Sirius na Torre da Grifinória
N.A.: Valeu por quem comentou e ainda está acompanhando!
Naquela tarde, eu tinha um período livre, logo às quatro. Então, corri para dar uma passadinha em Hogsmeade, passando rapidamente pelos dementadores. A vila ficou entregue às traças, com os visitantes de Azkaban. Entrei no Três Vassouras e dei de cara com Madame Rosmerta.
- Ora, ora, quem é vivo sempre aparece! Se não é Remo Lupin!, disse ela contente, provavelmente lembrando dos meus tempos de Maroto.
- E se não é Madame Rosmerta, elegante como sempre!, cumprimentei em tom cordial.
Não sei exatamente como eu conseguia sorrir. Estava me sentindo como se eu tivesse sido atacado por um dementador.
- Então, faz tempo, hein? O que anda fazendo por aqui?
- Ora, não sabe que virei professor?
- Professor?, surpreendeu-se Madame Rosmerta.
- É, fui contratado por Dumbledore. Defesa Contra as Artes das Trevas.
Madame Rosmerta estava bastante surpresa, e daí encetamos uma conversa sobre os dementadores e os tempos de antigamente, que me deixou com muito mal-estar, mas consegui esconder tudo atrás de um sorriso.
- Mas, então, Prof. Lupin, quer alguma coisa?
- Ah, sim, eu queria, eu disse, lembrando do meu objetivo inicial. Uma garrafinha de cerveja amanteigada, pra levar. Aliás, duas.
- Matar a sede?
- É, às vezes a gente precisa.
No final, acabei levando duas garrafinhas a tempo de chegar para o jantar. Comprei duas, pois lembrei de Harry. Como nunca fora a Hogsmeade, provavelmente nunca provara dessa maravilha criada pelos bruxos chamada cerveja amanteigada.
Tivemos a aula, à noite, e eu percebi que Harry se sentia muito frustrado. Ele continuava conseguindo manter um vulto informe, repelindo por algum tempo o dementador, mas estava irritado porque não conseguia passar adiante, fazer o Patrono tomar forma corpórea.
- Você está esperando demais de si mesmo, eu o repreendi. Para um bruxo de treze anos, até mesmo um Patrono pouco nítido é um grande feito. Você não está desmaiando mais, não é?
Harry me lançou um olhar desanimado muito parecido com o que Tiago lançava a nós quando levava um fora de Lílian.
- Eu pensei que um Patrono... transformasse os dementadores em alguma coisa, ele me disse, a voz cheia de desânimo. Fizesse-os desaparecer...
Tentei consolá-lo:
- O verdadeiro Patrono de fato faz isso. Mas você já conseguiu muito em pouquíssimo tempo. Se os dementadores aparecerem na sua próxima partida de quadribol, você poderá mantê-los à distância tempo suficiente para voltar ao chão.
- O senhor disse que é mais difícil quando há um monte deles, disse Harry com um leve tom de acusação na voz.
- Tenho total confiança em você, falei, com um sorriso, indo apanhar a cerveja amanteigada. Tome... você mereceu uma bebida, uma coisa do Três Vassouras. Você não deve ter provado antes...
Eu estava meio sem jeito, quando tirei as garrafinhas da mala, mas ele disse, para minha surpresa:
- Cerveja amanteigada! Ah, eu gosto disso!
Olhei para ele. Será que ele já estivera em Hogsmeade?
- Ah... Rony e Hermione trouxeram para mim de Hogsmeade, ele disse.
Muito rápido.
- Entendo, eu disse, para evitar o assunto. Bem... vamos brindar à vitória de Grifinória sobre Corvinal! Não que, como professor, eu deva tomar partido..., acrescentei.
Vi Harry se abrir num sorriso, e senti uma leve alegria íntima. Enquanto bebíamos a cerveja amanteigada, vi o rosto de Harry ir se contraindo numa expressão intrigada, e esperei a pergunta:
- Que é que tem por baixo do capuz do dementador?
Parecia até que ele sabia.
- Hummm... bem, as únicas pessoas que realmente sabem não estão em condições de nos responder. Veja, o dementador tira o capuz somente para usar sua última arma, a pior.
- Que é qual?
- O beijo do dementador, eu disse, com um sorriso meio amargurado. É o que dão naqueles que querem destruir completamente. Suponho que devam ter algum tipo de boca sob o capuz, porque ferram as mandíbulas na boca da vítima... e sugam sua alma.
Harry se engasgou. Acho que não esperava isso.
- Quê... eles matam...?
Meu sorriso era cada vez mais amargo.
- Ah, não. Fazem muito pior. A pessoa pode viver sem alma, sabe, desde que o cérebro e o coração continuem a trabalhar. Mas perde a consciência do eu, a memória... tudo. Não tem chance alguma de se recuperar. Apenas... existe. Como uma concha vazia. E a alma fica para sempre... perdida.
Eu precisava contar para alguém. Bebi um gole da cerveja, e falei o que estava me entalando a garganta, porém com um tom descontraído e profissional:
- É o destino que espera Sirius Black. Li no Profeta Diário hoje de manhã. O ministro deu aos dementadores permissão para fazerem isso se o encontrarem.
O rosto de Harry, por um instante, permaneceu pensativo. Mas depois uma expressão muito sombria surgiu em seu rosto.
- Ele merece, disse.
- Você acha?, perguntei, dolorido. Você acha mesmo que alguém merece isso?
- Acho, disse Harry. Por... causa de umas coisas...
Ele mergulhou em silêncio, e eu fiquei encarando-o. Ele sabia que Tiago Potter e Sirius Black eram amigos. Quanto mais saberia? Saberia que Sirius Black era um traidor? Saberia que seu pai havia morrido porque o melhor amigo o entregara?
Ele apenas se despediu de mim e foi embora. Creio que estava meio perturbado, talvez. Não mais do que eu. Sentia uma grande necessidade de extravasar, de chorar até me acabar, e deixem as lágrimas correrem livres pelo meu rosto, me proporcionando secreto alívio.
Fui até a janela e comecei a admirar a paisagem noturna; infeliz, morto por dentro, como se fosse eu quem estivesse esperando por um dementador. Em algum lugar, Sirius Black estava prestes a ter um destino terrível, mais cedo ou mais tarde. Por que eu estava chorando?
Olhei para o jardim, e, para meu completo desagrado, vi, encoberto por uma moita, dois olhos claros, acizentados, que brilhavam na escuridão.
- Me deixe em paz!, exclamei para a noite.
Num gesto trêmulo, sentindo minhas mãos descontroladas, fechei a janela e me larguei ali na sala de História da Magia, desejando que um raio caísse em cima de mim e me partisse ao meio.
¬¬¬
No sábado, aconteceu o jogo de Grifinória X Corvinal, e fui um dos três professores que assistiram, preocupado com o estado de Harry.
Foi um jogo excelente, como os que eu não via há muito tempo, quando Tiago era o apanhador. A Grifinória ganhou de 230 a 30, havendo uma entusiasmada disputa pelo pomo entre os apanhadores, Harry e Cho Chang.
O ponto alto do jogo foi quando três dementadores encapuzados entraram no campo. Eu, McGonagall e Flitwick pulamos da arquibancada, mas Harry nem hesitou: lá de cima, lançou um Patrono, que veio atingir as criaturas no chão e os fez caírem. Quando chegamos perto, descobrimos que não eram dementadores, e sim o garoto Malfoy, seus amigos Crabbe, Goyle e o capitão do time da Sonserina, Flint. Nunca vi McGonagall tão furiosa.
Apesar de todas as risadas e a felicidade, uma nuvem negra pairava sobre a minha cabeça, e ela não tinha a menor relação com a lua cheia que se aproximava cada vez mais. Um mau pressentimento. E ele veio a se confirmar, naquela noite.
¬¬¬
Lá estava eu, insone, preparando aulas sobre a luz de uma luminária e massageando o peito para tentar fazer sumir a má sensação que se avolumava. Era como se, a qualquer momento, Sirius Black fosse pular em cima de minha cabeça.
De repente, Severo entrou na minha sala sem sequer bater na porta, lançando olhares a cada canto de meu aposento escuro.
- Posso ajudar, Severo?, perguntei.
- Black.
Gelei.
- O que tem Sirius?
- Apareceu de novo. Na Torre da Grifinória. Com uma faca. Quase matou os garotos no dormitório do Potter, mas felizmente, o Weasley acordou e deu o alarme antes que ele pudesse fazer algo.
O "felizmente" dele não me parecia muito sincero. Mas eu estava atordoado demais para pensar nisso.
- E... ele machucou alguém?..., perguntei, alarmado, me levantando.
- Não. Black fugiu quando Weasley deu o alarme. Vim ver se não escondeu seu amiguinho.
Minha face corou de indignação.
- Eu nunca esconderia Sirius Black na minha sala, Severo, disse, com a voz mais tranqüila do que eu pretendia. E estou acordado há horas. Se Black tivesse entrado, eu o teria visto.
Neste instante, por trás de Severo, surgiu Alvo.
- Remo, Severo já lhe contou o que aconteceu?
- Já, eu disse, lacônico.
- Então nos acompanhe na busca, por favor.
Concordei silenciosamente com a cabeça, e saí, depois de trancar todas as janelas e a porta com um "Alorromora".
Segui Dumbledore e Severo pelo corredor. Foi quando ouvi um uivo.
Um uivo terrivelmente dolorido, cujas notas graves ressoaram no meu coração como dedos por cordas. Sem pensar no que estava fazendo, corri até a primeira janela que apareceu na minha frente.
- Sirius..., murmurei, baixinho, sentindo o meu coração doer.
- Aconteceu alguma coisa, Remo?, perguntou Severo com um sorriso nada agradável no rosto.
Aquele sorriso que ele dá quando você se meteu numa baita encrenca.
- Não, Severo, pensei ter ouvido algo lá fora, eu disse.
Olhei para a Floresta e sugeri, para me redimir aos olhos de Dumbledore:
- Já pensaram em procurarmos na Floresta Proibida?
Dumbledore olhou para mim com vestígios de surpresa, mas Severo, sem saber que estava me ajudando, falou:
- Sem condições, Lupin. Primeiro, Black não teria tempo de se meter dentro da Floresta Proibida, segundo, que alertamos os centauros para ficarem de olho se qualquer pessoa com o perfil de Black aparecer andando por ali.
- Sirius tem um grande conhecimento da Floresta Proibida, falei, insistindo. No nosso tempo de colégio, ele e Tiago viviam entrando lá para detenções.
- Concordo com Severo, disse Dumbledore, em um tom conclusivo. Magoriano ficou de nos avisar se vir qualquer coisa, então poderemos dar buscas na Floresta.
Suspirei. Seria muito difícil que eles reconhecessem Sirius, em forma de cão. Mas, no fundo, também tive um pouco de alívio. Sirius poderia escapar.
- Então vamos falar com a Profª Trelawney, eu sugeri. Sirius pode ter se escondido na sala dela.
- Vá, Remo. Severo, você vai até a sua sala, nas masmorras. Eu vou ver se Minerva teve algum resultado.
E lá fui eu para a Torre Norte, antigo lugar de aulas de Adivinhação. Nunca cursei Adivinhação. Sirius e Tiago cursavam, e, pelo que se dizia, faziam a maior bagunça. Apesar disso, tiraram Ótimo nos NOMs, não me pergunte como.
Cheguei aos pés do alçapão que dava para a sala da Profª Sibila Trelawney, minha colega, que ensinava Adivinhação. Eu, pessoalmente, compartilhava da opinião de McGonagall, de que a Profª Trelawney não passava de uma charlatã. Aliás, achava que qualquer tipo de Adivinhação do futuro era charlatanismo.
A escada prateada que leva até a sala de Trelawney se abriu para mim e eu subi, dando de cara com a sala de Adivinhação, cheia de pufes, às escuras. Desde a última vez que eu passara lá, para esperar Tiago e Sirius, com meus quinze anos, a sala adquirira uma fragrância sufocante vinda da lareira, além de artigos místicos sortidos, como bolas de cristal em cima das carteiras.
- Procurando seu destino, meu caro Prof. Lupin?, perguntou a mim uma voz vinda das sombras.
Me virei subitamente, e dei de cara com a Profª Trelawney, me olhando de trás de seus grandes óculos que a faziam ficar com uma aparência de libélula.
- Não, na verdade, não, eu disse, tentando ser cortês. Esteve acordada até agora, professora?
- Sim, estive, disse ela num sussurro místico. Tentando desvendar os movimentos do destino... Estão muito fortes hoje à noite.
- Eh, bem, eu disse, sem graça, então, por acaso você viu Sirius Black hoje?
- Sirius Black?, repetiu ela com uma voz estranhamente distante. Não. Sirius Black não esteve aqui. Por que estaria?
- Bem, ele apareceu na Torre da Grifinória, com uma faca, mas um aluno deu o alarme antes que ele pudesse machucar alguém, e ele foi embora.
- Entendo, disse a Profª Trelawney com um suspiro. Bem, não, aqui ele não esteve. Mas, já que está aqui, Prof. Lupin, deseja que eu consulte a bola de cristal? Sinto vibrações místicas em torno de você, hoje.
- Bem, eh, eu...
- Sente-se ali, por favor.
Sentindo que não haveria como sair dali sem ser indelicado, acabei me sentando. Afinal, era só fingir que estava ouvindo o que ela tinha a dizer.
Trelawney se sentou diante da bola de cristal, e começou a fazer movimentos com as mãos em torno da bola. Reprimi um bocejo.
Os olhos dela ficaram do tamanho de pratos.
- Vejo sombras negras no seu destino...
- Ah, é?, perguntei, desinteressado.
Ela nem notou.
- Uma Lua. Uma Lua Cheia, redonda no céu... E um cão negro...
A menção ao cão negro me assustou, e me recompus na cadeira.
- Um cão negro?
- Sim..., disse Trelawney, os olhos cada vez maiores. Um rato... dementadores, meu Deus, muitos, muitos dementadores...
Eu agora prestava a mais dedicada atenção.
- Um lance muito importante da vida será dado... Você vai resolver problemas do passado... Problemas não-solucionados... E descobrir coisas que você não imaginava serem possíveis... Ah, não. Ah, Merlin... Não...
- O quê, o quê?, perguntei, aturdido.
- Por Merlin... você tem...
- Prof. Lupin, Prof. Lupin!
Era ninguém menos que Nick-Quase-Sem-Cabeça, entrando pelo chão da Sala de Adivinhação.
- Prof. Lupin, o Prof. Snape mandou perguntar se você teve algum sucesso!
Era perseguição de Snape, só podia ser.
- Não, Nick. Diga a Snape que não encontrei Black, mas que vou continuar procurando.
Nick fez um aceno afirmativo com a cabeça, e partiu para o chão. O lembrete de Severo me fez lembrar do que eu deveria estar fazendo.
- Adorei a conversa, Sibila, porém tenho que continuar a busca.
- Mas, Prof. Lupin, estamos vendo revelações impressionantes sobre o seu destino!
- Eu sei, mas realmente preciso procurar Black... Me perdoe... Outra hora passo aqui para conversarmos direitinho, está bem assim?
E saí antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.
¬¬¬
Sirius novamente escapou, e a vigilância contra ele aumentou drasticamente. Filch andava para lá e para cá com tábuas, pregando cada minúsculo buraco, e fechando um bom número de atalhos. Ficava mais difícil para mim ter que aprender a transitar novamente pelos caminhos normais, mas acabei me acostumando. A Mulher Gorda voltou à Torre da Grifinória, mas agora era cercada por uma equipe de trasgos de segurança. Sirius não tinha mais como entrar na Torre.
O julgamento do caso do hipogrifo de Hagrid, Bicuço, se aproximava, e com ele a apreensão do meu colega, o medo que o bicho fosse condenado. Eu procurava levantar o seu ânimo, tentando infundir-lhe uma confiança que eu mesmo não tinha, mas o bom-humor do meu amigo ia decaindo conforme os dias passavam, até que na sexta-feira, 4 de abril, ele recebeu uma licença de Dumbledore para ir ao julgamento.
Fui me despedir dele no fim da tarde, vendo-o partir tristemente para o Nôitibus Andante, levando Bicuço pela corda.
- Então vai indo, Hagrid?, perguntei-lhe.
- Vou sim, professor, disse Hagrid com um sorriso desanimado. Espero que eu tenha alguma chance...
- Terá, falei com firmeza. Você vai ver, ele vai se salvar.
- Espero, professor. Realmente espero. Até domingo.
- Até domingo, falei, dando um tapinha no seu braço. Mantenha a calma, e a clareza nos pensamentos.
- Obrigado.
Ele entrou no ônibus (que se sacudiu todo), com o hipogrifo. Vi Lalau Shunpike, o condutor do Nôitibus, recuar diante do hipogrifo, e logo após o ônibus deu a partida e lá se foi, sacudindo até desaparecer na estrada.
Mas aquele final de semana me reservava surpresas.
Visita a Hogsmeade, naquela tarde. O castelo extremamente calmo, sem ruídos a não ser os pés agitados de alguns aluninhos que corriam para lá e para cá. Uma tarde perfeita para preparar as aulas do mês que vem. Se duvidar, poderia preparar as aulas até o final do trimestre. Pelo menos era o que eu pensava.
Por volta das quatro da tarde, já tendo eu preparado aulas para todo o mês, a minha lareira acendeu de repente com um crepitar estranho, e uma voz sibilante ressoou, ecoando pelas paredes de pedra:
- Lupin! Quero dar uma palavrinha com você!
Reconheci o chamado tão amigável de meu colega Severo, me levantei com um suspiro e entrei na lareira. Pouco depois, estava em plenos aposentos de Snape, onde se achava o mesmo e também Harry, me olhando com uma expressão entre surpresa e intrigada.
- Você me chamou, Severo?, perguntei, tirando as cinzas das minhas vestes.
- Claro que chamei, respondeu Severo com grosseria. Acabei de pedir a Potter para esvaziar os bolsos. Ele trazia isso com ele.
Qual não foi a minha surpresa, quando, diante dos meus olhos, surge o Mapa do Maroto? E pior, com várias palavras contra Severo escritas, assinadas por mim e por meus amigos?
- E daí?, perguntou Snape.
Continuei olhando o mapa, tentando pensar. OK, Harry se metera numa enrascada. Estava segurando aquilo. Provavelmente tinha ido a Hogsmeade e tinha sido descoberto. Agora eu tinha que arrumar um meio de tirá-lo da encrenca, pois encrenca entre Harry e Severo significaria no mínimo uma suspensão. Ao mesmo tempo, não pude deixar de lamentar a irresponsabilidade do garoto.
- E então?, insistiu Severo. Era óbvio que ele tinha reconhecido nossos apelidos naquele mapa. Este pergaminho obviamente está repleto de magia negra. Pelo visto isto é a sua especialidade, Lupin. Onde você acha que Potter arrumou uma coisa dessas?
Olhei para Harry e fiz um sinal discreto para que não me interrompesse. Dessa vez, iria encobri-lo.
- Repleto de magia negra? É isso mesmo que você acha, Severo? A mim parece apenas um mero pedaço de pergaminho que insulta quem o lê. Infantil, mas com certeza nada perigoso. Imagino que Harry o tenha comprado em uma loja de logros e brincadeiras...
Severo olhou para mim com visível raiva, talvez estranhando como eu poderia ser tão cínico.
- Verdade? Você acha que uma loja de logros e brincadeiras podia ter vendido a ele uma coisa dessas? Você não acha que é mais provável que ele o tenha obtido diretamente dos fabricantes?
Segurei o riso, tentando me manter concentrado. Sabia que iria provocar muita raiva em Severo.
- Você quer dizer, do Sr. Rabicho ou um dos outros? Harry, você conhece algum desses homens?, perguntei ao garoto.
- Não, disse Harry.
Como eu esperava. De algum meio, o mapa tinha chegado em suas mãos sem que ele soubesse que o seu pai o fabricara.
- Está vendo, Severo?, perguntei. O importante era que Severo não conseguisse provar nada. A mim parece um produto da Zonko's...
Nesse instante, para completar a minha defesa, Rony Weasley irrompeu na sala como um furacão. Parecia que tinha corrido todo o caminho de Hogsmeade até ali, e falou com a voz ofegante:
- Eu... dei... isso... a... Harry... Comprei... na Zonko's... há... séculos...
Respirei aliviado.
- Bem!, eu disse, com uma palma animada. Isso parece esclarecer tudo! Severo, vou devolver isto, posso?, eu disse, guardando o mapa nas vestes, falando rápido para que Severo não tivesse tempo de protestar. Harry e Rony, venham comigo, preciso dar uma palavra sobre a redação dos vampiros, você nos dá licença, Severo...
Saí levando Harry e Rony antes que Severo pudesse falar algo. Acho que ele ainda estava tentando entender o que aconteceu, ou superar a raiva, de eu ter feito Harry escapar sem que ele pudesse juntar alguma prova.
Mas eu estava tremendamente aborrecido. Numa dessas, Sirius poderia tê-lo pego. Sirius sabia muito bem como ir a Hogsmeade. E se aquele mapa caísse nas mãos de Sirius, ele saberia como usá-lo, e eu me arrepio de pensar no proveito que ele tiraria da situação.
- Professor, eu, disse Harry.
- Não quero explicações, cortei ríspido.
Olhei para o saguão vazio, torcendo para que ninguém nos ouvisse, e comecei a repreender Harry.
- Por acaso eu sei que este mapa foi confiscado pelo Sr. Filch há muitos anos. É, eu sei que é um mapa, acrescentei, vendo o espanto de Harry e Rony. Não quero saber como você o obteve. Estou abismado, no entanto, que não o tenha entregado a alguém responsável. Especialmente depois do que acontecu na última vez que um aluno deixou uma informação sobre o castelo largada por aí. E não posso deixar você ficar com o mapa, Harry, concluí, pois vi que ele parecia querer protestar.
O olhar de Harry parecia muito com o meu, e as irresponsabilidades que cometi quando tinha a sua idade fizeram eu, meus amigos e mais pessoas correrem perigo. Eu não poderia deixar aquele garoto cometer os mesmos erros com a sua vida. Se deixasse Sirius pegá-lo, nunca me perdoaria.
- Por que Snape achou que eu tinha obtido o mapa dos fabricantes?, perguntou Harry.
O que dizer?
- Porque... porque a intenção desses fabricantes de mapas era atraí-lo para fora da escola. Teriam achado isso muitíssimo divertido.
Não consegui deixar de me lembrar do entusiasmo de Tiago fazendo o mapa.
- O senhor os conhece?, perguntou Harry com os olhos arregalados.
"Não fale, não fale..."
- Já nos encontramos, eu disse conclusivo, deixando claro que não queria continuar o assunto.
Olhei muito sério para Harry. "Não, Harry, você não vai cometer os mesmos erros que eu."
- Não espere que lhe dê cobertura outra vez, Harry. Não posso fazer você levar Sirius Black a sério. Mas eu teria pensado que o que você ouve quando os dementadores se aproximam teria produzido algum efeito em você. Os seus pais deram a vida para mantê-lo vivo, Harry. É uma retribuição indigente, trocar o sacrifício deles por uma saca de truques mágicos.
Evitei encarar o garoto, sentindo um nó apertar na minha garganta, e me afastei. O Mapa do Maroto estava de volta, mas eu não sentia alegria. Estava decepcionado, aborrecido, e pensando em Sirius. No que Sirius poderia ter feito. E se eu tinha direito de repreender Harry, se eu tinha nas mãos a chave para prender Sirius e não a usava.
N.A.: Comentem!
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