Tempo
Capítulo 11 – Tempo
Ele não desistiu. Afinal, como conseguiria depois daquele pedido tão... Suplicante? Pro inferno com sua dignidade, não é mesmo? Se foi rejeitado duas vezes, por que não uma terceira vez? E uma quarta... Quinta e sexta. Manteve contato com ela por algumas cartas durantes as primeiras semanas, nada pessoal ou romântico, mais para notícias dos filhos e conversa fiada. Ele não ousou mencionar encontros e ela pareceu não se importar. Por um tempo. Até ela ousar dar o primeiro passo.
No momento, estava sentado na frente da escrivaninha tentando desesperadamente respondê-la da melhor forma possível. Batia sua pena contra a mesa, amassando mais uma versão sem sucesso da carta e jogando no lixo mais próximo. Sabia que ela queria uma resposta positiva, porque a provocação era clara. A questão era: como escrever a coisa certa?
- O que você está fazendo? - era a voz da filha, entrando no escritório, saltitante.
Moira se aproximou, ficando na ponta dos pés para ver o que ele fazia.
- Escrevendo uma carta.
- Pra quem?
- A mãe do James.
A menina sorriu, indicando que sabia de algo que ele não estava sabendo. Draco a fitou, se perguntando o que ela estava tramando e se devia perguntar.
- O que ela quer?
- É uma boa pergunta.
Moira se esforçou para levantar mais, espiando o começo da carta. Draco não passara da primeira linha com um “Aqui está tudo bem, Moira continua insistindo que eu a ensine a fazer bolo de chocolate e as dicas que você me deu semana passada não tiveram graça...”. Ao lado estava a carta de Gina, esperando pacientemente ser respondida. E na última linha jazia o motivo de seu estresse: “Por mais que a palavra escrita seja charmosa, ao vivo sempre é melhor não acha?”.
- Por que você não convida ela para fazer o bolo? - Moira sugeriu depois de um tempo de consideração.
Draco a olhou surpreso, se perguntando por que não tinha pensado naquilo antes, afinal, era um modo de convidá-la para sair sem a pressão de sair, sair. Passar um tempo na casa dele cozinhando e ensinando Moira a fazer bolo não parecia tão intimidador. Inspirado, terminou a carta em cinco minutos, a filha na expectativa, ao lado dele. Enviou logo depois por coruja.
- Podemos ir agora? - ela perguntou, ansiosa para ganhar seu presente há muito prometido.
Algumas horas depois, estavam de volta na mesma loja de animais do Beco Diagonal que visitaram há tanto tempo com Gina e James. Ao entrar, ele se lembrou da discussão que teve com ela, sobre o passado e a guerra e como ela o “perdoou” tão fácil quanto levar o filho para comer doces. E, de repente, estava sorrindo sozinho. Estranho como mesmo brigando eles deram bem.
- Ah bom dia, vieram ver os filhotes? - a dona da loja apareceu, os cumprimentando.
- É.
De imediato a mulher fechou a cara, chateada. Moira estava a semana inteira ansiosa para visitar os gatinhos, e fizera Draco prometer comprá-los como presente para comemorarem que agora ela morava com ele.
- Infelizmente... Eles foram comprados ontem.
Os olhos de Moira se arregalaram. Draco fechou os olhos, irritado.
- Todos eles? Quem ia querer sete gatos?
- Bem... Na verdade sobrou um.
Moira já estava correndo para a parte de trás da loja, preocupada que se não corresse o último gatinho fosse ser levado também. Draco e a lojista a seguiram, relutantes. Numa cesta grande estava um único gatinho solitário se lambendo e parecendo extremamente triste. Ele miava fracamente, como se procurasse algo. Era quase todo branco se não fosse pelas manchas pretas no rosto. Moira se abaixou e quase o pegava com sua mão quando a lojista a parou.
- Não! Ele não é amigável. Na verdade, a moça não o comprou porque ele a arranhou no braço!
Draco encarou a filha, curioso. Moira não pareceu assustada, na verdade estava concentrada no gato, o estudando com o olhar.
- Eu também costumava chutar canelas e aí minha mãe me deixou sozinha com o meu pai.
Ao ouvir aquilo, Draco arregalou os olhos e guardou o sorriso. Quase se abaixou para pegar a filha no colo, mas antes que pudesse, ela continuou a explicar.
- ... Só porque ele arranhou alguém não quer dizer que ele é mau. Só assustado e solitário, né? - ela sorriu e se virou para o pai. - Posso levar ele?
A lojista também o encarava com um pedido silencioso para ele negar, afinal tratava-se de um gato violento e não recomendado para ser bichinho de estimação de uma criança pequena.
- Pode. Vamos ficar com ele.
Moira pegou com cuidado o gatinho e gentilmente o abraçou. O bicho reclamou por um tempo até sentir que não corria perigo e então começou a ronronar satisfeito com o carinho da nova dona.
- O gato precisa de um nome – Draco anunciou para a filha, quase não querendo interromper uma cena tão meiga.
- Hmm... Thor, o destruidor! Guardião das trevas!
Draco levantou uma sobrancelha, mas acabou sorrindo. Quem se importa com nomes de bichos de estimação? Moira estava feliz e por conseqüência ele também. Uma pena que Gina não era fácil de agradar assim, sua vida seria menos estressante.
Ah bem, não se podia ter tudo no mundo.
Gina mal acreditava que estava de novo na frente da porta da mansão Malfoy, da última vez que tinha entrado dentro daquela casa cometera um erro muito estúpido (que estranhamente não se arrependia de ter cometido). E tudo para ajudar a fazer um bolo.
Ou melhor, aparentemente apenas para fazer um bolo, mas todos os envolvidos sabiam que não se tratava só disso. Não, na verdade todo o seu relacionamento, amizade ou que quer que fosse que ela tinha com Draco estava em jogo. James havia nomeado o bolo como “Bolo Oficial do Primeiro Encontro” e tinha se recusado a comparecer com ela (apesar de Gina ter suplicado). Estranho como James parecia saber de algo e ela não, que segredo o filho dela escondia?
Suspirando, ela bateu na porta, esperando alguns minutos até ser atendida. Moira apareceu sorrindo e com um vestido típico cheio de bordados e “frufrus”, só que também usava por cima um avental escrito “Princesa Cozinhando!” com coraçõezinhos e gatinhos desenhados. Gina sorriu.
- Ah Moira! Tudo bem? Pronta para fazer um bolo delicioso?
- Aham!
Moira a levou até a cozinha onde Gina teve a surpresa de encontrar Draco em roupas trouxas (“O que em nome de Merlin ele acha que está fazendo usando shorts, botas de esquiar e uma regata?”) com um avental enorme com o escrito “Cala a boca e come!”. Teve que segurar a risada, e só conseguiu porque ainda estava nervosa com o suposto “primeiro encontro”. Draco percebeu, no entanto, o que ela estava pensando e de imediato ficou de mau humor.
- O que está olhando? - perguntou, de braços cruzados.
- Nada – ela respondeu, fingindo inocência. - B...Bonita cozinha.
- Não quero sujar minha roupa normal, ok? Da última vez que tentamos isso ficaram tão sujas que joguei fora!
Não conseguiu segurar mais. A risada escapou sem querer e Draco ficou um pouco vermelho. Pelo menos agora ela sabia que ele estava nervoso também!
- Roupa idiota... - ele murmurou enquanto pegava uma panela.
Moira puxou a saia de Gina, querendo atenção.
- Ele 'tá assim bravo porque não queria ficar feio pra você. Ficou meia hora reclamando que parecia um sem teto.
- Ah... Entendi – sorriu, respondendo em voz baixa.
Andou até perto dele e começou ajudá-lo nas preparações. No entanto, a cada ação os dois estavam mais preocupados em se observar do que prestar atenção no que faziam. E o inevitável aconteceu: ela foi pegar uma tigela em um dos armários de cima e ele foi em busca da mesma louça, concluindo numa proximidade perigosa. Nariz com nariz, rostos próximos, mãos quase tocando a tigela ao mesmo tempo, ele reparou no decote dela: o que a irritaria se não fosse o fato de que estava mais ocupada notando que a regata trouxa mostrava a definição dos músculos dos braços dele...
Enfim, os dois decidiram se afastar da tigela, esquecendo da peça completamente.
- Obrigada pelo convite – Gina balbuciou, tentando arranjar algo para quebrar o clima.
- Eu tinha que compartilhar meu sofrimento com alguém.
Ela riu.
- De nada.
Draco abriu um meio sorriso, sabendo que ela queria dizer que ele estava gostando do tempo que passava com a filha, roupa destruída ou não. Ficaram alguns segundos em silêncio, sorrindo um para o outro que nem dois idiotas. Até Draco limpar a garganta e se virar para o outro lado, procurando algo no armário vizinho.
- Ovos, precisamos de ovos... Não é?
- E farinha também – foi a vez dela se virar.
Depois de alguns minutos todos os ingredientes e ferramentas estavam dispostos em ordem na mesa da cozinha. Os três orgulhosos de sua primeira e pequena vitória contra o bolo de chocolate. Gina puxou as mangas das vestes que usava.
- Certo, então vamos começar!
- Não! Falta uma coisa – Moira interrompeu, saindo correndo da cozinha.
Gina olhou com curiosidade para Draco, que apenas deu de ombros. Rapidamente a menina voltou apressada, trazendo um avental dobrado nas mãos. Gina arregalou os olhos de surpresa.
- É para você! Eu que escolhi.
Ela pegou o avental e o abriu para vestir, reparando na frase “Kiss the Cook” (Beije o(a) cozinheiro(a)) com coraçõezinhos em volta. Suspeitava que Moira tinha escolhido a roupa mais pelos coraçõezinhos do que pela frase, mas talvez Draco tenha aceitado dar a ela o presente mais pela frase mesmo. Sorriu.
- Muito obrigada! Adorei – ela agradeceu enquanto vestia o avental.
Moira virou satisfeita para o pai, como se mostrasse “Eu estava certa, viu?”.
Agora pronta para enfrentar a sujeira e proteger suas vestes, Gina começou a preparar o bolo, designando tarefas para os dois Malfoy de acordo com suas habilidades. Moira ficou encarregada de quebrar ovos na farinha, enquanto Draco preparava a cobertura. Viu que o dom para a culinária não era algo que aquela família possuía. Moira não quebrava os ovos, ela os destruía com intensidade demoníaca e Draco demorou quase quinze minutos tentando ligar o fogão, para depois quase se queimar, resmungando sem fim depois. No final da primeira etapa, o bolo estava quase perdido e Gina foi obrigada a ensinar passo a passo novamente para eles.
- Moira, você só precisa bater de leve o ovo contra a tigela assim. E depois abri-lo com delicadeza dentro. Mas com cuidado – explicou fazendo uma vez para mostrar como era.
A menina ficou um pouco decepcionada que não podia mais estraçalhar os ovos, mas se conformou, aprendendo rápido como quebrar da forma correta. Infelizmente, o pai dela não era o melhor dos alunos e Gina sofreu um pouco para ensiná-lo a bater a massa. Quando chegou perto dele, Draco ameaçava a massa com sua varinha.
- Não! Draco, você por acaso tem alguma habilidade com feitiços domésticos? - ela o parou, pegando a varinha da mão dele e a tirando de seu alcance.
- Eu ia descobrir em breve. Vamos lá, devolva que eu acabo com esse bolo em cinco minutos.
- Não. A graça é ensinar o modo trouxa, se não como Moira vai ganhar habilidade para fazer poções mais complicadas?
- Mas eu já sei como fazer poções complicadas.
- Se quer ensinar sua filha, precisa ser um bom exemplo. Agora pare de agir como uma criança.
Ele levantou o nariz, indignado. Passando a tigela para ela.
- Então faz você.
- Vamos fazer juntos. É muito fácil.
Gina agiu automaticamente sem pensar nas conseqüências, porém em alguns instantes depois, estas ficaram bem claras. Devolveu a tigela para Draco, se posicionou ao seu lado, mas quase na frente e pegou uma das mãos dele gentilmente o fazendo apanhar a colher de madeira para mexer.
- Agora você faz movimentos circulares com força, mas lentamente.
Com sua própria mão o fez mexer a massa da forma descrita. Estava concentrada demais no começo para reparar na posição que se encontravam. Aumentou a velocidade do movimento e cada vez a massa de farinha, chocolate e ovos se misturavam mais, se tornando uniforme.
- Aí você continua assim por um bom tempo, o braço se cansa, mas o bolo vai ficar ótimo. Viu como é simples?
Draco só respondeu com um resmungo, afetado mais com a posição que estavam do que com a massa. E a forma como ele respondeu acabou acordando Gina para o fato também. De repente, ela podia sentir a respiração dele perto de seu pescoço, cada músculo dos braços dele perto dos próprios finos. Porém, pela primeira vez resolveu aproveitar um pouco a posição, em vez de imediatamente cortar o contato.
- Quem diria, você aprende rápido – ela comentou qualquer coisa para distraí-lo do momento, porque não queria que ele resolvesse se afastar.
- Eu sou um bom aluno. Mas a professora a ajuda – respondeu perto demais do pescoço dela.
Ela deixou escapar uma risada nervosa. Talvez não conseguisse manter aquele estado por muito mais tempo afinal...
- Agora você continua assim por mais uns dez minutos! - Gina explicou largando a mão dele e se afastando.
- Dez minutos?! Isso é algum tipo de tortura?
- Ora vamos, você é jovem e forte! Pode agüentar.
Draco resmungou um pouco, mas o elogio pareceu surtir efeito e ele continuou com sua tarefa enquanto Gina ensinava Moira a preparar a forma do bolo.
Quando o bolo estava no forno, o trio resolveu descansar e se limpar (Moira preferindo lamber os dedos a lavar as mãos). Depois de um tempo de espera a menina se frustrou com a demora e decidiu que passar o tempo com seu novo gatinho era mais interessante do que insistir em perguntar “Já está pronto agora?” e irritar o pai. O que deixou os dois sozinhos, sentados à mesa da cozinha.
- Então... Alguma novidade? - Gina tentou.
- Nada do que eu já não contei nas cartas.
- O gato é novo.
- Verdade. Compramos uns dias atrás. Ela não tirou da cabeça que queria um bicho desde que fomos no Beco Diagonal.
- Não fico surpresa. E Pansy?
- Que tem ela? Ainda está na França, se casando ou o que quer que seja.
- Mas como ficou combinado o tempo que Moira passa aqui?
- Feriados Moira fica com ela. O resto do ano é aqui mesmo – explicou, um tom de orgulho por ter conseguido aquela vitória.
- Que bom! E ela vai para Hogwarts?
- Claro.
- Então vai ser colega do James!
- Mas ele não é um aborto? - riu Draco.
Gina fez careta, batendo de leve contra o ombro dele.
- Não! E mesmo que fosse... Qual o problema?
- Nenhum. Só que ele não iria para Hogwarts se fosse o caso.
Gina revirou os olhos. Ficaram em silêncio por um tempo, observando o forno onde o bolo assava. Ela tinha que admitir que fora os contatos de primeiro grau acidentais, estava se divertindo e o nervosismo passara por completo.
- Obrigada.
- Pelo que?
- A sua idéia de cozinhar aqui. Foi ótima. Atendeu meu pedido e não desistiu, mas também não insistiu, entende? Sem pressão.
- É bem... A idéia foi de Moira na verdade – confessou, mas depois acrescentou algo para mostrar que em parte ele fora responsável. - Mas eu podia ter recusado.
Gina riu de leve.
- Moira? Nossos filhos se saem bem melhor nisso do que nós.
- Por quê?
- James foi quem sugeriu para Moira que cozinhar é o mesmo que preparar uma poção. Não duvido muito que preparar esse encontro foi o plano deles desde o começo.
Draco arregalou os olhos.
- Não acredito...
- Ah não fique irritado. Afinal deu certo não?
Ele bufou em resposta, mas se acalmou.
- Quando sabemos que chegou o momento? - ele perguntou, de repente.
- Uh? Como assim... Momento de quê?
Por um breve momento ela achou que Draco perguntava sobre o relacionamento dos dois, mas felizmente estava errada.
- O bolo. Quando sabemos se está pronto?
- Ah... - olhou para o relógio de parede. - Na verdade, mais uns cinco minutos e já deve estar bom.
- Já? Que fácil. E pensar que da última vez conseguimos explodir a cozinha.
Gina soltou uma risada alta. Enquanto estava distraída ele pegou sua mão de leve. A risada foi parando aos poucos enquanto ela virava para o encarar. Esperou que ele falasse o que queria, mas ele apenas sorriu.
- O que foi?
- Se eu falar, você vai sair correndo por essa porta e nunca mais voltar – respondeu rindo.
- Agora fiquei mais curiosa.
- Fica para uma próxima vez.
Estava prestes a questioná-lo mais quando Moira entrou correndo, com gatinho nas mãos.
- Thor exige bolo agora mesmo! - pediu, levantando o gato na cara de Draco.
- Pois diga ao Thor que o bolo ainda não está pronto.
- Ele está na sua frente, papai, fale você mesmo. Olha a educação!
Draco balançou a cabeça, desconsolado, enquanto Gina ria.
Acompanhou Gina com olhar, enquanto se afastava da mansão Malfoy, levando dois pedaços de bolo de chocolate, os únicos que conseguiram salvar do apetite demoníaco de Moira e apenas porque a avisaram que eram para James.
Ele quase falou. Quase escapou de seus lábios algo que provavelmente estragaria o momento e assustaria Gina. Mas felizmente se segurara antes que causasse mais problemas entre eles.
Felizmente ou infelizmente?
Suspirou e entrou na mansão.
James engoliu o pedaço de bolo quase inteiro, enchendo sua boca de chocolate até o céu. Por alguns instantes batalhou contra o pedaço grande demais, o mastigando enquanto observava sua mãe suspirar e cortar o próprio pedaço sem pressa. Estava decepcionado com o resultado do encontro. Suas expectativas envolviam sua mãe voltando feliz e com boas notícias. Ao invés, lá estava ela olhando o nada e mal comendo o delicioso bolo de chocolate que trouxera! O que o pai da Moira tinha feito de errado?!
- Não vai comer o seu, mãe? – questionou, quando terminara de comer.
- Não, James... Se quiser, pode comer.
Decepcionado com a falta de ânimo dela, arrastou o prato para o seu lado da mesa, comendo o segundo pedaço com igual rapidez.
- O que foi? – tentou.
- Nada – ela respondeu com um sorriso.
James não se convenceu, mas não sabia o que podia fazer para ajudar. Não conseguia entender o que ela pensava e isso o frustrava. Desde que se lembrava, sua mãe sempre fora sua melhor amiga, e se gabava de conhecê-la muito bem e trocarem segredos. Seus primos não tinham isso. Mas agora... Por que ela estava tão triste?
- Foi ruim passar o dia com eles? – mais uma vez arriscou.
Ela suspirou, mas depois sorriu.
- Não, não! Claro que não. Me diverti muito.
- Então porque ‘tá tão desanimada?
- Acho que cometi um erro.
James franziu a testa, mais confuso ainda.
- O bolo ‘tava ótimo! O que deu errado?
Ela riu devagar, mas não respondeu, o deixando mais preocupado ainda. Terminada a refeição James saiu para brincar com seus avós, e teve que admitir, esqueceu por um bom tempo dos problemas de sua mãe. Seu plano não dera certo, mas não significava que os próximos não dariam.
O tempo passou e, apesar de se encontrarem várias vezes, nem Draco nem Gina tentaram derrubar a barreira invisível que ela tinha criado entre eles. Passaram a ser vistos como bons amigos, mas nada mais.
Felizmente ou infelizmente? Gina não sabia. No fim, nenhum teve coragem de arriscar.
Três anos depois, deu mão para James enquanto atravessavam uma rua agitada de Londres, indo até a estação King Cross. Não vira James tão animado desde que ganhara a vassoura de Draco. Ela, no entanto, estava nervosíssima. Queria que tudo desse absolutamente certo. Principalmente porque já estavam muito atrasados! Correram pela estação até chegar à plataforma ¾, o malão de James balançando perigosamente no carrinho de mão.
- Está pronto? – perguntou para o filho. – É bem fácil. Só atravessar direto pela parede.
- Eu sei mãe! – revirou os olhos. – Já me disse isso um milhão de vezes.
- Me dê a mão – pediu.
Suspirando James lhe deu, segurando com a outra seu carrinho. A parede ficou cada vez mais próxima até ser substituída pela plataforma familiar e o trem soltando fumaça. Como sempre o lugar estava lotado de famílias, malões e bichos de estimação. O resto das crianças Weasley já estava embarcando, Rony e Hermione ainda os esperando.
- Gina, por que demorou tanto? Quase todo mundo já entrou!
- Rony, o táxi trouxa ficou parado no trânsito, ok? – retrucou.
- É nada... Atrasamos porque ela ficou me abraçando a manhã toda – reclamou James, para a vergonha dela.
Hermione riu, a filha de 4 anos no colo. Gina tinha inveja dela, às vezes. Ainda demoraria 7 anos até que eles passassem por aquele dia. Ir para Hogwarts significava passar quase o ano inteiro longe e Gina não se lembrava de um único dia inteiro longe de James. O casal resolveu cumprimentar Neville e deixaram mãe e filho sozinhos, novamente.
- James...
- Hmm?
- Você vai adorar Hogwarts – sorriu.
- Eu sei! Será que vou entrar para o time de Quadribol no primeiro ano que nem o papai?
- Quem sabe... Se você não se meter em encrencas!
James riu.
- Finalmente vou poder usar a vassoura!
A menção da vassoura a deixou um pouco chateada. Ao mesmo tempo lembrou que Moira e Draco estavam provavelmente por perto e começou a olhar em volta para achá-los. Porém, Moira os encontrou primeiro... Ou melhor, foi Thor quem o fez.
O gato estava correndo pelas pernas de todos até que parou ao encontrar a de James, miando em reconhecimento. James o pegou no colo, acariciando sua cabeça.
- Ei garoto. Cadê sua dona?
Mal falara e Moira já estava correndo na direção eles, bochechas vermelhas e expressão de irritação no rosto.
- Thor! Merlin como você é desobediente! Parece que não foi criado por uma dama! – advertiu, marchando até eles.
- Ei Moira! – James a cumprimentou, lhe passando o gato. – Acho que ele estava com saudades de mim.
- Humph! Saudades ou não, má educação não é apropriado!
- Má educação? Olha quem fala, nem me cumprimentou! – ele retrucou.
Moira ficou mais vermelha ainda.
- Não por isso! Olá Sr. James Potter!
Gina riu, contente em ver a menina novamente. Moira a abraçou de imediato, contente também em revê-la.
- Gina! Finalmente encontrei você! Queria falar sobre...
Mas Moira ficou quieta assim que viu Draco ao seu lado, sério.
- Moira, vai perder o trem desse jeito.
- Foi culpa do Thor...
- Sim, como foi culpa dele você não aparecer no chá beneficente...
- Mas foi! Ele sumiu no jardim e ia chover.
Draco revirou os olhos e então se voltou para James, colocando a mão na cabeça dele e bagunçando ainda mais o cabelo dele.
- E ai cabeçudo. Pronto para perder para a Sonserina?
- Ha! Nem pensar! Vou trazer a taça da Copa das Casas, com certeza!
- Infelizmente não tenho dúvidas – Draco riu.
Gina se manteve quieta enquanto os três interagiam. Tinha visto Draco um mês atrás no tal chá beneficente, mas novamente nada acontecera. Ultimamente só sentia arrependimento de tê-lo afastado, mas ao mesmo tempo tinha certeza de que para ele já não importava mais. Afinal, aparecera com uma tal de Astoria debaixo do braço durante a festa e mal lhe dirija a palavra, a não ser para conversa fiada.
- Prontos para ir? – Draco de repente disse, interrompendo a conversa.
- Já?
- O trem vai partir. Quer chegar atrasada e perder o banquete?
- Mas nunca! – Moira anunciou, pegando Thor e sua bagagem rapidamente e correndo para entrar no trem enquanto Draco ria da gula da filha.
James ia fazer o mesmo, mas Gina o segurou.
- Ei, não antes de se despedir! – disse se abaixando e pedindo um beijo na bochecha.
- Mãe! Vou me atrasar... – reclamou, mas mesmo assim lhe deu o beijo e a abraçou forte. – Vou escrever não se preocupe!
- É melhor mesmo!
E lá se foi James, subindo no trem atrás de Moira. Sentiu um aperto no coração, mas estava orgulhosa do filho. Continuou encarando os trilhos mesmo depois de muito tempo da partida. E por todo esse tempo, Draco permaneceu do seu lado, em silêncio.
Suspirou e virou para ele.
- Ele cresceu tão rápido. É injusto.
- Algum dia tinha que largar das saias da mãe, não acha? – Draco retrucou, lhe dando as costas e caminhando em direção à saída.
Gina o seguiu mesmo assim. Por algum motivo se viu compelida a irritá-lo, principalmente porque a tinha ignorado até então.
- Não trouxe Astoria hoje?
- Ela está me esperando lá fora.
Foi como levar um tapa. Mas concluiu que merecia. Três anos era tempo demais.
- Entendi – abaixou os olhos. – Não respondeu a minha última carta, sobre o jogo de Quadribol. É essa sexta.
Ele tinha as mãos no bolso e parecia tão relaxado que ela queria lhe dar um soco na cara!
- Sexta?
- É. Achei que quisesse ir.
Ao menos teve a decência de parecer considerar o convite, mas Gina já imaginava a resposta.
- Não... Quem sabe uma outra vez.
- Certo.
- Ah, mas não desista tão fácil de mim, ok? – ele riu em tom irônico.
Ela forçou um sorriso, se perguntando se tinha dito aquilo de propósito. Três anos realmente era muito tempo. E a única culpada era ela.
Sorry a demora... Aqui vai uma prévia do próximo capítulo:
Capítulo 12 – Sonserina versus Grifinória
Moira passou correndo pelo Salão Principal, ignorando o café da manhã delicioso que a esperava. Ao invés enrolou descuidadamente um cachecol pelo pescoço e saiu do castelo para o pátio coberto de neve. Tinha em mãos uma carta e queria compartilhá-la com James, porém, como sempre ele estava treinando então teve que avançar até o campo de Quadribol no frio, o que não ajudou para a melhoria de seu humor. Para piorar, James não estava sozinho.
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