Os exilados



Quando Hermione acordou, o sol já havia saído, dando lugar no céu, para suas milhares de irmãs estelares.O vento parou de uivar e lutar contra os subsídios; agora a atmosfera era seca, mas mesmo assim, conservava o calor abundante que o sol ofertou para o local.

Capada de areia, Hermione caminhou até o mar se abanando freneticamente com as mãos.Ao sentir a água morna tocar-lhe nos dedos do pé, se ajoelhou perante o horizonte azul e pontilhado com prata, levou suas mãos nas pequenas ondas que quebravam na areia e se rompiam e enxaguou o rosto.

Caminhando pela praia, sentindo os salpicos da água salgada chocar contra os seus pés descalços, a jovem mantinha-se cautelosa e atenta a qualquer sinal de agitação.Porém, á cada passo que dava, mais temia ser a única pessoa vivente naquele paraíso alheio.

Os braços que apoiavam na areia da duna para manter o equilíbrio no resto do seu corpo, começaram a formigar incomodamente.Hermione, cansada e os pés também doendo, se reteve um pouco mais para baixo do topo da duna, e deitou-se.Virada para as estrelas, não pôde deixar de esboçar um sorriso admirativo, ao ver a perfeição das luzes coloridas que piscavam para ela.Tudo seria perfeito, se não fosse pelo fato de que Hermione não sabia como, nem onde fora parar na beira do mar.Sua memória estava ambígua, e toda vez que tentava se lembrar de alguma coisa que a auxiliasse a solucionar a questão, sua cabeça latejava como fortes alfinetadas.

Um rapaz folheava um livro volumoso na sua frente.Alguém se movia atrás dele, com passos lentos e contínuos em linha reta.Havia outras pessoas no lugar, o ambiente permanecia tenso e quieto, ninguém falava.

Pequenos olhos azuis profundos miravam os seus, alguma coisa caia no vácuo escuro, o som de vozes agitadas cortava a penumbra ...

Hermione tossiu com tanta força, que teve a impressão de que suas cordas vocais haviam arrebentado.Pondo-se sentada na areia, apertou o pescoço num gesto de pavor; os olhos marejados com lágrimas cristalinas, vasculhando a causa dessa ânsia tossida.

Um odor de madeira esbraseada entrou em suas narinas, provocando mais um acesso de tosse.A fumaça cinza chumbo, agora era visível no ar.

Hermione escoltou com o olhar, a origem da grande massa que embaçava sua vista para as estrelas, e descobriu que ela derivava do outro lado da duna em que estava repousando instantes antes.

Engatinhando até seu topo, a jovem reconheceu uma fogueira em brasa, com chamas vivas e quentes.

De uma vista ligeira, não havia sinal da pessoa que acendera a fogueira.Mas os pensamentos de Hermione se concentraram num único propósito : ela não estava sozinha naquele lugar!E se encontrasse o outro, poderia esclarecer muitas dúvidas.

Agora... onde essa pessoa estava?Não podia ter ido muito longe, pois a fogueira ainda estava bastante intensa.

Foi então que, por trás do fogo crepitante, vira uma cena imprevista fazendo-a gritar de infâmia e esconder os olhos nas mãos sujas de areia.

Um homem de costas para Hermione, virou a cabeça para trás, esquadrinhando quem produzira o berro.Logo que viu a jovem, no topo da duna, ajustou as calças, afastou-se do coqueiro com aqueles passos aturdidos, e passou a observá-la.

-Peço desculpas, senhorita, se a assustei de alguma maneira... porém, seria gentil de sua parte, se não me condenasse pelo que acabou de ver... afinal, não sabia que tinha companhia nesse fim de mundo...

-Não, não, não... eu não quis incomodar o senhor...- Respondeu Hermione encabulada, ainda tapando os olhos com as mãos.- Eu só procurava alguma pessoa, mas parece que não há... a não ser eu e o senhor... então, eu já estou indo, porque eu...AH!

Hermione se desequilibrou e rolou duna abaixo, ao sentir uma mão tocar-lhe no ombro direito.

Ao parar de rolar, a paisagem continuou a girar sob os seus olhos, as estrelas moviam-se em alta velocidade, se transformando em milhares de borrões prateados.

-Realmente, esse modo de descer um monte de areia é mais rápido...só não sei se é um dos melhores.

O homem deslizou na duna e parou na sua frente.Oferecendo sua mão para ajudá-la a se levantar, passara a estudar cada centímetro de seu corpo caído na areia.Esta, porém se recusou a se apoiar na mão do homem, e se levantou com dificuldade, ameaçando cair de novo.

-É sem dúvida uma bela companhia; senhorita...?

Hermione acabara de ressaltar o modo como aquele sujeito a olhava, e recuou um pouco mais, enquanto tentava focalizá-lo verticalmente.

-Por que o interesse em saber?

O homem riu e baixou a mão.Era realmente um sujeito bizarro.Seus farrapos sujos e o lenço na cabeça não chegavam a causar em Hermione, o espanto quanto o seu jeito embriagado de andar e falar.

-Sou o Capitão Jack Sparrow, á seu dispor.

Jack sacou o seu chapéu de três pontas, e improvisou uma breve reverência.Sua imobilidade oscilou um pouco.

-E como chegou aqui, senhor Sparrow?-Perguntou Hermione, recuando sempre mais um pouco, à proporção que Jack ameaçava se locomover em sua direção.Ele observou os traços finos da jovem, antes de sorrir para ela e apontar para o topo da duna.

-Por que a senhorita não me acompanha para o meu espaço, certamente irá fazer frio deste lado.

Os dois se encararam.Hermione chegara à conclusão de que esse Jack encontrava-se bêbado.Talvez não fosse melhor contrariá-lo, e quem sabe, ele pudesse explanar alguns pontos dessa história confundível?Assim que começou a subir a duna novamente, o ‘‘capitão’’ fez menção de querer ajudá-la.

-Não me toque, por favor.-Apressou-se a advertir, desvencilhando do seu palmo.

Jack ergueu a mão para o alto, apertando os olhos para ela.Logo mudou o rumo da sua subida, para uma distância menos próxima da de Hermione.

Todos os seus sentidos alerta, os músculos aparelhados para correr ou brigar, o vestido branco, bem preso entre suas pernas... esse temor do homem que a pouco, encontrara numa situação constrangedora, elevava cada vez mais, um receio de um surto psicótico vindo ou de sim mesma, ou ainda pior, do próprio homem.Encolhida perto da fogueira afável, Hermione não conseguia e nem queria desgrudar os olhos de Jack, de cada mínimo movimento seu.

Finalmente, depois de um momento sozinha, surgiu por entre os coqueiros dos quais a jovem não tirava os olhos, o ‘‘capitão’’ Jack Sparrow, trazendo consigo, duas garrafas empoeiradas de um líquido caramelo.

-Sem dúvida, o melhor rum destilado que eu já tomei.E olhe, isso não é pouco.

Jack gracejou do seu próprio comentário, mas quando viu a expressão no rosto de Hermione, cessou quase prontamente.

-Hum, tome. - Disse, dando a garrafa e se sentando na areia, ou melhor, desabando na areia, ao seu lado.

Hermione olhou para Jack, e em seguida, mirou a garrafa, receosa.

-Desculpe, não estou reclamando nem nada, mas não teria outra bebida que não fosse alcoólica?Eu.. acho que não bebo.

Ele a admirou, destampou a sua própria garrafa e ainda com os olhos pregados nela, bebeu um grande gole de uma só vez.

-Perdão, senhorita.’’Acha’’ que não bebe?Como alguém pode não ter certeza disso?É a mesma coisa que dizer qual é o meu gênero, não acha?

E como Hermione previra, Sparrow tornou a rir.Bebeu outro considerável gole antes de volta a si.

-Beba com vontade, amor.Verdadeiramente falando, havia um pequeno barril de água que eu usei para outra coisa... bem, beba e descubra se você gosta ou não, o que é afirmativamente improvável.

E tomou mais um longo gole antes de persistir.

-Então... o que a trouxe para cá?

-Eu... eu não sei dizer exatamente.As minhas lembranças são muito poucas.Me lembro de ter acordado na praia, mas não faço idéia de como eu cheguei nela.

-Um colapso de memória, logo a senhorita vai se lembrar do homem que a abandonou, ou de alguma embarcação naufragada... conhece algum pirata?

-Claro que não, e nem poderia.Os piratas se extinguiram á séculos...

Hermione ficou absolutamente perplexa quando Jack recomeçara a rir gostosamente, derramando gotas de rum na areia.

-Quem disse que os piratas foram extintos?

-Claro que foram.Desde o século XIII...

Começara a irritar-se assim que mais uma vez, o homem caíra na gargalhada desnecessária.

-A senhorita deve ter tomado uma boa dose de rum antes de aparecer por aqui... em que data acha que estamos?

-Bem, pelo que eu consigo me lembrar, estamos na década de noventa...

-Década de noventa?!Essa é muito boa...

-Senhor Sparrow, não sei o que estou dizendo que o está divertindo tanto, mas eu peço para que me explique direito, o que está acontecendo!

-Calma, amor... bom, de acordo com os meus cálculos, estamos no século XIII, onde mesmo que não exista como antigamente, vivem piratas traiçoeiros, amotinados, bucaneiros traidores...

-O senhor só pode estar de brincadeira comigo.Eu, no século XIII?Isso é impossível...

-Essa sua amnésia prejudicou realmente a sua cabeça, senhorita...

-Eu posso não me lembrar de muita coisa, mas de uma coisa eu tenho certeza : não estamos em séculos passados!

-Escuta, queridinha... estamos na data onde devíamos estar, há piratas no Caribe sim...

-Caribe?!Eu estou no caribe?Mas...não...isso é impossível.E que história é essa de piratas?Não existem mais piratas...

-Ai, meu Deus!Por que não fizeste nosso sexo oposto taciturno?Se bem que... mesmo falando incansavelmente, a senhorita não deixa de ser uma bela mulher...

-Afaste-se de mim.

Hermione se apanhou num salto.Jack, a garrafa ainda na mão, contraiu sua fisionomia e pôs-se de pé, sorrindo.

-Preste atenção minha jovem, é melhor escutar o que eu tenho a dizer, antes de sair correndo por essa ilha deserta, onde eu facilmente a acharia de novo.

-E o que o senhor tem a me dizer?-Contrapôs, se afastando de Jack e da fogueira.

-Vamos começar pelo começo..., sou o Capitão Jack Sparrow.

-Sou Hermione Granger.

-Hum, um nome incomum, mas poderoso.É uma honra conhecê-la, Hermione.

Jack se achegou cautelosamente da jovem entorpecida; com a mão desocupada, pegou a dela e levou-a até os seus lábios.

-Quem é o senhor?Por que está aqui?- Perguntou objetivamente, embora suas pernas tremessem de leve.

-Sou o Capitão Jack Sparrow, dono do Pérola Negra...

-Pérola Negra...?

Jack fez um breve aceno com o indicador para que ela se calasse.

-Pérola Negra é um grande navio.Mas infelizmente, uma lamentável falta minha, minha tripulação pirata, comandada por Barbossa, fizeram um motim e me atiraram nessa maldita ilha.Tudo porque fui estúpido bastante para indicar onde um grande tesouro estava escondido.

-Mas, um momento... se o Pérola Negra é um navio, e a sua tripulação é... quer dizer, você é, é...

-Um pirata, eu sou um pirata sim.

-Meu Deus, um pirata!Piratas não são...eu tenho que sair daqui...

-Escuta Hermonie; você está parodiando?Se está faltando realmente alguma coisa na sua cabecinha, como pode dizer com toda certeza que piratas são sujeitos cruéis?

-Eu não sei.Minha cabeça está confusa, imagens passam nos meus sonhos, nem sei se o que eu te disse até agora é verdade...

Hermione pôs as mãos nos olhos e se ajoelhou na areia.Jack se aproximou às tontas, e se sentou do seu lado.

-É realmente triste as suas condições, Hermoine... eu vou te ajudar.

-Me ajudar a que, senhor Sparrow?A se lembrar quem eu sou?

-Bom, isso deve vir com o tempo, não?Mas se você quiser esperar em outro lugar, esse tempo abranger...

-E como é que vamos sair daqui, sendo uma ilha deserta?

-Contrabandistas de bebida.Eu agradecerei profundamente á eles, pelo adorável rum, quando voltarem para cá.

-Voltarem?!E você os conhece?

-Bom, não, mas adoraria ser apresentado.

-Meu Deus do céu!E se eles nos encontrarem e quiserem nos...não quero nem pensar!

-Ótimo, eu também confesso que não estou nem um pouco a fim de pensar em contrabandistas no presente momento...

Jack estendeu sua mão por trás das costas de Hermione e procurou olhar além do seu decote.

-Por que não fazemos...

TAP!

A última visão que o ‘‘Capitão’’ Jack Sparrow viu antes de encontrar a areia na sua boca, foi a de Hermione subindo desesperadamente a duna de areia branca e áspera.

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