Rotina e costume



Capítulo 6 – Rotina e costume




Tão rápido quanto começou, o dia terminou. Em um piscar de olhos, estava colocando James na cama e lhe dando boa noite. Ou melhor: tentava colocá-lo para dormir. Seu filho estava animado demais para fechar os olhos, queria conversar sobre tudo que tinha acontecido naquele dia tão estranho. Não podia culpá-lo, tinha que admitir que fora algo único.

- E aí a Moira me contou que a mãe dela comprou dois pôneis para ela! Dois! E eu, que nem tenho meio pônei! A casa dela tem uns quinhentos quartos e um monte de empregados. Pra que ela precisa de tanta coisa? Assim, ela nem tem irmãos.

Deixou que ele continuasse seu relato enquanto o cobria.

- Eu achava que ela era só uma menina chata... Ela é um pouco chata, mas nem tanto assim. Quer dizer, você gostou dela não foi, mãe?

- Gostei.

- E do pai dela? – o tom da pergunta foi um pouco menos casual, Gina sentiu que ele estava tramando algo. – Achei ele bem legal, afinal. Apesar de parecer meio malvado no começo, depois vocês se deram bem, não é?

- É, suponho que sim.

- Acho que devíamos chamar eles para passarem um dia aqui!

Gina riu, duvidando seriamente que Draco quisessem chegar perto d’A Toca, e ainda por cima deixar Moira sob a “má” influência dos Weasley.

- Quem sabe. Agora boa noite, já é muito tarde para você ficar acordado.

- Boa noite.

Deu-lhe um beijo na testa e apagou a luz do quarto, mas quando fechava a porta atrás de si, James a chamou.

- Mãe, eu não dou trabalho, dou? Moira disse que babás servem para deixar os pais livres dos filhos, porque eles dão trabalho. Mas eu não dou.

- Claro que não. Tirando os dias em que resolve sair correndo – disse brincando.

- Mas é só quando tem um motivo muito, muito bom! – justificou-se preocupado.

- Muito bom mesmo?

- A-ham.

- Então, tudo bem. Sem babás para você.

James sorriu, parecendo bem aliviado.

- Hoje foi legal – terminou, já fechando os olhos para dormir.

Sorriu e fechou a porta.

No fim, realmente poderia ser dito que Malfoy e a filha não foram companhias ruins. Apesar de tudo, surpreendentemente todos se divertiram no Beco Diagonal, até mesmo Malfoy, por mais que não admitisse. Porém, duvidava que a situação se repetisse. Era simplesmente como as coisas sempre foram, Malfoy de um lado, Weasley de outro. De preferência, com uma distância enorme entre eles.

Esperava ao menos que Moira tivesse se divertido. Quem sabe pai e filha agora tivessem mais chances de se tolerarem. Malfoy era um tolo por não aproveitar o tempo que tinha com a menina, com certeza nem tinha idéia do quanto estava perdendo. Em alguns anos, ela já estaria em Hogwarts (ou outra escola mágica) e ao retornar já seria uma garota crescida e independente. Talvez até um pouco solitária.

Chegou ao seu quarto e ao se deitar, olhou uma foto dela e de Harry sentados juntos perto do lago de Hogwarts, abraçados. Soltou um suspiro e não pela primeira vez sentiu-se sozinha. Às vezes era tão difícil ver todos seus irmãos e suas esposas juntos. Em particular Rony e Hermione. Parecia que, mesmo com James, tinha um lugar vazio no seu coração.

Independente, sabida, mas um pouco solitária. Esperava que Moira evitasse a última parte.




Com sorte, dormiria aquela noite. Suas chances eram mínimas, mas pelo menos existiam. Sua cabeça estava dolorida, olhos cansados e exausto. Felizmente não estava irritado, levemente incomodado apenas. Afinal, o dia não havia sido um completo desastre como tinha imaginado.

Em certos aspectos não havia sido de todo ruim. Moira se comportou, não chutou canelas alheias, fugiu ou gritou. Quase aproveitaram a companhia um do outro, quase. E o detalhe de Weasley e seu filho não arruinarem tudo. Mesmo que tivesse lhe irritado no inicio, agora encarava o “poder” de Weasley de acalmar Moira como uma vantagem.

Jogou-se na cama, fechando os olhos quase que imediatamente, mesmo que não caindo no sono. Era um alívio poder descansar depois de andar e andar o dia todo perto de duas crianças hiper-ativas. Pagaria muitos galeões para quem inventasse um feitiço para acalmar filhos.

Por algum motivo misterioso, não ficou surpreso quando a porta de seu quarto se abriu e Moira entrou. Levantou da cama e foi até ela, temendo o pior.

- Leia uma história para mim – mandou, lhe dando um livro. – A mãe do James conta uma para ele toda noite.

“Valeu Potter, continue com a tradição da família de me irritar”, pensou irônico. Maldito moleque tagarela.

- A mãe dele não tem que acordar cedo no outro dia, provavelmente – resmungou, quase a chamando de folgada em voz alta.

- Nem você.

Bufou, a menina estava se provando perspicaz demais para seu gosto.

- Se eu ler algumas páginas você fica satisfeita?

- Não.

- E se eu ler algumas páginas enquanto você toma chocolate quente?

Certo, certo. Tinha que admitir que estava usando o truque de Weasley, fazendo negociações com Moira por meio de doces. Mas que podia fazer? Era isso ou passar mais uma noite acordado.

- Chocolate quente com bolachas e metade do livro.

Parecia que não era o único a estar aprendendo truques. Moira com certeza tinha notado que os adultos gostavam de negociar e tiraria o máximo de vantagem que sua mente demoníaca de sete anos podia.

Suspirou e pegou o livro que ela lhe oferecia. Tristemente, não era o típico livro infantil com dezenas de ilustrações e uma ou duas linhas de texto. Claro que não. Tratava-se de um bem grosso, com pequenas ilustrações no começo de cada capítulo. Trotter trouxe o chocolate e as bolachas, Moira sentou na cama ao seu lado e ele se viu na situação surreal de ler uma história para uma criança.

Não mentiria. Depois de vinte páginas começou a inventar coisas para avançar a “trama”. Deixou o livro fora do alcance dos olhos ansiosos de Moira (felizmente, muito ocupada com as guloseimas) e pulou várias páginas para que chegasse à metade do livro mais depressa.

Subestimou sua filha.

- Não acontece isso. Ela entra no castelo voador, encontra uma lareira encantada e o aprendiz do mago. Nada disso que você falou. Não sabe ler? – reclamou.

- Se você já leu o maldito livro, então por que quer que eu leia? – resmungou, mais frustrado por ela perceber seu plano, do que irritado.

- Para eu dormir. É meu favorito.

- Nem tem desenhos. Como gosta de um livro tão chato?

Para sua surpresa, ela riu.

- Você não sabe ler! Por isso quer livro de bebê! – debochou.

- Eu sei ler! – respondeu indignado. – Esse livro que não é para a sua idade.

- Você é bem burro! Deixa que eu leia pra você.

De repente, ela tirou bruscamente o livro da mão dele e começou a leitura desde o começo, dando ênfase nas palavras difíceis e mostrando para ele como lê-las. No inicio ficou irritado com o fato de ela achar que era analfabeto, mas depois estava estranhamente orgulhoso de ela já estar tão acostumada a ler coisas bem mais difíceis do que normalmente crianças da sua idade lêem.

Os Malfoy obviamente eram muito mais inteligentes que o resto do mundo. Moira parecia concordar que era, pelo menos. Perguntou-se como ela se sairia em Poções, quando fosse a Hogwarts.

Após mais ou menos trinta minutos, ela começou a bocejar e perguntou se ele já conseguia ler sozinho. Respondeu que sim e Moira lhe devolveu o livro, encostando-se a ele para se aconchegar mais e dormir.

- Eu ganhei do James. Minha história é mil vezes melhor que as histórias do pai dele – comentou sonolenta. – Afinal, quem quer saber sobre o pai besta dele? O meu, pelo menos, tá vivo!

Draco não sabia se aquilo tinha sido um elogio ou não, mas ficou contente do mesmo jeito. Ganhara de Potter ao menos nisso: ele estava vivo, já o cabeção não.

Sorriu satisfeito e minutos depois de Moira, caiu no sono.




Talvez não tivesse sido a coisa mais surpreendente que já presenciara, mas com certeza estava bem no topo da lista. Gina não soube exatamente como reagir ao receber uma carta de Draco Malfoy na manhã seguinte. E ainda por cima não era um berrador!

O acontecimento chamou a atenção de seus pais e de James, que esperavam ansiosamente na cozinha para que ela abrisse. O conteúdo da carta provou-se ainda mais surpreendente, se possível. Ela abriu e leu silenciosamente, antes de informar o que dizia para os três.

- Ele está convidado James e... Bem, eu, para passarmos uma tarde com ele e Moira em Hogsmeade.

- Sério? Que legal! Nós vamos né, mãe?

- Você e James? Tem certeza?

- É o que diz, pai.

- Ele, bem, explica por que ia querer algo assim? – tentou sua mãe, tão confusa quanto Gina.

- Não, mas suspeito que tenha a ver com Moira. Ela deve ter insistido, ou Malfoy já não agüenta mais ela.

- E você vai?

James respondeu de imediato que sim, mas já Gina não tinha tanta certeza se era uma boa idéia. E, além disso, por mais ridículo e implausível que fosse, uma parte bem pequena dela temia aquele convite, por parecer um encontro. Claro que não era! Era apenas Malfoy tentando controlar sua filha e usar Gina como babá, esperava.

E James parecia tão animado. Ele realmente precisava de uma amiga da idade dele, alguém para brincar. Não custava nada fazer um esforço para agüentar Malfoy se James ficasse feliz.

- Acho que vamos sim. Afinal, ontem não foi tão ruim.

Quase se arrependeu da sua decisão ao chegar em Hogsmeade e encontrar o vilarejo banhado na chuva. Rapidamente levou James para dentro do Três Vassouras, secando suas roupas molhadas com magia. Procurou com o olhar Malfoy e Moira em meio ao bar lotado, mas ao que parecia ainda não tinham chegado. Enquanto isso, James já estava sentado em uma das mesas desocupadas e pedindo chocolate quente, se uniu ao filho e já estava na terceira xícara de chá quando finalmente os Malfoy apareceram.

James ficou de pé na cadeira e acenou para os dois, ganhando suas atenções. Gina virou para a direção em que Malfoy e Moira vinham, a menina estava com um vestido azul por baixo de um enorme casaco verde escuro, as mangas dobradas várias vezes para que suas pequenas mãos pudessem aparecer (Gina imaginou que era na verdade de Draco) enquanto Malfoy usava roupas em tom verde como sempre (Ele não se cansava da mesma cor?).

Moira sentou do lado de James animada, e imediatamente começou a contar o que tinha acontecido para se atrasarem: aparentemente o pai tinha errado na hora de aparatar e os dois acabaram surgindo em uma poça de água e no meio da chuva. Gina se virou para ele e pela expressão mal humorada a história era verdade.

- Bom dia Malfoy – cumprimentou em tom amigável. – Também tivemos problemas com o tempo. Tive que secar as roupas de James logo que entramos.

- Se soubesse que ia chover nesse lugar, teria marcado no Beco Diagonal.

- Ah, não é tão ruim. Podemos esperar a chuva passar aqui sem problemas.

Ele não respondeu. Possivelmente a idéia de ficar parado com eles o incomodava, pois significava que teria que participar de conversas.

Depois de um tempo ouvindo as crianças, Gina tentou trazer Malfoy de seu mal-humor. Ou melhor, sua curiosidade não agüentou e teve que perguntar.

- Então... Por que quis repetir a dose de ontem?

A expressão no rosto dele revelou que ele só estava esperando o momento em que ela tocaria no assunto. Cruzou os braços e virou a cabeça para o lado oposto, evitando encará-la e quando finalmente abriu a boca falou tão baixo que foi quase impossível ouvir em meio ao bar lotado.

- Moira.

Gina sorriu. Estava certa afinal.

- Ora, ora Malfoy. Você está ficando sentimental com a velhice.

Sabia que era cutucar a onça com vara curta, mas era irresistível. Estava se preparando para ouvir a resposta ácida dele quando Moira deu um grito animado.

- A chuva parou!

De imediato James e ela estavam correndo para fora do Três Vassouras, sem muita escolha Gina os seguiu com Malfoy. Agora que o tempo tinha melhorado, Hogsmeade estava pronta para ser explorada pelas crianças. O céu ainda estava nublado e o clima úmido, mas nada daquilo impediu os dois de correrem pelas ruas.

A vila permanecia exatamente com a primeira vez que Gina a visitou. Era confortante e ao mesmo tempo estranho como pouca coisa mudava, apesar de tudo que tinha acontecido ao passar dos anos. Quando Moira e James chegaram perto da Casa dos Gritos, claramente a animação de Moira terminou. Ao contrário do filho, era a primeira vez que a menina via o lugar.

- Quem ia querer morar nesse lugar? É nojento!

- Não é tão ruim. Mamãe contou que ninguém mora aí de qualquer jeito.

Um vento forte passou pelas árvores quase sem folhas próximas ao terreno da casa, e Moira pulou assustada com o barulho. Gina, que agora estava diretamente atrás deles, colocou uma das mãos na cabeça da menina, para confortá-la.

- É apenas uma casa antiga. Não precisa ter medo.

- Eu não tenho medo! – protestou, mas o som de uma das janelas batendo a fez se aproximar mais de Gina. – Por que não derrubam?

- É propriedade de Hogwarts, o diretor é que decide o que acontece com ela – explicou Malfoy, finalmente se movendo para perto dos três.

- Mesmo? Por quê? – James perguntou curioso.

- Porque sim.

- Mas por que Hogwarts ia ter uma casa assombrada? – tentou de novo James.

- Para detenções. Alunos eram, ou talvez ainda sejam, jogados lá sozinhos, passando a noite com os fantasmas. Particularmente alunos da Grifinória.

James abriu a boca, surpreso. Gina revirou os olhos. Malfoy parecia contente em assustar crianças pequenas.

- Não minta. Não é nada disso. A Casa dos Gritos é só uma casa abandonada. Só isso. Ninguém a usa há anos.

Moira continuava olhando nervosa para o prédio. Finalmente pegou na mão de Gina, que viu Malfoy imediatamente ficar irritado com o gesto.

- Podemos sair de perto daqui?

- Claro. Faz tempo que não visito a loja dos gêmeos. Vem James.

Com cada uma das crianças segurando suas mãos, Gina seguiu para onde antigamente era a loja Zonk’s. Malfoy acompanhando devagar, silenciosamente irritado. Quando chegaram à loja, ele pegou Moira imediatamente no colo. Gina sorriu discretamente, notando que enfim Malfoy estava se preocupando com a filha, mesmo que primeiramente por ciúmes.

O passeio continuou por um tempo sem nenhum evento notável, além de James e Moira se divertindo imensamente. Era quase possível esquecer o sobrenome da menina, se ao menos o pai não agisse de forma tão Malfoy.

Ao final de algumas horas de agitações, as mentes jovens logo se voltaram para comida e os quatro se dirigiram para Madame Pudifoot em busca, claro, de doces e outras guloseimas. Logo depois de serem atendidos, no entanto, Moira ficou novamente de mal-humor. Estava agitada e ameaçou chutar a canela de James se ele não parasse de falar, mas nem pai nem mãe deram atenção. Por fim, talvez cansada de ser ignorada, puxou Malfoy para perto dela e murmurou algo.

- Quê?

Frustrada da falta de compreensão repetiu em voz alta, mas ainda entre dentes.

- Queroirnotoilet.

Ainda meio perdido, Gina tomou a iniciativa de Malfoy.

- Eu levo ela.

Pegou Moira pela mão e foi até o banheiro feminino do local, dando uma olhada para a direção de James. Agora sozinho com Malfoy e sorrindo para o loiro, inocente do quanto era capaz de irritar o homem.




Provavelmente se tratava da ida ao banheiro mais longa da história. Draco primeiro evitou o olhar do menino, que sem dúvida o encarava intensamente. Infelizmente, fingir surdez não era possível. Desconsiderando suas tentativas de ignorá-lo, Potterzinho começou a fazer perguntas inconvenientes.

- Você tem a mesma idade da minha mãe não tem?

- Não.

- Mas vocês se conheciam antes, né?

- Não.

- Você foi pra Hogwarts, ela também. Ficaram na mesma Casa?

- Não.

- Conheceu meu pai?

A última pergunta tinha um tom ansioso misturado com medo. Virou-se para o garoto, estranhando que não estava realmente com vontade de mentir.

- De relance.

Os olhos do moleque imediatamente brilharam. Draco quase se arrependeu.

- Ele era legal. Você viu ele jogar Quadribol? Quando eu for para Hogwarts, quero ser um apanhador, que nem ele!

- Ótimo – respondeu, seu sarcasmo não perceptível para James.

- Será que ele ia gostar de mim? – de imediato ele parou de falar e preocupado se retratou. – Quer dizer, sei que ele gosta! Mas...

Desconfortável não era palavra suficiente para descrever a situação de Draco. Segurou a língua para não falar que era impossível Potter gostar de algo que provavelmente nem sabia que existia. Mas se ele fizesse o menino chorar, faria de sua vida um inferno, então tentou desviar do assunto.

- Se você quer ser um apanhador, precisa de uma boa vassoura. E visão atenta, tanto para o pomo quanto para os batedores. Sem falar no apanhador rival. Não tem nada pior do que apanhador cego.

- Você era apanhador!

- Por um tempo.

- Uau! Você deve ter sido bom! Por que não é jogador profissional?

Deu risada. Ele, jogar por dinheiro? Menino estranho. Mas o elogio foi apreciado por seu ego, mesmo que não admitindo em voz alta.

- Porque não preciso.

- Podemos jogar um dia? Você me mostra algumas jogadas legais?

- Não.

A decepção foi imensa.

- Sua mãe foi apanhadora também. Por que não vai encher ela?

- Ela disse que não lembra muito.

- Então ela mentiu. Ninguém que jogava daquele jeito esquece como.

- Isso foi um elogio?

Draco se virou para Weasley sorrindo arrogantemente, Moira já sentada na cadeira ao seu lado.

- O que foram fazer lá? Procurar os doze usos de sangue de dragão? – perguntou Draco, ignorando o comentário.

Terminado a refeição na Madame Pudifoot, retomaram a visita à vila. Ele estava incrivelmente entediado e não era nem um pouco engraçado. Uma visita à Hogsmeade era mais do que suficiente para conhecer aquele lugarzinho completamente. A animação de Moira podia entender, agora, o moleque? Ele já havia visitado o lugar e mesmo assim estava se divertindo horrores. Era um tanto enjoativo observá-lo, como ver algodão doce por anos.

Potter não tinha sido assim, tinha? A idéia de ver aquele mala feliz e saltitante na infância só acrescentou mais ao ódio que Draco já sentia pelo santo. Mas, pensando bem, a responsabilidade pelo total complexo de Bambi do menino era de Weasley.

Talvez tenha sentindo o ódio fluindo dele, pois a ruiva resolveu encará-lo no mesmo instante. Desde que tinha mandado o convite, Draco sentia que tinha perdido um pouco do seu orgulho, e apesar de admitir que preferia muito mais Moira contente e distraída a ouvi-la gritar em seu ouvido, era difícil encarar o fato de que ele tinha cedido.

- Sabe, eu fiquei surpresa com o convite. Mas... Olhe pra ele – apontou para James e Moira, brincando animados. – Está se divertindo tanto, obrigada.

- Você faz parecer como se nunca o visse assim – algo que Draco considerava muito improvável.

Ela abriu a boca para começar a explicar, mas parou, mudando de idéia.

- Acho que você não ia entender.

- Que seja – deu os ombros. – De qualquer forma, você tem que agradecer à Moira por ser uma menina demônio. Juro que se ela soubesse, teria usado a maldição Império.

Weasley deu risada, mas Draco não estava brincando. Tinha pena dos prováveis namorados da filha (claro que antes ele cuidaria de ter absoluta certeza de que nenhum moleque chegasse perto dela sem autorização dele).

- Espero que ela continue insistindo em nossos encontros.

Nossos encontros? Levantou uma sobrancelha, mas Weasley rapidamente mudou de assunto, talvez por vergonha? Quase riu sozinho, quanta besteira! Ela só estava se referindo as crianças, claro.

- Moira mencionou que a mãe está na França. Ela mora lá?

- Provavelmente, depois que casar com o francês.

Uma pausa. Moira tinha pisado no pé de James por tê-la chamado de dragão mais uma vez. Potteruxo, cavaleiro como sempre, mostrou a língua e falou que a violência só prova o ponto de vista dele.

- Moira vai se mudar para França com a mãe?

Encarou Weasley, indeciso. Onde ela queria chegar com aquelas perguntas? Se fosse mais um de seus sermões, ele não agüentaria.

- É o que parece.

- E você...

- Eu o quê?

- Malfoy, você não liga, não é mesmo?

E lá estava. O sermão se aproximava. E o dia tinha começado tão razoável! Por que a criatura insistia em se meter nos assuntos dele? Parecia algum tipo de doença crônica.

- Poupe-me, Weasel. Não estrague o dia e pare de me encher.

- Que seja – respondeu irritada e parou de falar.

Porém, a boca podia não se mover, mas a mensagem de que ela estava extremamente irritada e com raiva continuou clara como a água por um longo tempo. Weasley realmente achava que sabia como ele funcionava, não é?

Mas ela não tinha nem idéia.




A manhã em Hogsmeade passou. Depois veio à visita a reserva de dragões na Escócia (cortesia de Carlinhos e por insistência de James), uma tarde no hipódromo da corrida de cavalos voadores (Moira simplesmente não conseguia parar de olhá-los), mais um passeio no Beco e assim foi.

De repente, tinha virado rotina fazer algo no final de semana com os Malfoy. Às vezes o convite vinha dela, às vezes de Draco (ou melhor, Moira). O resultado quase sempre foi o mesmo, independente de ela e Malfoy sempre terem um ou outro desentendimento aqui ou ali, todos acabavam se divertindo. Sim, até Draco porque, por mais que ele tentasse esconder, ela via que cada vez mais o convencido gostava da companhia de Moira, orgulhoso do que ela era capaz de fazer (fosse convencê-lo das coisas mais absurdas, ou intimidar um bebê dragão de longe).

Mas a prova definitiva de que o ex-sonserino apreciava não só a companhia da filha, mas de James (e dela!) foi quando ele os levou para uma partida de Quadribol. Puddlemore United versus Ballycastle Bats.

James não conseguia ficar quieto no lugar. Já tinha visto uma vez uma partida de Rony, mas não nos melhores lugares do estádio, com direito a pipoca, chapéus e binóculos especiais. Até Gina foi forçada a confessar que era muito bom ter aquelas mordomias de vez em quando.

- Se divertindo? – ele perguntou, com um sorriso estranho enquanto passava um saco de pipoca para ela.

- Com certeza. Fazia tempo que eu não via uma partida tão intensa! Não sabia que os Bats estão tão fortes nessa temporada... Preciso avisar meu irmão – riu, sabendo que Rony odiava o time dos morcegos.

Estava concentrada no jogo, mas de relance notou que Malfoy pareceu um pouco irritado ou decepcionado com a resposta. O que ele queria? Milhares de agradecimentos pelos lugares e olhares de admiração?

- E você, cabeçudo? ‘Tá gostando?

Para enorme irritação de Gina, Malfoy tinha pegado o hábito de chamar James de “cabeção”, “cabeçudo” e assim por diante. O filho não parecia incomodado, talvez porque às vezes o apelido vinha acompanhado da mão de Malfoy bagunçando o cabelo de James e reclamando do quanto era igual ao do “anti-higiênico” do pai dele. Qualquer coisa que aproximava seu filho de Harry era bem vinda.

Enquanto isso, James nem tinha ouvido a pergunta, quase pulando de ansiedade quando um batedor voou próximo da arquibancada, o suficiente para sua vassoura passar muito perto da cabeça dos quatro. Moira se assustou e depois começou a reclamar da falta de educação daquele jogo.

- Estamos nos divertindo imensamente, ó Malfoy mestre do entretenimento – brincou colocando um chapéu de morcego na cabeça de Draco, para seu enorme desconforto. – Relaxe.

- Eu estou relaxado! – protestou tirando chapéu e colocando na cabeça de James.

James, torcedor do United no momento, tirou rapidamente o negócio da cabeça e enfiou em Moira.

- Isso não combina com o meu vestido!

Sua irritação foi suficiente para fazer o chapéu levitar um pouco e ser jogado contra o outro batedor que insistiu em passar perto demais dos torcedores. A satisfação e orgulho no rosto de Malfoy eram inconfundíveis.

- Isso é chato! Quando termina esse jogo, afinal de contas?

- Quando o apanhador pegar o pomo – responderam os outros três, em diferentes tons.

Moira revirou os olhos para cima, colocando as mãos no queixo e bufando. Gina ficou com um pouco de dó da menina e lhe passou um saquinho de Feijõezinhos de Todos os Sabores, o que foi suficiente para distraí-la até o fim da partida.

Era tão estranho...

Pareciam uma família.

O sorriso de triunfo de Draco quando James anunciou que aquele tinha sido de longe o melhor passeio de todos, levou Gina a acreditar que ela não era a única a sentir aquela sensação estranha.




N/A: Estou de volta! É tão estranho escrever Draco depois do sétimo livro, risos. Mas acabei voltando ao ritmo surpreendentemente fácil! Espero que tenham gostado. Eu não desisti da fic, não pretendo jamais. E vou terminá-la com certeza, afinal sempre tive tudo programado. Espero acabar em breve também, se não começar a trabalhar esse ano. Obrigada pelas reviews, please continuem lendo.

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