O Traidor



N.A.: Gente, valeu pelo apoio de vocês!

A minha proposta só teve o efeito de assustar mais Rony, que recuou contra a parede apertando Pedro consigo.

- Nem vem, disse, a voz trêmula. O senhor está tentando dizer que Black fugiu de Azkaban só para as mãos em Perebas? Quero dizer... tudo bem, vamos dizer que Pettigrew pudesse se transformar em rato, há milhões de ratos, como é que Black vai saber qual é o que está procurando se estava trancafiado em Azkaban?

Estava aí uma boa pergunta. Me virei para Sirius:

- Sabe, Sirius, a pergunta é justa. Como foi que você descobriu onde estava o rato?

Sirius enfiou a mão nas vestes com brusquidão, arrancando de lá um pedaço de papel sujo e amassado, que ele alisou e ergueu no ar. Era uma foto preto-e-branco da família de Rony; alguns de seus irmãos, os que estudavam no colégio, me eram reconhecíveis; e também Arthur e Molly Weasley, a irmã de Fábio e Gideão, em cuja casa tínhamos ido transmitir a dolorosa notícia. No ombro de Rony, estava Pedro.

- Onde foi que você arranjou isso?, perguntei, franzindo a testa.

- Fudge, disse Sirius. Quando ele foi inspecionar Azkaban no ano passado, me cedeu o jornal que levava. E lá estava Pedro, na primeira página... no ombro desse garoto... reconheci-o na mesma hora... quantas vezes o vi se transformar? E a legenda dizia que o menino ia voltar para Hogwarts... onde Harry estava...

Então, notei um detalhe que tinha me escapado aos olhos antes: tanto na foto quanto no rato que arranhava Rony tentando sair em disparada, havia apenas quatro dedos numa das patas.

- Meu Deus, falei, espantado. A pata dianteira...

- Que é que tem a pata?

- Tem um dedinho faltando, disse Sirius com simplicidade.

- Claro, murmurei, subitamente entendendo o plano de Pedro em todos os seus pormenores. Tão simples... tão genial... ele mesmo o cortou?

Sirius fez que sim com a cabeça.

- Pouco antes de se transformar. Quando eu o encurralei, ele contou para a rua inteira que eu havia traído Lílian e Tiago. Então, antes que eu pudesse lhe lançar um feitiço, ele explodiu a rua com a varinha escondida às costas, matou todo mundo num raio de seis metros, e fugiu para dentro do bueiro com os outros ratos...

Me voltei imediatamente para Rony, apresentando-lhe os argumentos:

- Você já ouviu falar, não, Rony? O maior pedaço do corpo de Pedro que encontraram foi o dedo.

Mas Rony não estava disposto a aceitar.

- Olha aqui, Perebas com certeza brigou com outro rato ou coisa parecida! Ele está na minha família há séculos, certo...

- Doze anos, para sermos exatos. Você nunca estranhou que ele tenha vivido tantos anos?

Ele perdia a coerência.

- Nós... nós cuidamos bem dele!

- Mas ele não está com um aspecto muito saudável no momento, não é?, rebati. Imagino que esteja perdendo peso desde que ouviu falar que Sirius fugiu...

- Ele tem andado apavorado com aquele gato maluco!

Foi a vez de Sirius rebater, acariciando a cabeça do gato laranja que o defendera antes.

- O gato não é maluco. É o gato mais inteligente que já encontrei. Reconheceu na mesma hora o que Pedro era. E quando me encontroum percebeu que eu não era cachorro. Levou um tempinho para confiar em mim. No fim eu consegui comunicar a ele o que estava procurando e ele tem me ajudado...

Achei graça; Snape pensando que eu ajudara Sirius a entrar no castelo e seu mirabolante aliado era um gato.

- Como assim?, perguntou Hermione, com a voz muito baixa.

- Ele tentou trazer Pedro a mim, mas não pôde... então roubou para mim as senhas de acesso à Torre da Grifinória... Pelo que entendi, ele as tirou da mesa-de-cabeceira de um garoto...

Vi a confusão no rosto dos três garotos. Ela claro que estávamos conseguindo, aos poucos, convencê-los que nossa história poderia ser verídica. Sirius continuou a falar:

- Mas Pedro soube o que estava acontecendo e se mandou... Este gato... Bichento, foi o nome que lhe deu?... me disse que Pedro tinha sujado os lençóis de sangue... suponho que tenha se mordido... Ora, fingir-se de morto já tinha dado certo uma vez...

Harry, que tinha se acalmado um pouco, tornou a se exaltar, furioso, e regredir na conversação:

- E sabe por que é que ele se fingiu de morto? Porque sabia que você ia matar ele como tinha matado os meus pais!

- Não, falei, nervoso. Harry...

- E agora você veio acabar com ele!, exclamou Harry sem me ouvir.

- É verdade, vim, disse Sirius para piorar a situação, lançando um olhar quase faminto a Pedro, que continuava se debatendo loucamente.

- Então eu devia ter deixado Snape levar você!

Tentei recuperar o controle da conversa:

- Harry, você não está vendo? Todo este tempo pensamos que Sirius tinha traído seus pais e que Pedro o perseguira... mas foi o contrário, você não está vendo? Pedro traiu sua mãe e seu pai... Sirius perseguiu Pedro...

- NÃO É VERDADE! gritou Harry, olhando fundo nos meus olhos e apontando acusador para Sirius. ELE ERA O FIEL DO SEGREDO DELES! ELE DISSE ISSO ANTES DO SENHOR APARECER. ELE CONFESSOU QUE MATOU MEUS PAIS!

Olhei em consulta para Sirius, que agora tinha um brilho estranho nos seus olhos cinzentos.

- Harry... foi o mesmo que ter matado. Convenci Lílian e Tiago a entregarem o segredo a Pedro no último instante, convenci-os a usar Pedro como fiel do segredo, em vez de mim... A culpa é minha, eu sei... Na noite em que eles morreram, eu tinha combinado procurar Pedro para verificar se ele continuava bem, mas quando cheguei ao esconderijo ele não estava. Mas não havia sinais de luta. Achei estranho. Fiquei apavorado. Corri na mesma hora direto para a casa de seus pais. E quando vi a casa destruída e os corpos deles... percebi o que Pedro devia ter feito. O que eu tinha feito.

Ele deu as costas para nós. E eu fiquei, por um breve instante, estagnado com o horror. Pude enxergar tudo o que tinha acontecido em minha mente, o desespero de Sirius. E eu pensando que ele era um maldito traidor.

- Basta, falei, sentindo os olhos queimarem. Tem uma maneira de provar o que realmente aconteceu. Rony, me dê esse rato.

- Que é que o senhor vai fazer com ele se eu der?, perguntou Rony, trêmulo, mas quase convencido.

- Obrigá-lo a se revelar, falei gentilmente. Se ele for realmente um rato, não se machucará.

Finalmente Rony cedeu e me estendeu Pedro. Ele começou a arranhar desesperado minhas mãos, o velho olhar de covarde brilhando em seus olhos miúdos, daquele tom negro.

- Está pronto, Sirius?, perguntei, me voltando para o meu amigo.

Ele se levantou, a varinha de Severo numa das mãos, os olhos muito brilhantes. Imaginei tudo o que aquilo significava pra ele.

- Juntos?

- Acho melhor, falei, sentindo uma boa sensação nascer dentro de mim. Quando eu contar três. Um... dois... TRÊS!

¬¬¬

Eu e Sirius lançamos o feitiço. Pedro se contorceu no ar, os olhos virando, e depois caiu no chão. Então, no instante seguinte, não estávamos mais olhando para um rato. Estávamos olhando para nosso amigo Pedro Pettigrew.

Ele olhou para nós tremendamente assustado. Nunca achei ele tão parecido com um rato antes. Talvez os doze anos passados sobre a forma de "Perebas" o houvessem mudado um pouco. Mas sem dúvida era Pedro, Pedro que eu pensei que estivesse morto, Pedro que, durante doze anos, também foi motivo de minhas lágrimas... "Controle-se, Remo", pensei, tentando me manter calmo.

- Ora, ora, olá, Pedro, cumprimentei-o cordialmente. Há quanto tempo!

Os olhos de Pedro corriam nervosamente a sala de um lado ao outro, como se procurasse um jeito de escapar. Quando falou, sua voz era súplice:

- S... Sirius. R... Remo. Meus amigos... Meus velhos amigos...

Vi a onda de raiva que sacudiu Sirius, quando ele ergueu a varinha, e deti-o, censurando. Calma, Sirius. Podemos nos divertir um pouco.

- Estávamos tendo uma conversinha, Pedro, sobre os acontecimentos da noite em que Tiago e Lílian morreram. Você talvez tenha perdido os detalhes enquanto guinchava na cama...

- Remo, disse Pedro, olhando para mim com aquela expressão desesperada, a mesma de quando eu o tinha consolado; você não acredita nele, acredita...? Ele tentou me matar, Remo...

Dessa vez a onda de raiva me invadiu. Como eu podia ter acreditado na integridade desse covarde?

- Foi o que ouvimos dizer, falei, tentando me controlar. Eu gostaria de esclarecer algumas coisas com você, Pedro, se você quiser ter...

- Ele veio tentar me matar outra vez!, cortou Pedro, apontando para Sirius. Ele matou Lílian e Tiago e agora vai me matar também... Você tem que me ajudar, Remo...

Respirei fundo. Calma. Inspira, expira.

- Ninguém vai tentar matá-lo até resolvermos umas coisas.

- Resolvermos umas coisas? Eu sabia que ele viria atrás de mim! Sabia que ele voltaria para me pegar! Estou esperando isso há doze anos!

- Você sabia que Sirius ia fugir de Azkaban?, perguntei, tentando fazer os garotos perceberem a incoerência. Sabendo que ninguém jamais fez isso antes?

- Ele tem poderes das trevas com os quais a gente só consegue sonhar!, rebateu Pedro, lívido. De que outro jeito fugiria de lá? Suponho que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tenha lhe ensinado alguns truques?

Então Sirius começou a rir. Não era mais o mesmo riso alegre e despreocupado dos bons tempos. Era um riso amargo, um riso irônico, um riso sem nenhum vestígio daquele Sirius que fora meu amigo.

- Voldemort me ensinou alguns truques?

Pedro se encolheu no chão, amedrontado. Sirius riu de novo, se é que se podia chamar aquilo de riso.

- Que foi, se apavorou em ouvir o nome do seu velho mestre? Não o culpo, Pedro. O pessoal dele não anda muito satisfeito com você, não é mesmo?

- Não sei o que você quer dizer com isso, Sirius..., gemeu Pedro.

Um sorriso horrível deformava o rosto de Sirius.

- Você não andou se escondendo de mim esses doze anos. Andou se escondendo dos seguidores de Voldemort. Eu soube de umas coisas em Azkaban, Pedro... Todos pensam que você está morto ou já o teriam chamado a prestar contas... Ouvi-os gritar todo tipo de coisa durante o sono. Parece que acham que o traidor os traiu também. Voldemort foi à casa dos Potter confiando em uma informação sua... E Voldemort perdeu o poder lá. E nem todos os seguidores dele foram parar em Azkaban, não é mesmo? Ainda há muitos por aí, esperando a hora, fingindo que reconheceram seus erros... Se chegarem a saber que você continua vivo, Pedro...

- Não sei... do que está falando..., disse Pedro, a voz terrivelmente aguda. Se voltou para mim. Você não acredita nessa... nessa loucura, Remo...

- Devo admitir, Pedro, que acho difícil compreender por que um homem inocente iria querer passar doze anos sob a forma de um rato, falei, sentindo nojo daquele homem.

- Inocente, mas apavorado!, exclamou Pedro. Se os seguidores de Voldemort estivessem atrás de mim, seria porque mandei um de seus melhores homens para Azkaban, o espião, Sirius Black!

Até eu me espantei com a fúria no rosto de Sirius.

- Como é que você se atreve? Eu, espião do Voldemort? Quando foi que andei espreitando gente mais forte e mais poderosa que eu? Agora você, Pedro, jamais vou entender por que não reparei desde o começo que você era o espião; você sempre gostou de amigos grandalhões que o protegessem, não é mesmo? Você costumava nos acompanhar... a mim e ao Remo... e ao Tiago...

Pedro suava profusamente, enxugando o rosto na camisa velha.

- Eu, espião... você deve ter perdido o juízo... nunca... não sei como pode dizer uma...

- Lílian e Tiago só fizeram de você o fiel do segredo porque eu sugeri, disse Sirius, sibilante e fatal. Achei que era o plano perfeito... um blefe... Voldemort com certeza viria atrás de mim, jamais sonharia que os dois usariam um sujeito fraco e sem talento como você... Deve ter sido a hora mais sublime da sua vida infeliz quando você contou a Voldemort que podia lhe entregar os Potter.

Pedro resmungava, parecendo estar prestes a ter um colapso nervoso. Seus olhos corriam para a porta e para as janelas, avaliando as chances que tinha de escapar se saísse correndo, provavelmente.

- Prof. Lupin, chamou Hermione, me despertando do devaneio. Quase tinha esquecido que os três continuavam ali. Posso... posso dizer uma coisa?

- Claro, Hermione, falei com cortesia.

- Bem... Perebas... quero dizer, esse... esse homem... ele dormiu no quarto de Harry durante três anos. Se está trabalhando para Você-Sabe-Quem, como é que ele nunca tentou fazer mal a Harry antes?

- Taí!, exclamou Pedro, aproveitando qualquer mínima chance, apontando para Hermione. Muito obrigado! Está vendo, Remo? Nunca toquei em um fio de cabelo de Harry! Por que iria fazer isso?

- Vou lhe dizer o porquê, disse Sirius com raiva. Porque você nunca fez nada, nem a ninguém nem para ninguém, sem saber o que poderia ganhar com isso. Voldemort está foragido há doze anos, dizem que está semimorto. Você não ia matar bem debaixo do nariz de Alvo Dumbledor, por causa de um bruxo moribundo que perdeu todo o poder, ia? Não, você ia querer ter certeza de que ele era o valentão do colégio antes de voltar para o lado dele, não ia? Por que outra razão você procurou uma família de bruxos para o acolher? Para ficar de ouvido atento às novidades, não é mesmo, Pedro? Caso o seu velho protetor recuperasse a antiga força e fosse seguro se juntar a ele...

Pedro olhava desesperado para mim, sentindo o cerco se fechar sobre, ele, sem saber o que dizer para se safar.

¬¬¬

- Hum... Sr. Black... Sirius?, perguntou Hermione polidamente.

Sirius olhou assombrado para ela, e eu refleti: há quanto tempo Sirius era tratado como um animal, sem o merecer?

- Se o senhor não se importar que eu pergunte, como... como foi que o senhor fugiu de Azkaban, se não usou artes das trevas?

- Muito obrigado, manifestou-se Pedro de repente. Exatamente! Precisamente o que eu...

Fuzilei Pedro com os olhos, e ele percebeu que era ocasião de fechar a boca. Olhei para Sirius, tão curioso quanto Hermione. Sua voz saiu lenta e pensativa:

- Não sei como foi que fugi. Acho que a única razão por que nunca perdi o juízo é porque sabia que era inocente. Isto não era um pensamento feliz, então os dementadores não podiam sugá-lo de mim... mas serviu para me manter lúcido e consciente de quem eu era... me ajudou a conservar meus poderes... e quando tudo se tornava... excessivo... eu conseguia me transformar na cela... virar cachorro. (Ou seja, Remo Lupin, você realmente teria ajudado o Ministério se tivesse revelado que Sirius era um animago) Os dementadores não conseguem enxergar, sabe... Aproximam-se das pessoas alimentando-se de suas emoções... Eles percebiam que os meus sentimentos eram menos... menos humanos, menos complexos quando eu era cachorro... mas, achavam, é claro, que eu estava perdendo o juízo como todos os prisioneiros de lá, por isso não se incomodavam. Mas eu fiquei fraco, muito fraco, e não tinha esperança de afastá-los sem uma varinha...

Pensei em Sirius, por doze anos naquele lugar fétido, continuamente assolado por lembranças infelizes, lembranças torturantes, aqueles seres sugando a felicidade toda ao seu redor. Meu coração se apertou como se uma garra invisível o tivesse agarrado e recolocado-o novamente no lugar.

- Mas, então, vi Pedro naquela foto... e compreendi que ele estava em Hogwarts com Harry... perfeitamente colocado para agir, se lhe chegasse a menor notícia de que o partido das trevas estava reunindo forças novamente...

Me veio um estalo. A voz de Estúrgio. "É informação confidencial do ministério, mas dizem que, antes de fugir, Black começou a falar durante o sono... Sempre as mesmas palavras... Ele está em Hogwarts... Ele está em Hogwarts..."

- ...pronto para atacar no momento em que se certificasse que contava com aliados... e para entregar o último Potter. Se lhes entregasse Harry, quem se atreveria a dizer que traíra Lord Voldemort? Pedro seria recebido de volta com todas as honras... Então, entendem, eu tinha que fazer alguma coisa. Era o único que sabia que ele ainda continuava vivo...

Olhei para Pedro. Ele estava aflito, trêmulo, tão suado que pensei que fosse vomitar. Sempre fora e sempre seria um covarde. Um legítimo covarde.
A voz de Sirius soava fantasmagórica e distante:

- Era como se alguém tivesse acendido uma fogueira na minha cabeça, e os dementadores não pudessem destruí-la... Não era um pensamento feliz... Era uma obsessão... mas isso me deu forças, clareou minha mente. Então, uma noite quando abriram a porta para me trazer comida, eu passei por eles em forma de cachorro... Para eles é tão mais difícil perceberem emoções animais que ficaram confusos... eu estava magro, muito magro... o bastante para passar entre as grades... ainda como cachorro nadei até a costa... viajei para o norte e entrei escondido nos terrenos de Hogwarts, como cachorro. Desde então vivi na floresta, exceto nas horas que saía para assistir o quadribol, é claro. Você voa bem como o seu pai, Harry...

Sirius se levantou, muito emocionado, e olhou para Harry, súplice.

- Acredite-me. Acredite-me, Harry. Nunca traí Tiago e Lílian. Teria preferido morrer a traí-los.

E, subitamente, Harry fez que sim. Ele acreditava. Havíamos conseguido, tudo seria esclarecido, tudo voltaria a ser o que era antes...

- Não!, exclamou Pedro, caindo de joelhos.

Agora chegava a hora de acertar as contas com o passado. Ele quase agarrou as vestes de Sirius, falando, suplicando e gemendo:

- Sirius... sou eu... Pedro... seu amigo... você não...

Sirius chutou o ar violentamente, e Pedro recuou, o rosto lívido e desesperado.

- Já tem sujeira suficiente nas minhas vestes sem você tocar nelas!

Então Pedro se voltou para mim, implorando, e por um instante senti pena dele, embora tenha me atirado no inferno sem o menor remorso. Senti pena daquela existência abjeta.

- Remo!, ele se esganiçou. Você não acredita nisso... Sirius não teria lhe contado se eles tivessem mudado os planos?

- Não se pensasse que eu era o espião, Pedro, contrapus, tranqüilo. Presumo que foi por isso que você não me contou, Sirius?, perguntei ao meu amigo, lembrando-me das atitudes frias.

- Me perdoe, Remo, disse Sirius com culpa.

- Tudo bem, Almofadinhas, meu velho amigo, eu disse, contente, enrolando as mangas das vestes. Estava tudo voltando. E você me perdoa por acreditar que você fosse o espião?

- Claro, e algo que parecia um sorriso passou pelo rosto de Sirius. Acho que ele também se sentia contente. Vamos matá-los juntos?

- Acho que sim, falei, e me espantei com a facilidade daquilo na minha boca.

Pedro não merecia viver. Um porco que havia entregado dois amigos que tinham confiado nele, e depois armado um plano para que seu outro melhor amigo caísse em desgraça e levasse toda a culpa, não merecia viver, pois só causaria mais pesar.

- Vocês não me matariam..., ofegou Pedro. Não vão me matar...

E passou a suplicar aos garotos, correndo até Rony.

- Rony... eu não fui um bom amigo... um bom bichinho? Você não vai deixá-los me matarem, Rony, vai... você está do meu lado, não está?

Olhei para Rony temeroso, mas me acalmei. Não havia vestígio de piedade no rosto dele. Pelo contrário, só de nojo.

- Eu deixei você dormir na minha cama!, ele exclamou.

Pedro ainda suplicava. Ele não tinha vergonha?

- Bom garoto... bom dono... você não vai deixá-los fazerem isso... eu fui o seu rato... fui um bom bicho de estimação...

- Se você foi um rato melhor do que foi um homem, não é razão para se gabar, Pedro, disse Sirius irônico.

Rony se arrastou para longe de Pedro, que correu dessa vez até Hermione.

- Garota meiga... garota inteligente... você... você não vai deixar que eles... Me ajude.

Mas Hermione também não pensou em Pedro, recuando, com medo e nojo no olhar. Então, Pedro se virou para Harry.

- Harry... Harry... você é igualzinho ao seu pai... Igualzinho...

Nunca vi Sirius tão furioso, como quando ele urrou:

- COMO É QUE VOCÊ SE ATREVE A FALAR COM HARRY? COMO TEM CORAGEM DE OLHAR PARA ELE? COMO TEM CORAGEM DE FALAR DE TIAGO NA FRENTE DELE?

Pedro não lhe deu atenção.

- Harry. Harry, Tiago não iria querer que eles me matassem... Tiago teria compreendido, Harry... Teria tido piedade...

Chega de farsa. Meus passos no mesmo ritmo dos de Sirius, avançamos e atiramos Pedro no chão. Ele ficou ali, olhando para nós como em convulsão, tremendo.

- Você vendeu Lílian e Tiago a Voldemort, disse Sirius, que parecia prestes a cair em soluços. Você nega isso?

Foi Pedro que rompeu em lágrimas, chorando como uma criança.

- Sirius, Sirius, o que é que eu podia ter feito? O Lord das Trevas... você não faz idéia... ele tem armas que você não imagina... tive medo, Sirius, eu nunca fui corajoso como você, Remo e Tiago. Eu nunca desejei que isso acontecesse... Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado me forçou...

- NÃO MINTA!, berrou Sirius. VOCÊ ANDOU PASSANDO INFORMAÇÕES PARA ELE DURANTE UM ANO ANTES DE LÍLIAN E TIAGO MORREREM! VOCÊ ERA ESPIÃO DELE!

- Ele estava assumindo o poder em toda parte!, guinchou Pedro. Que é que eu tinha a ganhar recusando o que ele me pedia?

Eu não podia acreditar que tinha confiado na lealdade daquilo.

Nunca vi o rosto de Sirius tão cheio de emoção, tão vulnerável. Eu mesmo me sentia como se meu coração fosse romper meu peito.

- Que é que você tinha a ganhar lutando contra o bruxo mais maligno que já existiu?, perguntou Sirius, o rosto contorcido de fúria. Apenas vidas inocentes, Pedro!

- Você não entende! Ele teria me matado, Sirius!

- ENTÃO VOCÊ DEVIA TER MORRIDO! MORRER EM VEZ DE TRAIR SEUS AMIGOS, COMO TERÍAMOS FEITO POR VOCÊ!

Ergui a varinha, e Sirius me imitou. Era chegada a hora. Finalmente era chegada a hora. Tentando me controlar, falei, calmo:

- Você devia ter percebido, que se Voldemort não o matasse, nós o mataríamos. Adeus, Pedro.

¬¬¬

Num segundo, lá estávamos nós, encarando Pedro, prestes a vingar a morte de Tiago e o suplício de Sirius. No outro, Harry estava entre Pedro e as varinhas, gritando:

- NÃO! Vocês não podem matá-lo. Não podem.

Olhei para Harry com surpresa. Imaginei que ele seria o primeiro a querer matar Pedro, com a raiva que sentia de Sirius agora há pouco. Sirius, que pelo visto estava tão surpreso quanto eu, falou:

- Harry, esse verme é a razão pela qual você não tem pais. Esse covardão teria olhado você morrer, sem levantar um dedo. Você ouviu o que ele disse. Dava mais valor à pele nojenta do que a toda sua família.

- Eu sei, disse Harry. Vamos levar Pedro até o castelo... Vamos entregar ele aos dementadores. Ele pode ir para Azkaban... mas não o matem.

- Harry!, ofegou Pedro, com a palidez e o alívio de quem escapa por um triz, abraçando os joelhos de Harry. Você... obrigado... é muito mais do que eu mereço... Obrigado...

- Tire as mãos de cima de mim, exclamou Harry, empurrando Pedro para o lado. Não estou fazendo isso por você. Estou fazendo isso porque acho que o meu pai não ia querer que os melhores amigos dele virassem assassinos... por sua causa.

Olhei para Harry, sem saber o que dizer, e depois para Sirius, que tinha no rosto uma expressão de frustração. Concordamos silenciosamente e baixamos a varinha.

- Você é a única pessoa que tem o direito de decidir, Harry, disse Sirius. Mas pense... pense no que ele fez...

- Ele pode ir para Azkaban, insistiu Harry. Se alguém merece aquele lugar é ele...

- Muito bem, falei, tomado por um ímpeto de ação. Saia da frente, então.
Harry hesitou, e eu disse:

- Vou amarrá-lo. Só isso, juro.

Esperei Harry sair da frente e, depois, usando o mesmo feitiço de Severo, amarrei Pedro; não tão completamente como Severo fez comigo, apenas o suficiente para que ele não pudesse escapar e pudesse andar. Se ele se transformasse, fugiria com facilidade.

- Mas se você se transformar, Pedro, disse Sirius provavelmente pensando o mesmo que eu, nós o mataremos. Concorda, Harry?

Harry fez que sim, olhando para Pedro.

- Certo, falei, sentindo algum contentamento dentro de mim.

Estávamos salvos, Sirius estava livre, o verdadeiro culpado iria pagar, e só tínhamos que voltar ao castelo. Então que fôssemos logo.

- Rony, não sei consertar ossos como Madame Pomfrey, por isso acho melhor só imobilizar sua perna até o entregarmos na ala hospitalar.

Fui até Rony e toquei sua perna com a varinha, usando o mesmo feitiço que eu usava quando Tiago ou Sirius quebravam alguma coisa em uma de nossas aventuras noturnas:

- Férula!

Rony olhou o efeito e apoiou a perna no chão.

- Está melhor, obrigado.

- E o Prof. Snape?, perguntou Hermione num gemido, apontando para o inconsciente Severo.

Fui até Severo e tomei seu pulso, lançando-lhe um olhar avaliativo.

- Ele não tem nenhum problema sério. Vocês só se entusiasmaram um pouquinho demais. Continua desacordado. Hum... talvez seja melhor não o reanimarmos até estar a salvo no castelo. Podemos levá-lo assim... Mobilicorpus!

Severo começou a flutuar, desacordado, a cabeça pendendo de um jeito esquisito. Parecia um Inferi, na minha opinião, com sua pele macilenta. Peguei a Capa da Invisibilidade e a pus no meu bolso.

- E dois de nós devemos nos acorrentar a essa coisa, disse Sirius, chutando Pedro. Só para garantir.

- Eu faço isso, falei, me adiantando.

- E eu, disse Rony.

Sirius conjurou algumas algemas. Prendeu meu braço direito ao esquerdo de Pedro, e o direito de Pedro ao esquerdo de Rony. Então o gato laranja abriu caminho para fora do quarto, e o seguimos.

Descemos a escada da Casa dos Gritos com cuidado, visto que eu estava amarrado a uma pessoa que fazia doze anos não andava só com duas pernas e a Rony, que estava muito lento e mancava. E tínhamos que andar rápido se eu não quisesse Severo batendo atrás de mim, flutuando, controlado por Sirius, que fazia a cabeça dele bater no teto a toda hora. Imagino que Severo teve uma boa dor de cabeça quando despertou. Atrás de Sirius vinham Harry e Hermione.

Entramos no túnel, muito lentamente, eu me concentrando em não deixar Pedro descoberto e não tropeçar com os puxões. Pensamentos felizes voavam pela minha cabeça, e eu estava leve como nunca.

Finalmente, eu poderia levar uma existência tranqüila; eu nunca mais seria assombrado pelos fantasmas do passado. Sirius, Sirius não era um traidor, nós não estávamos enganados, o mundo não tinha perdido as estruturas, e eu não precisava mais ser um morto vivo e desejar que ele tivesse me matado; ele não tinha matado ninguém. Eu não estava mais sozinho; Sirius, o velho Almofadinhas, estava comigo, eu ainda tinha um irmão, um amigo. Ele não traíra a memória de Chloe e nem a amizade dos Marotos. Tudo o que tínhamos passado tinha sido culpa de um mal-entendido.

Fizemos o progresso pelo túnel em no mínimo dez minutos; passei um pouco à frente para liberar o caminho pelo Salgueiro, mas o gato laranja já tinha paralisado a árvore. Rony foi primeiro, ajudado pelo gato e por mim, puxando a perna penosamente. Depois que Rony se pôs de pé, empurrei Pedro pela passagem, e ele foi quase sem problemas. Depois fui eu, seguido de Severo, Sirius, Harry e Hermione.

Vi Pedro mover o corpo para o lado da Floresta e ameacei:

- Um movimento errado, Pedro...

Fomos andando pelo jardim. Céus, eu deveria ter percebido que era bom demais para ser verdade. Deveria ter percebido que nada ia acontecer tão fácil. Que eu não estou destinado a ser feliz por muito tempo...

Inesperadamente, fomos banhados pelo luar.

E eu senti. Senti todo o meu corpo endurecer, e a dor familiar e torturante, sentindo cada osso do meu corpo se desprender dos músculos, meus músculos se alongando, minha pele se esticando, meu crânio se esticando.

"Não. Não agora! Não agora que estamos tão perto! Só uma vez não, por favor, não, hoje não, agora não..."

Mas foram inúteis minhas súplicas. E eu perdi a consciência mais uma vez, carregando o fardo que eu deveria carregar a vida inteira.

N.A.: Está aqui!!! Acho que semana que vem eu posto mais dois...

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