O Baile e a Despedida
O BAILE E A DESPEDIDA
Tudo estava pronto, em seu devido lugar, perfeito, arrumado e preparado. O salão estava decorado com dezenas de mesas que eram iluminadas por velas flutuantes, a banda estava começando a afinar e testar o som. Elfos-domésticos vestidos com trapos menos surrados preparavam a prataria e estavam prontos para servir os convidados.
Seguranças contratados estavam em locais estratégicos e... Weasley estava trancada em seu quarto... Tudo absolutamente perfeito.
Sua roupa estava impecável e sua máscara de Pierrô, branca e preta, estava presa e escondia seu rosto.
Em poucos minutos os convidados começariam a chegar e o futuro dos Malfoy voltaria a seu caminho glorioso. Ou, na pior das hipóteses, continuaria igual.
Sim, tudo estava indo como planejado... Tirando seus sentimentos pela ruiva emburrada no quarto de hóspedes do andar de cima.
Por causa de uma coisinha mínima não estava nem um pouco com vontade de agüentar aquela festa...
Gina olhou pela janela do quarto e viu carruagens puxadas por Trestálios se aproximar da porta da mansão... A fila era enorme. O jardins da mansão estavam iluminados por tochas que não permitiam que visse quem exatamente descia da carruagem mais próxima. No entanto podia ver as roupas caras e exageradas. Abaixo, música podia ser escutada.
Draco não tinha poupado despesas... Uma pena que usava seu dinheiro para coisas idiotas e fúteis como aquele baile.
Saindo de perto da janela, olhou-se uma última vez no espelho e o que viu a agradou. Seria sua última noite na mansão e faria dela a melhor. E que Draco tirasse disso uma lição de humildade.
Não se tranca uma Weasley e fica por isso mesmo. E o coitado imaginava que ela havia abaixado a cabeça e ficado quieta... Mal sabia.
Estava tudo um luxo... Realmente uma festa como aquela seria lembrada por mais de uma semana, um feito raro!
O Hall de Entrada Malfoy era esplendoroso e compensava a espera de pé que tinham que enfrentar. Alguns elfos passavam com bandejas de bebidas em cima de suas cabeças e Pansy pegou a primeira taça de firewhiskey que viu.
- Tão cedo, Pansy? Não pode esperar até que entremos no salão? – perguntou, ácido, seu marido, incomodado como sempre. – Ninguém mais está bebendo.
- Qual o problema de me adiantar, Theodore? Além do mais eu quem lanço modas e os outros seguem... Repare.
Para, com certeza, o ódio dele, algumas pessoas repetiram a atitude dela e já traziam em suas mãos taças.
Estavam todos reunidos no hall, à espera do dono do baile... Foram informados que faria um discurso de boas-vindas e enquanto isso Pansy ocupava seu tempo observando e criticando as roupas do restante dos convidados.
Todo bruxo que era alguém na alta sociedade estava ali. O Ministro veio, apesar dos protestos infantis de Theodore, assim como sua esposa de gosto duvidoso... A mulher parecia um salmão gigante com problemas de perda de escamas... E que vestindo horroroso! A máscara de borboleta era uma piada... A sua própria estava muito mais digna.
Millicent Bulstrode estava com Goyle... Pansy apenas acenou com a cabeça, anunciando que estava ciente de sua presença... Anos que não falava com ela e apesar de ser sua madrinha de casamento Pansy agora era superior a ela, sendo casada com Nott. Não valia a pena perder seu tempo conversando com Millicent.
Daphne Greengrass, como sempre, estava se achando a rainha do baile... Deprimente. Pelo menos tinha um gosto melhor para roupas e homens. Derrick Watson, não podia se negar, era um ótimo espécime. Provavelmente burro como uma porta.
Uma das melhores coisas de um Baile de Máscaras era que todos sabiam quem era quem, com a vantagem de fingir que não. Se não quisesse falar com tal pessoa bastava ignorar sua presença e colocar a culpa na máscara.
Entre as criaturas que estavam na lista para serem ignoradas de Pansy estavam os projetos de grifinórios que Draco convidou, segundo Nott, por “conexões políticas”. Sinceramente, o que gentinha como Melinda Bobbin e McLaggen estavam fazendo lá? Sem contar os repórteres que só eram tolerados por terem uma pena na mão... Rita Skeeter estava, obviamente, vestida como um jacaré ambulante e Pansy tinha medo de chegar perto demais e a bolsa da mulher lhe morder.
Entre a multidão, Pansy felizmente notou um rosto mais interessante... Do lado de Horace Slughorn (gordo e pomposo como sempre) estava Blaise Zabini... Perfeito como de costume. Roupa impecável de cor verde e máscara caríssima de Birguella. Ele nunca deixava de participar dos bailes de Veneza, portanto sabia tudo que podia se saber sobre máscaras, via-se que estava se divertindo. Na primeira oportunidade falaria com ele, os dois sempre tinham conversas muito divertidas.
A música diminuiu e as luzes ficaram mais fracas... Estava na hora da entrada grandiosa de Draco. Todos ficaram em silêncio, esperando.
Descendo as escadas lentamente estava Draco, com vestes ricas pretas e uma máscara quadriculada branca e preta. Havia linhas douradas (que Pansy apostava que eram feitas de ouro mesmo) nas mangas e colarinho, estava de luvas brancas... Cabelos prateados presos com precisão... Ele era um deus grego, Pansy pensou.
- Bem-vindos... Obrigado por vir, espero que se divirtam. Na melhor das tradições Malfoy, não vou enrolar com discursos pomposos. O Baile falará por si. Então que comece! – anunciou, fazendo uma reverência curta.
As portas duplas embaixo das escadas se abriram sozinhas e revelaram o salão de festas. Em uma corrida contida para que não parecessem vulgares demais, os convidados se encaminharam para dentro do magnífico local. Os olhares se voltaram para o teto estrelado refletido perfeitamente no chão, pareciam estar flutuando. Mesas para oito pessoas estava espalhadas e havia um espaço grande para dança, com o quarteto de corda tocando no palco à frente. Não se podia esperar coisa além de classe de uma festa Malfoy.
Os lugares estavam cuidadosamente marcados... Havia, provavelmente, uma lógica maliciosa na escolha de quem sentaria com quem, mas Pansy estava pouco se importando com motivações políticas... Desde que sentasse com as pessoas importantes tudo estava bem. Não foi bem o que aconteceu.
Draco pareceu achar divertido juntar seus colegas de Hogwarts em uma só mesa e Pansy teve que agüentar a presença de Goyle, Grabbe, Nott, Millicent, Daphne, seu acompanhante e, para seu enorme alívio, Blaise.
Enquanto Nott fingia interessado nos avanços patéticos de Daphne e caras feias de Derrick e Millicent, Crabbe e Goyle contavam os dedos e se empanturravam... Pansy conversava animadamente com Zabini.
- Estou surpresa que veio desacompanhado, Blaise... Não é do seu estilo aparecer sozinho.
- Ah, Pansy... Por que aparecer já com alguém? Há pouca diversão nisso. Prefiro estar sem compromissos e livre para... Novas experiências – sorriu sedutoramente.
- Novas? Existe algo que você ainda não saiba sobre conquistas? – riu, beliscando alguns petiscos oferecidos pelo elfo-doméstico mais próximo.
Blaise riu com gosto, atraindo a atenção de algumas moças de mesas próximas.
- Humildemente admito que sim... Mas sou um bom aluno e aprendo rápido.
- Tenho certeza que há bastante professoras interessadas aqui.
- Eu também tenho – piscou por trás da máscara.
Suas vozes tornaram se sussurros.
- E o que a Sra. Zabini pensa disso?
- Alas... A pobre Sra. Zabini, está se sentindo um pouco indisposta demais para pensar em qualquer coisa.
- É uma pena... Sua falta será sentida.
- Sentirei falta dela, sim. Mas não do seu dinheiro, esse ainda me fará companhia por muito tempo em seu doce lugar.
Os dois riram alto.
- Qual a piada, vocês dois? – sorriu falsamente Daphne. – Por que não dividem conosco?
- Só estamos relembrando os velhos tempos, Daph... Nada que você seja capaz de achar graça. Pode continuar a jogar seu decote vulgar em cima do meu marido.
- Ei... – começou Derrick lentamente.
- Pansy – tentou Nott em tom perigoso.
- Cavalheiros, não há necessidade de parecerem indignados... Somos todos crescidos aqui. E, além do mais, um flerte nunca matou ninguém – sorriu Blaise.
- Não é o que se pode dizer sobre as suas esposas – cuspiu Daphne. – Quantas agora? Cinco? Seis?
- Sou um homem apaixonado, Daphne. E mulheres se apaixonam por mim... Se tenho um pecado... É amar demais – disse, dramático.
- Ah, por favor – a piranha revirou os olhos. – Venha, Derrick, vamos dançar!
O casal deprimente se levantou da mesa, para o alívio e agrado de Pansy, e foram tentar impressionar algum ser mais inferior que eles mesmos com uma dança digna de pena... Mas pena não era um sentimento que sonserinos cultivavam.
- Criatura mais limitada ela – comentou para Blaise, provando de um salgado.
- Pelo menos não come que nem uma elfa em desespero – disse em voz baixa Nott.
- Comeria se não estivesse ocupada tentando comer outras coisas, querido marido – retrucou entre dentes.
- O casamento é algo realmente interessante – riu Blaise.
- Eu acredito que o adultério seja muito mais – provocou Pansy.
- E eu já me cansei da conversa... Tenho pessoas mais importantes para ver. Com licença.
Seu marido levantou bruscamente e foi praticamente correndo atrás de Higgs. O Ministro e sua esposa gorda estavam sentados mais afastados, junto com outros importantes membros da política. Entre eles estava Draco também. Pansy o encarou com um olhar fulminante... Por mais lindo que era não se esqueceu da rejeição de dois dias antes, quando fora lhe fazer uma visita.
- Nem se quer veio nos ver – comentou Millicent, também virando para a rodinha de Draco.
- Não seja inocente, Millie. Isso daqui não é uma reunião de ex-colegas – retrucou, amarga, Pansy. – Também não se esqueça que ele não tem motivo mais para confiar em nós.
- Quê?
- Não lembra que ninguém ficou do lado dele... Quando ele ofereceu você-sabe-o-quê para nós?
- Uh?
- Pansy está falando de Voldemort, Millicent – ajudou Blaise.
- Ah... Mas isso já foi há tanto tempo... Achei que ele só estava apoiando Você-Sabe-Quem por causa da mãe e tudo mais...
- Ai, eu não acredito, Millie! – revirou os olhos Pansy. – Você não acreditou naquela besteira d'O Profeta, né? Ele só falou aquilo para se livrar de Azkaban.
- E você não devia espalhar isso, Pansy – comentou Blaise. – O emprego do seu querido marido depende dessa “besteira”.
- Que me importa? Agora vamos deixar Draco para lá que ele já nos deixou faz tempo.
- Não era o que você dizia há pouco tempo – sorriu Blaise. – Pelo que me lembro, só tinha elogios para nosso reizinho da Sonserina. O que aconteceu?
- Algumas pessoas tem auto-respeito.
- Quem diria... Nunca imaginava que você era uma delas.
- Ao contrário de você, aprendo devagar. Mas não quer dizer que não aprendo – disse decidida, comendo outro petisco e jogando o pior olhar possível na direção de Draco.
Por alguma razão Nott havia insisto que prestasse uma visita ao herdeiro Malfoy... Não fazendo conta do motivo, foi com gosto. Agora, rejeitada pela última vez, Pansy faria o que seu marido queria: de algum modo, qualquer que fosse o jeito e momento, atrapalharia aquele baile. Seria sua pequena vingança contra Draco. Nada muito exagerado ou chamativo, apenas uma mini-retaliação que, mesmo não arruinando aquela festa para sempre, traria enorme satisfação para ela.
Só precisava achar uma falha a ser explorada... Uma fraqueza exposta.
Sentia-se ridícula e exposta no meio da festa. Estava dentro do covil das cobras, no ninho do dragão... Completamente desarmada... Pois uma varinha lá não faria diferença alguma. Sua única defesa era agüentar o veneno que com certeza a esperaria.
Mas conviver com Draco por tanto tempo lhe deu uma camada protetora contra cretinice. Estava confiante que não revelaria sua identidade ou lançaria uma azaração no primeiro idiota que a insultasse... Não podia prometer sobre segundo.
Não escondia sua verdadeira aparência por Draco mas porque, não esqueceria tão cedo, era ainda procurada pelo Ministério, devido seu envolvimento nada secreto com a Ordem da Fênix. Assim, sua escolha por pintar os cabelos de loiro e esconder suas sardas foi puramente egoísta, graças a Merlin.
Estava louca para ver a cara apavorada de Draco quando percebesse que a loira misteriosa da máscara azul de gato era na verdade Gina, invadindo sua preciosa festa.
Não estava esperando, no entanto, apavorar o salão inteiro. Aliás, nunca imaginaria que ao pôr os pés no chão daquele lugar seria encarada por praticamente todas as almas sonserinas e venenosas que estavam lá. Mas foi o que aconteceu.
A cada passo que dava mais rostos se viravam para vê-la...
Não podia estar tão horrível assim, podia?
Por um momento pareceu que até os músicos haviam parado de tocar. Ouviu sussurros apreensivos entre os convidados mas não conseguia entender do que falavam. Murmúrios se espalhavam pelo salão como fogo... E Gina não sabia o que fazer.
Falando a verdade... Nem tinha pensando no que faria além de aparecer sem convite. A intenção era só se vingar de Draco, não chamar atenção de todos para sua presença.
Tentou não parecer abalada com a situação, aquelas pessoas eram capazes de sentir o cheiro de medo há quilômetros de distância. Qualquer sinal de fraqueza seria um convite ao um banquete de insultos e humilhação.
Com a cabeça erguida e nariz empinado, continuou atravessando o salão enquanto procurava apressadamente por um segundo plano. Teria coragem de sentar em uma mesa com lugar vazio e fingir que pertencia ao baile desde o começo? Não seria melhor dar meia volta, ir embora da mansão e não olhar para trás?
Nenhuma das opções foi escolhia pois não houve tempo... Unhas afiadas fincaram-se no seu braço e a puxaram para perto de uma mesa onde, para seu espanto, estavam os velhos capangas de Draco, a gigante Millicent Bulstrode e Blaise Zabini.
- Quem você pensa que é? Como tem coragem de fazer uma coisa dessas? – gritou em seu ouvido Pansy, a dona das unhas. – Pensa que é muito engraçada, é? É como se praticamente aparecesse vestindo uma máscara de Comensal!
Piscou duas vezes, confusa e encarou Parkinson, sem abrir a boca. Do que a louca estava falando?
- É uma idéia interessante, Pansy. Uma pena que não pensei nisso antes. A cara de Draco seria hilária.
- Fique quieto, Blaise – rosnou e, virando-se outra vez para Gina. – Isso é sério. Você ainda não se explicou, sua coisinha cafona.
“Bem, quando em Roma...”
- Eu não preciso explicar nada para você. Me solte agora! Não vim falar com a ralé.
- Impostora ou não, pelo menos age como Narcissa – riu Blaise.
E foi então que percebeu qual era o alvoroço...
- Ralé é? Se olhe no espelho! Não sei onde conseguiu essa imitação barata da máscara da mãe do Draco... Mas é bem óbvio que o vestido foi no lixo! – gritou, empurrando Gina com força para trás.
Por um segundo pensou que bateria contra a mesa e fechou os olhos, esperando o impacto. Mas alguém a segurou firmemente. Quando abriu os olhos o rosto de Zabini a encarando com um sorriso.
- Alô.
Gina se levantou rapidamente, ajeitando o vestido e se afastou, incomodada com o olhar do sonserino.
- O que está acontecendo aqui? – a voz familiar de Draco perguntou atrás dela.
- Essa daí, está se fingindo de Narcissa, Draco! Não é um absurdo? Se fosse eu já tinha expulsado ela e o vestido brega dela!
- Quando eu quiser sua opinião, Pansy, é porque fiquei louco. Fique quieta.
Gina se virou devagar, pronta para outra acusação de imitação da mãe louca dele... Mas ao invés disso Draco cruzou os braços e ficou a observando em silêncio. Em sinal de desafio, também fez a mesma coisa. E ambos ficaram se encarando...
Sentia os olhares curiosos dos outros sonserinos esperando alguma reação, de preferência violenta, de Draco. Finalmente quando resolveu agir deixou todos de boca aberta.
- Dança comigo? – convidou, oferecendo sua mão.
Pansy gritou sua indignação, Blaise riu, Millicent piscou duas vezes como um peixe fora d’água, Crabbe mudou a expressão para quase alguma coisa e Goyle comeu outro canapé. Gina, por sua vez, aceitou o convite.
Era inesperado mas melhor do que ficar perto daquele bando de venenosos.
Devagar, e ainda chamando atenção de todo o salão, os dois chegaram até a pista de dança. Os músicos, que tocavam com uma certa relutância, foram incentivados por uma aceno da cabeça de Draco.
A melodia, para surpresa de Gina, era a mesma que ele tocou em seu piano, dias antes... Exceto que essa era completa e não apenas as notas iniciais.
Ele sabia dançar bem... Ela, no entanto, não. Teve que confiar em Draco e deixá-lo a conduzir como bem entendesse.
Era impossível negar que sentiu arrepios quando colocou a mão em sua cintura e a segurou gentilmente. Mas provavelmente foi por nervosismo de estar sendo vigiada por todos os lados por projetos de Comensais, não a proximidade dele.
Mas quando Draco inclinou seu rosto bem perto do dela, ficou cada vez mais difícil culpar a platéia, que agora parecia ter desaparecido.
Qualquer encanto, infelizmente, foi perdido quando ele abriu a boca.
- Não pense que me enganou, Weasley – murmurou em seu ouvido. – Não ache que não vai pagar por ter roubado a máscara da minha mãe do sótão... Nem tenha esperança que estou dançando com você porque não estou furioso. Isso é apenas política.
- Dançar comigo é política? – levantou uma das sobrancelhas, não acreditando.
- Se eu fizesse um escândalo que nem a idiota da Pansy queria... Todos teriam a confirmação que você foi um erro do meu baile. Admitir erros não é o meu forte. Agora parece que foi tudo uma infeliz coincidência que a prima distante da minha mãe se parece demais com ela, entendido?
- Eu não vou mentir por você.
- Não precisa... Em quem acha que eles vão acreditar? Na infeliz com vestido amarrotado ou no Malfoy?
- Desprezível.
- Obrigado.
- Não se cansa de tanta mentira?
- Quando só têm mentiras... Cansar-se delas não é uma opção.
- Ridículo.
- É a décima vez que você repete a mesma coisa, Pansy.
- Fique quieto, Blaise – reclamou, depois tomando o copo inteiro de firewhiskey. – Olhe que coisa mais ridícula! Ela ofende a memória da mãe dele e ele dança com ela!
- Narcissa não morreu ainda.
- Que importa? É ridículo! E quem é essa nojentinha? Ninguém conhece! Não tem nome... Não tem nem um penteado!
- É um diamante esperando para ser polido – sorriu, observando com interesse a garota misteriosa com quem Draco dançava.
- Por favor, né? Mais parece uma bijuteria falsa... Podia jurar que o cabelo é pintado.
- Deixe de inveja, Pansy. Admita derrota e procure outro.
- Ele é meu, Blaise. Meu. Sempre foi – suspirou, a bebida deixando-a mais sentimental.- Somos destinados um para o outro.
- Draco não é mais seu... Não consegue ver? Está completamente apaixonado. E não é por você.
Pansy virou o rosto assustada para Blaise, sem entender.
- Azkaban deixou ele meio louco... Mas não exagere, Blaise!
- Confie em mim, sou especialista em perceber quando alguém está apaixonado. Eu nunca fiquei, mas já vi muitas ficarem.
Com essa nova informação, Pansy encarou o casal dançando com outros olhos. As enferrujadas e minúsculas engrenagens em seu cérebro começaram a girar, encaixando cada fato que havia acontecido nos últimos meses.
Aquilo explicava todas as rejeições... O desaparecimento de um mês inteiro... E a garota cafona que apareceu do nada. Pansy não a tinha visto no hall de entrada o que significava que já estava dentro da mansão.
- Filho de uma hipogrifa!
- Agora foi você quem ofendeu a memória da mãe dele.
- Ela não morreu ainda! – bateu a mão contra a mesa. - Eu não acredito que ele está morando com uma mulher!
- Morando?
- Você viu a idiotinha na entrada? Eu não! Só pode ser isso! Por isso que ele me mandou embora outro dia... Estava com ela aqui todo esse tempo!
- Quer dizer que Draco tem uma namorada que parece exatamente como a mãe dele? – riu Blaise. – E depois eu tenho problemas com mulheres...
- Ridículo.
- Isso já foi estabelecido.
Pegando uma taça de vinho, Pansy olhou Draco encaminhar a loira para longe da pista de dança, para a varanda que dava para o jardim. Em questão de instantes formulou um plano e abriu um sorriso satisfeito. Blaise notou sua mudança de humor.
- Pode ir contando, Pansy. O que sua cabecinha maliciosa está tramando?
- Algo que você vai adorar.
Longe de estar vivenciando um momento romântico, Gina estava sendo empurrada nada suavemente pela varanda.
- Me larga, Draco.
Surpreendentemente ele parou, a virando bruscamente para encará-lo.
- Última chance para você, Weasel. Volte para o seu quarto e fique lá. Ou isso ou eu aviso o chefe dos Aurores para pegar você.
- Shackebolt é da Ordem, gênio.
- Então o Ministro. Ele provavelmente vai ficar muito contente em prender a namoradinha do Potter.
- O que aconteceu? Eu acho pelo menos mereço uma explicação.
- Cansei da sua presença.
- Eu não acredito em você. Como da noite para o dia o Draco que eu aprendi a gostar e considerar amigo sumiu? Você comeu alguma coisa estragada?
- Não sou seu amigo, Weasel.
Com apenas aquela frase seca deu as costas para Gina e voltou para o salão da festa. Irritada, ela andou o mais distante possível da porta da varanda e se apoiou no muro baixo que separava o lugar do resto dos jardins.
Na noite anterior, quando resolveu sair do quarto e procurar uma máscara, não estava pesando muito bem nas conseqüências, só queria irritar Draco... Enquanto meses antes provavelmente estaria contente em só azara-lo e transformá-lo em uma lesma, agora o que queria mesmo era que parasse de ser idiota e voltasse ao normal.
Talvez tivesse que se resignar ao fato que aquilo não aconteceria, ficaram tempo o bastante juntos para saber se aquela amizade daria certo e o resultado estava claro. Draco simplesmente não conseguia deixar-se tornar amigo dela.
E quando o dia amanhecesse Gina ajudaria a salvar Harry e tudo voltaria ao seu devido lugar e todos felizes e satisfeitos... Menos ela.
Fitou o céu estrelado e soltou um suspiro cansado... De repente um botão de rosa foi colocado em seu cabelo, dando-lhe um susto. Virou rapidamente para descobrir quem estava ao seu lado e encontrou Zabini sorrindo.
- Alô.
- Tchau – respondeu áspera, voltando a fitar o jardim.
- Não seja cruel... Me diga ao menos seu nome.
- Pra quê?
- Sou Blaise Zabini. Você é...
- Alguém que quer ficar sozinha.
- A solidão só traz pensamentos ruins. Eu, pessoalmente, prefiro esquecer meus problemas com a companhia certa.
- Quem disse que quero esquecer alguma coisa?
- Seus olhos.
- Essa cantada funciona, por acaso?
- Algumas vezes. Essa é uma delas.
Gina revirou os olhos e o encarou, na esperança que ele percebesse por sua expressão irritada que não era bem-vindo.
- Acho que não.
- Ah, mas fiz você olhar para mim, não fiz?
Sem dizer mais nada foi andando em direção a porta do salão com, infelizmente, Blaise a seguindo. Parou em frente a entrada de vidro e olhou Draco entre a multidão conversando o Ministro.
- Não sei se você é familiar com a Commedia Dell’Arte? – começou Zabini, sem esperar resposta dela. – Um tipo de teatro de rua antigo italiano mas com outras versões de outras regiões, onde existiam personagens que sempre apareciam... Cada um deles possuía uma máscara diferente, que representava seu papel na peça.
Gina viu Pansy levantar da mesa em que estava e andar até Draco, tocando-o de leve no ombro e murmurado em seu ouvido.
- Os mais importantes eram: Pierrô, Briguella, Columbina... E os Amantes. A trama toda girava em volta dos dois apaixonados... Todas as outras personagens ou ajudavam... Ou atrapalhavam o amor deles. Pierrô era servo de um deles e sua obrigação era passar mensagens secretas entre os dois, que muitas vezes era entregadas em mãos erradas... Porém, sua outra função é mais triste... Ele se apaixonava pela Amante.
Pansy parou de falar com Draco, que se virou devagar na direção de Gina e Zabini. fitando os dois por um breve momento.
- Aceita uma taça de vinho? – ofereceu.
- Por que não? Vai me ajudar a agüentar essa história idiota – respondeu, pegando a taça
Zabini riu devagar e ignorou o comentário, continuando a falar.
- Briguella... Minha máscara e personagem favoritas.... Era o enganador, muitas vezes se fazia de capitão para impressionar os outros e gostava de tentar seduzir as mulheres da peça. Seu par perfeito de planos maliciosos era Columbina... Uma mulher bela e esperta que gostava de brincar com os sentimentos dos homens. Os dois muitas vezes atrapalhavam os Amantes.
Sentiu Zabini passar de leve a mão em seu cabelo ainda loiro e retirar o botão de rosa que prendera momentos antes. Enquanto isso Draco continuava olhar ambos, expressão neutra no rosto.
- Mas no fim... Tudo dava certo... Columbina e Briguella tinham seus planos impedidos... E os amantes ficavam juntos, felizes para sempre. Ah, e Pierrô acabava de coração partido. Apesar de ser uma trama simplista... É interessante criar paralelos com a vida real. Eu não acho, porém, que Draco tem noção do que sua máscara de Pierrô representa. Não acha que devíamos contar a ele?
- Existe algum objetivo na sua historinha? – virou irritada para Blaise.
- Claro... E ele vem vindo.
Gina arregalou os olhos quando viu que Draco marchava quase espumando em direção dela. Tão foi o susto que deu alguns passos para trás mas Zabini a segurou pelo braço antes que pudesse se mover.
- Não vai querer perder a parte mais divertida, não é? – sussurrou em seu ouvido e, para seu ódio, também lhe beijou a bochecha.
Antes que pudesse reagir ou mesmo pensar em reagir a porta da varanda se escancarou e Draco empurrou Zabini com uma força tão grande que o fez cair de costas contra o chão. Não bastasse isso também apontou sua varinha contra ele.
Nisso praticamente metade do salão já estava de pé, observando a cena com interesse, choque e até mesmo divertimento.
- Fique longe dela, Zabini.
Rindo, o cara-de-pau apenas se levantou e ajeitou a roupa.
- Ora, ora... Um tanto ciumento demais de uma simples prima em segundo-grau distante, não é mesmo? Sempre achei que os Malfoy tinham o costume de ter relacionamentos inter-familiares... Mas não achava que você era capaz disso.
- E nem eu que você ia tão baixo a ponto de dar poção de amor em taça de vinho.
- O que está acontecendo aqui? – gritou Gina, frustrada com toda aquela situação maluca.
- Draco, querida, só está louco de vez. Pode beber o vinho que vai ver que não há nada de errado com ele.
- Não beba se não quiser a varinha apontada para você também! – mandou o loiro.
Gina, odiando os dois, simplesmente jogou o conteúdo do copo na cara de Draco e Blaise, causando gargalhadas da platéia.
- Idiotas – murmurou.
Irritada saiu da varanda, empurrando qualquer um que ficasse em seu caminho.
A noite estava imensamente produtiva! Além de ter visto e falando mal de várias pessoas conseguiu humilhar Draco diante de todos os seus convidados! Nada mais divertido que ter sua pequena vingança completa.
Com o bônus que fez o casalzinho idiota brigar! Quem sabe aquilo deixava a cama de Draco desocupada por algumas semanas... Ele se arrependeria de a ter recusado agora!
Sorrindo, seguiu com o olhar a nojentinha loira ir embora e depois virou para assistir o final da cena hilária causada por Blaise... Ele merecia o título que tinha como o mais falso de todos os sonserinos.
- Você espantou ela, Draco! Agora que estávamos nos conhecendo tão bem... Uma pena, era bonitinha. Meio vulgarzinha mas servia só por uma noite...
- Cale a boca, Zabini. Ou eu vou quebrar sua cara de hiena doente.
- Ótima maneira de terminar o baile... Pelo menos ajudaria esse fiasco a ficar mais horrível ainda. Abaixe essa varinha, Draco... Poupe-me do trabalho de ter que estuporar o dono da festa – lamentou falsamente, também retirando sua varinha do bolso.
- Lembrou bem, dono – sorriu.
“Pobre Zabini, não vai poder ver o fim da festa...”, pensou Pansy, rindo sozinha.
Draco levantou um dos braços e estalou os dedos. Dois bruxos-seguranças aparataram cada um de um lado de Blaise, seguraram-no pelos ombros e tiraram sua varinha.
- Está certo... Você venceu, Draco – riu, se soltando dos seguranças. – Eu sei onde é a saída.
Elegante como sempre, Blaise andou através da multidão, que lhe dava espaço para passar e o olhava com um certo ar de divertimento e respeito. Parou um pequeno segundo diante de Pansy e sorriu irresistivelmente.
- Espero que tenha gostado da minha performance – murmurou, orgulhoso.
- Estava perfeito. Depois conto o resultado.
- Não demore – sorriu, piscando para ela. – Adorei o plano.
Apenas quando a última carruagem deixou as proximidades da mansão e o último talher foi limpo e guardado foi que Draco pôde finalmente respirar. Não de alívio. Apenas respirar normalmente.
Desastre... Catástrofe... Ruína... Completo e total fracasso.
Felizmente ele aprendeu a se adaptar rapidamente a novas situações. E não sairia de mãos vazias daquele baile.
Porém, a razão de ele se sentir uma bosta de dragão não tinha nada a ver com a festa. E sim com a roupa molhada de vinho, que esquecera de secar, e a máscara de gato da mãe dele.
Mais especificamente... Gina Weasley.
Podia mentir dizendo que não importava o que aconteceu porque ela iria embora mesmo... Provavelmente seria última vez que a veria... Mas nada disso funcionava.
Tinha feito papel de idiota na frente de todos os seus convidados (infinitamente mais influentes que ela) e pra quê?
Nada.
De que adiantava fingir ódio?
Nada.
Palavra que resumia perfeitamente ao que ele era: nada.
Não sabia qual era razão... Mas estava chorando. Era estúpido... Sem sentido... Não era de chorar... Não era o que fazia. Gina era de lutar, xingar, bater... Não chorar por nada.
Talvez... Talvez... Estava só muito cansada... De tudo. Principalmente do sentimento confuso que estava aparecendo devagar e crescendo dentro dela...
Não sabia por que importava tanto que Draco gostasse dela. Antes de ir para França queria ser sua amiga para provar para o mundo que estava certa sobre ele. Para ajudar Draco a se tornar alguém completo... Síndrome de Grifinória, era o que chamavam.
Quando veio para a mansão tinha certeza que sua parte já tinha sido feita e restava só a Draco decidir o que fazer...
Mas agora... Quando devia estar abandonando o projeto de “reabilitação” dele, percebeu que só queria...
Não sabia o que queria...
Ainda com a roupa da festa, sentou na cama e olhou para o espelho à sua frente. Seu cabelo finalmente voltava a cor original... Em breve tudo voltaria ao normal, era só uma questão de fechar os olhos e dormir.
A porta do quarto foi aberta devagar e por ela a figura estranhamente encurvada de Draco entrou. Ele parecia mais cansado e branco do que nunca.
Depois de um silêncio longo e duro, em que Draco a fitou, sério, finalmente um deles teve coragem para falar.
- Por que você está chorando?
- Agora você se importa? Vá embora – murmurou, cansada, preferindo abaixar o rosto e não o olhar.
- O quarto é meu... A casa é minha...
- Eu sei, você faz questão de me lembrar a qualquer oportunidade.
- Escute, Weasel...
- Não me chame assim.
Ainda sem encará-lo, percebeu que ele sentou ao seu lado.
- Certo, Ginevra. Olhe para mim.
Relutantemente, ela o fez.
- Você queria explicações lá na varanda... Ainda quer? Ou me odeia tanto que não faz mais diferença?
- Não odeio você. Por incrível que pareça... Só quero que me responda uma pergunta: Por quê? Por que está agindo tão cruelmente... Comigo?
Foi rápido... Tão rápido que foi impossível reagir. De repente, sem aviso, sem razão, sem sinal algum... Ele a beijou.
A boca dele tinha gosto de vinho e era tão bom que por quase um pequeno instante Gina pensou deixar que continuasse... Não só continuasse como também fizesse mais...
Mas seus olhos abriram rapidamente e sua parte racional registrou o susto. Felizmente (ou infelizmente) não teve força o bastante para vencer a parte irracional a ponto de empurrar Draco para longe.
E foi ele que terminou o beijo.
- Essa é razão – sussurrou, sorrindo satisfeito, quase se cumprimentando pelo sucesso. – Eu queria fazer isso há tanto tempo... Você não imagina...
Agora, definitivamente, a parte irracional e racional concordavam plenamente...
Plaft.
Deu um tapa no rosto de Draco e o empurrou com força para longe.
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