O Piano e a Bola de neve
O PIANO E A BOLA DE NEVE
Levando um susto tremendo Gina guardou a varinha, o que fez com que a tampa do piano batesse com violência e a “música” foi interrompida. Tentou parecer o mais inocente possível e olhou para a porta do salão de música.
Draco estava de braços cruzados, encarando Gina como se fosse algum tipo de bicho do mato sem cabeça e ainda por cima com uma sobrancelha levantada de um modo tão parecido com o pai que a irritou profundamente.
- O que disse? – tentou disfarçar o susto.
- Perguntei se você tem idéia do que está fazendo.
- Eu estava... Olhando o salão de música. Ficou bonito.
- Não, você estava tocando meu piano.
- Isso também – admitiu em tom desafiador. Estava ainda irritada com a ausência dele. – Algum problema?
- Se não sabe tocar, não toque. Mas principalmente não se atreva a tocar o hino desse timeco de perdedores no meu piano. É um insulto – empinou o nariz.
Mas sua voz possuía um leve toque de divertimento com a tentativa sofrível de música e se fosse qualquer outro dia e em outra circunstância seria o início de mais uma troca amigável de provocações. No entanto Gina não se esqueceu da ausência dele durante o café e estava ansiosa em lembrá-lo também.
- Insulto é você me ignorar o dia inteiro! – gritou, contente em aliviar sua frustração em alguém.
Draco não conseguiu esconder a surpresa pela reação violenta dela mas teve sucesso em se recuperar com velocidade considerável.
- Esperava o quê? Só por que resolvi ser caridoso, Weasel, não pode realmente achar que eu fosse conviver perto de você? Tenho coisas melhores para fazer do que ver sua cara.
Naquele momento seu desejo mais ardente era jogar uma azaração bem violenta naquele fuinha imbecil mas, estranhamente... Perdeu a vontade em seguida e um suspiro cansado lhe escapou.
Marchou para fora do salão de música determinada e com cuidado para bater forte seu ombro contra o de Malfoy na saída. Estava cansada das charadas dele.
Estava decepcionado. Esperava um confronto, briga... Até mesmo um tapa. Ao invés conseguiu uma dor terrível no ombro e nenhum divertimento.
Como tinha saído perdendo daquele encontro? Não estava em seus planos.
Quando ouviu o som do piano de seu escritório imediatamente levantou da cadeira e marchou até o salão de música, não sabendo exatamente como se sentir... Se ficava furioso com o atrevimento de Weasley ou intrigado com a atitude. Mas ao chegar no salão escolheu o divertimento. A tentativa ridícula dela de tocar o piano era incrivelmente engraçada e foi impossível resistir a uma provocação.
O que não esperava era o modo como sua interrupção foi recebida por Weasel. Podia-se até argumentar que devia ter dado alguma atenção para ela mas a revolta e autoridade no tom de sua voz o irritou e, como sempre, Draco optou por insultá-la. Afinal não tinha obrigação de agüentar nenhuma criatura mal agradecida em sua própria casa, muito menos uma Weasley.
Até lá, sem problemas. Sem surpresas.
A decepção estava em Weasley não revidar e apenas sair de sua vista, ignorando seu insulto totalmente! Depois de alguns meses juntos ela já deveria saber que uma das coisas que mais o incomodava era ser ignorado!
A solução para seu problema ficou clara assim que parou de massagear seu ombro esquerdo. Segundos depois da fuga de Weasley, Draco estava em seu encalço e sua decepção deu lugar à raiva.
O cabelo ruivo dela balançava como uma labareda de fogo em um incêndio enquanto andava apressada pelo corredor, não prestando atenção por onde passava. Draco teve que resistir para não gritar quando ela quase derrubou um vaso raro ao bater em uma mesa em seu caminho. A idiota não sabia que aquilo custava mais do que o buraco inteiro que chamava de casa?
Apressou o passo quando alguns quadros gritaram acusações e ameaças de deserdá-lo se deixasse Weasley escapar e finalmente a pegou pelo braço um pouco mais brusco do que pretendia. Forçou a garota a virar e lhe encarar. Alguns fios de cabelo se soltaram de seu rabo de cavalo e caíram sob seu rosto, combinando com sua aparência irritada.
- E onde você pensa que vai, Weasel? Eu não terminei de falar.
A expressão em seu rosto cheio de sardas era equivalente, de um modo muito distorcido, a de sua mãe quando seu pai dizia algo de errado e que provavelmente lhe renderia uma noite em um dos quartos de hóspedes. Draco quase sacudiu a cabeça, querendo se livrar da comparação alarmante. Não era hora para aquilo.
- Estou aliviando vossa alteza da minha presença – sibilou. – O que mais poderia ser?
- Deixe de drama. É patético. Você age como se esperasse coisa diferente. Eu avisei, Weasel, não mudei e nem pretendo.
A ruiva o estudou por um momento antes de tentar se soltar.
- Você já me falou isso várias e várias vezes. Eu já sei. Agora me largue. Eu também tenho coisas melhores a fazer do que encarar sua cara de doente.
- Como o quê? Chorar pelo Potter?
Aquilo obviamente foi passar dos limites porque Weasley conseguiu juntar força suficiente para se livrar dele e continuar andando rápido pelo corredor.
O que aconteceu com a decisão de ignorar a presença dela? Aparentemente tinha sido esquecida, Draco não pensou duas vezes em continuar a perseguindo. E não era apenas a decisão que havia sido deixada de lado, também não entendia exatamente o que pretendia em continuar discutindo com Weasley.
Não havia sido sua intenção inicial insultá-la “de verdade” no salão de música mas ela havia praticamente o obrigado! E agora também não estava nada contente com o fato que ela queria fugir dele. A idéia de ela sentir repulsa dele era... Muito incomodativa. O que não significava que pediria desculpas pelos comentários maldosos apesar de ao mesmo tempo querer voltar no tempo quando os dois estavam em termos amistosos.
Sabia que aquele dia não seria bom, quebrar rotina era sempre uma péssima idéia e a dor de cabeça só estava aumentando.
- Weasley... Dá para parar de correr um pouco? – gritou, não gostava de gastar tanta energia. – Você está agindo que nem uma crianças de quatro anos.
De certo modo seu comentário surtiu efeito, ela se virou por um momento, soltando uma risada seca.
- Olha quem fala! É você quem está morrendo de medo de mim!
- Medo!? MEDO? – repetiu atônito com a acusação.
Medo? Do que aquela louca sardenta estava falando? Draco não tinha medo de uma menininha esquelética!
Quase podia sentir o gosto do ódio ao pensar que talvez Weasley estivesse usando sua confissão no quarto de St. Mungos para insultá-lo.
- É! Isso mesmo! Você está tremendo nas bases porque não sabe como agir. Orgulhoso e medroso demais para falar comigo!
- Eu estou falando com você agora, Weasel! – gritou, uma vontade gigante de lançar uma azaração naquele rostinho estúpido.
- Porque só consegue coragem para me insultar!
- Sua teoria imbecil tem só uma falha, infeliz! Eu não fui atrás de você no salão para insultar sua falta de capacidade mental! Eu ia, pasme, até convidá-la para almoçar comigo!
“Ha! E agora, Weasel? Como é o gosto da derrota?”, pensou, satisfeito ao vê-la abrir e fechar a boca como um salmão tentando respirar uma última vez preso em uma rede de pescador. Era uma mentira, claro... Nem tinha passado por sua cabeça almoçar junto com Weasley mas ela não precisava saber disso, não é mesmo? O importante era ganhar dela a qualquer custo e prová-la errada.
- Amasso comeu sua língua agora? – sorriu arrogante, saboreando sua vitória.
- Isso não muda o fato que você me ignorou a manhã toda e ainda por cima agiu como um idiota!
- E você é um anjo? – comentou, aproveitando cada momento da derrota dela.
- Em comparação com você: sou sim.
- É, mas sou eu quem estou certo. Quem me atacou primeiro foi você e ainda por cima nem me deu chance de explicar.
Podia ver que Weasley estava tentando achar algum argumento para retrucar mas após alguns segundos sem sucesso bufou e desistiu. Draco entendeu isso como um sinal de que ela não voltaria a sair correndo e a largou.
- Está bem. Pode começar a se explicar. Por que não desceu para tomar café comigo? E não me venha com insultos!
- Não existe nenhuma regra sobre ser obrigado a tomar café.
- É questão de educação. Eu não conheço nada da casa e você espera que eu fiquei andando sozinha por aí?
- Mas era exatamente o que você estava fazendo! – retrucou, indignado. – Weasley, você estava tocando um piano que vale mais que a conta bancária de todos os seus parentes juntos. Claramente, não precisou de mim para bisbilhotar.
- Eu não ficaria parada sem fazer nada! Não acha que ficaria enclausurada no quarto só porque você não resolveu ser um bom anfitrião?! Além do mais, ainda não respondeu por que não...
- Já sei! Não precisa repetir, Weasel! Não tomei café com você porque eu não tomo café. Ponto final. Não teve nada a ver com a sua presença – disse com sua melhor cara de blefe. Afinal, era apenas meia-verdade.
Não a parecia ter convencido totalmente mas foi o bastante para que deixasse o assunto quieto finalmente. Draco aproveitou a oportunidade para tirar os fios soltos do rosto e se endireitar com mais dignidade.
Agora que a discussão havia terminado silêncio tomou seu lugar. Nenhum dos dois sabia como se comportar ou o que fazer em seguida. A melhor alternativa que lhe veio à cabeça foi oficializar o convite para almoçarem juntos e assim terminar com as hostilidades definitivamente. Não seria um sacrifício tão grande estar na mesma sala que ela por uma hora...
- Podemos almoçar agora?
Ainda com certa desconfiança no rosto, Weasley assentiu. Draco tentou abrir um sorriso amigável mas acabou parecendo mais arrogante ainda.
Se achava que as coisas melhorariam entre eles durante a refeição logo percebeu que não seria o caso. Já no momento que sentaram à mesa era possível ver isso.
Draco entrou primeiro na sala de jantar e ofereceu educadamente a cadeira da ponta para Gina mas o gesto, deduziu, serviu apenas para garantir uma distância grande entre os dois pois ele sentou no outro lado da mesa longa tão longe que se quisessem conversar precisariam falar com uma voz mais alta que o normal. Sinal que Draco estava planejando evitá-la e ao mesmo tempo fingir que não.
A chegada de Groger também não serviu para ajudar em nada, o elfo-doméstico repetiu a apresentação animada dos pratos como fizera no café e partiu logo em seguida. A entrada era uma sopa sem gosto que Gina tomou sem animação, mais preocupada com a concentração exagerada de Draco em encarar sua colher ao mergulhá-la na tigela.
O prato principal não trouxe nenhuma melhora e decidiu que se queria ouvir alguma coisa além do som de talheres precisaria tomar a iniciativa.
- Eu não estava mentindo, sabe... O salão de música ficou bonito.
- E o que você entende disso, Weasley? Por acaso já decorou algum lugar? – desconsiderou o comentário, enquanto cortava metodicamente um pedaço de filé.
- Só estava fazendo um elogio – respondeu, áspera.
- Não preciso de um.
Silêncio decaiu outra vez. Perdera a vontade de tentar conversar com ele. Por que tinha que ser tão complicado? Uma hora agia com frieza, outra estava de volta a um tom amigável, depois virava um trasgo... Será que Draco tinha algum distúrbio de personalidade ou algo do tipo?
O almoço não gerou nenhum outro acontecimento e, tirando o fato que Draco quase não tocou em sua comida, Gina não notou mais nada. No entanto, quando a mesa foi limpa e tudo desapareceu, resolveu que não perderia a oportunidade.
- Custava você me mostrar a mansão? – disse, não dando tempo de Draco se levantar da mesa.
- Pra quê? Aposto que você já explorou tudo. Groger me disse que passou a manhã inteira passeando onde não devia.
- Se você tivesse me mostrando alguma coisa saberia onde não podia entrar.
- O que só aumentaria sua curiosidade – notou Draco, triunfante.
- Talvez – sorriu, um pouco incomodada. – Mas isso não importa. Eu respeito a sua privacidade.
- Mas exige que eu fique carregando você de um lado para o outro.
- Só me fale sobre o lugar! Não pode ser um sacrifício tão grande assim!
Draco revirou os olhos, levantando da mesa.
- Não entre no meu escritório. Não entre no meu quarto. Não vá explorar o jardim de trás e definitivamente não chegue perto do mausoléu. Pronto.
- Mas isso não é me...
- Ah... Não toque em nada caro... Não quebre nada. Não vá ler nenhum livro de conteúdo “duvidoso”, não mexa em nada potencialmente perigoso, você não sabe lidar com artes das trevas mesmo então provavelmente acabaria sem algum membro... Não fale com os quadros, eles não gostam de traidores de sangue. Não suba no sótão, não chegue perto do porão. Não tente achar passagens secretas, se achar, não as use.
- Só isso? – perguntou sarcasticamente, sobrancelha levantada.
- Basicamente.
- Eu posso respirar?
- Deixe eu ver... Hmm... – fingiu pensar no assunto. - ... Se você tem que respirar, fazer o quê.
- Posso tocar piano?
- Você não sabe tocar piano.
- E daí? Posso tentar, não posso?
- Não.
- Por que não?
- Esqueceu da regra “não toque em nada caro”?
- Impossível. Tudo nessa casa é caro! Resolvi ignorar essa regra.
- Regras não podem ser ignoradas.
- Regras idiotas têm que ser.
- Não, Weasley. Deixe o piano em paz. Longe das suas mãos ineptas.
- Aposto que você também não sabe tocar! – acusou, ansiosa para irritá-lo. – É só mais uma coisa material idiota para você fingir que ainda é importante! Que sua família ainda está viva!
Sabia no instante que terminara de falar que passara dos limites da paciência dele. Não tinha certeza da onde viera uma acusação tão forte mas no momento era claro para Gina que Draco havia merecido. Era impossível entender mas assim que os dois estavam na mesma sala parecia vital que atacassem um ao outro... Antes Gina achava que já tinham passado daquela fase, infelizmente parecia que estava errada.
Em resposta à sua acusação, Draco levantou-se bruscamente da mesa e foi embora, mais uma vez a deixando sozinha, sem olhar para trás.
Gina soltou um suspiro, sentindo que não seria a última vez que isso aconteceria. Algum deles precisava ser o adulto ali... Se quisessem sobreviver. Por que algo lhe dizia que teria que ser ela?
Apoiou o queixo na mão, cotovelo em cima da mesa, tentando decifrar exatamente o que havia se passado lá. Depois de analisar tudo que tinha acontecido chegou a conclusão triste que grande parte da culpa estava em seus ombros.
Verdade que Draco a ignorara mas quando ele apareceu para, ao que parecia, corrigir seu erro, havia estragado tudo, só se importando em jogar sua raiva e frustração em cima dele. Boa parte daquilo vinha do fato de ter passado a manhã toda sozinha mas em sua maioria a causa era outra, relacionada a Harry.
Draco, sendo como era, não deu o braço a torcer e a insultou... Para depois correr atrás dela tentando se desculpar, do jeito estranho que só ele conseguia. E o que fazia? Fazia questão de feri-lo por apenas acatar, outra vez do seu jeito único, o pedido dela.
O mínimo que podia tentar fazer era se desculpar. Agora o problema era achá-lo.
Não estava com raiva... Estava além da raiva. Raiva era muito ameno para descrever o ódio cego que sentia. Se não fosse Azkaban... Não fosse o Egito... Se não fosse o maldito sanduíche de mortadela... Teria pegado sua varinha e duvidava que lançaria apenas uma azaração.
Weasel tinha muita cara de pau de falar tudo aquilo em sua própria casa! Quando deixou que se escondesse lá por nada! Quem era ela para cobrar algo dele? O que achava que era para insultá-lo daquela forma?! Só por que salvara a vida dele uma ou duas vezes não significava que eram iguais!
Draco nem reparou que marchava pelos corredores, quase chutando qualquer coisa que encontrava pela frente. Não notou para onde ia, só via vermelho em sua frente. Por pouco sua mão não pegava a varinha no bolso. Se estivesse pensando claramente teria escolhido refúgio em seu escritório mas ao invés disso só parou de andar ao abrir a porta da frente e sentir o vento gelado em seu rosto.
Foi praticamente um balde de água fria que serviu para acordá-lo. Percebeu que estava respirando rápido, que a dor de cabeça triplicara, seu cabelo longe da perfeição que buscava e sentia-se, sem rodeios, uma bosta de dragão.
Maldita Weasel ingrata!
Bateu a porta da frente com força e tão grande foi o impacto que neve acumulada caiu perto dele. Outro sinal para que se controlasse. Infelizmente não estava funcionando.
Era tão fácil... Tão simples... Bastava expulsá-la da mansão. Apenas jogá-la na rua e aos cuidados dos lunáticos que estava atrás de Potty. Não podia ser menos complicado... E, no entanto, praticamente impossível de ser feito. Fosse as acusações do irmão idiota dela, fosse as próprias da madame... De qualquer jeito Weasel só sairia depois que fosse provada errada. Mas isso não seria possível se deixasse que as palavras da criatura o afetassem. Precisava ser calculista e indiferente.
Essa resolução o acalmou e finalmente registrou o frio e a neve caindo à sua volta. Com sua varinha conjurou um casaco mais quente e luvas, ainda não tinha vontade entrar na mansão e uma caminhada pelos jardins talvez melhorasse sua dor de cabeça.
Nem deu dois passos completos e a porta atrás de si foi aberta e o objeto de seu ódio surgiu, vestida em um casaco longo e amarelo extremamente velho e batido e luvas que não haviam se rasgado ainda por um milagre. Draco escolheu ignorá-la totalmente e seguiu em frente.
Não para sua surpresa, mas para sua decepção, Weasel o seguiu. Por algum ato misericordioso, manteve sua boca grande fechada... Claro que não existia misericórdia para Draco e o silêncio durou pouco.
Andavam na neve devagar e a situação se tornou consideravelmente ridícula. Para onde ia Weasel o seguia. Se parava repentinamente, virava para outra direção ou aumentava a velocidade de seu passo, ela fazia exatamente a mesma coisa. E isso estava dando em seus nervos. Quando o limite de sua paciência foi atingido, parou e a encarou, sua expressão mostrando claramente seu desgosto pelo o que viria a seguir.
Ela interpretou a ação como uma aceitação do inevitável por parte dele e não perdeu a oportunidade. Draco se preparou para um novo ataque.
- Olha, começamos com o pé esquerdo, não foi? Eu falei coisas que não devia... E você também. Mas agora não importa mais... Por que não começamos do zero outra vez? Que acha?
Sorrindo, ofereceu sua mão para que Draco a apertasse assim como fez um mês atrás em St. Mungos. No entanto, as circunstâncias eram outras, não havia sido ofendido em sua própria casa e a opinião de Weasley não o afetava tanto quanto agora. Portanto, precisaria fazer melhor.
Quando percebeu que ele não aceitaria o gesto de pazes colocou a mão de volta dentro do casaco grosso e tirou o sorriso do rosto imediatamente.
- Que seja! Se você quer continuar agindo como um babaca fique à vontade – gritou, frustração em sua face vermelha de frio. Em um movimento rápido deu-lhe as costas e seguiu de volta para a mansão.
Draco olhou seu progresso por alguns segundos antes de também se virar para a direção oposta com a intenção de aumentar a distância entre eles. Mal havia feito isso e foi atingindo no pescoço por algo gelado e úmido. Assustado, girou e colocou a mão no local, assim que fez isso entendeu o que havia se passado e o susto deu lugar à raiva.
Weasel tinha tido a audácia de jogar uma bola de neve nele!
- Isso é por ser um idiota! – a insolente gritou, outra bola pronta em sua mão direita.
Ódio correndo da cabeça aos pés, Draco pegou sua varinha do bolso, apontando decidido contra ela.
- Nem ouse fazer isso de novo, Weasel! Ou vai se arrepender! Vou...
Foi interrompido por outro ataque, dessa vez o alvo foi o topo de sua cabeça. Weasley soltou uma gargalhada maligna mas Draco imediatamente, com um balanço de sua varinha juntou um monte de neve em uma esfera ameaçadora, lançando com ferocidade contra à ruiva, atingindo-a bem no rosto sardento.
Aquilo era só o começo... De repente estavam em uma batalha de bolas de neve e não era daquelas que amigos fazem para se divertir na véspera de Natal, tratava-se de uma feroz disputa.
Lançavam várias bolas de vários tamanhos um contra o outro em uma guerra digna de duas crianças mas com a ferocidade de dois adultos determinados em vencer, não importando o que custasse. Usavam suas varinhas para formar sua artilharia e jogá-la certeiramente, desviando quando podiam mas nunca buscando refúgio atrás de árvores ou arbustos próximos... Não estavam planejando nada... Sequer pensaram na razão de não usar suas varinhas para lançar azarações ao invés de bolas... A única coisa em suas mentes era atingir o outro certeiramente e com uma bola bem grande e gelada.
Finalmente o momento decisivo para encerrar aquela batalha chegou: depois de ser atingido por o que podia ser considerado um tijolo de neve, Draco teve a idéia esplêndida de formar várias bolas grandes de neve ao mesmo tempo e fez isso em um piscar de olhos, lançando dez ao mesmo tempo contra a garota, não lhe dando tempo de reação. Viu, com grande satisfação, sua queda de traseiro na neve.
Abriu um sorriso de vitória, cruzando os braços em desafio. Seu ataque tinha terminado com aquela idiotice e com ele vencedor.
Mesmo assim, Weasley conseguiu surpreendê-lo outra vez e ao invés de ficar irritada, no mínimo, fez algo extremamente desconfortável: começou a chorar. Depois de ser atingido por o equivalente de uma pequena montanha de neve, estar todo molhado, sujo e cansado... A única coisa que conseguiu fazer foi encará-la, incrédulo.
Enquanto isso ela se deixou cair de costas no chão coberto de neve, colocando suas mãos no rosto e soluçando sem parar.
Draco engoliu seco, sem saber como agir. Não esperava aquilo de Weasley. Era muito incomodativo ver alguém mostrando tanta... Emoção na frente dele... Principalmente quando essa pessoa estava chorando e ele era a razão. O que devia fazer?
- Weasel... Saí dessa – tentou, incerto.
Aquilo só rendeu soluços mais violentos ainda e Draco torceu o nariz, odiando a situação embaraçosa e sentimental. Relutantemente aproximou-se da garota, mesmo sem entender o que pretendia com isso.
Após alguns segundos de dúvida inclinou-se para frente, querendo retirar as mãos dela de seu rosto e mandá-la levantar, porém ao fazer isso Weasley agarrou seu braço e o puxou para baixo, pegando-o totalmente despreparado. Bateram testas e Draco caiu ao seu lado, o nariz pontudo afundado na neve.
Enquanto isso, ela gargalhava com gosto.
- E isso é o resultado de crescer com Fred e George! – riu. – Uma pena que você não possa ver sua cara...
Muito irritado, virou-se e encarou Weasley, de pé e sorrindo, orgulhosa com seu truque estúpido. Draco precisava dar o troco imediatamente. Só precisava pensar em como faria isso, e no momento estava difícil fazer um plano maquiavélico com o nariz congelado e seu cabelo solto e vestes ensopadas.
- Venha, eu te ajudo – sorriu Weasel, oferecendo sua mão para ele.
Olhou para sua oferta com desconfiança e ela notou.
- Sem truques, palavra de uma ex-aluna da Grifinória.
Draco soltou uma risada de escárnio e ignorou a oferta, levantando-se sozinho com dificuldade. Ainda estava muito irritado e Weasley, é claro, percebeu.
- Não seja um mal perdedor.
- Você roubou! – retrucou, revoltado. – Quem ganhou foi eu!
- E jogar dez bolas de neve ao mesmo tempo não é roubar? – riu.
- Agora você é a rainha das regras da guerra de neve? – levantou a sobrancelha.
- Esqueceram de te avisar? Sou a campeã, a mestra. Ninguém me vence.
- Acabei de fazer isso.
- Sonhar é bom... Mas sabe o melhor? Você está horrível – gargalhou, notando sua aparência desarrumada e muito distante daquela que a recebeu na noite anterior. – Mais do que o normal, digo.
Ajeitou sua postura, tentando salvar alguma dignidade, o que apenas rendeu um sorriso maior dela.
- Você também não está lá a coisa mais linda do mundo, Weasel... Mas isso é sempre – comentou, também observando os cabelos ruivos despenteados, nariz arrebitado e orelhas vermelhas com o frio. Sem falar das roupas amarrotadas e sujas de neve derretida.
- Ótimo. Somos dois feios, uma coisa em comum finalmente!
Estava surpreso com o bom humor dela mas mais ainda estava confuso com o fato que o dela melhorou o dele. De repente não estava tão enfurecido... Na verdade, quase podia esquecer a razão da guerra de bolas de neve. Quase não estava tão mais preocupado com a presença de Weasley em sua casa. Na verdade...
Seu raciocínio foi cortado por um espirro controlado, Weasley também espirrou logo em seguida, mais violentamente.
- Acho melhor sair do frio – comentou enquanto ajeitava o gorro laranja horrível que não combinava com o casaco amarelo que vestia mas estava de acordo com seu péssimo gosto.
- Surpresa, surpresa... Você fala alguma coisa que presta!
- Ah, não... A surpresa maior, Draco, é que você admitiu isso!
Weasel riu, ele bufou. E assim andaram de volta para a mansão, neve umedecendo seus sapatos, cabelos molhados e desarrumados, narizes vermelhos, rostos gelados mas... Finalmente confortáveis.
Weasley tinha um sorriso genuíno no rosto e Draco, apesar de não expressar em seu exterior e provavelmente não admitir a si mesmo, estava se sentindo melhor do que sentia há um bom tempo.
Talvez... Talvez a presença dela fosse algo bom.
N/A: Promessa é dívida! Um capítulo só com D/G action! Ahh... Sobre os comentários de Gina (“Somos dois feios”), hahhaha... Só antecipando... Gina, nos livros, não é descrita como feia... Já Draco... Deve ser uma questão de gosto... Se você gosta de narizes pontudos e rostos finos... Mas voltando ao assunto: não, Gina não é feia, Draco só não acha ela bonita por puro preconceito contra Weasleys. Beleza (e sua falta), pelo que reparo algumas vezes, está nos olhos de quem vê (ou de quem não quer admitir, no caso dele, hahaha). Eu sei, deve ter alguém pensando “ih clichê da guerra de bolas de neve” mas reparem que Draco não cai em cima de Gina, o que é básico nessas cenas, hehehe.
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