O Golpe de Estado



SOMENTE APÓS BANHAR-SE RAPIDAMENTE nas águas de um pequeno riacho que atravessava o bosque em que o jovem fugitivo havia se embrenhado, é que se pôde visualizar novamente o tom dourado dos cabelos de Draco Malfoy, bem como a alvura de seu rosto.
“Mas, que idiota estou sendo!” – pensou consigo – “Apenas porque não sei onde estou, não quer dizer que eu não possa aparatar para um lugar que já estive!”. E, com ambas as mãos apoiadas na altura de sua cintura e o olhar fixo na direção do chão, passou a andar em pequenos círculos, aparentemente procurando imaginar um local em que se sentisse seguro.
“Bem, não tem outro jeito, este lugar vai ter de servir!” – confirmou consigo mesmo e, concentrando-se na imagem do local que escolhera, o jovem de sangue puro desaparatou, com um pequeno estalo, que espantou algumas aves que aguardavam sua saída para beberem na límpida fonte de água.
O local em que o ex-aluno da Sonserina veio a se materializar, era uma construção muito antiga, toda confeccionada em madeira aparelhada, e apresentando um péssimo estado de conservação. Todas as portas e janelas haviam sido lacradas internamente com algumas tábuas pregadas transversalmente, sendo que, várias destas haviam sido soltas, ou pela ação do tempo ou por algum curioso invasor, o que ocasionava que, uma ou outra porta ou janela, ficasse constantemente batendo em sua respectiva soleira, devido à ação do vento. Uma grossa camada de poeira tomava conta de todo o ambiente e, em alguns pontos no teto e piso do pavimento superior e na própria escada de acesso a este, alguns locais que sofriam com a infiltração de goteiras, corriam o risco de desabar.
O jovem bruxo, pertencente à antiga, aristocrática, e muito rica família Malfoy, e que outrora sempre se mostrara cruel, mimado e extremamente orgulhosa de ser sangue-puro, já não mais demonstrava estes traços em sua personalidade e, nos últimos tempos, constantemente apresentava crises de consciência, arrependendo-se, até o último fio de seus cabelos cor-de-ouro, de ter se alistado nas fileiras dos Comensais da Morte.
Após dirigir-se a um dos quartos do pavimento superior, tendo tido extremo cuidado a fim de evitar as possíveis armadilhas que a má conservação da casa pudesse ter criado, o rapaz desvirou um velho colchão de palha, que repousava sobre o estrado danificado de uma outrora luxuosa cama de casal, e largou ali o seu corpo, extenuado pelo esforço de fugir da mansão da família Prince, fixando seus olhos acinzentados num ponto qualquer à sua frente.
Então, sacando da varinha mágica que trazia presa junto à cintura, passou a gira-la distraidamente entre os dedos, com o pensamento fixo em uma idéia que havia se tornado uma verdadeira obsessão nos últimos dias, quando resolvera abandonar sua recente prisão:
“Tenho que encontra-lo! Tenho que atraí-lo para cá! O Santo Potter!”.


— Você sabe? – Harry e Gina exclamaram em uníssono, esquecendo temporariamente a discussão anterior, enquanto Neville olhava aturdido de um rosto a outro.
— Sim! – respondeu a garota, com um ar de comedida superioridade e, sentando-se novamente, dirigiu o olhar rapidamente para o jovem Longbottom e, em seguida, com uma expressão de interrogação, para Harry.
— Tudo bem! Entendi! – disse o rapaz após um breve instante, em que tentava decifrar o significado do olhar da menina – Já está na hora do Neville ficar a par da situação, vamos contar a ele.
— Contar o quê a ele? – a voz de Luna Lovegood, que se encontrava postada ao lado de uma das estantes de livros, gerou um pequeno sobressalto no pequeno grupo.
— Eu não sabia que haviam marcado uma reunião da AD! – completou a loirinha, de cabelos sujos e mal-cortados, aparentemente já esquecida da pergunta anterior que fizera.
O ar de interrogação, que havia tomado o rosto de Hermione até momentos atrás, transformara-se instantaneamente em intensa preocupação:
— Harry você não acha melhor... – a Monitora-Chefe começou a falar quando, novamente, foi interrompida por Gina:
— Você não acha melhor irmos todos para... um lugar mais reservado?
Todos os olhares se dirigiram para o garoto da cicatriz que, após um breve momento de reflexão, disse:
— Certo! Vamos descer até a masmorra de Gryffindor e colocar tudo isto em pratos limpos.
— Mas... temos aula de herbologia... daqui há pouco... – choramingou Longbottom.
— Neville! As aulas não são importantes, neste momento! – a frase dita subitamente por Hermione, deixou a todos calados e boquiabertos por um longo instante.
— O... o q-que... v-você... disse? – a voz de Rony saiu engasgada, os olhos arregalados e uma expressão de incredulidade no rosto.
— É isso mesmo! – respondeu a garota, fuzilando o outro com o olhar – Já que a “maioria” acha que o Harry está com a Maldição Impérius e os “demais” acham que devemos contar toda a estória do R.A.B. a esses dois, temos que colocar esta reunião nos aposentos do Harry como prioridade, inclusive para que o Neville prepare a poção para detectarmos a maldição imperdoável.
— Maldição Impérius? – exclamou Luna, deixando por um momento de contemplar algumas teias de aranha existentes entre as estantes de livros e o teto, como vinha fazendo nos últimos segundos – Não há necessidade de poção nenhuma, meu pai publicou certa vez, no Pasquim, um método infalível para detectar esta maldição em qualquer pessoa!
— E como é este método? – perguntou Gina, ingenuamente.
— Basta suspender a pessoa com as pernas para cima, e mergulhar o topo de sua cabeça em um caldeirão de óleo de vesícula de dragão fervente, se estiver mesmo possuída ela será protegida pela maldição e nada acontecerá. É muito simples!
— Não é possível! – exclamou Hermione, em meio à perplexidade que tomou conta de todos os demais.
— Tem razão! – respondeu Luna, muito séria – Acho que nem mesmo em Hogwarts encontraríamos tamanha quantidade de óleo de vesícula de dragão...


Percy Weasley entrou imponentemente no gabinete do Ministro da Magia, como era seu hábito desde que fora designado como seu secretário, e anunciou com um tom metódico e impessoal:
— A Sra. Dolores Umbridge encontra-se na ante-sala, para uma audiência com o senhor!
— O que? Mas... por Merlin! Ela não pode simplesmente ir chegando e achar que vai ser atendida. – reclamou o velho Scrimgeour – Diga a ela que agende uma outra data e...
— Infelizmente o assunto que tenho a tratar não pode esperar, Rufo. – disse a velhota, transpondo decididamente a soleira da porta, com sua habitual cara de sapo.
— Mas... que diabos significa isso? – disse o antigo Chefe do Departamento de Aurores, dirigindo uma das mãos para a varinha mágica depositada sobre a mesa.
— Accio varinha! – o gesto do desafeto de Arthur e Molly Weasley foi rápido, quando o ministro percebeu o que acontecera, Percy já se encontrava de posse de sua varinha em uma das mãos, e com a outra apontava a própria varinha para o coração do ministro.
— Mas.. o quê.. o quê significa isso, Weasley? – gaguejou o homem, incrédulo.
— Significa que o seu tempo acabou, Rufo! – a voz da antiga Alta Inquisidora de Hogwarts ecoou na sala como se estivesse ensinando uma lição a um bruxinho do primeiro ano – E, agora se inicia o tempo do Lord das Trevas!
— Vocês estão loucos? – o ministro levantou-se de sua cadeira, derrubando-a e encostando-se na falsa janela localizada às suas costas, olhando alternadamente de um a outro dos presentes – Weasley, seu traidor! Não pensei que tivesse coragem...
— Avada Kedavra! – um jorro de luz verde cortou o aposento, vindo de trás de Umbridge, e acertou o ministro em cheio, fazendo-o cair ao chão com um baque surdo, sem vida.
— Esta conversa já estava indo longe demais! – justificou-se Dawlish, um dos aurores do ministério, adentrando à sala.
— Que seja! – exclamou a bruxa com indiferença – Vamos dar início à segunda parte do plano.


— Ramsey Andréas Bentley? ? Quem diabos é esse sujeito? – questionou Rony, olhando confusamente para o rosto de Hermione que, assim como os demais componentes da recém-agrupada “Armada de Dumbledore”, encontrava-se sentada ao redor de uma das antiqüíssimas e enormes mesas de estudo que compunham a mobília da masmorra que pertencera a um dos fundadores da escola, à qual Harry acabara de conduzir o pequeno grupo, camuflados pelo feitiço da desilusão.
— Pela mais incrível coincidência, se é que isto possa mesmo acontecer, ele é ninguém mais, ninguém menos, do que o avô da nossa “adorável” Michelle, a garota “saidinha” da Beauxbatons. – respondeu Hermione, enquanto lançava um novo olhar furioso para o ruivo.
— Pode-se saber como você chegou a esta conclusão? – indagou Gina, apoiando os dois cotovelos à mesa e escorando o rosto entre as duas mãos espalmadas. Os demais componentes da mesa dirigiram o olhar para esta e, logo em seguida, o retornaram para Hermione, interessados e silenciosos.
— Quando fiquei sabendo do estranho interesse de Michelle pelo Harry, lembrei-me das estranhas circunstâncias em que seus pais haviam sido assassinados, recentemente, por Comensais da Morte. – a expressão da garota era do mais puro prazer, ministrando aqueles fatos como se estivesse dando uma aula.
— Os comensais mataram os pais dela? – espantou-se Harry.
— Nada disso foi provado. – interviu Luna, altiva – Na verdade, existe uma teoria de que eles teriam feito um pacto de morte com duendes das trevas e, como não cumpriram sua parte, a alma deles foi retirada de seus corpos como penalidade.
Hermione sacudiu a cabeça, com uma expressão de incredulidade, e continuou a narrar sua descoberta:
— Pesquisei John e Sophie Bentley, seus pais, e descobri que haviam vivido clandestinamente na Inglaterra até aproximadamente dezesseis anos atrás, quando reapareceram para a sociedade bruxa e mudaram-se para Paris, que era a terra da família de Sophie.
— Dezesseis anos? – repetiu Neville – Talvez tenham se julgado seguros pela derrota de Você-Sabe-Quem e resolveram retomar a vida às claras. Minha avó disse que muitos agiram assim na época.
— Exatamente! – continuou a garota, agradecendo a intervenção do colega com um olhar – Na biografia da mãe de Michelle não havia nada que chamasse a atenção, mas acabei descobrindo que John Bentley era filho de uma famosa vidente, Margot Smith, que foi assassinada pessoalmente pelo Você-Sabe-Quem, logo depois de ter dado à luz ao seu único filho.
— Isso não significa muito! – palpitou Luna – Muitos foram mortos pela varinha do Lord das Trevas.
— Acontece que, nos jornais da época, havia uma referência de que Margot estudara em Hogwarts na mesma época que o Tom Riddle. – colocou estas últimas palavras com um trunfo.
— Mas... onde entra o tal do Ramsey nisso tudo? – perguntou Rony, tentando obter a resposta à sua pergunta.
— Hoje cedo procurei o Hagrid, que estudou na mesma época que o Riddle. – continuou a menina, ignorando completamente a pergunta do ruivo – E ele me contou que o tal de Ramsey também estudou em Hogwarts na mesma ocasião e, assim como a Margot, eram seguidores do Riddle, e que, um belo dia, logo após terem se formado, os dois fugiram juntos, abandonando o futuro... Lord Voldemort!
Ao ouvirem aquele nome ser pronunciado, a maioria dos presentes sentiu um arrepio e fez uma careta, mas Harry levantou-se silenciosamente de sua cadeira e deu uma volta completa ao redor da mesa, pensativo.
— Então você acha que eles se apaixonaram e tiveram um filho... – balbuciou o Menino-Que-Sobreviveu.
— Que depois se casou com uma francesa e tiveram uma filha... a Michelle... – completou Gina.
— E, por terem abandonado Você-Sabe-Quem... ele os matou... – agora era Rony que opinava.
— Não! – corrigiu Hermione, com impaciência – Ele matou apenas a Margot Smith, que havia dado o sobrenome do amado para o filho, o tal do Ramsey conseguiu fugir...
— E, como vingança... ele passou a procurar as Horcruxes de seu antigo amo... para destruí-las! – completou Neville.
— É isso aí! – finalizou Hermione, satisfeita – Na verdade, acredito que, tanto a Michelle quanto a sua avó, não tem importância nenhuma neste assunto, apenas contei esta estória para demonstrar como consegui chegar ao tal do R.A.B.!
— Mas... não temos certeza de que ele realmente destruiu o medalhão... – disse o rapaz, apertando com a mão a réplica guardada em seu bolso – Nem tampouco, que tivesse conhecimento da localização dos demais...
— Talvez possamos descobrir alguma coisa por intermédio da “Oferecidelle”. – sugeriu Gina, não conseguindo evitar em lançar um olhar desafiador para Harry.
— Eu acho que é muita coincidência esta garota ter aparecido por aqui, nas circunstâncias em que seus pais morreram, buscando informações sobre o Harry e, ao mesmo tempo em que era pesquisada a vida de seu avô. – opinou Luna, com o olhar perdido na direção do painel do Monte dos Imortais.
— Você tem toda a razão Luna! – disse Hermione num ímpeto, fazendo uma careta logo em seguida, ao perceber a frase inédita que acabara de soltar.
Neste momento, ouviu-se o forte coaxar de Trevor, o sapo de estimação de Neville, que se encontrava numa mesa próxima, ao lado de um caldeirão em que fervia uma infusão de um tom arroxeado.
— A poção está pronta! – anunciou Neville, dirigindo-se para o lado do animalzinho.
— Ótimo! – disse Hermione, também se levantando – Logo saberemos quem estava com a razão. – concluiu fuzilando um a um com olhar.
Neville colocou uma dose da mistura em uma caneca e entregou-a a Harry que, após mirar os rostos de cada um dos presentes, entornou o líquido goela abaixo, com uma horrível careta.
— E agora? – perguntou dirigindo-se ao Longbottom, enquanto enxugava a boca na manga de suas vestes.
— Precisamos de um espelho grande! – respondeu o rapaz após um momento de indecisão,
Como só existisse tal objeto no quarto que Harry estava ocupando, todos se dirigiram para lá e ficaram a observar o jovem se postar defronte a sua própria imagem.
— Se você tiver sido vítima da Impérius, você verá, refletida no espelho, a imagem da pessoa que lançou a maldição! – ensinou Neville.
Todos se mantiveram estáticos e silenciosos por um longo tempo, contemplando a imagem intacta do bruxo refletida no espelho e, como nada de diferente acontecesse começaram a olhar uns para os outros, aguardando uma explicação. Foi Hermione quem quebrou o silêncio:
— Viram só? Como eu havia dito, Hogwarts nunca foi tão segura como agora! Não há ninguém dentro deste castelo que pudesse ter lançado uma maldição no Harry. – seu semblante vitorioso era o pior castigo que os irmãos Weasley poderiam receber.
— Eu não tenho culpa, a poção foi feita corretamente! – defendeu-se Neville, ao perceber que, tanto Gina quanto Rony, o encaravam com jeito de “poucos amigos”, aparentemente o incriminando por sua teoria não ter dado certo – Talvez... se o Harry beber mais um pouco...
— Nem pensar! – recusou Harry, com uma careta e afastando-se do espelho.
— Bem, pelo menos conseguimos cabular o restante das aulas do dia. – disse Rony, em tom de conformismo, o que deixou Hermione furiosa, ao se lembrar deste detalhe.
— Bem, eu vou indo então... – despediu-se Gina, e saiu rapidamente em direção ao portal da sala, antes que alguém se oferecesse para acompanha-la.
Após aturarem, por mais algum tempo, as provocações de Hermione, que não se cansava em lançar indiretas, em que ressaltava que não adiantava nada se ter nascido em uma família bruxa se não se levasse os estudos a sério, os demais foram se retirando um a um para não atrair suspeitas ao local secreto. Quando o último integrante da AD, que foi Rony, se retirou, Harry voltou-se para a sala aparentemente vazia e disse:
— Se você ainda estiver aqui, pode sair. Todos já se foram.
Instantaneamente, a ruivinha deixou a capa da invisibilidade cair ao chão, bem à frente do rapaz, e atirou-se mais uma vez ao seu pescoço, mantendo graciosamente os dois pés elevados no ar. Após saciar-se temporariamente de sua fome de beijos, a menina disse:
— Falando sério agora, Harry, estou preocupada em te deixar aqui sozinho. Apesar de você não ter sido amaldiçoado, existem outros feitiços que podem ter feito você “apagar” daquele jeito.
— Esqueça isso, a Hermione deve ter razão: eu devo ter exagerado nos estudos e acabei tendo um “troço”. Pode ir despreocupada, eu ficarei bem.
E, após mais algumas trocas de carinho, a menina se retirou, deixando o jovem sozinho com seus pensamentos e as novas dúvidas que acabaram surgindo após as revelações ocorridas nas últimas horas. Após considerar as diversas opções que poderiam ser utilizadas para retirar informações de Michelle, já deitado em sua cama, o bruxinho acabou adormecendo.


— Desculpe incomodá-lo, mestre. – a voz de Augusto Rockwood soou fraca e ligeiramente trêmula.
O bruxo de aparência horrenda, que se auto-intitulava como Lord das Trevas, encontrava-se em pé e de costas para o seu interlocutor, posicionado a um canto pouco iluminado do aposento, com a sua companheira inseparável, a cobra Nagine, a circular ao redor de suas pernas.
— Qual a notícia que me traz, Rockwood? – disse, enquanto se virava lentamente para fitar o rosto do servo, na mão direita trazia sua varinha, apontada para o chão.
— Boas novas do Ministério, milorde, a ação foi um sucesso: Rufo Scrimgeour está morto e os comensais controlam os principais pontos estratégicos do edifício, houve resistência por parte dos aurores, mas estes se dispersaram com a chegada de um grupo de dementadores.
— Excelente! – sibilou o bruxo de expressão viperina – Tudo está saindo conforme o planejado. – e, após um momento de reflexão, completou – Alguma notícia de Severo?
— Ainda não, milorde. Mas o mestre não deve se preocupar com o bastardo Malfoy, o Snape acabará o encontrando, hoje é o grande dia da vitória do Lord das Trevas!
— Cale-se estúpido! – disse com desprezo, sem no entanto alterar sua fisionomia – Mas, você tem razão em uma coisa: hoje será o grande dia de minha vitória, e esta vitória será possível porque, até o final deste dia, eu terei aquele traidor do sangue Harry Potter na minha frente, para ser destruído!


Era tarde da noite quando Harry levantou-se de sua cama e, mesmo colocando seus óculos que, como sempre, estavam depositados em sua mesinha de cabeceira, continuou com a impressão de que sua visão estava ligeiramente embaçada. Aquele mesmo aroma que sentira horas atrás na biblioteca de Hogwarts, voltara a impregnar suas narinas, dando-lhe uma sensação de torpor e comedida euforia. Vestindo-se rapidamente, o rapaz saiu de seus aposentos e dirigiu-se para o único local do castelo de que não guardava boas recordações: a Torre de Astronomia.
Ao terminar de subir a longa escadaria, em formato de caracol, que dava acesso ao seu destino, e abrir a pesada porta de madeira maciça que vedava o acesso ao imponente mirante, sua fronte foi varrida por uma gelada lufada do vento noturno que soprava forte e emitia um som semelhante ao uivo de um lobo em agonia. O rapaz olhou ao seu redor com dificuldade, devido à força da ventania, e pôde perceber o vulto feminino que procurava, parado junto à marquise da torre, de pé, imóvel e dando-lhe as costas, com seus longos e negros cabelos flutuando pela ação eólia.
O rapaz aproximou-se lentamente daquela silhueta que permanecia estática, o aroma de seu perfume tornara-se mais forte agora, mas não vinha do corpo dela, estava impregnado dentro de sua própria consciência, e o garoto sentia que necessitava desesperadamente daquela presença. Ao atingir a distância mínima entre ele e aquela figura, ergueu lentamente seu braço e, dirigindo sua mão na direção do ombro daquela estranha aparição, tocou-a.

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