Dois Encontros



Era uma linda manhã do inverno de 1978. Nevava intensamente. Um sujeito bonito, de pele clara e cabelos escuros e lisos, olhos castanhos amendoados, magro e de média estatura andava pelas frias ruas de Londres. Passara a noite acordado pensando em seus inúmeros problemas. Agora era decididamente contra as idéias de Voldemort; e se recusava a fazer qualquer trabalho por ele organizado. Sabia que Voldemort o perseguiria, mas isso não o importava. Agora o que queria era destruí-lo.

Estava faminto e sonolento. Se estivesse com dinheiro, alugaria um quarto no Caldeirão Furado, mas deixara todo seu ouro em casa, que agora tinha nojo de lembrar. Resolveu então ir ao Gringotes para tirar dinheiro, afinal deixava sua chave sob a guarda dos duendes. Nem pensou duas vezes. Rumou direto ao Caldeirão Furado, onde teria acesso ao Beco Diagonal.

Chegando lá, bateu três vezes no segundo tijolo a contar da esquerda, três acima da lata de lixo. Andou até o fim do Beco, onde teria acesso ao Banco Gringotes. Teve que esperar um bom tempo, pois a fila estava enorme. Quando finalmente chegou a sua vez, dirigiu-se ao balcão.

– Bom dia – disse cansado ao duende do balcão – Vim sacar algum dinheiro. Sou Régulo Black e minha chave está sob sua responsabilidade.

– Ótimo – disse o duende – Olobud, pegue a chave do Senhor...

– Régulo Alfardo Black, uma homenagem ao meu tio Alfardo.

– A chave do Senhor Régulo Alfardo Black, Olobud.

– Cofre 613, senhor? – perguntou Olobud para confirmar.

– Exato – respondeu Black.

– Vamos então.

Atravessaram o saguão de mármore e entraram em uma das inúmeras portas das laterais do banco. Embarcaram no enjoativo vagão e, a alta velocidade, fizeram curvas, mais curvas, loops... Régulo teve a impressão de estar em uma montanha-russa. Enfim chegaram.

– Cofre 613.

Voltaram à terra firme, e Olobud abriu o cofre. Havia muitas montanhas de galeões, sicles e nuques. Régulo vinha de uma família rica, e recebera muito dinheiro dos pais. Mas agora que saíra de casa teria que lutar pelo seu próprio dinheiro. Terminara Hogwarts há alguns anos, mas não sabia exatamente que carreira seguir. Fizera N.I.E.M.’s para todas as matérias, pois era inteligentíssimo embora reservado na escola. Mas sua futura carreira estava em segundo plano nesse momento.

Apanhou o dinheiro e novamente entrou no vagão.




Já no Beco Diagonal voltava pelas lojas pensando no que fazer agora quando ouviu uma voz o chamando:

– Régulo, meu bom amigo, venha aqui.

Olhou para o lado. Quem o chamava era Severo Snape, saindo de uma loja de penas. Achou estranho. Snape nunca o chamava pelo seu primeiro nome, nem o chamava de amigo. Aliás, pouco se falavam.

– Régulo, vamos ao Caldeirão Furado tomar um drinque. Preciso lhe falar algo muito sério.

Eles caminharam até o Caldeirão Furado, onde encontraram uma mesa bem ao fundo e se sentaram.

– Deve ter percebido que o Lord te deu uma tarefa que somente poucos bruxos poderiam realizar. Você está pronto para fazê-la?

– Já nem penso mais em ser um Comensal, Severo. Temo afirmar que agora quero lutar contra Voldemort.

– Ótimo. Era o que eu achava que ouviria. Aliás, inclusive queria ouvir. Vamos trabalhar em silêncio para impedir a realização desse plano. Tiago Potter deve ser avisado. Ele é o Chefe dos Aurores, e será o mais afetado pelo plano. Ele é a chave para frustrar esse plano de Voldemort.

– Mas você não odiava o Tiago, Severo?

– Odiava. Mas em tempos de guerra contra Voldemort, “seremos tão fortes quanto formos unidos e tão fracos quanto formos desunidos” 1

– Então enquanto você e Tiago tentam frustrar o plano dele, buscarei meios de destruí-lo. Sabemos que ele busca a imortalidade. Mas por que matar os outros? Aposto que tem magia negra por trás disso, Severo.

– Mas também pode ser que ele simplesmente mate outros por prazer.

– Ou não. De qualquer jeito, não podemos deixá-lo atingir a imortalidade. Vou descobrir as formas que ele está tentando para alcançá-la e as frustrarei, enquanto ele está preocupado com esse plano que você impedirá.

– Então estamos feitos. – apertaram-se as mãos, selando uma amizade que ficaria em segredo.




Régulo alugou um quarto no Caldeirão Furado. Estava preocupado com essa forma de tirar Voldemort do poder. Pensava em todos os seus problemas e coisas que tinha que fazer, e acabou adormecendo.

Sonhou que estava buscando algo com uma criatura que não reconheceu, num lugar escuro, com um imenso lago, que mais parecia o mar, de onde vinha uma luz esverdeada. Essa coisa que buscava era algo importante, importante demais... de repente se encontrava numa floresta onde Comensais o atacavam... TOC, TOC, TOC, TOC.

Foi acordado por um barulho de batidas numa porta. Quando acordou, não lembrava mais de seu sonho. E uma voz feminina o chamou.

– Com licença, senhor Black. Eu sou a camareira e vim limpar o seu quarto.

A camareira era uma moça jovem, de uns vinte e poucos anos, loira e de lindos olhos verdes claros. Régulo ficou boquiaberto.

– Senhor? – a moça o chamou.

– Ah, oh, sim. Limpe, pode limpar, está uma sujeira, é, precisa limpar. Sou uma pessoa altamente desarrumada, sou um traste, sujei o quarto todo!

A moça ficou de olhos arregalados. O quarto estava muito arrumado. Parecia que Régulo não estava regulando. E sem menos esperar, Régulo já estava perguntando:

– Qual é o seu nome?

– Agatha Forgetful. Por que a pergunta? – disse a bela moça limpando o chão.

– Nada, nada. Onde você mora?

Agatha deu um sorrisinho e corou.

– No quarto reservado para trabalhadores do Caldeirão Furado, por quê?

– Nada, é que eu sempre quis saber onde o pessoal daqui dormia, é só isso, sabe?

– Ahn. Sei.

– Escuta, você vem sempre aqui?

– Eu trabalho aqui! Não percebeu?

– Oh! Jura? Que tal tomarmos um drinque no Caldeirão Furado?

– Me desculpe, já vou.

– Sabia que você é uma gracinha?

Ela corou novamente e fechou a porta.




(1) Esta frase foi retirada do livro Harry Potter e o Cálice de Fogo (N.A.)

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