De volta ao começo
Pela janela de ladrilhos dourados, Hermione podia distinguir uma silhueta rumando para o encontro do céu agora escuro e quase sem brilhos prateados, com o mar, que refletia o breu como uma imensa massa espelhada.
A jovem sabia perfeitamente, de que essa sombra sendo engolida pela escuridão, era o homem cujos seus pensamentos se aglutinavam e mesclavam.Ódio, tristeza, rancor, ansiedade, desespero e decepção... enfim, toda a corja reunida em uma mente pura e confusa.
Jack Sparrow se afastava cada vez mais do Pau-Brasil, remando o seu bote personalizado, em busca da cidade costeira de Port Royal.O que mais incomodava Hermione, era o fato de que ela realmente chegou a pensar que com o pirata, estava a salva, segura de todas as turbulências.Acabou arrependendo-se amargamente por ter imaginado uma escapatória com ele, um reles bucaneiro sangue frio e traiçoeiro.
As pernas para trás, a testa colada nos ladrilhos dourados, as mãos afugentando os braços, o coração dentro do peito... tudo isso doía.Os olhos mais vermelhos e inchados do que nunca, ainda escorriam pesadas lágrimas borradas e desapareciam nas frestas dos lábios tremidos.Uma confortável cama do mesmo tom do navio, estava disposta, virada para a janela, e ao seu lado, duas mesinhas de pernas bambas sustentavam abajures com fórmicas de concha.Um pesado armário dispunha-se num canto próximo da jovem encolhida e uma mesinha de xadrez, com duas elegantes cadeiras estofadas, embelezavam o canto oposto do armário, devido às peças reluzentes distribuídas no tabuleiro.
Mesmo estando em uma cabine tão maravilhosa como aquela que se encontrava, Hermione interpretava o cenário interativo, como se fosse uma prisão; confinada, temendo que o seu carrasco voltasse ‘‘extravagante’’ logo após a sua longa comemoração de um novo recorde de litros e litros de rum contrabandeado.
O som de batuque e sininho; podiam ser ouvidos do lado de dentro, e a altura das vozes lá fora, era perceptível.Parecia que o Capitão Silver Doom apresentava verdadeiramente muito que exaltar.
Comprimida, Hermione começara a soluçar, mirando o horizonte iluminado raramente, pela luz do luar e das estrelas prateadas.De repente, um minúsculo pontinho preto, surgira no encontro das grandezas.E ele parecia estar se movendo, pois à medida que o tempo passava, mais ele crescia.Tentando distinguir o que poderia vir a ser aquela estranha visão, apertou os olhos contra a escuridão lá fora, no mesmo tempo que um barulho retumbante quebrou o silêncio e os seus soluços, fazendo Hermione gritar e se levantar em um pulo fenomenal.
O Capitão Silver Doom encontrava-se parado junto à porta.Uma garrafa cheia de rum, na mão esquerda, o corpo descoberto da cintura para cima, os cabelos azulados cheios e atrapalhados e um sorriso buliçoso encarando Hermione.
-Ora, ora ora... se não é a minha linda jovem...hum...Julieta?
Ele cambaleou um pouco para trás, mas logo se endireitou, e como se não estivesse farto de tomar rum, andou com até certa sofisticação, em direção a Hermione paralisada.Havia uma grande cicatriz em seu abdômen robusto, feita provavelmente por uma faca doméstica.
-Hum...gostou querida?-Perguntou Doom, pois a jovem não tirava os olhos da sua horrenda cicatriz.-Sabe, a minha última acompanhante um dia se estressou...e acabou apelando para a agressão... terrível, não é?
Ele se aproximava cada vez mais.Agora somente a elegante cama se opunha entre os dois.Doom tomou mais um gole generoso de rum, e atirou a garrafa contra a parede de madeira, onde espatifou em pedacinhos mínimos.Depois disso, sua ação foi tão maníaca, que mal Hermione teve tempo de reagir, e ele já saltara na cama, a agarrara pelos braços e a puxara para si, fazendo-a desequilibrar e cair nos finos lençóis de seda.Doom a agarrou e a fez trocar de posição com ele, agora ele a dominava por cima.
-ME LARGUE!SOCORRO!ME SOLTA AHHH, ME SOLTA SEU DEMÔNIO, SOCORRO!
Hermione se debatia com tanta força, que por um momento, pareceu que Doom perdeu o controle sobre ela, mas logo ele a segurou pelos pulsos, subiu em seu corpo.Começou a beijar obscenamente o seu pescoço.
Ela gritava, berrava, chutava, mas era inútil contra a força do capitão.E sabia que era inútil tentar pedir ajuda, pois os únicos que estavam no navio, eram tão horrorosos quanto o seu líder.
-Que beleza de garota!-Riu Doom.Parecia fora de si; parecia agir por puro extinto animal.Começou a beijar a boca de Hermione, mas ela assim que percebera o que ele ia fazer, segundos atrás, fechara a boca, bem cerrada.
Chorando desesperadamente, com nojo, e bem no fundo, um desconhecido desejo, sentia sua língua massagear seus lábios, tentando perfurá-los.Foi aí que lhe ocorreu uma idéia.Temendo o que viesse em seguida, descolou os lábios e rapidamente, fechou a boca, mordendo o sentido de Doom, fortemente.
O seu grito foi mortífero.A língua sangrando, Doom levou as mãos à boca, e esperando que isso acontecesse, Hermione o empurrou para o lado e levantou-se, correndo desembestada.Com a mão na maçaneta, ouviu um segundo trovão e retirou mecanicamente, a mão da maçaneta.
Doom a fuzilava com os olhos, e acabara de fuzilar a maçaneta da sua elegante cabine, com a pistola em sua mão.Seu rosto transmitia uma fúria lívida.
-Eu pensei, que não precisaria tomar a mesma atitude que eu tomei com a minha última companhia, mas já vi que você prefere morrer, não?
A cada palavra pronunciada por ele, uma pequena bolha de sangue aglutinava no canto de seus lábios, e logo em seguida, estourava.Hermione parecia incapacitada de falar, colada no armário, procurava se manter o mais afastado possível, do sutil capitão.
-Venha aqui...você é minha, e eu a quero em silêncio...
-AFASTE-SE DE MIM!-Gritou Hermione, correndo para o lado mais distante de Doom, cujos passos começaram a rumar para ela, a pistola ainda em riste.
No momento que se passou, ouve um estampido e a porta fora mais uma vez escancarada.Por ela, apareceram a escolta de Doom, com as aparências nada boas.
-Algum problema, capitão?-Perguntou Gaspar, o mais próximo; a pistola frouxa na mão direita.
-Não, Gaspar.Apenas uma égua arisca.Difícil de dominar.
-Se o senhor quiser, podemos domesticá-la para o senhor.
Os homens de Doom riram, junto com seu capitão.Sua boca começara a ficar inchada.
-Talvez, não precise, Gaspar.-Respondeu Doom, a olhando fria e divertidamente.-Quem sabe, o imbecil do Sparrow não tenha feito tão perfeitamente assim, por isso quis largá-la comigo.
Ele foi se aproximando, a mão que segurava a pistola, abaixava a cada passo lento que dava.Hermione o olhava, impelindo de costas, os ladrilhos amarelados da grande janela.Uma coisa mudara em seu rosto.Não havia mais lágrimas, apenas seus rastros borrados de preto; e sua face, expressava concentração, parecendo que se segurava intensamente para não avançar no pescoço de Doom.Um ódio mesclado com medo, fez de Hermione, uma pessoa totalmente diferente.
-Não sei se vocês sabem, meus caros amigos, mas é do feitio dos piratas, matarem, assaltarem, usufruírem lindas mulheres; com aquela elegância que toda mulher admira, aquela coragem, aquela fibra.Coitadas, são sempre enganadas, muitas vezes são mortas por esses bucaneiros desgraçados.Mas é claro que qualquer vadia cai na rede desses imbecis do mar.E a nossa Cristine foi uma delas.Aceitou Jack Sparrow e pensou que seriam felizes para sempre, uma inocente, uma completa vagabundazinha.
O que aconteceu foi tão instantâneo, que pegou todos de surpresa, até mesmo Hermione.Esta, dera um tapa na cara de Doom, este, levantara a pistola e atirara em sua direção, errando por um triz, quando a jovem agachara, acertando os ladrilhos e estilhaçando-os, produzindo um som estridente ao caírem suas centenas de estilhaços no chão e no mar.
-SUA DESGRAÇADA!
O capitão se levantou do chão, com a ajuda do pálido Gaspar.
-Onde ela está?Cadê ela?
-Ela saltou, capitão.-Informou o velho, do lado de fora.-Assim que o senhor pulou no chão para se proteger dos cacos, ela saltou no mar.
-E O QUE ESTÃO ESPERANDO, IDIOTAS?!VÃO PARA O CONVÉS E LOCALIZEM-NA.JÁ!
Os homens saíram aos tropeços.Gaspar ficou.Doom, se levantou e andou cautelosamente entre os cacos amarelados, olhou do lado de fora.
Quando procurou lá em baixo, por algum sinal de Hermione, não viu nada à não ser as pequenas ondas de impacto, que agora desapareciam.
-Gaspar, eu quero você e o Powl naquela ilha.Vasculhe-na toda; caso ela apareça por lá, tragam-na para mim, viva.Vá.
-Mas capitão, ainda não estamos apropriadamente preparados para desembarcar, a tripulação se fartou de beber rum para comemorar...
-EU SEI DISSO, IMBECIL!POR ISSO ESTOU MANDANDO VOCÊ, O MAIS CONSCIENTE DESSE BANDO DE INCOMPETENTES, PARA PROCURAR NO LUGAR QUE COM CERTEZA AQUELA PIRANHA VAI ESTAR!E NÃO SE ATREVA A VOLTAR SEM PROCURAR EM CADA CANTO DAQUELA MALDITA ILHA!ANDA LOGO!
-Sim, senhor.Com licença.
Gaspar se retirou apressado.Doom saiu da borda da janela estilhaçada, e começou a remexer em seu armário negro, tachando aborrecível, a dor aguda que sentia na língua.
-É, Kassandra... prepare-se.
Hermione não ia agüentar por muito mais tempo, prender o ar debaixo da água gelada e escura, pesando em seu vestido, puxando-a para baixo.Será que já podia subir com a cabeça?Estava tão assustada consigo mesma, que daria tudo para poder ficar ali em baixo, por algum tempo.Acontece, que ela, além de tampar a respiração, não escutava nada e uma hora cansaria de ficar remando para cima, com suas mãos e seus pés, cujos músculos já começavam a ficarem dormentes.Não tinha saída, teria de nadar o mais rápido possível para a ilha deserta, onde certamente já a estariam procurando.Mas para Hermione, qualquer lugar era melhor do que aquele navio infernal.
Quando tocou a areia aglutinada novamente, Hermione, exausta como jamais esteve, tombou no chão, onde as ondinhas tocavam rendidas, em seus cabelos sujos.
Bem perto dali, Gaspar e Powl, um homem raquítico de aparência demente, procuravam pela jovem caída, além da enorme duna que os separava.As pistolas apontadas para além dos coqueiros, os olhos atentos a qualquer sinal de movimento, o fiel tripulante de Doom, Gaspar, parecia enxergar como uma coruja, perante toda aquela escuridão que nem o luar, e nem as estrelas eram capazes de clarear completamente.
-Ela não está aqui, Gaspar... vamos embora.-Reclamou Powl, rastejando atrás do amigo.
-Não.Ela está aqui, eu sinto isso... conheço cheiro de mulher à distância.Continue procurando, seu folgado.
-Ah, você se acha o líder!Acha que pode me dar ordens, só porque é o preferido do capitão!Mas você não manda nada, Gaspar!
Gaspar se virou para Powl, e para a sua surpresa, estava sorrindo.
-Ai ai, Powl... e você ainda tem dúvida que o capitão prefere a mim, do que a qualquer idiota que temos naquele navio?Acorda para a vida, homem de Deus.Agora, se você quiser dar uma de corajoso, pode vir, eu tenho certeza que o capitão ia me dar...
Mas Gaspar parou de falar.Rapidamente, apontou a pistola para os coqueiros à frente, e fez sinal para que Powl fizesse o mesmo.
-Ouviu isso?-Perguntou, olhando com desconfiança, para as inocentes árvores litorâneas.
-Sim.Tem alguém por ali.-Disse Powl, meio exasperado.
-Olha aqui, você procura pela esquerda, e eu pela direita.Quem achar a vadia, grita pelo outro.
-Certo.-Concordou de má vontade.
Gaspar andava tão lentamente, que quase chegava a parar.A pistola vermelha na altura dos olhos, vasculhava atrás de cada coqueiro.
-Ei, jovem adorável, apareça... eu sei que você está por aí.Não vou te machucar, eu prometo.Venha pra...
Um grito rompeu o sigilo da noite.Vinha do outro lado da imensa duna de areia.
-Powl!
Correu com um ímpeto assombroso, e ao chegar do outro lado do monte de areia, encontrou Powl caído, recostado em um coqueiro próximo.A sua pistola e sua espada haviam sumido.
-Powl?Powl quem fez isso?Acorda seu...
Mas Gaspar se silenciou e com um gesto incrivelmente ligeiro, se jogou no chão, virou para trás e rodou a perna num ângulo de 180°.
-Ai!
Hermione levara uma rasteira, e tropeçara, batendo de costas no chão áspero.Um pedaço de pau que segurava, voara para um lado.O homem se levantou, e sacou sua espada do suporte.Agora apontava para o pescoço de Hermione.
-Você é mesmo uma idiota.Acha que usando Powl pode me pregar uma armadilha... pensa que sou burro?Bem... acho que o capitão não vai se importar, se eu disser que não te achei, e provavelmente morreu afogada...o que eu faço com o maior gosto.Diga adeus para a vida, vagabunda de quinta.
A espada de Gaspar fez um movimento brusco no ar, e quando ia perfurar a carne de Hermione, encontrou centímetros acima de seu peito, uma outra espada cruzando com a primeira, provocando um barulho seco de metais se colidindo.
-Mas o que...Sparrow!
-Levante-se senhorita!E corra!-Ordenou Jack, cuja espada ainda estava cruzada com a de Gaspar.Sem hesitar, Hermione se levantou e se embrenhou para o centro da ilha.
-Ora, ora, ora... se não é o nosso Capitão Jack Sparrow...o que foi, se arrependeu da troca e veio salvar sua donzela?
Jack descruzou sua espada, e se posicionou no ataque.
-Meu caro Gaspar... ambos sabemos que pessoas não são propriedades das outras...bom no seu caso, é uma exceção... e por falar nisso, como anda o seu dono, o Capitão Doom?
Gaspar grunhiu, brandiu a espada e atacou.Jack, preparado, cruzou-a novamente com a sua, na altura de suas cabeças, ficaram suspensas.
-Para sua informação, pirata, o Capitão Doom está muito feliz.Especialmente pelo adorável presente que eu dei á ele.Olha, e ele nem reclamou, quando o dei aquela bússola estragada.Ah, e sua espada estava precisando ser lustrada.
Jack atacou no tórax de Gaspar.Este, ágil, manobrou sua espada na vertical, impedindo o movimento fatal de Jack.
-Depois dizem que os piratas que não são confiáveis.Quando o senhor voltou da ilha, dizendo que não havia nenhum pertence meu, eu sabia perfeitamente que o seu querido capitão sabia o paradeiro dos meus pertences.E como eu estava em desvantagem numerosa, naquele momento, não questionei.
Os dois homens cruzaram e descruzaram as espadas mais cinco vezes seguidas, depois Jack impulsionou o encontro das duas, fazendo Gaspar oscilar e recuar para trás.
-É realmente um covarde, Sparrow.Mas uma coisa você não pode reclamar : te demos mantimentos e um par de botinas.E admito, fiquei impressionado por te ver aqui novamente... será que veio por causa daquele seu trambolho, mais por causa da sua bonequinha, Elizabeth?
POF!
Gaspar estatelou no chão, aos pés descalços da jovem.
-É Hermione, seu miserável.
Hermione segurava um grosso pau nas mãos.Jack olhou enviesado para Gaspar, e depois sorriu para ela.
-Belo trabalho, amor.
-Obrigada.-Retribuiu, sem olhar nos olhos de Jack.-Vamos sair daqui, eu vi o seu bote do outro lado da ilha, não temos muito tempo.
-Espere.-Pediu Jack, olhando para o Pau-Brasil ancorado.-Eu tenho que voltar lá, e pegar meus pertences.
-O que?!-Disse Hermione, perplexa.
-Eu não posso ir embora sem eles.-Repetiu o pirata, começando a caminhar para a praia.Hermione o acompanhou.-Posso usar o bote dessas marionetes de Doom, para chegar ao navio...
-Mas...que se dane os seus pertences!São as nossas vidas que estão em jogo, Sparrow!E você vai se arriscar por causa de uma bússola velha e uma espada em enferrujada?Você... Doom tem razão.Vocês piratas só se importam consigo mesmos.Vocês...
-Agora escuta, Hermione.-Impôs Jack, pela primeira vez, estava falando sério, a encarando nos olhos.-Eu vim aqui para salvá-la, mas tem coisas que você não sabe sobre mim...por isso, sem socos, sem tapas, sem agressões físicas, sofridas por você, eu só peço que fique aqui na ilha e esteja atenta.E sem perguntas.Há cordas dentro do alçapão.Você amarra esses homens e me espera no bote.Eu vou voltar, e vamos sair dessa maldita ilha.
Os dois se olharam por uns instantes, depois Hermione suspirou, e falou, decidida:
-Eu vou com você.Te ajudo a pegar suas coisas.Não adiante tentar me fazer mudar de idéia.Ou você me leva junto... ou... você me leva junto.Pode escolher.
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Caraca, nem acredito.Quanto tempo ein?Desculpem, mas não ta dando mesmo, e eu tive que desfazer o capítulo, por que estava muito grande.Mas aí está o quinto, e espero que gostem!Comentem, plis!
Flw!
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