O Largo Grimmauld
N.A.: Aqui vai o 17! Obrigada por quem comentou o 15!
A primeira reunião da segunda Ordem da Fênix foi no começo do mês de julho. Todos os membros sobreviventes da Ordem antiga, como eu e Sirius, Estúrgio, Dédalo, Moody e Emelina, entre outros, mais alguns membros novos, como Arthur e Molly Weasley, os pais de Rony, e também Kingsley Shacklebolt, nosso ex-colega, que havia sido convencido por Moody da utilidade da Ordem. Entre os problemas da pauta, ficou encontrar uma nova sede, visto que a antiga havia sido demolida por uma companhia trouxa.
Sirius, que estava morando comigo, teve uma idéia logo:
- Eu não sei se Dumbledore vai querer, mas acho que sei o lugar perfeito para a sede.
- Qual?, perguntei.
- O Largo Grimmauld.
Quase me engasguei.
- Sirius, a idéia é ótima!, eu disse, francamente impressionado.
- Você acha que eu sugiro a Dumbledore?
- Com certeza! Aquela casa parece mais um quartel sitiado!
Fomos imediatamente, os dois, falar a Dumbledore. Ele também gostou da idéia.
- Vamos imediatamente ao Largo Grimmauld, verificar as possibilidades.
- Sim, dissemos os dois.
Pouco depois, já estávamos no Largo. Sirius procurou a fechadura de sangue e ele mesmo revelou a casa. Avaliativos, inspecionamos cada medida de segurança e cada canto.
A casa estava aos pedaços. As mesas tinham uma camada tão grossa de poeira que pareciam não ver um pano limpo há séculos. Havia infestações, as cortinas zumbiam, e ruídos estranhos ocorriam por ali.
- É perfeita, disse Dumbledore. Se pudermos retirar aquele feitiço ali da frente, e acrescentar mais alguns na proteção que seu pai fez à casa, Sirius, estaremos muito bem escondidos.
E foi o que fizemos. Ficamos cerca de uma semana trabalhando incansavelmente na casa, até descobrirmos como desfazer o feitiço do sangue. Dumbledore se tornou o Fiel do Segredo da sede e eu e Sirius nos mudamos imediatamente para o lugar.
Mas havia ainda algo com que Sirius não contava.
- Sirius, é melhor você não sair da sede, disse Dumbledore logo após termos concluído o feitiço.
- Como assim?, perguntou Sirius sem entender. Como é que eu vou ajudar se não sair da sede?
- De outras maneiras. Sirius, se você se expor muito, o Ministério vai acabar descobrindo que você está em Londres. Poderão capturá-lo.
- Ah, disse Sirius displicente. Nunca me descobrem. Ninguém nem imagina meu disfarce, Dumbledore.
- Oh, sim, imagina. Os Comensais da Morte sabem muito bem o que você é. Rabicho deve ter lhes falado.
Sirius abriu a boca para dizer algo, mas provavelmente não achou nada a dizer, então fechou-a em seguida.
- Será mais seguro para você, falou Dumbledore. Os Comensais sabem que você faz parte do nosso grupo ativo, você já era um membro em destaque da outra vez. Se souberem que você anda por Londres...
- Mas Dumbledore, eu vou enlouquecer aí dentro!, exclamou Sirius desesperado.
- Será mais seguro, repetiu Dumbledore.
- Sirius, vamos, não vai ser tão ruim assim, falei tentando acalmá-lo. É só por um tempo. Até encontrarmos Rabicho.
Sirius olhou para mim. Nos seus olhos, uma expressão de quem tinha sido condenado à forca. Quando caminhou até o seu quarto, parecia caminhar para a prisão.
Sirius acabou acatando as ordens de Dumbledore. Não saiu da sede. Eu procurava estar lá o máximo que podia, para evitar que ele ficasse solitário, ou, corrigindo-me, para evitar que ele ficasse solitário em companhias nada agradáveis.
Companhias esta como Monstro, o velho elfo doméstico da casa. Os anos solitário fizeram de Monstro um elfo ligeiramente com falta de parafusos. Ele andava pelos corredores, resmungando coisas contra nós, gemendo e choramingando, um perfeito espírito agourento infestando a casa. A outra companhia era o retrato de Walburga Black. Se fizéssemos um ruído mais proeminente (do tipo tocar a campainha, tropeçar em alguma coisa ou algo assim), ela começava a berrar, acordando os outros quadros numa sinfonia infernal.
Foi apenas mais de duas semanas depois que marcamos a primeira reunião da Ordem da Fênix na nova sede. Sirius, que não via outra pessoa a não ser eu há dias, estava ansiosíssimo.
- Queria saber se vamos ver Harry. Molly vai passar o resto das férias aqui e vai trazer os meninos e Hermione.
- Não sei, eu disse, bem ciente de que Dumbledore estava hesitante quanto ao destino de Harry. Tomara que seja logo.
O destino de Harry seria uma das pautas discutidas na reunião. Entre essas pautas, estariam as perseguições aos Comensais da Morte, a proteção a Harry na Rua dos Alfeneiros, o modo de convencer mais pessoas a ingressarem na Ordem e outros assuntos que Dumbledore iria tratar.
Estávamos na cozinha, quando o alto barulho da campainha se fez ouvir.
Imediatamente a mãe de Sirius começou a gritar:
- TRAIDORES, MESTIÇOS, LOBISOMENS EMPORCALHANDO A MINHA CASA!
Corri para acalmá-la, enquanto Sirius, num misto de irritação e ansiedade, foi correndo atender a porta. Lutei com as cortinas e consegui restaurar a paz, porém, no instante seguinte, um alto ruído, gritos, e barulhos no corredor de entrada provocou os gritos de novo.
Após novamente lutar com o quadro, e estuporar todos os outros quadros, fui ao corredor para ver o que provocara o ruído. Tive que me conter para não rir.
No mínimo quinze membros da Ordem estavam espatifados no chão, Sirius embaixo de todos. Aparentemente, alguém havia tropeçado numa armadura à entrada, e caíra com armadura e tudo em cima das pessoas atrás deles. O velho Moody resmungava o tempo todo, todos estavam de mau humor, e Sirius gemia sem fôlego debaixo de toda aquela gente. Foi quando a autora do tumulto se virou para mim.
Eu nunca a tinha visto antes. Fiquei olhando aquele rosto em feitio de coração, e seus cabelos púrpuras caindo até seus ombros, compridos. Ela toda tinha um ar de jovialidade e vivacidade, sorrindo para mim e estendendo sua mão fina e delicada:
- E aí, beleza? Você é que é o Lupin?
Fiz que sim com a cabeça, chocado demais para falar.
- Meu nome é Tonks.
E foi, assim, dessa maneira súbita e atordoante que eu conheci aquela garota. Logo, logo, eu iria aprender que tudo que se refere à Ninfadora Tonks é assim. Súbito e atordoante.
¬¬¬
Com o tempo, fui me acostumando a morar no Largo Grimmauld; ao contrário de Sirius. Meu amigo ia perdendo a vitalidade que lhe caracterizava; de animado e ativo, passara a taciturno e resmungão, andando pelos cantos da casa como um espectro, mais prisioneiro do que nos doze anos que passara em Azkaban. Várias vezes o ouvi resmungar que nunca teria oferecido o Largo Grimmauld se soubesse que ficaria preso nele. Conforme disse a Dumbledore, estávamos matando Sirius aos pouquinhos; mas Dumbledore me garantiu que era uma situação temporária, e eu não soube erguer a voz para me opor.
Na segunda semana de julho, Molly Weasley, uma boa senhora com quem eu me dei muito bem, trouxe os filhos mais novos para a sede. Rony, Gina, Fred e Jorge, além de Gui, seu filho mais velho, que voltou do Egito para arrumar um trabalho no Gringotes aqui da Inglaterra mesmo.
A vinda dos garotos Weasley sacudiu o Largo Grimmauld; eles eram muito vivos e alegres, ajudando com afinco em arrumar a casa, e trazendo sorrisos até mesmo ao rosto taciturno de Sirius. Na terceira semana, a facção adolescente da Ordem da Fênix ganhou ainda o apoio de Hermione, trazida de sua pacífica casa de trouxas para o meio da balbúrdia. Sem dúvida, houve muita confusão; Rony e Hermione pareciam injuriados de nada poderem dizer a Harry (opinião que Sirius compartilhava com entusiasmo), e Fred e Jorge injuriados por não poderem ouvir nada das reuniões; tão injuriados que inventaram algo digno de Tiago Potter: orelhas extensíveis.
Depois que surpreendi fios cor de carne descendo as escadas vindo dos andares de cima, eles tiveram que me explicar direitinho o que era aquilo. Acabaram contando que era um meio de ouvirem o que estava se passando nas reuniões, que tinham inventado várias e me imploraram para que eu não contasse nada. Consenti, pois sabia que eu teria feito o mesmo se estivesse na idade deles. Sirius achou muito engraçado, mas não posso dizer o mesmo de Molly Weasley. Quando ela descobriu, a casa caiu. Quase literalmente.
Por fim, uma notícia veio nos alarmar; Arthur Weasley chegou afobado do Ministério como se tivesse corrido o percurso de lá até o Largo Grimmauld.
- O que houve, Arthur?, perguntei surpreso, ajudando-o a se sentar no sofá. Você
não devia estar em horário de trabalho?
- Problemas... Harry..., ele ofegou.
Foi o suficiente para Sirius dar um pulo de mais um palmo.
- O que houve?!, ele perguntou, quase sacudindo Arthur. O que aconteceu com Harry? Foi Voldemort?
- Não, disse Arthur com um arrepio. Dementadores.
Senti o sangue me fugir das faces; olhei para Sirius, que tinha os olhos vidrados.
- E está tudo bem com ele?
- Ah, sim, está. Na verdade, mais ou menos.
- O que quer dizer com isso?
- Ele teve que fazer um Feitiço do Patrono para se livrar, e daí recebeu uma notificação oficial do Ministério. Dumbledore está tentando resolver tudo, porque ele já recebeu uma notificação antes, daí a coisa complica.
- Quem foi que deixou Harry fazer magia?!, questionei. Não deveríamos estar protegendo-o contra situações como essa?!
- Era o turno de Mundungo.
- Só podia ser, disse Sirius. Saiu atrás de alguma remessa de caldeirões roubados?
- Provavelmente, disse Arthur.
- Vou escrever a Harry, disse Sirius, correndo a apanhar um pergaminho, enquanto eu ajudava Arthur a se aprumar, e aparecia Molly, vinda da cozinha.
Bem, as coisas ficaram feias depois disso. Harry seria forçado a comparecer a uma audiência disciplinar nas férias, que decidiria sobre seu destino, e havia perigo de ser expulso.
Porém, segundo o próprio Sirius, havia algo de bom nesta história. Fizemos uma reunião naquela noite, que Dumbledore presidiu.
- Bem, agora devemos ver como proceder em relação a Harry, disse McGonagall a ele.
- Potter é um ímã de confusões, disse Severo desagradavelmente. Penso se não corre atrás delas.
Esqueci de falar que Severo era um dos integrantes da nova Ordem da Fênix. Não nos falávamos muito; a bem da verdade, eu tentava evitá-lo, sabendo que ele teria o maior prazer em me provocar problemas.
- Está insinuando que Harry teria provocado isso tudo?, perguntou Sirius alteando a voz.
Outro ponto que esqueci de falar. O humor de Sirius andava decididamente sensível. Qualquer pessoa poderia lhe provocar uma explosão, ainda mais se essa pessoa fosse Severo Snape, com sua voz insinuante.
- Você sempre interpreta mal as minhas palavras, Black, disse Severo mal escondendo um sorriso. Só comentei como é curioso os vários acontecimentos fantásticos a respeito de Potter, do qual temos que correr atrás. Oh, mas é verdade, obviamente você não entende disso; enquanto vamos atrás do seu valoroso afilhado, você fica aqui sentado confortável em sua poltrona.
- Repita se tiver coragem, seu...
- Chega!, exclamou Dumbledore da ponta da mesa. Severo, Sirius, não se esqueçam: estão do mesmo lado agora. Sem provocações.
Sirius se afundou na cadeira, emburrado. Sussurrei ao seu ouvido:
- Paciência, Sirius...
- Não sou você, Aluado.
Eu ri baixinho, enquanto Dumbledore continuava a falar:
- Sou de opinião que ele deve ser remetido para a sede da Ordem em alguns dias. Não sabemos se esses dementadores estavam fora do controle do Ministério; se estavam, significa que Lord Voldemort começou a agir no sentido de eliminar Harry.
- Mas isso é tão dissociante dos planos dele!, falei. Ele não iria querer chamar atenção sobre si, com o Ministério sem notar nada sobre a aproximação. E de repente, do nada, manda dois dementadores passearem em Little Whinging!
- Também concordo que não faz sentido, disse Kingsley com sua voz grave e ressonante.
- E eu também, disse Dumbledore. Creio que essa foi uma tentativa do Ministério para fazê-lo ser expulso.
- Estão começando a exagerar, hein?, disse Olho-Tonto. É como eu digo, quando se tem dois inimigos para olhar, vigilância constante!
Vi um sorriso se abrir no rosto de Sirius.
- Teremos que destacar uma equipe para trazer Harry em segurança para a sede, disse Estúrgio.
- Alguém se candidata?, perguntou Dumbledore.
- Eu!, disse Tonks quase imediatamente.
Sorri para ela, erguendo a mão. Adoraria rever Harry.
Mais de metade da mesa ergueu a mão: Olho-Tonto, Quim, Estúrgio, Dédalo, Elifas, Emelina e Héstia. Sirius já ia erguendo a mão também, mas Dumbledore o advertiu:
- Não, Sirius, sinto muito, mas não poderá deixar a sede.
Ainda mais emburrado, meu amigo se afundou mais na cadeira, enquanto designávamos a equipe secundária para a remoção de Harry da Rua dos Alfeneiros.
No final, ainda Dumbledore passou um carão em Mundungo:
- Mundungo, eu confiava em você, e você me decepcionou seriamente. Devo acreditar que não deverei mais confiar a você tarefas importantes?
Mundungo estava de cabeça baixa, os cabelos ruivos desgrenhados e sujos encobrindo todo o seu rosto.
- Não, Dumbledore. Eu vou fazer o possível para me esforçar mais de agora em diante. É que era um ótimo negócio, entende...
- A proteção a Harry é mais importante que os seus negócios, Mundungo, disse McGonagall. E se Harry tivesse perdido a alma nesta noite? O que você faria?
- Está certo, está certo, disse Mundungo arrependido.
- Então, combinaremos. Daqui a três dias, vamos buscar Harry na Rua dos Alfeneiros, disse Moody.
Concordei entusiasticamente, dando um tapinha consolador no ombro de Sirius, que, apesar de aborrecido, ainda assim estava feliz pela vinda do afilhado.
¬¬¬
Como combinado, dois dias depois estávamos todos preparados para a partida. Havíamos previamente decidido que não seria dito a Harry (como não era dito a nenhum dos garotos Weasley e nem a Hermione) sobre a profecia que Voldemort queria escutar.
A mesma profecia que me fora repetida naquela noite que eu não queria mais lembrar. Agora, Voldemort estava tentando obtê-la para conhecer seu conteúdo - e nem imaginávamos o que ele estava fazendo; Severo, nosso espião, dizia que era um plano muitíssimo secreto, do qual nem ele tinha conhecimento. Era por causa dela que estávamos nos revezando em turnos para vigiar o Departamento de Mistérios (onde estava guardado seu registro), e gelávamos cada vez que Lúcio Malfoy se aproximava demais da sala, durante uma conversa com Fudge ou coisa assim.
- Estão preparados?, perguntou Alastor, o líder da missão, enquanto nos vestíamos com pesados casacos - íriamos aparatando, mas voltaríamos de vassoura - e nos despedíamos dos meninos.
- Estamos, falaram todos.
Sirius nos levou até a porta, seu rosto ofegante de ansiedade incontida. Fui o último a sair, e, antes de sair, dei um tapinha nas costas do meu amigo.
- Nós já trazemos ele.
Ele sorriu para mim o sorriso mais radiante que eu tinha visto em seu rosto desde que nos reencontramos.
- Se cuide, Aluado.
- Não vai acontecer nada.
- Moody disse que vai, riu Sirius.
Eu ri junto, e saí com os outros.
- Ainda bem, Lupin, pensei que ia ficar para trás, disse Olho-Tonto com seu mau-humor crônico.
- Não, eu disse alegremente. Mal posso esperar. Vamos indo?
Uma girada de varinha, vários estalos, e estávamos em plena Rua dos Alfeneiros, nº 4, aterrissando do nada no meio do jardim. Ficamos em silêncio por um momento, agachados no escuro, após ver as cabeças de vários trouxas surgindo na janela. Depois que nos certificamos que não haveria mais perigo, nos levantamos.
Fui à frente, sabendo que, de conhecidos de Harry, só havia eu ali (talvez se pudesse contar Alastor, mas como o Alastor que ele conheceu não era Alastor...), e arrombei a porta com um sussurro:
- Alorromora.
Todos andávamos cuidadosamente. A casa estava escura. Naquela manhã, eu falara a Tonks que os tios de Harry não ficariam nada felizes em verem tantos bruxos desconhecidos entrando subitamente na casa deles, e ela me disse que ia providenciar algo; depois, me assustando, veio aos pulinhos na cozinha me contar que mandara uma carta a eles dizendo que tinham ganhado o concurso de "Gramado Mais Bem Cuidado da Grã-Bretanha".
De repente, indo às favas com nosso projeto de chegar cuidadosamente para não assustar Harry, Tonks tropeçou em cima de uma mala, deu dois passos tentando se manter de pé, se agarrou a uma mesinha de cabeceira, derrubando-a, junto com o prato que estava em cima dela; o barulho resultante foi um ruído agudo e nada discreto.
- Tonks!, exclamaram quase todos reprovadores, exceto eu, que me ri silenciosamente. Eu gostava daquele jeito dela.
- Foi mal, pessoal, disse Tonks em voz alta e despreocupada.
- Falem baixo!..., sussurrou Emelina alarmada.
- Agora já se foi, falei erguendo os ombros.
- Parabéns, Tonks, resmungou Alastor. Menina, eu não sei como você conseguiu passar em Vigilância e Rastreamento. Um mosquito me picou na testa quando fui perseguir Rosier, e perdi metade do meu nariz porque bati nele.
Silenciamos ao ouvir nítidos ruídos de alguém andando no andar de cima. Todos olhamos, sem nada dizer, um vulto pequeno e magro se aproximar das escadas, com a varinha erguida. Sem dúvida era Harry.
- Baixe a varinha, garoto, antes que você arranque os olhos de alguém, disse Moody.
Harry ficou em silêncio por um momento, até que sua voz perguntou:
- Professor Moody?
- Não sei bem quanto a "Professor", nunca cheguei a ensinar muito tempo, não é mesmo? Vem até aqui, queremos ver você direito.
Harry não obedeceu. Talvez não soubesse direito em quem confiar, afinal, suas experiências com Alastor não tinham sido as melhores possíveis. Tentando lhe infundir uma sensação de confiança, falei:
- Tudo bem, Harry. Viemos buscar você.
A voz de Harry veio mais rápida dessa vez:
- Professor Lupin? É o senhor?
- Por que estamos todos parados no escuro?, perguntou Tonks, se dando conta do ridículo da situação como só ela fazia. Lumus.
A luz da varinha de Tonks nos iluminou a todos, e eu pude ver o rosto surpreso e levemente chocado de Harry, que, provavelmente, não esperava ver aquela multidão em sua casa. Ele olhou para mim, e eu fiquei fitando aquele rosto familiar e tão querido, sorrindo, enquanto ele me avaliava de cima a baixo.
- Ahhh, ele é igualzinho ao que eu imaginei, disse Tonks sem o menor vestígio de timidez. E aí, beleza, Harry?
- Vejo o que quis dizer, Remo, disse Kingsley. Ele é a cara do Tiago.
- Exceto pelos olhos, disse Elifas, apertando os olhos. São os olhos de Lílian.
Harry, que parecia meio tonto, encarou Moody, que o olhava com desconfiança, como se, a qualquer momento, Harry fosse se transformar em um dementador e pular em cima de nós.
- Você tem certeza que é ele, Lupin? Seria uma grossa mancadda se levássemos um Comensal da Morte fazendo-se passar por Harry. Devíamos perguntar a ele algo que só o verdadeiro Potter saiba. A não ser que alguém tenha trazido um pouco de soro da verdade.
Pensei um pouco e perguntei:
- Harry - que forma assume o seu Patrono?
- De veado.
Quase ri, pensando no que Tiago teria dito se ouvisse isso (ele tinha o costume de brigar com Sirius quando este dizia que ele tomava forma de veado).
- É ele mesmo, Olho-Tonto.
Harry desceu as escadas, nervoso, pondo a varinha no bolso traseiro. Foi o suficiente para Olho-Tonto explodir.
- Não guarde a varinha aí, garoto! E se pegar fogo? Bruxos mais sabidos que você já perderam as nádegas, sabe!
- Quem é que você ouviu dizer que perdeu a nádega?, perguntou Tonks, me fazendo rir. Moody não se dignou a responder, a não ser com uma grosseria:
- Não se preocupe com isso, e você guarde a varinha longe do bolso traseiro! Medidas de segurança elementares para o uso da varinha, ninguém se preocupa mais com elas. E estou vendo você, acrescentou, irritado, quando Tonks olhou para o teto.
Contive uma risadinha, apertando a mão de Harry. Meu Merlin, imagine se, quando nos vimos pela última vez, eu imaginasse que, quando nos víssemos de novo, eu estaria na companhia de pessoas como Tonks e Alastor.
- Como é que você tem andado?, perguntei, sabendo como ele deveria estar irritado com a falta de informação, e, talvez, com as insinuações do Ministério a respeito de sua loucura, cada vez mais freqüentes.
- Ó-otimo, gaguejou Harry, ainda sem saber direito o que fazer, correndo os olhos por todas aquelas pessoas.
Parecia eu diante do Salão Principal inteiro com meus onze anos.
- Eu... vocês estão realmente com sorte que os Dursley tenham saído...
- Sorte nada!, exclamou Tonks indignada. Fui eu que os tirei do caminho. Mandei uma carta pelo correio dos trouxas dizendo que estavam entre os finalistas do Concurso do Gramado Mais Bem Cuidado da Grã-Bretanha. Eles estão a caminho da festa de entrega do prêmio neste momento... ou pensam que estão.
A sombra de um sorriso passou pelo rosto de Harry.
- Vamos embora, não vamos?, ele perguntou esperançoso. Logo?
- Quase imediatamente, vamos só aguardar o sinal verde, falei, me referindo ao sinal do grupo de substituição (que assumiria caso nós todos morrêssemos), de que estava tudo seguro.
- Aonde vamos? Para A Toca?, perguntou ele, falando da casa de Molly.
- Não, não para A Toca, falei, levando Harry até a cozinha; se algum Comensal tivesse consciência do nosso plano, era melhor que Harry não ficasse exposto no hall. Arriscado demais. Montamos o quartel-general num lugar difícil de encontrar. Levou algum tempo...
Observei o olhar curioso que Harry lançou a Alastor, que estava devidamente acomodado em sua cozinha, tomando goles do seu frasco de bolso.
- Este é o Alastor Moody, Harry, falei.
- É, eu sei, disse o garoto com um sorriso evasivo.
Olhei para Tonks, que só faltava erguer a mão ansiosa para dizer "eu, agora deixa eu me apresentar".
- E essa é Ninfadora...
- Não me chame de Ninfadora, cortou Tonks imediatamente. Como Sirius previra, ela odiava o nome. Sou Tonks.
- ...Ninfadora Tonks, que prefere ser conhecida apenas pelo sobrenome, corrigi-me.
- Você também ia preferir se a tonta da sua mãe tivesse lhe dado o nome de Ninfadora, disse Tonks num resmungo.
- E esse é Kingsley Shacklebolt, falei, apontando Kingsley, que fez uma reverência bem ao estilo dele. Elifas Doge, apontei Elifas, que acenou com a cabeça. Dédalo Diggle...
- Já nos encontramos antes, disse Dédalo sorridente, deixando cair a sua cartola.
- Emelina Vance, indiquei Emelina, que acenou com a cabeça. Estúrgio Podmore, e Estúrgio piscou sorrindo. E Héstia Jones, concluí, apontando Héstia, que acenou com a mão.
Harry estava positivamente chocado e eu morria de vontade de rir. Provavelmente estava imaginando porque tinha que ter vindo tanta gente buscá-lo.
- Um número surpreendente de pessoas se apresentaram como voluntárias para vir buscá-lo, falei, e tive que me controlar para não cair na risada.
- Ah, foi, quanto mais melhor, resmungou Moody. Somos a sua guarda, Potter.
- Estamos só esperando o sinal de que podemos partir sem perigo, falei, olhando a janela. Temos uns quinze minutos.
- Muito limpos, não são, esses trouxas?, perguntou Tonks, olhando tudo com sua curiosidade natural. Meu pai nasceu trouxa e é um velho porcalhão. Suponho que isto varie como acontece entre os bruxos?
Achei maldade ela falar assim de Ted, que tinha se mostrado ser uma pessoa tão gentil.
- Hum... é, disse Harry, para se voltar para mim. Escute... que é que está acontecendo, não recebi uma palavra de ninguém, que é que o Vol...?
Todos reagiram mal; Estúrgio, Héstia e Elifas assobiaram em aviso, e Moody, não tão sutil, falou agressivo:
- Cale-se.
- Quê!, exclamou Harry, surpreso.
- Não vamos falar nada aqui, é arriscado demais, disse Alastor. Pombas.
O olho dele tinha prendido de novo, paralisado olhando para o teto.
- Não pára de prender; desde que aquele desgraçado o usou.
Ele tirou o olho, deixandos nos ver o buraco vazio por trás dele.
- Olho-Tonto, você sabe que isso é nojento, não sabe?, perguntou Tonks como se estivesse apenas falando que ele estava usando um sobretudo azul.
- Me arranje um copo d'água, por favor, Harry, pediu Alastor, e Harry correu a buscar.
- Saúde, disse Moody, erguendo o copo que o garoto lhe entregou. Mergulhou dentro o olho mágico, dizendo com sua voz rosnada: - Quero ter uma visibilidade de trezentos e sessenta graus na viagem de volta.
- Como vamos chegar... a esse lugar que a gente e está indo?
- Vassouras, falei distraído, olhando a janela. É o único jeito. Você é jovem demais para aparatar, eles devem estar vigiando a Rede de Flu e vai nos custar mais do que a nossa vida montar uma chave de portal sem autorização.
- Remo contou que você é um bom piloto, disse Kingsley, tentando ser agradável.
- É excelente, confirmei, agora consultando o relógio; um pouco agitado, confesso.
Em todo o caso, é melhor você ir fazer a mala, Harry, queremos estar prontos para partir quando recebermos o sinal.
- Vou ajudá-lo, disse Tonks, indo atrás de Harry com seu andar delicado e ao mesmo tempo atrapalhado.
Enquanto Harry estava lá em cima, puxei um pergaminho do bolso e comecei a escrever uma carta aos Dursley, lhes explicando direitinho para onde leváramos Harry, enquanto os meus colegas exploravam a cozinha.
Cerca de seis minutos depois, Harry e Tonks voltaram, Harry trazendo sua Firebolt.
- Excelente, falei ao vê-los. Temos mais ou menos um minuto, acho. Talvez fosse bom irmos para o jardim e aguardamos prontos. Harry, deixei uma carta avisando aos seus tios para não se preocuparem...
- Eles não vão se preocupar.
- ...que você não corre perigo...
- Assim eles vão ficar deprimidos.
- ...e que você os verá no próximo verão.
- Preciso?
Sorri. Naquela hora, Harry me fez lembrar de Sirius, de sua expressão triste quando se despedia de nós na Plataforma 9 1/2, como ia atrás de sua família, olhando para a gente e fingindo se esganar para que ríssemos.
- Venha aqui, garoto, disse Alastor, interrompendo minhas reminiscências. Preciso desiludir você.
- O senhor precisa o quê?, perguntou Harry com cara de interrogação.
- Feitiço da Desilusão. Lupin disse que você tem uma Capa da Invisibilidade, mas ela não vai cobri-lo o tempo todo quando estiver voando; o feitiço vai disfarçar você melhor.
Moody desiludiu Harry, e Tonks, admirada, comentou:
- Bem bom, Olho-Tonto.
Do jeito que só ela fazia. Moody não se ateve ao elogio, abrindo a porta de trás com a varinha e nos guiando ao jardim. O seguimos, e Alastor começou a avaliar o céu e nos passar as orientações:
- Noite clara. Teria sido melhor se houvesse umas nuvens. Certo, você..., ele se virou para Harry, vamos voar em formação cerrada. Tonks irá à sua frente, mantenha-se colado à causa dela. Lupin vai cobrir você por baixo. Eu vou atrás. O resto ficará circulando em volta. Não saiam da formação para nada, entenderam? Se um de nós for morto...
- E isso pode acontecer?
- ...os outros continuarão voando, não parem, não dispersem. Se nos eliminarem e você sobreviver, Harry, há uma guarda recuada de prontidão para assumir, continue a voar para oeste e ela se reunirá a você.
- Pare de ser tão animador, Olho-Tonto, ele vai pensar que não estamos levando isto a sério, disse Tonks irônica.
- Estou só contando ao garoto qual é o plano, rebateu Alastor. Nossa missão é entregá-lo ileso na sede, e se morrermos na tentativa...
- Ninguém vai morrer, disse Kingsley, e os ânimos se acalmaram. Kingsley tinha esse efeito. Talvez por isso tivesse sido um bom capitão de quadribol.
- Montem as vassouras, esse é o primeiro sinal!, exclamei.
¬¬¬
As faíscas verdes que tínhamos combinado voaram no céu e eu gritei:
- Segundo sinal, vamos!
Num instante, disparávamos no céu.
Foi uma viagem tranqüila. Tivemos que fazer ocasionais desvios de rota, comandados por Olho-Tonto, a fim de evitar cidades, estradas e trouxas incautos. Lógico que o nosso amigo Alastor iria exagerar um pouco, sugerindo que voltássemos, mas Tonks, que, graças a Merlin, tem uma vontade bem mais forte que a minha, não deixou.
No final, aterrissávamos no Largo Grimmauld, Harry olhando curioso para todos os lados. Antes de entrarmos, Olho-Tonto apagou os postes de iluminação; depois passou um papel com a localização da sede escrito por Dumbledore. Ele leu, o cenho franzido, depois perguntou:
- Que é a Ordem da...?
- Aqui não, garoto!, exclamou Alastor. Espere até chegarmos lá dentro!, e queimou o papel de Harry.
O garoto virou a cabeça para a rua, para olhar a casa que nós já víamos.
- Mas onde...?
- Pense no que acabou de ler, falei-lhe.
Os olhos dele fitaram o espaço entre as duas casas, cada vez mais arregalados, e eu percebi que ele finalmente estava enxergando o número doze.
- Vamos, Harry, disse Olho-Tonto, percebendo o mesmo e empurrando Harry até as escadas.
Eu abri a porta com a varinha, um feitiço de proteção do pai de Sirius. Ao vê-la se abrir, aconselhei:
- Entre depressa, Harry, mas não se afaste nem toque em nada.
O hall não era um lugar muito seguro ainda, e não era nada divertido você ser recebido no Largo Grimmauld pela Sra. Black.
Olhei; lá fora, Tonks cedia sobre o peso do enorme malão de Harry e da gaiola. Corri para ajudá-la.
- Valeu, Remo, disse ela, me passando o malão.
Seu sorriso era muito gracioso, quando me disse isso. Eu, arrastando o malão de Harry, ajudei-a a entrar dentro da casa, enquanto Moody ficava para trás para reacender as luzes da rua. Após concluir a tarefa, ele veio e trancou a porta, fazendo-nos mergulhar numa escuridão completa.
- Agora..., ele rosnou, finalizando o Feitiço da Desilusão em Harry.
Agora que Harry estava sólido e visível, evitávamos fazer qualquer barulho para que Walburga Black não acordasse. A voz de Alastor veio sussurrada:
- Agora, fiquem quietos, todos, enquanto providencio um pouco de luz aqui.
Logo os candeeiros a gás, que tínhamos desencavado sabe-se-lá-daonde para instalar no hall, se acenderam. Foi a deixa para que Molly aparecesse:
- Ah, Harry, que bom ver você, ela sussurrou, abraçando Harry. Sorrindo, aguardei um pouco até ouvir o já esperado: - Você está parecendo meio doente; está precisando de boa alimentação que terá que esperar um pouco pelo jantar.
E a nós:
- Ele acabou de chegar, a reunião começou.
E lá fomos nós, ouvir os relatórios de Severo.
Sentei-me ao lado de Sirius. Do outro lado de Sirius estava Mundungo. Na falta de Dumbledore e de McGonagall, Severo presidia a reunião.
- Harry chegou? Estão todos bem?, perguntou Sirius baixinho.
- Estamos... Você já vai vê-lo.
Meu amigo abriu um largo sorriso antes de Severo começar a falar.
Foi uma longa hora ouvindo um relatório monótono sobre Lúcio Malfoy estar contatando muito seus companheiros Avery e Macnair; tão monótono que até mesmo eu estava quase me deixando vencer pelo sono, enquanto Sirius bambeava ao meu lado. Mundungo, este tinha já tinha cedido ao sono.
Finalmente, a reunião concluiu-se, para a minha felicidade e a felicidade do meu estômago. Molly disse que iria chamar os meninos, enquanto eu e Tonks, que iria ficar para o jantar, fomos cuidar de trancar as portas quando todos os membros da Ordem que iriam terminassem de passar. Severo foi o último, e me disse:
- Lupin, cuide para que Potter e Black não façam nada idiota.
- Como assim?, perguntei. Ele poderia estar se referindo a Tiago como "Potter", tal era o seu tom.
- Você tem juízo, disse Severo, simplesmente. E, Tonks; ele virou-se para minha companheira; amanhã, não esqueça de entregar o relatório sobre a situação no Quartel. Kingsley já entregou.
- OK, disse Tonks aborrecida.
Severo partiu e nós trancamos a porta, bem conscientes que os garotos estavam tentando escutar nossas palavras. Vi o ar de irritação de Tonks.
- Ele te chateou?, perguntei cortesmente.
Ela olhou para mim, um gesto de "deixa pra lá".
- É irritante receber ordens dele, ela disse.
- Onde será que eu já ouvi isso?, perguntei sorrindo, indicando a cozinha (onde estava Sirius) com a cabeça.
Ela riu, aquela risada franca e encantadora. Por um breve momento, me peguei admirando seu rosto. Neste instante, Molly se juntou a nós, e terminamos de lacrar todas as correntes.
Os garotos estavam parados no hall.
- Vamos comer na cozinha, disse Molly aos sussurros. Harry, querido, se você atravessar em silêncio o corredor, é aquela porta ali.
TRABUM!
- Tonks!, exclamou Molly.
- Me desculpe!, exclamou Tonks, no chão. É a droga desse porta guarda-chuvas, é a segunda vez que eu tropeço nele...
Ajudei-a a se levantar, já ouvindo o "suave" ruído costumeiro. Finalmente, íamos apresentar Harry a Walburga Black.
Os gritos da Sra. Black encheram o corredor, acordando os outros quadros, recomeçando a sinfonia infernal. Corri para o quadro, tentando puxar a cortina, mas a Sra. Black resistia; e nem os meus esforços em conjunto com os de Molly conseguiam fechar o maldito quadro. Molly correu aos outros quadros do corredor, estuporando-os. De repente, Sirius irrompeu da cozinha de uma forma à la Sirius Black.
- Cale a boca, sua bruxa horrorosa, CALE A BOCA!, gritou ele, pegando a outra cortina.
- Vocêêêêêê! Traidor do próprio sangue, abominação, vergonha da minha carne!
- Eu - mandei - calar - a - BOCA!, berrou Sirius.
E, finalmente, conseguimos fechar a cortina. Suado, respirei com alívio. Sirius se voltou para Harry de um jeito que só ele sabia fazer:
- Olá, Harry. Vejo que acabou de conhecer minha mãe.
Quase caí na risada ao ver a cara de espanto de Harry. Acho que ele não esperava encontrar Sirius, e muito menos ver um retrato de sua mãe.
- Sua...?
- É, minha velha e querida mamãe. Faz um mês que estamos tentando tirá-la daí, mas achamos que ela pôs um Feitiço Adesivo Permanente atrás do quadro. Vamos descer, depressa, antes que os outros acordem novamente.
Vi a pergunta de Harry sumir no corredor, enquanto subia as escadas para levar o porta guarda-chuvas de perna de trasgo para longe de quem pudesse tropeçar nele; pelo caminho, cruzei com Fred e Jorge, ocupados levantando algo grande e muito pesado, sinal infalível de berros. E não deu outra, quando cheguei à cozinha, Molly gritava algo do tipo como seus irmãos se comportavam, e nunca tivemos problemas com eles, coisas assim, que eu já havia reparado que eram suas principais queixas contra os gêmeos.
- Vamos comer, disse Gui, finalizando a discussão, apontando para o ensopado.
- Está com uma cara ótima, Molly, elogiei, servindo o prato a ela. Ela sorriu. Eu sabia como fazê-la se sentir melhor, acho. De todos ali, ela era o que me entendia melhor, melhor até do que Sirius, para quem Molly se virou em seguida:
- Estou querendo lhe falar há dias, tem alguma coisa presa na escrivaninha da sala de visitas, não pára de chocalhar e vibrar. É claro que pode ser apenas um bicho-papão, mas pensei que talvez devêssemos pedir a Alastor para dar uma espiada antes de soltarmos o que quer que seja.
- Como quiser, respondeu Sirius.
Era estranho ver Sirius, que não sabia distinguir uma vassoura de um rodo, discutindo assuntos domésticos. Eu sabia o quanto isso mortificava meu amigo.
- As cortinas de lá também estão cheias de fadas mordentes. Pensei que a gente talvez pudesse tentar resolver o problema amanhã.
- Estou ansioso para começar, disse Sirius irônico.
Ergui a cabeça para olhá-lo, e ele me lançou um olhar tremendamente infeliz.
O jantar foi pontuado por conversas agradáveis. Após todos terminarmos, Molly disse:
- Acho que está chegando a hora de dormir.
- Ainda não, Molly, disse Sirius, com sua naturalidade particular. Se voltando para Harry, falou: - Sabe, estou surpreso com você. Pensei que a primeira coisa que faria ao chegar era perguntar sobre o Voldemort.
¬¬¬
Foi como se atirassem uma bomba sobre a mesa. Quase todos se encolheram em arrepios. Todos arregalaram os olhos, olhando fixamente para Harry, como que não querendo perder nenhum ponto da conversa. Eu, perto de tomar mais um gole de vinho, baixei o cálice, os olhos grudados no meu amigo.
- Perguntei!, exclamou Harry. Perguntei a Rony e Hermione, mas eles disseram que não podíamos participar da Ordem, então...
- E têm toda a razão, disse Molly severa. Vocês são muito jovens.
Quem visse Molly naquele momento, pensaria que ela estava se preparando para uma guerra e não para uma boa noite de sono.
- Desde quando alguém precisa pertencer à Ordem da Fênix para fazer perguntas?, perguntou Sirius. Harry ficou preso naquela casa de trouxas o mês inteiro. Tem o direito de saber o que andou acontecendo...
Foi a vez dos gêmeos se intrometerem.
- Calma aí!
- Por que é que o Harry recebe respostas às perguntas dele?
- Faz um mês que tentamos tirar informações de você e não conseguimos absolutamente nada!
Ah, estava aí a explicação do que tanto os gêmeos falavam com Sirius.
- Você é jovem demais, não pertence à Ordem. E Harry não é nem maior de idade.
Sirius assumiu ares de "lavo minhas mãos".
- Não tenho culpa se ninguém lhe contou nada que a Ordem tem feito. Isso é uma decisão dos seus pais. Por outro lado o Harry...
- Não cabe a você decidir o que é bom para o Harry!, exclamou Molly. Suponho que ainda se lembre do que Dumbledore disse?
Vi as narinas do meu amigo ficarem suavemente rosadas. Sinal de irritação. Aliás, ultimamente, tudo que sequer remetesse ao diretor lhe causava irritação.
- Que parte?
- A parte em que disse para não contar a Harry mais do que ele precisa saber.
As narinas de Sirius agora atingiam um tom próximo do vermelho.
- Não tenho intenção de contar a ele mais do que ele precisa saber, Molly. Mas como foi ele quem viu Voldemort voltar, tem mais direito que a maioria de...
- Ele não pertence à Ordem da Fênix!, cortou Molly. Tem apenas quinze anos, e...
- E já teve que enfrentar tanto quanto a maioria dos participantes da Ordem e mais do que alguns, disse Sirius num tom muito digno.
- Ninguém está negando o que ele fez! Mas ainda...
- Ele não é mais criança!, exclamou Sirius.
- Tampouco é adulto! Ele não é Tiago, Sirius!
Agora, sem dúvida, as narinas de Sirius estavam vermelhas. E só tendia a piorar.
- Sei perfeitamente quem ele é, obrigado, Molly, disse, as mãos tremendo.
- Não tenho muita certeza! Às vezes, pelo jeito que fala dele, passa a impressão de que pensa ter recuperado seu melhor amigo!
- E que é que há de errado nisso?, perguntou Harry inocente.
- O que há de errado, Harry, é que você não é o seu pai, Harry, por mais que se pareça com ele! Você ainda está na escola, e os adultos responsáveis por você não deveriam esquecer isto!
- Está dizendo que sou um padrinho irresponsável?, perguntou Sirius furioso.
- Estou querendo dizer que é conhecido por agir impulsivamente, Sirius, razão pela qual Dumbledore está sempre lembrando a você para ficar em casa e...
Agora que tinham chegado a um tom próximo do escarlate, suas narinas empalideciam. O que significava que ele estava prestes a explodir.
- Vamos deixar as instruções que recebi de Dumbledore fora da conversa, quer fazer o favor?
- Arthur!, disse Molly, se virando para o marido. Arthur, venha me apoiar!
Muito constrangido, Arthur limpou os óculos nas vestes.
- Dumbledore sabe que houve uma mudança de posição, Molly. Ele aceita que Harry tenha de ser informado, até certo ponto, agora que está hospedado aqui na sede.
- Sei, mas há uma diferença entre isso e convidá-lo a perguntar o que quiser!
Decidi me introduzir na conversa:
- Por mim, acho melhor que Harry conheça, por nosso intermédio, os fatos, não todos, Molly, mas o quadro geral, em vez de ouvir uma versão truncada pela boca de... outros.
Olhei firme para Fred e Jorge, que coraram.
- Bem, disse Molly olhando desamparada ao redor, bom... estou vendo que vou perder. Mas vou dizer só uma coisa: Dumbledore deve ter tido suas razões para não querer que Harry soubesse demais, e falando como alguém que quer o melhor para Harry...
- Ele não é seu filho, disse Sirius baixinho, como se estivesse falando para si mesmo. Suas narinas estavam quase brancas.
- É como se fosse, respondeu Molly. Quem mais ele tem?
- Tem a mim!
- Tem, o problema é que foi bastante difícil para você cuidar dele enquanto esteve trancafiado em Azkaban, não foi?
Foi demais para o espírito intempestivo do meu amigo. Suas narinas embranqueceram de vez e ele começou a se levantar da cadeira. Hora de resgatar a paz, Remo.
- Molly, você não é a única pessoa nesta mesa que se importa com Harry. Sirius, sente-se.
Minha admoestação surtiu efeito nos dois. Molly crispou os lábios, e Sirius sentou-se, tremendo de raiva. Continuei:
- Acho que devíamos deixar Harry dar a opinião dele sobre o assunto, ele já tem idade para decidir sozinho.
- Eu quero saber o que está acontecendo, disse Harry, como eu esperava que dissesse.
- Muito bem, disse Molly, a voz entrecortada. Gina... Rony... Hermione... Fred... Jorge... quero vocês fora desta cozinha agora.
Foi uma explosão de protestos confusos, aos quais eu não prestei atenção. Aquilo já era da alçada de Molly. Olhei para Sirius, que me encarou em resposta.
- Não devia fazer isso, sussurrei, destacando as sílabas de modo articulado. Vamos conversar depois.
Sirius fez que sim, captando a mensagem.
Quando tornei a prestar atenção na cena foi para atentar ao súbito aumento no nível de barulho e identificar, em meio aos gritos de Gina Weasley, os guinchos e ruídos agudos do quadro de Walburga Black. Parece que Rony, Hermione, Fred e Jorge tinham ganhado a disputa, mas Gina não teve a mesma sorte. Como é triste ter quatorze anos...
Saí para o quadro, tentando restaurar a calma. Fechei as cortinas rapidamente e voltei à cozinha. Apenas depois que eu me sentei, Sirius falou:
- Muito bem, Harry... que é que você quer saber?
¬¬¬
- Muito bem, Harry... que é que você quer saber?
Estávamos todos em suspenso. Harry respirou fundo. Parecia que desejava aquilo há séculos. E, lógico a primeira coisa que perguntou foi:
- Onde está o Voldemort?, seguida de: - Que é que ele está fazendo? Estive tentando assistir ao noticiário dos trouxas, e não houve nada que parecesse coisa dele, nem mortes estranhas nem nada.
- É que ainda não ocorreram mortes estranhas, disse Sirius, pelo menos até onde sabemos... e sabemos muita coisa.
- Pelo menos mais do que ele pensa que sabemos, eu disse.
As perguntas de Harry foram se seguindo, uma após a outra, caindo principalmente sobre os espinhosos assuntos "Fudge", e "Ministério". Harry não tinha ciência da pressão do Ministério sobre Dumbledore, e vi uma expressão de raiva em seu rosto, enquanto falávamos o que estava acontecendo e como aquilo estava atrapalhando nossos planos. Seu rosto parecia muito com o rosto indignado de Tiago, quando contavam a ele a última de Voldemort, durante sua estada na Ordem.
Até a hora em que a conversa começou a tomar um rumo perigoso.
- Mas se Voldemort está tentando recrutar mais Comensais da Morte, logo vazará a notícia de que ele retornou, não é mesmo?
- Voldemort não vai até a casa das pessoas e bate na porta, Harry, disse Sirius pacientemente. Ele prepara arapucas, enfeitiça e chantageia. Tem muita prática de agir em segredo. Em todo o caso, reunir seguidores é apenas uma das coisas em que está interessado. Ele também tem outros planos, planos que pode pôr em ação discretamente, e, por ora, tem se concentrado neles.
- Que é que ele está querendo conseguir além de seguidores?, perguntou Harry.
Olhei para Sirius brevemente; não queria que Harry suspeitasse. Ele olhou para mim e concordou: "Não contar."
- Coisas que ele só pode obter na surdina, disse Sirius evasivo.
Harry olhou intrigado para ele, que complementou suspirando.
- Como armas. Uma coisa que não tinha da última vez.
- Quando era poderoso?
- É.
Vi, não só no rosto de Harry, mas também nos rostos dos garotos Weasley e de Hermione, a expressão de indagação.
- Que tipo de armas?, questionou Harry. Coisa pior do que a Avada Kedavra...?
- Agora chega!
Era Molly. Ela voltara logo após que eu entrara, e estivera observando a coisa toda com uma expressão tremendamente sombria.
- Agora vão dormir. Todos vocês.
- Você não pode mandar na gente..., começou um dos gêmeos.
Molly se voltou furiosa para Sirius.
- Então olhe. Você já deu ao Harry muita informação. Mais um pouco e será melhor convencê-lo a entrar na Ordem de Fênix de vez.
- Por que não?, perguntou Harry sério. Entro para a Ordem, quero entrar, quero lutar.
- Não, falei de imediato. A Ordem é formada apenas por bruxos de maior idade. Bruxos que já terminaram a escola, acrescentei, visto que os gêmeos já se dispunham a falar. Há perigos em jogo que vocês não tem a menor idéia, nenhum de vocês...
"Nenhum de vocês imagina o que é não poder andar seguro na rua, ver um amigo num dia, e no outro ele estar morto, ser perseguido, seqüestrado, encurralado e perder as pessoas que ama..."
- Acho que Molly tem razão, Sirius. Já contamos o suficiente.
Sirius deu de ombros. Podia até ser que ele não obedecesse Molly, mas os meus conselhos ele aceitava. Harry, os garotos Weasley e Hermione saíram da cozinha, acompanhados por Molly. Ficamos apenas eu, Sirius, Gui, Tonks, Arthur e Mundungo, na cozinha silenciosa.
- Bem, vou indo dormir, disse Arthur com um suspiro.
- Eu também, acrescentou Gui, se levantando e espreguiçando.
- Acho que já está na hora de eu ir embora, disse Mundungo. Tenho uma remessa de vassouras para apanhar.
Fingi não ter ouvido e disse:
- Vamos Mundungo, eu abro a porta para você.
- Eu ajudo, disse Tonks.
Saímos todos, menos Sirius, que ficou na mesa, um ar aborrecido.
Levei Mundungo até o hall, e abri as correntes que tínhamos fechados.
- Tchau, caras, despediu-se Mundungo.
- Até, falamos juntos.
Mundungo saiu, e eu e Tonks nos encarregamos de fechar todas as correntes e feitiços da porta. Olhei para ela, tinha olheiras embaixo dos cabelos, que agora estavam num rosa berrante, curto e arrepiado. Ela bocejou longamente.
- Ah, estou com sono.
- Melhor ir dormir, aconselhei. Tivemos um dia longo.
Ela sorriu para mim.
- Não consigo dormir bem naquele quarto... Sinto saudades de casa. É muito escuro lá dentro.
Achei encantador o jeito com que ela afastou uma das madeixas rosas, que caíam em cima dos olhos, enquanto seu rosto denotava leve apreensão.
- Fique tranqüila, sorri. Qualquer coisa, eu estarei perto.
Tonks me olhou longamente. E, ao final, abriu um sorriso um pouco tímido e exuberante assim mesmo.
- Assim é melhor. Boa noite, Remo.
- Boa noite, Tonks, sorri, vendo ela se afastar em direção às escadas.
Ela nunca havia me chamado de Remo antes.
Fui até a cozinha para fazer um chá, porém, lá, encontrei Sirius, ainda debruçado na mesa de pedra como se estivesse desligado do mundo.
Cheguei próximo dele e dei um tapinha no seu ombro.
- Sirius?
Ele se sobressaltou, mas, ao ver que era eu, suspirou calmo.
- Estava pensando.
- Eu vi.
Fui atrás da chaleira e a enchi de água. Então, ouvi a voz de Sirius, hesitante, atrás de mim:
- Aluado... Você... acha que eu estou ficando louco?
Me virei surpreso.
- Louco? Não. Que idéia! Por que eu iria achar que está ficando louco?
- Molly acha.
Percebi do que ele estava falando.
- Aquilo... Molly estava nervosa, Sirius. Falou o que não devia. Você também já fez muita coisa que não devia nessas horas, Sirius, compreenda-a.
Ele olhou para mim. Ainda estava entristecido.
- Você acha que eu confundo Tiago com Harry?
Me aproximei dele e dei um tapinha amigável em seu ombro.
- Acho que você está se sentindo sozinho, Sirius. E se entusiasma demais. E está esperando de Harry algo que ele não pode te dar. Você não está confundindo Harry com Tiago... mas deseja que Harry seja Tiago.
Sirius olhou ferido para mim.
- Sinto falta dele, Aluado.
- Eu sei, Almofadinhas. Eu sei.
Ele se apoiou no meu ombro, e começou a soluçar baixinho. Eu fiquei ali, apenas amparando-o, sentindo o meu próprio coração sangrar de tristeza. Éramos cinco, e do nada, viramos dois...
- Aluado, chamou Sirius.
- Fala.
- Não... me deixe sozinho aqui no Largo. Por favor.
Eu sorri para o meu amigo.
- Nunca.
N.A.: Capítulo 18 em breve! Continuem comentando e mil vezes obrigada para quem ainda lê essa fic!
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