A lista de perguntas e erros
A LISTA DE PERGUNTAS E ERROS
Gina respirou fundo, balançou a cabeça de um lado para o outro para tentar aliviar a tensão e se preparar para enfrentar o que viria a seguir, fez o máximo para manter em sua mente o discurso otimista, em termos, de Draco. Mas era difícil.
Havia aparatado um pouco longe d’A Toca para que pudesse fazer justamente aquilo: encontrar calma e coragem. Enquanto se aproximava do terreno da casa cheia de andares quase caindo, torcia para que lá dentro houvesse o menor número possível de Weasleys. Se a sorte estivesse ao seu lado apenas seus pais a estariam esperando. Era mais fácil ir contando as más notícias devagar, dando tempo para que cada qual se acalmasse e assim não necessitava lidar com sete Weasley furiosos e confusos ao mesmo tempo.
Inevitavelmente chegou na porta da cozinha, as luzes estavam acesas, o jantar provavelmente tinha acabado de ser servido. Antes de se aventurar dentro da casa, no entanto, deu uma espiada na janela para ver qual era o tamanho do estrago. Reconheceu de imediato sua mãe lavando louça e soluçando, seu pai estava sentado à mesa, olhando para a esposa desconsolado e... Rony, Hermione... E Harry, estavam lá também. Não havia sinal dos gêmeos... O que era uma pena, entre todos os irmãos os dois eram os únicos que Gina acreditava que seriam capazes de fazer uma piada sobre a situação toda.
Rony seria um problema... Seu pai seria outro... Mas Harry? Ele não estava em seus planos... E duvidava que Draco pudesse fazer um discurso para convencê-la que Harry encararia a notícia como um bom amigo.
“Seja qual for a reação deles... Tarde demais para voltar atrás.” Principalmente quando Draco a estava esperando de volta na mansão prometendo um domingo inesquecível. Era apenas uma breve pausa do final de semana deles, nada mais. Estava lá para avisar que estava viva, com todos as partes do corpo, contar sobre Draco e voltar para a mansão correndo. A pressa estava muito mais relacionada ao fato de não querer encarar as reações do que à ansiedade de rever a mansão Malfoy. Sentia-se culpada por ter sumido sem avisar logo que notou que tinha feito aquilo, mas não tanto a ponto de deixar que a segurassem com algum castigo, que provavelmente tentariam impor.
Percebeu que ainda estava parada à frente da porta sem mover um dedo por cinco minutos e soltou um último suspiro... Abriu com cuidado e relutantemente entrou na cozinha. Imediatamente houve um estardalhaço e ouviu o barulho da louça caindo no chão, não por susto, mas por enorme alívio de sua mãe, que parou de se concentrar na magia que os levitava e depressa correu ao encontro dela.
- Gina! Graças a Merlin!
Foi praticamente esmagada pela mãe, que pouco se importava se a filha estava conseguindo respirar ou não. A cozinha inteira levantou com a exclamação da matriarca. Assim que teve certeza que a filha estava viva e a salvo a atitude dela mudou drasticamente, ao liberar Gina do abraço.
- Onde você estava? Por que sumiu desse jeito? Isso é coisa que se faça? Deixando nós todos preocupados! Sem falar no trabalho! Você tem muita sorte de ter Quim como chefe, outro teria te despedido! É muita irresponsabilidade! Nunca pensei que entre todos os meus filhos você justamente fizesse uma desfeita assim! – esbravejou com o dedo indicador quase no nariz da filha, tratando-a como se tivesse nove anos de idade.
- Molly deixe-a se explicar... Tenho certeza que Gina tem uma boa razão para tudo isso – interveio o pai, apesar das palavras estava sério e indicando que se caso não fosse uma boa explicação seria ele a dar o sermão nela.
Finalmente Gina pôde dar uma melhor olhada na cozinha, agora que estavam todos esperando por uma resposta dela. Rony tinha os braços cruzados, expressão de curiosidade mais do que irritação... Hermione tentava lê-la como sempre, esperando preocupada se Gina teria ou não a ousadia de contar sobre Draco... E Harry a fitava intensamente, sem dúvida muito interessado no que tinha a dizer.
Ela, no entanto, engoliu seco, de repente perdendo a habilidade de falar. Não esperava ter que soltar a bomba tão cedo. Resolveu enrolar.
- Estou meio cansada... Posso sentar primeiro?
Ninguém fez objeção e sentou na cadeira mais próxima, mas os outros continuaram esperando a explicação sem se mover. “Parabéns para mim... Ganhei três segundos”, pensou, tentando arranjar algo mais para procrastinar o inevitável.
- Desculpe por ter perdido o ensaio hoje... Acho que perdi a hora – sorriu fracamente. Não era mentira, dormir na mansão não foi planejado. Depois deixou um suspiro escapar. – Nem sei por onde começar.
- Talvez pelo começo seja interessante – retrucou Harry.
A voz dele estava mais seca do que se lembrava. Não se falavam em meses já que a estava evitando, desde o rompimento. De qualquer forma, Harry estava certo, talvez se explicasse realmente desde o começo conseguiria melhorar a imagem de Draco.
Quando demorou alguns instantes para voltar a falar sua mãe sentou-se ao seu lado.
- Gina, querida, assim você está me assustando! O que está acontecendo?
- Não é nada tão grave assim, mãe – riu fracamente. – Mas acho que vai ser um choque de qualquer forma.
- Você está em apuros ou coisa parecida? – perguntou Rony.
Respirou fundo... Era agora ou nunca. Como desejava que Harry não estivesse lá, ouvindo tudo. Seria um pouco menos difícil.
- Lembram quando estávamos atrás de Bellatrix?
- Aquela mulher horrível está viva ainda? – exclamou sua mãe, prevendo o pior.
- Não, não! Espere eu terminar... Quando ainda estávamos a procurando eu fui até Azkaban, ver se encontrava alguma pista sobre o comportamento dela, mas só um único prisioneiro estava consciente o bastante para poder falar, lembram? Draco.
- Mas o que isso tem a ver com hoje, Gina? Vai me dizer que Malfoy aprontou alguma coisa agora e você o pegou? – interrompeu Rony impaciente como sempre.
Hermione lhe deu olhar decisivo, desafiando Gina a mentir ou talvez a falar a verdade. Não importava mesmo, agora já era tarde demais para inventar uma desculpa qualquer.
- Não. Vai ouvir até o fim ou não? – respondeu um pouco irritada, já era difícil fazer aquilo sem interrupções, as perguntas a cada segundo não ajudavam. – Enquanto visitava a cela dele, para descobrir algo sobre Bellatrix... Digamos que... Nós dois... Ficamos amigos. Tanto que depois que ela morreu e Harry foi capturado me escondi na mansão de Draco e... Não posso explicar como... Mas estamos juntos agora. Estamos namorando há quase três meses. Ontem ele estava doente e fiquei cuidado dele, perdi a hora...
Pronto... Estava dito. A cozinha ficou mais quieta do que já estava e Gina não sabia se era por confusão ou choque. O primeiro há reagir foi Rony, que, claro, não acreditou e começou a rir.
- Você namorando Malfoy? Gina, por favor né? Se foi numa festa, passou mal e ficou de ressaca, admita logo e não fica inventando besteira!
Não respondeu, preferiu olhar para a madeira da mesa.
- Mas... Draco Malfoy não é o filho de...? – sua mãe perguntou, deixando a resposta no ar.
- Isso é sério? – Harry a fitou, esperando que respondesse negativamente.
- Ele é um Comensal, Gina – informou seu pai, como se já não soubesse. – Filho de Lúcio. Não pode estar falando a verdade.
Apenas Hermione até agora não reagira... Afinal, já sabia daquilo, agora parecia nervosa em saber como aquela história terminaria.
- É complicado – suspirou. – Não foi algo que esperasse também. Eu o trouxe do Egito e, confiem em mim, eu o odiava tanto quanto o fazia em Hogwarts... Mas a verdade é que eu nem o conhecia.
- Espera um pouco... Você está falando sério mesmo?! – exclamou Rony, agora muito mais preocupado. – Gina! Perdeu a cabeça de vez?
Resolveu ignorar, se a cada frase tivesse que confirmar que estava realmente falando a verdade não terminaria nunca.
- Ele não é tão ruim assim – defendeu inutilmente. – Eu sei que causou muitos problemas e sempre foi um idiota na escola... Mas... Acabamos nos entendendo. Ele me ajudou com Bellatrix, contou tudo que sabia sobre a tia e só queria em troca ver a mãe.
- Só? Se ele estivesse arrependido de todas as porcarias que fez durante a guerra teria nos dado informações em troca de nada! – gritou Harry, indignado.
- A mãe é a única família dele que sobrou, Harry!
- E daí? E eu perdi meus pais por causa de Voldemort! Não tive escolha! Mas a família dele que escolheu o próprio fim! Tiveram o que mereceram!
- Não estou falando que eles não mereceram! Mas Draco tentou fugir! Ele não queria mais ficar no lado de Voldemort!
E, claro, como ela mesma há algum tempo atrás, nenhum deles acreditou.
- Por que você o está defendendo? – Rony disse, incrédulo e abismado com a atitude dela.
- Eu vi na penseira dele... Vi Voldemort o torturando por ter desejado fugir. Ele pode ser muitas coisas, mas queria escapar daquilo.
- Por culpa dele Dumbledore está morto, Gina! – rugiu Harry, batendo na mesa com o punho.
- Você mesmo disse na época que Draco não o teria matado! Foi Snape! – igualmente aumentou a voz, raiva subindo a cabeça.
Harry soltou uma risada seca.
- Não matou porque é covarde... Mas mesmo assim foi responsável pelos Comensais dentro de Hogwarts! E o lobisomem que quase matou o seu irmão!
Foi quase como um soco bem dado no estômago. Sabia que qualquer desculpa pelos erros passados de Draco seria negada e destruída por Harry... Simplesmente porque qualquer justificativa seria frágil demais para sobreviver.
Por um momento sentiu lágrimas lutarem para escorrer pelo seu rosto e sua decisão antes tão firme enfraqueceu... E se... Estivesse enganada quanto a Draco? Estava cometendo um grave erro?
- O que quer que tenha dito para convencer você que mudou é mentira, Gina – cuspiu Harry. – Ele poderia ter escolhido pedir ajuda para a Ordem... Ou mesmo fugido mesmo. Mas ele não fez nada disso, não importa o que você viu. Ele foi covarde e se escondeu atrás do pai. E se o passado dele não basta... Veja o que ele fez para sair de Azkaban! Quer dizer que destruir a Ordem e mentir sobre você é sinônimo de amor agora?
Parecia que havia apenas ela e Harry na cozinha de tanta raiva que fluía entre ambos... Ele odiava... Odiava saber que a tinha perdido para Draco e por aquela razão estava sendo cruel. Queria machucá-la, fazê-la pagar por trocá-lo pelo seu inimigo. Gina podia ver aquilo na expressão de raiva que tinha. Naquele momento o odiou também. Não se importava com ela, com o quanto doía ouvir aquelas coisas.
- Por que com você tudo é branco e preto? Por que é tudo tão simples? Ele me salvou! Salvou nós todos! E fez isso por mim! Não só de Bellatrix, mas depois! Sabe quem tirou Higgs do poder? Ele! Pode ter sido responsável pelos ataques a Hogwarts mas queria salvar a vida da família dele! Quantas vezes você ignorou regras e leis quando convinha para salvar quem se preocupa com? Lembra do que aconteceu com Sirius?! É tão diferente assim de Draco, Harry?!
Mal havia saído de sua boca aquilo e já sabia que Harry ficaria furioso com a comparação. Quase espumando, ele jogou a cadeira à sua frente para o lado e praticamente pulou em Gina, se não fosse a força de Rony o segurando com certeza teria pegado sua varinha e feito uma besteira. A ruiva também não ficou parada, estava tão furiosa quanto ele, levantou da cadeira, soltando-se de sua mãe, que tentou impedi-la, e chegou perto dele. Não ligando se Rony conseguiria segurá-lo mais tempo ou não.
- Parem vocês dois! – gritou sua mãe, assustada com a ferocidade das acusações. – Chega! Não é assim que vamos resolver alguma coisa!
Mas não adiantou em nada, nenhum deles lhe deu atenção. Estavam além da razão. Aproximou-se a ponto de fitá-lo de frente e garantir que não haveria como Harry escapar de seus olhos ou fingir que não a ouvira.
- Eu fiz minha escolha – disse, com lágrimas escorrendo e raiva que jamais sentira. – Se você algum dia se importou comigo aceite isso e me deixe em paz – depois se virou para o resto, não menos perturbados com a notícia. – E isso serve para vocês também. Podem me encontrar na mansão Malfoy a partir de agora.
Sem pensar em mais nenhuma alternativa, deu às costas para Harry e o irmão, saindo da cozinha pela mesma porta que entrara. Estava praticamente correndo, desnorteada com a fúria e magoa que sentia... As palavras de Harry a afetaram tanto que não percebeu que Hermione havia corrido atrás dela.
- Gina!
Não virou para trás, continuando andando depressa, sem objetivo além de se afastar o máximo d'A Toca e, principalmente, de Harry. Não estava se sentindo mais livre nem menos culpada, como tinha esperança que aconteceria assim que contasse sobre Draco... Pelo contrário, parecia que só existia raiva.
- Gina! Espere por favor!
Por alguma razão inexplicável diminuiu a velocidade e deixou que Hermione a alcançasse. Talvez guardasse uma tola esperança que tinha vindo para aliviar e confortar Gina, e não aumentar a ferida.
- Você não está pensando direito!
- Estou sim Hermione! Não me venha com sermão outra vez que aparato agora mesmo!
- Está bem, mas pode pelo menos parar de correr?
Mais uma vez fez o que pedia, encarou-a, irritada, pronta voltar à marcha caso Hermione falasse qualquer coisa que não lhe agradasse.
- O que Harry fez... As coisas que ele disse... Por favor entenda que... Ele estava descontrolado! Não significa que você tenha que ir embora para a casa do Malfoy! Ele pode pensar assim agora, mas talvez depois de se acalmar...
- Não, Hermione. Harry nunca vai mudar.
- E Malfoy vai? – retrucou, deixando escapar sua desaprovação, mesmo querendo buscar uma solução calma para a situação não conseguia esconder o que pensava dele.
- Estou indo embora.
- Não! Calma! – gaguejou. – Posso te pedir apenas um favor?
Gina suspirou... O que poderia ser agora? Queria que prometesse que não dormiria com Draco? Que não o levaria no casamento dela e de Rony? Não importava o que fosse, duvidava que cumpriria.
- Está certo. O quê?
Ela respirou fundo, procurando provavelmente se manter calma o bastante para não deixar escapar outra vez o tom ofensivo. De qualquer forma não foi fácil ouvir o que Hermione tinha a dizer.
- Pergunte para ele... Se por acaso estava deixando Voldemort por acreditar que o que aquele monstro estava fazendo era errado... Se ele, tendo sua velha vida de volta, não teria feito a mesma coisa caso tivesse certeza que Voldemort ganharia? Será que um dia você já conversou com ele sobre trouxas e filhos de trouxas que nem eu, se por acaso Malfoy ligou para todas as mortes que o pai causou? Todos aquelas pobres pessoas que sofreram nas mãos da família dele?
Conforme Hermione falava Gina percebeu o quanto estava emocionada e pela primeira vez viu frente à frente a dor que estava causando... A verdadeira razão pela qual Draco não seria aceito por sua família... Não por ódios aos Malfoy, pelas azarações trocadas ou xingamentos ouvidos. Mesmo querendo fazê-la parar de falar, Gina só pôde ouvir a amiga continuar a pedir com sinceridade que, ao menos, considerasse o que falava.
- Ou melhor... Pergunte a si mesma onde foram parar os valores que sua família lhe ensinou. Você esqueceu de todo os sofrimentos que passamos? Das mortes? Ele parece ter esquecido bem fácil, não? Para ele deve ser mesmo... Fingir que não é culpado, que não teve escolha... Mas outros no lugar dele teriam lutado. Nós lutamos.
Havia algo em sua garganta que não lhe permitia falar... Podia ter visto tudo que Hermione dissera como uma acusação mas era incapaz disso. Só conseguiu abraçá-la e surpreendentemente o abraço foi retribuído.
- Eu sinto... Sinto muito... Tanto – soluçou. – Eu o amo... Hermione, o que posso fazer? Eu sei que Draco é bom... Tem que ser. Ele cometeu muitos erros mas... Não consigo deixar de perdoá-lo... Estou tão errada assim?
Ela não respondeu... Estava tão perdida quanto Gina, não tinha a resposta, apenas mais perguntas. O abraço terminou.
- Estava feliz... Ele me faz feliz. Mas sem vocês... Sem minha família...
- Gina... Você não o conhece de verdade. Seis meses não é tempo o bastante! Tem certeza que não está só inventando desculpas para os erros dele?
- Eu não tenho certeza de nada, Hermione. Mas quis arriscar... Achei que valeria a pena tentar.
- E valeu?
- Até algumas horas atrás, sim – riu fracamente. - Acredita que foi Draco que me convenceu de contar? Não agüentava mais o segredo... Apesar de estar morrendo de medo de que eu... Faça justamente o que estou fazendo agora: dando ouvidos à minha família.
- Então ele é mais sensato do que pensei. Está com medo porque sabe que sua família tem razão.
- Não... Só que tem argumentos mais persuasivos – deu um sorriso pequeno.
- Fique n’A Toca hoje Gina. Por favor... Sua mãe já quase morreu de preocupação.
- Não posso... Na verdade não quero.
- Harry não vai...
- Estou pouco me importando com ele – seu tom não deixou dúvidas que ainda estava longe de esquecer a raiva. – Draco está me esperando.
Hermione suspirou, desistindo finalmente. Alguns instantes depois Gina desaparatou de volta para a mansão, na esperança de encontrar Draco e nele, conforto e o fim das dúvidas.
Dizer que estava calmo e sem preocupações seria uma mentira. Nem mesmo o copo quase vazio de firewhisky era capaz de afugentar certos pensamentos ruins, todos voltados, pela primeira vez em sua vida, no que se passava na casa dos Weasley. Quase se arrependia do discurso de motivação que fizera no almoço... A razão do “quase” era simples: queria fingir que qual fosse a conseqüência do fim do segredo não se seria afetado.
Sentado no escritório, observando o nada como se fosse a coisa mais interessante do universo, tentou pensar em algo diferente além dos diferentes cenários resultantes da visitinha de Gina à sua querida família. Tinha mandando-a para uma armadilha? Poderia imaginar muito bem tudo que aqueles sardentos falariam dele... E praticamente tudo verdade, de um certo modo.
Já havia se passado algumas horas desde que ela partiu e quanto mais tempo passava menos contente ficava... O que era perfeitamente compreensível. Experimentou pensar mais positivo e concluiu que podia ser pior: os papéis poderiam ser inversos e ele quem estaria tendo que enfrentar a fúria dos pais. E da tia... Caso estivesse viva. E de Voldemort... Que, provavelmente, naquele cenário, estaria também com todos os membros funcionando.
Na verdade... Poderia ser milhares de vezes pior. Só que nada daquilo ajudava em nada a fazê-lo se sentir melhor. Um “se” nunca foi muito amedrontador por mais imaginativo que fosse.
Devia ter ido com ela. Dar cobertura... Estupefar alguns irmãos no caminho. Pelo menos ficaria livre da interminável espera irritante, mas corria o risco de voltar para casa sem um dos braços.
Por alguma razão se viu olhando o braço esquerdo... Mais precisamente a Marca Negra, quase apagada por completo. Lá estava um braço que um dia já chegara a pensar que não sentiria falta. Quando estava se escondendo nos esgotos do mundo, fugindo de tudo e todos, por tantas vezes olhou para aquela caveira fixamente, na esperança tola que sumisse por completo. Como odiou Voldemort naquela época, por ter destruído sua família... Agora desejava que a marca tivesse desaparecido para sempre por outra razão.
Para que Gina não visse.
Estavam se beijando... Uma, duas, três... Quinhentas vezes. Era vital continuar. Quase como o corpo precisava respirar, Draco e Gina tinham que se beijar. Regras da natureza, sem contestação.
Andava para trás, quase tropeçando em um tapete no caminho sem perceber. Se caíssem eram capazes de continuarem fazendo aquilo mesmo no chão, poeira e tudo junto. Entre beijos e goles de ar, Gina dava uma risada que só aumentava o desejo dele de repetir o processo mais algumas dezenas de vezes.
Para onde estavam indo mesmo?
- Pra que lado é o seu quarto? – ela murmurou, ofegante.
- Esquerda, esquerda.
Alguns beijos depois, sentiu suas costas baterem contra uma porta, Gina tentou pegar a maçaneta mas esbarrou nas calças dele e as coisas ficaram mais difíceis de registrar depois daquilo.
- Está trancada!
- Merda!
- Pega a sua varinha!
- Que tal você mesma pegar? – sorriu sugestivamente.
- Draco! – novamente aquela risada perfeita.
No fim, Gina pegou sua própria varinha e abriu finalmente a maldita porta. Continuaram indo pra atrás, entrando no quarto com pressa. Quando estavam em cima da cama espaçosa, deitados pela primeira vez, pararam alguns instantes para aproveitarem melhor aquele momento.
Gina estava em cima dele, sorrindo e com os cabelos ruivos caindo para frente, quase cobrindo seu rosto. Naquele momento Draco tinha certeza que pertencia a ele e a ninguém mais.
Devagar, para provocá-lo, começou a inclinar-se para frente, aproximando-se de seu rosto, enquanto começava a abrir os botões da camisa dele. Beijou sua boca mal tocando os lábios e quando ele levantou a cabeça para retribuir Gina tinha parado de repente, afastando-se como se tivesse levado um choque. Saiu de cima dele e sentou-se na beirada da cama.
Draco quase soltou um grito de frustração enquanto se sentava também. Ela não o podia o provocando assim se não pretendia ir até o fim... Nem cinco banhos de água fria dariam conta daquele jeito.
- O que raios aconteceu?
- Seu braço...
E de alguma forma sabia de imediato o que ela queria dizer, talvez inconscientemente já tivesse esperando por aquilo. Era primeira vez que ela via a Marca Negra nele depois de estarem juntos.
- O que quer fazer? – perguntou, quase escondendo a porcaria. – Não tem como me livrar dela... Acredite, eu tentei.
Não sabia se ela estava com medo, enojada ou revoltada com aquilo que ele tinha no braço esquerdo. Nenhuma das opções eram positivas mas saber qual talvez ajudasse a resolver logo o problema para que continuassem da onde tinham parado.
- É só que... É muito para absorver – murmurou, arrumando os cabelos ruivos. – Me lembra de coisas que prefiro esquecer.
- Está falando que nunca vai agüentar me ver sem camisa ou de manga curta? – retrucou, um pouco irritado.
- Só quero um pouco de tempo.
- Quanto tempo?
- Não sei.
- Descubra!
Felizmente ela descobriu... Um segundo depois o estava beijando outra vez.
Draco sabia que toda vez Gina hesitava em tocar seu braço esquerdo... Não importava quantas vezes já tivessem dormido juntos, ainda a incomodava, apesar das tentativas de fingir que não havia mais nada de errado. Ele contribuía para o fingimento e só pensava naquilo exatamente no momento que ela hesitava... Depois ambos esqueciam e enterravam.
Mas estava lá.
E talvez os Weasley perfurassem a barreira que Gina tinha construído fundo o bastante para destruí-la por completo. Pra ele talvez a Guerra estava morta e enterrada, junto com a maldita Marca Negra, mas para os Weasley a história era bem diferente.
Mexia num movimento circular o copo em sua mão lentamente. Ainda perdido em seu pessimismo não percebeu quando uma coruja branca com uma carta presa na garra, bicou a janela do escritório, querendo entrar. Era algo urgente pois o pássaro não desistiu até que chamasse atenção de Draco que, mal humorado, a deixou entrar.
Era uma carta de St. Mungos e de imediato estava atento, colocado o copo na mesa e abrindo o envelope, não tinha idéia do que poderia ser mas estava torcendo que não fossem péssimas notícias. Seus olhos correram pelo papel e mal pôde acreditar no que lia. Seu coração começou a bater mais rápido a cada linha... Não podia ser...
Deixou tudo para trás, inclusive a carta aberta, que jogou no chão sem notar, pegou a capa mais próxima de seu alcance e correu para a lareira, mal vendo por onde passava. Estava tão acelerado que esqueceu completamente que esperava por Gina.
- Draco? Groger? Alguém?
Gina estava parada na frente do portão da mansão a mais de dez minutos esperando que alguma alma caridosa lhe deixasse entrar mas nem o elfo nem Draco pareciam ter notado sua chegada. Estava ainda com cara de choro e com um começo de dor de cabeça e só queria descansar para esquecer o que aconteceu, mesmo que fosse só por algumas horas.
Estava para desistir quando Groger finalmente apareceu e a deixou entrar. Apesar de não ser fã do sistema de elfo-domésticos não chegava a ser uma Hermione, os sumiços de Groger estavam começando a lhe dar nos nervos. Bem... Na verdade, só naquele dia em particular.
Já dentro da mansão procurou por Draco por todos os cantos sem sorte... Sabia que quando ele resolvia sumir ia direto para o escritório, um dos únicos lugares em que não só ficava longe mas também o fazia com gosto. Não se sentia bem lá.
Sem opções, no entanto, abriu a porta para encontrar o cômodo vazio. Não foi pequena a decepção e junto com ela veio uma certa irritação... Devia estar lá para apoiá-la ou então pelo menos ouvir o resultado da conversa que ele mesmo havia insistido que Gina seguisse em frente. Cansada, encostou de leve na escrivaninha, onde em cima estavam espalhados vários papéis e um copo de firewhisky quase vazio, sinal que estivera lá há não muito tempo, tentando diminuir a preocupação aumentando o nível de álcool.
Talvez Draco se convenceu que Gina tinha resolvido ficar n’A Toca e escolhido sua família, assim foi procurar algum pub para se embebedar. O que seria algo incrivelmente estúpido.
Passou a mão nos olhos outra vez, tentando secar o olho ainda um pouco úmido, ao fazê-lo viu ao lado do copo um envelope aberto e uma carta caída no chão logo abaixo. Inevitavelmente ficou curiosa, seu sexto sentido lhe dizendo que o sumiço de Draco tinha a ver com aquilo. Abaixou-se e pegou o papel, de primeira reparando no carimbo com o símbolo do hospital St. Mungos. Demorou alguns instantes até que fizesse a ligação entre uma coisa e outra...
Narcissa Malfoy.
“Sr. Draco Malfoy,
É com grande prazer que informamos por meio desta carta que a paciente Narcissa Mafoy apresentou incríveis melhoras a partir do tratamento em que vinha sendo submetida nos últimos meses. Não apenas mostrou reações a estímulos externos como, recentemente, saiu de seu estado catatônico.
Após uma série de testes podemos confirmar que está perfeitamente saudável mentalmente e fisicamente.
Não havendo mais necessidade de permanecer na ala da enfermaria de Danos Causados Por Feitiços a paciente foi em caminhada para o centro de recuperação, em um quarto privativo, onde aguarda a sua alta final.
Horários de visitações vão das 10h até às 19h de Segunda a Sábado.
Sinceros agradecimentos,
Dallus Thickey
Medi-bruxo chefe da enfermaria de Danos Causados Por Feitiços”
Logo que terminou de ler se virou para o relógio em cima da mesa... Eram ainda cinco e meia. Então não estava enganada, Draco tinha ido até St. Mungos para ver Narcissa Malfoy. “Óbvio que sim! Faz muito sentido ele visitar a própria mãe,” pensou, sentindo-se um pouco boba em não entender a principio.
Imaginou o quanto teria ficado feliz com a notícia e sorriu um pouco, por tempo demais Draco colocou nos ombros a culpa pelo que aconteceu com a mãe, graças a Merlin poderia se livrar daquele sentimento. Gina sabia a enorme importância que Narcissa tinha para o filho... E por aquela e tantas outras razões que seu pequeno sorriso desapareceu com rapidez.
Devia estar feliz por ele, afinal se tratava de sua mãe... E estava, de certa maneira, mas o modo como ele saiu correndo, sem nem deixar um aviso (provavelmente esqueceu dela no momento que recebeu a carta), mostrava quem vinha primeiro na mente dele... E com certeza não era mais Gina, se sequer fora a primeira alguma vez.
Mas quem ela era para acusá-lo de algum crime? Não podia realmente ficar irritada com alguém que só queria ver a mãe, o que era completamente normal. Infelizmente, normal ou não, a magoou um pouco.
A injustiça da situação parecia ser grande demais para suportar. Acabara de voltar de uma reunião horrível, na qual praticamente cortara relações com sua família por uns tempos, teve que ouvir as acusações cruéis de Harry e os lamentos sinceros de Hermione... E agora Draco saia correndo atrás da mãe e ela nem sequer podia culpá-lo por isso?
Por pior que fosse até agora... Estava prestes a ficar ainda mais terrível. “Onde aguarda sua alta final”, significava que um dia Narcissa sairia algum dia do hospital e tudo indicava que seria em breve. Para onde ela iria? Obviamente de volta para casa. Como já não bastassem os Weasley e Harry... Agora Narcissa também opinaria sobre a situação. A menos que Draco resolvesse esconder Gina debaixo da cama, o que jamais permitiria, obviamente, a matriarca Malfoy ficaria sabendo cedo ou tarde das novas amizades do filho.
Por que sentia que o que mal tinha começado estava chegando ao fim?
- Onde ela está? Me diga!
- Por favor tenha calma Sr. Malfoy. Primeiro gostaria que me ouvisse com atenção, antes de ver sua mãe – pediu o maldito medi-bruxo, ficando entre ele e a porta do quarto de sua mãe.
- Anda logo então.
Precisava ver sua mãe, ter certeza que não era uma piada sem graça de algum antigo inimigo ou mesmo futuro ex-amigo. Por tanto tempo achou que não havia esperanças, mesmo aqueles malditos médicos esmagaram qualquer expectativa de melhora, e agora aquilo? Do nada? Por que não o tinham avisado dos sinais? Dito como três semanas atrás ela mexeu os braços, piscou... Qualquer maldita coisa!
- Sua mãe ainda está muito sensível. Quando acordou estava em estado de choque, não se lembrava muito bem do que havia acontecido, mesmo agora as memórias estão sendo recuperadas devagar. Qualquer situação estressante pode acarretar uma crise que talvez a deixe em pior estado do que antes, portanto vá com calma. Procure não a sobrecarregar emocionalmente.
- É só isso? – interrompeu, impaciente demais para ouvir o sermão com atenção.
- Ela precisa de repouso, talvez uma semana ainda no hospital até que possa ser levada de volta para casa, talvez menos conforme acharmos melhor. Estamos mantendo-a sob o efeito de poções relaxantes e mesmo depois que receba a alta o ideal seria continuar tomando por mais um mês. O senhor está me ouvindo?
- Sim, sim, que seja. Me deixe entrar agora.
- Está bem. Seria melhor que não ficasse muito tempo, ela precisar descansar.
Mal o homem tinha saído de sua frente e já estava com a mão na maçaneta, entrando no quarto. Era dezenas de vezes mais alegre que o antigo, havia uma enorme janela iluminando tudo e as paredes estava pintadas na cor verde claro, porém o mais importante era que sua mãe estava deitada em uma cama confortável se mexendo.
Engoliu seco, sabendo que teria que travar uma batalha incrível contra as próprias lágrimas. No momento em que pisou dentro do quarto a cabeça de sua mãe virou em sua direção e ela sorriu... Era um sorriso tão... Reconfortante.
- Meu filho! Meu querido Draco! – exclamou, erguendo os braços para que ele viesse abraçá-la.
Nunca em sua vida pensaria que um abraço seria tão bom... Gina o abraçava sempre que conseguia encurralá-lo mas não era como se ele gostasse deles e que alguma vez iniciaria um... Mas... Agora... Naquele momento, queria abraçar a mãe o máximo que podia para ter certeza que não era mentira.
- Você está vivo, meu Draco! Eu... Eu achei que... Quando eles me disseram, esses médicos tolos... Quase não acreditei, tinha perdido as esperanças... Desistido! Como pude desistir de você meu filho?
Ela pegou seu rosto e beijou sua testa, lágrimas raras escorrendo por seu rosto pálido.
- Estou aqui mãe... Estou aqui – murmurou, quase engasgando na tentativa de segurar seu choro.
- Por tanto tempo fiquei perdida... O que aconteceu comigo? Por que não... Estou em casa?
Não conseguiu responder, dezenas de diferentes respostas possíveis passando por ele e nenhuma parecendo suficiente. Era como se sua voz tivesse desaparecido. Sua mãe o fitou, séria mas ao mesmo tempo orgulhosa do filho, era como se nada dos últimos anos tivesse acontecido. Estava de volta à mansão Malfoy ouvindo a mãe tocar piano enquanto o pai lia O Profeta e anunciava o quanto o mundo mágico estava em decadência... Tudo estava voltando como deveria ser.
- Me leve para a casa, ma joie... E seremos uma família mais uma vez.
N/A: Esse capítulo foi a realidade batendo na porta da Gina... Chamo de “ataque do cannon”, risos (ou seria ataque da sogra do inferno?)... Draco sofrerá o mesmo ataque em alguns capítulos pra frente, acredito. Não vai ser bonito. Mas vai ser legal de escrever, mhuahauahua. Narcissa is back, in black... Desculpa a demora, minha inspiração resolveu tirar férias.
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