Conselhos e memórias
Capítulo 4 – Conselhos e memórias
- Ela não quer ir com você!
Draco encarou o menino com, primeiro, divertimento. Não podia ser sério um anão tentando impedir que levasse sua filha embora.
- Sai da frente pivete antes que eu pise em cima de você.
- Ela não gosta de você e não quer ir então não vou deixar!
Graças a insistência da criança se obrigou a dar uma segunda olhada no menino e o que viu não gostou. Era como se estivesse na frente de uma boneco assassino versão Potter. Uma miniatura saída do inferno. Potter não tinha morrido faz muito tempo? Mas lá estava... O cabelo todo desarrumado como o de um sem teto e um par de olhos verde. Até a atitude de salvador da humanidade ele tinha.
Draco apostava que o dia não podia ficar pior.
- E o que você pretende fazer para me impedir moleque? Chutar minha canela? – riu.
- É!
O mini-Potter estava prestes a fazer aquilo quando duas mãos o seguraram.
- James... Deixa que eu cuido disso.
Mais uma vez Draco foi forçado a prestar atenção em quem estava em sua frente. Não foi muita surpresa quando notou o cabelo ruivo e as sardas, não conhecia a mulher mas tinha que ser uma Weasley, só mesmo uma para ter o filho de Potter e infelizmente continuar a espalhar os genes dele.
- Moira é sua filha então?
- Por que mais eu ia agüentar ela? Por prazer de cuidar de uma criança demônio? – riu.
Nenhum dos três pareceu apreciar a piada, o moleque e a mãe tinham um olhar tão feio e irritado que Draco não tinha mais dúvidas de quem se tratavam. Moira, ao contrário, só empinou o nariz e engoliu o último pedaço de chocolate que tinha em mãos.
- Eu não sei qual é o seu problema e o do seu filho sem-educação e não me importo, mas é melhor saírem da minha frente.
- Antes quero saber porque a sua própria filha não quer sua companhia? Apesar de imaginar muito bem a razão... Decidi que você deveria ter uma chance de se explicar – disse a ruiva.
- Decidiu é? Que lindo. Eu não preciso me explicar para gentinha que nem você. Ou sai da minha frente agora ou vou chamar o Ministério para prender você e seu filho. Aposto que Azkaban é o perfeito lugar para criar uma criança. Ela é a minha filha e vem comigo agora. Não podem me impedir, sou o pai e se tentarem vou acusá-los de tentarem seqüestrarem ela. Entendido?
A ruiva balançou a cabeça, sem se afetar pela a ameaça o que o irritou mais ainda.
- Não estou querendo brigar com você, Malfoy. É perda de tempo. Mas você deve se perguntar bem o quanto pai é de verdade se a filha foge da sua companhia e prefere passar o tempo com completos estranhos.
- Poupe-me de sua ladainha. Vai sair da frente ou não?
Parecendo determinada em deixá-lo nervoso, ela se virou para Moira.
- Se você não quiser mesmo voltar com ele, eu não vou deixar.
- Não ouviu nada do que eu disse, sua idiota! – gritou.
Não agüentaria mais nem um minuto daquela situação ridícula, empurrou a mulher para longe junto com o filho e pegou Moira no colo. Era mais pesada do que pensava mas agora não era o momento de reclamar. Deu as costas para os dois mas a abusada da ruiva estava determinada a segui-lo não importava o quanto andasse rápido.
- Sabia que eu encontrei sua filha na Travessa do Tranco? Ela poderia ter sido raptada de verdade. Por caso se preocupou?
- Vai cuidar da sua vida.
- O que você fez de tão ruim para que ela fugisse? Deveria amar seus filhos, não tratá-los como um problema!
- Quanto tempo você ficou com o Moira? Ela é um problema!
- Só porque você não sabe cuidar dela!
- Melhor você parar de falar, idiota... Ou eu vou perder minha paciência.
- Não é porque seus pais eram incapazes que você tem descontar nela!
Draco parou de andar e os outros dois fizeram o mesmo. Moira olhava para ela com admiração o que só o fez odiar a ruiva mais ainda.
- Você não tem o direito de falar NADA sua imbecil! Quem é você para julgar minha vida? Quem te fez a especialista? Vá arranjar dinheiro para comprar roupas decentes pro seu filho e não me encha nunca mais.
Entrou no Caldeirão Furado e na lareira rapidamente, deixando para trás os dois imbecis.
Estavam na cozinha da Toca horas depois, Gina contou para os pais o que havia acontecido no Beco junto com a interpretação do eventos muitas vezes colorida de James. Por mais que não gostasse de Malfoy e quisesse ajudar Moira não era seu lugar praticamente seqüestrar a menina. Seus pais concordaram apesar da insistência de James em pedir que eles ajudassem Moira. No fim, foi dormir frustrado com a falta de ação dos adultos.
- Não há o que fazer. Mesmo que ele seja um pai ruim, você não podia trazer a menina aqui, querida.
- Pelo que parece Draco Malfoy está indo pelo mesmo caminho do pai – balançou a cabeça seu pai. – E levando junto a filha.
- Não posso falar muito... Afinal perdi James também.
- Não se compare com ele Gina! – interrompeu a mãe. – Você encontrou ele antes que alguma coisa ruim acontecesse e não trata James desse jeito terrível!
Gina não respondeu. Algumas vezes era difícil não duvidar de suas habilidades como mãe. Momentos como aquele dobravam as saudades de Harry e aumentavam ainda mais suas inseguranças. Ele seria um pai perfeito e mesmo que James tentasse fingir que não sentia falta de um, ela sabia que fazia diferença não ter Harry em suas vidas. Não era justo que pessoas como Draco Malfoy tivessem a chance de serem pais quando Harry não.
- Não há o que fazer além de torcer para que o jeito Malfoy não se impregne tanto na menina - suspirou seu pai. - Quem sabe o fato que ela não quer ficar como ele não seja um bom sinal de que pretende ser diferente dele.
Gina levantou da cadeira, era inútil pensar em Moira agora, talvez depois de uma boa noite de sono não pensasse em algum modo de ajudá-la mesmo que de longe.
- Vou olhar James. Duvido que depois da agitação de hoje ele tenha dormido ainda.
Desejou boa noite para os dois e subiu até o quarto do filho, o encontrando já deitado mas bem acordado, como já previra, parecia frustrado ainda com a história de Moira. Para alguém com síndrome de herói era difícil compreender que nem todos podiam ser salvos.
- Você devia estar dormindo – disse sentando na beira da cama, puxando as cobertas para cobri-lo melhor.
- Não consigo.
- Ainda pensando no que aconteceu?
James se revirou na cama, olhando na direção da mãe, pela expressão que tinha havia passado muito tempo pensando no que estava prestes a falar.
- É só que... Eu não entendo.
- Eu também queria ajudar Moira mas não era nosso lugar. Querendo ou não, ele é o pai dela.
- Eu sei. Não é isso. É que não entendo como ela não gosta do pai. Ela tem uma mãe e um pai mas não quer eles. Como é que pode?
Então era aquilo. Estava confuso com o fato que alguém possa não gostar dos próprios pais. Como ela poderia explicar sem que James perdesse a fé na figura paternal?
- Às vezes os pais não são a melhor companhia, às vezes os filhos acham que os pais não os amam ou não estão pensando no bem deles e por isso querem ir embora. Não fique surpreso se um dia não quiser mais passar tempo comigo – sorriu imaginando como James seria quando adolescente, na verdade apostava que ele seria calmo e educado, nada perto da revolta típica da idade.
Ele arregalou os olhos, chocado com a mera idéia de não querer ficar próximo da mãe.
- Nunca!
Gina riu com a certeza da afirmação, esperando que ele estivesse certo.
- Nunca fale nunca. Agora é melhor dormir, amanhã vamos tentar de novo ir atrás de um presente para seu tio.
- Será que Moira vai estar lá?
- Não sei.
Levantou, lhe dando um beijo de boa noite na bochecha. Esperava que nem Moira nem Malfoy voltassem a aparecer em suas vidas, estavam bem sozinhos.
Precisava de uma boa poção para dor de cabeça, pena que não estava nem um pouco interessado em se levantar do sofá. Seu dia tinha sido um completo fracasso fechado com chave de ouro com um berrador furioso do chefe de Gringotes. Porém nada se comparava à garota Weasley e seu filho, o Potter 2.0.
Como criaturas como os Weasley e Potter eram permitidas a procriarem? Leis contra tal abominação deveriam ser impostas. E ainda por cima criticando ele e lhe dizendo como criar sua filha? A audácia da sardenta!
Falando em filha... O projeto de demônio sumira no momento que pisaram na casa, saindo correndo e Draco não se deu o trabalho de segui-la. Com qual objetivo? Ela não queria tê-lo por perto de qualquer forma.
“Mas você deve se perguntar bem o quanto pai é de verdade se a filha foge da sua companhia e prefere passar o tempo com completos estranhos.”
A voz da atrevida do Beco ressoou estridente em sua mente aumentando sua dor de cabeça já bem dolorida. No fundo, bem fundo mesmo, sabia que a criatura estava certa. Ele não era um bom pai nem mesmo era um pai, não estava em seu currículo. Com certeza era preciso algum tipo de curso para ser capaz de lidar com crianças.
Achava finalmente tinha conseguido algum avanço na sorveteria mas parecia que só piorara tudo. Sem perceber estava preocupado com o que a menina pensava dele! Que estava acontecendo? Em menos de quinze dias nunca mais voltaria a vê-la. Na verdade, pensou, era até melhor daquele jeito.
Virou a cabeça para olhar o relógio na parede, era tarde. Passara da hora de crianças de sete anos irem dormir, talvez fosse melhor checar se Moira não teria fugido ao invés de ir para cama.
Com certa relutância, pois a perspectiva era ruim, saiu do conforto relativo de seu escritório e foi para o quarto onde Moira deveria estar. A porta estava trancada, colocou o ouvido na madeira mas não escutou nada. Porém, daquela vez Alohomorra funcionou e pôde entrar no quarto.
Para seu alívio a encontrou enfiada debaixo das cobertas grossas, dormindo. Havia algo definitivamente estranho acontecendo se olhar aquela menina caída no sono, parecendo quase um anjinho pacífico, lhe deixava emocionado. Qual era o problema dele? Moira continuava o odiando e no minuto que acordasse tudo voltaria ao normal: ela em um canto, ele em outro e de preferência bem distantes.
Será que Moira também fugia da mãe? Ou era só um tipo de alergia à ele? Era bem possível que ela fugisse de todos, principalmente babás, mas ao invés daquela conclusão aliviá-lo, Draco continuou secretamente ofendido. Não era que ele quisesse por perto uma boneca amaldiçoada, mas aquilo não dava o direto dela evitá-lo como a praga.
Deu de ombros, percebendo que era inútil pensar naquilo. No dia seguinte nada teria mudado e, na realidade, era bem capaz que ficasse pior. Teria encarar cada dia por vez, e torcer que no final saísse são e salvo daquela situação bizarra.
Fechou a porta atrás de si com cuidado para não acordar Moira com o barulho. Por sorte não tinha nenhum compromisso no outro dia, assim ela podia passar todo seu tempo enfiada no quarto se quisesse e não haveria outra guerra como na manhã anterior.
Cansando como não se sentia em muito tempo, foi para seu próprio quarto e caiu na cama pronto para dormir a noite inteira. Mas ao invés se viu bem acordado por várias horas, lembrando sem querer da época que ainda era casado. Ou mais especificamente: dos poucos momentos que teve com Moira bebê, antes de Pansy ir embora.
Não negava que ficou decepcionado com a notícia que o bebê era um menina, ao invés do menino que queria. Era tradição na família Malfoy, segundo seu pai, que o primogênito sempre fosse menino e assim o herdeiro definitivo, mas no fim se acostumou com a idéia. Talvez uma das razões de seu distanciamento também havia sido aquilo. Acabou deixando a maior parte das responsabilidades para Pansy.
Também recordava-se muito bem da apreensão que teve pela aparência da menina, não poderia agüentar ter uma filha com a cara de buldogue da mãe mas como era apenas um bebê não havia como saber exatamente como seria quando crescesse. Na época o rosto basicamente consistia apenas de bochechas fartas e olhos pequenos cinza como os próprios dele. Estranho que só se lembrou daquela preocupação naquele momento, anos atrás foi motivo de sérias preocupações, a ponto dele pesquisar feitiços e poções para garantir mais chances da criança nascer com uma certa aparência.
Por enquanto, refletiu, Moira parecia uma pequena Narcissa e se não fosse tão emburrada seria mais bonita ainda, porém havia mais chances de ficar mais irritada conforme crescia, imaginar ela adolescente lhe dava arrepios. O rosto era arredondado como o de Pansy mas as feições eram mais delicadas, havia mais Malfoy nela do que Parkinson felizmente.
Outro motivo de preocupação foi o nome. Pansy insistia em um nome de flor, como era costume em sua família, ele desejava um nome tradicional Malfoy. Foram dias de discussões e gritos estridentes exagerados dela. No final Draco venceu, antigamente sempre ganhava discussões com Pansy pois ela não conseguia contestá-lo por muito tempo com medo que ele lhe deixasse. O que se tornou irônico. Enfim, após uma pequena pesquisa Draco decidiu pelo nome de sua bisavó paternal Moira. Um nome forte e sério que nada combinou a principio com o bebê risonho mas que atualmente caia como uma luva.
Estava há tempo considerável imerso naquelas memórias, sem sinais de adormecer, quando ouviu a porta de seu quarto abrir devagar, rangendo com o movimento incomodando o silêncio que estava anteriormente. Achou que era o vento, mas estava enganado. Era Moira, de pés descalços e pijama.
Sentou na cama e a fitou surpreso. Não disse nada, nem questionou a razão dela estar fora da cama, achou melhor esperar que falasse primeiro.
- Minha cabeça dói – reclamou, passando uma das mãos nos olhos, sinal de que tinha acordado a pouco. – Muito.
Por pouco não levantou a sobrancelha e respondeu “O que tenho a ver com isso? Volta pra cama e não me enche”. Talvez fosse o cansaço ou o horário mas ao invés chamou Trotter, que apareceu sempre pronto para obedecer.
- Vá buscar uma poção para ela contra dor de cabeça.
O servo obedeceu silenciosamente deixando os dois novamente sós. Foram alguns minutos desconfortáveis, com pai e filha se encarando estranhamente. Quando o elfo-doméstico voltou Draco quase soltou um suspiro de alívio. Moira pegou o cálice e já de cara fez uma careta de nojo, notando a cor esverdeada do líquido que deveria tomar.
- Vamos, tome – mandou Draco. – Isso vai fazer você melhorar.
Claro que não estava acreditando muito nele, mas assim mesmo fechou os olhos e tomou um gole do remédio, aumentando ainda mais sua careta. Chegou mais perto com a intenção de colocar sua mão na testa dela para medir sua temperatura, porém, no mesmo momento ela abriu os olhos e a boca, cuspindo toda a poção que deveria ter engolido na roupa de Draco.
- Tem gosto ruim! Não quero tomar essa coisa!
Café da manhã n’A Toca deveria ser como qualquer refeição de uma família normal. Leite, torradas, pães, sucos, um pouco de manteiga... Não poções em teste de certos gêmeos causadores de acidentes. Apesar das broncas e sermões da mãe, os dois insistiam em guardar suas novas invenções em teste no antigo quarto, argumentando que suas esposas os obrigavam, e com razão, Gina concluiu, levando em conta o tipo de filhos que tinham. Aquelas crianças eram capazes de explodir uma casa a qualquer momento. No entanto, não era justificativa para colocarem em risco o filho dela!
Acordou um pouco atordoada em seu quarto apenas para encontrar James parado ao seu lado, com três chifres saindo de sua testa e a pele em um tom nada saudável de roxo beterraba. Gina gritou tão alto de horror que acordou a casa inteira, James só fechou um dos olhos e suas bochechas ficaram brancas, com, o que deduziu ser, vergonha.
- Desculpa mãe – foi o que seu filho murmurou antes de abrir a boca e arrotar bolhas.
Quando ela visse os gêmeos os enforcaria com as próprias mãos!
Quinze minutos depois estavam no terceiro andar do Hospital St. Mungos, na ala para Envenenamento por Poções e Plantas esperando serem atendidos por algum funcionário sem sorte. O hospital estava em caos, medi-bruxos e enfermeiras correndo de um lado para o outro com macas, poções e pacientes. A recepcionista lhe avisou que havia ocorrido um acidente grave em uma comemoração da vitória do Puddlemore United na madrugada, quando fãs do time perdedor invadiram a festa e causaram confusão, resultando em dezenas de azarações e feitiços estranhos.
Enquanto não eram atendidos a condição de James piorou, outro chifre havia saído de sua testa e estava cada vez mais roxo. Gina ficou mais preocupada ainda e nervosa para encontrar algum medi-bruxo disponível o quanto antes. Seu pai ficara encarregado de achar Fred e Jorge para trazê-los lá e explicar exatamente para quê aquela poção servia mas até agora nada.
James abriu a boca para mais bolhas saírem, o que a fez se levantar mais uma vez e tentar pedir ajuda para uma enfermeira que passava apressada, mas a resposta que obteve foi a mesma, a mulher pediu que esperasse pois havia casos mais urgentes para serem tratados. Quis azarar a mulher e toda a geração futura dela, porém, apenas voltou a se sentar, suspirando.
- Tudo bem. Não é...– James soltou bolhas. – ...Tão ruim assim – mais bolhas. – Sério mãe.
- Me lembre de novo a razão de você ter tomado uma poção e entrado no quarto que eu já avisei ser fora de limites?
- Era uma caverna de tesouros e ai... Eu entrei e encontrei a poção para ficar invencível e vencer o dragão!
Gina só suspirou exausta. Por mais meigo que fosse a incrível imaginação fértil do filho seria mentira dizer que não estava ansiosa que aquela fase terminasse logo. Não entendia a razão dele sentir necessidade de contar com o faz-de-conta para brincar sozinho e não com os primos. Verdade que nem sempre a casa ficava lotada de crianças, o que o tornava solitário durante boa parte do tempo e tirando a companhia da mãe não havia com quem se divertir mas o problema estava na... intensidade das fantasias que criava.
Sempre salvando o dia, enfrentando perigos e o “Mal” em cruzadas imaginárias. Não podia ser, de vez em quando, um piquenique sem qualquer aventura? Um passeio no zoológico?
Foi então que, como um raio lhe atingindo, entendeu. Fazia sentido. As aventuras de James começaram um pouco depois dela começar a contar histórias sobre o pai... Sobre Harry. Observou, com um pouco de tristeza, o filho soltar mais algumas bolhas enquanto lembrava do dia em que, pela primeira em voz alta, James perguntou sobre o pai. Foi no seu aniversário de cinco anos e a resposta foi seu presente. Contou durante algumas noites antes dele dormir sobre a vida de Harry e tudo que enfrentara como se tivesse sido uma história de conto de fadas, sempre temendo chegar no final.
Não apenas porque teria que contá-lo para James mas porque também teria que lembrar do que acontecera. E aquilo ainda doía. Quando o momento finalmente chegou, não lhe disse muito, apenas que o pai vencera o vilão, salvara a donzela e sumira no horizonte. Não mentiu quando James perguntou o que queria dizer “sumir no horizonte”. Ele queria acreditar que o pai voltaria algum dia mas Gina não lhe deu falsas esperanças pois seria apenas cruel com ambos.
O que não lhe contou foi sobre a última vez que viu Harry. Nenhum resistiu a separação imposta pelo perigo e por apenas alguns dias felizes ficaram juntos novamente. Lembrava ainda nitidamente a tarde em que ele se despediu com um abraço e beijo em sua testa, prometendo que venceria Voldemort mas não que voltaria. Não sabia ainda que estava grávida e parte dela imaginava o que teria feito se soubesse. Teria contado para ele? Será que talvez Harry tivesse ficado? Ou quem sabe... Tentando mais sobreviver?
Nenhuma daquelas perguntas tinha resposta ou importância. Não teria contado, pois naquele dia acreditava que Harry voltaria para ela. Mesmo se tivesse, Harry iria de qualquer forma. Vencer Voldemort era criar um mundo seguro para ambos ela e o filho. E nada poderia mudar o final da luta por mais que desejasse ou suplicasse quando sozinha na madrugada.
- Mamãe?
Estranho, não lembrava de ter sentido lágrimas escorrem pelo seu rosto. Voltou-se para James sorrindo e secando os olhos rapidamente.
- Por que está chorando? Não está doendo nem nada e vou ficar bem!
- Não se ninguém nos atender! – exclamou irritada com a falta de atenção das enfermeiras.
Cansada de esperar, levantou pegando James pela mão e foi atrás de alguém que lhes atendesse, nem que fosse necessário capturar algum daqueles medi-bruxos. Marchou pelo corredor quase espumando e determinada. Visitas ao hospital não eram incomuns sendo mãe de James então conhecia bem o lugar.
Alguns minutos depois encontrou um medi-bruxo tomando café e parecendo bem desocupado encostado na parede tranquilamente. Imediatamente apressou o passo, obrigando o pobre filho a também correr com suas pernas curtas tentando acompanhá-la. Estava pronta para obrigar o homem à atendê-los.
- Ei! Você! Pode ir vindo aqui agora!
- Desocupado, vem cá!
Duas vozes diferentes vindo dos dois lados o chamando deixaram o medi-bruxo confuso e o homem não soube o que fazer a não ser continuar tomar o café e fingir que ninguém o tinha chamado. Gina não desistiu, parando em sua frente e ao lado de outra pessoa.
- Escuta aqui... Estou esperando horas para ser atendido e...
- Não! Eu estou esperando horas! Você tem que atender meu filho, ele...
- Dane-se seu macaco! Minha filha está com febre e...
- Macaco?
- É, macaco!
- Está chamando meu filho de macaco?
Finalmente parou de gritar e encarou o pai irritante para ficar de frente com Draco Malfoy outra vez! Aquele dia podia ficar pior? Melhor não responder a pergunta porque ainda não era nem meio-dia.
- Senhor, senhora eu... Estou na minha folga agora. Desculpe – interrompeu sabiamente antes que a briga piorasse.
- O quê? – gritaram os dois ao mesmo tempo, virando para ele.
O homem sorriu fracamente apontando para o copo de café como se aquilo explicasse tudo. Malfoy e ela imediatamente começaram suas reclamações novamente, exigindo que o folgado os atendesse.
- Você quer que eu acidentalmente derrame esse café quente na sua cara de palerma?
- Se não atender minha filha vou mandar alguém te despedir, imbecil!
- Não antes que eu azare seu traseiro!
Visivelmente mais preocupado terminou o café em um gole só e jogou o copo descartável no lixo mais próximo, em sinal de derrota. Restava saber agora qual dos pais fulminantes havia o assustado mais. Olhou para as duas crianças e não teve dúvidas.
- Sua filha, senhor, me parece bem então... Vou atender o menino, certo? Logo depois a examino.
- Como? Está louco! Aquele menino não tem nada de errado! Veja só a mãe dele! Praticamente um monstro!
- O quê! Malfoy seu...
- Por favor! Sem brigas! – pediu o medi-bruxo assustado. – Me acompanhem até minha sala, por favor. Todos. Minha enfermeira vai cuidar de um enquanto examino o outro.
Um pouco mais satisfeitos pararam de gritar. Gina deu a mão para James e Malfoy pegou a filha no colo, que continuava séria e pálida. Os pais recusaram a se encarar, mas James sorriu e acenou para Moira que acenou fracamente de volta, claramente incomodada pela aparência do menino.
Algum tempo depois estavam todos reunidos em uma sala pequena demais para o gosto de Gina e, pela careta de Malfoy, ele concordava. Moira e James estavam sentados em uma mesa enquanto a enfermeira tirava a temperatura da menina e James era observado pelo médico. Contara para ele sobre a poção dos gêmeos e o médico lhe deu um enorme e longo sermão sobre os perigos de ter esse tipo de invenção em uma casa com crianças, durante toda a bronca Malfoy sorria arrogantemente, com certeza adorando a ver se dando mal. Felizmente o medi-bruxo tinha certeza que os efeitos sumiram em algumas horas depois de dar uma poção de cura e era apenas necessário que James ficasse sob observação enquanto aquilo não acontecia.
Moira, no entanto, era um mistério. Reclamava e reclamava mas não havia nada de errado com ela, pelo que o medi-bruxo avaliara. Malfoy o chamou de incompetente, burro, ignorante e pior, mas de nada adiantou. O máximo que o hospital podia fazer era deixá-la também em observação para tentar descobrir o que estava acontecendo.
Só restava esperar. O problema era que o tinha que fazer em uma distância de menos de dezenas de quilômetros de Malfoy. Ao menos James parara de soltar bolhas pela boca.
Dez minutos depois a enfermeira foi embora e o medi-bruxo chamou Malfoy para conversar fora da sala, deixando ambos ele e Gina extremamente contentes. Sentou em uma cadeira próxima da porta, encostada pelo médico antes de sair com o sonserino, e ficou ouvindo a conversa estranha das duas crianças.
- Quem é o dragão agora? Bem feito por me chamar de monstro!
- Não é minha culpa se você se parece com um!
- De novo! Seu chato!
- Você começou!
- Quem me chamou de dragão primeiro foi você!
- Já pedi desculpa!
- Pediu nada!
- Pedi!
- Pediu não!
- ‘Tá bom! Desculpa.
A menina sorriu triunfalmente.
- Pensando bem você não parece um dragão. Parece um sapo feio e roxo!
- Sapos não tem chifres!
- E daí?
No entanto sua atenção foi desviada da discussão deles, por mais interessante que fosse, quando ouviu a conversa entre Malfoy e o medi-bruxo ecoando pelo corredor.
- Só posso concluir que Moira está fingindo sua doença, Sr. Malfoy.
- O quê? Por que ela faria uma coisa dessas? Está tentando jogar a culpa nela por sua incompetência?
Gina invejava a calma do homem, no lugar dele já teria azarado Malfoy.
- Crianças costumam fazer isso quando estão passando por uma fase difícil. Talvez uma mudança repentina. É um claro pedido de ajuda, ela está tentando chamar sua atenção. Aconselho que procure identificar o que a está perturbando. De resto, não posso fazer mais nada.
Silêncio se seguiu. Curiosa para ver a reação de Malfoy, abriu devagar a porta e colocou a cabeça para fora, apenas para encontrá-lo parado bem a sua frente, quase se chocando contra ela.
- É costume da ralé ouvir conversas alheias?
- Como se estivesse interessada na sua vida patética Malfoy. Queria falar com o medi-bruxo.
Os dois reviraram os olhos ao mesmo tempo. Malfoy foi até a filha e a pegou no colo, apesar dos protestos dela, e foram embora. Mas algo estava a incomodando e após alguns instantes se levantou com a intenção de ir atrás deles, antes pediu que James ficasse e não saísse da sala.
- Onde você vai?
- Vou ajudar Moira.
James abriu um enorme sorriso, obviamente pretendendo ir junto.
- Mas você fica – corrigiu logo indo embora e perdendo a cara de decepção do filho, que felizmente a obedeceu.
Rapidamente alcançou Malfoy virando o corredor. Acelerou o passo mas ao mesmo tempo começava a duvidar que o que pretendia fazer era uma boa idéia.
- Malfoy... Espera.
Não ouviu ou quis ignorá-la, então o ultrapassou se colocando em sua frente, impedindo que passasse.
- Eu menti. Ouvi a conversa que teve com o medi-bruxo – informou.
- Por que isso não me surpreende? Sai da minha frente, Weasley.
- Sei que vou me arrepender depois, mas... Quero ajudar Moira – olhou para a menina que estava ainda no colo do pai e com certeza ouvindo tudo. – Quando James nasceu, estava completamente perdida e se não fosse a ajuda da minha família não acho que tinha conseguido lidar com tudo. Mesmo agora, ainda tenho dúvidas se o que faço é o certo. Sei como é difícil cuidar de crianças.
- Adoraria ouvir a história da sua maravilhosa vida, Weasley, mas infelizmente estou ocupado – revirou os olhos, sarcástico, colocando a filha no chão para cruzar os braços.
- Estou dizendo que posso te ajudar – continuou, ignorando o insulto. – Moira merece uma infância feliz.
- Está tentando arranjar emprego de babá? Não me faça rir. Volte pro seu filho monstro e me faça o grande favor de esquecer Moira.
- Olha, o que tem a perder? É tão orgulhoso assim que não pode aceitar alguns conselhos nem pedir ajudar?
- A questão é, Weasel, que dentro de alguns dias não vai ser mais meu problema. Ela vai embora de volta para a mãe víbora e pronto! Fim! Então, não. Não preciso de ajuda, muito menos a sua. Tchau, tchau. Adieu! Suma!
Tudo fazia mais sentido. Estava só cuidado da filha enquanto a mãe viajava ou algo parecido, e provavelmente eram separados. Aquela informação só a fez querer ajudar Moira mais ainda, principalmente ouvindo Malfoy a tratar como uma pedra temporária em seu sapato. Como podia ser tão simples para ele abandoná-la?
De repente, sentiu Malfoy a empurrando para o lado com força saindo correndo. Estava prestes a insultá-lo pela falta de educação mas então notou que ele estava indo atrás de Moira que novamente estava fugindo dele. Suspirou e também saiu correndo.
A menina era rápida mas vendo que seria alcançada entrou em uma sala e fechou a porta atrás de si com um grande estrondo. Malfoy parou na frente e forçou a porta mas estava trancada, tentou então abrir com sua varinha mas não funcionou.
- Droga! De novo não! – bateu na madeira com força. – Abra essa porta! Agora!
Gina parou ao seu lado, mas numa distância segura.
- O que quer dizer com de novo?
- Cale a boca, Weasel! É tudo sua culpa! – gritou ainda batendo na porta.
- Como será que ela se trancou? – ponderou em voz alta, não esperando resposta.
- Magia, claro, sua burra! – tentou mais uma vez abrir com um Alohomorra mas novamente sem sucesso. – Moira abra essa porta! Saí daí!
Ficou um pouco surpresa com as habilidades da menina que não podia passar de 7 anos de idade, normalmente magia naquela idade só se manifestava quando a criança estava em perigo, mesmo se não fosse o caso, era raro ter um controle tão grande.
Malfoy chutou a porta com força em frustração e finalmente parou a gritaria.
- Se sentindo melhor agora? – perguntou irônica. – Agora é minha vez de tentar.
- Não vou te pagar nada, ouviu? Não quero você de babá.
- Você é um idiota – suspirou. – Não quero seu dinheiro! Nem ser babá! Será posso ajudar sua filha agora?
- Fique à vontade. Vou adorar ver você se dar mal.
Revirou os olhos e se aproximou da porta para ter certeza que a menina pudesse ouvi-la.
- Moira? Pode me ouvir? É a Gina, mãe do James – não obteve resposta para o triunfo de Malfoy. – Será que podemos conversar um pouquinho?
- Não vou sair daqui! – um grito abafado veio do outro lado..
- Tudo bem, não te culpo por querer ficar aí dentro – olhou de lado para Malfoy, que bufou, e acrescentou em voz baixa – ... Já que seu pai é um completo imbecil.
- Que você quer?
- Sei que está chateada, então que tal assim que James melhorar irmos tomar sorvete no Beco Diagonal, que nem ontem? James vai adorar. Você vai ver, vai se sentir melhor se for!
Moira ficou em silêncio por alguns segundos, nisso Malfoy aproveitou para protestar em voz baixa.
- O quê! Eu tenho coisas para fazer! Não tenho tempo para ficar passeando por aí! Ao contrário de você, não sou um desocupado que se mete na vida dos outros!
- Prefere passar seu dia tão ocupado na frente dessa porta?
Adorou a cara furiosa de Malfoy, jamais admitiria que ela ganhara aquela rodada mas sua expressão de desgosto disse tudo. Depois do comentário parou de reclamar ainda que permanecesse bufando. Enquanto isso Moira tinha chegado a uma decisão pois abriu a porta devagar. Ao perceber aquilo, Malfoy parecia não só surpreso mas aliviado, mesmo que tentasse esconder.
- Podemos comer chocolate também? – pediu estranhamente tímida.
- Claro – sorriu Gina que depois olhou para Malfoy. – Seu pai vai adorar comprar muitos doces para você!
Era impossível não se divertir o perturbando sem que ele pudesse revidar de volta.
N/A: Eu sei... Eu sei! Demorei muito! Desculpa, desculpa, desculpa! (E o pior que estou fazendo isso em todas minhas fics!). Mas aqui está não? E um capítulo grande além disso! Para ser mais legal ainda e compensar a demora, vou colocar um trailer do próximo capítulo!
“Weasley estava encarando de novo! Depois do incidente da loja de Quadribol a mulher teimara em observá-lo toda hora, e ainda por cima andando ao lado dele enquanto as crianças corriam de vitrine a vitrine. Era... Perturbador.”
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