Convites e propostas

Convites e propostas



Capítulo 10 – Convites e propostas




Batia seus dedos contra a madeira, nervoso. Um mês de preparação não havia feito diferença, estava suando frio. Pansy ignorava os movimentos dele olhando para todas as direções, menos para onde Draco estava. Mas ele sabia que ela também estava com os nervos à flor da pele. Ambos, sentados lado a lado nas cadeiras no centro da corte esperavam a decisão do Winzengamot quanto à guarda de Moira.


Draco arriscou olhar rapidamente para trás, onde sua ex-sogra e Moira estavam sentadas na platéia. Sua filha estava mastigando a bochecha, inquieta, mas quando seus olhares se cruzaram, ela abriu um sorriso incerto. Ele tentou parecer confiante e sorriu também.


A verdade era que tinha sido um massacre e Draco duvidava que qualquer pessoa em sã consciência desse a guarda para ele. Virou para o outro lado, onde Weasley estava sentada sozinha e com expressão preocupada. Estava concentrada demais em fitar a porta da onde os bruxos do conselho estavam para notar que ele a encarava.


Que surpresa havia sido. Ela viera mesmo depois do incidente constrangedor. E ainda mais incrível era que dera um depoimento positivo sobre ele. Confessava que quando mandou uma carta pedindo a presença dela na corte tinha certeza que ela não apareceria, mas felizmente estava enganado. Tirando a carta, não se falavam há um mês, mas se tudo desse certo corrigiria aquele erro em breve.


Não sabia o que falar, não sabia como agir. Era estranho como a presença dela servia de conforto e, ao mesmo tempo, era fonte de incerteza e confusão. Admitia que gostava dela, claro, infelizmente era inevitável. Sabia que teria que competir com um homem morto e ainda por cima com grandes chances de perder, mas queria tentar. Afinal, não tentar entrar em contato com sua filha por sete anos era exatamente o que o colocara naquela situação, em primeiro lugar. É fácil desistir antes mesmo de arriscar, evita perder de fato. Ou, pelo menos, era o que pensava antigamente, agora sabia que não tentar era exatamente a mesma coisa que perder.


De repente, a porta se abriu e mais de vinte bruxos velhos e enrugados entraram novamente na corte. Draco respirou fundo e se levantou pronto para ouvir o resultado.




Gina quase pulou de seu lugar ao ouvir a porta se abrir. Virou o rosto de imediato para Draco, agora de pé no centro da corte e ao lado de Pansy. O rosto dele estava mais pálido do que o normal, e apesar da expressão séria e aparentemente calma, ela sabia que ele estava muito nervoso. Merlin, elaestava nervosa por ele.


Quando recebeu uma semana atrás a carta pedindo para que fizesse um depoimento para o caso, Gina sentiu como se uma fênix tivesse reaparecido das cinzas. Por quase um mês não viu ou soube de Draco, e pôde voltar à sua rotina com James, quase sem mais incidentes. Estava convencida de que o que sentira por ele havia sido apenas atração passageira quando abriu a carta e, de novo, jogou a lógica para trás.


Ele estava lutando por Moira! Gina estava tão orgulhosa, que resolveu que deveria ajudá-lo mais uma vez. Queria fazer o possível para que Moira voltasse com Draco, porque ele merecia uma chance, e ela merecia um pai.


Infelizmente, o Wizengamot não parecia concordar. Mas como poderia ser diferente? Pansy trouxera pelo menos dez testemunhas contra Draco, de babás a amigos da família. Amigos de Draco. Amigos que afirmaram que nem sabiam que Draco era pai até receberem a convocação para a corte. Foi um desastre. Gina foi a única a depor a favor dele.


Engoliu em seco, fitando Draco apreensiva. Estava sofrendo por ele, não podia evitar. Nem podia imaginar o que seria perder a chance de ver James crescer. Queria descer e segurar a mão dele para apoiá-lo, mas não seria certo. No entanto, foi tirada de seus pensamentos pela voz do chefe do conselho.


- No caso de Draco Malfoy versus Pansy Parkinston pela guarda de Moira Narcissa Malfoy decidimos a favor da mãe. Ficará para a Sra. Parkinston a determinar quando e por quanto tempo o pai poderá ver a filha.


Fechou os olhos, decepcionada. Pobre Draco, o que ele faria agora?


- Por quê?


Abriu os olhos para ver Draco encarando sério o homem que falara anteriormente. O bruxo chefe levantou uma sobrancelha.


- Acredito que seja bem clara a razão, Sr. Malfoy. Para todos os efeitos, tirando ligação de sangue, você não é pai desta menina. Por sete anos ignorou a existência dela, não fazendo o mínimo esforço para entrar em contato. Seu comportamento foi, no máximo, profissional, mandou alguns presentes no começo, apenas para manter a consciência limpa, depois sumiu por completo da vida dela. Algumas semanas cuidando dela não lhe dá o direito de contestar o direito de uma mãe dedicada.


Por algum milagre, pois se fosse ela já teria pulado e esganado o homem, Draco se manteve fincado na mesma posição, sem mostrar-se afetado pelas acusações.


- Quer dizer que meu erro do passado é o que me impede de corrigi-lo no presente? – ele começou a falar, sua voz tremendo um pouco de nervoso, mas soltou uma risada irônica. – Que tipo de justiça é essa, se eu nem tenho uma chance de me redimir!


- Não grite nessa corte, Sr. Malfoy – advertiu o chefe. – A decisão do Wizengamot é final e inalterável.


O homem bateu o martelo contra a banca, seu barulho ecoando pela corte inteira. Draco abaixou a cabeça, derrotado. Pansy, triunfante e sorrindo abertamente, se levantou caminhando até onde Moira e sua avó a esperavam. Lentamente a corte se esvaziou, um a um os bruxos do conselho foram embora deixando apenas Draco e ela.


- Ela é minha filha também – ele murmurou para si.


Seu primeiro impulso foi ir confortá-lo, mas se segurou e em vez disso, se preparou para sair também. Porém, antes que pudessem fazer qualquer movimento, as portas da corte se escancararam e Moira entrou correndo. Draco se virou, confuso e ficou mais ainda quando a menina abraçou suas pernas fortemente. Gina não sabia se sorria ou chorava, nunca vira Malfoy com uma expressão mais chocada e sentimental do que a que agora possuía na face. Moira tinha os olhos fechados e parecia determinada a não largar o pai. Porém, o momento seria interrompido com a entrada de Pansy logo atrás. Estava nervosa e com pressa de separar os dois.


- Moira, volte aqui! Temos que ir embora.


Mas a menina balançou a cabeça de um lado para o outro fervorosamente, segurando mais forte ainda o pai.


- Não e não! Quero ficar com ele!


Pansy arregalou os olhos, depois sua expressão se tornou triste. Gina podia compreender, por mais que odiasse a mulher, sabia que a pior coisa do mundo para uma mãe ou pai era ser rejeitado pelo o próprio filho. Pansy ficou sem ação por um bom tempo, mas acabou que Draco resolveu tomar as rédeas da situação, após se recuperar da surpresa inicial.


Ele pegou Moira no colo com cuidado, enxugando alguma lagrimas que agora escorriam pelo rosto da menina. Gina, de repente, se sentiu como uma intrusa em um momento muito pessoal, mas queria saber o que ocorreria a seguir, então permaneceu fincada no mesmo lugar.


- Você não pode ficar comigo, Moira – ele disse sério, mas claramente odiando falar aquilo e quebrando o coração de Gina em mil pedaços. – Ficar com sua mãe é para o seu próprio bem.


Ele estava tentando preservar um pouco da felicidade de Moira ao tentar convencê-la de que o inevitável (que ele mesmo odiava) era o melhor. Foi naquele momento que algo explodiu dentro de Gina e ela finalmente entendeu. Draco Malfoy era um excelente pai e alguém que, de vontade própria, tivera finalmente a coragem para crescer e se tornar uma pessoa melhor. E Gina Weasley, bem, ela estava apaixonada por ele.


- Mas eu quero ficar com você! Porque... Porque eu gosto de você!


- Você gosta da sua mãe também.


- É, só que... Ela já ficou comigo bastante tempo! É a sua vez agora!


Gina sorriu, a lógica simples, mas verdadeira de Moira tinha todo o seu apoio. Draco parecia chateado demais para dar uma resposta, em vez disso, ele olhou para Pansy, deixando de lado a expressão carinhosa reservada para Moira e a trocando por uma de ódio para ex-mulher. Parecia estar cobrando alguma ação de Pansy, mas a mulher só conseguia olhar para o chão. Enquanto nenhum dos adultos tomava uma atitude, Moira resolveu tentar sair do colo de Draco, que ao perceber a deixou descer. Depois a menina correu para a mãe. E mostrou que o pai não foi o único a amadurecer.


- Por favor, mamãe. Deixa eu ficar com ele. Prometo que não vou... Hmm, que não vou chutar mais canelas!


Pansy agora segurava lágrimas, se abaixou para ficar na mesma altura que a filha e passou sua mão nos cabelos dela carinhosamente.


- Mas querida... Eu vou sentir tanta sua falta! E na França tem pôneis e todo o tipo de brinquedo! Vamos nos divertir tanto!


Moira balançou a cabeça negativamente, decidida. Pansy olhou para Draco por alguns instantes, que em retorno a encarou sério e determinado.


- Isso realmente a deixaria contente? – Pansy perguntou para a filha, ainda com o olhar fixado no ex-marido.


- Sim, muito!


Pansy suspirou.


- Está certo.


Gina arregalou os olhos, surpresa. Malfoy fez o mesmo.


- Jura? – Moira gritou contente, abraçando a mãe.


- Juro – respondeu Pansy, desanimada.


Ela pegou a filha pela mão e se aproximou de Draco relutantemente.


- Viajo daqui dois dias, leve-a para se despedir de mim – Pansy disse séria, soltando a mão da filha. – Não a decepcione, Draco.


- Mas o Wizengamot...


- A guarda é minha para dá-la a quem eu quiser – ela respondeu, dando os ombros. – Mas não pense que vou sumir da sua vida. Discutiremos melhor as implicações legais depois.


Abaixou-se, deu um beijo na testa de Moira, a abraçou e depois foi embora, seus passos ecoando pela corte. Por fim, apenas os três sobraram, o que fez Gina se lembrar do quanto indelicado era bisbilhotar na vida de Malfoy. Principalmente depois do que ela tinha feito com ele na última vez que se falaram!


Enquanto Draco e Moira se abraçavam para comemorar, Gina tentou ir embora o mais silenciosamente possível.


- E doces! Muitos doces! Quero sorvete também.


- Certo – riu Malfoy. – Mas duvido que você consiga comer tudo isso.


- Eu consigo! Mas você pode comer um pouco também, se quiser. Eu deixo.


- Ah, obrigado, mas hoje tudo é para você. Estou te devendo.


- E a mãe do James? – Moira de repente disse, apontando para Gina que agora estava centímetros da porta. – Ela pode vir também?


Gina congelou, suas orelhas ficando vermelhas. Estava prestes a virar e se desculpar, quando Malfoy falou.


- Não. Ela não quer ir.


A certeza na voz dele a incomodou, mas não podia culpá-lo. Encarou os dois, com um sorriso forçado.


- Desculpe Moira... Mas vai ficar para uma próxima!


Moira fez uma careta.


- Eu quero que você vá! Vem! – a menina gritou, estranhamente irritada.


- Você prometeu para a sua mãe que ia se comportar, Moira.


- Não. Eu prometi que não ia chutar canelas.


Draco não riu.


- Ela não vai.


- Mas...


Gina interrompeu os dois.


- Hoje não posso, prometi que ia passar o dia com James. Mas não se preocupe, vamos nos ver ainda e comemorar juntos! – sorriu, tentando transparecer certeza.


Malfoy a olhou de um jeito estranho, com um ar de “o-que-você-pensa-que-está-fazendo”, mas não a contradisse.


- Quando? – Moira perguntou, com certeza suspeitando que Gina não falava a verdade.


- Em breve!


- Que dia?


Gina quase suspirou. A menina não ia desistir, não é mesmo?


- Dia vinte e nove. Quando você for à festa de aniversário de James! Você vai, não vai?


Satisfeita, Moira assentiu animada. Gina, por outro lado, estava nervosa, percebendo que convidar Moira para a festa de James significava convidar, para bem ou mal, Malfoy também.


- Vou dar tchau para minha avó! – a menina informou, saindo correndo da corte e deixando os dois sozinhos.


Malfoy a encarou com uma expressão neutra, Gina preferiu olhar de um lado para o outro sem parar, nervosa demais para ficar de frente para ele.


- Obrigado.


A palavra saiu da boca dele, Gina jurava que a ouviu, mas não conseguia acreditar de qualquer forma. Finalmente o encarou frente a frente.


- Obrigado por ter vindo.


- Ah, bem... Não foi nada. Quer dizer, não foi nada mesmo. Não ajudei em nada.


- Ajudou – ele respondeu simplesmente, para a confusão dela.


- Ah. Que bom.


Silêncio. Desconfortável, irritante e completo silêncio. Draco não parecia disposto a tentar ser amigável e ela definitivamente não conseguia tirar da cabeça a imagem daquela noite, o que dificultava sua capacidade de eloqüência. Por que ela não podia lidar com a situação de uma forma calma e adulta? Certo, ela tinha uma queda... Uma mega queda por ele. A vida continua!


- Vai ser bom nos reunirmos de novo, nós quatro – disse depois de conseguir forjar coragem suficiente. - Não é?


- Quer dizer que eu estou convidado também?


Infelizmente...


- Claro.


Draco revirou os olhos, irritado.


- Não precisa fazer papel de boazinha. Moira não está aqui. Se não quer que eu apareça é só falar.


- Desde quando Draco Malfoy acata um pedido de um Weasley? - não resistiu à provocação, finalmente seu tom mais confiante. – E, aliás, quem disse que estou sendo boazinha? É uma festa n'a Toca, cheia de Weasleys, seria uma tortura para você.


- Ou seja, você está me convidando porque espera que eu sofra? - ele levantou uma sobrancelha, mas começando a participar do jogo dela.


- Talvez – sorriu.


Ah como podia ser tão fácil conversar com ele, e ao mesmo tempo, tão difícil?


- Pensarei no seu caso.




Duas semanas depois, Moira olhava para ele intrigada. Devia estar se perguntando por que raios o pai dela suava frio quando o clima estava tão ameno. Ou então sabia exatamente a causa e apenas estava curiosa para saber a conseqüência. Ele ficou quase uma hora se preparando para uma festa de criança e Moira apenas demorou quinze minutos, não era justo. Enquanto a filha só se preocupava com o que vestiria e o que teria para comer lá, Draco se via considerando todas as possibilidades. Deixava Moira e ia embora? Dava o presente para o garoto e ignorava elatotalmente? Entrava como se fosse o dono da espelunca e ignorava todos? Ou tentava agir como uma pessoa que não odeia Weasley, por que afinal, Gina era uma deles? Tentava dar em cima dela? Na corte não tivera coragem, mas o convite abrira uma pequena possibilidade de que ela estava interessada...


Ou não?


- Podemos ir agora? - Moira perguntou, puxando a manga dele. - Vamos chegar atrasados.


Draco acordou de seus pensamentos paranóicos e focou na filha.


- Moira, a pior coisa que um convidado pode fazer é chegar na hora.


- Por que?


- Porque existem regras de cortesia. Nós damos uma margem de erro para quem está oferecendo a festa se preparar. É educação.


Moira o olhou com uma careta.


- Isso não faz sentido. Então porque falar uma hora se não é para chegar na hora?


- Educação muitas vezes não tem nada a ver com “fazer sentido”.


A menina cruzou os braços, mas não fez mais comentários. Resolveu esperar até a decisão do pai. Estavam parados na frente da lareira, presente de James em mãos e a única coisa que os impedia de ir à festa era o nervosismo dele. Educação não era algo que Draco Malfoy se importava quando se tratava de Weasleys. E Potters. E Grangers e Lovegoods... Etc.


Ah Merlin, ficar naquele lugar parado que nem uma mula não ia resolver o enigma Gina Weasley, não é mesmo? O pior que podia acontecer era uma rejeição e isso ele já tinha enfrentado antes. Pegou a mão de Moira e o presente, os dois sumindo entre as chamas verdes.


Quando abriram os olhos estavam numa sala apertada lotada de cabeças vermelhas e muita música e barulho. Havia enfeites do chão ao teto do cômodo, as cores escolhidas sendo o vermelho óbvio e o dourado clichê. Ninguém notara a entrada deles por enquanto, e Draco não sabia se ficava aliviado ou ofendido. Ajeitou sua roupa e verificou o estado de Moira, quando satisfeito focou novamente no lugar ao seu redor.


Sentiu cheiro de doces, cerveja amanteigada, fumaça de fogos e perfumes baratos. Ouviu conversas animadas, gritos, risos escandalosos e barulho de brincadeiras entre crianças. Porém, por mais que procurasse, não encontrou sinal de uma Weasley em especial. De repente, sentiu uma mão no seu ombro.


- Ah, bem-vindo a festa! - reconheceu a dona da mão como Luna Lovegood, enormemente grávida e com o rosto pintado provavelmente por um palhaço maníaco ou uma crianças de 4 anos. - Fiquei encarregada de receber os convidados enquanto a Gina cuida de um pequeno acidente na cozinha... Você é...?


Antes que pudesse pedir descrição ou pelo menos imaginar uma desculpa por estar no local errado, Moira interveio.


- Moira Narcissa Malfoy e meu pai Draco Malfoy! Somos muito ricos. E você?


Luna sorriu um estranho sorriso. Depois riu, reconhecendo claro o rosto dele.


- Nossa! É Draco Malfoy! Mesmo? Nossa... DRACO Malfoy! - ela riu, sem razão ou porque, mas sua voz era bem alta e começou a chamar atenção. - E... Sua filha? Realmente, muito peculiar!


Draco queria mandá-la calar a boca... Seu plano era realmente só encontrar Gina, dar o presente, tentar convencê-la de beijá-lo de novo... Nada de chamar atenção da festa inteira!


- Sim, sim! MAL-FO-Y! - Moira repetiu, achando que Lovegood não tinha entendido corretamente. - Não é piada, é francês.


Algumas cabeças ruivas já se viravam curiosas...


- Ah sim, eu sei disso. Alguns acham que significa má fé, o que seria adequado. Mas na verdade deriva do dialeto francês rural! Quer dizer “Mau cheiro”!


Moira abriu a boca, chocada.


- Mentirosa! A gente não cheira mal!


Draco queria se enfiar de volta na lareira, mas Moira não aceitaria voltar agora. E o estrago já tinha sido feito de qualquer forma. A música parara, as risadas morreram, até as crianças pararam de causar danos a propriedade e olhavam atentas à discussão. Ironicamente era um trio de loiros (Moira, Lovegood e ele) contra um mar de ruivos.


- Opiniões diferem, claro. Mas não é mentira – acrescentou a loira de repente ignorando a tensão no ar.


Draco tentou recuperar um pouco de dignidade, conjurando milagrosamente uma fala.


- Minha filha veio dar um presente para o aniversariante. Algum problema?


Silêncio. Até que no meio da multidão um dos ruivos resolveu vir para frente demonstrar qual o problema que tinha.


- É, eu tenho um problema. Não chegue perto do meu sobrinho.


- Ah, é você... Weasel – Draco revirou os olhos, irritado. - Fomos convidados. E só a dona do convite pode nos expulsar.


Ronald Weasley era bem mais alto que Draco, isso era bem claro. Também parecia ser duas vezes mais forte, e três vezes mais irritado. A questão agora era quem tinha mais nervos de aço. Se encararam por um tempo, mas o bastante para o resto da multidão perder o interesse e voltar à festa sem maiores incidentes.


- Quero falar com Gina. Faça-me um favor Weasel e vá chamá-la para mim.


- Não.


- Talvez ela me expulse, não é o que você quer?


Weasley o fitou, talvez querendo ter certeza de que Draco falava a verdade. Seria bom demais para o ruivo.


- Espere aqui. Não. Se. Mexa – apontou o dedo indicador ameaçadoramente.


Draco só revirou os olhos. Quando o ruivo se afastara o suficiente, virou para Moira.


- Vá procurar o cabeção. Dê o presente para ele.


Ela sorriu e saiu correndo entre as pernas dos convidados sem nem se importar com a situação em que o pai se encontrava. Provavelmente nem suspeitava, claro, da irritação e nervoso que ele passava naqueles exatos segundos enquanto esperava por Gina. Todos aqueles segundos perdidos com Lovegood ao seu lado, o encarando como se fosse um bicho de zoológico, um macaquinho engraçado que acabara de fazer um truque fofo.




- Não acredito nisso! - ela gritou, frustrada.


Era o décimo balão que explodia em menos de quinze minutos. Não conseguia se concentrar o bastante para acertar o feitiço. Sua cabeça estava em outras coisas, ou apenas em uma coisa. Prometera centenas de balões caindo do céu na hora de assoprar o bolo, mas não enchera nem metade ainda. A festa, na cabeça dela, estava caindo aos pedaços.


Toda a mãe quer preparar a melhor festa de todos os tempos para o aniversário do filho, é parte do instinto materno. Cada ano ela inventava alguma coisa nova e inesperada para James, mas apesar da idéia daquele ano ter sido boa, a execução estava terrível. Maldito Draco Malfoy!


Ela provavelmente derrubara mais pratos e causara mais feitiços mau-feitos naquele dia do que em toda sua vida. Mentira, cometera algumas gafes, parecia nos primeiros anos de sua queda por Harry. E, portanto, era sinal de que a coisa estava séria.


Concentrou-se muito, tentando apagar aqueles pensamentos da mente e apenas focar em encher o maldito balão em forma de vassoura. Estava quase conseguindo, a aparência da Firebolt quase se formando por completo quando uma cabeça ruiva e outra loira (mas não feminina, portanto não era Luna) entraram de supetão na cozinha. Assim que reconheceu o dono da cabeleira prateada, seu balão furou e esvaziou-se com um “pruum” embaraçoso e deprimente.


- Gina, você convidou esse babaca?


Ela assentiu, sem tirar os olhos de Draco, que a encarava em retorno, mas ao invés de surpresa, tinha irritação claramente pintada no rosto.


- Sério? O que passou na sua cabeça?! - Rony gritou.


Gina ignorou por completo, focando no outro homem.


- Você veio. Achei que nem...


- Quando Moira põe algo na cabeça...


Sorriu.


- Eu sei.


- É.


Ron olhava de um lado para o outro, irritado por ser ignorado e também porque os dois estavam se fitando de um jeito que ele não aprovava.


- Ela já viu James?


- Provavelmente. Trouxemos um presente também.


- Sério? Obrigada, ele vai gostar. Tenho certeza.


- É o aniversário dele, todo mundo trouxe – Rony acrescentou, querendo mostrar a Gina que não era uma grande coisa. - Eu trouxe dois.


- Rony?


- O quê?


- Pode nos dar licença?


- Não!


Gina revirou os olhos e pegou Draco pela mão. Os dois saíram pela porta dos fundos, em direção ao jardim. Rony balançou a cabeça irritado, mas voltou para a festa.




Moira navegou pela multidão sem chutar nenhuma canela, seus pais ficariam orgulhosos. Porém, a falta de violência não significava falta de anseio. Carregava o pesado presente (insistira que seria elae ninguém mais a dá-lo para James) sem reclamar e com olhos de águia procurou por James. Finalmente o encontrou jogando snap explosivo com umas crianças ruivas que Moira não conhecia.


- Ei! Tenho um presente para você! - ela anunciou bem alto, interrompendo o jogo.


James olhou para sua direção e deu um salto, correndo na direção dela.


- Nossa! Você veio!


- Claro que eu vim! Somos amigos, não é?


James assentiu, pegando o pacote com animação. Os meninos ruivos se aproximaram, olhando com curiosidade para Moira.


- Quem é você? Não lembro de uma prima loira... - um deles arriscou andando em volta dela, analisando cada fio prateado.


Moira empinou o nariz, não gostando de ser chamada de prima.


- Moira Narcissa Malfoy.


Os três ruivos ficaram chocados. James torceu o nariz, finalmente tirando o olho do presente que queria tanto abrir.


- Esses são os meus primos... John, Malcom e Charlie Jr. Não liga pra eles.


- Por que vocês são todos ruivos? - ela perguntou, percebendo que James era o único de cabelo preto que ela vira na festa por enquanto.


- Porque sim – John respondeu, desafiante.


- É muito besta, tudo ser da mesma cor – fez uma careta, se achando superior. - E vermelho é feio.


- Não é besta não! Besta é você! - gritou o mais novo.


Moira arregalou os olhos ofendida. James revirou os olhos, pegando ela pela mão e a levando para longe dos primos.


- Posso chutar a canela deles? - ela pediu educadamente, mas ansiosa para receber um sim.


- Não.


- Por que não? - reclamou.


- Porque eles são minha família.


Moira não ficou impressionada. James suspirou.


- Falei para não ligar pra eles. Posso abrir o presente?


- Claro, já devia ter aberto!


O papel protetor foi rasgado sem dó nem piedade, revelando uma bela vassoura de Quadribol. Moira não tinha idéia, claro, de que se tratava de um dos modelos mais caros e desejados pelos jogadores. James só sabia que era linda e era dele, o conhecimento bastava para ficar imensamente feliz.


- Uau! - foi o máximo que conseguiu falar diante do presente de seus sonhos.


Os três primos vieram correndo logo que viram do que se tratava, pulando de animação.


- Posso voar nela? Posso?


- É, deixa a gente usar ela um pouco!


- Só um pouquinho, pra experimentarmos!


Moira bateu o pé e cruzou os braços.


- Não! A vassoura é do James, e só dele! Nem vem que não tem!


Os meninos fizeram careta para ela, definitivamente decidindo que não gostavam da garota. James sorriu fitando a vassoura como se fosse o tesouro mais rico e precioso do universo. A alegria era tanta que deu um abraço forte na menina, surpreendendo-a por completo.


- Brigado! Mesmo!


- ...De nada – ela respondeu, assustada com a reação. - Mas sua mãe não vai deixar você usar até irmos pra Hogwarts, ok?


O sorriso diminuiu um pouco, mas James se recuperou logo em seguida.


- Daqui a 3 anos então! Tudo bem, enquanto isso vou cuidando dela!


Moira balançou a cabeça sorrindo. Ela gostava dele, ele era engraçado.


- Ah... E estou feliz que não sou o único que não é ruivo por aqui – ele murmurou no ouvido dela, deixando-a vermelha nas bochechas.




Gina estava vermelha, mas era por causa do frio. Estavam ela e Draco sentados num banco do jardim, lado a lado e milímetros de distância um do outro. Trouxera-o para fora para evitar uma briga com Rony, mas agora começava a se perguntar se era o mais inteligente a fazer.


- Bem, estou indo embora. Volto quando Moira estiver pronta para ir.


Gina abriu e fechou a boca, decepcionada. Draco abriu um pequeno sorriso satisfeito.


- Ah, já é? Achei que pelo menos ia esperar o bolo.


- Regime – brincou.


Ela riu.


- Não precisa comer o bolo.


- O bolo não é o que me preocupa.


- O mar de ruivos é tão assustador assim? - provocou.


Draco não respondeu. Ficaram alguns segundos em silêncio, olhando para o jardim escuro. Ela não sabia o que dizer... Na verdade sabia, mas não tinha coragem ainda. Mas uma hora ou outra tinham que lidar com o assunto e agora talvez fosse sua única chance.


- Hmm... Erm. Antes de você ir, quero me desculpar por... Bem, pela aquela noite. Eu...


- Você saiu correndo.


Gina o fitou, confusa.


- É, sim. Mas não é por isso que estou...


- Então está se desculpando pelo beijo – ele disse em um tom amargo.


- Sim, foi extremamente idiota da minha parte. Você estava mal e eu confusa, não tinha o direito de...


- Fique quieta.


Ah, ela ficou. Não teve muita escolha já que a boca dele estava na dela. Descobriu que bêbado ou sóbrio, não fazia diferença, ele beijava bem de qualquer forma. Teria o deixado fazendo o que sabia fazer de melhor, mas seria errado! Então o empurrou de leve para longe. Virando o rosto para não encará-lo. Draco bufou, irritado.


- Sinto muito, mas... Ainda é cedo para eu...


- Potter está morto e enterrado faz 7 anos, Weasley!


Arregalou os olhos, ofendida. Não podia acreditar no que ele acabara de falar!


- Isso não tem nada a ver com Harry! Preciso pensar antes no James!


- O cabeção gosta de mim. Aliás ele... Até pediu para eu ficar com você!


Gina ficou surpresa, mas não se deixava convencer tão facilmente.


- Draco, ele tem sete... Não, oito anos! Ele viu um adulto que gostava e só. Podia ter sido qualquer outro, até o Czar da Rússia, que não ia fazer diferença. O que um garoto de oito anos sabe sobre relacionamentos?


Sabia que o tinha ofendido, mas tinha que ser dura para... Bem, ela não sabia exatamente o que estava fazendo, mas precisava fazer.


- Então não é James o problema. É você.


- Draco... O que aconteceria se ele se apegar a você e nós brigarmos? Ele já perdeu um pai antes.


- E o que te faz ter tanta certeza que vamos brigar?


Revirou os olhos.


- Eu preciso de tempo. James tem muitas esperanças agora, preciso ter cuidado... E realmente, eunão estou pronta. Não no momento.


Draco a encarou intensamente, tentando provavelmente desvendar a razão por ela estar o negando com tanta convicção. Infelizmente, nem ela sabia com certeza o por que. Depois de um breve silêncio, ele se levantou do banco.


- Quando Moira estiver pronta para ir, me chame.


Ela assentiu meio satisfeita, meio decepcionada. Porém, quando Draco começou a se afastar um pouco, um sentimento estranho tomou conta dela. Seu coração acelerou e sentiu um frio na barriga. De repente, não queria deixá-lo ir, mesmo que também ainda continuasse querendo tempo.


- Espera um pouco.


Ele virou para trás, com uma sobrancelha levantada.


- Não desista tão fácil de mim, ok?


Com uma expressão de surpresa ele assentiu de leve.


- Ok.




N/A: The end is near! Obrigada por lerem, como sempre desculpa o atraso (se não fosse o Natal e o feriado de Ano Novo...). Brigada Lucy por betar!

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