O novo assistente



HARRY ACORDOU COM A INCÔMODA SENSAÇÃO de estar literalmente congelando, as extremidades de seus pés e mãos estavam dormentes e seu nariz e orelhas pareciam que haviam incorporado uma fina crosta de gelo. O rapaz levantou-se, meio desajeitado e mancando, ao mesmo tempo em que abraçava a si mesmo, tentando proteger-se do cortante vento noturno que varria o topo do Monte dos Imortais. Aproximou-se do ninho de Fawkes, preocupado de que a pequena ave também estivesse sofrendo com a baixa temperatura, mas encontrou-a dormindo confortavelmente protegida em meio à palha e restos de cinzas.
Resolveu então, voltar para sua masmorra a fim de se aquecer, quando observou no paredão por onde tivera acesso ao mítico lugar, a imagem de seu amigo elfo incorporada à pintura animada que representava a antiga sala de aula de um dos fundadores da escola.
— Dobby! – chamou ele automaticamente, testando uma teoria que acabara de formular.
Imediatamente a imagem da pequena criatura esverdeada desapareceu da gravura e, com um estalo seco, materializou-se defronte ao rapaz.
— Mestre Harry Potter! – exclamou o pequenino, nervoso – Dobby estava muito preocupado, pensou que seu amigo Harry Potter tinha sido aprisionado na pintura da parede!
— Não se preocupe, Dobby! – tranqüilizou-o o bruxo – O painel no paredão é uma passagem para este lugar: o lar de Fawkes! – explicou enquanto apontava, com um dedo tremulo de frio, para o ninho da ave.
O elfo acompanhou com os olhos a direção que era indicada pelo amigo, então levantou a cabeça e girou vagarosamente em torno de seus calcanhares observando, com ar de curiosidade, a abóbada estrelada que os circundava, até completar uma volta completa ao redor de si mesmo e exclamar, estupefato:
— Oh, este lugar não fica em Hogwarts!
— Claro que não, Dobby. Podemos estar agora em qualquer lugar do mundo, a passagem na pintura funciona como uma chave de portal. – respondeu o garoto, sem imaginar a extensão daquilo que estava dizendo.
— O que Dobby quer dizer, é que este lugar não tem nenhum tipo de magia de proteção como existe em Hogwarts...
— Quer dizer que qualquer um pode aparatar para cá e entrar no castelo pela passagem?
— Se a pessoa já tiver estado aqui, sim. Não existem feitiços para a segurança deste lugar.
Harry passou alguns segundos meditando na informação que o elfo lhe havia comunicado, aproveitando para esfregar as mãos nos seus braços, que ainda abraçavam seu próprio corpo, procurando se aquecer.
— Sim, mas o portal só é acessado pelo fogo da fênix, o que reduz bastante o número de pessoas que podem faze-lo. – disse isto e, logo em seguida seu corpo gelou, como se fosse possível ficar mais gelado do que já estava: tirando a própria fênix que ali habitava, o único modo de gerar o fogo necessário era através das duas varinhas que haviam sido fabricadas com suas penas, a sua e a de... Voldemort!
“Ele nunca esteve aqui!” – pensou o rapaz – “Senão já teria usado a passagem para invadir Hogwarts... mas talvez saiba da existência deste lugar. Isto explicaria a insistência em tentar retornar para cá no passado, como professor”.
Este pensamento tranqüilizou-o um pouco da súbita preocupação, resolveu então testar a teoria de seu amigo elfo, e também a sua própria – de como retornar para o castelo.
— Dobby, tente aparatar de volta para a nossa masmorra. Se tudo der certo, eu o encontrarei logo em seguida.
O elfo concordou com a cabeça e, com um estalar de dedos, desapareceu da morada da fênix para ser novamente incorporado ao painel de pedra, em seguida, Harry empunhou sua varinha e caminhou em direção ao fantástico portal, apenas murmurando o feitiço incinerador.
Sua passagem foi bem mais tranqüila desta vez, que tinha certeza que iria conseguir transpor a barreira. Algum tempo depois, já bem aquecido em sua confortável cama, tentava imaginar se o velho amigo Dumbledore também estivera no Monte dos Imortais e, caso positivo, se teria conseguido decifrar o livro de Gryffindor, mas suas pálpebras lhe pesaram, e só conseguiu ter mais uma lembrança antes de adormecer profundamente: o título ‘Poção tradutória’, que havia encontrado em uma das páginas do livro ‘Feitiços para qualquer momento’, na Seção Reservada da Biblioteca de Hogwarts.


Molly Weasley levantara-se ao raiar do sol, como fazia todas as manhãs, para preparar o desjejum do marido Arthur e de seu filho Gui, que logo em seguida se dirigiriam para seus respectivos locais de trabalho, mas surpreendeu-se ao chegar à cozinha e encontrar a mesa já posta com uma fumegante chaleira de chá e um cheiroso pão recém assado.
— Gina! Que aconteceu? – perguntou a bruxa, ao perceber a ruivinha escorada à janela acariciando as penas excessivamente brancas de uma coruja.
— Edwiges chegou bem cedo e me acordou! – respondeu sorridente – Então aproveitei e preparei o café. – a menina enrubesceu um pouco ao lembrar que, na verdade, o trabalho todo fora feito por Winky.
— Oh, meu bem! Você está se tornando o meu maior orgulho! – disse a bondosa senhora, enquanto prendia o rosto da menina pressionado entre suas duas mãos espalmadas e lhe depositava um beijo úmido na bochecha – Mas, ela trouxe alguma mensagem importante do Harry? Ele está bem? – perguntou em seu costumeiro tom de preocupação, após associar a belíssima ave ao seu dono.
— Está tudo bem, ele só pediu para que cuidássemos dela por uns tempos. – respondeu a bruxinha, enquanto enxugava o rosto com uma das mãos e apontava a coruja com o polegar da outra.
— Logo será o aniversário dele... – a mulher comentou, enquanto se sentava em uma cadeira e se servia de uma xícara de chá, feito “pela filha” – Ficaria bem mais tranqüila se ele estivesse aqui, conosco.
A garota aproximou-se da mãe e, de pé a seu lado, abraçou-a carinhosamente enquanto encostava seus lábios no topo da cabeça da matriarca, num longo e interminável beijo, dizendo com a voz sufocada pelos tufos de cabelo.
— Tudo acabará bem, mamãe. – e não pode deixar de sentir uma ponta de remorso, por não estar dizendo tudo o que realmente sabia.


“O Eleito”, como estava sendo chamado ultimamente o franzino garoto que trazia a famosa cicatriz à testa, acordara um pouco mais tarde naquele dia e, após alimentar Fawkes com algumas larvas que havia pedido para Dobby pegar com Hagrid, havia se dirigido à biblioteca do castelo, onde copiava em um pergaminho os ingredientes para a poção tradutória, que iria usar para decifrar o livro de Godric Gryffindor.
— Oi Harry!
O rapaz deu um pequeno pulo de susto ao ouvir a voz da conhecida aparição, derrubando o conteúdo de seu tinteiro sobre o pergaminho que acabara de escrever.
— Murta! Tudo bem? Ainda está brava comigo? – respondeu, enquanto passava a varinha sobre a tinta derramada, em um feitiço de aspiração.
— Não, já passou! Desculpe-me, eu não costumo conversar sobre a minha morte... acho que não estou preparada para isso... – disse, enquanto intercalava alguns risinhos com soluços.
— Tudo bem! Só quero que saiba que, se um dia quiser falar sobre isso, poderá ser bom. Talvez possa ajudar, a nós dois, saber o que realmente aconteceu naquele dia. – manteve o tom educado e cordial que sempre usara com o fantasma.
— Combinado! – e o espectro voou até o lado do jovem, “encostando-se” nele – Muito legal o seu novo quarto... pena que você fique tão sozinho...
— Pode me visitar, quando tiver vontade. – convidou cortesmente.
— Obrigada Harry! E pode ficar tranqüilo, ninguém saberá de seu segredo. – e, em meio a diversos sorrisinhos de fingida timidez, a aparição se retirou voando por entre as prateleiras de livros.
Harry se levantou e guardou o livro que acabara de utilizar e, após consultar o Mapa do Maroto como passou a fazer sempre, escondeu-se sob sua capa e retornou às suas acomodações.

— Dobby trouxe os ingredientes que faltavam para a poção de Harry Potter! – disse o elfo assim que aparatou em frente ao rapaz.
— Ótimo! – exclamou o bruxo, ao mesmo tempo em que tomava um ramo de ervas e um punhado de minúsculas esferas, que pareciam segregações de algum tipo de molusco, das mãos do ajudante e se encaminhava para um pequeno caldeirão que fervia sobre uma das mesas da antiga sala de aula – Agora, segundo a receita do livro, só temos que adicionar estes dois últimos itens e aguardar que a poção tome a consistência ideal.
Após pesar uma parte das esferas e picar o vegetal com um pequeno punhal, adicionou-os ao caldeirão e, com um toque de sua varinha fez com que uma velha colher de pau passasse a mexer a mistura, sincronizando uma certa quantidade de voltas em um sentido e outra quantidade em outro. Harry não pôde evitar pensar que, com o livro do Príncipe Mestiço que utilizara durante boa parte do ano anterior, a tarefa seria bem mais fácil, mas preferia ter seu trabalho duplicado a valer-se novamente da ajuda de seu maior desafeto: Severo Snape.
A fumaça que se desprendia da infusão foi tornando-se de branca para um tom prateado, então o rapaz apagou o fogo que ardia sob a mistura e fez com que a colher parasse seu movimento. Apanhou, então, um pequeno cantil de bolso e, com a ajuda de um funil, encheu-o com a poção previamente filtrada e dirigiu-se para a pintura na parede.
Após realizar o procedimento para a travessia até a morada da fênix, o jovem tomou três grandes goles da infusão, não podendo deixar de fazer uma careta, e aproximou-se do centenário livro que se encontrava depositado sobre o pequeno altar.
Fechou-o totalmente e passou a admirar os símbolos que se encontravam acima e abaixo do antigo brasão da Grifinória, então sentiu sua visão tremer momentaneamente e percebeu que aqueles desconhecidos símbolos passavam a tomar um formato que ele podia entender.
“Neste livro preservo as principais descobertas que realizei.” – dizia o texto localizado logo acima ao emblema – “Absorva-os como se fora a linha da minha vida. Godric Gryffindor.” – era o texto da parte inferior da capa.
Com o coração acelerado e as mãos ligeiramente trêmulas pela emoção, o aprendiz abriu o grosso volume e passou a ler o ensinamento contido na primeira página: era o feitiço da desilusão, já seu velho conhecido, passou então avidamente para a próxima página, porém a mesma permanecia contendo os mesmos símbolos ininteligíveis de antes. Folheou, então, o velho alfarrábio desesperadamente até a sua última página: nada que conseguisse entender mostrou-se aos seus olhos.
Harry apanhou o pequeno cantil em seu bolso e tomou mais três grandes goles da poção tradutória, mas a única coisa que se modificou foi o sabor amargo em sua boca.
“Que está acontecendo agora?” – indagou-se o rapaz – “Por que só consigo entender o primeiro feitiço?” – sua expressão era de completo desânimo.
Então, para passar o tempo enquanto tentava imaginar uma maneira de decifrar a recente dificuldade, executou o primeiro feitiço descrito no livro em si mesmo, fazendo com que o seu corpo assumisse uma textura transparente e gelatinosa, confundindo-se com a paisagem à sua volta. Após voltar ao seu estado normal, experimentou novamente ler o feitiço descrito na segunda página e, para seu espanto, lá estava ele completamente legível: o feitiço da aparatação!
Olhou novamente as demais páginas e constatou que ainda não conseguia entende-las. “Absorva-os como se fora a linha da minha vida.” – tudo se tornara claro, finalmente. Era o desejo do criador do livro, que o seu leitor só pudesse aprender um novo feitiço quando já dominasse o imediatamente anterior.
Rapidamente aparatou para o lado do ninho de Fawkes e desaparatou novamente para frente do instigante volume, aproveitando também para testar a informação de seu amigo elfo quanto à ausência de proteção mágica no local, e ao virar novamente a página, para sua grande satisfação lá estava um feitiço totalmente inédito para ele: uma espécie de feitiço de clone ilusório – com a palavra mágica “Imaginatus”, seu corpo se tornava invisível enquanto uma réplica se formava alguns metros à sua frente e repetia todos os movimentos que o original camuflado realizasse.
“Agora sim, este é realmente um truque que será muito eficiente em um combate!” – animou-se o garoto, que apesar de toda a dedicação, levou o restante do dia para assimilar o novo ensinamento.
Retornou para seus aposentos em Hogwarts bastante satisfeito, apesar de extenuado pelo esforço exigido na aprendizagem e, antes de dormir, leu um novo bilhete de Gina trazido por Winky que dizia:
“Querido Harry, seu aniversário é depois de amanhã e, apesar de sentir muito a sua falta, gostaria que não se aventurasse fora do local protegido em que se encontra. Não faltarão oportunidades mais seguras para que reveja seus amigos. Um beijo, da sua Gina.” – Harry sabia que a ruivinha estava certa, e que a partir do momento em que o feitiço de proteção realizado por Dumbledore há dezesseis anos atrás se encerrasse, a probabilidade de ataques pelos Comensais da Morte a ele aumentaria bastante.
“A não ser que eu os visite antes do meu aniversário...” – pensou o rapaz e, entregando-se ao cansaço, adormeceu.


— Alguma novidade? – a pergunta de Lupin foi dirigida a Rony, assim que o recém aparecido ex-professor de DCAT se viu a sós com o rapaz. Seu rosto revelava diversos arranhões, e sua aparência era bem mais abatida que dos outros términos de lua cheia.
— Ele mandou a Edwiges para que nós cuidássemos dela, mas não disse mais nada. Aparentemente está bem... – pareceu que o jovem ia dizer mais alguma coisa, mas se conteve.
— Ainda com segredos comigo? – o tom de voz do homem soou decepcionado, o que fez com que o outro se sentisse ligeiramente envergonhado.
— Acho que a Gina está se comunicando com ele de alguma forma, mas não consigo imaginar como. – disse, abaixando a voz e inclinando a cabeça em direção ao outro.
— Não tem problema! Pelo menos ele está mantendo um contato e, pelo que tenho observado, ele está em boas mãos: a pequenina parece ser a mais poderosa entre seus amigos! – disse o bruxo, enquanto observava a menina, do outro lado do aposento, ajudando a mãe e Fleur com a louça utilizada no café da manhã, a ruivinha retribuiu-lhe um olhar de canto de olho como se sentisse que era o alvo da reservada conversa.
— Pssiu!
Gina olhou a origem do chamado e localizou Winky, escondida embaixo da mesa, sinalizando para que se encontrasse com ela no quintal.
— Bem mamãe, já que está tudo arrumado, vou caminhar um pouco pelo quintal. – disse a menina, enquanto enxugava as mãos em uma toalha e ajeitava rapidamente os cabelos. Sua saída foi acompanhada pelo olhar interessado de Hermione que se encontrava a um canto conversando com Tonks, que chegara logo cedo acompanhando Lupin, e pelo próprio ex-lobisomem, que continuava a confabular com o ruivo.
Ao ganhar o exterior da casa, a menina olhou à sua volta e observou o elfo ao longe, próxima ao pequeno estábulo existente na extrema orla do lago, acenando para que a seguisse, no que foi imediatamente atendida pela garota, que olhou disfarçadamente para os lados, verificando se era observada por alguém. Ao chegar ao local onde avistara a pequena criatura pela última vez, como não a localizasse mais, contornou a pequena construção a fim de verificar se a mesma a aguardava lá.
— Winky! – chamou a bruxinha, estranhando a atitude do elfo.
— Posso ajuda-la? – a conhecida voz, sem um corpo visível, causou um tremendo frisson na garota.
— Harry! – gritou a pequena, girando em torno do próprio corpo a fim de localizar o rapaz oculto.
O garoto descobriu-se de sua capa, mostrando-se logo à frente da excitada menina que, com grande agilidade avançou em sua direção e atirou-se em seu pescoço, aplicando-lhe um apertado abraço enquanto seus pés se desprendiam do chão e suas pernas se dobravam graciosamente para trás, deixando todo o seu peso depositado nos ombros do rapaz.
— Seu maluco! – censurou-o, fingindo-se de brava, enquanto o bruxinho cingia-lhe a cintura, evitando que o gostoso abraço se desfizesse – Eu lhe pedi que não se arriscasse à toa...
E, como após soltar-se do pescoço do ex-namorado, ainda continuasse com seu rosto muito próximo do rosto do outro, por ainda permanecer sustentada pela sua cintura, e como o garoto se mantivesse calado e olhando fixamente em seus olhos, a menina aproximou seus lábios lentamente dos de Harry e selou um longo e apaixonado beijo, no que foi intensamente retribuída.
Após um longo tempo, em que tudo à volta parecia girar em torno dos dois amantes, o jovem deixou a outra escorregar pelo seu corpo até seus pés tocarem o chão, sem, no entanto, libera-la de seus braços, então, com uma de suas mãos acariciando aquele lindo rostinho que tanto havia almejado em seus sonhos, o rapaz respondeu à frase dita pela outra:
— Meu aniversário será só amanhã... até lá posso aproveitar um pouco da herança de meu velho protetor... – e aplicou-lhe outro beijo apaixonado, que fez com que os dois sentissem as pernas bambearem e se vissem obrigados a apoiarem-se um no outro.
Após mais algum tempo em que se mantiveram enlevados por aquela deliciosa sensação, os dois sentaram-se ao chão e recostaram-se na parede de madeira do estábulo que os mantinha ocultos, permanecendo muito próximos um do outro e com os dedos de suas mãos entrelaçados. Então Harry contou-lhe tudo o que ocorrera desde que encontrara com Rony na casa de seus pais em Godric’s Hollow, até um interessante encontro que tivera logo pela manhã, na Biblioteca de Hogwarts:
“Fui até a biblioteca para pesquisar alguma magia de proteção para o Monte dos Imortais, como feitiços anti-aparatação ou de desorientação. Já havia terminado de fazer anotações em um pergaminho e me preparava para ir embora, quando ouvi passos muito leves atrás de mim e um breve miado, me virei rapidamente para verificar se Madame Nora estava sozinha, mas logo percebi que aquela gata que me fitava com os olhos amarelados não era a gata do Filch”.
— Professora McGonagall? – deduziu a interessada ouvinte que, entre uma passagem e outra narrada pelo visitante, depositava carinhosos beijinhos em sua boca ou alisava seu rosto com as mãos, afetuosamente.
“Pois é, imagine a minha cara de vergonha quando ela se transfigurou bem ali, na minha frente. – ‘Acho que está na hora de entrarmos num acordo, Sr. Potter’ – foi o que ela disse, enquanto eu permanecia mudo, sem saber que desculpa inventar. Perguntei, então, como ela havia me descoberto: – ‘Um guarda-caça que vem me evitando há quase um mês, uma coruja extremamente incomum freqüentando nosso corujal e, como se não bastasse, um fantasma – que sempre teve uma queda por você – bancando o intelectual. Francamente, Sr. Potter, pensa que sou alguma tola?’ – Felizmente ela disse que o Hagrid não seria prejudicado, mas que tinha uma proposta a me fazer”.
— Uma proposta? Ela quer que você continue a estudar neste ano, não é?
“Não, acho que no fundo ela sabe que não tenho mais tempo para isso, na verdade ela me ofereceu o cargo de Assistente da Diretora de Hogwarts: – ‘Desta forma você poderá continuar na escola mesmo não sendo um aluno e sem ter de se esconder, além disso, terá acesso a qualquer lugar que queira ir dentro da propriedade, não precisando se arriscar para utilizar bens que, na verdade, lhe pertencem‘ – Tenho certeza que foi o quadro de Dumbledore que contou a ela sobre a penseira”.
— E você vai aceitar, Harry?
“Já aceitei, acho que realmente foi uma boa ter sido descoberto pela McGonagall: – ‘Não precisa me contar onde tem andado ou o que está fazendo, só quero que me auxilie quando eu precisar e, Harry: saiba que pode contar comigo naquilo que precisar.’ – Sabe, acho que aquela fase de nos tratar como se fossemos crianças de colo já passou. Eu confio nela”.
— E deve confiar no Lupin também, ele sabia que você estava na casa de seus pais no outro dia, mas respeitou sua vontade de manter-se incógnito. – a ruivinha se tornou muito séria – Ele está lá em casa, agora.
O bruxo ruminou, durante alguns instantes, o que Gina havia lhe contado, consentindo com um movimento de cabeça, então, tornou-se muito sério também e, gaguejando um pouco, disse com bastante dificuldade:
— Gina, no enterro de Dumbledore... eu lhe pedi para que acabássemos com o nosso namoro...
— Você me dispensou! – corrigiu a outra, com ar de reprovação, lembrando seu lado espevitado.
— Bem, eu achei que seria melhor... para te proteger. Mas eu sou um fraco... não consegui me afastar de você...
— Tudo bem, Harry. Eu sei que no fundo você está certo. – as palavras do outro despertaram um sorriso de ternura nas feições da menina.
— Mas, e depois de hoje? – o rapaz estava confuso – Nós estamos namorando de novo?
— Não Harry, eu disse que você tem razão. Você não pode ter ligações com ninguém, pois seu inimigo poderá usar esta sua fraqueza contra você. – havia uma certa ironia nas suas palavras.
— Então... o que... eu não entendo...
— A gente está ficando, Harry! – a frase saiu com uma naturalidade impressionante – Mas ninguém pode saber, ou o Lord das Trevas virá atrás de mim. – o tom de voz da bruxinha era o de uma babá ensinando uma nova lição a um garotinho.
Harry sorriu, percebendo a provocação da garota, que a cada momento se tornava mais importante para ele.
— Mas aí, os outros acharão que podem te paquerar, como o Dino Thomas...
Agora foi a vez da caçulinha Weasley sorrir, recebendo o troco da provocação.
— Harry! – ela falou muito séria – Eu sou sua e sempre serei, mesmo quando você me negar, na frente dos outros, eu continuarei te pertencendo, assim como eu sei que você também é meu. Vamos continuar juntos, mas, para todos os efeitos, não existirá nenhum relacionamento entre nós, assim você poderá ficar tranqüilo e não temerá por mim.
O garoto concordou com um sorriso e abraçou-a fortemente, então os dois se levantaram, de mãos dadas, ao perceberem, simultaneamente, que já estavam ali há um bom tempo, e logo a longa ausência da garota despertaria a preocupação dos demais.
— É melhor eu ir na frente. – disse a ruivinha, depositando um último beijo de despedida nos lábios do amado – Dá um tempo e depois você vai, certo?
— Tudo bem! – concordou enquanto vestia sua capa da invisibilidade e observava a menina se afastar correndo.
Gina correu até a entrada principal da casa, observando de passagem que Hermione e seu irmão encontravam-se sentados em um banco existente na lateral da construção e, após entrar, subiu rápida e estrondosamente pela escada, no que foi interpelada pela sua mãe:
— Gina, meu bem, aconteceu alguma coisa? Aonde você vai?
— Vou arrumar meu quarto mamãe, eu me distraí no passeio e acabei esquecendo!
— Está bem querida, mas não se esforce muito, sim? – mas a jovem já havia se encerrado em seu quarto e se deitado na cama, com os olhos cheios de satisfação perdidos no teto.


Do lado de fora, Hermione havia repousado sua cabeça no ombro de Rony, enquanto prendia o braço do rapaz entre os seus e mantinha os dedos de uma de suas mãos entrelaçados aos da mão dele.
— Que belo casalzinho vocês fazem! – a voz sem corpo soou novamente, desta vez para os dois amigos.
— Harry! – a garota exclamou enquanto se levantava com uma expressão mista de alegria e vergonha.
O garoto ruivo, por sua vez, demonstrava a tradicional expressão de medo, que só se desfez quando o amigo se revelou, à frente dos dois.
— Harry! – repetiu o bruxo, enquanto abraçava o colega, no que foi imitado pela menina.
— Que surpresa boa! – disse a jovem agarrada ao pescoço do amigo, enquanto lhe beijava o rosto – Vamos entrar, estão todos preocupados com você!
— Claro, mas antes quero lhes contar os últimos acontecimentos, que gostaria que ficasse somente entre nós.
E repetiu o mesmo relato que fizera a Gina, escondendo apenas a contratação dos elfos como seus empregados – achou melhor assim – e o fato de ter reatado com a ruivinha.
— E como você veio para cá? – indagou Rony – A professora Minerva o auxiliou?
— Não, eu aparatei do Monte dos Imortais para a estradinha aqui perto, depois vim andando para não disparar os feitiços antiintruso que seus pais devem ter lançado nas imediações e, como já tinha a senha do fiel do segredo, foi fácil achar a casa.
— Isso é muito perigoso, Harry. – disse Hermione – Você terá de bloquear esta passagem para Hogwarts o quanto antes. É uma vulnerabilidade que pode comprometer a segurança de todos.
— Como se não existissem inúmeras maneiras de se entrar naquele castelo. – disse o ruivo, tentando desacreditar a tese da menina.
A jovem lançou um terrível olhar de reprovação ao dissimulado Weasley, que disfarçou o efeito que o mesmo fizera, olhando distraidamente para o céu.
— Só mais uma coisa antes de entrarmos. – disse Harry – Está acontecendo alguma coisa entre... isto é... vocês têm alguma coisa para me contar?
— Não sei do que você está falando, Harry. – respondeu a garota com visível irritação.
— É melhor a gente entrar logo. – concluiu Rony – Estou ficando com fome!
E, com um profundo silêncio que se instaurou entre eles, os três dirigiram-se para a entrada da Toca.

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