Marcaçao acirrada



9. Marcação acirrada


— Humm — fez Tonks ao se sentar na cama, se espreguiçando manhosamente e coçando os olhos azuis com as costas de suas mãos.
A moça piscou e fitou o ambiente. Tudo estava calmo e luzes
solares entravam pela varanda, cuja porta de vidro permanecia fechada e coberta de uma cortina quase que transparente. Sua cama, que antes fora de casal, estava a uns trinta centímetros de distância da de Lupin. Nela não havia nada, apenas os travesseiros e lençóis de seda devidamente organizados. A auror olhou ao redor para ver se encontrava seu ocupante.
—Michael? Querido, você está aí?
A porta do banheiro entreaberta deu certeza à moça de que ninguém
mais lhe fazia companhia naquele momento. Levantou-se e colocou seu penhoar rosa bebê no corpo. Pegando a varinha, que repousava em cima do criado mudo ao lado do relógio de ouro, mancando oito horas, Tonks fez um aceno com ela e a cama se arrumou magicamente, igual a de Remo. Foi até a sacada, abriu as cortinas e a porta, passando a admirar a paisagem: trouxas transeuntes nas calçadas, automóveis dos mais variados tipos, o arco do triunfo, a Torre Eifel. Suspirou contente ao notar que o sol saía timidamente das nuvens e nem sinal de chuva. Quando ia ao guarda- roupa escolher o traje do dia, pois tirara tudo das malas durante o tempo que o amigo se trocava no banheiro na noite passada, o lobisomem entrou no quarto lentamente e cabisbaixo com o semblante um tanto que rígido.
— Ah, amor. Que bom que você apareceu! Já viu que manhã belíssima? Aposto que as piscinas ficarão com as águas deliciosas, não vamos perder né? Com sorte os Malfoy aparecem e poderíamos espioná-los e nos divertir ao mesmo tempo. — e ela sorriu.
O homem, porém, não retribuiu a simpatia, ao contrário. Se fez de
mais sério ainda e deu a impressão de que cairia no choro a qualquer momento. Ao perceber a indiferença do “marido”, Tonks se aproximou dele e colocou sua mão em seu ombro. Neste gesto, constatou que ele carregava a capa de invisibilidade que Moody lhes emprestara para a missão anterior, embrulhada e embaixo do braço.
— Remo, o que aconteceu? — murmurou ela se esquecendo do combinado, usando o primeiro nome verdadeiro dele.
— Tenho uma péssima notícia.
— Péssima? O que houve?
— Os Malfoy saíram do Hotel.
— O quê? — perguntou a moça se sentando em sua cama num baque com o choque da informação.
— Isso mesmo.
— Mas como? Eles....eles vão voltar, não?
— Não sei.
— O que aconteceu? Como...por quê?
Lupin jogou a capa em sua cama e se sentou ao lado na amiga,
iniciando uma longa narrativa pausada e pesada.
— Hoje eu acordei e vi que eram sete horas. Percebi que provavelmente estariam servindo o café da manhã para os hospedes no salão das refeições. Me troquei e levei comigo a capa de invisibilidade. Chegando lá, coloquei-a sobre mim, sem que ninguém visse, é claro, e fiquei na porta, esperando para que os Malfoy aparecessem. Depois de mais de meia hora lá plantado, desisti quando vi que não desciam. Então, tive a idéia de ir até a portaria e perguntar por eles.
— Mas, querido, eles podem estar dormindo. São ainda oito da manhã.
— Você mesma disse que Narcisa iria cedo ao spa do Hotel, não? Ela teria que descer para tomar café da manhã e, como de costume, acompanhada pelo marido. Bem, cheguei no salão exatamente na hora em que começaram a servir e eles não foram desde então. Perguntei aos recepcionistas se já haviam saído do Hotel e me disseram que os dois saíram.
— Mas, como assim? Levaram bagagem ou foram sem tomar café da manhã, o que é muito estranho para quem vai num spa?
— Também perguntei isso e responderam que os Malfoy não levaram absolutamente nenhum pertence.
Tonks fitou o chão por alguns segundos e uma idéia veio à sua
mente.
— Será que ele não enfeitiçou os empregados do Hotel?
— Pensei nisso, mas a resposta é não.
— Como sabe?
— Porque, bem, lembra-se daquela jarra de água e copos no canto do balcão para os recepcionistas beberem? Coloquei Veritasserum na água discretamente e vi quando uma das moça bebeu. É claro que não perdi chance e fui logo interrogando ela. — declarou o homem, derrotado.
— Tudo é verdade então. Ah, o que faremos? Não podemos voltar para a Ordem — ela murmurou — sem nada. Todos perderiam a confiança na gente, principalmente em mim, que sou novata.
— Temos que arranjar alguma saída.
— E se esperássemos pelo casal?
— Como?
— Isso. Uma hora terão de voltar para pegar as coisas de volta.
— Você não entende, Tonks. Eles podem estar com Voldemort nesse exato momento trocando informações sobre a profecia, o Harry e sabe lá quantas coisas mais.— Lupin se levantou e começou a dar voltinhas no quarto nervosamente, procurando achar alguma solução.— Além disso, qualquer um pode vir buscar o que é deles.
Um breve silêncio surgiu. Tonks fitava os pés descalços
tristemente. Nunca fazia nada certo. Nada, nem espiar sua própria tia. Snape e Tânia tinham razão: aquele tipo de ocasião não era para fracassados como ela. Nem conseguia brincar de esconde-esconde com os coleguinhas na infância sem se denunciar, imagine fazer uma missão secreta e ilegal. Faltava muito ainda para ser uma boa profissional. Com os olhos quase lacrimejando por causa de sua incapacidade, disse:
— Então não temos nada para fazer aqui.
— Como? — Remo parou com sua mini caminhada e a encarou, começando a ter um pouco de pena da auror.
— Nos passaram para trás. Não faz sentido ficarmos aqui gastando o dinheiro do Sirius. É melhor voltarmos para a Sede e contarmos tudo.
— Contar o quê?
— Tudo. Que graças a mim, a missão foi para o buraco. Graças ao meu jeito incorrigível, viram que não passo de uma bruxa da menor classe, desengonçada e vulgar.
— Não diga isso. Eles não saíram daqui por sua causa.
— Quer apostar quanto? — a moça enxugou uma lágrima do rosto, que já começava a se avermelhar. — Garanto que descobriram que eu não era uma senhora rica no primeiro momento que me viram e depois com as minhas respostas sobre suas perguntas. Eu suponho que nunca conheceram nenhuma puro-sangue que compre jóias em lojas. Falhei e levei você junto comigo.
Ninfadora começou a desabar em choro. Um choro silencioso e
desesperado. Lupin, que a entendia perfeitamente, pois sempre se julgava uma aberração cuja servidão era mínima, sentou-se sobre a cama e abraçou a metamorfomaga, deixando-a apoiar-se em seu ombro. Como a compreendia...mas não podia deixar que sua sina de fracasso a dominasse como fez com ele.
— Olha, tinha mil maneiras deles nos descobrirem. Alguém poderia saber que nossos R.G.’s são falsos; alguém da Ordem poderia ter nos traído, o próprio Kim poderia sem querer ter comentado com Fudge que você vinha para a França. Existiam “n” explicações. Mas não é o fim. Fomos derrotados? Fomos para Azkaban? Dumbledore nos mandou alguma mensagem para que voltemos? Não. Ainda podemos reverter a situação.
— Como?
— Você não se lembra que Narcisa e Lúcio marcaram compromissos para nós com eles? Duvido que mesmo Voldemort sabendo de quem somos, sei que ele iria querer que nós quatro nos encontrássemos. Eles precisam muito das informações e pensam que têm a fórmula certa para nos arrancar. É nessa hora que temos que ser mais espertos e enganá-los. Você é uma auror...
— Que não tem experiência nisso. — A moça interrompeu esfregando o nariz, sua voz ainda saindo abafada por estar comprimida contra o peito de Lupin.
— Se não tivesse experiência, não teria se formado. E mais, nem trabalharia no Ministério por mais de um ano. Estou certo?
Ela não respondeu, só fitava o nada.
— Vamos esperar chegar o dia combinado. Dumbledore disse para ficarmos o tempo que acharmos necessário. Quem sabe essa saída deles não seja rápida, talvez hoje mesmo já estejam de volta.
— Talvez — murmurou.
— Melhore essa cara. Enquanto isso, vamos procurar na cidade. Podem estar por aí. Em outro Hotel, talvez.
— Na cidade?
— É. Pode ser que Narcisa tenha arrastado o seu tio para comprar vestidos. Vamos nos certificar nos lugares mais finos daqui. Olha, eu vou sair para te deixar se trocar à vontade e espero você pronta no hall, ok? — perguntou o lobisomem pegando sua capa negra em cima de uma cadeira.
— Ok. Ah, Remo.
— Sim?
Tonks se aproximou do colega e encarou profundamente seus
olhos azuis. Tão azuis quanto os seus naquele momento.
— Obrigada por me deixar em alta de novo.
O homem, comovido por ouvir alguém falar assim com ele de um modo
tão sincero e agradecido, deu-lhe apenas um abraço para demonstrar que sempre poderia contar com ele para qualquer coisa.
— Te espero no hall. — repetiu.




Duas semanas se passaram e nada dos Malfoy. Definitivamente, tinham
deixado o Hotel, embora os empregados insistiam que as malas ainda não haviam sido buscadas, o que era verdade, pois Tonks colocava Veritasserum sempre que podia na água da recepção e fazia com que os outros bebessem. Quando encontravam com o casal Florience, perguntavam sobre os “amigos”. A resposta era sempre a mesma: não os viam desde o domingo que chegaram. Iam ao spa, sauna, piscina, salão de jogos, enfim, em lugares que os puro-sangue freqüentariam provavelmente para saber se alguém tinha notícias e a procura não se limitava apenas no Hotel. Foram até a Riviera Francesa, os shopping, os restaurantes mais caros e da alta sociedade bruxa, desfiles de jóias, roupas, sapatos, clubes, porém tudo parecia em vão. Nas refeições, tentavam passar a imagem de um casal de apaixonados em plena lua de mel. Era fácil. Fingiam trocar elogios, juras de amor, olhando sempre fixamente um nos olhos do outro, quando na realidade
ora Tonks ora Lupin cochichavam episódios de suas vidas. Quem visse de perto, acharia a cena cômica no momento em que a moça contou ao lobisomem que em sua formatura de auror tropeçou na beca enquanto recebia o seu diploma. Resultado: ela e o professor que a abraçava foram direto para o chão. O resto do corpo docente olhou atônito, não sabendo se devesse ou não ajuda-los; isso, sem falar do auditório, tendo alguns chocados e outros entregues às gargalhadas. Aquilo era estranho para Remo, afinal não era fácil querer rir e não podia. Só deveria olhar para sua acompanhante do modo mais apaixonado que encontrasse, como se viajasse em suas palavras; fazia isso simultaneamente em que segurava sua mão sobre a mesa, massageando-a carinhosamente (o que não foi nenhum sacrifício). Durante a busca dos Schmidt, Sirius não hesitava em sair e se divertir. Apenas se transformava em cão e saía, explorando Paris, se divertindo, enfim, tudo o que lhe fora privado nos últimos quatorze anos. Ah, como era bom ter de volta a liberdade.....Com certeza, a Ordem sabia de sua fuga, contudo, para não chamar atenção, não tentou se comunicar com eles. Assim, Lupin e ele não haviam voltado a se ver depois do outro dia.
Na quarta feira à noite tudo já estava decidido: voltariam na quinta depois do jantar para Londres. Ninguém ainda sabia do fracasso daquela missão. Seria um prato cheio para os que não acreditavam no sucesso, como Snape. Para ele, onde quer que algum maroto estivesse envolvido, torceria para seu total fracasso e se pudesse ajudar a chegar a isso...
Na quinta feira, tudo estava mais calmo, mas com um clima pesado. Ninguém falava com ninguém. Sentiam-se derrotados por um inimigo que nem os tocara. Lupin já havia se acostumado. Ele melhor do que ninguém sabia como era difícil se dedicar tanto para algo e no final não atingir o êxito. Foi assim quando tentou esconder de seus amigos o segredo lupino, quando tentou derrotar Voldemort em inúmeras tarefas que lhe fora incumbido há quinze anos e quando tentou se livrar da lembrança da morte de Ashley. Nesta falhou dolorosamente. Por mais que Remo estivesse chateado, Ninfadora estava bem mais. Além de não agradar a todos da Ordem, aquilo não deixava de ser uma derrota em sua vida pessoal e profissional. Não era uma boa auror. Tânia já lhe jogara tantas e tantas vezes....que burra! Vigiar seria passar vinte e quatro horas no encalço da presa e não aproveitando o luxo de um Hotel. Com esse negativismos todo, ela fez com que a “cena”de refeições românticas fossem perdendo ao longo do tempo as aparências. Engraçado, quem a visse com seu visual costumeiro não diria que tão alegre jovem pudesse cair numa depressão como aquela. Sempre fora tão animada e ativa com sua personalidade incomparável. Nas últimas, a bruxa estava tão desestimulada, que trocara poucas palavras com seu “marido” ao ficarem a sós, tanto que nem insistia também pelo mesmo motivo.
Depois do almoço, ambos se dirigiram à recepção para que mandassem algum elfo trazer as bagagens com magia ( nesses lugares, mesmo com magia, os elfos e os poucos empregados faziam tudo que lhes fosse mandado), porém sem estar com os braços dados um com o outro, afinal, naquela altura dos acontecimentos, o que adiantaria fingir? Quando se aproximavam das moças de roxo no balcão, Tonks viu a lareira do hall acender suas chamas verdes esmeraldas e dela sair quem menos esperava encontrar: os Malfoy, aparecendo juntinhos e sorridentes. A auror não pôde evitar deixar o queixo cair com a surpresa. O que faziam ali? Por que voltaram? Aonde teriam ido. Ela nem sabia se ria por estarem novamente ali ou se entristecia ainda mais, pois já poderiam ter ido se encontrar com Voldemort. Havia uma esperança. Sim! Uma luz no fim do túnel como seu pai trouxa dizia. Ainda poderiam tentar descobrir algo, mesmo que não possam mais segui-los como antes era sua intenção. No momento que os puros-sangues começaram a caminhar em direção às escadas, Ninfadora deu um pisão no pé direito de Lupin, já que estava em seu lado e parados no balcão da recepção. O homem, concentrado em que falaria, não deu atenção ao sinal.
— Boa tarde, acho que já chegou a hora de sairmos do Hotel. Poderia mandar alguém buscar nossas malas? — ele entrelaçou os dedos e descansou suas mãos na madeira polida em sua frente.
— Oh, entendo senhor. Como foi sua estadia? — a moça da direta perguntou. Tonks, vendo que o bruxo não lhe atendeu, deu um pisão mais forte ainda.
— Bem, bem. Na volta, pagarei toda a estadia. — ignorou-a novamente.
— Como queira Senhor Schmidt. Mandaremos alguém para ajudá-los.
— Sim, certamente. Ai... — ele murmurou a última palavra, porque Tonks praticamente lhe chutara a canela, ainda olhando fixamente para o casal Malfoy se afastando.
— Querido, posso falar com você um instante? — ela o puxou pelo braço e o levou a alguns metros longe do balcão e de qualquer um que estivesse ali que pudesse ouvir.
— Tonks, não precisa mais me tratar assim. Acabou. Tudo terminou.
— Não, — sussurrou — os Malfoy acabaram de subir as escadas.
— O que?
— Isso mesmo que ouviu. Eles voltaram para o Hotel. Creio que nesse tempo já tenham se encontrado com o Você – Sabe – Quem.
— Provavelmente. Mesmo assim, temos uma chance. Tonks, não podemos falhar. Temos que arrancar o máximo de informações possíveis.
— Claro, Michael. Não se esqueça tudo: será como antes.
— Sim.
— Mas vamos, estamos perdendo tempo. Eles devem estar num dos corredores; podemos alcançá-los.
— Muito bem.
E fazendo com se seus braços se guindassem, saíram elegantemente
do hall, mas com um passo um pouco acelerado que o comum. Subiram as escadas de dois andares e, no fim deste, um casal loiro se afastava das escadas cada vez mais, caminhando para algum quarto. Ou melhor, seu antigo quarto. Quando Lúcio pegou a varinha e a apontou para a maçaneta, murmurou algo para a porta se abrir. E foi o que aconteceu.
— Senhor Malfoy.
Ele e a acompanhante se voltaram na direção da voz e, com um
minúsculo sorriso triunfante nos lábios (um detalhe que Lupin percebeu, mas não reagiu), concluíram que quem falaram fora o senhor Michael se aproximando junto da mulher.
— Senhor e Senhora Schmidt, que prazer em revê-los. Como estão?
— Bem, muito bem. Vejo que se ausentaram por um tempo.
— Ah sim. Tivemos um contratempo em Londres e fomos obrigados a voltar. Mas já está tudo resolvido. Prometi à Narcisa que voltaríamos a Paris logo e aqui estamos. — o homem sorriu e deu um beijo na bochecha da esposa, que permanecia envolvida num abraço do marido por trás. — Ah, e é claro, havíamos marcado compromissos para esta tarde; não faríamos nenhuma desfeita por nada no mundo. Não é do feitio dos Malfoy.
— Pensamos que se esqueceriam.
Lúcio apenas deu um sorriso amarelo ao jovem casal enquanto se aproximava Jean, o empregado do Hotel seguido por um elfo de cor verde musgo, e se dirigiu a Lupin, depois de uma reverência encabulada de ambos.
— Com licença, senhores. Não queria atrapalhar, mas preciso que abram a porta de sua suíte para que possamos pegar suas malas, senhor Schmidt. — o homem pedia isso, pois os cômodos eram trancados por feitiços que somente seus atuais ocupantes sabiam, senão poderia existir riscos de bruxos invadirem quartos que não lhe pertenciam sem a autorização do dono.
— Estão de partida? — perguntou Lúcio, cujo riso desaparecera assim como veio. Parecia que algo havia saído de seu controle.
— Ah não, não. Recebi uma coruja de meus superiores agora mesmo e percebi que poderíamos ficar mais alguns dias. Obrigado, Jean. Pode se retirar.— Justificou-se sabiamente.
Os serviçais fizeram outras reverências e sairão. Remo até que já
estava acostumado a dar ordens daquele tipo e a dispensar os empregados quando não queria mais sua presença. Por alguns segundos, os quatro entraram num grave silêncio até que Lúcio tomou a palavra.
— Bom, nos vemos em ...vinte minutos, está bem? Eu e minha mulher gostaríamos de trocar de roupa.
— Mas é claro. Nos encontraremos no hall principal.— comentou Lupin cordialmente, observando as vestes de viagens dos Malfoy.
— Com licença — o loiro falou ao mesmo tempo que dava passagem para Narcisa entrar no quarto.




— O que você acha? — Narcisa perguntou enquanto despia sua capa de linho.
— Exatamente o que o Lord das Trevas disse. Eles não deixariam o Hotel sem ter certeza de que saímos. Você não viu? Estavam de partida mas, felizmente, desistiram assim como previ. Acha que acreditei naquela conversa de carta? É obvio que não. O senhor Schmidt, ou seja lá qual seja seu nome verdadeiro, não é burro. Tratou de disfarçar logo. Ah, como eu adoraria saber quem é ele. O pior é que o conheço de algum lugar, eu sei, mas de onde? — Lucio se sentou na cama e se questionava, tentando encontrar uma resposta coerente.
— Bem, eu não me lembro. A garota é Pandora, filha da minha irmã indigna de magia. Ah Lúcio, estou tão contente de estar aqui novamentemas saiba que nunca fui tão humilhada quando fomos para aquele lugar nojento. Não agüentava mais aquele hotel trouxa que ficamos nessas semanas da periferia de Paris e me comportar como tal. Fui privada das jóias e de meus vestidos. — a loira puxava um cabide com um vestido de mangas compridas lilás.
— Foi preciso, Cisa. Era o único jeito de deixarmos aqueles dois fora de nossos passos. O que não entendo foi como souberam que estaríamos aqui para nos encontrar com o Lord.
— Acha que Severo...
— Não — o marido a interrompeu — o Lord confia nele. Não somos melhores que Ele para duvidarmos. Se acredita da inocência de Severo, então é verdade. Aliás, não se queixe. Sei que não foi bom se vestir como trouxa nesse tempo, acredite, nem eu gostei. Agora, poderemos voltar a freqüentar lugares feitos para gente como nós, puros-sangues.
— Me senti tão mal quando não podia ir à Riviera para não chamar a atenção.
— Também foi humilhante para mim, mas os fins justificam os meios. O Lord ficou muito satisfeito ao concluir que contornamos a situação. Agora sim, ele me dará muitos mérito e, você verá, quando eu conseguir a Profecia será ainda mais. Está pronta?
— Só um minuto. — a mulher colocava em seu pescoço uma gargantilha fina e de ouro branco com uma gota azul de safira como pingente, pendurado quase junto ao decote, lhe dando destaque.
— Não se esqueça. Temos que saber o máximo desse homem para que possamos pegá-lo o quanto antes. É claro que mentirão, mas tente captar algo no ar, sim?
— Claro Lúcio. Não se preocupe. Quando o desapontei? Nunca e agora que me sinto finalmente em casa continuará assim.
— Ótimo. Vamos?






— Preparado para derrotar meu tio no jogo? — perguntou Tonks sentada ao lado de Lupin num dos sofá na recepção.
— Que jogo os bruxos da alta sociedade costumam jogar? Quadribol?
— Ah, não, não. Sujeitos como Malfoy fazem algo menos cansativo e envolvendo dinheiro. Talvez te chame para um pôquer bruxo.
Ele suspirou profundamente, e em seguida, continuou.
— Apesar de tudo não estou preocupado com isso. Queria realmente saber onde estiveram todo esse tempo.
— Oras, é só perguntar de um jeito discreto.
— Não Helena. Se se encontraram com Voldemort, provavelmente estão em alerta. Suspeitarão da pergunta mais inocente do mundo, portanto tenha cuidado.
— Pode deixar, pra mim tá beleza.
— E cuidado com o seu vocabulário também. Não podemos arriscar.
— Não seja ranzinza, amor. Vou me sair bem como sempre. — sorriu ela presunsosa.
— Sei. — continuou não muito certo — Vamos deixá-los falar e depois juntaremos suas informações com as minhas para a Ordem. Não podemos falhar dessa vez.
— Se conseguirmos, tamparemos a boca de muita gente, ao começar com o Ranhoso. É assim que o chamam?
— Quem o chama assim é o Sirius, não eu. A propósito, queria saber onde esse desavergonhado está agora, não o vejo desde que chegamos.
— Na sede, onde mais? E é claro que não o vê desde daquele dia, ou esperava encontrá-lo aqui?
— É claro que não...ah, os Malfoy. Cuidado e.... boa sorte — Lupin murmurou, depois de corrigir-se.
— Você também. — desejou a mestiça ao se levantar.
Mais uma vez de braços dados, ambos seguiram até a direção
dos puros-sangues e os quatro pararam no corredor.
— Bem, estamos prontos. Querida aonde você vai? — perguntou Lúcio se direcionando para Narcisa.
— Combinamos de ir ver um desfile de vestidos, não foi,senhora Schmidt?
— Helena, por favor. — corrigiu Ninfadora dando um sorriso e tentando passar uma impressão de simpatia.
— Muito bem. Eu e Michael estaremos no salão de jogos. Boa diversão.
Assim, as duas mulheres tomaram o caminho da porta principal enquanto os homens iam para o fundo.





— Então, o que prefere jogar? — perguntou Malfoy ao chegarem numa sala retangular e muito quieta, onde bruxos a usavam enquanto jogavam diversos jogos: xadrez de bruxo, damas, hungret ( um jogo de origem bruxa onde pinos eram movimentados sobre um tabuleiro azul e vermelho sob o comando de varinhas, parecia que o objetivo era fazer com que cada peça chegasse ao lado oposto do tabuleiro; Lupin nunca soube direito, afinal aquilo não era jogo ocasional que praticava) e, é claro, o pôquer bruxo. Curiosamente, em cima de todas as mesas existiam pequenas (ou até grandes quantias em galeões), o que não lhe agradou muito, afinal o dinheiro era de Sirius e não seu.
— Prefiro pôquer bruxo. — nesse, pelo menos, ele conhecia mais ou menos as regras, pois jogava com os marotos em Hogwarts.
— Ótimo e para nossa sorte, Florience e meu outro amigo, Buking estão ali, vamos.
Dessa forma, Remo seguiu Lúcio até a dupla, que estava sentado em
volta de uma mesa redonda e de feltro verde, assim como as de trouxas.
— Senhores.
— Ah, Lúcio finalmente apareceu. — os homens se levantaram para cumprimentar o amigo, mas Florience começou a falar — O Michael aqui não parava de perguntar por você.
Lupin sentiu seu estômago se mover com aquela denúncia. Agora,
mais do que nunca, Malfoy saberia de seu interesse na “segunda lua de mel com sua esposa”. Ele até podia jurar que viu de relance Lúcio mover os lábios e sorrir levemente.
— Tive problemas em casa Ektor.
— Espero que não tenha sido com Draco. — um senhor de cabelos escuros e bigode lhe estendeu a mão.
— Ah não, não. Foram negócios. Willy, quero lhe apresentar meu amigo, Senhor Michael Schmidt. — apresentou o bruxo aos demais.
— Muito prazer.
— Igualmente — o lobisomem respondeu polidamente.
— Então, o que acham de uma boa partida de pôquer bruxo? — insinuou Malfoy.
— Não sei. — comentou o tal Ektor.
— Ah, vamos. Há tempos que não jogo.
— Claro. Por sorte havíamos terminado o hungret. Talvez o Florience ganhe nesta.
— Não se preocupe, Willy. Tudo o que perdi de você recuperarei no pôquer. — falou o bruxo de meia idade quase que vociferando. Era estranho como ora a alta sociedade sempre se fazia de gentil e amável, mas mostrava-se um covil de cobras em certas vezes.
— Então a chance é agora, senhores. — comentou Lúcio, se sentando numa cadeira vazia da mesa, ficando entre Florience e Buking, com Lupin a sua frente. — Temos que concluir qual será a aposta inicial.
— Eu sugiro duzentos galeões.
— Ah, tão pouco? — indagou o loiro. — Que tal quinhentos?
— Para mim está perfeito. Se o jogo não tiver uma boa quantidade em dinheiro, não tem graça. E você, senhor Schmidt? — perguntou Willy.
— Ótimo — comentou o lobisomem ajeitando suas vestes enquanto se sentava.
— Está certo — cedeu Ektor. O homem não queria apostar tanto, pois perdera muito no jogo anterior. Entretanto, estava seguro da volta de sua pequena fortuna para ele.
Num instante, um baralho com as costas pretas saiu de uma das
gavetas e pulou magicamente para a mesa. Lupin visualizou o fenômeno com uma cara de espanto, contudo disfarçou quando Malfoy, que acendia com a varinha um charuto, o fitou. Os outros jogadores nem se importaram com o que aconteceu, afinal aquilo sempre acontecia quando se jogava carta ao estilo bruxo. Embaralhando tudo de diversas formas no ar sem o feitiço de alguém, as cartas finalmente começaram a se distribuir em cinco cartas para cada um. Remo pegou as suas com uma cara de sério e as admirou em suas mãos. Possuía dois ases, um rei, um dez e um oito. Pensou alguns segundos nas cartas que trocaria e decidiu por permanecer com a dupla de ases na mão. Nesse intervalo de tempo, o baralho começou a servir todos da mesa. Lúcio trocou duas cartas, Florience, nenhuma; Lupin e Buking, três (tudo sem a intervenção de ninguém, como se as cartas fossem inteligentes). Para a sorte do lobisomem, vira um às, um nove e um rei, formando assim uma trinca. Sem poder evitar, deu um leve sorriso ao ver as cartas que tinha e, no momento em que abriu a boca para perguntar sobre as fichas, focalizou na sua frente cinco pequenas torres de fichas circulares de dez galeões para cada um.
— Muito bem. É uma pena que o baralho não transfigure as cartas com um simples toque de varinha. Mesmo assim, peço mesa. — comentou Lúcio, fechando o mini- leque nas mãos.
— Nem tente trapacear — ameaçou Florience com um olhar severo, mexendo em um de seus montes — Aposto cinqüenta.
Remo não pôde negar que se intimidou com uma aposta tão alta por
ser a primeira partida, porém lembrou-se que o pôquer era um jogo de blefes e se não arriscasse, nunca saberia como os bruxos puro- sangues jogavam. Aceitando a provocação, ele concordou.
— Eu pago. — respondeu com um sorriso malicioso no rosto, tentando medir cinco fichas entre os dedos e, quando conseguiu, as colocou em um único monte no centro da mesa, junto com as de Willy.
— Eu saio. — Ektor uniu suas carta num raso monte e as jogo na mesa, frustrado.
— Pago suas cinqüenta e acrescento mais vinte. — falou Malfoy contando suas fichas.
— Também saio. — o homem repetiu o gesto do colega, atirando as cartas longe.
Lupin, ao contrário, fitou profundamente Lúcio, fazendo com que
os olhos verdes de um se unissem aos azuis do outro. Aquilo era um pequeno problema. O loiro era perverso e fingido, era verdade, mas até onde? E se possuísse algo maior que um trinca? Os olhares hesitaram mais um pouco até que ele quebrou o silêncio. Não. Lupin dominava muito bem a oclumência e possuía total privacidade de sua mente. Se o homem vaia aprendido muito com Voldmeort, ele fizera o mesmo com Dumbledore.
— Desiste Michael?
Nisso, com essa simples pergunta, Remo teve certeza de uma
coisa: aquilo era um blefe. Malfoy provavelmente não tinha nada nas mãos. Ele era um Comensal, não? Não chegara a mentir para o próprio Cornélio Fudge? Não o enganara? Sim, claro. Agora mais do que nunca, Remo queria ir ao jogo. Ainda se encarando, Lúcio cometeu outro erro: pestanejou. Fez com que o contato visual fosse interrompido, dando mais credibilidade ao adversário.
— Eu pago. — e completou a soma.
O sorriso de satisfação se esvaiu do rosto do loiro e um certo rubor
vermelho atingiu seu rosto por causa da raiva. Ele mostrou suas cartas, colocando-as desviradas sobre a mesa.
— Ah, parece que venci sua trinca de damas. A minha é de às. — falou Lupin sorrindo, exibindo a todos o que possuía.
Como que por encantamento, todas as cartas voltaram-se a
embaralhar no ar enquanto as fichas tomaram vida e foram se posicionar ao lado das outras de Lupin.
— Não se preocupe. Estamos apenas no inicio do jogo. — provocou o lobisomem.
Em resposta, Lúcio apenas soltou a fumaça de sua boca e continuou
olhando para o integrante da Ordem fixamente.





— Ai Merlim, olha isso! Já viu algo mais requintado? — Narcisa dava sua opinião, colocando um vestido vermelho na frente de seu corpo e se mirando com os olhos cintilando num espelho de parede depois do defile.
— Sim, é bonito. — comentou Tonks com uma voz quase sumindo por causa do tamanho tédio que sentia. Para ela, aquele materialismo típico de mulheres ricas não levaria a lugar nenhum, a menos, é claro, a gastar dinheiro. O visual nunca fora sua prioridade, pois mesmo sempre o mudando, apenas fazia compras quando realmente precisava e não por diversão ou por vício como a tia. A moça olhava sem a mínima curiosidade as peças de roupas penduras em cabides numa sala onde guardava as que foram usadas no desfile francês, para delírio da senhora Malfoy.
— Ah, também gostei desse preto de musselin.
— Mas é tão caro! — interveio Ninfadora.
— E desde quando se importa com dinheiro? Essa é uma tarefa dos homens não nossa. — a loira começou a apalpar o preto sem soltar o vermelho. — Acho que vou levar esses dois. Hum...talvez aquele marrom também. O que acha? — perguntou enquanto apontava para um marrom ao lado de uma mulher de meia idade, ruiva e cheia de jóias espalhadas pelo corpo.
— Se você gosta.... — murmurou a sobrinha distraidamente.
— Ah, por mim, passaria o dia todo comprando roupas, jóias, acessórios, mas Lúcio me mataria. Ele diz que não devo gastar todo o tempo com essas “besteiras” e não cuidar de assuntos de maior importância.
— Como o quê? — a moça se endireitou.
— Ah, você sabe. Minhas funções domésticas. Ora, ora, o que temos aqui? — Narcisa desconversou ao avistar um vestido verde musgo com um decote provocante num manequim do outro lado do ambiente. — Nossa, que magnífico! Esse vestido é a cara de minha irmã, Belatriz. Ah, como ela iria adora-lo se o visse!
— Se é assim, por que não o compra? — questionou a morena, se fazendo de desentendida já que sabia muito bem onde a mulher mencionada se encontrava no momento.
— Ah, não, não. Bela está em Azkaban, como você bem sabe. — Será que a loira adivinhara seus pensamentos?
— Como? — Tonks se aproximou, sentindo seu coração disparar com o comentário.
— Ah... — ela tentou se corrigir — como todos sabem, minha irmã está em Azkaban por seu uma Comensal da morte assumida.
— É mesmo?! — Ninfadora fez uma cara de surpreendida.
— Sim.
— Não tem outras irmãs?
— Não. Bela é a única.
— Ah.
Tonks fitou o chão enojada do comentário. Já estava acostumada com o
tão famoso despreso da família que sua mãe lhe dissera, mas não imaginava ser tão constrangedor recebê-lo daquele jeito, como se não existisse, como se não fosse nada. Percebendo o sumiço de ânimo da sobrinha, Narcisa quis continuar a alfinetá-la.
— A menos que eu conte sobre minha outra irmã mais velha, Andrômeda.
— Pensei que...
— Ela se casou com um trouxa pobretão. Não o conheço, mas deve ser filho da pior ralé e escória ...
— Não fale assim dele! — Tonks deu um grito, fazendo todos do local pararem o que faziam e olharem para as duas de uma maneira chocada. Ao ver que acabara de se denunciar, ela tentou se consertar. Levar desaforo para sua casa nunca fora um costume seu.— Desculpe, mas não gosto quando certos termos são pronunciados na minha frente, ainda mais palavras tão sujas assim.
— Oh, me desculpe senhora Schmidt. — Narcisa deu um leve sorriso de triunfo, típico dos Malfoy, afinal já aderira aos seus hábitos há tempos. — Bem, não vai levar nada? São artigos muito raros. — a mulher completou ao ver que não era mais o centro das atenções.
— São lindos ( Ninfadora não pôde resitir em fazer uma breve careta), porém sinceramente não vejo tanta difrença dos de Londres.
— Londres? Entao conhece minha cidade?
— Sim, eu a adoro.
— Mas nem sempre os de Londres são tão primorosos como esses.
— Não prefiro não. — Além de não gostar daqueles modelos de vestidos estilo “madame”, não lhe agradava a idéia de gastar o dinheiro de Sirius à toa.
— Ah, não me diga que o senhor Schmidt não tem condições de pagar, porque não irei acreditar.
— Não, não é isso. É que não quero nenhum. Nenhum deles me impressionou e para eu comprar roupa, preciso me apaixonar por ela.
— Entendo. Bom, mesmo assim, o seu marido parece ter muito dinheiro. Faz tempo que ele trabalha no Gringotes da Irlanda?
— Nem tanto.
— Um ano? — a mulher não desistiria; possuía uma certa herença de Salazar Sonserina nas veias e sua determinação.
— Mais.
— Ah. Antes trabalhava em quê?
— Uhm....ele esteve em Hogwarts. — Aquilo se tornava um território perigoso...
— Em Hogwarts? É mesmo? — perguntou a senhora tirando os vestidos de seus lugares e, segurando pelos cabides, indo em direção de um dos vendedores. — Não me diga que era foi um dos Conselheiros de Hogwarts?
— Bem, ele... —
Mas Narcisa a interropeu bruscamente, respondeu a própria pergunta.
— Não, creio que não. Lúcio conhece todos do Conselho.
— Ah sim? Mas não, Michael não nunca foi um conselheiro.
— Então, o que?
— Um professor. — completou automaticamente.
Com o impacto da novidade, Malfoy parou de andar como se
lembrasse de algo inadiável para fazer, parecendo ter sido hipnotizada, pois seu rosto alvo não mostrava nenhuma reação a não ser choque. Ouvira direito? Ainda em estado de transe, ela repetiu a pergunta e, Tonks, achando que falara mais do que deveria ( como sempre), tentou se recompor. “Maldito impulso!”
— O que?
— Um promotor eu disse.
— Ah, que susto! Pensei que houvesse dito professor. Claro que entendi errado, como um professor teria uma fortuna igual a de vocês? — a expressão da puro- sangue não mostrava estar convencida, fazendo-a sorri ainda mais.
— Exato senhora. Podemos ir? Michael logo ficará preocupado com meu atraso. Ele sempre foi ciumento e depois que nos casamos isso piorou.
— Acredite, é normal querida. Comigo tambem foi assim. Ah, senhora, vou levar estes aqui. — a loira se dirigiu à uma vendedora de verde e coberta de jóias e lhe entregou os vestidos que trazia com todo o cuidado para não lhes causar nenhum dano.
— Muito bem, senhora Malfoy. Faz tempo que não vem.
— Lúcio tem tido muito o que resolver em Londres ultimamente.
— Ah sim. Pensamos que havíamos perdido nossa melhor cliente.
A loira sorriu debochadamente.
— Isso nunca, madame Bovarie. Ah, quero lhe apresentar uma amiga: a senhora Schmidt.
— Como vai? — cumprimentou a responsável pela venda num gesto meio que automático. Quantas bruxas conhecia por dia? Uma a mais era o mesmo.
— Oi. — falou simplesmente Tonks sem se preocupar mais com a etiqueta. Naquele momento, as engranagens do seu cérebro trabalhavam a mil para raciocinar a atual situação.
Com aquela indiferença, a madame perguntou secamente.
— A senhora vai levar algo?
— Ahn? Não não, obrigada. — e ficou a observar de longe enquanto as vestes de Narcisa eram embrulhadas devidamente por elfo obedientes.




— Desculpe Willy, quadra de damas. — Lúcio mostrava suas cartas depois de longas horas de jogo o que realmente enjoou Lupin.
— Ah. — respondeu o senhor Buking, frustrado por perder mais uma rodada.
— Bem senhores, para mim esse jogo já cansou.
— Ah, Willy não fique assim só por ter perdido. Haverão outras oportunidades. — Florience tentou consolar o amigo ao ver seu desgosto.
— Provavelmente. Onde está sua mulher, Ektor? — perguntou o homem.
— Creio que junto com a sua no spa.
— Não sei quanto a vocês, mas quando elas se juntam, cometem loucuras. Narcisa não resiste ao impulso de voltar para a mansão sempre trazendo alguma compra. — desabafou Malfoy ao ajeitar magicamente suas montanhas de galeões.
— É o passa-tempo delas, Lúcio. Antes comprando do que trabalhando.
Todos daquela mesa riram roucamente, apreciando sua
superioridade sobre suas esposa. Remo, é claro, fora obrigado a entrar na falsidade.
— E a sua Michael? Sua mulher também é gastadeira?
— Ah sim, e como! Gasta minha fortuna em objetos banais e em vaidades. Totalmente dispensáveis na minha opinião — contou Lupin depois de dar uma pigarreada para limpar a garganta. — Porém, se ela está feliz, não a censurarei. Por agora.
— O senhor Schmidt acaba de se casar,— informou Malfoy aos outros — mas quando tiver anos de experiência, pensará o contrário.
— Bem, logo será o jantar e devo me aprontar. Até mais ver. Foi um prazer jogar com os senhores. — comentou Buking, depois de se levantar e recolher seu pouco dinheiro. — Espero que tenha mais sorte na próxima, senhor Schmidt.
— Até mais. — despediu-se o lobisomem tambem se levantando e vestindo seu casaco, que há muito permanecia apoiado no encosto macio da poltrona.
— Até a noite. — saiu Florience, ainda guardando em seus bolsos os galeões que conseguira e se afastando em seguida.
— Foi um bom jogo Michael e, embora tenha perdido mil galeões esta tarde, estou certo de que a recuperará logo.
— Certamente.
— Sei que pode achar petulância de minha parte, mas...trabalhou muitos anos em Gringotes ou seus bens se devem a herança de família?
— Os dois, embora tenha começado a trabalhar no Banco não faz muito tempo e meu último emprego antes dele fora há dois anos. — ambos começaram a caminhar lentamente em direção à saída da sala. Seria por aquele motivo que Malfoy insistira no jogo de pôquer? Para se ter uma desculpa para se falar de dinehiro?
— Hum...esteve no ministério eu suponho.
— Não.
— Não? Oras, estranho, eu já vi seu rosto em algum lugar antes; não me lembro onde. — Lúcio inclinou o rosto para baixo tentando achar uma resposta para sua dúvida. — Então, no próprio Gringotes, mas o do Beco Diagonal.
— Não.
— Em Hogwarts?
— O que importa senhor Malfoy é que os meus esforços e os da minha família têm sido inestimável e sei que assim será. — falou Lupin num tom sério e parando no meio do caminho, obrigando o acompanhante fazer o mesmo para conversarem.
— É claro. Perdoe-me se o ofendi com minhas perguntas — Lúcio fez uma reverência como pedido de desculpas — Apenas...me surpreendi em encontrar uma família puro –sangue tão prestigiada como a minha. Muito enriqueceram, outras misturaram as raças com os trouxas, como alguns Black. É raro ver que alguém valorize os mesmos princípios que eu.
— A família de minha mulher tambem é muito prestigiada e venerada. Não poderia ter escolhido alguém com melhor futuro.
— Certamente que não e para reparar a minha total falta de conveniência e moral, convido-o e sua esposa a jantarem esta noite comigo e com Narcisa. O que me diz?
Lupin analisou o homem, cujas feições demonstravam hospitalidade
e respeito. Apesar de tal aparência, o lobisomem sabia perfeitamente as verdadeiras
intenções do casal. Mesmo assim, não poderia negar, não aquela noite.
— Será uma honra para eu e a senhora Helena aceitarmos seu convite. — foi a vez de Remo reverenciar para demonstrar sua gratidão.
— Às sete, então?
— Perfeito. Até mais à noite. Senhor Malfoy. — saiu andando para o lado oposto do Hotel para chagar à suíte e começar a se preparar para mais tarde e para combinar novas articulações para o fim da missão com Tonks.






Lúcio abriu a porta de seu quarto por meio de feitiçaria e, quando passou seu corpo para dentro, a fechou, trancando-a. Tudo estava quieto, com excessão do local atrás de uma porta de mogno a sua direta, onde existia o banheiro. Provavelmente, Narcisa tomava uma refrescante ducha para eliminar a canseira do dia, portanto cheiro de ervas e flores preenchiam o quarto, afinal de contas aquela mulher não se contentava em apenas acessórios exuberantes e fartos para serem usados nas reuniões da sociedade, mas também qualquer produto que lhe garantisse conforto, extravagância e principalmente vaidade. O bruxo, apesar de tudo, admirava aquilo na esposa. Por mais jovens e cativantes que poderiam ser as outras, sua loira as deixava sem a mínima categoria perto de sua singular beleza e virtudes. Além de todas suas qualidades seria ela, Narcisa, que o ajudaria a fazer com que o Lord lhe desse mais confiança e créditos. Sorrindo com sua sorte, o homem despiu lentamente sua capa marrom e a depositou no encosto de uma poltrona próxima à varanda, onde um vento sereno de outono fez com que as cortinas trasparentes em torno dela esvoaçassem num ritmo morno.
Abriu uma caixa de charutos suíços, pegou um e aspirou seu odor amargo, que tanto lhe agradava. Com a varinha, trouxe para perto de si uma pequena banqueta para pousar os pés e acendeu num segundo a extremidade exata para o fumo, dando uma tragada suave de olhos fechados e saboreando o efeito do tabaco, inspirando e expirando, como gostava de fazer para relaxar sempre que podia.
Depois de um tempo incontável nessa posição, dois braços brancos como o leite envolveram- no por trás e o aroma botânico se tornou mais presente do que nunca ali. Logo, lábios tenros e suaves tocaram o pescoço de Lúcio, que abriu os olhos e se deparou com a esposa lhe fazendo carícias no peito por dentro da roupa.
— Não vai se lavar? O jantar será servido daqui a pouco. — cochichou a mulher, cujo corpo estava revestido por um roupão roxo e luxuoso de algodão.
— Estou indo. Mas antes, temos que conversar.
— Agora? Não podemos fazer isso no jantar, amor?
— Não. — segurando uma de suas mãos, fez com que ela fizese o contorno na
poltrona e se sentasse no colo do marido, parecendo desse jeito um casal de namorados. — Descobriu algo sobre o senhor Schmidt?
A mulher, que não gostou da pergunta revirou os olhos e passou a mirar a cama de casal de uma forma rebelde, contrariada por não receber carinhos e sim perguntas para responder.
— Não faça essa cara Narcisa! Você sabe o quanto a confiança do Lord das Trevas é importante para nós, Malfoy. Quero assegurar nosso futuro e esse é o único jeito. Vamos, deixe disso e me conte.
Enxugando lágrimas recém caídas de seus olhos, mas que não
chegavam a molhar as maças de se rosto, a loira se voltou para o bruxo e questionou.
— O que quer saber?
— Tudo.
— Oras, Pandora não me disse nada sobre assunto nenhum. Creio até que já descobriram nossa intenções.
— Não diga uma coisa dessas! — ralhou o o homem se levantando e quase jogando a esposa no chão se não fosse ela ter se segurado no braço da poltrona. — O lord nos liquidaría como insetos! Era ela? A filha de sua irmã mesmo?
— Andrômeda não é mais minha irmã. Aquela traidora foi deserdada pelos Black e não tem o menor direito de ser tratada com tal.
— Mas é ela?
— Sim. Quando me referi àquela desleal, a garota ficou muito nervosa e até gritou no salão. Ah, imagina a vergonha que passei. Sem contar o fato de não ter comprado nada.
— Nada? O suposto senhor Schmidt disse que ela gasta fortunas com supérfluos.
— Mentira! Ela não quis gastar um nuque! À princípio, pensei que era por dinheiro, porém aquela mestiça me garantiu que o “marido” — ela fez o sinal de aspas com as mãos no ar — tinha o suficiente. Além disso, mal cumprimentou a Madame Bovarie e me deixou numa situação horrível. Mal educada!
— O que mais me intriga — Lúcio começou a dar voltinhas no quarto enquanto dialogava.— é que não sei de onde conheço o homem. Eu já o vi antes.
— Talvez seja em Hogwarts.
— Hogwarts? — ele parou e olhou firmemente para a mulher — Por que diz isso?
— Oras, a garota me falou. Disse que antes de começar a trabalhar no Banco esteve na escola.
— Mas..em que função? Não, não, Narcisa, deve estar enganada. Onde? Eu saberia,
tenho contato direto com os Conselheiros. Não, não. — Malfoy insitia em negar com a cabeça, recomeçando a andar pelo quarto.
— Tenho certeza! Inclusive, a ouvir dizer que era como professor, mas depois tentou reparar o que dissera. Mudou a palavra para promotor. Ah, que ridículo! Como se fosse me enganar!
O puro- sangue mais uma vez fez uma pausa e olhou fixamente nos
nos íris azuis da esposa. Ela pensou que aquilo indicaria que ela enlouquecera até que o homem começou a rir descompassadamente.
— Lúcio o que foi?
— Professor de Hogwarts? De onde tirou isso, querida?
— Ela confessou. Me disse que ele fora professor.
— Mas isso é impossível. Conheço todos da escola e nenhum funcionário deixou seu cargo há anos, a menos os professores de Defesa Contra as Artes das Trevas desde minha época de estudante. E há dois anos? Impossível, Narcisa.
— Não ouvi errado. Ela disse isso “professor”.
— Pode ser mas... — ele parou com sua fala e, quando retornou com ela era um tom ameno e pausado — ...a não ser....
— O que?
— Que esse tal Schmidt seja o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas de dois anos atrás.
— Será?
— Sim, olhe tudo se encaixa! Quando perguntei ao homem sobre Hogwarts,ele logo desconversou. É....ele foi o professor. Eu já o conhecia. Devo ter visto alguma foto dele num dos currículos, é claro. Agora, o nome....qual será o nome dele?
Assim, excitado com a descoberta e procurando novas respostas,
Lúcio começou a andar mais rápido ainda.
— Querido, agora que mencionou.....não faz dois anos que Draco nos escreveu contando sobre um professor lobisomem?
— Bem Narcisa, acho que sim, não lembro. O que tem a ver?
— Pode ser a mesma pessoa.
— Er — ele analisou a idéia e voltou a comentar quase num sussurro dessa vez — Tem razão. O problema é que não lembro do nome do infeliz.
— Vamos ver.....Quirrel foi do primeiro ano....acho que o do segundo foi....hum...por que não manda uma carta para Severo perguntando?
— Não, não podemos arriscar, se a Ordem interceptar, podemos colocar Severo em maus lençóis. Vejamos, quem mais?
— Moody, Lupin e o outro acho que foi....
— Lupin! É esse! Remo Lupin agora lembrei. O Profeta Diário anunciou no dia seguinte que Dumbledore havia empregado um lobisomem. Foi um escândalo na época, ah se foi! Mas é claro! Ele estava na primeira fase da Ordem também, possui mais experiência que qualquer outro talvez.
— Espere, espere....conheço esse nome de outro lugar tambem....é, oras, é... — e a mulher estalou os dedos quando uma forte lembrança veio à sua mente. — esse homem foi amigo de meu primo Sirius. Sim! Ele, o tal Lupin, Potter e Rabicho sempre andavam juntos. Até chegaram a ir no Largo Grimmauld na época de Hogwarts. Ah, bem que eu tinha pensado ter visto aquele cachorro na varanda noutro dia; eu não imaginara nada, eu o vira!
— Eu sabia que o sujeitinho não tinha classe nenhuma. Ele nem joga bem pôquer! Ah,
sim, sim o Lord ficará tambem satisfeito quando souber que os Malfoy sozinhos passaram a perna nos mocinhos. — e Lúcio sorriu maldosamente. — Disse que jantaríamos com eles nesta noite.
— Querido, como pôde? Agora mais do que nunca não quero me misturar com esses mestiços! Não, eu não vou. — disse se ajeitando ainda mais na poltrona, que ficara há minutos só para ela.
— Narcisa, você vai sim. Será a última noite, prometo. Ah, aqueles dois devem ter algum caso, ah se tem....não viu com se tratam?
— Mas você mesmo disse que faltava romantismo na intimidade deles.
— Sim, contudo não acha que duas semanas é muito tempo? Pode contecer muitas coisas nesse período. Enfim...devemos acreditar que são ricos ainda, pelo menos até esta noite.
— Que são ricos? Eles não são?
— Não, aposto que tem a pata de sue primo no meio. Não viu como está atrevido? Teve a ousadia de aparecer outro dia em King Cross. Acho que querem que o peguem. Eles gostam de escândalos, então vamos fazer isso.
— O que vai fazer? — perguntou a loira receosa se levantando.
— Darei um cheque- mate nesse jantar. Será inesquecível, você verá. Agora...
E com a varinha acenou e uma gaveta se abriu de um móvel próximo de
ambos. Dela, viera flutuando pelo ar uma folha de pergaminho em branco para as mãos de Lúcio. Estudando o que faria, sentou-se numa cadeira junto à mesa de escritório ao canto do quarto sob o olhar confuso da esposa. Minutos depois de escrever uma breve carta, ele a selou e a deixou descansar em cima da escrivaninha na qual escrevera.
— Você verá. Ninguém atrapalhará as missões do Lord nunca mais depois dessa. Só peço que esteja mais linda do que nunca nesta noite.
Assim, foi até a mulher, que fora proibida de ler a mensagem, e a
beijou apaixonadamente.

* *
N/A:

Hey, como vão gente? Senti saudades! P/ variar um pouco estou com pressa. Tem gente aki no meu pé p/ eu liberar o pc e tá complicado. SOh digo uma coisa: ESSA CAPITULO NÃO FOI BETADO. Vou aos agradecimentos voando.

Lethicya BLack: oi....nova leitora...obrigada por ler esse trabalho e comentar. Puxa que bom que voce gostou. Faz tempinho que nao recebo comentarios e isso me deprime. Obrigada pelos elogios...

Letícia da Silva: Obaaaaaaaaaa...q bom que vc voltou. Pensei que tinha perdido uma leitora e fann, rss. Que bom que nao.Fico impressionada com o numero de meninas que amam o Siriius. TEnho uma fic só dele. Se chama "Mais profundo"e está aki no site. Se se interessar, vá lá. Espero p/ ver o que a Tonks e Lupin vao fazer como casal.....isso por causa dos Malfoy! Mate as saudades dos personagens...obrigada pelo carinho.

Fefa BLacK: Hey prima. O Remus sempre está lindo d qualquer jeito. Tira o olhos do meu lobo! O negocio eh cachorro. Deixa eu, que sou a vadia da familia, pegar o Sirius e quem puder. Nao eh a toa que sou a Bella Black. Dessa, vez a narcisa num foi nem um pouco burra; ela q desmascarou o remito. Bem, q vc queria ter o Lucio p/ vc neh? mas saiba q eu já peguei ele tambem...rss. Daqui a 2 capitulos o Siriua irá aparecer bastante. Imagine ele se divertindo em Paris.rss. Eu tambmem nao vou deixar fazr churrasquinho dele tambem... Tambem t adoro..num pude ainda atualizar sua fic. desculpe.

Nimpha: nova leitora!! Oi bem vinda. Entao . De atraçao ao amor se passa durante o EDP e de certa forma é uma continuaçao, porem ela é independente desta, sem nenhum spoiler. Dá p/ ler sem ter terminado esta. Na verdade, terminei aquela 1a, antes de começar esta. Obrigada por comentar.

Ana L. Weasley: Demorei um pouco dessa vez..rss..vc ta'sumida do msn; sou sempre eu quem tenho q puxar papo? Assim nao dá. E a sua fic? Demorou heim? Adoro escrever dialogos nessas fics...me divirto muito. Obrigada por tudo, maninha

Julie Tonks: De fato a TOnsk nao achou o Sirius....ainda! Nao perca o proximo capitulo....terá algo q agradará ,uita gente. Obrigada por sempre estar aki me acompanhando

* Miss Love Lupin * : Espero que continue adorando a fic. Obrigada pelos elogios e comentário. Postarei assim que der mais um capitulo.

Larissa Manhães: demorei soh um pokito... Que bom q gostou .

Pups: A outra fic é depois dessa, já que se passa durante o EDP. Porem, as historias sao independentes.....se quiser juntar as duas numa, fique a vontade. Nao contem spoilers d nada a outra fic. Obrigada pelo comentario.

Marcela Almeida: mana, temos q combinar direito as figurinhas. Desculpe nao ter respondido no sabado a noite quando cheguei, mas tinha q sair do pc urgentemente...Se o Lucio eh esperto..ele num tem nada a ver com vc !! rss, brincadeira, mana. Nao pretendo fazer mais esse tipo d aposta..se eu demorar p/ entrar na net, é pq aconteceu algo. A narcisa teve um papel bem importante nesse capitulo heim? A parte do choramingo...bem , digamos q eu estava inspirada.


Quero agradecer pela ultima vez todos os comentários e tudo mais. Estou adorando este trabalho....
Beijos e até a proxima..
Gude Potter

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