A Hóspede e o Ausente



Capítulo 2

A HÓSPEDE E O AUSENTE

A Mansão Malfoy estava em completa paz, seus corredores silenciosos, suas salas vazias, suas janelas fechadas por cortinas, luzes apagadas e seus dois ocupantes aparentemente dormindo. Na verdade não era o que acontecia. O clima sereno não era sentido por Gina e Draco. Ambos sentiam dificuldade em fechar os olhos, mas por razões completamente diferentes.


Gina encarava a escuridão de seu novo quarto, incomodada com a situação e imagens do dia anterior vivas em sua mente, prontas para aparecer assim que seus olhos se rendessem ao cansaço. Era surreal, para começo de conversa, tudo que havia acontecido até lá. Do ataque inesperado ao, e principalmente, pedido que havia sido feito, e aceito, para Draco.


Mas, refletiu, depois que os dois haviam formado um tipo de vínculo um mês atrás não deveria se surpreender tanto. Afinal era amiga de um Malfoy, algo inédito em gerações e gerações das duas famílias. Imaginou que morando naquela mansão seria um tipo de teste para a amizade, frágil e estranha. Seria ali que Gina veria Draco não como um fugitivo, prisioneiro ou ferido, mas sim como estava em Hogwarts: de volta à sua posição de (na visão dele) superioridade. Se retornasse aos seus modos arrogantes e preconceituosos Gina sabia que teria dificuldades em agüentá-lo, mesmo depois de ver seu lado melhor e mais humano.


Isso, no entanto, era apenas o começo de suas preocupações. Havia Harry também. Será que estava bem? Quem eram aqueles bruxos? O que fariam com ele? Por que estavam atrás dele e, agora, dela?


Rony e Hermione prometeram que formariam um plano imediatamente, entrando em contato com todos os membros da Ordem que pudessem. A perda de seu líder acabou os unindo outra vez, Ministério ou não. Será que seus seqüestradores tinham noção disso?



Infelizmente Gina tinha quase certeza que nenhum deles deixaria que participasse de qualquer que fossem seus planos. “Muito perigoso” e o fato que ela parecia ser o alvo provavelmente seriam os argumentos. Não que isso fosse impedi-la de se intrometer, sempre arranjava um jeito e ninguém conseguiria convencê-la do contrário.


De repente a fresta debaixo da porta, que dava para o corredor, iluminou-se, quebrando a escuridão do chão do quarto. Gina quase tomou um susto ao ouvir também sons abafados de pés logo ao lado de sua porta. Segurou sua respiração, tensa por estar em um quarto desconhecido e ainda por cima que pertencia à família Malfoy.


Mas só podia ser Draco. Não havia mais nenhum humano ali e o som parecia de pés pesados, não de uma criatura leve como um elfo-doméstico. Por um momento Gina achou que ele bateria em sua porta mas a luz e os sons passaram, ficando distantes logo em seguida.


Ainda se manteve alerta por outros longos minutos, esperando que voltasse, mas desistiu da possibilidade, um pouco decepcionada.


Desde de o abraço, que Gina lembrava com orgulho de ter sido motivo para deixá-lo constrangido, não viu Draco. Não sabia se a estava evitando por enquanto ou simplesmente pretendia ignorá-la até que fosse seguro para sair da mansão. Talvez só queria dormir e de manhã tentaria manter algum tipo de civilidade, como bom anfitrião. Teria que esperar até o dia seguinte para descobrir.


Como será que Draco estava vivendo desde que se separaram em St. Mungos? Provavelmente estava rodeado novamente de seu círculo de famílias puro-sangue, sua mão na cintura de Pansy Parkinson (ou seria Pansy Nott?) e um bando de puxa-sacos o seguindo em alguma festa pomposa. Pelo menos os jornais tinham desistido de transformá-lo no novo “Harry Potter”, no novo herói que tanto queriam para substituir o Garoto-Que-Sobreviveu, que agora se tornava uma inconveniência para os que estavam no poder.



Odiava política.


Por outro lado, lembrava da solidão dele em St. Mungos, pensando se uma roda de bruxos ricos e vazios realmente era o que Draco queria ou precisava. Talvez não soubesse ainda disso mas suspeitava que não era o caso. Se havia algo que Draco precisava agora era de amigos e família de verdade. Duvidava que encontraria isso em um elfo-doméstico corcunda e em uma mulher fútil que casou apenas por conveniência e dinheiro.


Mas quem era ela para saber como resolver problemas dele? Antes, pelo menos, teria que cuidar dos próprios.


Não bastava a culpa por ter marcado o encontro e depois de ser incapaz de salvá-lo, tinha que engolir o orgulho e se esconder quando o que queria mesmo era estar correndo pela Inglaterra, buscando Harry. Sabia que o mais lógico, o mais correto e o que Harry provavelmente queria que fizesse, era ficar na mansão em segurança até que uma saída para a situação aparecesse, mas era difícil permanecer quieta e passiva quando imaginava o que poderia estar passando.


Torcendo para que Rony e Hermione conjurassem uma solução rapidamente e rezando para que Harry estivesse bem, Gina finalmente cedeu ao sono e fechou os olhos.


No andar de baixo, no entanto, Draco não estava tendo a mesma sorte.



O fato que Weasley estava em um de seus quartos, dormindo calmamente em uma de suas camas caras e espaçosas, não estava o incomodando de forma alguma.


Não, nem um pouco. Tanto que estava de volta ao seu escritório, lendo sobre as novas taxas e sistemas de segurança em Gringotes, como se nada tivesse acontecido. Exceto que o papel tinha sem querer pegado fogo porque estava perto demais da única vela flutuante que iluminava o cômodo.



Mas aquilo não teve relação alguma com a hóspede de cabelos ruivos longos e olhos castanhos que, por um acaso, pertencia à família mais odiada dos Malfoy, era a namorada de seu maior inimigo Harry Potter e ainda por cima supostamente sua... Amiga.


Amiga? Revirou os olhos, sozinho, apagando o fogo e recuperando o papel com sua varinha. “Amiga” era uma palavra forte demais. Inimiga menos odiada? Aliada?


Sua consciência, como sempre irritante e insistente, teve a ousadia de lembrá-lo das vezes em que gostou das provocações trocadas, dos salvamentos de ambos lados e do momento em St. Mungos que ela ouviu sua confissão mais secreta e o aceitou como “amigo” mesmo assim. Seu passado não estava esquecido por ela mas... Não era motivo para sua condenação imediata. Weasley, sabendo ou não, tinha lhe dado uma segunda chance. E, por isso, Draco faria vista grossa aos seus defeitos, suas ligações indignas e idéias sobre trouxas pelo menos até que sua maldita consciência parasse de fazê-lo sentir-se em dívida com ela. Quem sabe aquele favorzinho serviria para isso.


Ainda se perguntava o que, em nome de Merlin, o havia possuído para aceitar escondê-la na mansão. Estava tão concentrado em surpreendê-la, uma forma de se mostrar superior e sempre um passo à frente dela intelectualmente, que não considerou os problemas que teria que enfrentar com uma hóspede tão... Diferente.


Não sabia como agir perto dela, para começo de conversa... Quando estavam juntos era fácil trocar provocações e passar longe de assuntos mais importantes, mas por quanto tempo suportariam a presença constante um do outro? Se começassem a falar sobre Voldemort, por exemplo (assunto que Weasley gostava de se intrometer), ou sobre trouxas e sangue-ruins, quem garantiria que não haveria azarações voando para todos os lados em questão de minutos? Draco avisara que, menos inimigos ou não, continuaria o mesmo de sempre, incluindo o pacote todo que era considerado ser preconceituoso, esnobe e arrogante.



Apesar de pensar uma ou duas vezes durante aquele mês solitário que seria divertido provocar Weasel outra vez, agora que possuía várias oportunidades estava tão acostumado com silêncio e com seus próprios pensamentos que tinha dúvidas se era capaz de agüentar a voz de gralha dela. Sua consciência outra vez lhe deu uma acotovelada atrevida, obrigando-o a não esquecer de o quanto aquela mesma voz fora sua salvação durante seus dias penosos da cela de Azkaban.


Sem contar que precisava aumentar sua tolerância à presença de outras pessoas se quisesse dar uma festa de sucesso.


O que o levava à terceira e preocupante questão: se pretendia voltar à ativa não poderia deixar que alguém descobrisse que uma Weasley estava em sua casa. Se os idiotas da Ordem não se apressassem e encontrassem (com sorte, morto) Potter era capaz de Weasley ainda estar lá no dia da festa, o que seria um desastre inimaginável.


Realmente, aceitá-la como hóspede não tinha sido muito inteligente. Precisava tomar cuidado no futuro com decisões perigosas como aquela.


Mesmo assim não se arrependia.


Desistindo de fingir que continuava lendo os relatórios sobre Gringotes, guardou os papéis na gaveta mais próxima, levantou da cadeira e, com a vela flutuante o seguindo, saiu do escritório à caminho deu seu quarto.


Passou na frente do quarto de Weasley outra vez, parando por um momento e resistindo à vontade de abrir a porta e observá-la dormindo em uma cama luxuosa. Apostava que a ruiva nunca tinha visto um quarto tão confortável e bonito em toda sua vida, estaria deslumbrada e impressionada. O momento terminou e seguiu andando, como se nada tivesse acontecido.


Não dormiu além de duas horas, como sempre. Era difícil acreditar que conseguia ainda continuar de pé depois de tanto tempo com tão pouco descanso. Uma semana atrás havia ido no hospital querendo saber se talvez a insônia constante era alguma doença ou seqüela de seus ferimentos mas o médico imbecil e de quinta-categoria receitou apenas uma poção para dormir, que falhou miseravelmente. Depois de duas vezes engolir aquela coisa de gosto de unha preta (não que Draco realmente soubesse o gosto de uma coisa dessas) e não conseguir efeito nenhum, nem se deu o trabalho de fazê-la de novo.



Continuou o resto da madrugada olhando para o teto de sua cama, tentando não pensar em Weasley e, ao invés, decidir se o convite preto passava melhor a idéia de nobreza que o verde...



Gina acordou com um susto e desorientada. Seus olhos imediatamente registraram um elfo-doméstico, expressão solene na cara e corcunda nas costas, parado ao lado de sua cama. Compreendendo enfim que estava no quarto de hóspede de uma mansão, sentou e se espreguiçou. Apesar da dificuldade inicial de cair no sono havia descansado bastante, o que era um milagre depois de dois dias terríveis.


- O café da manhã está servido – informou solenemente o elfo chamado Groger, fazendo uma reverência tão grande que seu nariz pontudo quase batia no chão.


Desacostumada em ser servida, Gina não sabia exatamente o que fazer. Resolveu assentir em agradecimento e Groger desaparatou logo em seguida. Justo naquele momento percebeu que não perguntou onde o café estava servido nem como chegar até ele. Teria que explorar a mansão um pouco, ao que parecia.


Levantou da cama, andando até as duas malas colocadas dentro do armário imponente ao lado. Tinha sorte que deixara tudo pronto antes de procurar Draco, não porque sabia que seu pedido seria aceito, mas pelo fato que era inevitável que teria que partir logo, independentemente de onde pretendia ir.



Pegou uma roupa qualquer, apenas tendo certeza que não era um par de calças muito velho ou uma blusa muito pequena, devido à falta de dinheiro para substituir as de quando era menor. Não se importava em usar coisas de segunda mão mas tinha intenção de pelo menos parecer mais sofisticada em seu primeiro dia naquela mansão enorme e luxuosa. Quem sabe para ganhar mais confiança e deixar de se sentir desmerecedora daquele lugar.


Relutantemente abriu a porta do quarto, um pé para fora no corredor intimidador. Olhou para os dois lados, como se pretendesse atravessar uma rua com tráfico intenso, e quando pareceu satisfeita pela falta de movimento saiu por completo. Tentando usar a lógica, concluiu que o café seria servido no outro andar e, assim, caminhou pelos corredores, tentando achar as escadas que desciam para o hall de entrada.


O lugar era surpreendentemente grande com corredores longos e cheios de quadros que, sem surpresa, olhavam feio para ela quando passava. Havia uma boa quantidade de quartos, talvez dez, e provavelmente outras salas também.


Mentalmente tomando nota do caminho até seu quarto, Gina achou finalmente a escadaria majestosa e desceu pelos degraus polidos, tomando cuidado para mão tocar muito em nada. Era difícil acreditar que apenas um mês atrás não havia nada ali a não ser destroços queimados e irreconhecíveis.


“Para que lado agora?” pensou, virando o rosto da esquerda para a direita, tentando se lembrar de alguma pista para escolher da direção certa. Resolveu tentar à sorte e foi pelo corredor da direita. Percebeu que havia feito uma boa escolha quando ouviu sons de talheres e panelas revelando que a cozinha estava próxima.


Encontrou Groger andando freneticamente de um lado para o outro, arrumando uma bandeja com um café da manhã completo. O elfo-doméstico parou imediatamente seu trabalho ao ver Gina entrando na cozinha, chocado com sua presença.


- O que a senhorita está fazendo aqui? Não, não, não! – repetiu várias vezes, empurrando-a na altura dos joelhos para fora.



- Eu estou meio... Erm... Perdida. Não sei onde o café da manhã...


- Siga-me, senhorita!


Sem outra opção, Gina obedeceu, seguindo o elfo até uma sala comprida com janelas até o teto que iluminavam o cômodo inteiro com a luz do sol, em seu centro estava uma mesa longa com cinco lugares em cada lado e um em cada ponta. O café da manhã estava posto com uma incrível variedade de pães, frutas, bolos e sucos espalhada cuidadosamente, esperando para ser aproveitada. Era como se esperassem que houvesse vinte pessoas na mansão, não podia ser possível que aquela enorme quantidade alimentos era apenas para duas pessoas.


Groger estalou os dedos e uma das cadeiras da ponta foi para trás, dando espaço para que Gina sentasse. Ao fazê-lo notou o jardim bem cuidado do outro lado das janelas e concluiu que Draco tinha se mantido muito ocupado desde que partira da Inglaterra e ainda por cima que fizera um bom trabalho.


Com uma certa relutância se virou para a mesa e começou a considerar suas opções... Nem tinha idéia por onde começar, havia tanta coisa de aparência deliciosa que era impossível não salivar. Nem em Hogwarts vira um café da manhã tão completo, rico e exagerado. Pelo menos lá haviam centenas de alunos para justificar a quantidade grande, ali, no entanto, não fazia o menor sentido toda aquela comida.


Groger não perdeu tempo e começou a informá-la de tudo que havia a ser experimentado e Gina reparou que fazia isso com orgulho e gosto. Talvez o elfo-doméstico se divertisse em preparar uma refeição tão farta e essa era a verdadeira razão para tanto desperdício. Imaginou o que Hermione pensaria de uma coisa dessas e abriu um sorriso de divertimento para fechá-lo logo depois, a lembrança de Harry sendo carregado e inconsciente voltando depressa acabando com seu apetite.



Era tanta coisa para ser mostrada que Groger só parou de falar dez minutos depois, um sorriso deformado no rosto narigudo. Não querendo decepcioná-lo, Gina colocou café com leite na xícara em sua frente e timidamente cortou um pedaço de torta para começar seu café.


Assim que teve certeza que Gina estava acomodada e se servindo de torta de amoras, Groger fez uma reverência um pouco apressada e pretendia desaparecer de vista quando o chamou:


- Groger, espera... Será – começou, sem saber se devia perguntar ou não. - ...Talvez... Draco já acordou?


Os grandes olhos vidrados do elfo piscaram de uma forma que a lembrou estranhamente Luna.


- Mestre Malfoy está sempre acordado – disse simplesmente antes de desaparecer com um crack digno.


Gina fitou o lugar onde tinha acabado de sumir, confusa. Talvez o elfo-doméstico não tivesse entendido a pergunta dela... Ou ela quem não havia compreendido a resposta, que não fazia menor sentido naquele momento.



Na realidade queria saber, sem parecer muito intrometida, se Draco tomaria café com ela. Um pouco frustrada pela falha na comunicação com Groger, Gina continuou tomando seu café sem muita vontade.


Infelizmente a resposta para sua dúvida foi revelada não muito tempo depois quando era óbvio, depois do terceiro e último pedaço de torta, que Draco não tinha intenção alguma de aparecer.



A neve caía devagar, tocando de leve a janela do quarto e acumulando em seus cantos, o jardim e o mausoléu cobertos por um manto branco. As grandes cortinas verdes foram abertas em um movimento quase impaciente, seu tecido pesado empurrado para os lados, fazendo com que a luz do sol, sem calor mas forte, conseguisse entrar no quarto.


- Estou acordado – anunciou secamente sem nem mesmo pensar.


Seu elfo-doméstico, no entanto, não desapareceu imediatamente como sempre fazia, ao invés permaneceu parado ao lado da cama, esperando mais alguma ordem ou então querendo perguntar algo. Draco o ignorou, assim como ignorava luz do dia quase chegando em sua cama. Sentou-se e colocou uma de suas mãos na testa, tirando fios de cabelo rebeldes do rosto fino.


A noite anterior havia sido pior do que o costume... Sentia uma leve dor de cabeça que, tinha certeza, até a hora do almoço tomaria proporções gigantescas. Mandaria Groger preparar uma poção para isso, antes que quisesse perfurar o próprio crânio de tanta irritação.


Levantou da cama, já menos incomodado com a luz vinda da janela. De pés descalços andou pelo no chão frio e foi sem pressa até o banheiro. Sua rotina matinal não possuía nada de anormal ou intrigante.



Exceto que Groger resolveu juntar coragem e se pronunciar. Draco estava abrindo a porta do banheiro e preparando-se para encarar o infame espelho quando o elfo-doméstico o interrompeu.


- Mestre Malfoy, devo preparar o café da manhã?


Draco virou para a criatura, começando a ficar irritado com sua presença prolongada no quarto.


- Você já sabe que eu tomo meu café no escritório... Se não preparou o café da manhã ainda então é realmente um inútil!


Groger automaticamente fez uma reverência em forma de desculpas.


- Mestre Malfoy, pensei que talvez...


- Talvez o quê? – perguntou, irritado.


- Com a hóspede aqui...


Draco piscou duas vezes, considerando o peso das palavras do elfo-doméstico. “Ele está pensando na Weasley.”



- Claro que você vai preparar o café da manhã para ela! – gritou, tentando esconder que tinha esquecido completamente que Weasley se alimentava. Nunca tinha considerado o fato que teria que cuidar dessas... Trivialidades.


- Sim, mestre Malfoy, como o senhor desejar – fez outra reverência. – O mestre talvez... Irá se juntar à ela?


Se Draco tivesse comendo algo teria se engasgado. Definitivamente. Ele tomando café com ela? Não. Seria estranho demais... Draco ultimamente não tomava café em primeiro lugar... E em segundo... Bem, ela era uma Weasley!


- Não. Traga uma bandeja com alguma coisa no escritório do... No meu escritório.


Groger tornou a reverenciar e desapareceu.



Ficou sem ação por um tempo considerável, sua mente finalmente percebendo as repercussões de sua decisão em abrigar Gina em sua mansão. Será que esperava ele lhe fizesse companhia? Que queria que falasse o quanto Potter era lindo, maravilhoso e provavelmente acabaria tudo bem? Um ombro amigo e toda aquela baboseira que idiotas da Grifinória gostavam?


Revirou os olhos, decidindo que não faria nada daquelas coisas idiotas. Não! Nem pensar! Não mudaria sua rotina por causa dela. Mesmo se sua consciência idiota lhe suplicava para pelo menos não ignorar Weasel totalmente. Mas o que sua consciência sabia, de qualquer jeito?


Abriu a porta do banheiro e fitou apenas um por um segundo seu reflexo no espelho, mais preocupado em imaginar Weasley comendo sozinha e aos prantos por Potty cabeça de abóbora, molhando toda a toalha de linho da sala de jantar.


Naquele momento esperava que Potter estivesse sendo torturado... Por um especialista em torturas chinesas daquelas que envolviam palitos pontudos debaixo das unhas, arranhões de lousas e sanguessugas africanas do tamanho do dedão do pé de Umbridge.


Com essa imagem satisfatória em sua mente desceu para seu escritório, evitando prontamente a sala de jantar e passando a manhã analisando os números das exportações de essência de murtlap, um negócio em que os Malfoy investiam há muito tempo.




Gina não sabia o que fazer. Depois de terminar seu café toda a mesa foi limpa magicamente, como se nunca tivesse oferecido aquele banquete, e agora não tinha a mínima idéia de como passar seu tempo.


Para não ficar sentada lá como uma idiota, e já que não tinha muita opção, voltou para seu quarto até que outra idéia lhe viesse à mente.


Nem Draco nem Groger apareceram e estava se sentindo um tanto abandonada. Eles esperavam que agisse como a dona da casa ou algo parecido? Não conhecia nada da mansão e a educação de seus pais não a deixava sair andando e entrando em qualquer sala de uma casa que não lhe pertencia. O que não era necessariamente verdade, porque Gina tinha tendência a ser se meter onde não era chamada, mas se tratava da mansão Malfoy e não a casa da vizinha trouxa.


Nem Grimmauld Place era tão intimidadora quanto aquele lugar. Se ao menos Draco resolvesse aparecer e lhe mostrar a mansão... Mas o idiota resolvera ignorá-la totalmente durante a manhã toda!


Estava extremamente irritada com ele e na primeira oportunidade mostraria isso para o arrogante imbecil!



Bufou, andando para perto da janela de seu quarto e olhando a paisagem sem interesse algum no que via. Estava frustrada com tanta coisa que era difícil saber por onde começar a reclamar.


Sabia que era irracional acreditar que Rony e Hermione já haviam formulado um plano para salvar Harry quando fazia apenas dois dias que tudo havia acontecido e mesmo assim tinha esperanças. O problema era que não tinham idéia de quem eram os bruxos que atacaram Harry e ela e nem a razão do ataque.


As máscaras que cobriam seus rostos não podiam ser relacionadas aos Comensais, podiam?


Sentiu um pequeno arrepio só de pensar na possibilidade que talvez... Mas não... Era impossível. Estavam todos em Azkaban, com exceção de Bellatrix (que estava morta) e... Draco.


“Confio nele... E isso não vai mudar agora”, pensou, mesmo que uma ponta de dúvida insistisse em permanecer no fundo de sua mente. “Quem quer fossem aquelas pessoas estavam tentando se parecer com Comensais por alguma razão. E a prova disso é que não nos mataram, Comensais não perderiam a chance de se vingar de Harry.”


Mas logo que pensou nisso veio lhe outra explicação, uma bem mais sinistra e preocupante. Talvez eles não matariam Harry naquela hora, não sem antes se vingarem, torturando-o...



Fechou os olhos, tentando não pensar nele sofrendo enquanto ela dormia em uma cama gigante na mansão de alguém que tanto odiava. O que não daria para descobrir se Harry estava bem! O que não faria para salvá-lo!


- Não adianta nada ficar aqui, sentindo pena de mim mesma! - murmurou sozinha e abrindo seus olhos. – Tenho que arranjar alguma coisa para fazer.


E foi o que fez. Saiu do quarto e resolveu que não ficaria dependente dos humores mimados de Draco Malfoy, exploraria a mansão por conta própria e seria culpa dele se encontrasse alguma sala secreta ou objeto de Magia das Trevas que explodisse metade da casa.


Não havia muita coisa que ver no andar de cima, onde basicamente só estavam os quartos e todas as portas estavam trancadas, então desceu as escadas. Notou pela primeira vez uma porta dupla grande entre as duas escadas principais e a abriu para encontrar um enorme salão oval com um teto enfeitiçado assim como o de Hogwarts, ou pelos algo próximo, porque o céu acima dela estava escuro e estrelado mas sabia que na realidade o de fora estava cinzento e ainda era de dia. Mas não era apenas isso: havia um lustre dourado gigante e extremamente luxuoso onde fadas dormiam como passarinhos empoleirados e quatro portas à sua volta. O chão era de mármore e refletia quase perfeitamente o teto, o que lhe deu uma sensação de estar flutuando. Em cada parede havia tochas apagadas que provavelmente enchiam o salão de luz quando houvesse necessidade.


Apesar de ser um salão lindo Gina não se sentiu confortável e imaginou que jamais gostaria de uma festa que fosse feita ali. Era muito grande, pomposo e arrogante para ela. Provavelmente sentiria como uma sereiana fora d’água.


Abriu uma das quatro portas e deu de cara com um corredor escuro (o que não foi muita novidade, todos os corredores eram assim naquela mansão), onde encontrou mais cômodos para explorar. O primeiro, para sua decepção, foi um armário vazio e cheio de teias de aranhas. O segundo e terceiro foram uma biblioteca e uma sala de leitura ligadas por uma porta. E a última porta do corredor a levou para outro que reconheceu como sendo o que dava para a cozinha, sala de jantar e conseqüentemente de volta ao hall de entrada.


Retornou ao salão de festas, usando-o como referência para não se perder, e escolheu outra porta, diretamente oposta à primeira. Para sua surpresa encontrou uma enorme varanda que dava para o jardim da parte de trás da mansão, estava frio e nevando então preferiu voltar para dentro, apesar da curiosidade de se aproximar de um mausoléu não muito longe dali.



A terceira porta se mostrou muito mais interessante que a primeira, devido à história recente de Gina. Encontrou, não muito para seu prazer, a porta que levava para o porão profundo onde havia sido presa por Bellatrix não há muito tempo atrás. Não demorou muito para achar a sala onde deixara Draco para trás, não se surpreendeu em seu estado rejuvenescido e nada parecido com as ruínas de madeira queimada que testemunhou na ocasião. Era uma pequena sala de estudos meio sombria mas ao mesmo tempo aconchegante em um jeito estranho, talvez por existir ainda um certo toque feminino ou então pelo fato que os únicos quadros pendurados ali eram de paisagem bucólicas e quadros de flores.


Não ficou muito tempo observando o cômodo, no entanto, preferindo voltar à sua exploração do resto da casa. Finalmente encontrou Groger, limpando a tapeçaria empoeirada da sala de visitas onde na noite anterior Rony e ela esperaram por Draco. O elfo-doméstico não lhe deu atenção e continuou seu trabalho.


Aproveitando a única oportunidade de ter uma conversa em voz alta com alguém, Gina tentou falar com ele, perguntando sobre a mansão, sobre o tempo... Até mesmo sobre a tapeçaria sem graça de onde tirava poeira. Groger ainda sim não lhe dirigiu a palavra e sua paciência começou a se esvair, mas pelo menos não murmurava sozinho, como Kreacher.


Preferiu ir embora antes que gritasse com o elfo-doméstico e correr o risco de receber um berrador furioso de Hermione.


A manhã terminou com sua descoberta do salão de música, aquele em que pulou da janela com Harry e viu explodir e desaparecer. Se o salão de festas era presunçoso e imponente o de música era suave e gentil, como uma brisa em dia de verão. As janelas grandes que iam do teto ao chão o iluminavam de tal forma que mesmo a luz fraca do sol de inverno o deixava alegre.


O piano de cauda era o foco do aposento e apesar de Gina não conhecer nada de música a não ser As Esquisitonas e Celestina Warbeck ainda sim ficou com uma vontade incrível de tocá-lo. Chegou até a levantar a tampa e encarar as teclas brancas e pretas com uma curiosidade de menina de quatro anos.


Seu mau-humor dissipou-se ao bater em uma ou duas delas, sem fazer qualquer música mas se divertindo mesmo assim. Esquecendo, por um momento, que estava em uma casa bem diferente d’A Toca, Gina pegou sua varinha e enfeitiçou o piano para que tocasse o hino do Canhões de Chudley. Não deu muito certo e o resultado foi mais uma barulheira terrível do que uma música.


- Weasel! O que pensa que está fazendo?


N/A: Só avisando que essa fic é mais parada em termos de trama porque é basicamente só interação entre Draco e Gina... E provavelmente vai ser mais curta que Falsos Heróis. Muito obrigada pelas reviews! Gente, quanta review! Assim eu fico mau acostumada, risos. AH! Quem viu Bela e a Fera lembre de onde os dois dançaram! É assim que eu imaginei o salão de festas da mansão Malfoy mas menos azul e mais escuro. E sorry se o passeio de Gina foi meio chato mas eu precisava apresentar a mansão para vocês, afinal é onde 90% da fic vai se passar ;P


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