Gatinhos e um sorriso

Gatinhos e um sorriso



Capítulo 5 – Gatinhos e um sorriso




Jamais imaginaria que se encontraria em uma situação como aquela. Passar o dia com Malfoy e a filha dele pelo Beco Diagonal? Definitivamente não estava na sua lista de coisas que poderiam acontecer na sua vida. E o mais extraordinário era que estava gostando! James também parecia se divertir, já de volta a sua cor natural e sem chifres, graças a Merlin. Moira tinha esquecido por completo a dor de cabeça e estava se dando bem com James.

Após tomarem várias bolas de sorvete e se encherem de chocolate e outros doces, as crianças estavam olhando a vitrine da loja de equipamentos de Quadribol, enquanto James contava tudo sobre seu tio Rony e como ele era o maior jogador da Terra. Moira não parecia muito impressionada.

- E aí a gente estava procurando um presente pra ele! Quero comprar aquilo ali, viu? – apontou para um baú entalhado com cenas de Quadribol que custava quase o preço de um modelo novo de vassoura. – Para guardar as bolas dele!

- Achei que Granger já tinha feito isso – murmurou Malfoy para si mesmo, obviamente.

Gina virou para ele, lhe dando um olhar feio.

- Algum problema, Weasel? – abriu um sorriso cínico.

Felizmente nenhuma das crianças ouvira o comentário cretino. Tirando momentos como aquele, Malfoy surpreendentemente tinha se comportado bem, ou pelo menos melhor do que de costume. Andava afastado dos três, com certeza querendo fingir para o resto do mundo que não estava com eles, não falava muito e pagava o que Moira (incentivada por Gina todas as vezes, porque se divertia em fazê-lo sofrer) queria comprar. Parte dela começava a suspeitar que talvez ele estivesse se divertindo também. Mas sabia que era loucura e continuou a tomar seu sorvete de casquinha.

Sabia que era má sorte elogiá-lo muito, principalmente depois do que fez em seguida.

- James – começou ele em falso tom de simpatia. – Acho que seu tio vai adorar esse baú. É realmente muito bonito. Devia comprar.

Queria esganá-lo! Com certeza tinha visto o preço absurdo e queria humilhá-la pelas vezes que o forçara a comprar coisas para Moira. James ficou radiante em ouvir a aprovação de Malfoy e se animou mais ainda.

- Mãe, mãe! Podemos comprar o baú?

“Ah não”, suspirou sabendo que estava encrencada. Sentiu os olhos de Malfoy nela, saboreando sua vingança.

- Não sei, James – ficou vermelha não sabia se de raiva ou constrangimento. – O preço é... É um pouco acima do que eu estava planejando.

- Mas é uma obra-prima, vale cada galeão que estão cobrando. Pode ter certeza, sou especialista – riu Malfoy.

Deixe para Malfoy arruinar um dia divertido. No entanto, sua salvação veio de forma inesperada.

- Eu acho feio – comentou Moira olhando para o negócio como se fosse lixo. – Por que não compra aquilo ali? – e apontou para um par de luvas de couro de dragão e com detalhes na cores d’Os Canhões de Chudley; o que mais agradou Gina sobre a sugestão foi o preço consideravelmente mais baixo.

James olhou para a luva, para o baú e depois para a mãe. Abriu um sorriso um pouco resignado, mas pareceu entender a situação. Não que faltasse dinheiro para viverem, os Weasley estavam em melhores condições nos últimos anos, porém, também estavam longe de serem ricos para esbanjarem em presentes. Havia o dinheiro deixado por Harry para os Weasley, que concordaram que deveria passar para James, mas Gina estava guardando para uma emergência e, principalmente, para os estudos do filho.

- Boa idéia! Gostei! Podemos comprar elas?

- Claro – sorriu para o filho, aliviada e orgulhosa pela sua compreensão.

- Posso eu comprar? Quero escolher o papel de presente!

Gina deu o dinheiro para ele, conhecia o dono e sabia que não haveria problemas. James e Moira entraram na loja logo depois, ansiosos. Foi então que lembrou que estava sozinha com Malfoy. Bem, tecnicamente não sozinha pois estavam numa rua lotada de bruxos, mas ainda assim era desconfortável. Será que tinha que conversar com ele ou coisa parecida? Suspirou e resolveu fazer uma tentativa.

- Moira parece estar se sentindo melhor, não acha?

- Não precisa se vangloriar da vitória, Weasel.

- Não estou – revirou os olhos, era tão difícil ele entender? – Isso não é uma competição para ver quem são os melhores pais. O mais importante é Moira estar feliz.

- Você não cansa de ser tão chata?

Desistiu, não valia a pena. Deixando o silêncio reinar, observou pela vitrine as crianças dentro da loja se divertindo, fascinadas pelos equipamentos de Quadribol. Ou melhor, a fascinação de James e a curiosidade de Moira pela fascinação dele. Eram um par estranho, mas sabia que se tivessem mais tempo seriam bons amigos. E também, pela primeira vez em muito tempo, James passara mais de três horas sem correr atrás de alguma história maluca que imaginara, o que a deixava aliviada.

- Ela está sorrindo mesmo – murmurou Malfoy, parecendo surpreso e não percebendo que Gina estava ouvindo.

- Isso acontece às vezes, sabe. Quando eles estão felizes. Você saberia isso se a fizesse feliz uma vez ou outra.

Virou-se para ela irritado mas não disse nada, para seu choque. Apesar de seu comentário ácido, Gina estava contente em saber que ele se importava um pouco com a filha. Ainda havia esperanças para aqueles dois. No entanto, perceber aquilo a fez se arrepender um pouco de ter sido cruel.

- Olha... Desculpa. Não quis te insultar.

Malfoy piscou duas vezes, mas não era o único. Ela também não podia acreditar no que acabara de falar.

- Erm... É sério – continuou. – Você estar aqui já diz que está tentando.

Ele fez uma cara de incredulidade antes de respondê-la.

- Você me obrigou a vir aqui prometendo para Moira esse passeio estúpido.

- Mas na verdade não precisava ter vindo, não é mesmo?

Gina sorriu vendo que ele não tinha entendido. Terminou seu sorvete para deixá-lo em suspense.

- Ora vamos... Se fosse mesmo um pai tão ruim quanto parece, teria pegado Moira, a levado para casa e ignorado minha promessa. Mas não. Está aqui, agüentando minha presença por ela.

Estranho estar defendendo aquele homem quando ele mesmo não parecia acreditar que merecia. Porém, não foi contestada e voltaram a olhar para a vitrine. Agora James esperava que o presente fosse embrulhado enquanto Moira reclamava da demora. Podia jurar que viu no reflexo Malfoy sorrindo sozinho e parecendo aliviado. Mas novamente, não era possível, estava imaginando coisas.





Weasley estava encarando ele de novo!

Depois do incidente da loja de Quadribol a mulher teimava em observá-lo toda hora, e ainda por cima andando ao lado dele enquanto as crianças corriam de vitrine a vitrine. Era... Perturbador. Já não bastava irritá-lo com seu joguinho de “vamos fazer Moira gastar todo o dinheiro do pai em besteiras”?

Pouco ligava com o dinheiro gasto, era rico (ao contrário dela) e não se importava em mimar Moira. Contanto que ela não chorasse ou fugisse de novo, estava ótimo para ele. Não, o que lhe irritava era perder para Weasley. Ela tinha mais influência em sua filha que ele, conseguia que abrisse portas, aceitasse convites para passeios e quem sabe mais o quê!

Porém, o que mais o assustava era que ele tinha aceitado tudo aquilo. Estava lá, não estava? Olhando os três se divertirem tomando sorvete e rindo que nem idiotas. Por Merlin, tinha dirigido a palavra ao filho do Potter sem insultá-lo, tudo bem que fora para se vingar de Weasley mas ainda assim era... Perturbador. E, ao mesmo tempo, melhor do que passar o dia batalhando contra a própria filha.

Podia ser pior, concluiu.

Na noite anterior Moira, após cinco ou seis tentativas, tomara a poção para sua suposta dor de cabeça, mas continuou o restante da madrugada reclamando e o pouco de sono que Draco conseguiu foi depois de prometer que ficaria ao lado dela até que dormisse. Quando acordou, ela continuava reclamando, a ponto de gritar que havia piorado. Começou a ficar preocupado, não entendia nada de doenças, muito menos de crianças, e nunca passou por sua cabeça que ela estava fingindo. Já irritado com a falta de sono, foi obrigado a esperar em St. Mungos com Moira praticamente chorando em seu ouvido (só parou quando ele a pegou no colo, o que ajudou em relação à irritação mas o deixou com dor nas costas).

Em comparação com aquele pesadelo, um passeio no Beco Diagonal não era tão ruim, mesmo incluindo Weasel e Mini-Potty. Mas quanto tempo aquilo duraria? E por que aquela mulher queria ajudar Moira? Ainda não conseguia acreditar que era apenas por bondade de seu coração pobre. Ela dizia que não queria dinheiro nem emprego, então o quê? Humilhá-lo? Jogar em sua cara que não era bom pai?

Olhou rapidamente para Weasley, quem sabe em busca de alguma resposta. Uma pessoa não ajuda outra sem ter motivos por trás. Não existe altruísmo, mesmo se não há nada financeiro para se ganhar, sempre existe algum ganho. “O que ela disse no hospital? Que precisou da ajuda da família ou algo assim?”, tentou lembrar mas era difícil pois não costumava guardar o que outros abaixo de seu nível lhe diziam.

Enquanto caminhavam, de olho nas crianças à frente, cometeu de certo modo um erro: dirigiu à palavra à Weasel.

- Então Weasley, qual é a sua história? – se viu perguntando antes que pudesse se controlar.

Pelo menos a pegara de surpresa, qualquer vantagem era bem-vinda.

- Minha história? Sério? – repetiu perdida, depois soltou uma risada. – Ok, serei boazinha. Você tem 5 segundos para retirar a pergunta. Prometo que vou fingir que não ouvi nada.

Os segundos se passaram, recusava dar para trás agora. Significaria aceitar ajuda de Weasley.

- Sorte sua que não há história para contar – deu de ombros.

- Não venha com essa. Estava tagarelando no hospital, agora vai fechar a matraca? Tem algum segredo escuso para esconder?

- Ah, então você estava ouvindo em St. Mungos. Estou impressionada.

A vantagem estava com ela, mesmo irritado foi obrigado a admitir. Tinha que pensar rápido, qualquer coisa para insultá-la...

- Talvez porque você estava gritando no meu ouvido. Vai contar ou não?

- Não tem o que contar – insistiu mas Draco percebeu que estava ficando incomodada. -Terminei Hogwarts, James nasceu e aqui estou – riu fracamente.

Draco arqueou as sobrancelhas, interessado cada vez mais em descobrir o que escondia, para depois usar contra ela, obviamente. Deixou que pensasse que o convencera e continuaram andando em silêncio por mais alguns minutos, nesse tempo notou que agora Weasley parecia determinada em esconder suas mãos dele, as colocando para trás. Mas era tarde demais porque já há algum tempo notara a falta de uma aliança em seu dedo.

Sorriu, juntando as peças do quebra-cabeças. Não estava surpreso, Potter morreu afinal e felizmente ainda não existia formas de ressuscitar os mortos para que se casassem com antigas namoradas. E se levando em conta que ele morreu com 17 anos, tudo ficava bem mais claro. Não era à toa que não queria falar do passado para Draco. Mas não era problema, na verdade deixou as coisas um pouco mais divertidas.

- Já que não vai me contar, eu faço isso. Você era a fã número um dele, idolatrava o chão que ele pisava. Depois de anos, Potter finalmente te notou, sendo jovem e inocente dormiu com ele achando que seriam felizes para sempre. Pena ele ter morrido e tudo mais. Mas para completar Potter ainda te deixou com um filho pra cuidar sozinha – falou tudo em um tom de falsa dramaticidade. – A velha história de sempre. Esse é o problema com sexo antes do casamento, não te ensinaram?

Estranhamente ao invés de cair aos prantos ou lhe enfiar uma varinha no rosto, Weasley apenas abriu um sorriso amargo que não lhe agradou em nada. De que adiantava insultá-la se ela não ficava insultada?

- Nunca imaginei que você era do tipo conservador, Malfoy. Não me arrependo do que fiz. Desculpe te desapontar, mas isso já não me incomoda mais.

- Pena. Mas ainda não explica o que Moira tem a ver com tudo isso.

- É tão difícil acreditar que não estou fazendo isso para ganhar alguma coisa?

- É.

Ela suspirou antes de continuar.

- Então de que adianta eu responder se não vai acreditar de qualquer forma?

Moira e James pararam sua correria finalmente, estavam na frente da loja de animais olhando todos os bichos como se fosse o maior evento do século. Weasley estava certa, não ia acreditar nela, descobriria sozinho. James correu para perto da mãe e pediu para entrar na loja. Moira, claro, já tinha entrado por conta própria, pouco se importando em ter autorização, o que não lhe deixou opção e junto com Weasley entrou no lugar infestado de animais com o cheiro para provar.

Havia algumas corujas velhas, sapos gigantes e outros bichos mais estranhos. Draco se interessava por animais tanto quanto gostava de crianças, sua única preocupação naquele lugar era manter-se afastado de qualquer coisa que pudesse mordê-lo ou sujar suas roupas. Perdera Moira de vista, então resolveu que o melhor lugar para ficar era perto da porta, caso ela resolvesse sair de repente e sumir de novo.

O menino e Weasley, enquanto isso, estavam alimentando uma das corujas, que mais parecia empalhada. Incrível como aquele moleque se contentava com tão pouco, mas vindo da família que vinha não era como se tivesse muita opção. Será que era James Potter ou James Weasley? Com certeza a mãe tinha enchido o menino de histórias glorificadas de como Potter era o rei do universo e um santo. Até morto Potter era irritante.




- É bem maior que o Píchi, né? Qual o nome dela?

- Freya, é a maior coruja da loja – explicou a dona da loja para James.

Ele estava fascinado pela coruja e insistiu em alimentá-la. Era certamente um animal bonito, mas não tanto se comparada à Edwiges. Virou o olhar para Malfoy, parado e com cara de tédio perto da porta, e depois procurou por Moira.

- James... Onde Moira foi?

Apontou para atrás do balcão onde havia uma porta aberta para os fundos da loja. Logo depois, ouviu-se um estrondo vindo da mesma direção, imediatamente a dona e Malfoy foram até lá. Gina e James os seguiram.

Era uma sala pequena cheia de caixas de ração e entre algumas delas estava Moira agachada perto de uma cesta onde sete gatinhos miavam e brincavam entre si. Os três adultos ficaram aliviados em descobrir que nada de errado havia acontecido.

- A mãe deles foi vendida há alguns dias, o comprador não quis os filhotes – informou a dona.

- Eu quero brincar com eles! – pediu a menina mas seu tom não era agressivo, simplesmente animado. – Mamãe tem alergia, nunca posso brincar com gatos!

Todos os olhos da sala se viraram para Malfoy, que bufou.

- Está certo.

Gina sorriu ao ver o rosto da menina se iluminar mais ainda. Será que Malfoy não percebia que ela só queria carinho e atenção? Mesmo só a observando por algumas horas, já tinha notado que toda vez que o pai lhe dava algum traço de atenção se tornava doce e alegre. Crianças não são más ou cruéis por gostarem, apenas reagem da única forma que sabem para se defenderem.

James logo depois também pediu para brincar com filhotes, e os dois começaram a dar nomes para os gatinhos, discordando todas as vezes. A dona da loja saiu para atender um cliente e mais uma vez Gina ficou “sozinha” com Malfoy. Não mentiria: o modo como ele descobriu tão facilmente seu passado e o desdém que usou para contá-la tinha lhe deixado um pouco chateada.

Não tinha vergonha do que fizera, muito menos de James. Porém, não havia sido fácil enfrentar os olhares de reprovação de toda comunidade, principalmente quando a imprensa resolvera divulgar sua gravidez como se fosse um milagre, o retorno do “messias” do mundo mágico. Se não fosse sua família lhe apoiando, era provável que tivesse fugido da Inglaterra para um lugar bem distante.

Olhou para Malfoy, finalmente percebendo algo. Como ele não ficou sabendo de tudo aquilo anos atrás? Não havia ninguém que não conhecesse o filho de Harry Potter (muitas vezes esqueciam-se que Gina Weasley existia, e algumas pessoas até mandaram cartas querendo adotá-lo), ao ponto que quando James nasceu houve uma distribuição de uma edição especial d’O Profeta Diário para a Inglaterra inteira.

- Que foi agora? – ele perguntou irritado.

Só então que percebeu que o encarava tempo demais.

- Qual é a sua história Malfoy?

- Minha história não é da sua conta.

Revirou os olhos e não tentou mais. Não valia a pena. Melhor o silêncio que mais uma discussão, preferia observar as crianças brincarem. Porém, alguns minutos depois Malfoy a surpreendeu.

- Por que você quer saber Weasley?

- Não sei – respondeu sinceramente. – É estranho como a vida dá voltas, só isso.

- Que quer dizer?

- Última vez que vi você... Foi alguns minutos antes de minha vida desabar.

Ele a olhou claramente confuso.

- Alguns minutos antes de você sair correndo para a Torre de Astronomia em Hogwarts – explicou em um tom de voz mais baixo.

- Isso faz muito tempo – cortou secamente.

- E agora você tem uma filha e, como eu, tem que cuidar dela sozinho. Como isso aconteceu?

- Má sorte.

Suspirou.

- Uma pena que pense assim da sua filha. Só me faça um favor e não fale assim na frente dela, está bem?

- Eu estava me referindo ao fato de estar na mesma situação que você, Weasel.

- Então eu digo que, devido ao seu passado, você tem sorte. Se não tivesse estaria ainda preso em Azkaban – afirmou, começando a ficar irritada.

- Como sempre, vocês são centrados. Você acha que foi só a sua vida que desabou naquele momento? – revirou os olhos e lhe deu às costas, voltando para a parte da frente da loja.

Virou-se para as crianças e percebeu que James a observava curioso. Na verdade, não sabia de onde surgira o rancor que sentia no momento. Quando perguntou sobre o passado de Malfoy nem lhe passara na cabeça o que ele havia feito em Hogwarts. Se nem na época Harry colocou em seus ombros a culpa pela morte de Dumbledore, então por que ela deveria?

De uma hora para outra, ou melhor, quando ele mostrou repúdio em estar na mesma situação que ela, se viu irritada. Talvez fosse pelo fato de que Malfoy nunca sequer demonstrara algum tipo de sentimento de culpa, ou mesmo tristeza, pela morte de Dumbledore e pelas conseqüências que ela havia trazido.




“Ela fala como se a morte de Potter fosse minha culpa,” pensou irritado. Quem dera fosse! Odiava ela e todos outros os amiguinhos de Potter que se faziam de santos, se colocando em altos pedestais de moral e bondade. Mas, principalmente, odiava lembrar do passado.

Como se ela soubesse o que é não pertencer a nenhum lado, sem ninguém de confiança para pedir ajuda. Não tinha arrependimento, fizera o que tinha ser feito. E pagou por isso. Um mês em Azkaban, pais derrotados e uma única pessoa ao seu lado. Pansy. Que tinha resolvido se casar com ele apenas porque estava grávida. Uma fórmula perfeita para um casamento feliz. Principalmente se ela resolve jogar isso na sua cara todos os dias em que estavam casados. Para completar, ela só conta da real razão para o casamento alguns dias depois da morte dos pais dele.

Sem contar, claro, que o idiota gostava da esposa. Sim, realmente, teve muita sorte.

Sentiu a mão de alguém em suas costas e se virou rapidamente, irritado.

- Moira quer ir embora – foi apenas o que Weasley disse antes de passar por ele junto com o filho.

Pegou a filha no colo e quando saiu da loja já não havia nenhum sinal de Weasley. Ou pelo menos assim pareceu, por alguns instantes, até que ela apareceu em sua frente tão repentinamente que levou um susto.

- Você teria feito diferente se tivesse escolha?

- Que está falando agora?

- Se tivesse escolha, teria deixado os Comensais entrar em Hogwarts?

- Quem disse que eu não tive escolha?

- Harry me contou que você fez o que fez porque tinha medo que sua família fosse morta. Está me dizendo que é mentira?

- Como...?

- Talvez se eu tivesse na mesma situação que você, teria feito diferente. Mas mesmo assim, posso entender o que fez. A questão é, se tivesse escolha você teria agido diferente?

Estava atordoado com a pergunta e a insistência dela. Não tinha a menor intenção de falar com alguém sobre o assunto, muito menos para Weasley. Porém algo nos olhos dela, o modo como sua voz estava determinada, mas ao mesmo tempo suplicante, o fez responder com sinceridade.

- Não sei. Não sei se ia ter a coragem. Satisfeita?

- Sim.

- Ótimo.

Instantes se passaram em silêncio até o filho de Weasley lhe puxar a manga.

- A briga terminou? Estou com fome.

- Eu também! Quero ir comer! – concordou Moira.

Weasley olhou para o filho e depois para a menina.

- Depois de todo aquele doce? Por Merlin, como comem – sorriu, depois virou se dirigindo a Malfoy. – Vamos almoçar n’O Caldeirão Furado?

“O que raios acabou de acontecer aqui?”

Draco não só estava confuso, também estava de um modo estranho completamente calmo. Ou seria aliviado?

- E então? Vamos ou não vamos?

- Não é como se eu tivesse muita opção – respondeu sentindo o olhar ansioso de Moira.

Weasley abriu um sorriso a principio, segurando o riso. Depois foi incapaz de continuar e soltou uma risada que não era sarcástica nem triunfante, apenas sincera.

Quando estavam os três à frente dele, a caminho do bar, Draco se viu com aquele sorriso fixado em sua mente.

Que dia estranho estava sendo aquele, pensou, antes de perceber que acabara de ele próprio abrir um sorriso.




N/A: Desculpa a demora, faculdade e estágio etc etc. Felizmente deu para terminar nesse feriado o capítulo. Thanks pelas reviews e Lucy pela betagem. :D

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