A decepção de Hermione



-Anda... vamos lá, cai logo, infeliz!

Não é do estilo de Hermione, entornar palavrões.Especialmente sobre cocos que teimavam a cair quando ela os cutucava com um fino galho que achara no chão.

-Pelo amor de Deus!Quebra meu galho!

Não deu outra.O fino galho se partiu e por pouco não bateu em sua cabeça.

-Inferno!

-Devagar com as palavras, doçura.

Hermione se virou para trás instantaneamente.Primeiro pensou ser Jack Sparrow, mas logo viu que a figura por entre os coqueiros não parecia absolutamente nada com o pirata esfarrapado e atrevido.Suas vestes azuis eram sofisticadas e limpas.Usava um chapéu emplumado e apontava-lhe uma espada ofuscante perante a luz do sol daquela tarde.

-Quem é você?Como chegou aqui?-Gaguejou Hermione, afastando-se pausadamente do homem observador.

-É uma pena que não possamos ter nada agora, meu bem, mas poderíamos tentar...

-Eu não quero nada com o senhor!Escuta... eu... eu estou com um ... um amigo por aqui, e ele não demora a voltar!Estou te avisando, vai se dar muito mal se fizer qualquer coisa comigo!

-É mesmo?-Debochou o homem, parecendo divertir-se com a apreensão da linda jovem.-Pois terá uma surpresa, doçura, assim que eu a levar...

-Eu não vou a lugar algum com o senhor!-Gritou Hermione, um fiozinho de coragem persistindo para não arrebentar dentro de si.

-Agora ouça, meu benzinho.Não pense que só porque você é mulher que eu vou tratá-la diferente!Se me encher a paciência, te levo com uma bala no pé!Anda logo!

A jovem tremia, seus olhos começaram a arder, mas poupou o trabalho de coçá-los, pois lágrimas cristalinas começaram a desprender de suas pálpebras.

-E sem chorar, se não apanha.Vamos.

Sem alternativa, Hermione deu as costas para o homem de cavanhaque loiro e passou a andar vagarosamente, enquanto ele andava atrás.Dando instruções de onde deveria seguir, os ruído dos passos do homem quebravam o som do vento possante, e suas voz abafada, ecoava como uma trovoada retumbante, nos seus ouvidos.

Não demorou muito, e a jovem reconheceu aquela duna por onde subia com dificuldade.Era a mesma duna onde adormecera e vira Jack pela primeira vez.E isso significava que ele podia estar perto, pronto para salvá-la!

Seu coração começou a bater mais forte dentro do peito, e não tinha ligação alguma com o pesado esforço que fazia, subindo o monte de areia até seu topo, com um homem estranho e armado logo atrás.Podia se assemelhar á súbita segurança que sentia.

Assim que ficou visível o outro lado da duna, Hemione procurou desesperadamente, algum sinal de Jack, mas não encontrou nada, á não ser, seus pertences jogados na areia perto da remota fogueira.

-Ora ora ora, mas o que temos aqui... fique quietinha.

O homem passou para frente de Hermione, agachou-se e catou os pertences de Jack, guardando-os nos espaçosos bolsos de suas vestes apuradas.

-Quem diria, hoje é o meu dia de sor...AAAAHHHHH!

Hermione correu o mais célere que pôde, receando que o homem tornasse a discernir depois do jorro de areia que lhe tacou no rosto.O vestido branco, já meio sujo e destroçado, sacudia contra o seu corpo veloz à medida que se embrenhava mais no mato denso e verdejante, sem sequer olhar para trás.

-Jack Sparrow!Jack!Me ajuda, por favor! Jack!

Para o seu azar, o homem a impetrou do outro lado do matagal, pegou com força o seu braço, e a virou para trás.

-AI!ME SOLTA!SAI!SOCORRO, JACK!

Ele a puxou com o outro braço, e imobilizou o outro dela, fazendo-a encostar-se a ele de costas, e sentir seu hálito quente e sua respiração ofegante no seu ouvido.

-Não me obrigue a usar minha força, vadia, se não vai conhecer o verdadeiro Gaspar Grog.

Hermione fora imobilizada até o pescoço, pela mão de seu raptor.Chorando baixinho, sentiu seus lábios e a barba do homem, tocarem o seu fino pescoço.Fungou a fragrância natural da mulher e ofegou.

-É realmente uma pena... agora você fica bem calminha, entra naquele bote ali, e se tentar fugir, atiro em você e arranco sua bala com a minha língua.Vamos.

Jack amarrava mais um mastro inopinado, em seu bote, sob o olhar do restante da tripulação do Capitão Doom.

-Meus caros senhores.-Disse, depois de mais um nó dado na vela do mini-barco.-Como foram informados pelo seu próprio capitão, não demorarei demais por aqui, abusando da hospitalidade dos senhores.Eu gostaria de saber, qual a cidade mais próxima por aqui?

Ninguém respondeu, por um instante.

-Port Royal.-Informou um homem desdentado, sentado em um barril de rum, jogando cartas com os outros.-Siga reto para o leste, e em menos de um dia encontrará a cidade nas encostas das montanhas.

-Port Royal... eu conheço.Mas infelizmente nunca marquei a minha presença por lá.Já confiscaram rum em Port Royal?

-Faz tempo que não vamos em Port Royal, pirata.-Respondeu um homem idoso; fumava uma espécie de charuto, avaliando a jogada de seus companheiros.-A guarda da marinha de lá está em excelentes condições, comandadas por aquele fedido do Norrington.Soubemos que ele vai ser promovido de capitão para comodoro.Que lixo.

-Comodoro Norrington...seria uma pena perder uma festa dessas, não?

Todos olharam para Jack.Este, sorriu despistado, e voltou sua atenção para a vela improvisada. Não estava uma maravilha, mas devia agüentar algumas horas até Port Royal.De lá, partiria com um navio mais descente e buscaria apoio em Tortuga.Mal conseguia acreditar direito, que escapara do seu túmulo aquático.Barbossa não perdia por esperar.Lembrando-se de repente, Jack apalpou a cintura.

-Maldição!

-Aonde você pensa que vai, pirata?-Perguntou o homem desdentado, ao ver Jack se afastando do grupo compacto.Se virou velozmente e apontou para o tombadilho.

-Eu vou falar com o capitão Doom.Agora, se quiser saber mais do que isso, eu vou suspeitar...com licença.

Sem dizer mais nenhuma palavra, cursou até o tombadilho e entrou na cabine de Doom sem mostrar sinal de presença ao fazer isso.O capitão estava debruçado em um pesado livro de contas, e escrevia nele com uma longa pena preta.Ao escutar o barulho da porta abrindo, e logo depois fechando, não fez nenhum movimento brusco, apenas formou palavras pausadas enquanto escrevia freneticamente, até o final da folha.Fechando o grosso livro, e descansando a pena, foi aí que deu o primeiro sinal de reconhecimento, virando seus olhos para Jack.

-Capitão Doom, eu gostaria muito que o senhor me cedesse alguma garrafa de rum e quem sabe, pudesse me liberar mais depressa, porque eu vim para cá sem os meus pertences.Eles ainda estão na ilha, e como está escurecendo, não seria fácil encontrá-los.

-O senhor não vai levar sequer um copo de água, capitão Sparrow, e desse por satisfeito que eu o deixarei partir, assim que meu contrabandista chegar.

-É, perfeitamente capitão.-Concordou Jack, na hora em que uma batida na porta os fez virar a cabeça para ela.

-Entre, Gaspar.-Ordenou Doom, os dedos mais uma vez entrelaçados em cima da escrivaninha.Obedecendo a ordem, Gaspar entrou acarretando consigo, imobilizada, Hermione.

-Jack!-Balbuciou a jovem, desvencilhando-se do aperto do contrabandista, e inesperada e confusamente, abraçando-o firmemente.-Ele o pegou também!Meu Deus!O que vamos fazer?Eu estou com medo, Jack.-Hermione falou enfraquecendo cada vez mais a voz, até que somente Jack pôde ouvir a última frase.

O Capitão Jack Sparrow ficou inativo, sem ação, totalmente chocado com o que acontecia.Enrugando a sobrancelha e arregalando os olhos, apenas deu batidinhas de leve em sua cabeça.

-Obrigado, Gaspar.Agora saia.-Mandou Doom, ainda estudando a jovem que entrara em sua cabine.Continuava abraçada com Jack.O contrabandista saiu, fechando a porta ao passar.

-Capitão Sparrow, solte-a agora.

-Bom, capitão Doom, o senhor tem que concordar comigo, eu não a estou segurando.

-Quem é o senhor?-Intrometeu-se Hermione, ainda soluçando nos braços de Jack.Doom sorriu docemente para a jovem, sacou a pistola num gesto bruto e apontou para os dois.

-Largue esse depravado, querida Hermione.-Doom se levantou da escrivaninha, Jack pegou em seus braços, e a fez olhar em seus olhos.

-Escuta amor, não posso fazer mais nada por você, é realmente lamentável, mas...

-Esperai, do que é que você está falando?-Balbuciou, as lágrimas voltando a dar brilho em seus olhos.Não foi Jack que respondeu, mas Doom.

-Barganhamos um transporte para a saída daqui, e em troca, ele me ofereceu você.E olhe, eu não me arrependo da barganha, sem dúvida estou precisado de aventuras mais quentes, onde uma bela companhia como você, seria o ideal.

Por um breve momento, Hermione pareceu que ia desmaiar nos braços de Jack.Mas no momento seguinte, o empurrou contra a parede, e encontrou fortemente, seus dedos delicados no canto direito de sua boca.

Mal o Capitão Silver Doom e Jack registraram que a jovem acabara de socar a cara do pirata, ela já gritava aos berros, não dando atenção á dor aguda que estava sentindo nos dedos.

-COMO SE ATREVE?COMO SE ATREVE A ME BARGANHAR, COMO SE EU FOSSE UM PERTENCE SEU!VOCÊ NÃO PRESTA SPARROW!É NOJENTO, É DESPRESÍVEL!SEU IDIOTA, ESTÚPIDO, GENTALHA, SACO DE LIXO, AAAAAAHHH!

Hermione voltou a avançar em cima de Jack, mas este a segurou pelos pulsos bem na hora.Ela tentava chutá-lo, mas ele esquivava, até que os dois se encararam bem perto um do outro.Um fino filete de sangue escorria pelo canto onde a jovem lhe aplicara o soco, e desaparecia na barbicha do queixo.

-Eu acho que me agredir, não irá levá-la a lugar algum, senhorita.

-Seu sujo, eu te odeio, EU TE ODEIO!ME SOLTE!EU QUERO SAIR, VOCÊS NÃO TEM ESSE DIREITO!EU VOU...!

-VAI O QUÊ, HERMIONE?

Jack e Hermione se viraram para a escrivaninha.Doom havia dado a volta por ela e estava a poucos passos dos dois, Jack a agarrando pelos pulsos.

-Pelo que o Capitão Sparrow me informou, a senhorita mal se lembra como veio parar nessa ilha.Como pode conhecer alguém, ou alguma coisa que a salve, se nem se lembra de onde vem?

Ele caminhou para os outros dois.Sorrindo malicioso, passou sua mão morena, no rosto de Hermione para aprumar seus cabelos anelados, atrás de sua orelha.Depois, limpou suas lágrimas escandalosas com um lenço bordado que tirara do bolso com a mão vaga.

-Eu n...não se...serei do s...s...senhor!-Exclamou, entre soluços penosos, trincando os dentes.

-Ah, pois vai sim, minha querida.Vamos ter uma longa vida juntos, enquanto prestos os meus serviços exaustivos, você sempre estará me esperando na minha cabine, para fazer-me relaxar.Será muito útil para mim, e receio ter a cura para o meu alcoolismo obsceno, dentro de seu espartilho frouxo.-E soltou mais uma risadinha maldosa.

-Realmente Jack, confesso que pensei mal de você, mas já vi que sabe usar a inteligência, para alguém de sua capacidade.Obrigado, Capitão Sparrow.E só por isso, mandarei um de meus homens ir buscar os seus pertences.E ainda darei um suprimento extra e dinheiro, para chegar à cidade de Port Royal, renovado.

-Ora, capitão, não tem que agradecer.Eu... posso sair agora?

Doom o mirou, sorridente.Hermione mal se continha em pé, suas lágrimas borradas com um cinza aquoso, escorriam de suas pálpebras sem cessar.

-Eu só quero mais uma coisa sua, Capitão Sparrow.-Disse, sentando-se novamente em sua escrivaninha de mogno.

-Bom, capitão Doom, eu tenho muita pressa no momento, preciso chegar a Port Royal o quanto antes para poder...

-O senhor, por favor, leve a minha jovem para a minha cabine.

Jack voltou a encarar Hermione, impassível, o sangue escorrido, secando aos poucos.Suas mãos ainda seguravam os pulsos de Hermione.Essa, nem sequer o encarava nos olhos, passou a fechar os olhos, morder os lábios e desmanchar em lágrimas mescladas de fúria e desespero.

-Bom... não custa nada.-Concordou Jack, e para sua surpresa, Hermione deixou ser levada por ele, até a porta à direita da escrivaninha.Ele agarrou com uma de suas mãos com anéis bregas, a cintura da jovem.E com a outra, abriu a porta e a pôs lá dentro, sem muito esforço.Doom se levantou, tirou uma chavinha de ouro do bolso e trancou a porta por onde ela acabara de entrar.

-Essa jovem é um tanto estranha, não acha?-Entregou Doom, guardando a chavinha de ouro e retornando a seu lugar habitual.

-Perdão, estranha, capitão Doom?

Jack, que ainda continuara no mesmo lugar, virou-se para Doom, e limpando o sangue seco do canto de sua boca, com os seus dedos, sentou-se de frente para o capitão.

-Ora, Sparrow.Não me diga que você não notou.Ela sem dúvida é uma bela mulher, mas possui um jeito de uma garotinha de quinze anos.

-Ah, isso eu também notei, caro capitão, mas creio não poder explicar o seu comportamento, pois conheço tanto dela, quanto o senhor.

-É, talvez seja melhor assim.Mulheres com esse gênio são mais fáceis de manipular.Bom, Capitão Jack Sparrow, diga ao Gaspar para vir aqui falar comigo, e espere no convés.Mandarei pegar os seus pertences, te darei suprimento, e como prometido, dinheiro e um par de botinas.Em breve, o senhor estará a caminho de Port Royal, e quem sabe, encontrará uma nova aventura tocante.

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Oi, desculpem a demora, mas as provas não dão trégua.Aí está o quarto capítulo, e espero que gostem.A fic está chegando ao fim, aproveitem e comentem se puderem.Flw!

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