu dormitório sem levantar suspeitas, o assunto voltou à estranha aluna estrangeira.
— Ela assiste a várias aulas junto comigo, pois ambas temos a mesma idade e cursamos o mesmo ano, mas ela é muito estranha: num dia está toda contente e eufórica – como hoje, noutro fica toda quieta e parece que chora muito. A Gabrielle me disse que ela sempre foi esquisita, mas não tanto como ultimamente.
— Bem, seja lá o que for, não tenho tempo para isto agora. – concluiu o bruxo – Preciso que a Mione continue pesquisando o tal do R.A.B., e também preciso da sua ajuda para um feitiço que tem no livro e que não posso treinar sozinho.
— Eles estão bastante preocupados com os seus sumiços. – censurou-o a menina – Você devia falar com eles...
— Estive treinando oclumência e legilimência com o Lupin esta semana, nós combinamos aquele dia n’A Toca e tenho aparatado para a mansão dos Black todos os dias para treinarmos.
— Você acha necessário, Harry? Aparentemente, todos os feitiços de Gryffindor são destinados a realizar modificações e ilusões baseadas no corpo, e não na mente.
— Até agora era assim, Gina. Mas, o próximo feitiço do livro ensina a transportar sua mente para um outro corpo e domina-lo, por isso preciso de um bom controle da mente... e de você... para treinarmos!
— Você precisa do meu corpo? – havia um duplo sentido em sua frase.
— Você entendeu! – respondeu o garoto, enrubescendo.
A menina aproveitou a “deixa” para pendurar-se novamente no pescoço do rapaz e namorar mais um pouquinho, antes de retornar ao seu dormitório.
No dia seguinte, quando Hermione acordou, Gina já havia se dirigido para o salão principal, onde era servido o café da manhã, a garota desceu então até a sala comunal, onde esperou por Rony para descerem juntos. Ao sentarem-se na mesa da Grifinória para o desjejum, Gina já estava se dirigindo para a aula de Trato das Criaturas Mágicas, que sempre começava um pouco antes das demais, mas a menina aguardou-os e, procurando demonstrar que a cena do dia anterior não passou de um mal-humor passageiro, anunciou toda atenciosa e sorridente:
— Tenho um recado para vocês: é para se encontrarem com ele amanhã na biblioteca, logo após o almoço!
Antes que o casalzinho absorvesse a informação, uma voz macia e alegre soou às costas da mensageira:
— Encontrar com quem amanhã, na biblioteca? – Michelle havia se aproximado silenciosamente e ouvido parte da conversa, aparentemente estava em uma de suas fases de excelente humor.
— Hã? – surpreendeu-se a ruiva – Não é ninguém, digo, não é nada. Só maneira de falar.
— Tudo bem! Pode continuar com seus segredinhos, mas vamos logo para a aula, senão o professor Hagrid ficará zangado. – e, tomando a outra pelo braço, dirigiu-se para a saída, enquanto olhava sorridente para Rony e piscava-lhe um olho.
Hermione encarou a menina, que não lhe deu a menor atenção, então olhou para o rapaz, que estava mais vermelho do que um tomate, sem saber para onde olhar.
— Esta menina é muito saidinha! – disse ela, após a dupla ter saído da sala.
— Ué? Não é você mesmo que sempre disse para nos confraternizarmos com os estudantes estrangeiros? – antes mesmo de terminar a frase, o rapaz já havia se arrependido de ter aberto a boca.
— Uma pessoa em que mal foi colocado o chapéu seletor em sua cabeça e já foi designada para a Sonserina, que vive tendo crises de humor por aí, e que fica se oferecendo para todos os rapazes da escola, não pode ser boa coisa. Isto merece ser investigado.
Harry almoçou rapidamente em sua masmorra e dirigiu-se um pouco mais cedo para a biblioteca, como havia combinado com Gina na outra noite. Queria pesquisar um pouco sobre feitiços de proteção para o Monte dos Imortais, pois os que havia tentado colocar não haviam funcionado. Havia acabado de colocar um livro que retirara da prateleira sobre uma das mesas, quando sentiu o inebriante aroma de perfume já seu conhecido, então ouviu uma voz doce e suave soar às suas costas.
— Finalmente! O famoso Harry Potter, sozinho e desprotegido!
— Você?
— Eu mesma! – disse Michelle, aproximando muito o seu corpo do rapaz, de forma que ele sentisse seu hálito quente enquanto falava – Pensei que íamos nos conhecer melhor, mas você é muito difícil de se encontrar.
— O que você quer? Estou esperando alguns amigos... – não sabia se era a presença da jovem ou um possível efeito de seu perfume que o estavam deixando meio zonzo.
— Eu quero você! Será que é tão difícil de perceber? – a garota colocou um dos braços ao redor do pescoço do rapaz e, com a outra mão, passou a acariciar o peito dele.
— Eu... eu não posso... quero dizer... eu não... – um leve torpor tomou conta de seu corpo, aquele aroma lhe dava uma sensação de estranha submissão, queria afastar-se dela mas não conseguia.
— Porque não pode? Você tem namorada por acaso? – seus lábios se aproximavam perigosamente dos dele.
— Não! É que eu... nem te conheço direito e... – seu cérebro comandava apenas as suas palavras, seu corpo não o obedecia mais.
— Eu sou a Michelle, muito prazer! – e, antes que o rapaz pudesse se desvencilhar, aplicou-lhe um saboroso beijo nos lábios.
Ambos permaneceram colados ali por uma fração de segundos que pareceram durar horas, Harry estava completamente embriagado pela ação da garota, se ela o ordenasse a bater seguidamente a cabeça nas prateleiras de livros, ele a obedeceria alegremente. Neste momento, uma ratazana saltou sobre a mesa, vinda do corredor mais próximo e enfiou-se dentro da pequena sacola que a bruxinha levava a tiracolo, sem que Harry, no entanto, nada percebesse.
— Seus amigos já estão vindo, malditos! Mas não tem problema, agora você é meu! – a fisionomia da menina estava completamente transformada, emitia a mais pura maldade – Ouça bem, você irá se encontrar comigo esta noite, na Torre de Astronomia: não falte! – e, após aplicar mais um beijo em sua boca, retirou-se rapidamente para o corredor do lado oposto.
O garoto permaneceu algum tempo em pé, mas uma forte tontura o obrigou a sentar-se numa cadeira próxima, então se debruçou sobre a mesa ao lado e permaneceu estático, aguardando que aquela sensação de torpor fosse diminuindo, pouco a pouco.
“Harry! Acorde Harry! Que é que você tem?” – a voz de Hermione veio acompanhada de um horrível gosto em sua boca, o garoto abriu os olhos e viu os rostos preocupados de Gina, Rony, Hermione e Neville, este último despejava uma poção verde e amarga em sua garganta”.
— Que aconteceu? – o rapaz levantou-se ainda zonzo, cuspindo o liquido com gosto de fel para os lados.
— Viemos para a biblioteca como você pediu e o encontramos dormindo. – respondeu-lhe Hermione – Como não conseguimos acorda-lo, chamamos o Neville, que te deu esta poção...
— O que houve, Harry? – desta vez era Gina que demonstrava preocupação.
— Não me lembro! – respondeu o rapaz, olhando a sua volta e percebendo que ainda se encontrava na biblioteca.
— Alguém enfeitiçou você! Foi isso, com toda certeza! – concluiu Rony.
— Imagine Rony! – discordou Hermione – Depois de tudo que aconteceu no passado, Hogwarts está mais segura que nunca, é impossível...
— Ele está certo! – cortou-a Gina – Não há outra explicação para ele não se lembrar de nada. – completou olhando para o irmão, que assentiu com um gesto de cabeça, satisfeito de ter a concordância de alguém.
— Ele devia estar cansado – insistiu a outra – e, quando ficou algum tempo sozinho...
— Qual a última coisa que se lembra, Harry? – desta vez foi Neville quem a interrompeu.
O garoto deu uma volta pela pequena sala formada entre as estantes de livros com uma das mãos apoiando o queixo, aparentemente esforçando-se para lembrar.
— Coloquei um livro sobre a mesa e, então... senti um perfume diferente... e... uma sensação estranha... aí acordei e vocês já estavam aqui!
— Esta sensação estranha... – Neville continuou o interrogatório – Era uma coisa boa ou ruim?
— Era boa... muito boa... – respondeu o rapaz como se estivesse planando sobre nuvens – Dava vontade de ficar assim para sempre...
— Este é um sintoma que pode ser causado pela Maldição Impérius. – concluiu o jovem Longbottom.
— Mas... quem poderia ter lançado a maldição nele? – considerou Rony – E aqui! Dentro da Biblioteca de Hogwarts?
— Eu não acho que esteja amaldiçoado... – interpôs Harry, sem muita convicção – Quando estudamos as Maldições Imperdoáveis com o falso Moody...
— Chega desta conversa! – Hermione levantou-se irritada – Eu já disse que é impossível...
— Hermione! – a caçulinha Weasley a interrompeu novamente, alteando a voz com firmeza, mas sem ser agressiva – Você e Harry são feiticeiros muito capazes e extremamente competentes, mas até seis anos atrás, nem imaginavam que eram bruxos ou sequer sabiam que este lugar em que estamos existia. – fez uma breve pausa – Eu, Rony e Neville, apesar de termos praticamente a mesma idade que vocês, nascemos neste ambiente e já vimos muita coisa acontecer, eu acho que vocês deviam dar um pouco mais de crédito para o que nós dizemos.
Harry sentou-se na cadeira mais próxima e cruzou os braços, aparentemente alheio às palavras da menina, enquanto que Hermione apoiou as duas mãos sobre a mesa à sua frente e permaneceu uma fração de segundo com a cabeça baixa e o olhar direcionado para seus dedos, então, levantando rapidamente a cabeça e jogando os fartos cabelos crespos para trás, deu um pequeno sorriso de compreensão e agradecimento para a amiga e disse:
— Tudo bem! Você tem razão! Mas... o que podemos fazer para ter certeza?
— Eu conheço uma poção... – disse Neville, timidamente – Minha avó usava quando trabalhava para o Ministério... acho que tenho as ervas necessárias...
— E como uma poção vai retirar uma maldição? – interveio Rony – Isto sim é impossível!
— A poção vai apenas confirmar se ele está possuído ou não. – explicou o outro – Para retirar a maldição, caso necessário, precisaremos de um bruxo mais experiente, como o Olho-Tonto.
— Então está certo! – organizou Hermione – Enquanto o Neville e a Gina preparam a poção, eu e Rony vamos ficar com o Harry para... vigiá-lo. – a garota lançou um olhar pesaroso para o amigo que, subitamente, abandonou sua indiferença.
— Na verdade, eu os chamei aqui para saber como estão as pesquisas para descobrir quem é esse tal de R.A.B., e não para ser colocado sob custódia! – o bruxo levantou-se novamente de seu assento bastante alterado.
— Neste caso, não se preocupe mais com isso. – disse Hermione calma e convictamente – Eu já sei quem é R.A.B.!
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