Um beijo e um abraço
Capítulo 8 – Um beijo e um abraço
James estava estranhamente quieto, não contou quase nada do passeio para os avós, e nem pareceu animado com a chegada do antes tão esperado aniversário do tio Rony. Quando Rony e Hermione chegaram, com a pequena Lucy no colo, James os abraçou, mas logo depois ficou quieto em sua cadeira deixando os adultos conversarem.
- Ela cresceu desde que a vi – riu Gina com o bebê no colo, notando o quão anto pesada ela tinha se se tornadotornou.
- Rony insiste em quinze refeições por dia – Hermione revirou os olhos Hermione. – Vai ser um alívio quando colocá-la na mamadeira!
- Não vejo nada de errado em alimentar minha filha.
- Sim, mas não é exatamente você quem a está alimentando ela , não é? – retrucou a esposa.
Gina deixou que discutissem um pouco sozinhos e observou a neném, que ria para ela sem motivo aparente. Ainda era cedo demais para saber de qual cor seria seu cabelo, mas os olhos eram azuis como os de Rony. Era uma gracinha e Gina sentiu saudade dos tempos em que James tinha aquela idade.
Olhou para o filho e notou que ele olhava para um canto da cozinha, pensativo. Seu comportamento era um pouco estranho, principalmente depois de um passeio divertido. Quando Rony e Hermione fossem embora, tentaria descobrir o que estava acontecendo.
- Então... O que fizeram de bom hoje? – perguntou Rony, seu tom casual , no entanto, não enganava ninguém, no entanto. Sabia que ele queria saber sobre os Malfoy.
- Fomos ao aquário de Londres.
- Que ótimo! Aposto que James aprendeu muito lá – aprovou Hermione, pegando Lucy no colo.
- Com quem? – continuou Rony, ignorando a esposa.
- Com Moira e o pai dela.
- Malfoy você quer dizer.
- Sim.
- Por quê?
Gina revirou os olhos. Sua mãe falava demais! Era claro que Rony ficara sabendo dos passeios e não aprovava nem um pouco.
- Porque Moira é amiga de James.
- Convida ela para vir aqui, então!
- O que te incomoda tanto? Qual o problema Rony?
O rosto de seu irmão se contorceu com indignação, algo que não era incomum. Aliás, podia apostar que parte de sua vida havia sido gasta ouvindo as opiniões de Rony, as quais sempre ignorava completamente. Infelizmente também tinha seus momentos de cabeça quente e acabava ficando nervosa.
- Qual o...? Gina não se faça de besta. Malfoy é uma má influência para James!
- Ah, por favor. Mesmo que se isso fosse verdade, meu filho não é bobo e não se deixa influenciar!
A resposta o calou por um momento. Abriu e fechou sua boca, procurando em sua cabeça esquentada algum argumento para continuar seu discurso inflamado.
- Eu sou contra essa história!
- Que me importa? É meu filho, não seu!
Hermione não gostou dos tons nervosos.
- Não briguem! – pediu, mas era inútil.
- Pode ser seu filho, mas também é do Harry e duvido que ele fosse gostar de Malfoy perto de James!
De imediato Gina levantou da cadeira pronta para responder com um insulto bem colorido. Rony tinha passado dos limites. Quem era ele para dizer o que Harry gostaria ou não?
- Tio Rony... Ele não é tão mal assim.
A cozinha ficou em silêncio. Todos viraram para James.
- Viu? Já começou! Daqui a pouco ele vai querer ir para Sonserina – anunciou Rony triunfante.
Gina quis chutar o irmão para bem longe.
- Quem deixou vocês entrarem na minha casa? – foi a primeira coisa que conseguiu conjurar ao olhar o grupo invasor.
Sua ex-sogra revirou os olhos, o francês bigodudo e magricela riu, achando que Draco estava sendo engraçado e amigável. Pansy estava concentrada demais em Moira para ouvi-lo, tinha se abaixado para estudá-la melhor.
- Olha o estado desse vestido! Por onde você andou? Ah, pobre filhinha minha! Prometo nunca mais te deixar com esse infeliz que é seu pai! – abraçou a menina de novo.
Draco ficou ofendido com o comentário, mas segurou a língua. O vestido de Moira estava em perfeitas condições, muito obrigado. Enquanto isso, reparou que Moira estava estranhamente quieta, o que significava que algo de ruim estava prestes a acontecer.
Pansy continuou a reclamar do estado da filha, limpando a bochecha dela com os dedos magros, deixando o rosto de Moira todo vermelho. Draco notou, enfim, que as malas de Moira estavam já arrumadas e nos pés abaixo do francês, prontas para serem levadas. Sentiu um nó se formar em sua garganta.
Era isso então. Chegara o momento em que Moira iria embora. Estranho, para ele a carta de Pansy parecia uma ameaça longínqua até aquele exato instante. Agora que a realidade estava bem à sua frente, de repente se arrependeu de não ter aproveitado melhor o tempo. Não tinha feito nem metade do que queria com Moira, não lhe ensinara poções suficientes, ainda tinha alguns lugares que queria levá-la e nem tinham terminado o livro estúpido predileto dela! Era injusto.
Passou por sua mente impedir Pansy de levar a filha. Tinha direito, não? Mas...
- Não vai falar com a mamãe? Ainda está brava? Senti tanto sua falta...
Moira finalmente recobrou os sentidos e olhou um instante para sua mãe, depois a abraçou com força.
- Senti sua falta, mamãe.
Para Pansy e sua ex-sogra a reação com certeza foi uma surpresa, mas para ele que tinha presenciado a mudança da filha não foi nada surpreendente. Uma pena que o gesto o lembrou que Pansy tinha cuidado de Moira por sete anos e que duas semanas estavam longe de prová-lo bom pai. Sem falar que claramente a menina preferia a mãe.
Passou a mão no cabelo, decepcionado e um pouco triste. Quem diria que a menina-demônio era tão importante para ele.
Quando o abraço terminou Pansy ficou de pé e deu a mão para Moira, sua atenção finalmente direcionada a Draco.
- Bem, vamos indo.
Draco abriu a boca para protestar, sua ex-sogra passou por ele sem delongas e o francês correu atrás carregando as malas.
- Pansy, ela mal chegou em casa e você já vai levá-la...
- A pobrezinha já teve que agüentar mais do que suficiente da sua pessoa, Draco. E tenho certeza que você também já não a suporta mais. Não se preocupe, não vai se repetir.
- Achei que ainda não ia voltar...
- Avisei na carta.
E subitamente as duas já estavam subindo em uma carruagem sem lhe dar chance de nada. Nem ao menos se despedir de Moira!
Se bem que não sabia exatamente o que falar para a filha...
- Moira não seja mal educada e diga adeus para seu pai – mandou a ex-sogra, enquanto Pansy entrava na carruagem.
Estavam frente a frente. Moira olhou para cima e Draco para baixo. Jurava que ela crescera alguns centímetros desde que chegara na mansão, invadindo sua vida e o obrigando a sair da solidão.
Quando ela não falou nada, Draco se perguntou o que Moira estava esperando. O rosto estava sério e era aquela expressão que Draco julgava não pertencer a uma menina de sete anos. Se ela queria ficar, falaria não? Moira sempre fazia o que queria, sempre dizia o que passava em sua cabeçinha demoníaca. Seu silêncio só provava que preferiria ir com a mãe.
E era sua culpa, claro. Não podia pedir outra reação, afinal duas semanas não justificavam sete anos de ausência, por mais que as duas semanas tivessem sido divertidas para ambos.
Queria falar algo de profundo ou algo que um pai deveria falar numa situação daquelas, mas não conseguia articular nada de interessante ou especial. Devia ter falado que sentia orgulho de tê-la como filha, que tinha certeza que seria uma bruxa excepcional, que sentiria sua falta quando ficasse sozinho na mansão de novo. Queria dizer que estava arrependido de ter deixado Pansy levá-la para longe dele por tanto tempo e que se voltar no tempo pudesse transformá-lo em um pai decente, teria gastado todo o dinheiro possível em vira-tempos.
Pai e filha se encararam.
- Tchau.
- Tchau.
Moira subiu na carruagem, a porta se fechou e em questão de minutos sumiu de vista. Só depois de ter certeza absoluta que a carruagem estava muito distante para voltar, foi que Draco entrou em casa, derrotado.
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Com finalmente a chegada do aniversário de Rony, a Toca estava mais uma vez lotada de Weasley. Sendo a única solteira, o quarto de Gina era o local perfeito (na opinião de todos, menos na dela) para colocar as crianças, assim ela cuidaria dos filhos enquanto os pais podiam descansar em seus próprios quartos. Então quando se viu acordada no meio da noite, deitada em um saco de dormir no chão lotado de outras crianças, não estava muito surpresa com a situação.
Tinha finalmente conseguido convencer Melissa e John (os pestinhas filhos de Fred e Jorge) que era mais divertido ficarem bem quietos aà noite do que pulando que nem macacos contra as paredes. Talvez o silêncio total depois de tanto barulho causara um efeito de insônia nela. Ou então, era mais uma daquelas noites em que passava mais tempo lembrando do passado do que tentando dormir de verdade.
Pelo menos se tratava de passado recente.
Quando fechava os olhos, a memória de James defendendo Malfoy aparecia, assim como a voz de Rony questionando o que Harry acharia das novas amizades de sua família. Na frente de todos, só reafirmava sua certeza de que era positivo conviver com os Malfoy, porém sozinha tinha suas dúvidas. Principalmente porque notara que seu interesse inocente do bem estar de Moira tinha perdido espaço para o interesse no pai dela, o que era extremamente errado em todos os sentidos!
Certo?
Suas tentativas de justificar a pequena, minúscula, praticamente inexistente atração com a desculpa de seu longo período solitário não estavam colando mais. Sabia que não era tão simples. Se fosse, já teria se casado com o primeiro panaca que lhe deu atenção.
A atitude de James em defender Malfoy podia ser encarada de duas formas: uma positiva, outra negativa. Poderia considerar como um bom sinal que James gostava de Draco e usar o fato para justificar para ela própria e o resto do mundo que não havia nada de muito errado em não odiar Draco. Porém, também não lhe escapava uma visão mais negativa, a favorita de Rony. Malfoy (até Moira um pouco), para todos os efeitos, não eram bons exemplos para seu filho e ela estava colocando sua educação em perigo ao levá-lo àqueles passeios, principalmente quando o motivo para os encontros estavam se tornando egoísta.
O que Harry faria? Qual seria a opinião dele?
Fazia diferença?
Odiava quando pensava daquela forma, mas parte dela não conseguia esconder a amargura. Não direcionada a Harry, mas sim ao resto do mundo (principalmente Rony!). Desde o momento que anunciou sua gravidez, todos esperaram algo dela. Teria que ser a melhor mãe, a mais carinhosa, a mais cuidadosa, a melhor disciplinadora, mas sem comprometer a criatividade do filho. Carregava as expectativas do mundo inteiro nas costas porque seu filho era obrigado a ser perfeito pelos outros. Todas as pessoas no mundo mágico tinham algum plano ou conceito mágico e inatingível para James: o melhor jogador de Quadribol, um bruxo mais poderoso que o próprio Dumbledore, um inventor de grandes objetos mágicos, Merlin, já haviam sugerido uma vez para ela que ingressasse James em corridas de dragões!
A mãe de James Potter precisava ser perfeita em todos os sentidos. Sua família ajudava, verdade, mas como Rony demonstrara tão bem, ainda existiam resquícios das cobranças e expectativas. Em muitos sentidos, os Malfoy a libertavam daquele papel, particularmente Draco que, além de ser um pai bem pior que ela, não a tratava como uma “mãe”, muito menos “A mãe do filho de Harry Potter”.
O que voltava para o ponto: que diferença fazia o que Harry pensaria? Se pudesse, daria qualquer coisa para que ele pudesse dar sua opinião, mas não havia jeito. Então porque não podiam simplesmente confiar na opinião dela? Sem lembrá-la dolorosamente de que Harry não estava lá para ajudar?
Revirou o corpo no saco de dormir, tentando espantar os pensamentos. De nada adiantava passar a noite inteira discutindo mentalmente contra ninguém. Porém, por mais que tentasse, só conseguiu dormir duas horas depois.
Quem a acordou foi James, a chacoalhando apreensivo.
- Que foi... O que houve?
James preferiu apontar para sua direita ao invés de responder. Gina acompanhou com os olhos até o ponto indicado e viu o caos: os móveis do quarto estavam empilhados e postos contra a porta, evitando a entrada de uma Molly Weasley nervosa. As crianças apenas davam risada das exclamações e ordens da avó e continuavam a pular na cama de Gina.
A bagunça só foi resolvida quando já era quase meio-dia. Mas o caos continuou reinando n’A Toca durante o dia inteiro, e muito dos problemas acabavam nas mãos dela. Infelizmente, a confusão não foi suficiente para espantar os pensamentos anteriores de sua mente.
Estava ajudando Hermione a trocar a fralda de sua filhinha, quando se pegou imaginando onde seria o próximo passeio com os Malfoy seria. Era a vez de Draco “convidá-los” para sair. Tinham combinado silenciosamente um sistema para manter o orgulho de ambas as partes: revezavam no convite, uma vez era ela que mandava a carta, depois seria ele e assim por diante. Como a idéia do aquário fora dela, era a vez dele inventar um local divertido para irem.
Normalmente uma carta dele já teria chegado avisando de seus planos, mas até agora nada e Gina começava ficar um pouco ansiosa. Chegou até a considerar a possibilidade de quebrar a regra de conduta e mandar uma coruja perguntando o motivo da demora, mas o orgulho até o momento a segurava.
Tentou se concentrar na situação capciosa em sua frente (Duas fraudas flutuando, Hermione tentando manter a bebeê quieta e com talco em todo o rosto). O esforço obteve sucesso algumas vezes, outras não e então passou o resto do dia no vai e vem de sua atenção. Há Algumas semanas atrás nunca acreditaria que passaria tanto tempo pensando em pessoas com o sobrenome Malfoy.
Mas foi apenas à noite, quando a família estava se arrumando para dormir, que a maior surpresa aconteceu. Uma coruja desconhecida bicou a janela na cozinha e alguém lhe deixou entrar, o animal voou para o meio da mesa mostrando a carta amarrada na perna. Gina pegou o papel e viu que era endereçada à James e vinha de... Moira.
Os dois resolveram que era mais seguro e menos dor de cabeça abrir a carta na quietude (por enquanto) do quarto de Gina.
James abriu a carta rápido e leu o conteúdo mais rápido ainda (afinal o quanto uma menina de sete anos consegue escrever?). Depois de um minuto de silêncio, Gina foi forçada a fazer a parte da criança que não conseguia esperar.
- E então, o que diz?
James fez uma careta.
- Moira voltou para a casa da mãe, ela vai embora para França semana que vem.
- Ah.
- E agora mãe? A gente não vai mais sair com eles?
Gina suspirou.
- Acho que não, James. Duvido que Pansy vai trazer Moira da França só para passear conosco.
- E o pai dela?
Gina não respondeu porque não sabia a resposta. Draco colocara uma máscara de indiferença, mas se perguntava como ele estava no momento. Será que Moira tinha conseguido o milagre de derreter um pouco a arrogância de Malfoy?
Terminadas as arrumações, James, satisfeito com as explicações e respostas de Gina (algo difícil, pois ele insistia que a França não podia ser tão longe), e todos os filhos e filhas Weasley seguros em seu quarto, a Toca caiu no sono mais uma vez.
Exceto por ela.
Pelo mesmo motivo que sua cabeça ficou cheia de pensamentos inconvenientes durante o dia todo, Gina levantou de seu saco de dormir no meio da madrugada, desceu as escadas, foi a até a cozinha. Primeiro inventou a desculpa para si que estava com sede, depois que estava sem sono e então pegou leite da geladeira... Quando o copo de leite estava vazio em cima da mesa, decidiu que o que precisava era de ar fresco, vestiu um casaco laranja berrante de Rony por cima de seus pijamas e saiu para o jardim.
Estranhamente, tinha sua varinha na mão e algum tempo depois tinha aparatado na frente da mansão Malfoy. E nem conseguia imaginar como sabia para onde aparatar. Ficou parada encarando o portão de ferro e sem saber o que fazer. O que falaria? O que faria? E se ele nem estava incomodado com a perda de Moira?
Na distância, reparou que uma janela estava iluminada. E de repente a situação era assustadora e confusa, ela não tinha mais certeza de que era uma boa idéia se intrometer na vida de Malfoy, muito menos às duas horas da manhã. E então, o portão se abriu rangendo e seus pés a ignoraram, a levando até a porta da frente. Um elfo miúdo a deu as boas-vindas, pedindo que o seguisse.
Era como quebrar alguma regra muito antiga ou roubar uma bolacha antes do jantar. Parecia estar invadindo uma cena muito particular, certamente era uma cena muito embaraçosa. Malfoy estava sentado no sofá, seus pés em cima da mesinha de café aà frente, quatro garrafas de vinho espalhadas pelo chão, assim como alguns copos vazios, a quinta garrafa estava no seu peito, que subia e descia devagar. Seu cabelo estava num estado deplorável, assim como a roupa. E pela primeira vez Gina viu barba mal feita em seu rosto.
Ao menos estava certa em supor que ele estava miserável sem Moira.
O elfo-doméstico já tinha havia sumido quando Gina tomou coragem para sentar na mesinha de café e tentar acordar Malfoy. Após certa resistência e alguns xingamentos ele abriu os olhos.
- Weasley? O que veio fazer aqui? – tirou os pés da mesa enquanto tentava manter-se acordado. – Esfregar na minha cara?
- Esfregar o quê, Draco?
Ele soltou uma risada estranha.
- Draco de novo? Já são duas vezes. Eu tomaria cuidado.
Observou ele pegar a quinta garrafa e, tomar sem qualquer hesitação, beberu direto dela.
- Acho que não corro perigo de nada, mas obrigada pelo aviso.
- Avisos. Coisas lindas não? Tão práticos, avisos. São lógicos e racionais, certos? Quando algo vai acontecer: avise! É simples mandar um aviso! O que custa? Selo? Um... Um... Petisco para coruja? Me diz... Quer dizer, certo, certo... Ela me mandou uma carta, mas e... E quando ela resolveu pedir divórcio e levou a minha filha junto? Quer dizer...
Era oficial (não que houvesse dúvidas antes): Draco Malfoy estava totalmente bêbado. E Gina estava com dó dele.
- Ei não me olhe desse jeito... Como, como se eu fosse, tipo... Pobre que nem você. Pena de uma Weasley? Era só o que faltava para eu chegar na minha... O quê? Segunda garrafa?
- Mais para sexta.
- É, que seja. Odeio matemática. Quem precisa de... Que seja – respondeu balançando perigosamente a garrafa e espirrando um pouco de vinho no carpete.
Silêncio. Sem saber o que fazer, Gina observou com aflição Draco beber o restante do vinho em um gole, tossindo depois.
- Vinho imbecil – resmungou, jogando a garrafa para longe. – Pessoa imbecil.
- Quem... Eu?
- Não... Não você, Weasley. Honestamente, o mundo não gira em torno de você. Merlin... Sua centrada.
Sorriu, Draco bêbado era mais panaca do que o comum... Era até engraçado.
- O mundo gira em torno de quem então?
- EuDe mim! O mundo gira em torno de mim! Tsk, preste atenção no que eu falo – respondeu depois estalou os dedos e uma nova garrafa se materializou.
- Você é o imbecil? – perguntou, levantando sua sobrancelha, difícil imaginar Malfoy xingando a si próprio.
- Bravo! Temos uma vencedora – riu, abrindo a garrafa e tomando um gole. – Sabe por quê? Quer saber mesmo por quê? Porque eu vou falar. Prepare-se! Consegue acompanhar? Duvido com sua... Sua mente atrasada de Weasley e tudo mais e talz.
- Eu consigo ouvir você muito bem.
- Eba! Hippie-hia-hei!
Mais um gole. Depois passou a mão em seu começo de barba.
- Enfim. Eu sou um fracasso. Sério... Eu sei, eu sei, é difícil ver isso. Parece impossível, mas é a pura e destilada verdade. Eu sou uma droga. Quer dizer, só o pior dos piores fracassados conseguem a proeza de perder os filhos, certo? Se nem o seu próprio filho gosta de você, bem... Não preciso dizer mais nada.
De imediato Gina sentou ao lado dele, colocando sua mão sob a dele e tirando a garrafa de vinho da outra.
- Mas Moira gosta de você!
Ele fez um som de “pfft” ao mesmo tempo em que tentava pegar a garrafa de volta.
- É sério! Ela adora você, ela mesmoela mesma me disse. E ela se divertiu tanto quando saímos juntos!
- Correção: ela se divertiu com você e o menino. Eu só fiquei para trás, com cara emburrada.
- Até James gosta de você, Draco. É realmente perturbador, mas ele gosta. Chegou até defender você na frente de Rony!
Finalmente a atenção dele se voltou para ela e não para o vinho.
- Verdade?
- Sim, porque eu ia mentir?
- Porque, por alguma razão maluca e doida você... Quer me consolar.
Silêncio e rubro nas bochechas delas e não tinha bebido para justificá-las em álcool.
- Eu quero que você saiba a verdade, por isso vim.
- Não está fazendo um bom trabalho porque eu não acredito em você, desculpe.
- Não custa tentar.
Ele riu curtamente, passando a mão no cabelo.
- Por que está aqui... Mesmo. Nada de... Qual a palavra?
- Desculpas?
- Isso. Essa daí. Nada de desculpas. Pura verdade.
Ela suspirou, Draco estalou os dedos e conseguiu uma nova garrafa.
- Pode parar com isso? Já está bêbado demais.
- Eu não estou bêbado! Por favor, me dê mais crédito. Agüento alguns copozinhos de... Dessa coisa.
Gina balançou a cabeça e com facilidade tirou a nova garrafa das mãos dele e colocou no chão, longe de seu alcance.
- Estraga prazeres – resmungou, se preparando para estalar os dedos novamente, mas ela o impediu, segurando suas duas mãos com as delas.
- Chega.
- Fique quieta – reclamou, tentando se soltar, mas falhando miseravelmente. – Eu sou um fracasso, tenho direito de beber um pouco, por Merlin!
- Pare com isso. Você não é um fracasso.
- Quem disse?
- Eu!
- Você? – ele soltou uma risada amarga. – O que você quer Weasley? Por que está aqui afinal?
Os dois se encararam por um longo tempo. Ela ainda segurava as mãos dele e tinha aproximado seu rosto perto do dela para desafiá-la a responder a pergunta. Nariz pontudo encontrando nariz arrebitado.
E então ela fez a coisa mais estúpida, ousada, completamente maluca da vida dela. Ela inclinou a cabeça e o beijou com força. Draco estava tão confuso e desnorteado que a deixou e ainda abriu a boca, correspondendo o beijo.
Claro que ele tinha gosto de vinho, mas foi a fragrância dele que mais marcou. O fato que ele estava em cima dela em questão de instantes também deixou sua impressão. As mãos de ambos tinham ido para locais diferentes, as suas correram pelas costas dele e as dele se encaixaram nos lados de seu rosto. Em seguida foi a vez das pernas encontrarem suas posições, a esquerda dela subiu, a dele encontrou espaço entre o sofá e ela.
E durante todo aquele processo meticuloso, o beijo continuava. Entre respirações e mais lábios, Gina começou a perceber sua situação. E quando a mão de Draco desceu de seu rosto para abrir o casaco laranja berrante de Rony a realidade resolveu retirá-la do que poderia ser um erro muito grande.
Ela empurrou Draco gentilmente, interrompendo o beijo e todos os outros movimentos que o acompanhavam.
- O que foi? – ele perguntou em uma voz surpreendentemente gentil.
- Eu...
Ele a encarou, confuso. Ela suspirou.
- Isso não... Isso não é certo.
- Ah.
- Eu... Harry... E você... Está bêbado, por Merin.
Draco estava do outro lado do sofá em um piscar de olhos, seu rosto virado para o lado oposto.
- Faz sentido, o que quer que você tenha falado agora.
Ela olhou para baixo, envergonhada e se sentindo culpada. Queria explicar que James e... Bem, não sabia explicar. Mas talvez não precisasse, ele parecia satisfeito com o que tinha dito. Mal sabia o que passava em sua própria cabeça.
- Olhe, Draco... Moira, ela gosta muito de você. Ela só não tem certeza se você gosta dela, entende? Se você mostrar para ela, Moira vai te provar. Precisa ir atrás dela, afinal é seu direito como pai também. Pansy não pode negar que você veja sua filha! Mas para isso você precisa tentar entende? Ir a luta.
Draco não respondeu.
- Por favor, tente, ok?
Esperou um momento por uma resposta, mas desistiu quando ele estalou os dedos para receber outra garrafa. Depois de ver a cena, levantou do sofá e foi embora da mansão. Estava confusa, culpada, extremamente desorientada e insatisfeita. Tinha ido naquele lugar com a intenção de ajudar Draco e ao invés disso só o confundiu mais e tomou uma atitude, mais uma vez, por razões egoístas.
Ela beijou Draco Malfoy e o fez por motivos fúteis e errados... E totalmente errados. Era uma péssima pessoa e devia se envergonhar. E nunca mais pensar no beijo, nem no que ele poderia ter levado ambos a fazer.
No entanto, mais fácil falar do que fazer.
N/A: E mais uma vez a vida real me atrapalha. Quem precisa de vida real, certo? Vida real sucks. Obrigada pelas reviews, desculpe a demora... Espero que gostem do beijo!
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