Acontecimentos Estranhos e Rem
N.A.: Desculpem pela demora! Aí está o 19!
Estávamos bem conscientes de que alguma coisa estranha estava acontecendo no Departamento de Mistérios, com a profecia. Após a no mínimo incomum prisão de Estúrgio, Tonks, Arthur e Kingsley, nossos espiões no Ministério, ficaram avisados para relatar qualquer comportamento anormal por parte dos Inomináveis, e nós ficamos de olhos duas vezes abertos, quando, numa reunião, estávamos falando normalmente sobre uma família que tinha voltado a ser rondada pelos Comensais da Morte e medidas de proteção, e Tonks exclamou de repente:
- Ah, Meu Deus!
Todos olhamos para ela. O presidente da reunião, Moody, olhou para ela com reprovação.
- Tonks, já temos assuntos importantes pra discutir sem que você dê explosões na mesa, disse, áspero.
- O que aconteceu, Tonks?, perguntei, vendo os olhos arregalados da garota.
- Acho... acho que sei o que aconteceu com Estúrgio!
Todos nós nos entreolhamos, espantados. Sirius foi o primeiro a falar:
- Então fale, Tonks!
- Estúrgio vinha se comportando estranhamente... faz tempo... antes de ser pego, ela disse, tomada de excitação. Faltava aos seus deveres diários como se não soubesse deles... e tentou entrar num lugar onde, em sã consciência, nunca tentaria entrar... Agiu como se não estivesse no comando dos seus atos...
- E?..., disse Alastor impaciente.
Eu, porém, já havia compreendido.
- Estúrgio... Dominado!, exclamei. Maldição Imperius!
Novos olhares entre a mesa. Lógico, era tão óbvio! Estúrgio tinha abandonado sua natureza calma, compenetrada e responsável porque não fora sua escolha! Tinha forçado a porta do Departamento dos Mistérios para tentar alcançar a profecia, comandado por algum Comensal da Morte. Como não havíamos percebido antes?
- Isso é sério, disse Moody.
- Eles já sabem que estamos guardando a sala da profecia..., disse Sirius preocupado. E podem tentar repetir o feito, já que Estúrgio foi pego.
- Estamos todos em perigo, eu disse. Algum Comensal da Morte aproveitou-se do período em guarda de Estúrgio, pegou-o desprevenido. Temos que tomar cuidado daqui em diante.
- Provavelmente foi o Malfoy, ele não sai do Ministério, disse Arthur mal-humorado. Fudge confia mais nele do que em Dumbledore.
Suspiramos. Lúcio Malfoy vinha conseguindo exercer uma alarmante influência sobre o tonto ministro. Isso prejudicava a nós e também prejudicava Hogwarts, pois, com o auxílio de Malfoy, a tirania de Umbridge atingia níveis assustadores, segundo nossas informações vindas de primeira mão por parte de Severo e Minerva. Esta, aliás, estava irritadíssima com a situação, como nos confessou durante uma de suas breves passadas na sede, numa reunião num sábado.
- É um absurdo você não poder trabalhar com segurança, tendo que falar contido, porque uma legítima espiã do Ministério pode estar lhe escutando! O que eles pensam que somos?! Estudei com Cornélio, e ele não costumava ser tão prepotente naquela época!
Enfim, as coisas aconteciam e todos nós redobramos o cuidado sobre nossa guarda.
Ao mesmo tempo, estávamos mais aliviados, afinal, nosso amigo Hagrid havia retornado de sua missão com os gigantes. Com dois meses de atraso, e com feridas simplesmente assustadoras no rosto, porém, havia retornado, apagando nossos temores de que os Comensais o tivessem pegado.
Até que veio uma notícia que me deixou positivamente deprimido. Alastor me parou após uma reunião, perto do Natal.
- Remo, Dumbledore designou uma missão para você.
- Para mim?, eu falei surpreso. Mais uma!
- Não, você vai abandonar a missão que está cumprindo agora. Vamos colocar outro em seu lugar, não se preocupe. Você deverá se dedicar inteiramente à nova missão.
- Está certo. Qual é a missão?
- Você irá para a Irlanda. Soubemos que Voldemort está tentando retomar o contato com Greyback.
Congelei.
- Greyback?, repeti, e minha voz me soou distante.
Fenrir desaparecera completamente após o fim de Voldemort, há quatorze anos atrás. Nunca mais tinha chegado aos meus ouvidos qualquer notícia de que ele estivesse voltando à ação.
- Temos fontes seguras de que Greyback está escondido na Irlanda, continuou Alastor, e vão mandar Macnair para estabelecer o contato. Se Ele tiver Greyback como aliado de novo...
- ...as conseqüências serão catastróficas, eu concluí.
- Então depende de você, Remo. Partirá depois de amanhã.
- Tão rápido?
- Não há tempo a perder.
Suspirei.
- Tá certo...
Eu só lamentava deixar Sirius sozinho, quando prometera que não iria deixá-lo. Sozinho em pleno Natal. Quando, na segunda, fui me despedir de Sirius em partida para a Irlanda (iria partir por métodos trouxas para não chamar a atenção), ele me olhou definitivamente sombrio.
- Vai ficar por quanto tempo?
- Depende, falei. Vou vigiar Macnair detidamente. Na primeira tentativa que ele fizer de contatar Greyback, lá estarei eu para detê-lo.
- Volta para o Natal?, ele perguntou olhando para o chão.
Cabisbaixo, fiz que não com a cabeça.
- Não sei... Pelo que conta Severo... Os planos não são tão imediatos... Macnair está fingindo que vai tomar umas férias na Irlanda... Ele vai manter as aparências por algum tempo... Não acho que eu vá voltar tão cedo, terei que ficar por lá quanto tempo ele ficar.
- Então está certo, disse Sirius sem mais nada acrescentar. Vou sentir sua falta um tanto.
- Eu também vou sentir sua falta, Sirius, falei sentido. Fique bem. E... se você se sentir muito sozinho... não se desespere... pense em Harry... pense em tudo o que você já passou... não fique nervoso, tente se acalmar...
- Tá certo, cortou Sirius.
Estava refletido em seus olhos que ele queria se despedir sem mais delongas. Acatei seu pedido mudo.
- Então tchau, Sirius.
- Tchau, Remo. Vê... se você se cuida. Se... Macnair ou Greyback fizerem algo com você... não vai ter nada que me impeça de ir arrancar a cabeça deles, OK?
- Muito reconfortante, ri.
¬¬¬
A viagem foi cansativa, feita de trem e barco, e, tão logo cheguei na cidade de Belfast, onde fontes secretas de Dumbledore revelavam estar escondido Greyback, tratei de localizar Macnair, num dos principais hotéis da cidade. Ele havia sido recebido pelo Ministro da Magia da Irlanda em pessoa - os Comensais têm tais privilégios - e parecia que ia ficar algum tempo à espreita antes de agir. E eu ia ter que dormir com a Capa da Invisibilidade que Dumbledore me emprestara, no assoalho frio do chão do hotel. O que a gente não faz pelo bem da nação?
Nos dias seguintes, me mantive vigiando Macnair sem perder um lance de seus movimentos, mas ele nada fez de suspeito. Apenas levava a cabo sua rotina, jantando por vezes com o Ministro da Magia da Irlanda, como se não fosse um simples funcionário do Ministério da Magia da Inglaterra. Ver Macnair, um criminoso, ter tais privilégios, me deixava indignado.
Realmente, do jeito que vão as coisas, daqui a pouco os cidadãos honestos vão ser presos. Ah, esqueci. Já foram. Sirius.
Macnair falou muitas coisas, mas nada que me interessasse propriamente, dormindo pouco, acordando cedo. Era uma rotina estafante, mas era melhor do que o ócio nada prazeroso com o qual me ocupei naqueles quase treze anos em que Sirius esteve preso.
Até que, numa certa noite...
Lá estava eu, apoiado num canto do corredor, sentado bem na frente da porta de Macnair. Depois que ele entrava no seu quarto, eu esperava mais duas horas até dormir, e só dormia sonos superficiais, para não correr o risco de perder algum movimento do Comensal. E ali estava; uma hora após entrar no quarto, Macnair estava saindo.
Como diria Sirius, finalmente um pouco de ação.
Segui-o, me esgueirei para dentro do elevador (foi uma sorte estar magro), e fiquei observando-o. Havia ansiedade nos seus movimentos. Quando você está prestes a entrar num covil de lobisomens, você geralmente mostra alguns sinais.
Macnair foi descendo pela rua deserta. Sem aparatações, sem métodos mágicos de locomoção, era a informação de Snape. Não queria chamar a atenção. E nem provocar Greyback, eu sabia. Cuidando para que meus pés pisassem no chão no mesmo ritmo que os pés dele, encobrindo assim o barulho de meus sapatos, fui seguindo-o furtivamente pela rua.
Aos poucos, fomos deixando os bairros ricos de Belfast para chegarmos a áreas definitivamente lamentáveis. Parecia um grande gueto. Fim do século XX e tem gente morando em residências assim em plena Europa... Os trouxas precisam se resolver melhor.
Macnair entrou num beco escuro, puxou a varinha e sussurrou:
- Lumus.
Sua voz estava trêmula. Hagrid me contou que Macnair fora se meter com os gigantes. Não sei porque estava tão nervoso então... A não ser pelo fato de que Greyback era um antropófago.
Após ele ter acendido a luz, pude sentir. Ouvir os sussurros e gemidos no ar, os passos, o ruído de narizes farejando. Se Macnair conseguisse falar com Greyback...
- Estupefaça!, exclamei, apontando para o Comensal.
Ele se virara surpreso ao ouvir o feitiço, e caiu estatelado no chão sem reação. Desacordado, graças a Merlin.
Mas isto não mudava o fato de que estávamos cercados por um horda de lobisomens famintos. Pude ver os rostos ferozes de dentes amarelos daqueles lobisomens segregados, mendigos, vivendo selvagemente, como se fossem animais e não homens.
Ouvi uma voz dizer:
- Comida?
- Greyback mandou que qualquer um que aparecesse era para ser levado até ele. Depois ele decidia se iria comê-lo, disse outra.
Senti o cerco se fechar ao nosso redor, meu e de Macnair. Ótimo, Remo Lupin.
Agora pense, porque é isso que te faz diferente dos outros lobisomens e de Greyback. Pense.
Pensar me pareceu quase impossível. Então, simplesmente executei a primeira idéia que me veio à mente; coloquei Macnair nos ombros e saí correndo.
Como você aparata com um homem daquele tamanho nos braços? Os lobisomens começaram a me perseguir, e minha sorte é que eu era mais magro e rápido, correndo desesperado pelas ruas de Belfast, procurando afastar os lobisomens. Revi todos os feitiços que haviam na minha cabeça, e, de vez em quando, virava para trás e atirava um Impedimenta ou um Estupefaça.
Quase me faltaram pernas para correr até o hotel de Macnair, entrar correndo pela recepção vazia, me enfiar no elevador e ir até seu apartamento, deixando-o em cima da cama. Aquela tinha sido por pouco... Mas Voldemort iria pensar duas vezes antes de mandar mais algum outro Comensal atrás de Greyback.
Com Macnair ainda desacordado (e desacordado ficaria por um bom tempo, me encarreguei pessoalmente disso), me comuniquei com Moody dizendo que a missão tinha sido concluída satisfatoriamente, só que precisávamos de um jeito de nos livrarmos de Macnair. A sugestão veio de Arthur.
Criando uma Chave de Portal, segurei firme Macnair e o levei até a casa de Alastor, onde nos esperavam Arthur, Elifas, Tonks e o próprio Olho-Tonto. Sorri ao vê-los.
- Parabéns pelo sucesso, Remo, disse Tonks, me dando tapinhas nas costas.
- Verdade, disse Arthur.
- A minha sorte foi só que soube correr rápido, falei sorrindo.
Eles sorriram também.
- Então, vamos executar o plano?, perguntou Arthur com um brilho no olhar.
Divertidos, todos nós assentimos.
Tenho muito prazer em informar que, no dia seguinte, ao abrir a porta de sua casa para verificar o jardim, Lúcio Malfoy se deparou com Walden Macnair, estatelado na soleira da porta, e, ao seu lado, escrito em letras brilhantes: "Um presentinho para o Lorde das Trevas."
Acho que eles não iriam mais tentar contatar Greyback por um bom tempo...
¬¬¬
Ao chegar no Largo Grimmauld, com Tonks, vários dias após a nossa visitinha a Lúcio Malfoy, fui recebido por um Sirius positivamente saltitante. Eram altas horas da madrugada, e, ao entrar na cozinha, pude perceber mais pratos na pia e a presença de mais pessoas na casa.
- Que bom que voltou para o Natal!, exclamou Sirius, cantarolando alegre enquanto fazia chá.
- É mesmo, comentei distraído. Sirius, tem mais gente aqui na Ordem?
- Molly trouxe os meninos, Harry e Hermione para passarem o Natal aqui!, ele disse, com um sorriso enorme.
- Mas por quê?, estranhei. Eles não iriam passar o Natal na Toca?
- Você não soube?, surpreendeu-se Tonks.
- Soube do quê?
Sirius e Tonks se entreolharam, e Sirius explicou:
- Esse teimoso falou que não queria corujas.
- Lógico, estava em uma missão de espionagem, como é que eu iria espionar com corujas me perseguindo?, perguntei. O que é que aconteceu?
- Bem, Arthur... Arthur foi atacado durante uma vigia ao Departamento de Mistérios.
Quase pulei da cadeira.
- E ele está bem? O que aconteceu? Quem o atacou? Foi Malfoy?
- Calma, Remo, disse Sirius. Não aconteceu nada mais sério, Arthur está a salvo. Uma cobra gigante atacou ele. Achamos que ela tem relação com Voldemort, a cobra de estimação dele. Na verdade, tivemos muita sorte...
- Harry viu o acidente, informou Tonks. De algum modo, lá em Hogwarts, ele sonhou com o que estava acontecendo, e foi possível resgatar Arthur a tempo, além de armar uma boa desculpa pra ele estar no Departamento de Mistérios, visto o que aconteceu com o coitado do Estúrgio.
- Mas Harry viu o acidente?, eu repeti alarmado. Isso não é exatamente o que estávamos tentando evitar, que Voldemort tenha acesso à mente do Harry? Se Harry ficar entrando na mente de Voldemort, ele vai notar e tentar fazer o caminho contrário!
- Sabemos disso, disse Sirius, uma ruga de preocupação na testa. Dumbledore não ficou nada feliz, parece. Além disso... o Harry me contou que meio que se sentiu uma cobra quando viu o Dumbledore, teve vontade de atacá-lo.
Minha preocupação só aumentou, quando Tonks disse:
- Parece que Dumbledore vai ensinar oclumência pra ele ou coisa parecida.
- Ainda bem, falei, pegando a xícara que Sirius me oferecia, por que a coisa tá ficando feia. Eh... Tonks, você se lembrou de lançar um Feitiço de Imperturbabilidade na porta?
- Claro!, riu Tonks gostosamente. Com Fred e Jorge Weasley, não dá pra descuidar. Eu lembro quando eles tinham onze anos, e eu estava em Hogwarts... a gente se matava de rir, os dois eram umas pestes.
- E eu quando ensinava eles em Hogwarts, eu disse. Pareciam com você e Tiago, Sirius. Ficavam feito uns doidos, aprontando, populares, perdendo pontos...
Sirius, que estava lavando louça, ficou olhando o teto, secando pensativamente um prato.
- Aqueles tempos eram bons, né, Remo?
- Eram, eu sorri.
- Vocês deviam aprontar um monte, sorriu Tonks. Eu era decididamente bagunceira e atrapalhada, mas duvido que chegaria aos pés de vocês.
- Ah, não chegaria mesmo, eu sorri. Nunca ninguém vai chegar perto dos Marotos. Acho que só Fred e Jorge mesmo. E ainda que eles foram orientados por nós, não se esqueça.
- É, disse Sirius animado. O Mapa do Maroto que eles usaram para conhecer as passagens de Hogwarts, fomos nós que escrevemos. Deu trabalho pra gente escrever aquilo, né, Remo?
- Dias pesquisando feitiços na biblioteca, meses explorando o castelo, meses fazendo poções, enumerei. Bem, pra quem tinha se tornado animago, até que foi uma façanha fraquinha.
Rimos juntos.
- Nós levamos três anos pra virarmos animagos, disse Sirius nostálgico. Foi complicado. Tinha horas que eu pensava que não ia conseguir.
- E quando que eles se transformaram, eu pensei que não ia dar certo, que eles iam ficar assim para sempre, lembrei.
Tonks riu. Ela era encantadora, ouvindo nossos relatos com o tempo, rindo principalmente do que fazíamos com Snape (o que, diga-se de passagem, eu não me orgulhava). Ela resolvera passar o Natal conosco, e era freqüente que nós três ficássemos até altas horas da noite conversando, tomando chá e rindo uns pros outros, pensando nas épocas antigas, e nos problemas recentes. Visitáramos Arthur no Natal (e Tonks passou a nós um relato chocado de Gina, que, junto com os outros, descobrira que Frank e Alice estavam no St. Mungus), e, com o passar dos dias, fomos nos tornando levemente apreensivos com a idéia de Harry ir embora.
Certo dia, confidenciei a Tonks meus temores de que Sirius acabasse enlouquecendo em ficar tanto tempo sozinho no Largo Grimmauld. Ela me confessou que tinha às vezes a mesma impressão, ao ver Sirius resmungando pela casa, solitário. Fiquei feliz ao ver que havia alguém compartilhando da mesma posição que eu.
- Já falei com Dumbledore, mas ele continua insistindo que Sirius está seguro aqui dentro, eu disse. Eu sei disso e concordo com ele, porém Sirius não está precisando de segurança tanto quanto precisa de liberdade. Estamos matando-o aos poucos.
- Sirius precisa de companhia, enquanto não puder sair daqui, ela me disse, com a sensibilidade feminina que toda mulher tem. Que tal nos revezarmos para tentar não deixá-lo sozinho? Você mais de dia e eu mais de noite, enquanto você não chega das missões?
- Claro!, eu falei, feliz com a boa idéia.
Ela sorriu encantadora, os cabelos hoje loiros e cacheados. Toquei-os de leve.
- Tonks?
- Fala, Remo.
- Eh... Eu... obrigado por estar aqui.
Ela colocou a mão no meu rosto. Por um momento, fiquei com os olhos fechados, aproveitando a sensação daquele toque.
- Obrigada por estar comigo, ela me disse.
¬¬¬
Ao fim do Natal, quando todos os meninos teriam que voltar para Hogwarts, o humor de Sirius declinou bruscamente até a noite da véspera da partida de Harry, quando eu e Tonks conversávamos na cozinha e ele entrou bruscamente, se largando numa cadeira e afundando a cabeça nos braços.
Olhei para Tonks, e ela me fez um aceno afirmativo com a cabeça. Então, cauteloso, chamei:
- Sirius?
- Não enche, Aluado, foi o que ele me respondeu.
- Sirius, o que aconteceu? É por que Harry vai embora amanhã?
- Também, resmungou Sirius lacônico.
Ele parecia não querer conversa, mas tinha me forçado tantas vezes a falar o que me afligia, quando éramos garotos, que agora não iria ficar calado.
- O que mais aconteceu? Molly disse alguma coisa?
- Não.
- Arthur? Gui, Fred, Jorge, algum dos Weasley?
- Não. Não, não, não, e não.
- Harry, Hermione, sua mãe...
- Não, não, não...
- Monstro, eu, Tonks...
- Não, não, não...
- Então quem?
- Não enche, Aluado!
Ficamos insistindo até que, num claro gesto de irritação, ele ergueu a cabeça e falou furioso:
- Tá certo, foi o Ranhoso! Satisfeito, agora?
- Ranhoso?, estranhou Tonks.
- Nosso apelido para o Severo, expliquei, para me voltar para Sirius: - Que foi que ele te disse?
- As coisas de sempre. Só que na frente de Harry. Que vontade de matar aquele desgraçado! Ele falou mal do Tiago, e depois disse que eu sou um inútil que se esconde na casa da mãe! E o pior é saber que, nessa parte, ele está certo!
- Ele não está certo, Sirius, repliquei calmamente. Você não está se escondendo. Você está aqui porque segue as ordens de Dumbledore, assim como Severo.
- O Ranhoso gosta de irritar a gente, Sirius, disse Tonks. Se cair no jogo dele, você só vai deixá-lo mais satisfeito.
Olhei para ela surpreso, e ela me disse:
- Quê? Gostei do nome. Combina com o Snape.
Eu não pude evitar o riso, e até o desanimado Sirius deu um sorrisinho.
- Tonks está certa, falei. Como ele tem sangue-frio, pode ouvir você xingá-lo de Ranhoso sem realmente se alterar, e como sabe que você tem sangue quente, o irrita com provocações bobas de uma pessoa que nunca gostou do seu sucesso, Sirius.
- Sucesso, resmungou Sirius. Grande sucesso o meu. Perdi meus amigos, fiquei doze anos em Azkaban, saí atrás de um rato e nem para matá-lo eu prestei.
Senti meu rosto corar. Fora por minha culpa que Pedro tinha escapado. Meu amigo percebeu que eu ficara naquele estado, e disse daquele seu jeito brusco de consolar:
- A culpa não foi sua, Aluado. Acontece com todo mundo.
- Foi minha sim, eu disse sentindo os olhos queimarem. Se eu tivesse sido mais cuidadoso... Se eu tivesse pensado... Tivesse tomado a poção, eu não teria estragado as suas chances de apanhar Pedro... E você não estaria nessa situação. Sou um idiota.
Tonks, que já estava "inteirada" da nossa pequena aventura em Hogwarts, disse assim:
- A culpa não foi sua, Remo. De uma hora pra outra, você descobre que tudo aquilo em que você acreditou por doze anos não era verdade, que a pessoa que você acreditou ser um traidor não era... Como é que você vai pensar num detalhe como esse?
- É, apoiou Sirius. Se fosse eu, ou Tonks, teríamos feito muito pior, Aluado. Veja bem, em todos os anos que eu te conheço e que existe a Poção de Acônito, você nunca se esqueceu de tomar! Isso dá mais de doze anos, cara!
- Mas a única vez que eu esqueci, você quase morreu na mão dos dementadores!, falei teimoso.
- Mas não morri, replicou Sirius. Então pra que ficar remoendo as coisas? Eu remoí muito o passado em Azkaban, mas lá eu não tinha mais nada pra fazer. Nós temos o futuro todo pela frente, Remo, ou pelo menos você tem. Eu..., ele olhou com rancor para a cozinha, eu só vou ficar preso aqui...
- Sirius, não fale assim também!, exclamou Tonks. Uma hora, Voldemort vai se mostrar, e daí você vai poder sair!
- Sei, disse Sirius. Se depender de Dumbledore, não tiram o meu corpo daqui nem pra enterrar. Vão abrir uma lápide e gravar meu nome, embaixo da tapeçaria.
Eu tive que segurar o riso. Nas suas horas de amargura, Sirius conseguia ser excepcionalmente sarcástico, e por conseqüência engraçado.
- Não é pra tanto, Sirius, disse Tonks reprovadora. É temporário.
- Me disseram isso faz quase seis meses, e ainda estou aqui.
- Ah, Sirius! Você sabe que é complicado!
- Sei, disse Sirius amargo. Eu não devia estar alugando os ouvidos de vocês com as minhas lamúrias, que não devem ser nada comparadas com tudo o que vocês estão fazendo.
Tonks fez um gesto de "Imagine!", e eu falei:
- Já estive tanto tempo sozinho, Sirius, que sei como é. Fale tudo o que quiser, senão sim você vai enlouquecer.
- Tenho vontade de que se abra um buraco na terra e me engula, pediu Sirius.
- Eu sei qual é a sensação, eu disse. Mas você está melhor do que eu por esses doze anos.
Nós dois nos olhamos com gratidão, por ainda existirmos um na vida do outro. Tonks olhou para a gente divertida e disse sorrindo:
- Quem parar com isso? Eu juro que vou vomitar daqui a pouco!
Olhamos para ela e para sua expressão, e caímos na gargalhada. Enquanto ria, olhei para seu rosto bonito e animado, feliz. Só ela tinha o poder de fazer isso, de nos animar, de contar uma piada e arrancar um sorriso de mim, fazer Sirius voltar a rir como antes...
Acho que aquela foi a primeira vez que percebi como realmente gostava de Tonks.
¬¬¬
No dia seguinte, eu e Tonks fomos designados para acompanhar os garotos de volta a Hogwarts. A despedida deles com os que ficaram na sede foi rápida, e pude ver Sirius dar alguma coisa furtivamente a Harry, porém não tive certeza do que era.
Sem dúvida foi uma missão mais fácil do que ter que impedir Macnair de retomar contato com Greyback, mas não deixou de ter sua emoção, afinal, fomos de Nôitibus Andante, e quando se anda de Nôitibus Andante, você nunca sabe o que vai acontecer. Perdi a conta do número de vezes que ajudei Gina, Fred e Jorge a se levantarem, ou que eu mesmo me levantei. Fiquei pensando em como Tonks estaria se virando lá em cima, com Harry, Rony e Hermione.
Ao me despedir de Harry, fui bem claro:
- Harry, eu sei que você não gosta de Snape, mas ele é um magnífico Oclumente, e todos nós, inclusive Sirius, queremos que você aprenda a se proteger, então estude para valer, está bem?
- É, tá, disse Harry de má vontade. Até mais, então.
Harry não sabia a importância de estudar Oclumência. Eu e Sirius éramos à favor de que se contasse a Harry os motivos, de como Voldemort poderia penetrar na sua mente, porém Dumbledore e a maioria esmagadora da Ordem preferia esconder. Nós sabíamos que estavam subestimando Harry e que, talvez por ter algo de Tiago, de Sirius e de mim, ele agiria mais cautelosamente se soubesse por que estava agindo. Foi o que expliquei para Tonks quando voltávamos para casa, no Nôitibus Andante.
- Também acho que deveríamos contar a Harry, ela disse, coçando os cabelos hoje grisalhos. Tratam o coitado como se ele tivesse cinco anos, por Gryffindor, ele já tem quinze!
Suspirei aliviado por finalmente encontrar alguém que concordasse comigo e com Sirius. Cada vez mais eu percebia como a mente de Tonks afinava com a nossa.
Quando voltamos para casa, esperei até Arthur, Molly e Gui nos deixarem sozinhos e interpelei Sirius:
- O que foi que você deu ao Harry?
- Quê!, disse ele com um olhar de inocência muito pouco convincente.
- Não adianta olhar pra mim com essa cara, eu te conheço desde que você tinha onze, e vi você dando alguma coisa ao Harry. Portanto, vai falando.
- Ah, não foi nada.
Eu e Tonks o olhamos reprovadores, e ele ergueu as mãos.
- Tá bom, tá bom! Caramba, vocês dois estão cada dia mais parecidos um com o outro, dá até medo!
Senti meu rosto queimar, ao olhar para Tonks, que também estava rubra. Sirius, sem perceber nada disso, se largou no sofá.
- Eu dei um daqueles espelhos de dois sentidos para o Harry. O do Tiago, eu guardei.
- Você deu um daqueles espelhos?, eu repeti. Nossa, como é que você conseguiu guardá-lo por doze anos?
- Do mesmo jeito que guardei a foto do Rabicho por onze meses, disse Sirius. Bolsos, Aluado.
Suspirei.
- E agora?
- E agora? Bem, é esperar o Harry fazer contato. Eu dei o espelho principalmente pra ele falar comigo se o Snape incomodasse ele nas aulas de Oclumência.
- O Snape incomoda todo mundo em todo o tempo, disse Tonks.
- E será inevitável que Harry não se sinta incomodado tendo aulas particulares com ele.
- Eu só imagino o que o Ranhoso vai fazer com o Harry, disse Sirius com raiva. Droga, por que não podia ser o Dumbledore para dar essas malditas aulas?
- Porque Dumbledore está com medo de encarar Harry, eu falei. A teoria de que Voldemort possa estar entrando na mente dele. Dumbledore tem medo de expor Harry a mais perigo se falar muito com ele.
- Como vocês conseguem ficar falando esse nome?, perguntou Tonks com mal-estar.
- Sai naturalmente, eu disse. Nunca tivemos medo de falar o nome dele.
- Medo de um nome, resmungou Sirius. isso é idiota, Tonks. É só um nome, não é como ele se fosse aparecer de repente.
- Eu sei, mas, mesmo assim..., ela se arrepiou. Dá uma sensação ruim.
- É só você tentar se acostumar, eu disse gentilmente.
Assim gastamos o tempo no decorrer daquela semana. Eu e Sirius nos ocupamos em ensinar Tonks a pronunciar o nome dele com naturalidade, e dentro em pouco ela já podia cantarolar "Voldemort" pela casa sem qualquer emoção. A filosofia de que ter medo de um nome aumenta mais o medo da coisa em si sempre funciona; ela deixou de ter medo das nossas histórias pavorosas dos tempos da 1ª Guerra.
O fato de Tonks sair por aí dizendo "Voldemort" fez a Sra. Black uivar de fúria nos corredores, e não foram poucas às vezes que tivemos medo de que ela pulasse do quadro, tal era o seu estado de exaltação. Eu pensava que ela não venerasse mais tanto o bruxo que tinha matado seu filho mais novo, mas a insensibilidade da mãe de Sirius sempre podia me surpreender.
- Minha mãe nunca teve coração, Remo, foi o que me disse Sirius quando o interpelei a respeito. Acho que o que ela sentia pelo Régulo era o máximo de sentimento bom que ela podia ter. Uma espécie de admiração. Ela é pura pedra.
- Credo, Sirius, como é que você fala assim da sua mãe?, perguntei.
Nunca, nem em meus piores momentos, eu falara de Joanne Lupin assim.
- Pra você parece chocante porque você teve uma mãe decente, Aluado, disse Sirius sorrindo. Na verdade, aquela mulher no quadro não é a minha mãe. Minha mãe se chamava Estelle Potter.
Eu ri.
- Até a mãe do melhor amigo você rouba, hein, Sirius?
- Acontece quando você é irresistível, disse Sirius jogando os cabelos para trás.
- O tempo passa e você não muda, Almofadinhas.
- E nem você, Aluado, disse ele. Você se estressa demais com as coisas.
- E você se estressa de menos, Snuffles, o Inconseqüente.
- Cada vez que eu chego vocês estão se chamando por um nome diferente, disse Tonks entrando na sala.
- Isso fui eu que inventei, e vou cobrar direitos autorais, eu disse rindo.
Tonks e Sirius riram também, mas pude perceber um certo olhar furtivo. O que será que estavam tramando?
¬¬¬
Acho que eu deveria ter suspeitado alguma coisa assim por parte daqueles dois. Fazia dias que eles andavam de cochichos para cima e para baixo, de um jeito que me intrigava. E não só eles: muitos integrantes da Ordem cochichavam por aí, interrompiam as conversas quando eu me aproximava, sorriam demais para mim e ficavam me olhando quando achavam que eu não estava vendo.
Até que, numa fria noite de março, tendo eu acabado de cumprir mais um turno de vigilância no Departamento de Mistérios, entrei em casa e encontrei tudo escuro e silencioso.
- Sirius?... chamei inseguro.
Nenhuma resposta. Meu Deus, aquele maluco finalmente tinha fugido do Largo Grimmauld.
Droga. Era preciso avisar todos, tinham que achá-lo, ir atrás daquele idiota e...
- SURPRESA!!!
Quase caí para trás. Ao entrar na cozinha procurando Sirius, dera de cara não só com ele, mas com a Ordem inteira, acenando alegremente para mim, atrás de um bolo enorme, comes e bebes, e uma musiquinha animada.
Lógico. 10 de março. Eu sempre me esqueço.
- Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida..., começou o coro, me deixando mais vermelho.
Sirius me puxou para o meio das pessoas, e senti palmadinhas nas minhas costas, abraços.
- Tá ficando velho, hein, Aluado?, riu Almofadinhas. 38!
- Não fale nada, Sirius, você faz 38 mês que vem...
- Ih, vai ser mais difícil fazer uma festa surpresa para o Sirius, ele não sai de casa, comentou Tonks, vindo do meu lado.
Rimos todos, até Sirius, que disse:
- Ainda bem...
- Ah, vai, Remo, a gente te pegou nessa, hein?, ela riu, me levando até a mesa.
- É fácil pegar uma pessoa quando ela esquece do próprio aniversário, comentei sorrindo.
- É verdade, disse Sirius. O Aluado é a única pessoa que eu conheço que esquece a data do próprio aniversário. A minha ele sempre lembra, mas a dele...
- Típico do Aluado, sorriu minha amiga. Se preocupa demais com os outros e de menos com ele mesmo.
Corei.
- É que eu não sou tão importante..., falei, mas fui interrompido, porque todos insistiam para que eu cortasse o bolo.
Com delicadeza, peguei a espátula e tirei um pedaço grande, colocando-o num dos muitos pratinhos de porcelana com o brasão dos Black gravado embaixo.
- E o primeiro pedaço vai parar..., entoou Mundungo animado.
- ...para a Sra. Black!, brinquei.
Todos caíram na gargalhada, e a risada foi tão alta que a "homenageada" acordou para agradecer, provocando a saída de Arthur e Molly.
- Sério, sério, Remo, pra quem vai o primeiro pedaço?, perguntou Dédalo.
- Para o filho da Sra. Black!, falei sorrindo, estendendo o prato para Sirius.
Ele o pegou com emoção, mas com um visível sorrisinho irônico no rosto.
- Eu não sei onde é que é o túmulo do Régulo, Aluado... Além disso, ele não vai aproveitar direito o bolo... Se quiser, eu posso comê-lo por ele!
Rimos de novo.
- É pra você, seu babaca.
- Eu sei, ele riu. Obrigado.
- E o segundo pedaço, vai pra quem?, perguntou Emelina ao me ver apanhar outro pedaço.
- Esse vai pra Tonks, pela companhia que ela vem nos fazendo, sorri, estendendo o prato para a garota.
Seus olhos brilharam de puro prazer, enquanto ela apanhava o prato.
- Ah, Remo, obrigada!!!
Eu estava prestes a servir as pessoas, mas Sirius arrancou a espátula de minha mão.
- Não, senhor, hoje você vai relaxar.
Em outro prato, ele pôs um pedaço generoso de bolo, mais alguns doces, e me estendeu, junto com um copo de uísque de fogo.
- A festa é sua. Aproveite.
Só agora eu notara que havia uísque de fogo à vontade. Provavelmente coisa de Mundungo.
O resultado é que, cerca de cinco horas depois, a cozinha estava num estado lastimável. Vários membros da Ordem tinham adormecido de bêbados, caídos pelos cantos; Mundungo parecia um monte de lixo particularmente esfarrapado sentado numa cadeira; e meu amigo Sirius acabara de desmaiar ao meu lado, cheirando notavelmente a bebida.
Meio mole, eu ri abobado para Tonks:
- Acho que vamos ter que levá-lo pro quarto.
- É, concordou ela, as córneas ligeiramente vermelhas.
Levantou-se e cambaleou; eu aparei sua queda, impedindo que se machucasse. Em pé, ela deu uma risadinha:
- Acho que bebi demais.
- Eu também, falei lentamente. Nem imagino como é que vai ser amanhã.
Segurei um dos braços de Sirius, e Tonks segurou o outro. Juntos, fomos arrastando meu amigo pela cozinha, os cabelos negros produzindo um ruído desagradável contra o chão de pedra.
Quando chegamos à escada, porém, não conseguimos puxá-lo. Tonks resmungou impaciente.
- Por que é que estamos fazendo isso, Mobilicorpus!
Um aceno de varinha e Sirius voava pelo ar.
- É melhor você controlar, eu já estou vendo dois Sirius, ela me disse rindo e passando sua varinha.
Eu também estava vendo dois Sirius, mas resolvi me manter em silêncio, enquanto levávamos meu amigo pela escada. Sirius tinha o costume de dormir lá no sétimo andar, o que significou muita bagunça e uns dez hematomas na cabeça do meu amigo, que eu fazia voar para lá e para cá com gestos tresloucados.
Finalmente, conseguimos chegar ao quarto de Almofadinhas, e o depositamos na cama com um baque. Tonks me perguntou, a voz mole:
- Ele ainda tá vivo?
- Acho que tá, falei, me debruçando sobre Sirius. É, tá respirando.
Rimos de um modo meio abobado. Então, ela passou um dedo no meu braço.
- Sabe, Remo, eu gosto muito de você.
- Eu também gosto muito de você, Tonks.
- Não, sabe, eu gosto, gosto de você.
Eu ri.
- E eu gosto, gosto, gosto de você, falei, abraçando-a.
Ela riu, dando gritinhos, enquanto eu fazia cócegas nela. Só bêbado mesmo.
- Ai, Remo, pára, páraaaa!!! Ai!
Andando de ré, ela tropeçou e caiu num sofá. Eu caí por cima dela.
Rimos um pouco, depois silenciamos. Olhei bem para os olhos dela, que lentamente passavam de azuis para castanhos. Seus cabelos cor-de-rosa cresciam e encaracolavam.
- Ops, ela riu, olhando para os próprios cabelos.
- Você fica bonita assim, falei, segurando alguns daqueles fios, agora castanhos.
- Obrigada, ela sorriu. É assim que eu sou, sabia?
- Você é linda, eu sorri.
A boca dela se aproximava da minha. O ar estava muito quente. Sem saber direito o que fazer, me aproximei...
Foi uma sensação estranha, de dor e prazer ao mesmo tempo, de sublime paixão e ao mesmo tempo, horrível culpa. Deixei que nossos lábios se tocassem, primeiro suavemente, depois de um modo mais encarniçado, profundo. Parti seus lábios com a língua, explorando cada centímetro de sua boca, enquanto nossas mãos se entrelaçavam para a eternidade.
De repente, com os meus poucos resquícios de consciência, me afastei de um modo agoniado, para em seguida olhá-la. Ela sorria para mim, os olhos levemente vermelhos. Suas pálpebras cediam como se estivesse difícil mantê-las abertas. E, comovido, observei-a cair num sono puro como o de um anjo.
- Linda, sussurrei, tomando-a nos braços e levando-a até seu próprio quarto.
¬¬¬
No dia seguinte, só que se ouvia na sede eram murmúrios desorientados e queixas de dor de cabeça. Quando Alastor Moody tocou a campainha e a sinfonia de gritos da Sra. Black começou, quase todos na mesa de café afundaram a cabeça entre os braços, desejando que a cabeça se partisse de uma vez.
Sirius foi acordar perto das dez, e cada vez que alguém fazia algum ruído, como de passos, ele gemia continuamente.
- Nossa, nem lembro como cheguei na cama ontem, ele me contou, as mãos na cabeça.
- Acho que deve ter uma poção para enxaqueca no armário, falei aos sussurros, mas não conte para ninguém, se não vão quebrar o pobre do móvel.
Ele riu, enquanto eu ia buscar a poção. Após bebê-la inteiramente, pudemos conversar direito:
- Como cheguei na cama, Aluado?, perguntou ele.
- Tonks e eu o levamos, respondi. Mas, Sirius... depois...
Calei-me. Sirius ficou me fitando por um momento, certamente percebendo que eu guardava um segredo.
- O que aconteceu depois, Aluado?, ele me perguntou incisivo.
- Nada..., eu disse, arrependido de ter dado margem à conversa.
- Não adianta vir pra cima de mim com essa história de nada, disse meu amigo. Eu te conheço muito bem pra saber que, quando se trata de você, nada é uma palavra esperando tradução.
Cocei a cabeça, nervoso.
- Eu não devia ter feito aquilo. Ela estava bêbada... Eu também, mas...
- O que vocês dois fizeram?, perguntou Sirius direto.
- Nós... nós... eu... beijei ela.
Os olhos cinzentos de meu amigo se arregalaram.
- Você o quê?!
- Beijei ela, OK, acabou!
Por alguns segundos fiquei assustado com o tamanho do meu ato, que fazia Sirius ficar vários minutos olhando fixamente para mim, de boca aberta. Até ele me assustar com um grito:
- HÁ! EU SABIA!
Pulei para trás, enquanto vários gemidos encheram a sala:
- Não fale tão alto, Sirius!
- Dá pra maneirar no tom?
- Pô, não sei você, mas a minha cabeça tá estourando, dá pra ficar quieto?!
- Desculpa, pessoal, pediu Sirius, que estava olhando para mim muito satisfeito. Aí, Aluado...
- Isso, grite um pouco mais alto. Tem gente na Mongólia que ainda não ouviu, falei entre dentes.
- Eu sabia que vocês dois tinham mais alguma coisa, que não era só amizade não, tava suspeito demais...
Cheio de arrependimento, baixei a cabeça, o que provocou a surpresa de Sirius:
- Ei, Aluado, que foi?
- O que foi? O que foi que eu sou um velho caindo aos pedaços, e beijo a primeira garotinha que encontro na frente! Sirius, eu tenho idade para ser o pai da Tonks, não o namorado dela!
- Ah, Remo, não vai me dizer que você vai se deter por isso!, disse meu amigo indignado.
- Eu sou um lobisomem, pobre, perigoso e velho!, retruquei no mesmo tom. Nunca daria certo!
- Você é muito careta, Remo.
Ótimo. Você se descabela na frente de um amigo para ouvir dele que é careta. Realização da minha vida.
- Não dá pra falar a sério com você.
- Ei!, disse meu amigo ofendido. Estou falando a sério com você... OI, Tonks!
Virei-me tão subitamente que quase caí para trás. Descendo a escada, com a mesma expressão alegre de sempre, Tonks vinha em nossa direção. Eu senti meu estômago afundar dois palmos quando ela parou diante de nós.
- Bom dia!, disse animada. Alguém se lembra de como cheguei na minha cama?!
Primeiro senti como se o chão se abrisse e eu fosse tragado pela terra. Depois descobri que isso não acontecera. Ela não lembrava. "Essa foi por pouco, Remo...", suspirei aliviado, mas decidi confirmar:
- Você não lembra?
- Lembrar de quê?
- A gente levou o Sirius até a cama dele...
- Levamos?
É. Ela não lembrava de nada. Olhei para Sirius, que me sorriu com aquela expressão: "Fazer o quê..."
- Tonks, como é que você consegue falar normalmente com a quantidade abissal de bebida que tomamos ontem?, perguntou Almofadinhas.
- Eu não sei, disse ela. Sempre fui assim. Nunca tive ressaca...
Eu e Sirius olhamos para ela como se ela fosse um etê, e ela riu muito.
- Eu sei, é estranho. Suponho que tenha algo a ver com ser metamorfomaga ou coisa assim, porque nunca conheci ninguém que nem eu, que bebe e não tem dor de cabeça... Mas quem me levou até a cama?
- Eu, falei. Ao contrário de você, sou muito suscetível a enxaqueca, por isso não bebo muito. Só um pouquinho...
- É, disse Sirius risonho, só um pouquinho...
Olhei para ele furioso, enquanto ele ria silenciosamente. Tonks olhava para nós sem entender.
- Acho que ainda tem café na cozinha, Tonks, falei. Molly desde que acordou está lá no fogão.
- OK, eu vou tomar.
- Só não fale muito alto, recomendei. Está todo mundo morrendo de dor de cabeça.
- Morrendo é a palavra certa, disse Gui, que ia passando com um monte de pergaminhos nos braços e uma expressão contraída no rosto.
Tonks riu e foi até a cozinha, enquanto Sirius me olhava.
- Escuta aqui, eu disse com a voz entrecortada, se você contar pra ela, juro que te mato!
- Minha boca é um túmulo, Aluado, riu Sirius mais ainda.
- Sei.
- Escuta, cara, você tem que se dar uma chance. Faz uma era que você não fica com nenhuma mulher...
- E você esteve comigo esses doze anos para saber?!, perguntei, indignado.
- Não... Você ficou com alguma mulher?
- Não, admiti.
- Então! Se dê uma chance, Aluado. Tonks te faz rir como ninguém faz... Ela tem a animação que você precisa. Você devia ficar com ela.
- Deixe de besteira, Sirius, repreendi. E se insistir no assunto, eu te azaro. Juro.
- OK, não tá mais aqui quem falou, disse Sirius divertido.
- E agora vamos tomar café, falei no mesmo tom mandão.
- Mas já tomamos...
- Então vamos ajudar Molly a fazer o almoço. Vamos, levantando!
- Sim, general Remo Lupin da divisão dos lobisomens!, disse Sirius fazendo continência.
Eu ri contra a vontade. Se eu soubesse tudo o que estava prestes a acontecer com meu amigo...
¬¬¬
Depois do meu aniversário, a Ordem caiu num período de depressão. Quinze Comensais haviam fugido de Azkaban em fevereiro, e pensávamos que agora iriam começar a se revelar (e o Profeta Diário acusava Sirius de ter sido o responsável pela fuga, o que causou muitas risadas no meu amigo). Pelo contrário, suas atividades se reduziram de poucas a zero. Segundo Snape, Voldemort estava se concentrando principalmente em penetrar as defesas de Harry, o que tornava mais urgente a necessidade de que ele aprendesse Oclumência. Mas Severo comentou, muito cheio de si, que Harry não tinha o menor talento para a área. Lembro-me de Sirius ter quebrado o copo que segurava, com raiva.
- Lógico, ninguém consegue se concentrar com o Ranhoso por perto, ele disse para mim baixinho. Eu sairia correndo daquela cara feia na minha frente.
Tive que me controlar para não rir.
Enquanto isso, eu andava me afastando de Tonks. Procurava não criar mais situações em que ficássemos sozinhos, e até mesmo as conversas quando estávamos juntos com Sirius eram mais controladas e formais. Sirius me disse uma vez:
- Ela está notando.
- Ela quem? E notando o quê?
- Tonks. Está notando que você deu um gelo nela.
Suspirei.
- Não vou mais dar margem para acontecer aquilo novamente.
- Pelo amor de Merlin, Remo, você estava bêbado!, me disse ele com irritação. - E ela nem lembra!
- Mas eu lembro, e eu tinha consciência suficiente para evitar a situação, falei culpado. Não vou deixar que aconteça de novo.
Meu amigo apenas muxoxou.
- Você que sabe. Mas só está perdendo a Tonks, e isso não vai adiantar nada.
- Ah, Sirius, fica quieto.
Todos esses fatos culminaram numa tranqüila tarde de abril, pouco após a Páscoa. Cheguei na Ordem após uma missão, cerca de seis e meia da tarde. Sirius estava na cozinha.
- Chá?
- Claro.
Sirius despejou chá de camomila numa xícara, e bebemos algum tempo em silêncio. Então Sirius me disse:
- Escuta, você viu o Monstro?
- Não, repliquei, faz tempo que não o vejo.
- Aquele elfo maldito sumiu de novo.
- Deve estar no sótão.
- É, disse Sirius pensativo. Acho que... vou lá procurar ele. Merlin sabe o que acontece com aquele elfo se ele sumir...
Sirius saiu da cozinha. Para me entreter, puxei um dos pergaminhos no canto da mesa, o último relatório de Tonks, e me pus a lê-lo, decifrando cada mistério daquela caligrafia fina e desajeitada como ela...
- Sirius?
Eu dei um pulo na cadeira, olhando para os lados. Eu poderia jurar que a voz era...
- Harry!
Sem dúvida era a cabeça de Harry ali, na lareira da cozinha, crepitando entre as chamas verde-esmeralda.
- Que é que você... que aconteceu, está tudo bem?
- Está, ele me disse apressado. Pensei... quero dizer, tive vontade... de bater um papo com o Sirius.
- Vou chamá-lo, falei, me levantando imediatamente, ele foi lá em cima procurar o Monstro, parece que anda se escondendo no sótão outra vez...
Dei um pulo e saí atrás de Sirius, imaginando que assunto teria levado Harry a furar as barreiras de Dolores Umbridge para falar com o padrinho.
Encontrei-o no sótão.
- Sirius!, exclamei. Harry está lá embaixo, na lareira, quer falar com você!
A expressão de Sirius se iluminou num misto de alegria e preocupação, e ele me seguiu às pressas. Quando voltamos, Harry ainda estava lá.
- Que foi?, perguntou Sirius, se ajoelhando até ficar ao nível da cabeça de Harry, com uma genuína preocupação paternal. Você está bem? Precisa de ajuda?
- Não, disse Harry, muito sem graça, não é nada disso... eu só queria falar... sobre o meu pai.
Olhei para Sirius que me olhou de volta, ambos extremamente surpresos.
- O que você quer contar, Harry?
- Eu... bem... não tenho muito tempo, vou contar rápido. Eu estava na sala de Snape, e ele estava usando a Penseira, por causa das aulas de Oclumência. Então, teve que sair da sala por causa que encontraram o capitão da Sonserina, o Montague, entalado num vaso do quarto andar, Fred e Jorge empurraram ele dentro do Armário Sumidouro.
Nós não pudemos deixar de rir, mas Harry não ria, e eu falei:
- Prossiga.
- Eu aproveitei que ele saiu, e entrei na Penseira para ver as lembranças dele. Era no exame dos NOMs de Defesa Contra as Artes das Trevas...
Fechei os olhos por alguns momentos, enquanto tentava lembrar alguma coisa que tinha acontecido no nosso exame de Defesa Contra as Artes das Trevas nos NOMs.
Então me veio à mente: Tiago azarara Snape naquele dia, virando-o de cabeça para baixo de modo a expor suas cuecas para todo mundo. Foi exatamente o que Harry nos narrou.
Quando ele terminou, fiquei em silêncio por alguns momentos. Era óbvio que ele estava chocado com o procedimento de Tiago, e nunca em sonho algum teria imaginado que ele agia dessa maneira.
- Eu não gostaria que você julgasse o seu pai pelo que viu, Harry. Ele só tinha quinze anos...
- Eu tenho quinze anos!
- Olha, Harry, Tiago e Snape se odiaram desde o primeiro momento em que se viram, foi uma dessas coisas, dá para você entender, não dá?, disse Sirius do seu modo displicente de sempre.
Ele seria o último a querer acusar Tiago, sendo que tinha agido de modo muito pior. Sem querer, me lembrei daquela vez do Salgueiro e meus olhos arderam por um momento.
- Acho que Tiago era tudo que Snape queria ser, era popular, era bom em quadribol, bom em quase. E Snape era apenas uma figurinha difícil, metido até o nariz nas Artes das Trevas enquanto Tiago, com todos os defeitos que você pode ter visto, Harry, sempre odiou as Artes das Trevas.
- É, mas ele atacou Snape sem a menor razão, só porque, bom só porque você disse que estava chateado.
Agora ele estava agindo como eu; acusando, mas pedindo perdão ao mesmo tempo.
- Não me orgulho disso, disse Sirius.
Ah, não, ele não se orgulhava. Imagine...
Olhei para Harry, firme, falando tudo o que minha própria mente justificava quando eu tinha quinze anos:
- Olhe, Harry, o que você tem que entender é que seu pai e Sirius eram os melhores alunos da escola em tudo que faziam, todos achavam os dois o máximo, se por vezes eles se deixavam levar...
- Se por vezes bancávamos uns idiotas arrogantes, você quer dizer, disse Sirius sorrindo.
Eu sorri também, lembrando. Bons tempos aqueles.
- Ele não parava de despentear o cabelo, disse Harry, sem saber como interromper nosso leve momento de reminiscências.
Não pudemos deixar de rir.
- Eu tinha me esquecido de que ele costumava fazer isso, disse Sirius para mim.
- Ele estava brincando com o pomo?, perguntei, me recordando daquele velho pomo que Tiago roubara no depósito.
- Estava, confirmou Harry.
Ah, saudades daquele tempo, em que podíamos nos sentar debaixo de uma árvore, em que Tiago despenteava os cabelos e brincava com o pomo, eu lia e Sirius olhava as coisas entediado. Se, naquela época, eu soubesse onde iríamos parar...
- Bom..., disse Harry hesitante, achei que ele era meio idiota.
- Claro que ele era meio idiota!, exclamou Sirius. Éramos todos idiotas! Bom, Aluado não era tanto.
Sorri e fiz que não.
- Algum dia eu disse a vocês para não atormentarem o Snape? Algum dia eu tive coragem de dizer a vocês que estavam agindo mal?
- Bom, às vezes você fazia a gente se sentir envergonhado... já era alguma coisa...
- E ele não parava de olhar as garotas na beira do lago, na esperança que estivessem olhando para ele!
Eu ri silenciosamente, enquanto Sirius disse:
- Ah, bom, ele sempre fazia papel ridículo quando Lílian estava por perto, não conseguia parar de se exibir sempre que se aproximava dela.
- E por que ela casou com ele? Odiava ele!
- Não, não odiava, disse Sirius.
- Ela começou a sair com ele no sétimo ano, complementei.
- Depois que Tiago murchou um pouco a bola, acrescentou Sirius.
- E parou de azarar as pessoas só para se divertir, finalizei.
- Até o Snape?, disse Harry descrente.
- Bom, suspirei, Snape era um caso especial. Quero dizer, ele nunca perdia uma oportunidade de azarar Tiago, então você não podia esperar que ele agüentasse calado, não é?
- E minha mãe não se importava com isso?
- Ela não ficava sabendo, para falar a verdade, admitiu Sirius. Quero dizer, Tiago não levava Snape quando ia se encontrar com ela, nem o azarava na frente de Lílian, não é mesmo?
Harry ainda não parecia satisfeito, então Sirius disse:
- Olhe, seu pai foi o melhor amigo que tive e era uma boa pessoa. Muita gente é idiota aos quinze anos. Ele amadureceu.
- É, OK, disse Harry. Só que nunca pensei que sentiria pena de Snape.
Uma idéia súbita me ocorreu.
- Agora que você está falando, como foi que Snape reagiu quando descobriu que você tinha visto tudo isso?
A voz de Harry soou displicente:
- Disse que nunca mais me ensinaria Oclumência, como se isso fosse um grande desapon...
- Ele O QUÊ?, gritou Sirius, cortando Harry.
Me apressei em tentar entender:
- Você está falando sério, Harry? Ele parou de lhe dar aulas?
- Parou, disse Harry sem levar a sério o problema. Mas tudo bem, não faz mal, é até um alívio para dizer a...
Ele não podia compreender a importância daquilo e a falta de responsabilidade de Snape.
- Vou até lá dar uma palavrinha com o Snape!, cortou Sirius novamente.
- Se alguém vai dizer alguma coisa a Snape sou eu!, falei com firmeza, sabendo que conversas entre Sirius e Severo nunca dão certo. Mas, Harry, primeiro, você vai procurar o Snape e dizer que em hipótese alguma ele deve parar de lhe dar aulas... quando Dumbledore souber...
A expressão de Harry era indignada:
- Não posso dizer isso, ele me mataria! Você não viu a cara dele quando saímos da Penseira.
- Harry, eu falei nervoso, não há nada mais importante no mundo do que você aprender Oclumência! Você está me entendendo? Nada!
- OK, OK, disse Harry aborrecido. Vou tentar... vou tentar dizer alguma coisa a ele... mas não vai ser...
Fomos interrompidos por um barulho aflito de passos.
- É o Monstro?, perguntou Harry inseguro.
- Não, disse Sirius. Deve ser alguma coisa aí do seu lado.
- É melhor eu ir embora!, exclamou Harry, se lançando para fora da lareira.
E deixando-nos a se encarar.
- Aquele maldito desgraçado, ele não pode fazer isso, resmungou Sirius.
- Eu sei, falei sério. Vou falar com ele.
- Promete?, perguntou Sirius.
- Claro! Afinal, estamos falando do Harry!
Ele me sorriu desanimado, e eu pus a mão no seu ombro. Decididos, saímos para fora da cozinha, entre reminiscências e inquietações.
N.A.: Capítulo 20 em breve!
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