Morrendo aos Poucos
N.A.: Valeu pelo apoio de quem comentou!
Em cerca de duas semanas, já estávamos tão acostumados à presença de Harry e dos outros garotos que nem conseguíamos acreditar que iriam voltar para Hogwarts em breve. Eles conseguiam até animar aquela velha e poeirenta casa, com suas brincadeiras, e enquanto limpavam. Sim, porque Sirius, Molly e os garotos estavam comandando uma mega faxina na sede.
Eu saía muito cedo para vigiar os movimentos dos Comensais da Morte (Quim, auror, me elogiara dizendo que eu era muito bom em Vigilância e Rastreamento, o que me deixou satisfeito). Passava vários dias seguindo Lúcio Malfoy, Macnair e outras figuras do tipo, em revezamento com Emelina e Estúrgio; cada um vigiava por um período. Quando voltava, à noite, Sirius me recebia aliviado, e conversávamos até altas horas.
Alguns dias, folgas no meu revezamento me permitiam passar algum tempo no Largo. Em uma dessas vezes, entrei na equipe de faxina, ajudando a consertar um relógio que atirava parafusos pesados nas pessoas que passavam, no segundo andar. Era até divertido estar com eles. Sombrio, Sirius previa que uma hora iam acabar encontrando alguma coisa muito perigosa. Foi o que aconteceu apenas alguns dias depois, quando encontraram um vampiro trancado num banheiro do segundo andar. Tonks, ofegante, me relatou como tinham quase sido mortos por aquela criatura. Eu ri bastante da peripécia.
Outra coisa que estava chegando era o dia do julgamento de Harry. Eu via o rapaz ir ficando mais apreensivo à medida dos dias, e, numa certa manhã, quando eu, Arthur, Tonks, Sirius e Molly tomávamos café, Harry apareceu nervoso.
- Café da manha, indicou Molly, indo para o fogão.
- B-b-dia, Harry, bocejou Tonks.
Era incrível como ela conseguia ficar graciosa até mesmo quando bocejava.
- Dormiu bem?
- Dormi, disse Harry, que parecia relutar em abrir a boca.
- P-p-passei a noite acordada, disse Tonks com mais um bocejo. Venha se sentar...
Ela puxou uma cadeira para Harry, derrubando a outra cuja queda aparei com um aceno de varinha.
- Que é que você quer, Harry?, perguntou Molly. Mingau? Bolinhos? Arenque? Ovos com bacon? Torrada?
- Só... só torrada, obrigado.
Pela expressão de Harry, era claro que ele não queria comer nada. Muito menos falar. Por isso, virei-me para Tonks e continuei a conversa que havíamos interrompido, sobre Scrimgeour, o chefe do Quartel-General de Aurores, que parecia andar desconfiado dela e de Kingsley.
Tonks terminou com um lamento:
- E terei de dizer ao Dumbledore que não posso fazer o turno da noite amanhã, estou simplesmente cansada d-d-demais, disse Tonks, com outro bocejo, os olhos, naquele dia azuis, abrindo e fechando.
- Eu cubro o seu turno, disse Arthur. Estou bem, de qualquer modo tenho um relatório para terminar...
E interrogou Harry:
- Como é que você está se sentindo?
Harry apenas deu de ombros, muito pálido.
- Vai terminar logo. Dentro de algumas horas você será inocentado.
Harry continuou em silêncio.
- Amélia Bones é legal, Harry, disse Tonks, tentando animá-lo. É justa, e vai escutar tudo o que você tiver a dizer.
- Não perca a calma, disse Sirius, com uma expressão séria no rosto. Seja educado e se atenha aos fatos.
Logo quem estava dizendo isso.
- A lei está do seu lado, falei. Até bruxos de menor idade podem usar magia em situações em que há risco de vida.
Molly começou a pentear os cabelos de Harry. Sirius olhou para ela incomodado. Eu pensava em Lílian, naquele instante. Em como ela gostaria de estar ali no lugar de Molly, penteando os cabelos de seu filho.
- Eles não baixam nunca?, perguntou Molly após tentativas infrutíferas de arrumá-los.
Harry fez que não. Eu troquei um olhar divertido com Sirius. Foi quando Arthur olhou o relógio e disse:
- Acho que temos de ir agora. Estamos um pouco adiantados, mas acho que será melhor você esperar no Ministério do que aqui.
- OK, disse Harry, falando pela primeira vez desde que tinha dito que queria torradas.
- Vai dar tudo certo, disse Tonks sorrindo.
- Boa sorte, falei tentando animá-lo. Tenho certeza de que tudo correrá bem.
- E se não correr, disse Sirius fingindo seriedade, pode deixar que cuido da Amélia Bones para você...
O gracejo de Sirius teve o efeito de fazer Harry sorrir, uma visão reconfortante.
- Estamos todos fazendo figa, disse Molly, abraçando-o.
- Certo, disse Harry. Então, até mais tarde.
E saiu com Arthur. Alguns minutos depois, me levantei:
- O turno de Emelina para vigiar Macnair já está acabando, falei. Estou indo.
- Tchau, Remo, disseram Tonks, Sirius e Molly ao mesmo tempo.
Eu só voltei quase de madrugada, quando todos já estavam dormindo. Sirius me esperava na cozinha. Havia chá.
- Olha que milagre, comentei. Sirius Black na cozinha e ela está intacta.
Sirius deu um sorriso desanimado.
- Ei, que foi?, perguntei. Harry foi expulso?
- Não, disse Sirius, a voz distante. Dumbledore foi defendê-lo. A velha Figg viu os dementadores, e testemunhou, e deu tudo certo.
- Então por que está triste?, perguntei, me sentando ao lado dele.
- Por nada.
- Almofadinhas... Pra mim não adianta mentir.
Sirius baixou a cabeça.
- Eu sei que não adianta.
- Então por que está mentindo?
- Porque estou me sentindo um tremendo idiota. E egoísta.
Dei um tapinha no ombro dele.
- Para mim pode contar. Eu sou seu amigo. O que aconteceu?
- Eu... eu tô me sentindo mal, Aluado.
- Por quê?
- Porque Harry não foi expulso.
- Mas, Sirius? Isso não é bom?
- É bom. Mas... Eu...
Ele olhou para mim em busca de ajuda, e eu entendi o que quis dizer.
- Você queria que ele fosse expulso... Para poder ficar junto com ele.
- Bem... É, disse Sirius.
- Sirius..., falei.
- Eu sei que é egoísmo. E idiotice. E que eu estou ficando louco. Mas... não posso evitar.
Ele enfiou a cabeça entre os braços.
- Desculpe.
- Não precisa pedir desculpa, Sirius, falei.
- Eu sou um tapado. Eu não merecia ter Harry como afilhado e você como amigo. Desculpa.
- Pára com isso.
Forcei-o a se erguer e olhar nos meus olhos. Então disse:
- Sirius, você é humano. Só isso. Você está se sentindo sozinho e quer companhia.
- Remo...
- Fique tranqüilo. Acontece com todo mundo. Eu sei como é difícil se sentir sozinho.
- Remo, eu vou enlouquecer. Preciso sair daqui.
- Você sabe que não pode.
- Preciso.
- Eu... Vou fazer um chá pra você, OK? Pra clarear os pensamentos.
Peguei e servi a ele um pouco do chá.
- Açúcar?
Ele olhou para mim fixamente.
- Você é só você mesmo, Aluado.
¬¬¬
Após a conversa que tivemos, Sirius começou a se fechar mais. Todos reparavam em seu silêncio; ele não respondia mais às provocações de Severo e passava vários dias trancado no quarto onde guardava o hipogrifo Bicuço. Eu tentava abrir uma brecha em seu silêncio, mas até comigo ele parou de falar, preferindo pedir educadamente que eu saísse do quarto quando tentava convencê-lo de que nem tudo estava tão ruim assim.
Até uma noite memorável em que estávamos fazendo uma festa, porque Rony e Hermione tinham sido escolhidos monitores. Naquela noite, Sirius estava levemente mais feliz.
Na mesa, estávamos eu, Tonks, Sirius e Kingsley. Os garotos se juntaram a nós e logo chegou Olho-Tonto.
- Ah, Alastor, que bom que você está aqui, disse Molly, animadíssima. Era o quarto monitor da família. Há séculos que andamos querendo pedir a você: será que podia dar uma olhada na escrivaninha da sala de visitas e nos dizer o que é que tem lá dentro. Não quisemos abri-la, porque pode ser alguma coisa realmente ruim.
- Pode deixar comigo, Molly... Sala de visitas... Escrivaninha no canto? É, estou vendo... é, é um bicho-papão... quer que eu suba e me livre dele, Molly?
- Não, não, eu mesma farei isso mais tarde, tome a sua bebida, disse Molly com um sorriso de orelha a orelha. Na verdade, estamos fazendo uma pequena comemoração... O quarto monitor na família!
Ela acariciou os cabelos de Rony, inchada de orgulho. Moody fitou-o fixamente.
- Monitor, eh? Bem, então meus parabéns, figuras de autoridade sempre atraem problemas, mas suponho que Dumbledore o considere capaz de resistir à maioria das principais azarações, ou não o teria nomeado...
Vi o rosto de Rony se encher de espanto, e troquei um olhar divertido com Sirius, que deu uma de suas famosas risadas, ultimamente muito raras.
Naquele instante, chegaram Arthur, Gui e Mundungo, e Arthur fez um brinde:
- Bom, acho que a ocasião pede um brinde. A Rony e Hermione, os novos monitores da Grifinória!
Nós ríamos e comíamos, enquanto contávamos experiências com monitores. Tonks foi a primeira a falar, com desembaraço:
- Eu nunca fui monitora. A diretora da minha casa disse que me faltavam certas qualidades necessárias.
- Quais, por exemplo?, perguntou Gina.
- A capacidade de me comportar.
Rimos todos, Hermione se engasgou. Gina se voltou para Sirius:
- E você, Sirius?
Eu e Sirius rimos alto.
- Ninguém teria me nomeado monitor, eu passava tempo demais detido com o Tiago. Lupin era o garoto bem-comportado, ele recebeu o distintivo.
Eu ri também.
- Acho que Dumbledore talvez tivesse esperanças de que eu fosse capaz de exercer algum controle sobre os meus melhores amigos. Não preciso dizer que falhei miseravelmente.
Vi Harry abrir um sorriso, enquanto todos riam. Ele andava meio estranho desde que descera as escadas, e eu tinha sérias suspeitas de que fosse por não ter sido nomeado monitor.
Mantivemos uma conversa animada quase todo o jantar. Kingsley chegou a me perguntar porque Harry não fora nomeado monitor, e eu respondi educadamente, me evadindo do assunto pouco em seguida.
Já eram quase nove da noite quando Alastor cutucou a mim e a Sirius:
- Tem alguma coisa estranha acontecendo ali no andar de cima.
- O quê?, perguntou Sirius olhando para o teto.
- Não sei, mas é melhor irmos dar uma olhada.
Levantei-me e fui na frente, seguido por Sirius e Olho-Tonto. Subimos um lance de escadas até a sala de visitas. Pude ouvir claramente a voz de Harry:
- Sra. Weasley, saia daqui! Deixe outra pessoa...
- Que está acontecendo?, perguntei, avançando.
Deparamo-nos com uma cena muito estranha. Harry estava parado ali na frente. Alguns metros adiante, estava seu cadáver, estirado no tapete. E, sobre o seu corpo, Molly.
Olhei do cadáver de Harry para Molly e avancei incólume:
- Riddikulus!
A velha amiga lua cheia pairou no ar à minha frente, e a fiz desaparecer logo em seguida. Molly olhou para mim, os olhos marejados.
- Ah... ah... ah!, e escondeu o rosto entre as mãos, chorando.
- Molly... falei sentindo um nó na garganta. Molly, não...
Apoiei ela em meu ombro e deixei que ela soluçasse continuamente, enquanto tentava acalmá-la.
- Molly, foi apenas um bicho-papão... Apenas um bicho-papão idiota...
- Eu os vejo m-m-mortos todo o tempo!, soluçou Molly. Todo o t-t-tempo! T-t-tenho sonhos...
Eu sabia como era difícil para Molly, que tinha perdido os dois irmãos de uma vez na primeira guerra. Eu tinha visto seu olhar de medo quando Harry foi atacado por dementadores. O tanto que ela temia que algo acontecesse. E me sentia infeliz por não poder dizer que nada aconteceria, que todos ficariam bem... Eu não podia dizer isso, depois de ter perdido meus amigos e a mulher que amava.
- Não d-d-diga ao Arthur, disse, erguendo os olhos e engolindo o choro Não q-q-quero que ele saiba... fui boba...
Vasculhei minhas vestes até achar um lenço, descobrindo um novo furo no meu bolso; dei o lenço a ela e ela assoou o nariz, o rosto muito vermelho. Então, ela olhou para Harry e disse, nervosa:
- Harry, sinto muito. Que é que você vai pensar de mim? Não consigo nem me livrar de um bicho-papão...
- Bobagem, disse Harry, que parecia entristecido.
- Estou t-t-tão preocupada, disse ela, as lágrimas tornando a fugir-lhe dos olhos. Metade da f-f-família está na Ordem, será uma b-b-bênção se todos sobreviverem... e P-P-Percy não está falando conosco... e se alguma coisa t-t-terrível acontecer antes de termos feito as pazes com ele? E o que vai acontecer se Arthur e eu morrermos, quem é que vai t-t-tomar conta de Rony e Gina?
- Molly, chega, eu disse, segurando seus ombros. Agora não é como da última vez. A Ordem está bem mais preparada, contamos com uma dianteira, sabemos o que Voldemort pretende...
Molly deu uma exclamação de terror.
- Ah, Molly, vamos, já é tempo de você se acostumar a ouvir o nome dele... escute, não posso prometer que ninguém vai sair ferido, ninguém pode prometer isso, mas estamos muito melhor do que estávamos da última. Você não fazia parte da Ordem naquele tempo, por isso não compreende. Da última vez havia vinte Comensais para cada um de nós, e eles foram nos matando um a um...
Silenciei ao recordar o nosso terror de antigamente, sentindo meus olhos queimarem. Sirius olhou para mim, viu minha comoção e tomou a palavra:
- Não se preocupe com Percy. Ele vai mudar de opinião. É apenas ma questão de tempo, e Voldemort vai sair das sombras; e quando isto acontecer, o Ministério inteiro vai nos pedir perdão. E não tenho muita certeza se vamos aceitar o pedido deles.
Já recuperado, falei sorrindo:
- Agora, quanto a quem vai cuidar de Rony e Gina se você e Arthur morrerem, que é que você acha que vamos fazer, deixá-los morrer de fome?
Molly sorriu trêmula.
- Estou sendo boba, reafirmou, enxugando os olhos.
A levamos até o quarto, para acalmá-la. Depois, fomos até a sala de visitas, e lá ficamos, em silêncio por alguns instantes, tentando digerir o acontecido. Alastor disse:
- Harry estava estranho. Desde que lhe mostrei a foto.
- Que foto?, perguntei.
- A foto que tiramos no seu aniversário, Lupin. Acho que não deveria tê-la mostrado. Ele pareceu ficar perturbado.
- E nem teria como não ficar, disse Sirius. Até eu fiquei perturbado.
Alastor deu de ombros. Se levantando, foi até a festa lá embaixo. Olhei para Sirius, que estava sombrio.
- Acho que finalmente consegui compreender Molly.
- Ver o corpo de Harry foi muito forte para você, falei.
- É, admitiu Sirius. Ela gosta muito dele, como Lílian faria. Acho... que estava sendo egoísta de novo.
- Sirius..., sorri.
Dando tapinhas amigáveis no ombro do meu amigo, fomos para os respectivos quartos. Para ficarmos a noite toda pensando no bicho-papão de Molly.
¬¬¬
No dia seguinte, levantamos bem cedo. Era o dia da partida de Harry para Hogwarts, e, ao contrário do que devia parecer, Sirius estava animadíssimo. Iria até a plataforma nos acompanhando em forma de cachorro, e exultava só com a possibilidade.
Quando terminávamos de tomar café, ouvimos os gritos de Molly, logo combinados com os gritos de Walburga Black. Os gêmeos tinham enfeitiçado seus malões para chegarem ao primeiro andar sozinho, porém eles tinham atingindo Gina, fazendo-a rolar por dois lances de escada.
Logo, os ausentes, entre eles Harry e Hermione, desceram na escada, quando estávamos atrasadíssimos para sair. Começamos a arrumar a guarda, que ficaria desfalcada, pois meu amigo Estúrgio tinha faltado aos seus compromissos naquele dia.
- Harry, você vai comigo e com Tonks, dizia Molly, quase berrando, pois ninguém se dera ao trabalho de calar a mãe de Sirius. Deixe o malão e a coruja, Alastor vai cuidar da bagagem... ah, pelo amor de Deus, Sirius, Dumbledore disse não!
Ela disse isso porque Sirius tinha tomado a sua forma de cachorro peludo e negro, saltitando do lado de Harry. Era visível que Molly estava para desabar de estresse.
- Ah, francamente... Bom, seja mas por sua conta e risco!
Ajudei Alastor a sair com a bagagem dos meninos, por último. Encontramos Tonks na esquina - só podia ser ela, para nos cumprimentar com um "Aí, beleza, Harry!".
Sirius estava tão excitado que simplesmente andava de um lado para o outro. Certa hora, me deu um susto quando pulou em cima de um muro para espantar alguns gatos.
Entramos depois de todos na estação, eu, os gêmeos e Gina. Tomei o cuidado de olhar para todos os lados antes de entrar na plataforma, e, mal cheguei, fui interpelado por Olho-Tonto:
- Nenhum problema?
- Nada.
- Ainda assim, vou dar parte de Estúrgio a Dumbledore, é a segunda vez em uma semana que ele não aparece. Está ficando tão irresponsável quanto Mundungo.
"Aí já é exagero", pensei. Mas na verdade aquilo não era habitual. Estúrgio sempre fora de uma pontualidade até exagerada. Eu pressentia que havia algo errado com o tão prestativo companheiro dos anos difíceis.
- Bom, cuidem-se bem, falei, escondendo minha apreensão e apertando a mão de todos os garotos.
Cheguei a Harry por último, dando-lhe uma palmada no ombro, vendo aqueles olhos tão idênticos aos de Lílian me encarando.
- Você também, Harry. Tenha cuidado.
Em seguida, soou o primeiro apito; Molly foi empurrando os garotos para o trem. Por um breve momento, Sirius ficou de pé e apoiou as patas dianteiras nos ombros de Harry, mas Molly empurrou-o em direção ao trem, furiosa.
- Pelo amor de Deus, Sirius, comporte-se mais como um cachorro!
O trem partiu em seguida, levando aqueles garotos que tinham animado tanto a nossa vida no Largo Grimmauld. Sirius ainda perseguiu o trem correndo, provocando riso nos presentes, inclusive em mim. Porém, quando o vi entrar em casa, cerca de meia hora mais tarde, nunca tinha visto uma expressão tão sombria em seu rosto, a não ser quando ele foi preso naquela rua que Rabicho explodira.
Comuniquei minhas preocupações quanto a Estúrgio a ele, que também achou estranho:
- Antigamente, Estúrgio costumava ser um dos mais responsáveis da Ordem. É esquisito que esteja se ausentando tanto dos deveres.
- Sinto que vai acontecer alguma coisa, disse, massageando o peito para me livrar da sensação incômoda.
Sirius pôs a mão no meu ombro tentando me tranqüilizar.
- Fica tranqüilo, Remo. Estúrgio está bem, só um pouco relapso. Acontece quando a gente envelhece.
- Fala como se estivéssemos muito velhos, eu ri.
- E não estamos?, sorriu ele. Eu pelo menos me sinto com uns cem anos cada vez que entro aqui nessa sala de visitas.
Nós nos encaramos. Ambos tínhamos sido consumido pela intempérie; ele pela intempérie da prisão e da vingança, eu pela intempérie da solidão e da falta de emprego. Éramos os dois tão precocemente envelhecidos, que, ao nos encararmos, caímos na risada, dobrados de tanto rir em cima do sofá. O que a idade não faz com a gente.
Nos dias seguintes, a Ordem ficou mais vazia do que nunca. Com a partida dos garotos Weasley, Molly, Arthur e Gui voltaram para a Toca. Ficamos só eu e Sirius, e eu várias vezes tive que sair de meu posto para passar horas noturnas vigiando Comensais e pessoas que antigamente tinham sido controladas pela Maldição Imperius, para ver se começavam a apresentar comportamento diferente. Sirius ficou mais sozinho do que eu desejaria, e sempre me recebia emocionado quando eu voltava, preparando chá e me fazendo companhia mesmo se estivéssemos em altas horas da madrugada.
Eu me sentia culpado vendo o quanto que deixava Sirius sozinho, e várias vezes insisti com Dumbledore para que deixasse Sirius pelo menos cumprir algumas missões um pouco menos arriscadas, coisas simples, o que fosse. Mas Dumbledore era taxativo: Sirius tinha que ficar seguro. E qual era a vantagem em ficar seguro se estava morrendo?, eu resmungava para mim mesmo, ao sair de longe das vistas do diretor.
Assim era a ordem dos acontecimentos quando, numa noite, uma aturdida Tonks deu o ar de sua graça na sede, quase cinco horas da manhã, os olhos, naquele instante azuis, arregalados de choque.
- O que foi, Tonks?, perguntei espantado, ao vê-la desabar em meus braços assim que abri a porta.
- Estúrgio.
Congelei, sentindo todos os meus maus presságios se concretizarem.
- O que houve?
- Ele foi preso, ofegou ela. Parece... abrir... Departamento de Mistérios... azarar... vigia...
Sirius chegou por trás de mim.
- Estúrgio azarando o vigia? Mas o que diabos deu nele?
- Não sabemos, disse ela mais recuperada. Arthur me mandou para avisar. Parece que ele se recusa a se defender, está falando que não sabia de nada. Confuso, eu diria.
- Eu falei que ia acontecer alguma coisa!, exclamei para Sirius.
- OK, você acertou, disse ele. O que vai acontecer com Estúrgio?
- Azkaban, provavelmente, disse Tonks limpando o suor da testa. Ele não tem como arrumar uma defesa a tempo e o Ministério está muito predisposto a condená-lo.
- Droga!, exclamou meu amigo, dando um soco na mesa.
Naquela época, nós nem tínhamos como suspeitar o que realmente havia ocorrido com Estúrgio. Por muitos meses, só pudemos nos perguntar o que dera na cabeça daquele tão ponderado e calmo amigo para tentar arrombar o Departamento de Mistérios naquela madrugada.
¬¬¬
Apesar dos apesares, Sirius andava muito feliz naqueles dias. No sábado anterior, me anunciara que recebera uma carta de Harry, sacudindo-a no ar enquanto eu tentava lê-la.
Porém, no domingo de manhã, ele estava debruçado na mesa da cozinha, o rosto encostado na pedra fria, os olhos envoltos por olheiras, como se não tivesse dormido direito. Aliás, como se nem dormido tivesse.
- O que foi, Sirius?, perguntei.
- Oh, olhem. O Remo Lupin. Nossa, faz tanto tempo que eu não te vejo! Até tinha esquecido da sua cara, disse Sirius com a voz pungente de sarcasmo.
- Você sabe que não foi minha escolha me ausentar, eu disse sério. Vamos, me conte o que aconteceu. Por que diabos você está aí, largado na mesa, sem ter dormido de noite?
- Como você sabe que eu não dormi?
- O tamanho das olheiras... Você fica com olheiras assim quando não dorme, disse eu, guiado pela experiência de quase 20 anos morando com ele.
Sirius deu de ombros.
- Não aconteceu nada. Só estava sem sono.
- Não adianta mentir para mim, Sirius.
- Sei disso.
- Então por que está mentindo?
Ele suspirou, se levantando e indo para o fogão, a fim de fazer chá. Lembrei da principal disposição que o animava, naquela semana.
- Foi alguma coisa com Harry?
PÁ! A chaleira que estava suas mãos caiu no chão fazendo um estrépito muito alto na cozinha. Como resposta, a Sra. Black começou a gritar, e lá fui eu fechar o quadro para restaurar a calma.
Voltei para a cozinha. Sirius punha a chaleira no fogo.
- O que aconteceu com Harry?
- Nada, mentiu ele.
Eu já estava ficando levemente impaciente.
- Se não foi nada, por que derrubou a chaleira quando falei em Harry? Por que está agindo assim, Sirius? Pelo amor de Merlin, me fale, eu sou seu amigo!
Sirius continuava sem me encarar.
- Acho que foi o meu egoísmo de novo, ele disse, após um longo minuto de silêncio.
- O que você fez desta vez?, perguntei.
- Eu... fui falar com Harry. Na lareira.
- Você usou a lareira para falar com Harry?!
Eu estava espantado com a capacidade de Sirius de não se preocupar com nada.
- É, disse Sirius.
- Você não tem juízo?
- Eu sabia que você ia falar isso.
Me contive. Provavelmente ele não me contara exatamente para não ouvir a bronca.
- Tá certo, essa eu deixo passar.
- Eu tinha que responder a carta dele de algum jeito, se justificou. E não sabia como. Só me veio esta idéia.
- OK, OK, está perdoado, sorri. Agora, me fala. O que Harry fez?
- Eu... bem, ele contou alguns problemas com a cicatriz, eu suponho que
nada sério... Depois falou da Umbridge, também nada sério...
- Umbridge, eu repeti o nome da atual professora de Defesa Contra as Artes das Trevas de Hogwarts, e principal responsável por eu estar usando aquelas roupas remendadas e enxovalhadas. Ela está maltratando muito eles?
- Chata como o quê, riu Sirius. Harry disse que ela é tão simpática quanto minha mãe, na carta.
Eu ri.
- Tá certo. O que mais ele falou que te fez ficar tão deprimido?
- Eu... me ofereci para ir a Hogsmeade encontrá-lo.
- O quê?!, questionei, atônito.
Aquilo ali não tinha o menor senso de precaução ou era impressão minha?
- Eu me ofereci para ir a Hogsmeade encontrá-lo. E ele não quis.
"Pelo menos alguém tem juízo."
- E o que ele disse a respeito?
- Que Lúcio Malfoy me reconheceu na estação, que tinham me achado, que eu correria realmente perigo, que não queria me ver de volta à Azkaban... a ladainha de sempre.
- Eu podia te dizer que não é uma ladainha... Mas continue.
- Bem, não disse mais nada. Eu... pensei que ele ia gostar de me ver. Gostar dos riscos.
Lógico. A semelhança com Tiago. Era novamente esse assunto que andava perturbando o espírito de Sirius.
- Sirius...
Sem olhar para mim, ele tirou a chaleira da água e serviu na xícara.
- Camomila como sempre?
- Camomila como sempre, falei.
Ele pegou dois saquinhos de chá dentro do armário e colocou-os, um na minha xícara, outro na dele. Depois sentou-se.
- Sirius, eu sei que você morre de saudades do Tiago. Eu sei que adoraria estar com ele, para que pudessem armar algum jeito de fugir deste Largo. Eu sei, eu também sinto falta dele. Mas é o que eu falei: você está exigindo de Harry algo que ele não pode dar.
- O quê?
- Harry não pode ser Tiago. Você está desejando que ele seja, e Harry é o Harry. Não há como ele mudar. Harry passou por coisas que Tiago nunca passou; Harry perdeu os pais, foi criado com tios que detesta, já foi preso no quarto, já enfrentou Voldemort em pessoa três vezes. Isso construiu em Harry uma personalidade diferente da do Tiago. Ele precisou estar maduro antes do tempo.
- Eu sei, mas... é tão difícil assim esquecer um pouco as malditas regras para vir me encontrar em Hogsmeade?
- Sirius, Harry se importa com você. E como é maduro, ele sabe que você correrá perigo, se for a Hogsmeade, que as pessoas já reconheceram você. Ele tem medo que você seja preso. Isso deveria te deixar feliz, porque significa que ele gosta de você.
- Estou sendo egoísta de novo, disse Sirius com uma nota de amargura na voz.
- Sim, está, eu disse, mas é perdoável. Qualquer um pensa mais em si mesmo trancado numa casa como esta.
- Remo, eu quero sair daqui.
- Eu sei, Sirius, eu sei.
- Alguém tem que me tirar daqui. Estão me prendendo aqui. Alguém tem que me tirar daqui.
Repetindo isso várias vezes, ele tomou um grande gole de chá de camomila. Daí começou a gritar, língua para fora:
- Quente, quente, quente!
Eu ri, enquanto ele pulava freneticamente com a língua para fora. Nesse instante, chegou Tonks.
- Aí, beleza? Interrompi alguma coisa?, perguntou, após ver a dança de Sirius.
- Tirando o chilique do Sirius, não, eu disse, rindo. Chá?
- Claro, ela sorriu.
Corri a servir-lhe o chá, olhando aqueles olhos, hoje verdes, sempre com aquele brilho animado e decidido. E Sirius olhava a cozinha, um ar sombrio nos seus olhos cinzentos. Quase mortos.
¬¬¬
As notícias em Hogwarts esquentavam. A detestável Umbridge, numa medida nunca antes tomada na história da escola, se tornou Alta-Inquisidora, nomeada por Fudge, o que lhe permitia fiscalizar os professores, entre outras coisinhas mais. Sirius cuspiu chá de camomila no jornal quando leu aquilo.
- Putz, eu gostaria de estar em Hogwarts agora, ele me disse pensativo.
- É?, perguntei incrédulo.
- É. Daí eu e o Tiago armaríamos uma boa e essa mulher ia se arrepender de um dia ter posto os pés na escola.
- Não duvido nada, eu ri gostosamente.
- Imagino o que Harry deve estar pensando, disse Sirius.
Bem, logo ficaríamos sabendo o que Harry pensava a respeito de Umbridge. Num sábado morno de reunião, Mundungo chegou de repente, o rosto vermelho por causa do sereno da noite. Snape, calmamente, interrompeu seu último relatório.
- Sim, Mundungo, o que deseja além de chegar atrasado e atrapalhar nossa reunião?
- Bomba, disse Mundungo, se sentando na mesa. Estive vigiando Harry hoje em Hogsmeade...
- O que quer que Potter tenha feito não tem mais interesse do que o relatório, Mundungo. Poderá falar depois.
- Bem, é só você acha que o Harry é menos interessante do que o seu relatório, replicou Sirius. Fala, Dunga.
Severo se virou irritado para Sirius, porém, antes que pudesse revidar, eu falei:
- Acho que deveríamos ouvir o que Mundungo tem a dizer, Severo. Sabe que Harry é importante e sua vida é assunto de prioridade da Ordem.
Murmúrios de concordância se fizeram por toda a mesa, principalmente do meu lado, onde se sentava Molly.
- Estamos todos de acordo então, eu disse. Fale, Mundungo. Poderá continuar seu relatório depois, Severo.
- Bem, lá estava eu, vestido de bruxa, vigiando Harry e os amigos. Eles entraram no Cabeça de Javali...
- E você conseguiu entrar?, surpreendeu-se Gui. Pensei que o barman tivesse te expulsado há uns vinte ou trinta anos?
- Ele não me reconheceu, disse Mundungo orgulhoso. Bem, o fato é que vi Harry e os amigos dele entrarem no Cabeça de Javali, seguidos de uma profusão de estudantes.
- Meus filhos estavam lá?
- Todos os seus filhos que tão em Hogwarts, Molly. Pude escutar tudo o que eles tavam dizendo. Estão formando uma sociedade secreta de Defesa Contra as Artes das Trevas!
Eu e Sirius nos entreolhamos. Sirius caiu na gargalhada, mais feliz do que em meses. Eu não pude evitar rir, mas Molly parecia decididamente desesperada:
- Todos os meus filhos numa sociedade secreta de Defesa Contra as Artes das Trevas?
- É, disse Mundungo fazendo que sim com a cabeça. Prática. Parece que conseguiram convencer uma galera que Voldemort voltou e estão tentando arrumar meios de se defender. Harry vai ser o professor.
Sirius chorava de tanto rir, e Severo lhe passou um carão:
- Pare de rir, Black. A situação é séria.
- Por quê?, perguntou Sirius enxugando os olhos.
- Porque, se eles forem pegos, não será só uma simples expulsão. Estarão se metendo com o Ministério.
- Eles estão cobertos em área de grupos de estudo e deveres, eu disse.
Quando era monitor, li todos os regulamentos de Hogwarts. Leitura maçante, mas quando você quer fazer um trabalho digno, você faz de tudo. E quando você tem amigos que transpõem as regras continuamente, é importante sabê-las.
- Até cair no ouvido de Dolores Umbridge, replicou Severo. Daí veremos.
Nada dissemos, mas Molly continuava em pleno desespero.
E seu desespero só aumentou no dia seguinte, quando veio de Kingsley a informação de que Fudge tinha aprovado o Decreto de Educação nº 24; todos as organizações, sociedades e afins estavam dissolvidos e precisavam da permissão especial de Umbridge para se reorganizar. Se um aluno pertencesse a uma organização, sociedade ou afim que não fosse aprovado por ela, estaria automaticamente expulso.
- Meus quatro filhos, meus quatro filhos correndo perigo de expulsão! Todos com o futuro arruinado! Ah, meu Deus, ah, meu Deus, onde vamos parar? Preciso dar um jeito de dizer a eles para não fazerem isso, mas se mandar por coruja estarão decididamente expulsos! Ah, meu Deus, ah, meu Deus!
Sua histeria era tanta que Sirius se ofereceu:
- Eu posso falar com Harry na lareira. Daí eu aviso ele para passar o aviso ao Rony, ou talvez até consiga falar com o próprio Rony, para ele passar o aviso ao Fred, ao Jorge e à Gina.
Molly olhou para ele como se ele fosse um anjo caído do céu.
- Você faria isso mesmo, Sirius?
- Faria, disse Sirius, olhando para mim de soslaio.
Eu entendi que ele não concordava com a opinião dela, mas faria qualquer coisa para ela parar de andar feito uma maluca pela casa.
- Oh, Sirius, mil vezes obrigada!
E, para a definitiva surpresa do meu amigo, ela o abraçou emocionada, enquanto ele me olhava arregalado por cima de seus ombros.
- Mas prometa que vai contar mesmo!
- Ele promete, Molly, ele promete, resolvi intervir, antes que ela sufocasse Sirius.
Após Molly ter saído da sala, ele me olhou ainda espantado.
- Olha... A Molly tava muito desesperada, hein?
- Estava, concordei, rindo.
Eu ainda não sabia que o humor de Sirius iria mudar drasticamente depois da conversa com Harry. De novo.
Cheguei, à noite, mais que cansado, desejando apenas ver uma boa cama, quando Sirius saiu da cozinha, muito pálido e ofegante, como se tivesse visto uma aparição. Excetuando talvez o elfo Monstro e a Sra. Black, estávamos sozinhos na casa.
Percebi que meu amigo precisava de mim e o levei até a sala de visitas. Ele se sentou numa poltrona levemente empoeirada, e disse, a voz falha:
- Ela quase me pegou. Ela sabia.
- Ela quem?, perguntei, pensando que meu amigo tinha finalmente perdido o juízo.
- Umbridge. Na lareira. Quase.
- Como assim?
- Eu estava na lareira. Falando com Harry. Passei o recado de Molly. Estávamos conversando, eu estava sugerindo lugares para praticarem, só que daí eu senti a mão atrás de mim, tentando me segurar. Sumi enquanto podia. Não sei o que aconteceu.
- É simples, eu disse com um suspiro. Devem estar monitorando a lareira da Grifinória. Descobriram que você fez uma pequena aparição por lá, e só esperaram você aparecer de novo para tentarem te pegar. Ainda bem que não tiveram sucesso. Só que agora você não poderá aparecer por lá mais.
- Não?, repetiu Sirius.
Seus olhos ficaram estranhamente desfocados.
- Não, eu repeti, dizendo o óbvio.
- Nunca mais? E se eu der um tempo?
- Irão perceber assim que você pôr a cabeça para dentro da lareira.
- Então... não poderei mais falar com Harry?
- Pela lareira não.
Ele baixou a cabeça.
- Eu estava tão feliz, com a possibilidade. Achei que poderia falar com ele mais vezes.
- Você vai poder falar com ele. Só precisa ter cautela e...
Me surpreendi com os efeitos da palavra "cautela" em Sirius. Ele ergueu a cabeça para mim, o rosto vermelho, as narinas escarlates, os olhos cinzentos brilhando de fúria.
- Cautela. Cautela. Às favas a porcaria da cautela! É por causa dessa maldita cautela que eu estou preso aqui, Remo, e você vem me falar de cautela!
- Sirius...
- Estão me tirando tudo, Remo! Primeiro, me tiraram a Claire, depois o Pontas e a Lílian, junto com o Pedro! Daí, me tiraram a dignidade e o nome limpo! Daí, me deram o Harry, mas depois me tiraram a liberdade definitivamente! E agora, eu perco o Harry! Só falta perder a sanidade, o que não vai demorar muito!
Ele se levantou, as narinas embranquecendo. Eu sabia como ele estava se sentindo. Sei como é difícil você estar perdendo tudo que mais preza no mundo.
- Sirius, você não perdeu Harry. Apenas não poderá mais falar com ele pela lareira!
Suas narinas ficaram completamente brancas, e eu me levantei, para acalmá-lo, quando ele começou a dizer com a voz insana:
- Eu sei. Vocês pensam que me enganam, mas eu sei. É um esquema da minha mãe, não é?!
- Sirius!, eu exclamei. Sua mãe está morta!
- Foi ela, eu sei. Ela não me perdoou por ter fugido, quer ter um Black aqui dentro, por isso me prendeu aqui, com a cumplicidade de vocês! Querem me fazer perder a sanidade, para me botarem na tapeçaria dos Black de novo!
Seus olhos quase giravam, suas narinas estavam cada vez mais brancas.
- EU NÃO VOU DEIXAR, NÃO VOU DEIXAR ME PRENDEREM, NÃO VOU DEIXAR ME FAZEREM UM BLACK!
Desvairado, ele saiu berrando para o corredor, acordando Walburga Black, que começou a fazer coro aos seus gritos; quase ensurdecido, corri atrás dele quando ele começava a subir as escadas, e o segurei pelo braço.
- ME LARGA!, ele berrou. ME SOLTA, NÃO VOU DEIXAR ELES ME PRENDEREM!!!
- SIRIUS!, gritei.
- ME SOLTA, ME LARGA, ME SOLTA, VOCÊ TAMBÉM QUER ME PRENDER...
- SIRIUS!, berrei ainda mais alto. NÃO SOU ELES! SOU EU, O REMO! O ALUADO!
Ele calou-se e ficou me fitando, estranhamente desfocado, apesar dos berros todos no corredor. Depois, lágrimas pularam de seus olhos, até ele estar soluçando nos meus braços.
Eu o abracei, condoído, ajudando-o a ir para seu quarto. Ele murmurava:
- Eu tô ficando louco, Remo... Tô ficando louco...
- Calma, Sirius, falei tentando acalmá-lo. Tudo vai ficar bem. Você vai sair daqui.
Mas eu não sabia que, para Sirius, nada mais iria ficar bem.
N.A.: No próximo capítulo acabam as ceninhas do Sirius!
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