Alguns chutes e tropeços

Alguns chutes e tropeços



Capítulo 3

ALGUNS CHUTES E TROPEÇOS

- Você viu um menino de sete anos de idade? Cabelos pretos, olhos verdes...


Outra vez recebeu um aceno negativo.


Gina estava pelo que parecia uma eternidade andando pelas ruas apertadas do Beco, perguntando a qualquer bruxo ou bruxa que encontrasse se tinham visto James. Quanto mais tempo passava, mais preocupada e nervosa ficava. Olhava a sua volta, pulando a cada criança que via.


- Será que não viu meu filho passar por aqui? Ele só tem sete anos, cabelos pretos despenteados?


- Desculpe, não.



O homem rapidamente desviou dela, olhar reprovador no rosto. A cada negativa Gina perdia mais o controle e seus pedidos ficavam mais desesperados. Onde ele havia se metido? Por que saiu sozinho de novo? Mesmo depois de pedir para que não fizesse aquilo outra vez não adiantara nada.


Devia ter tomando conta melhor dele! Prestado mais atenção! Sabia que James sempre fazia aquilo e já estava na hora de acabar com o péssimo hábito. Tinha que ter um jeito para evitar que a imaginação fértil do filho chegasse a um ponto tão drástico.


Perguntou por ele em várias lojas de livrarias a de roupas mas ninguém o viu... Claro que não, James era rápido e pequeno, naquela agitação ninguém estaria preocupado em notar um menino de sete anos. Parou de questionar estranhos na rua e decidiu que sua melhor chance era gritar pelo nome dele.


- James! James Potter!


Esbarrava contra pessoas, recebia expressões de reprovação e quase tropeçou várias vezes mas nada daquilo importava, pensou em até subir em cima de uma barraca que vendia doces de abóbora para que pudesse ter uma visão melhor da rua mas o dono ficou furioso e a mandou descer imediatamente.


Seu coração estava acelerado, o medo de perder o filho crescia incontrolavelmente mas necessitava ficar calma e pensar melhor na situação. Refletir e achar uma maneira mais lógica e prática de procurá-lo. Correr que nem uma louca pelo Beco Diagonal não adiantaria nada, como a experiência bem tinha mostrado.


Parou de andar e saiu da rua, se aproximando da vitrine da Floreios e Borrões onde poderia pensar sem ser pisoteada e evitar esbarrões violentos... A decisão foi boa porque assim que conseguiu parar para pensar com calma percebeu que tinha maiores chances de achar James onde haviam se separado.


Quando não era ela que o achava, era o filho que o voltava com uma história fantástica para contar e, normalmente, uma ou duas pessoas o trazendo irritadas.


Tinha que voltar para a sorveteria.




Não podia acreditar... Como? Como uma criança com vestido bufante verde cheio de frufus e enfeites e que estava usando um chapéu gigante podia ter sumido de repente? Em um segundo?


Olhou debaixo da mesa primeiro, depois para todos os lados e finalmente deve que admitir que não era pesadelo... Era realidade. Moira sumirá.


Por que ele? Merlin, por quê? Que tinha feito para merecer algo assim?


Levantou da cadeira, deixando alguns sicles e nuques na mesa para cobrir a conta e parou no meio da rua, olhando ao seu redor para encontrá-la. Estava acreditando que seria simples achá-la, que não teria ido muito longe... Afinal, o quão longe aquelas perninhas curtas podiam levá-la?


Mas a rua estava lotada e mal conseguia ficar parado sem alguém quase bater contra ele e seria impossível ver uma meninha pequena e magricela que nem Moira no meio de tanta gente. Após alguns minutos tentando aquela tática falha, começou a perceber que não seria tão fácil quanto pensava, principalmente se ela tivesse inventado de se esconder, o que era muito provável do que jeito que Moira “amava” o pai.


Gringotes estava fora de questão agora... Nem que se pedisse de joelhos seria recebido pelo chefe dos duendes. Mas o que eram alguns milhares de galões perdidos?


Irritado além da irritação de sempre, pegou pelo colarinho o primeiro bruxo de sorte que passou perto dele e sacudiu o homem como se fosse culpa dele tudo que tinha acontecido de ruim nos últimos dias.


- Você viu minha filha, seu idiota?



- Eu... Não. Não! Por favor me largue! – engasgou assustado com a violência.


Ignorou totalmente o pedido e o sacudiu outra vez com mais força ainda.


- Ela tem cabelos loiros e está com um vestido verde! Anda logo! Viu?


- Eu já disse, não vi. Me largue!


- Então você não me serve de nada! Sai da minha frente!


Soltou o bruxo com violência praticamente o jogando contra o chão e pisando em cima. Fixou os olhos aleatoriamente em outra pessoa e repetiu o processo, daquela vez escolhendo o vendedor ambulante de penas açucaradas e depois uma velha com uma sacola bem dura provavelmente cheia de tijolos. Então não só tinha perdido a filha como agora era o dono orgulhoso de um calo do tamanho da Lula Gigante.


- MOIRA! Seu demônio! Onde você está!


Quando achasse a peste a deixaria de castigo até que a mãe voltasse. Draco não foi feito para agüentar aquele tipo de coisa. Não estava em seu sangue.


Estava agora quase correndo pelas ruas, ignorando tudo em seu caminho, focando em achar algum traço de verde passando por entre as centenas de pernas à sua volta. Tanto tempo sem nenhuma pista da onde a menina tinha se metido deixou Draco com a terrível sensação, que não deixava de ser estranha, que talvez nunca mais a encontrasse. O peso da responsabilidade, algo que não estava acostumado a sentir, era grande demais. Nunca foi responsável por alguém além dele próprio e a noção que seria sua culpa se Moira fosse seqüestrada na Travessa do Tranco e vendida realmente como ingrediente para uma poção das trevas dava um nó no seu estomago que nunca tinha sentido.



Raiva se misturava com um inicio de preocupação.


Tão concentrado em encontrar um vulto pequeno verde que não reparou quando bateu contra sacolas de compras de uma mulher que havia as colocado no chão. Draco tropeçou e caiu de boca, xingando o universo por sua má sorte.



- Você disse que sua mãe ia estar aqui. Cadê ela?


- Eu deixei ela bem aqui!


- Mas ela se mexeu.


- Percebi já! Não precisa falar assim.


- Falo como eu bem quiser.


- Você não está me ajudando em nada! Só reclama!



Moira bateu o pé direito contra o chão, fechando os punhos e empinando o nariz.


- Ah é? Então fica olhando!


Bateu contra o ombro de James e avançou pela sorveteria indo direto para o homem que tinha trazido o sorvete para ela. Ele estava ocupado limpando uma mesa quando Moira chutou sua canela para chamar atenção.


- AI!


- Ei você! Viu a mãe dele? – perguntou apontando para James.


- Você de novo menina? – suspirou o velho. – Não tem mais sorvete para você!


- Não quero seu sorvete idiota, seu besta! Você viu a mãe dele? – repetiu impaciente.


James olhava a cena com preocupação, como ela podia ser tão grossa? Principalmente com um adulto! Daquele jeito nem a mãe dele ia querer ela por perto! E os dois se meteriam em confusão.


- Moira deixa ele em paz! – protestou correndo até os dois. – Ele não viu ela!



Irritada, empinou o nariz mais alto ainda e cruzou os braços.


- Primeiro fala que eu não faço nada, agora quer que pare! Decida!


- Só quero que pare de reclamar, não precisa fazer nada!


- Crianças... Se vocês perderam seus pais é melhor falarem com bruxos do Ministério. Eles podem cuidar de vocês – ofereceu. – Vou chamá-los.


- Eu não quero! – gritou Moira. – Se você não sabe da mãe dele então não serve pra nada. Vamos Potter!


Pegou o garoto pela mão e o puxou com força para longe do sorveteiro o mais rápido possível. Não queria que ninguém levasse ela de volta para aquele homem idiota e sua mansão velha!


- Espere! – gritou o homem do sorvete mas os dois já tinham se perdido entre a multidão na rua.


- Mas é lá que minha mãe...


- Fica quieto! Vamos nos esconder!



- Esconder do quê?


Moira não respondeu e continuou o forçando a segui-la. Quando finalmente se soltou dela estavam em um lugar que nunca tinha visto antes em todas suas visitas ao Beco Diagonal. Era escuro, estranho e cheirava mal... Havia vários bruxos de aparência suspeita e bruxas velhas com unhas compridas.


James não estava gostando nada daquilo. Com certeza não era um lugar onde sua mãe estaria o esperando.


A menina, no entanto, não parecia nem um pouco assustada com a aparência ruim daquela travessa, estava mais enojada do que preocupada.


- E agora? – perguntou James.


- Sshh! Estou pensando.


James cruzou os braços sem conseguir entender o que se passava na cabeça daquela menina. Olhou de lado, observando Moira de novo para ter certeza que não se tratava de um dragão. Atitude de um era o que não faltava.


Enquanto ela não decidia o que fazer, os dois tinham se tornado o centro das atenções daquele lugar escuro, mais de um par de olhos encobertos por capuzes e chapéus estranhos se virava para a dupla contrastante com o resto da paisagem. Uma mulher cheia de verrugas no rosto e capa roxa suja se aproximou com um sorriso amarelado no rosto, carregava uma cesta de frutas com cores nada saudáveis.


- Olha meus queridinhos, estão perdidos por acaso? A vovó aqui pode ajudar.



Moira, que antes estava ocupada demais pensando em algo para notar a presença da mulher, virou-se para encará-la e soltou um berro de susto.


- Ai! Sua coisa feia! Saí de perto da gente!


Antes que James pudesse fazer qualquer coisa (como correr) Moira pisou no pé da senhora verruguenta que gritou mais de fúria do que dor, pegando Moira no braço e a sacudindo com violência.


- Sua pestinha! Vai me pagar!


- Me larga sua velha nojenta!


A mulher estava pegando sua varinha e prestes a lançar algum feitiço provavelmente muito ruim quando ele recuperou-se da confusão e jogou o corpo contra as pernas da velha, a fazendo cair para trás e largar Moira. Recuperando o equilíbrio, foi até a menina, a pegou pelo braço e daquela vez foi ele quem saiu correndo puxando ela.


Por sorte ninguém os seguiu, correram e correram sem olhar para trás na direção de onde vieram, pois James sabia que só assim podiam ficar longe de problemas. Estavam tão agitados e apressados que só pararam quando bateu contra alguém e depois Moira trombou com ele por trás.


- James! Oh, James! Você está bem?


Era a voz de sua mãe!



Imediatamente foi abraçado com força e logo que entendeu de quem se tratava retribuiu o abraço. Assim que se separaram Gina deu um grande beijo na bochecha do filho e analisou cada centímetro dele procurando machucado. Quando teve certeza que estava tudo bem seu tom mudou rapidamente.


- James Potter! Você está em tanta encrenca que nem imagina! – repreendeu séria, seu dedo indicador apontado para ele e batendo de leve na ponta de seu nariz. – Não acredito que você fez de novo! Uma vez! Só uma podia ficar quieto.


- Ah mãe... Mas é que...


- Não quero saber. Não importa se era uma missão de resgate, uma busca por um tesouro místico... Nem mesmo se fosse uma jornada para vencer um dragão!


- Dragão não! Me-ni-na!


Os dois voltaram suas atenções para Moira pela primeira vez e James fez uma cara de desculpas pelo comportamento dela.


- É que... Mãe, eu mais ou menos que encontrei ela.


Gina fitou a menina de roupa enfeitada demais para a idade e cara demais para um dia de passeio no Beco Diagonal. A primeira coisa que reparou foi os olhos cinza, não lembrava de ter visto uma cor tão... Séria e grave em uma criança antes. Talvez em um menino de doze anos na livraria Floreios e Borrões em uma época distante mas...


- Olá... Eu sou a mãe do James. Gina – se apresentou sorrindo.



- Já deu pra perceber – resmungou a menina quase revirando os olhos.


James soltou um suspirou e depois olhou feio para Moira.


- Mãe... Essa é a...


- Moira Narcissa Malfoy, princesa do universo e herdeira de muito dinheiro.


O sorriso de Gina diminuiu por um instante curto. Será que Draco Malfoy era pai dela? Não era à toa o comportamento tão amável da menina. Definitivamente não queria se meter em problemas dos Malfoy e estava inclinada a tirar James de perto dela...


Mas se obrigou a lembrar que era apenas uma criança em sua frente e não... O resto da família dela. A menina não tinha culpa dos pais que possuía. E além disso, sentia que era sua obrigação tirar ela da Travessa do Tranco, não podia deixá-la naquele lugar horrível sozinha.


- Então Moira Narcissa Malfoy, princesa do universo... Gostaria de tomar sorvete conosco?


A reação de Moira foi menos calorosa do que esperado.


- Já tomei sorvete – perguntou desconfiada. – O dono daquele lugar é muito chato.



- Moira! Sorvete é bom! Mãe, eu quero!


Sorriu um pouco para James, mas tentou mostrar que ele não deveria insistir.


- Bem... O que quer fazer? – tentou outra vez.


Novamente, ela parecia mais desconfiada do que contente com a oferta.


- Eu posso decidir?


- Como se fizesse diferença – murmurou James.


Mas a presença do menino havia sido totalmente apagada por Moira que agora só tinha olhos para Gina.



- Sim, claro que pode.


Ela respirou fundo e um minuto depois não parava de falar.


- Primeiro eu quero comer doces bem coloridos, os maiores que tiver! Depois quero bolo! Bolo de chocolate! Quero ver aquela loja de vassouras e comprar uma para mim, não quero saber se sou pequena demais para voar, eu quero! Aí quero ir numa loja de roupas comprar novos vestidos... Amarelos, rosas e com chapéu pra combinar! Quero ver os gatinhos naquela loja que entrei... E... E... – parou para recuperar o fôlego e Gina aproveitou a brecha.


- Muito bem... Vamos começar com os doces, que tal?


“É a única coisa da lista que posso comprar, com certeza,” pensou não tendo mais nenhuma dúvida que se tratava de uma Malfoy.


Dez minutos depois estavam os três sentados em um dos raros bancos espalhados pela rua, cada um saboreando um doce diferente. James estava curioso em saber o que a mãe planejava fazer com Moira enquanto Gina se perguntava a mesma coisa. Agora que a filha de Malfoy estava segura longe da Travessa do Tranco vinha a terrível verdade que, como adulta responsável, era sua obrigação achar os pais de Moira. A questão era como.


- Está gostando do seu sapo de chocolate?


Para uma criança que usava um vestido tão caro e delicado, Moira definitivamente sabia muito bem como se sujar. Até a ponta de seu nariz tinha chocolate.



- Melhor que o sorvete.


- Moira... Como você veio para cá?


- Flu. Odeio flu.


- Sim, mas... Quem trouxe você?


A menina parou de se lambuzar de chocolate e voltou a olhar Gina com desconfiança.


- Ninguém.


- Mentira – se manifestou pela primeira vez James entre bolachas recheadas.



- É não!


- É sim!


- Não é!


Gina sorriu um pouco. Aquilo lembrou um pouco sua própria infância e as discussões que tinha com Rony.


- Por que você diz que é mentira, James?


- Um: porque ela disse que não queria voltar a ver um “idiota”, então veio com alguém! Dois: Ela nunca que ia vir de flu, que odeia tanto, se tivesse a opção. Alguém trouxe ela!


- Ah cala a boca, Potter!


- Onde estão seus pais? É muito importante eu saber isso.


- Pra quê? Para me levar de volta pra aquele idiota? Não mesmo!



- O “idiota” por acaso é seu pai?


“Faria sentido,” pensou Gina com sérias dificuldades de imaginar Draco Malfoy agindo como um bom pai. Ou mesmo um pai.


- Ele não é meu pai! Não tenho um!


- Se não for mesmo... Então não tenho razão para levar você de volta para ele.


- Ótimo, porque não ia voltar de qualquer jeito.


- E quanto a sua mãe? Onde ela está?


Moira fez careta, cruzando os braços e sujando o vestido verde de chocolate no processo.


- Minha mãe não quer saber mais de mim. Me abandonou. Pronto, agora sabe que sou órfã... É só me adotar.



James e a mãe se entreolharam, preocupados. Será que era sério aquela história toda?



Se uma pessoa podia soltar fogo pelas ventas essa pessoa era Draco Malfoy. Em um dia era alvo para todas as possíveis piadas cretinas existentes, só faltava escorregar em uma banana e fecharia com chave de ouro. E nada ainda de Moira.


Com sua sorte a menina realmente tinha sido vendida para ingrediente de uma poção demoníaca.


Praticamente desistindo por hora de procurá-la, fez seu caminho de volta para a sorveteria que de repente parecia ser um destino lógico. E foi então que viu o primeiro vulto verde em horas que era realmente Moira. Reconheceu de imediato o chapéu exagerado e o vestido verde, não havia dúvidas.


Estava sentada em um banco comendo algo... Não muito distante dele.


O primeiro sentimento foi de alívio completo... Que durou no máximo três segundos. Fúria tomou seu lugar rapidamente. Marchou até ela com os punhos fechados e espumando de ódio.


Tanto era seu nervoso que não percebeu quem estava sentado do lado da filha. Nem cogitou a possibilidade de existir alguém.


- Você vem comigo agora.



- Não! Não quero ir!


- Olha que eu te estuporo e carrego de volta para mansão à força! Estou falando sério Moira!


A menina arregalou os olhos por um momento, prestes a corre para longe outra vez quando a pessoa que até o momento não existia se levantou e ficou entre pai e filha.


- Ela não quer ir com você.



N/A: Esse capítulo demorou mais porque voltei para a faculdade e minha inspiração foi junto, hahaha. Enfim, desculpe a demora. Espero que gostem, assim que puder vou responder as reviews.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.