Uma Noite Atribulada



N.A: Valeu por quem comentou! Pode deixar que depois eu passo na fic de quem quiser!

Depois de quase ter sido pego na torre da Grifinória, Sirius se acalmou, e não vi mais vestígios dele na Floresta Proibida. Nem houve qualquer outro ataque dele à Harry ou a um de seus colegas. Isso me aliviou um pouco, mas eu sabia que ele deveria estar planejando a próxima jogada, e andava olhando para trás como, se a qualquer instante, Sirius fosse pular de trás de uma carteira e me matar.

Nem me atrevia a trabalhar com o Mapa do Maroto, imaginando que, se olhasse para a Floresta, veria um pontinho rotulado Sirius Black. A dúvida de que ele estivesse lá, que realmente o cão preto fosse ele, ainda era suportável. Mas a certeza de que ele estava lá e eu não estava fazendo nada certamente me torturaria até a morte ou até a demissão.

Naquele mesmo dia em que o saudoso Mapa do Maroto voltou às minhas mãos, Hagrid voltou com Bicuço e uma cara de desânimo. Quando fui visitá-lo, naquela mesma noite, ele desabou em meus braços, todo lágrimas e desamparo. Vê-lo tão infeliz para mim foi uma prova muito dura, eu que nunca vira Rúbeo Hagrid chorar. Não sabia nem o que dizer, e apenas fiquei ali, escutando ele falar e amparando suas lágrimas. Por experiência própria, sei que nada do que se diz nessas horas adianta. Não há palavra que possa aplacar a dor de estar prestes a perder alguém querido.

Ainda haveria o recurso, mas era quase certo que Bicuço seria condenado. Lúcio Malfoy tinha muito poder. Ele batia o pé e todos corriam. Lógico que não falei isso a Hagrid, fui o mais animador que minha alma em frangalhos permitia ser. Tentei passar-lhe esperança, algo que eu já não tinha há muito. E, no final, quando tive certeza que poderia deixá-lo sozinho, ele parecia um pouco melhor.

Naquela semana, Grifinória ganhou o Campeonato de Quadribol. Alegria geral, visto os sete anos que Grifinória não conseguia chegar nem perto da Taça. Principalmente de Harry. Vi como seus olhos verdes reluziam, e lembrei-me de Tiago, a primeira vez em que ganhou a taça. Tinha treze e era apanhador. Bons tempos aqueles, de se sentir iluminado com a alegria dos amigos. Mas lembrar-me de Sirius rindo com Tiago, e pensar que seu riso era falso...

A euforia por finalmente Grifinória ter ganhado a Taça de Quadribol seguiu-se por um bom tempo. Imagine se os alunos tivessem tanto entusiasmo para estudar como tinham para jogar quadribol... A vida de um professor seria bem mais fácil. Cada coisa que fui forçado a corrigir nos exames de Defesa Contra as Artes das Trevas...

NOMs e NIEMs aconteceram, e exames para os outros alunos também, e eu sumi atrás da minha escrivaninha com pilhas de prova quase da minha altura. Por isso que, para alguns anos, decidi fazer uma prova prática, especialmente para o terceiro ano. Harry tirou a nota máxima, e eu lembro de ter notado como esse garoto tinha aptidão para a matéria. As melhores notas de todo o terceiro ano, batendo até sua amiga Hermione.

Eu estava muito tranqüilo e calmo, até aquele dia. Aquele dia que nunca mais sairia de minha memória como o dia de minha redenção.
Mais cedo, eu recebera um aviso de Hagrid sobre Bicuço ter perdido o julgamento do recurso. Fiquei tremendamente triste pela injustiça. Foi quando algo me passou pela cabeça.

Eu já mencionei a ligação especial que Harry tinha com Hagrid. E eu sabia, sabia porque Harry era como eu e Tiago ao mesmo tempo, que ele arriscaria tudo para ver Hagrid e consolá-lo naquele instante, poder estar junto. E eu sabia que Sirius Black estava ali, à espreita da melhor situação.
Lembrei de Tiago.

- Vou ficar de olho nele pra você, tá OK, Pontas?

Sentindo minhas mãos tremerem, peguei o Mapa do Maroto e recitei:

- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom.

As velhas e amistosas linhas do Mapa começaram a desenhar no pergaminho, formando aquele desenho tão amigo, tão acolhedor, da época em que eu era uma pessoa feliz. Mas os nomes eram outros, e eu não iria encontrar os nomes "Tiago Potter" e "Pedro Pettigrew" ao meu lado, novamente, jamais.

Ou pelo menos era o que eu julgava.

Com o dedo, acompanhei Harry, Rony e Hermione atravessarem o jardim, como eu pressupunha. Não pude deixar de evitar um sorriso.
Vi os garotos entrarem na casa de Hagrid, e com o dedo coloquei o mapa para próximo, olhando perto do castelo.

Os garotos ainda não haviam saído da cabana quando os dois da Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas, mais Cornélio Fudge, o ministro, e Dumbledore saíram do castelo. Indo em direção à cabana de Hagrid.

- Droga, Harry, sai daí!..., gemi, olhando para a porta da cabana.

Um instante, e eu senti minhas pernas amolecerem e meus olhos se arregalarem como pratos.

Quatro pontinhos tinham acabado de sair da cabana de Hagrid. "Harry Potter". "Rony Weasley". "Hermione Granger". E "Pedro Pettigrew".

- O mapa está estragado. Os anos no arquivo de Filch o deixaram maluco. Como Pedro pode estar com eles? Pedro está morto!

Como se eu estivesse sobre um feitiço que me fazia lembrar de tudo, naquele instante, as palavras de Tiago, quando viu o Mapa, me vieram à mente.

"- O Mapa do Maroto nunca mente. Nunca mente mesmo."
Eu não sabia o que pensar daquilo. Como Pedro, Pedro que dezenas de testemunhas tinham visto ser explodido em mil pedaços por Sirius, poderia, do nada, surgir no meio de uma tarde tranqüila, na cabana de Hagrid, e ninguém notar? Como?

Acompanhei, Harry, Rony, Hermione e Pedro saírem da casa de Hagrid, o coração batendo acelerado, a mente confusa demais para juntar os pensamentos. Foi quando vi outro pontinho, muito rápido, correndo na direção dos garotos. Este rotulado "Sirius Black".

Com uma curiosidade mórbida, fiquei observando ele atacar os garotos, imaginando o que estaria acontecendo, imaginando porque ninguém estranhava que Pedro estava vivo, e caminhando ao lado do filho de seu melhor amigo. Observei Sirius pular em cima de Harry, senti meu coração batendo tão forte como se fosse explodir, pensando que finalmente o cão o havia pegado, quando de repente o vejo arrastar Rony e Pedro para o Salgueiro Lutador. Fiquei observando, a testa franzida. Até que finalmente entendi.

- Sirius nunca esteve atrás de Harry... Sirius estava atrás de Pedro.

Olhei mais uma vez para o Mapa, e vi Harry e Hermione rodeando o Salgueiro Lutador, tentando entrar. Me decidi.

Apanhei a capa e saí para enfrentar o que o destino estivesse a me reservar.

¬¬¬

Saí correndo da minha sala, fui até a porta do castelo, atravessei os jardins com segurança nos meus passos, imobilizei o Salgueiro Lutador e me esgueirei para dentro da passagem que tanto sofrimento me dava. Tanto sofrimento. Mas agora, eu iria acabar com aquele maldito sofrimento.

Me enfiei pelo túnel, ouvindo barulhos e berros vindos da Casa dos Gritos, só imaginando o que Sirius poderia estar fazendo com os garotos. Corri, como nunca tinha corrido antes. Eu tinha que saber... Eu tinha que descobrir o que acontecera naquela tarde em que Sirius supostamente matara Pedro, resolver meus problemas do passado. Chegara a hora de encarar o passado que eu tanto me esforçara por esquecer.

Aterrissei em plena Casa dos Gritos, e meus olhos esquadrinharam aquele lugar de tanto sofrimento, as paredes onde cada grito meu estava gravado, cada ataque de dor, cada transformação. Senti meu coração se apertar terrivelmente, mas continuei a andar. Súbito, ouvi os gritos de Hermione:

- ESTAMOS AQUI EM CIMA! ESTAMOS AQUI EM CIMA... SIRIUS BLACK... DEPRESSA!

Guiado pela sua voz, subi as escadas até o segundo andar da Casa dos Gritos, e arrombei a porta de um dos quartos com a varinha.

Me deparei com esta cena: Harry estava em cima de Sirius, a varinha apontada para seu peito, onde, por que eu não imagino, estava alojado um gato; parecia prestes a matá-lo. No outro canto do quarto, no chão, estava Rony, num tom esverdeado de tão pálido, a perna formando um ângulo esquisito. Ainda havia Hermione, os cabelos castanhos totalmente desarrumados, uma expressão muito aflita no rosto.

- Expelliarmus!, exclamei, antes que Harry fizesse algo contra Sirius. As varinhas de Harry, Rony e Hermione voaram até a minha mão. Se eles estivessem armados, não poderiam me deixar resolver.

Andei na direção de Sirius, olhando bem para aquele rosto. Céus, não era nem de longe o rosto bonito que encantava as garotas quando éramos adolescentes. Magro, esquálido, parecia mais uma caveira. Seus cabelos negros, antes tão bem cuidados, agora formavam um emaranhado sujo. Sua pele sempre fora branca, mas agora estava tão branca que eu poderia tê-lo tomado por um cadáver, não fosse o brilho de seus olhos cinzentos. Sim, não importava o quanto caísse, seus olhos sempre brilhariam.

Nos encaramos por um momento, vendo a passagem do tempo. Então, falei, a voz muito tensa:

- Onde é que ele está, Sirius?

Vi os olhares de Harry, Rony e Hermione se dirigirem a mim, mas continuei olhando para Sirius. Ele estava imóvel, olhando para mim. Lentamente, ele ergueu o braço, e apontou para Rony. Olhei rapidamente para o garoto, depois tornei a olhar para Sirius, profundamente, desejando decifrar seus olhos, tentando entender.

- Mas, então... por que ele não se revelou antes? A não ser que...
Então, rápida como um raio, a total compreensão me atingiu. Só podia ser aquilo. Naquele momento, tudo se tornou claro aos meus olhos; todas as peças se encaixaram no enigma, tudo o que não estava bem certo agora estava.

- A não ser que... A não ser que ele fosse o... a não ser que você tivesse trocado... sem me dizer?, perguntei, hesitante, desejando desesperadamente que ele confirmasse.

Sirius olhava para mim com seus olhos cinzentos. E fez que sim com a cabeça.

Meu Deus, os sorrisos não eram falsos. A nossa amizade não era falsa. Tudo o que havia acontecido entre nós havia realmente acontecido e Sirius havia enfrentado doze anos em Azkaban injustamente. Sirius não era um traidor, os sorrisos de Sirius eram de verdade, tudo era verdade, e aquele homem, ali, deitado no chão me olhando, não havia traído seu melhor amigo, não havia nos enganado. Não havia nada do que eu ter suspeitado, porque ele continuava sendo o mesmo homem íntegro com quem eu vivera, o mesmo amigo de todas as horas. Senti meus olhos queimando de alívio.

Baixei a varinha, sentindo todo o meu corpo afrouxar. Fui até Sirius, apanhei sua varinha no chão, e levantei-o. Por um momento, nos encaramos, minha mente vibrando. Tudo havia realmente acontecido. Eu não estava sozinho no mundo; eu ainda tinha Sirius. Sem me conter, o abracei, quase soluçando. Era como se ele houvesse ressuscitado em toda a sua animação e sua força.

Mas lógico que, como Harry, Rony e Hermione não tinham o poder de ler mentes e nem um conhecimento tão profundo da história, não conseguiram compreender o que estava acontecendo, e a cena lhes pareceu bem diferente.

- EU NÃO ACREDITO!, berrou Hermione.

Sua voz me despertou para a realidade. Tínhamos três adolescentes de treze anos, e precisávamos lhes explicar antes de começar qualquer coisa. Sim, porque Pedro era o traidor, o duplamente traidor, e agora...
Hermione apontava para mim, os olhos arregalados como eu nunca vira.

- O senhor... o senhor...

- Hermione..., falei, tentando acalmá-la.

- ...o senhor e ele!

- Hermione se acalme...

- Eu não contei a ninguém!, disse Hermione com a voz esganiçada. Tenho encoberto o senhor...

Imaginei o que ela deveria saber, e gritei, tentando me sobrepôr à sua voz:

- Hermione, me escute, por favor! Posso explicar...

Daí foi Harry quem começou a gritar, parecendo finalmente ter se recuperado do choque, a voz descontrolada:

- Eu confiei no senhor, e o tempo todo o senhor era amigo dele!

Ninguém me deixava chance para falar.

- Você está enganado, tentei argumentar. Eu não era amigo de Sirius, mas agora sou... Deixe-me explicar...

Hermione me cortou com um grito:

- NÃO! Harry não confie nele, ele tem ajudado Black a entrar no castelo, ele quer ver você morto também... ele é um lobisomem!

Pronto, Remo Lupin. Novamente seu segredo desnudado aos olhos dos outros. Bem consciente de que todos me encaravam, tentei me portar naturalmente. Aquilo já acontecera tantas vezes que eu nem ficava tão nervoso.

Disse com todo o controle, tentando fazer parecer que achava a situação levemente engraçada:

- O que disse não está à altura do seu padrão de acertos, Hermione. Receio que tenha acertado apenas uma afirmação em três. Eu não tenho ajudado Sirius a entrar no castelo e certamente não quero ver Harry morto... Mas não vou negar que seja um lobisomem.

¬¬¬

Todos ficaram ainda mais pálidos, e Sirius me olhava preocupado. Foi quando Rony tentou se levantar, a perna quebrada, mas tornou a cair, com um gemido. Fui ajudá-lo, quando ele gritou:

- Fique longe de mim, lobisomem!

Se ele tivesse me esfaqueado não doeria mais. Virei-me para Hermione:

- Há quanto tempo você sabe?

- Há séculos, disse ela. Desde a redação do Prof. Snape...

Quase ri.

- Ele ficará encantado, falei. Passou aquela redação na esperança de que alguém percebesse o que significavam os meus sintomas. Você verificou a tabela lunar e percebeu que eu sempre ficava doente na lua cheia? Ou você percebeu que o bicho-papão se transformava em lua quando me via?

- Os dois, disse Hermione.

Não pude deixar de rir, amargo.

- Você é a bruxa de treze anos mais inteligente que eu já conheci, Hermione.

- Não sou não, disse ela com voz sussurrada. Se eu fosse um pouco mais inteligente, teria contado a todo mundo quem o senhor é!

- Mas todos já sabem. Pelo menos os professores sabem.

Rony me olhou com cara de espanto.

- Dumbledore contratou o senhor mesmo sabendo que o senhor é um lobisomem? Ele é louco?

Suspirei.

- Alguns professores acharam que sim. Ele teve que trabalhar muito para convencer certos professores de que eu sou digno de confiança... "Snape, principalmente", acrescentei em minha mente.

Harry estava muito exaltado, e gritou:

- E ELE ESTAVA ENGANADO! O SENHOR ESTEVE AJUDANDO ELE O TEMPO TODO!

Harry apontou para Sirius, que atravessou o quarto, se sentou na cama e escondeu o rosto em uma de suas mãos magras. Vi o gato se aproximar dele e Rony se afastar, arrastando a perna.

Tentei explicar novamente:

- Eu não estive ajudando Sirius, falei. Se você me der uma chance, eu explico. Olhe...

Entreguei as varinhas de Harry, Rony e Hermione para eles. Depois me desarmei, colocando minha própria varinha no cinto.

- Pronto, falei, erguendo os braços. Vocês estão armados e nós não. Agora vão me ouvir?

Harry me olhava intrigado. Lançou um olhar furioso a Sirius.

- Se o senhor não esteve ajudando, como é que soube que ele estava aqui?

- O mapa, falei. O Mapa do Maroto. Eu estava na minha sala examinando-o...

Fui cortado por Harry.

- O senhor sabe trabalhar com o mapa?

- Claro que eu sei, eu disse, já tomado de impaciência. Ajudei a prepará-lo. Eu sou Aluado, esse era o apelido que meus amigos me davam na escola.
Vi a expressão de completa estupefação no rosto de Harry.

- O senhor preparou...?

- O importante é que eu estava examinando o mapa atentamente hoje á noite, porque imaginei que você, Rony e Hermione poderiam tentar sair, escondidos, do castelo para visitar Hagrid antes da execução do hipogrifo. E estava certo, não é mesmo?

Comecei a andar ao redor do quarto, como eu sempre fazia quando tentava apresentar argumentos. Geralmente, com os meus amigos, não funcionava.

- Você poderia estar usando a velha capa do seu pai, Harry...

- Como é que o senhor sabia da capa?, perguntou Harry, cada vez mais impressionado.

- O número de vezes que eu vi Tiago desaparecer debaixo da capa..., falei, mais impaciente. A questão é que, mesmo quando a pessoa está usando a Capa da Invisibilidade, ela continua a aparecer no Mapa do Maroto. Observei vocês atravessarem os jardins e entrar na cabana de Hagrid. Vinte minutos depois, vocês saíram e voltaram em direção ao castelo. Mas, então, iam acompanhados por mais alguém.

Os rostos dos três garotos se encheram de intrigação.

- Quê?, disse Harry. Não, não íamos!

- Eu não podia acreditar no que estava vendo, continuei sem dar atenção ao garoto. Achei que o mapa não estava registrando direito. Como é que ele podia estar com vocês?

- Não tinha ninguém com a gente!

- Então vi outro pontinho, andando depressa em sua direção, rotulado Sirius Black... vi-o colidir com você; observei quando arrastou dois de vocês para dentro do Salgueiro Lutador...

- Um de nós, disse Rony.

- Não, Rony. Dois de vocês, rebati. Você acha que eu poderia dar uma olhada no rato?

Tentei manter a minha voz tranqüila e sem vestígios de ansiedade. Uma tarefa consideravelmente difícil.

- Quê?, disse Rony, cada vez mais espantado. Que é que o Perebas tem a ver com isso?

Perebas. Era esse o nome de Pedro como rato. Foi na forma de Perebas que Pedro Pettigrew se escondeu do mundo e da vingança da lei e dos amigos por doze anos. Agora chega.

- Tudo. Posso vê-lo, por favor?

Rony tirou o rato das vestes. Eu o examinei. Meu Deus, era Pedro. Não havia como deixar de ser Pedro. O mesmo ar, a mesma cauda pelada e fina. Eu estava olhando para meu amigo morto.

Imagino que devo ter deixado transparecer, pois Rony segurou Pedro junto a si.

- Quê?, falou ele. Que é que meu rato tem a ver com qualquer coisa?

- Isso não é um rato, disse Sirius, finalmente falando. Como sua voz mudara, estava rouca, desanimada.

Rony olhava para nós como se tivéssemos enlouquecido.

- Que é que você está dizendo... É claro que é um rato...

- Não, não é, confirmei. É um bruxo.

- Um animago, disse Sirius, que atende pelo nome de Pedro Pettigrew.

Agora sim eles olhavam para nós como se tivéssemos enlouquecido.

- Vocês dois são malucos, disse Rony, recuando para a parede.

- Ridículo!, disse Hermione num murmúrio.

- Pedro Pettigrew está morto!, disse Harry com ferocidade. Ele o matou há doze anos!, apontou para Sirius.

Vi o rosto de Sirius tremer, e percebi que ele tinha aquele olhar de quando estava prestes a dar o bote.

- Tive intenção, mas o Pedrinho levou a melhor... Mas desta vez não!
Sirius saltou para cima de Rony, pressionando sua perna quebrada, tentando desesperadamente alcançar Pedro.

- Sirius, NÃO!, exclamei, empurrando Sirius para longe de Rony, que ficara mortalmente pálido. ESPERE! Você não pode fazer isso assim... eles precisam entender... temos que explicar...

- Podemos explicar depois!, exclamou Sirius. Por mais que passassem os anos, ele continuava não se deixando convencer facilmente.

Eu nunca tive um físico bom o suficiente para conter Sirius e Tiago. Por mais que Sirius estivesse magro, ainda era forte, e eu quase caía de cansaço tentando segurá-lo.

- Eles têm... o direito... de... saber... de... tudo!, exclamei, ofegante, tentando conter Sirius. Ele foi bicho de estimação de Rony! E tem partes dessa história que nem eu compreendo muito bem! E Harry... você deve a verdade a ele, Sirius!

Foi esse argumento que bateu Sirius, que continuou com os olhos cravados em Pedro mas se acalmou um pouco.

- Está bem, então, ele disse, sem tirar os olhos de Pedro. Conte a eles o que quiser. Mas faça isso depressa, Remo, quero cometer o crime pelo qual fui preso...

¬¬¬

Olhei para Sirius recomendando-lhe calma com o olhar, quando percebi que Rony tentava ficar de pé. A sua voz saiu levemente deseqüilibrada:

- Vocês são pirados, os dois, disse, e me pareceu ouvir medo naquela frase. Para mim chega. Estou fora.

Vi os movimentos loucos de Pedro para tentar se desvencilhar da mão do garoto, e apontei a varinha para ele, pronto a segurá-lo no ar caso fosse preciso.

- Você vai me ouvir até o fim, Rony, falei, tentando passar tranqüilidade e fazer com que ele se acalmasse. Só quero que mantenha Pedro bem seguro enquanto me ouve.

Bem, tentar infundir-lhe calma de nada adiantou.

- ELE NÃO É PEDRO, ELE É PEREBAS!, ele gritou, tentando colocar Pedro no bolso; mas meu amigo sabia que havia chegado a hora de acertar as contas e tentava desesperadamente fugir; seus movimentos fizeram Rony se deseqüilibrar, mas Harry o segurou e o colocou na cama. Naquele movimento, vi muito de nossa antiga amizade.

Então Harry se voltou para mim, como se tentasse clarear a minha mente:

- Houve testemunhas que viram Pettigrew morrer. Uma rua cheia...

- Eles não viram o que pensaram que viram!, exclamou Sirius indignado, os olhos cravados em Pedro.

- Todos pensaram que Sirius tinha matado Pedro, falei. Eu mesmo acreditei nisso, até ver o mapa hoje à noite. Porque o Mapa do Maroto nunca mente... Pedro está vivo. Na mão de Rony, Harry.

O olhar que Harry e Rony trocaram, e as expressões descrentes em seu rosto foram o suficiente para que eu pudesse compreender que ainda não os havia convencido.

Então Hermione falou, com a voz tensa; percebi que não se importavam com Sirius, mas não queriam que eu caísse na suposta armadilha que eles enxergavam.

- Mas Prof. Lupin... Perebas não pode ser Pettigrew... não pode ser verdade, o senhor sabe que não pode...

- Por que não pode?, perguntei gentilmente.

- Porque... porque as pessoas saberiam se Pedro Pettigrew tivesse sido um animago. Estudamos animagos com a Profª McGonagall. E procurei maiores informações quando fiz o meu dever de casa, o Ministério da Magia controla os bruxos e bruxas que são capazes de se transformar em animais; há um registro que mostra em que animal se transformam, o que fazem, quais os seus sinais de identificação e outros dados... e fui procurar o nome da Profª McGonagall no registro e vi que só houve sete animagos neste século e o nome de Pettigrew não constava na lista...

Não pude deixar de rir lembrando da expressão de Tiago e Sirius quando lhes falei que era preciso que se registrassem no Ministério.

- Certo outra vez, Hermione!, falei, sorrindo. Mas o Ministério nunca soube que havia três animagos não registrados à solta em Hogwearts.

- Se você vai contar a história aos garotos, se apresse, Remo, se manifestou Sirius, a voz rouca e impaciente. Esperei doze anos, não vou esperar muito mais.

- Está bem... mas você precisa me ajudar, Sirius, só conheço o início...

Minha audição aguçada captou um ruído do lado de fora e me voltei imediatamente para ver o que era. A porta se abriu com um rangido das dobradiças muito velhas, completamente sozinha, e fui ao corredor para ver se havia mais alguém ali na Casa dos Gritos aquela noite. Não encontrei ninguém, mas ainda não sabia o que isso significava.

- Não há ninguém aí fora...

- Esse lugar é mal-assombrado!, disse Rony com uma nota de medo na voz.

- Não é, não, falei, ainda olhando a porta, tentando adivinhar o que a fizera se mexer. A Casa dos Gritos nunca foi mal-assombrada... Os gritos e uivos que os moradores do povoado costumavam ouvir eram meus.

Pensei em como começar aquela história tão complexa, que só quem esteve envolvido saberia descrever.

- Foi onde tudo começou, com a minha transforamção em lobisomem. Nada poderia ter acontecido se eu não tivesse sido mordido... e não tivesse sido tão imprudente...

Cada palavra saía com naturalidade, e percebi que há muito eu queria falar sobre o que tinha acontecido, que não queria mais guardar segredo e tratar meu passado como se fosse algo proibido. Contei tudo aos garotos. Como Dumbledore tinha se apiedado de mim, o Salgueiro Lutador, a amizade dos Marotos, como tinham descoberto que eu era um lobisomem; a façanha da Animagia, nossas imprudências. Quando cheguei a este ponto, verdadeira amargura se apossou de mim, confessando como eu era fraco:

- Durante todo este ano, lutei comigo mesmo, me perguntando se devia contar a Dumbledore que Sirius era um animago. Mas não contei. Por quê? Porque fui covarde demais. Porque isto teria significado admitir que eu traíra sua confiança enquanto estivera na escola, admitir que influenciara outros... e a confiança de Dumbledore significava tudo para mim. Ele me admitira em Hogwarts quando garoto, e me dera um emprego quando eu fora desprezado toda a minha vida adulta, incapaz de encontrar um trabalho remunerado porque sou o que sou. Então me convenci de que Sirius estava penetrando na escola por meio das artes das trevas que aprendera com Voldemort, que o fato de ser animago não entrava em questão... então, de certa forma, Snape tinha razão quanto à minha pessoa.

Certas coisas nunca mudam, e a inimizade de Sirius com Severo decididamente era uma delas. Só a lembrança dele poderia retirar sua mente do fundo da sua vingança.

- Snape?, exclamou ele, olhando para mim surpreso. Que é que Snape tem a ver com isso?

Eu poderia ter sorrido, mas era uma situação séria.

- Ele está aqui, Sirius. É professor em Hogwarts também.

Olhei para Harry, Rony e Hermione, que me encaravam curiosos.

- O Prof. Snape freqüentou a escola conosco. Ele se opôs fortemente à minha nomeação para o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Passou o ano inteiro dizendo a Dumbledore que eu não sou digno de confiança. Eles tem suas razões... entendem, o Sirius aqui pregou uma peça nele que quase o matou, uma peça de que participei...

Nesse instante, Sirius murmurou algo com desdém, finalmente mostrando que continuava a ser o velho Sirius Black, que aqueles doze anos em Azkaban não haviam alterado o essencial dentro de si: nunca pensar nas conseqüências.

- Foi bem feito para ele, disse. Espionando, tentando descobrir o que andávamos aprontando... Na esperança de que fôssemos expulsos...
Olhei para os garotos.

- Severo tinha muito interesse de saber aonde eu ia todo mês. Estávamos no mesmo ano, entendem, e não... hum... (Como exemplificar a relação entre Severo e Tiago?) não nos gostávamos muito. Ele não gostava nada de Tiago. Ciúmes, acho eu, do talento de Tiago no campo de quadribol... em todo o caso, Snape tinha me visto atravessar os jardins com Madame Pomfrey certa noite quando ela me levava em direção ao Salgueiro Lutador para eu me transformar. Sirius achou que seria... hum... divertido, contar a Snape que ele só precisava apertar o nó no tronco da árvore com uma vara longa para conseguir entrar atrás de mim. Bem, é claro, que Snape foi experimentar, e se tivesse chegado até a casa teria encontrado um lobisomem adulto - mas seu pai, (me dirigi a Harry) que soube o que Sirius tinha feito, foi procurar Snape e puxou-o para fora, arriscando a própria vida... Snape, porém, me viu no fim do túnel. Dumbledore o proibiu de contar a quem quer que fosse, mas desde então ele ficou sabendo o que eu era...

Harry tinha uma expressão pensativa, como se finalmente estivesse compreendendo algo:

- Então é por isso que Snape não gosta do senhor, porque achou que o senhor estava participando da brincadeira?

- Isso mesmo, disse uma voz muito gelada que vinha atrás de mim.

Me virei imediatamente e dei de cara com ninguém menos que o próprio Severo, que apontava a varinha para meu peito. Pensei que era o meu fim.

¬¬¬

Fiquei paralisado, à espera do ataque de Severo. Ouvi o grito agudo de Hermione e vi Sirius se levantar rapidamente, pronto a me defender como sempre fazia. Aquela era a grande chance de Severo, e seria mil vezes mais difícil convencê-lo do que convencer os garotos.

- Encontrei isso ao pé do Salgueiro Lutador, ele disse, atirando a Capa da Invisibilidade de Tiago pro lado, sem deixar de me visar com a varinha. Muito útil, Potter, obrigado...

Nunca, em toda a nossa vida de estudantes, eu tinha visto Snape tão exultante.

- Vocês talvez estejam se perguntando como foi que eu soube que estavam aqui?, perguntou ele, a satisfação em cada palavra. Acabei de passar por sua sala, Lupin. Você esqueceu de tomar sua poção hoje à noite, então resolvi lhe levar um cálice. E foi uma sorte... sorte para mim, quero dizer. Encontrei em cima da sua mesa um certo mapa. Bastou uma olhada para me dizer tudo que eu precisava saber. Vi você correr por essa passagem e desaparecer de vista.

"Isso. Vai, Remo. E você ainda se diz professor e ex-Maroto, deixando o maldito mapa aberto dando sopa em cima da sua escrivaninha.", pensei, com muita raiva de mim mesmo.

- Severo..., eu falei. A única chance era convencê-lo de que estava sendo feita uma injustiça.

Mas Severo não parecia capaz de escutar, e me cortou:

- Eu disse ao diretor várias vezes que você estava ajudando o seu velho amigo Black a entrar no castelo, Lupin, e aqui tenho a prova. Nem mesmo eu poderia sonhar que você teria o topete de usar este lugar antigo como esconderijo...

- Severo, você está cometendo um engano, falei, tentando argumentar. Você não sabe de tudo, posso explicar, Sirius não está aqui para matar Harry...

- Mais dois para Azkaban esta noite. Vou ficar curioso para saber como é que Dumbledore vai encarar isso... Ele estava convencido de que você era inofensivo, sabe, Lupin... um lobisomem manso...

Eu vi naqueles olhos o mesmo brilho do garoto de dezesseis anos que me olhava assustado e com ódio. E eu sabia bem no que ele estava pensando.

- Seu tolo, falei, tentando ser compreensivo. Será que um ressentimento de criança é suficiente para mandar um homem inocente de volta a Azkaban?

Os efeitos da minha frase se mostraram imediatos. Cordas voaram da varinha de Severo, e, antes que eu pudesse reagir, me envolveram como teias, me amordaçando e amarrando. Perdi o equilíbrio e caí no chão imóvel. Tentando desesperadamente me livrar, pude ver Sirius avançar furioso para Severo, e este pousar a varinha exatamente entre seus olhos. Teria gemido se pudesse abrir a boca.

- É só me dar um motivo, disse Severo. É só me dar um motivo, e juro que faço.

Sirius parou. Seus olhos faiscavam de raiva. Eu tentava me libertar, mas sabia muito bem que, sem a varinha, seria impossível. Eu não podia deixar que Sirius fosse preso novamente, e, para complicar a situação, a assustadora lembrança de que, se ele fosse pego, levaria um beijo do dementador, me assaltou. Me sacudi.

Creio que, se estivéssemos só eu e Sirius, teríamos morrido. Mas, para nossa sorte, tínhamos em nossa companhia três adolescentes corajosos, que não iriam deixar que fôssemos levados antes que pudéssemos terminar de explicar a nossa versão da história.

Por trás das cordas e do meu desespero, consegui ver Hermione e ouvir sua voz hesitante:

- Professor... não faria mal ouvirmos o que eles têm a dizer, f... faria?

- Senhorita Granger, a senhorita já vai enfrentar uma suspensão, disse Severo, a voz plena de irritação. A senhorita, Potter e Weasley estão fora dos limites da escola em companhia de um criminoso sentenciado e de um lobisomem. (Seria engraçado se não fosse tão grave.) Pelo menos uma vez na sua vida, cale a boca.

- Mas se... se houve um engano...

Severo estava descontrolado.

- FIQUE QUIETA, SUA BURRINHA! NÃO FALE DO QUE NÃO ENTENDE!

Fagulhas voaram de sua varinha, que ele mantinha entre os olhos de Sirius. Com medo de que ele fizesse algo, ele se calou.

Severo olhou para Sirius, deliciando-se com o momento, com o triunfo.

- A vingança é muito doce, pude ouvi-lo sussurrar. Como desejei ter o privilégio de apanhá-lo...

A voz de Sirius soou confiante como sempre:

- Você é que vai fazer papel de tolo outra vez, Severo. Se esse menino levar o rato dele até o castelo, eu vou sem criar caso...

- Até o castelo?, a voz de Severo era suave, no seu tom mais perigoso. Acho que não precisamos ir tão longe. Basta eu chamar os dementadores quando saírmos do salgueiro. Eles vão ficar muito satisfeitos em vê-lo, Black... satisfeitos o suficiente para lhe dar um beijinho, eu me arriscaria a dizer...

Sirius provavelmente não sabia do decreto do Ministério, e vi seus últimos vestígios de confiança se apagarem, quando olhou para mim, no chão. Ele também percebeu que a única chance de escapatória era convencer Severo.

- Você... você tem que ouvir o que tenho a dizer... O rato... olhe aquele rato...

Mas não, Severo não escutaria nada. Severo estava temporiarmente surdo a qualquer palavra nossa.

- Vamos todos, ele falou, estalando os dedos.

Num tranco desgagradável, as pontas das cordas que me envolviam foram até suas mãos, e ele me puxou. A sensação não foi nada boa, sentir todo o seu corpo sendo arrastado por cordas finas que marcam sua pele.

- Eu puxo o lobisomem. Talvez os dementadores tenham um beijo para ele também...

Fechei os olhos por um instante, imaginando os poucos pedaços que restavam da minha alma sendo sugados. Quando tornei a abri-los, vi, para minha surpresa, Harry, parado diante da porta em atitude de desafio.

- Saia da frente, Potter, você já está suficientemente encrencado, disse Severo. Se eu não estivesse aqui para salvar sua pele...

- O Prof. Lupin poderia ter me matado cem vezes este ano. Estive sozinho com ele mntes de vezes, tomando aulas de defesa contra dementadores. Se ele estava ajudando Black, por que não me liquidou logo?

Senti alívio e até comoção ao ver que ele me defendia.

- Não me peça para imaginar como funciona a cabeça de um lobisomem, sibilou, porém, Severo. Saia da frente, Potter.

Harry estava tremendamente exaltado naquele dia, e sua voz se alteou muito:

- O SENHOR É PATÉTICO! SÓ PORQUE ELES FIZERAM O SENHOR DE BOBO NA ESCOLA, O SENHOR NÃO QUER NEM ESCUTAR...

- SILÊNCIO! NÃO ADMITO QUE FALEM ASSIM COMIGO!, gritou Severo, tão descontrolado quanto Harry. Tal pai tão filho, Potter! Acabei de salvar seu pescoço; você devia me agradecer de joelhos! Teria sido bem feito se Black o tivesse matado! Você teria morrido como seu pai, arrogante demais para acreditar que poderia ter se enganado com um amigo... agora saia da frente ou eu vou fazer você sair. SAIA DA FRENTE, POTTER!

No instante seguinte, três vozes unidas gritavam:

- Expelliarmus!

Eu fui atirado de cara para o chão. Pude ouvir uma explosão, um barulho muito forte, um choque contra a pedra, e só o que eu tive consciência foi que a pressão das cordas se afrouxou decididamente, até perceber que estávamos salvos de Severo.

Pude ouvir a voz de Sirius, reprovando:

- Você não devia ter feito isso... Devia tê-lo deixado comigo...`
"Típico de Sirius. Resolver tudo sozinho.", pensei, lutando contra as cordas que me prendiam.

Consegui virar de barriga para cima e ouvi os gemidos chorosos de Hermione:

- Atacamos um professor... Atacamos um professor... Ah, vamos nos meter numa confusão tão grande...

Comecei a me socar para me libertar, mas Sirius se adiantou e me soltou, preocupado. Tranquilizei-o com um olhar, me levantando e esfregando os pulsos doloridos.

- Obrigado, Harry, agradeci.

- Não estou dizendo com isso que já acredito no senhor, advertiu-me Harry.

- Então está na hora de lhe apresentarmos alguma prova.

Me adiantei a Rony, pedindo:

- Você, garoto... me dê o Pedro, por favor. Agora.

N.A.: Agora só no próximo capítulo!!

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