O Convite e a Ameaça



Capítulo 5

O CONVITE E A AMEAÇA

O dia estava cinza e insuportavelmente tedioso, era quase impossível compreender a razão pela qual saiu da cama quente... Não, na verdade era muito fácil: não existia coisa mais divertida que se vestir e arrumar pela manhã! Tirar aquele terrível rosto de sono, com as olheiras e cabelos despenteados. Olhar-se no espelho maquiada superava qualquer falta de ação durante as horas seguintes.


Não que isso mudava o fato de que um dia tedioso fosse tedioso. Portanto, apesar de estar devidamente arrumada e bela, Pansy continuava achando o dia muito chato e enfadonho.


Ninguém mais parecia querer dar festas ou eventos beneficentes para aqueles pobres infelizes e feios em St.Mungos. A alta sociedade bruxa parecia acanhada, esperando por um novo líder e esse definitivamente não era seu marido, Theodore Nott. Para sua incrível má sorte. Até o momento o máximo que havia sido feito foram chás entre algumas de suas colegas antigas.



Não... Espere...


Ah sim.


Draco.


Ele tinha saído de Azkaban. Virado notícia e... Simplesmente desaparecido. Muito inconveniente para Pansy, que esperava que trouxesse uma boa animação por pelo menos mais que uma semana ridiculamente curta! Infelizmente não foi o que aconteceu e tudo voltou a ficar muito chatinho. Uma pena.


Havia rumores, claro, de que uma festa estaria para acontecer em breve e, mesmo que desaparecido, quem a daria seria Draco. Pelo que seu marido insuportável dizia, o herdeiro da fortuna Malfoy andava sondando o Ministério e indo a alguns clubes específicos, discretamente (porém nem tanto se Nott percebeu) coletando dados sobre pessoas influentes. E, Pansy concluiu, isso só podia significar uma festa para vir.


Draco sempre foi e sempre seria seu favorito. Jamais fora segredo que desejava se casar com ele... E até onde sabia teria sido a futura Sra. Pansy Malfoy facilmente. Mas, claro, houve uma série de eventos realmente desafortunados e ali estava ela, casada com um Draco de segunda mão.


Pelo menos não tinham se casado antes dos citados eventos. Teria sido algo péssimo ser esposa de um fugitivo... Sem fortuna ou status.


Pansy não fazia muita coisa em sua mansão, havia um compromisso silencioso de que esposas de políticos jamais poderiam fazer algo propriamente dito. Seu papel era acenar e treinar silêncio absoluto (coisa que com certeza nunca dominaria). Assim sendo, naquele momento em particular treinava a arte de fazer alguma coisa sem ser realmente alguma coisa. As complicações envolvidas, obviamente, tornavam impossível verdadeiramente entender o que deveria estar a fazer sem fazer.



Ou seja, Pansy ponderava o nada. Não... Ponderar seria fazer algo...


Pansy olhava suas unhas. Virava o rosto de um lado para o outro, impaciente, e certas vezes gritava com sua elfa-doméstica. O que é vital contar é que Pansy esperava o correio coruja. Não pelo O Profeta Diário, pela revista Bruxa Semanal ou por aquelas propagandas de poções cosméticas contra rugas (das quais não precisava, claro). Esperava por um convite.


O que exatamente o convite a convidaria a participar não importava. Fosse festas, bailes, jantares, chás, encontros, e até mesmo lançamentos de livros que nunca leria. O importante era o divertimento em participar de lugares onde poderia falar com suas amigas e ao mesmo tempo falar mal de todas elas.


Há um mês a coruja não trazia convites. Pansy estava ficando impaciente.


Por que não oferecer ela própria uma festa ou jantar? Havia duas razões: seu marido estúpido e anti-social não apreciava a idéia e sua impaciência para cuidar de preparações de festas, era mais prazeroso aproveitar o trabalho dos outros.


Desse modo estava comprometida a esperar por um envelope mais charmoso que os comuns todas as manhãs.


Aquele dia em particular seria o dia de Pansy pois no mesmo momento Nitsy trouxe o correio em cima da cabeça e entre cartas sem valor estava um convite preto com as seguintes letras prateadas:


“Para Sr. e Sra. Nott, de Draco Malfoy”


Seus olhos já brilhando de animação, leu em voz alta o que estava escrito dentro, mesmo sem ter alguém para ouvi-la.



- “É com grande prazer que Sr. Malfoy convida o casal Nott para o Baile Mascarado, no dia...” Blá blá...Hmm... “Fantasia e máscara...” – riu sozinha. – Oh, Draco, que notícia maravilhosa! Não podia ser melhor o momento para uma festa!


Levantou rápido do sofá em que estava e correu até o escritório de Theodore, abrindo a porta sem bater ou avisar. Encontrou o marido lendo um livro sem graça e sem ilustrações.


- Theodore, ótimas notícias!


Não se deu nem o trabalho de levantar o rosto e encará-la.


- Não vou comprar um poodle austro-germânico de rabo de fogo.


- Não é isso! Veja o que chegou hoje.


- Está certo mas se for...


Pansy lhe deu o convite, impaciente por sua reação, mesmo que soubesse que seria decepcionante. Nott olhou o pedaço de papel fino por um instante, sua expressão neutra transformando-se em desconfiança.


- Nós vamos – anunciou Pansy, garantindo que entendesse que não havia espaço para argumentações.



- Ah, claro que vamos. Draco está planejando algo muito além de uma festinha idiota... E eu quero saber o que é.


- Nem pense em estragar o baile!


- Imagine... Por que eu faria uma coisa dessas? – sorriu. – Principalmente quando existe você para fazer isso por mim.



O clima estava consideravelmente mais gelado e sombrio do que antes, ponderou Gina ao olhar a janela de seu quarto. Podia ver ao longe o portão alto por onde havia entrado na mansão rodeado de um chão branco profundo, neve cobrindo o jardim da frente sem piedade. Um vento frio batia contra seu rosto mas o máximo que fez foi colocar um xale cor de esmeralda nas costas.


Não havia pôr-do-sol para observar decair e trazer a escuridão, as nuvens espessas e cinzas cobriam o céu por completo. Quando não houvesse nem mesmo um fio de raio fraco iluminando debilmente a mansão aí sim fecharia a janela. Enquanto o momento não chegava aproveitaria seus últimos momentos de distração.


Duas batidas educadas chamaram sua atenção e virou seu rosto para a porta se abrindo um pouco. Porém, quando percebeu quem era, voltou a fitar a janela.


- A senhorita vai querer jantar no quarto?


- Vou sim, obrigada Groger... Ele ainda não voltou?



- Não, mestre Malfoy não chegou ainda, senhorita. Quer que eu a avise quando ele o fizer?


- Não precisa, obrigada.


Não estava olhando mas sabia que o elfo fez uma reverência e ouviu o barulho da maçaneta fechando a porta.


Deixou escapar um suspiro.


Um dia inteiro... O que podia estar fazendo tanto que desapareceu antes do almoço e ainda não voltara?


Gina sabia a resposta para a pergunta... Era simples. Não importava o que estava fazendo, Draco provavelmente tinha intenção de desaparecer para a evitar o máximo que conseguisse. Não compreendia o que tinha feito de tão terrível... Se ele estava tão ofendido por que não simplesmente a expulsava da mansão?


Seria mais simples se o fizesse. Saberia sua opinião sobre ela definitivamente e assim Gina não precisava passar a agonia da dúvida. Durante o dia todo tentou compreender o que tinha acontecido no salão de música mas, sem sucesso, era incapaz de entender o que o havia ofendido. Sabia muito bem que não era culpa dela e sim algum problema ou segredo que ele não sabia lidar e mesmo o fato aliviando sua consciência gostaria de que ele pelo menos voltasse à mansão e não ignorasse por completo sua presença.


Era algo incrível... Toda vez que pareciam estar melhorando sua amizade voltavam à estaca zero. Estavam piores que Rony e Hermione em seus anos em Hogwarts... O que, talvez, fosse até compreensivo, já que foram inimigos a maior parte de suas vidas e não estavam apaixonados.


Estrelas começavam a aparecer quando Gina finalmente decidiu, com um leve suspiro, fechar a janela. Sentou na beirada da cama espaçosa e encarou o chão, lembrando do rosto pálido de Draco tão concentrado e tão... Emocional. Durante o curto tempo em que o observou tocando sem que soubesse Gina viu o mesmo Draco que suplicou para ver a mãe na cela de Azkaban, confessando que perderia a sanidade em breve. Viu o mesmo que lhe contou seu medo de morrer e de perder a família, que revelou sua decepção com seu pai... Era um Draco diferente, um que desejava ajudar e curar.



Podia ser um pouco influência de Harry, ou do antigo Harry antes de se deixar consumir pela amargura da morte de Dumbledore, mas Gina precisava fazer isso por Draco.


A vida não podia ser mais irônica.


Era irônico que o mesmo homem que acreditava em dar segundas chances a todos e no poder do amor sobre todos as outras formas de magia fosse a razão da frieza de Harry. Irônico que Gina quisesse dar uma segunda chance a justamente àquele que fizera tanto esforço para que Voldemort triunfasse sob Dumbledore.


Irônico que suas mãos geladas aqueciam suas próprias... Que o som da voz dele perto de seu ouvido a arrepiava mais do que qualquer be...


Duas batidas formais na porta e Groger entrou carregando uma bandeja onde um jantar farto a esperava. Agradeceu o elfo e comeu sem ânimo algum, um pouco confusa com seus pensamentos anteriores.


Remexeu a comida do prato, escolhendo um pedaço ou outro de rosbife, e deixou a bandeja em cima da cama, decidindo ocupar sua mente com alguma coisa. Tinha certeza que havia trazido algum livro em seu malão...


Ao ir em direção ao armário onde suas coisas estavam guardadas passou por um espelho e parou. Encarou seu reflexo.


- Mas que olheiras horríveis... Precisa dormir melhor – comentou o reflexo, com uma expressão de desaprovação.


“Quando você tiver um namorado em perigo, nenhuma notícia do mundo exterior, um bando de bruxos loucos atrás de você e um Draco para lidar, venha falar comigo sobre dormir bem”, pensou Gina, cansada. Mas, infelizmente, o reflexo estava certo, debaixo de seus olhos havia olheiras surgindo, um cinza pálido contrastando com suas sardas.



“Tudo culpa do Draco... Peguei a insônia dele.”


A porta se abriu pela terceira vez.


- Senhorita, há alguém no portão da mansão...


- Draco?


- Não, senhorita. Outro homem, e ele está pedindo por você.



- Eu não me importo. O preço não faz diferença!


- Mas Sr. Malfoy um tratamento desses... Pode durar anos... E...


- Não quero saber! Faça e pronto. Que está reclamando? Quem vai gastar o dinheiro sou eu. Anda, onde assino?



- O senhor não quer pensar melhor, considerar outras opções talvez...


- Você é surdo?! As outras opções não funcionaram! Seus tratamentos estúpidos não serviram para nada! Agora me dá o contrato dessa droga para eu assinar!


O medi-bruxo incompetente finalmente desistiu de convencê-lo a ser “prudente” (ou seja: burro) e pegou uma folha de papel de uma gaveta, passando uma pena para Draco. Impaciente, arrancou o contrato da mão do imbecil.


- O senhor deve saber que não há garantias que o tratamento terá sucesso ou que a recuperação da paciente será completa... Há vários riscos...


- Você já me disse tudo isso. Cale a boca – retrucou, irritado, assinando bruscamente seu nome na terceira folha. – Pronto, aqui está. Quero que comece imediatamente. Dinheiro não é problema.


- Sobre isso, Sr. Malfoy... A quantia inicial é de dois mil galões... Porém um mês de tratamento, com as poções, enfermeira particular custará...


- Esse é o número do meu cofre em Gringotes... Desconte o quanto for necessário – disse simplesmente, dando um cartão para o homem. – Mas se eu descobrir que você me roubou o Ministério vai ser o último dos seus problemas.


O medi-bruxo engoliu seco e seu medo era quase palpável, Draco sorriu, divertindo-se com o pavor do infeliz. Com essa ameaça se retirou do escritório, batendo a porta violentamente atrás de si.


Respirou fundo, ajeitou o sobretudo que usava e seguiu pelos corredores de St. Mungos. Teria coragem de criar esperanças por sua mãe? O tratamento era revolucionário e ainda muito novo, o que explicava o custo alto... Mas se havia uma chance, mesmo que pequena, Draco tentaria.



Olhou para o relógio preso na parede na recepção do hospital logo em cima do quadro de Dilys Derwent e, não para sua surpresa, viu que já passava consideravelmente do horário de visitas. Não havia mais jeito, teria que voltar para a mansão.


Não que estivesse evitando ir para lá... Exatamente o contrário! Seu dia foi lotado... De repente vários assuntos pendentes que esquecia ou evitava antes da chegada de Weasley precisavam ser resolvidos imediatamente e não houve jeito de escapar. Essa era a razão de ter ficado o dia todo fora de casa, nada a ver com que havia acontecido no salão de música. Imagine.


Não era como se sentisse arrependimento por um comportamento estúpido... Ou algo do tipo. Estava simplesmente ocupado demais para parar em casa, de repente...


Virou uma esquina, passou por um grupo de enfermeiras agitadas, adiantou-se por mais alguns corredores batendo ombros com qualquer criatura que se atravesse impedir seu caminho, por fim chegou até a sala de lareiras. Hesitou por um breve momento antes de pegar uma porção de Pó de Flu e encerrou suas atividades urgentes e não-relacionadas com Weasley.


Enquanto girava entre as chamas verdes só conseguia relembrar o fiasco da noite anterior. Ficara no salão até o sol nascer e só conseguiu dormir algumas horas com ajuda de uma das poções com gosto de unha, sua cabeça não parava de se xingar pela estupidez. Era a primeira vez que se sentia assim ao entrar em conflito com Ginevra... Estava irritado por ter estragado um momento agradável com ela. Aquela expressão magoada no rosto dela foi a imagem que encarava quando as chamas cessaram e ele saiu graciosamente da lareira da sala de visitas.


Limpou com a mão o pouco de fuligem que sujou seu casaco e se endireitou, observando o cômodo vazio. Segundos depois Groger se materializou na sua frente, reverência exagerada pronta.


- Mestre Malfoy, bem vindo. Espero que seu dia tenha sido produtivo. A senhor...


- Amanhã teremos visitas, Groger. Quero que prepare um café da tarde farto e prepare a mansão.


- Visitas? Já tivemos visitas, mestre Malfoy. Há pouco tempo um...



- O quê? Quem?


- Um homem esteve aqui para ver a Srta. Weasley, mestre... Ele...


- Que homem? Você deixou entrar na minha mansão um desconhecido?!


- Ele não entrou, só...


- Onde está Weasel?


- No quarto dela, mestre Malfoy. Se trancou lá desde que...


Mas Draco não estava mais ouvindo, estava tomando uma sensação estranha e confusa... Estava preocupado, ansioso... Possessivo... Só sabia que Weasley não tinha direito algum de trazer desconhecidos e provavelmente inimigos na casa dele, sem sua permissão ainda por cima!


Pisando pesado pelos corredores e escadas, Draco se dirigiu até o quarto de hóspedes, pensamentos sobre o salão de música dissipando como névoa da manhã, estava tudo bem claro agora... A primeira oportunidade Weasley se aproveitou do fato que ele saiu o dia inteiro para trazer amiguinhos e festejar... Usar sua mansão... Se aproveitar de sua generosidade... De sua tolerância!


Aproximou-se da porta do quarto dela quase bufando de raiva e o sentimento só se intensificou quando ouviu uma voz masculina abafada do outro lado. Ainda por cima estava com alguém no quarto! Fazendo sabe-se lá o que na cama da família dele!



Antes de escancarar a porta com ódio correndo pelas veias, controlou-se e colocou o ouvido na madeira, tentando ouvir o que se passava e se preparar melhor para a situação. Não conseguiu nenhum resultado a não ser murmúrios quase irreconhecíveis.


- Gina... Por favor...


A voz masculina era familiar de um jeito nada bom e para piorar não era a do Weasel de orelhas grandes. Era Potter.


Potter.


Potter!


Potter na mansão dele. Potter no quarto de seus ancestrais. Sentado na cama antiguíssima e cara... Potter junto de Ginevra. Potter falando, abraçando, tocando, beijando ela...


Era insuportável.


Mas também... Impossível.


Potter estava desaparecido. Não podia ter escapado tão rápido assim! Nem cinco dias e já se livrara? Não podia ser... Era injusto. Pelo menos sofresse um mês! Se ele se safou tão rápido significaria que Weasley iria embora também...



Os sons abafados pararam porém Draco não sabia se isso era bom ou ruim. O quarto estava em silêncio absoluto e aproveitou aquilo para se recuperar da raiva, respirar fundo e preparar-se para a presença possível daquele cabeça de abóbora estragada. Era simples, tirava Weasley do quarto e aí sim bateria em Potter até que suplicasse para voltar para seu cativeiro. Não valia a pena estragar a opinião de Ginevra sobre ele pelo Cicatriz.


Bateu com força contra a porta, apesar de tentar parecer controlado. Esperou alguns segundos mas não houve resposta. Tentou novamente com mais força ainda, quando isso falhou outra vez, teve que recorrer a fala.


- Weasley? Preciso falar com você, agora.


Encarou a madeira, ansioso. Pareceram-se séculos até que a voz abafada dela disse “Já vai”, mais séculos ainda passaram até que a porta se abrisse para ele.


Imediatamente sua primeira reação foi entrar bruscamente no quarto e procurar pela presença masculina, virou o rosto para todos os lados e quase olhou debaixo da cama mas não havia ninguém.


Onde estava o infeliz cara de pau? Pulou a janela?! Estava escondido no armário?!


- Weasley... Quem est...


Parou de imediato ao fitar o rosto dela. Uma primeira observação parecia que estava exatamente como sempre esteve, menos pálida que ele, sardas, sorriso amigável... Mas não precisou piscar para notar o vermelho em seus olhos ou suas bochechas e orelhas rubras.


Ginevra tinha estado chorando e Draco acabara de engolir a própria língua, quase gaguejando.



- Que foi? – sorriu fracamente.


- O que aconteceu?


- Nada. Por quê? – continuou com seu sorriso forçado. Ela era boa, mas Draco a conhecia bem. – Como foi seu dia?


- Não mude de assunto.


- Mas não aconteceu nada. Sério.


Draco a olhou, desconfiado, e reparou que segurava algo atrás de si com a mão direita enquanto a outra ainda estava na maçaneta da porta, indicação óbvia que queria que ele fosse embora logo.


- Groger disse que você teve uma visita hoje – começou neutro, fingindo que tinha acreditado nela.


- Rony. Ele... Veio ver como eu estava. Não ficou mais que cinco minutos...


- Sei... E nenhuma notícia do seu amado? – perguntou, tentando ver o que escondia, se aproximando dela.



- Não fale assim.


- Assim como?


Estavam centímetros um do outro. Ela respirava rápido, não entendendo o que pretendia. Draco, enquanto isso, analisava cada milímetro do rosto dela, vendo com uma pitada de amargura seus olhos vermelhos de choro. Sua intenção era pegar de surpresa o que quer que fosse que Ginevra escondia mas parara no meio do caminho, interrompido pela proximidade dela.


Olharam-se intensamente, sem saber o que o outro pensava.


Até que Weasley desabou sobre ele, abraçando-o fortemente. Seus braços finos seguraram seu pescoço, apoiando todo sua aflição na figura desnorteada de Draco. Devagar ele a abraçou de volta, não achando outro movimento melhor.


- Estou tão cansada – murmurou para ele fracamente, sua voz fraquejando.


- Isso é porque você não dormiu nada – tentou debilmente, xingando-se pela idiotice do comentário.


Para diminuir seu incômodo Ginevra soltou uma risada fraca, soltando-o do abraço e fitando seu rosto.


- Você é péssimo nisso.



- Vou encarar como um elogio. Agora vai me explicar o que está acontecendo? Começando com isso que você estava escondendo de mim – disse apontando para o envelope na mão dela, revelado finalmente.


Weasley soltou um suspiro desconfortável e olhou do envelope para o chão, andando até a ponta da cama e sentando nela.


- São as exigências – contou por fim, estendendo a mão para que Draco pegasse o pedaço de papel verde.


- Que...


- Abra.


Draco obedeceu devagar, um pouco apreensivo com o que encontraria, com razão porque assim que retirou a carta e começou a ler, gritos de dor terríveis encheram o quarto e foi quase impossível terminar a leitura. Gina tinha os punhos fechados e no rosto uma expressão de aflição tão grande que era como se os gritos fossem seus e apenas sua boca cerrada provava o contrário.


Tentando bloquear os sons agonizantes Draco leu em voz alta a carta:



“Srta. Weasley,



Se deseja ver Potter vivo e com sua sanidade mental intacta vá sozinha no mesmo local onde primeiro nos encontramos no primeiro dia do novo ano.


Se tentar avisar alguém, principalmente a Ordem da Fênix, ou vier acompanhada, esses serão apenas gritos leves, Potter sofrerá muito mais.


Lembre-se: sozinha.”


Conforme terminava de ler lentamente os gritos começaram a diminuir mas sabia que o pior estava para vir só de olhar o rosto de Weasley. Ao pronunciar a palavra “sozinha”, a voz de Potter finalmente murmurou de forma febril, provavelmente fruto de uma sessão de tortura, o que Draco tinha ouvido do outro lado da porta.


- Eu preciso de você, Gina... Por favor... Por favor...


O feitiço terminou e o envelope se selou sozinho outra vez. O silêncio que tomou lugar dos gritos mostrou-se pior ainda, pois mesmo sem sons a dor era sentida no olhar e lágrimas silenciosas que escorriam pelo rosto de Ginevra.


Ela passava a mão no rosto a cada segundo, tentando secar os olhos e apenas piorando o vermelho forte em suas bochechas. Com a outra mão segurava firme o lençol debaixo de seus dedos, fazendo profundas marcas no tecido. Porém, o que mais feriu Draco não foi vê-la chorar, mas ver a determinação que estava por trás disso.


- Quem mandou isso para você? Eles sabem que está aqui?


Weasley balançou a cabeça negativamente, passando nada delicadamente a mão no nariz que começava a escorrer. Draco pegou um lenço de pano do bolso e ofereceu a ela, com uma expressão de leve nojo mas Ginevra não ligou e apenas agradeceu, assoando violentamente.



- Não. Rony veio aqui há algumas horas... Falou que eu não precisava me preocupar, tudo ia dar certo, que tinham um plano mas que não podia me falar qual era... Mas não ia deixar ele ir embora sem me contar e roubei esse envelope dele. Me disse que deixaram n'A Toca e outra cópia na loja dos gêmeos.


- Por que você?


- Eu não sei... Não sei! Não entendo... O que tenho demais? Eles têm Harry... O que eu faço de diferença?


- Talvez... – começou mas logo parou, percebendo que o que falaria seria cruel demais e mudando raptamente. – Talvez eles precisem de algo que só você tenha.


“Ou quem sabe eles querem torturar você na frente do Potter... Uma vingança muito mais saborosa que apenas bater nele.”


- Rony também acha... Mandou eu ficar aqui até que a Ordem resolvesse tudo... Mas não me importa... Eu vou.


- Você está brincando?!


- Não! Eu tenho que fazer alguma coisa... Não posso simplesmente deixar que... Que torturem Harry desse jeito! – gritou, levantando da cama bruscamente, limpando com raiva as lágrimas que ainda insistiam em atrapalhá-la.


- Weasley, pense! – gritou em retorno. – Você vai estar fazendo exatamente o que eles querem!



- Se isso salvar Harry...


- Deixe de ser burra!


Com isso Weasley andou firme em sua direção, fúria no rosto.


- Você não ouviu? É surdo? Não ouviu o que estão fazendo com ele? Você entende isso, Draco. Você sabe como é! Sabe como dói... Sabe o que é ver alguém que ama sofrendo assim! Sentiu na própria pele! E espera que eu fique parada? Me escondendo? Eu não vou! Não me importo, vou até lá.


- Pare e pense, Weasley! – gritou Draco, pegando-a pelos ombros com força. – Você está agindo justamente como eles querem... Vai fazer exatamente o que planejam!


- E você sabe o que eles querem? – rugiu, tentando se soltar.


- Eu sei muito. E se parar de gritar vai perceber o quão estúpido é seu plano! Você acha que Potter quer que você obedeça esses idiotas?


- Ele... Ele me chamou... Precisa mim.


- Potter não ia querer que você se arriscasse por ele, Weasley. Faz parte do código de burrice de heróis com cicatrizes nojentas.



- Eu quero fazer alguma coisa, Draco! Qualquer coisa – suplicou, sua resolução enfraquecendo.


- Fique aqui, comigo. E quando Potter aparecer de novo vai tudo voltar como antes.


- Não é tão fácil assim... Queria que fosse mas...


- Você está horrível, Weasel... Olha só essas olheiras, cabelo todo despenteado... Não tem vergonha, não? – disse brincando, tentando abrir um sorriso – Precisa dormir.


- Dormir? Não consigo... Harry... Os gritos... E juntando tudo isso com suas tentativas de me consolar... Só vou ter pesadelos – sorriu fracamente.


Draco parou um pouco para pensar em um jeito de ajudá-la mas quando o assunto era sono ele era um completo incapaz. A única coisa que tinha arranjado era...


- Groger!


O elfo-doméstico imediatamente apareceu como de costume.


- Traga uma poção do sono para a Srta. Weasley.



Tão rápido quanto apareceu Groger sumiu.


- Mas, Draco, não quero dormir... Não posso com tudo que...


- E o que você pretende fazer no meio da noite? Bater nos vilões na sua camisola com travesseiros? Tome a poção, Weasley, faça esse favor a você mesma.


- E para você também, não é? Quer que eu durma logo para não precisar ficar comigo.


- Agora você já está pegando a idéia – provocou, rindo.


- Sobre o piano... Não quis te insultar ou...


- Esquece o piano... Já foi, para que ficar pensando nisso agora? Caramba, Weasley, estou tentando fazer você dormir e fica aí tagarelando!


- E eu que achava que você estava ficando sensível...


- Eu? Sensível? Você me ofende, Weasley.



Estava contente em ver que o sorriso dela estava mais genuíno, mesmo que ainda retivesse um certo ar de amargura. Já tinha desistido da idéia de correr atrás de Potty pelo menos até o dia raiar, o que era uma boa notícia. Agora estava sentada na cama novamente, se abraçando contra um frio inexistente e encarava Draco com um misto de divertimento e agradecimento.


Ele, enquanto isso, estava parado de pé do lado da cama, em uma distância segura mas ao mesmo tempo próxima.


- Você nunca dorme, Draco?


- Ocasionalmente.


- Imaginei... Mas por quê? Sonhos ruins?


Não estava particularmente animado para falar de seus problemas pessoais mas se isso significasse que ela parasse de pensar nos dela... Valia a pena tentar.


- Não... O problema não é dormir, está na tentativa. Em ficar horas e horas revirando na cama pensando bobagens. Prefiro passar meu tempo trabalhando ou tocando piano. Agora, a razão de não conseguir dormir, não tenho idéia... Desde Azkaban... Acho que já deu para entender a situação precária. Certos costumes são difíceis de perder, suponho.


Groger apareceu no quarto, outra vez, carregando dois cálices com a infame poção de gosto ruim.


- Eu não vou tomar – informou Draco curtamente. – Só deixe um, leve o outro embora.



- Mas se você não consegue dormir... – começou Weasley.


- Não preciso disso.


Weasley não pareceu concordar mas pegou seu cálice em silêncio e deixou que o elfo fosse embora com o outro copo de poção. Bebeu devagar, o desgosto pelo líquido óbvio em sua face, mas não reclamou, continuou até que terminou todo o conteúdo do cálice. Seu rosto ainda estava dominado por um vermelho caótico mas não chorava mais. Pelo menos era uma boa notícia.


- Sabe, acho que foi a primeira vez que você responde uma pergunta minha sinceramente, sem escárnio ou ironia. Sem evitar também! Deve ser algum tipo de recorde – riu sozinha, seus olhos começando a se fechar e entrando na cama confortavelmente.


Graças a Merlin, as poções de sono dele eram extra fortes...


- E ainda me deve aulas de piano – continuou, agora já de olhos fechados por completo e voz sonolenta. – Então acho que tenho que ficar mais um pouco... Amanhã vou atrás de Rony e...


Parou de falar, sua respiração suave mostrando que começara a cair no sono... Silenciosamente e com cuidado Draco aproveitou do momento para andar até a porta, pisando de leve sem querer acordá-la. Apontou sua varinha para a maçaneta, silenciou o rangido da madeira e abriu-a.


- Draco... Pode ficar um pouco... Até os gritos pararem? – murmurou Ginevra, ainda deitada, de olhos fechados e estendendo sua mão em sua direção. – Por favor?


Fechando a porta, caminhou devagar até a cama e pegou a mão dela. Estava tão gelada que sentiu arrepios... E pela primeira vez estava totalmente concentrado nela e em como estava. Nada mais o preocupava.



Observava cada respiração, cada movimento... Esperando até que finalmente encontrasse paz no sono.


Tão concentrado estava em Gina que não percebeu quando seus próprios olhos se fecharam e ele lentamente apoiou sua cabeça na cama, perto da mão dela, e adormeceu.


N/A: Awww, não é fofo? Espero que seja, porque esse foi o limite de fofura da fic! Hahhaha. Espero que tenham gostado!

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.