Indecisão



N.A.: É, depois de quase um mês, aí vai o capítulo 12!

Desde o quinto ano da Corvinal, que era a minha primeira turma de segunda-feira, até o primeiro ano da Sonserina, minha última turma de sexta-feira, provei que Defesa Contra as Artes das Trevas não seria o que eles estavam esperando. Fiquei muito satisfeito ao vê-los, ao final de cada aula, comentando tudo o que eu mostrara com assombro.

Uma aula particularmente interessante foi a do terceiro ano da Grifinória, em que fiz cada um enfrentar um bicho-papão, exatamente como Stanley Smith tinha feito quando eu tinha treze anos. Foram todos muito bem, saíram comentando a aula. Apenas fiquei um pouco chateado com Severo pelo que ele havia feito com o filho de Alice e Frank, Neville. Já haviam me contado que ele era um garoto fraco, mas Severo realmente fazia uma terrível pressão psicológica no menino, falando mal dele na minha frente. Não me surpreende que o menino tenha uma tão baixa auto-estima. Imagino o que Frank falaria se estivesse bem, por isso tentei levantar a moral de Neville, ajudando-o a enfrentar o bicho-papão. Ele saiu rindo feliz.

Também não deixei Harry atuar durante essa lição. Eu não havia pensado nisso, porém, na hora em que vi o filho de Tiago fechar os olhos, pensei em Voldemort. Voldemort era o que deveria causar mais medo em Harry... E não só em Harry. Se aqueles meninos vissem O Lorde das Trevas, iriam entrar em pânico. Por isso o impedi de enfrentar o bicho, transformando o dito em uma lua. Vi a expressão intrigada em seu rosto, tão semelhante à que Tiago fazia.

Em pouco tempo, comecei a conquistar os alunos. Ouvia muitos falando que Defesa Contra as Artes das Trevas havia se tornado sua matéria preferida, e só alguns alunos da Sonserina, entre eles Draco Malfoy, o filho de Lúcio (o que explica a semelhança do rosto pálido e fino), diziam que eu me vestia mal. Entre os outros, porém, ninguém mais se importava, e, toda noite, eu sorria satisfeito para o meu travesseiro.

Dias depois, fui visitar Hagrid, como costumava fazer em minha época de colégio. Ele ficou alegre ao me ver entrar em sua velha cabana, porém via-se tristeza em seu semblante. A um canto, um hipogrifo prateado deitado, roendo um resto do que parecia ser um osso de boi. Lancei um olhar interrogativo ao meu amigo, que olhou emocionado para o "bichinho".

- Meu hipogrifo. Bicuço, o nome dele. Bonitinho, não é?

Eu fiz que sim com a cabeça, tentando encorajá-lo a me contar o que estava escondendo, e que provavelmente teria relação com o hipogrifo.

- Soube do que aconteceu?..., ele me perguntou inseguro. Com Malfoy?

- Não... Eu percebi que ele está avariado...

- Foi... Bicucinho que fez isso... Harry, Rony e Hermione dizem que ele não tem culpa... Que Malfoy o provocou... Mas... Bicucinho vai ser julgado pela Comissão de Eliminação para Criaturas Perigosas... e...

Hagrid desabou em lágrimas, e eu procurei consolá-lo da melhor forma que pude, dando palmadinhas desajeitadas em seu braço.

- Calma, Hagrid... Se foi o que realmente aconteceu, se realmente Draco Malfoy provocou, você poderá provar...

- Os meninos disseram que vão me ajudar...

Eu sabia da profunda ligação que Hagrid tinha com Harry e os outros meninos. Era mais forte até do que envolvia ele e nós, os Marotos. Ele levara o pequeno Harry naquela noite, dirigindo a velha moto de Sirius até a Rua dos Alfeneiros. Ele tinha uma verdadeira ligação, quase de pai para filho, com o garoto. Era comovente ver como Hagrid falava do menino.

Consolei Hagrid o quanto pude, dizendo inclusive que o bicho era muito bonito, e que ele devia tê-lo criado realmente bem. Depois, passei a comentar sobre as outras criaturas mágicas do colégio - os Testrálios, os unicórnios, que eu andara vendo. Indo a um assunto que realmente o agradava, ficamos conversando por cerca de uma hora, até que ele finalmente dirigiu a conversa para um ponto que não me deixava à vontade.

- E você, hein, Remo?

- Hã?, eu falei.

- Você me consolou com muita boa vontade e eu agradeço. Mas não é você que precisa de um consolo?

- Não entendo o que quer dizer, Hagrid, eu disse, desviando o olhar daqueles olhos negros e estranhamente acusadores.

- Sirius Black.

Eu tremi involuntariamente.

- Ah, Hagrid, não gosto de falar sobre esse assunto.

- Como queira, disse o guarda-caça. Mas acho que este ano você vai enfrentar suas coisas mal-resolvidas, Remo.

- Por que diz isso?, perguntei, incomodado.

- Veja tudo o que está acontecendo. Você volta a Hogwarts. Encontra Harry. Black foge. Tudo parece que está se encaminhando para que você possa resolver seus problemas inacabados em relação aos seus amigos.

- Não há problemas inacabados, eu disse firme. Tiago está morto, Lílian está morta, Pedro está morto e Sirius por aí, até ser pego pelos dementadores, o que não vai demorar nada.

- Se você pensa assim, disse Hagrid. Mas eu lhe digo uma coisa: Black que não tente pôr as mãos sujas em Harry. Eu não vou responder por mim.

- Eu não vou permitir que ele chegue perto de Harry, eu disse. É um favor que eu devo a Tiago. É um favor que eu devo a Lílian. E a Pedro. Deixar que Sirius entregue Harry, é deixá-los todos decepcionados, depois de terem se sacrificado. Se eu encontrar Sirius...

A minha voz se tornara dura como ferro; e o modo como minha mão apertou a varinha, como se eu tivesse aço em vez de ossos por baixo da pele, me deixou claro algo: se eu encontrasse Sirius, seria até capaz de matá-lo.

De repente, Hagrid olhou o relógio e disse:

- Está quase na hora do jantar, professor. Você vem?

- Sim, vamos, eu disse, recuperando a lucidez que eu perdera momentaneamente.

Hagrid me ajudou a me erguer (sim, Remo Lupin está começando a sofrer de reumatismo - a licantropia acelera um pouco meu desgaste físico, suponho), e saímos.

Anoitecia. Os últimos nuances do sol poente enchiam o céu de belas cores. Eu olhei mais uma vez para a cabana de Hagrid.

E então, senti como se meu coração tivesse parado.

Junto à porta da cabana, um enorme cão negro de olhos claros olhava para mim, iluminado pela claridade dourada do sol poente. Apenas me lançou um olhar; um olhar quase de piedade, um olhar que parecia... pedir perdão...

- Remo?

Era a voz de Hagrid, que soou em meus ouvidos como se estivesse muito distante.

- Eh... Você está bem?, perguntou ele, se aproximando e tocando meu ombro.

Eu sacudi a cabeça.

- Ah... Tá certo... Eu só pensei ter visto algo.

Foi apenas uma alucinação, Remo Lupin. Apenas uma visão esquisita. Você estava perturbado pela conversa com Hagrid. Só isso. Mas parecia tão real...

- Maldito seja, Sirius Black, resmunguei para mim mesmo, tomando com Hagrid o caminho do castelo.

- O quê disse?

- Nada.

¬¬¬

Se aproximou a data do Dia das Bruxas. Seria um sábado muito tranqüilo no castelo; quase não haveria alunos, exceto alguns do primeiro e segundo ano, trancados em suas Salas Comunais, pois havia visita a Hogsmeade, e eu esperava a vinda de um grindylow para estudar com os alunos do terceiro ano.

Me entregaram o grindylow logo após o almoço, e eu deixei a criatura em cima da mesa, enquanto lia um livro e pensava como cairia bem uma xícara daquele bom chá de camomila.

Ouvi passos indecisos fora da minha sala. Imaginando que fosse Severo, vindo me trazer a Poção de Acônito, saí para espiar e dei com Harry, solitário, andando pelo corredor. Parecia que chegara a oportunidade que eu esperava há tempos, de poder falar-lhe a sós, conhecê-lo um pouco melhor. Lembrei também de McGonagall, me contando a curiosa história das folhas de chá. Segundo ela, nossa colega Sibila Trelawney (que estava no primeiro ano quando estávamos no quinto e sempre tinha sido esquisita), havia predito a morte de Harry nas folhas de chá. Eu, sinceramente, achava tudo aquilo uma bobagem, mas não pude deixar rir vendo a irritação de McGonagall.

- Harry?, chamei o garoto.

Harry, que estava de costas para mim, virou-se.

- Que é que você está fazendo?, perguntei. Onde estão Rony e Hermione?

- Hogsmeade, ele me respondeu, numa voz estranha.

Percebi que ele devia ter estado com vontade de ir a Hogsmeade, porém não podia. Não tenho certeza se foi uma medida adicional do Ministério, ou se os parentes de Lílian com quem ele vive não permitiram.

- Ah, eu disse, tentando não deixar transparecer que percebera. Por que você não entra? Estive aguardando a entrega de um grindylow para a nossa próxima aula.

- De um o quê?, perguntou Harry e fiquei satisfeito em ver que ele estava interessado.

Fiz um sinal para que ele entrasse, e ele atendeu, olhando curioso para o tanque onde a criatura estava.

- Demônio aquático, expliquei. Não deve nos dar muito trabalho, não depois dos kappas. O truque é deixar as mãos deles sem ação. Reparou nos dedos anormalmente compridos? Fortes mas muito quebradiços.

Como que para ilustrar minha explicação, o grindylow arreganhou os dentes. Comecei a procurar a chaleira.

- Xícara de chá?, ofereci. Eu estava mesmo pensando em preparar uma.

- Tudo bem, disse o garoto.

Tão parecido com Tiago, e, ao mesmo tempo, diferente. Lembraria mais a mim, quando estávamos no colegial. É lógico que ele não precisaria de muitos motivos para ser famoso, então não se exibiria por aí como Tiago... Muito pelo contrário, daria tudo para que sua passagem por Hogwarts não chamasse muito a atenção, o que era impossível. No primeiro ano, ele derrotara Voldemort e recuperara a Pedra Filosofal. No segundo, tornara a derrotar Voldemort, acabando com a maldição da Câmara Secreta para sempre e salvando a escola. Se eu tivesse feito tudo isso, andaria por aí com a cabeça escondida num saco de papel.

Esquentei a chaleira e a água começou a ferver.

- Sente-se, eu disse, abrindo minha lata de chá de camomila. Receio que só tenha chá em saquinhos... mas eu diria que você já bebeu chá em folhas que chegue.

Nos encaramos por um momento, eu com uma tremenda vontade de rir.

- Como foi que o senhor soube disto?, ele me perguntou.

- A Profª McGonagall me contou, eu disse, entregando a ele uma xícara cheia de chá. Você não está preocupado, está?

- Não, ele disse simplesmente.

Ficou em silêncio por um momento, e eu o olhei intensamente, procurando adivinhar no que pensava. Vi algo de desagrado passar pelo seu rosto, pensei em Sirius, e perguntei:

- Tem alguma coisa preocupando-o, Harry?

- Não, disse Harry.

Ele bebeu um gole de chá, e, subitamente, pensou melhor:

- Tem, disse, colocando a xícara em cima da mesa. O senhor se lembra daquele dia em que enfrentamos o bicho-papão?

- Claro.

- Por que o senhor não me deixou enfrentar o bicho?

Eu ergui as sobrancelhas. Ele não entendera?

- Eu teria pensado que isto era óbvio, Harry.

O menino baixou os olhos para a mesa.

- Por quê?, ele perguntou.

- Bem, eu disse, ponderando, presumi que se o bicho-papão o enfrentasse, ele assumiria a forma de Lord Voldemort.

Vi o garoto me olhar muito surpreso. Ele não fez nenhuma objeção a que eu falasse o nome de Voldemort, mas ficou me olhando levemente impressionado.

- Pelo visto eu me enganei, prossegui. Mas eu não achei uma boa idéia Lord Voldemort se materializar na sala dos professores. Imaginei que os alunos entrariam em pânico.

- Logo no começo, eu realmente pensei em Voldemort, ele disse, e sua voz sequer tremeu. Mas depois, eu... eu me lembrei daqueles dementadores.

Um garoto que temia dementadores. A cada hora Harry me deixava mais impressionado. Temer as piores recordações... Eu já vivia das minhas piores recordações, e não temia dementadores, mas ele ainda era um garoto e sua vida ainda tinha sentido.

- Entendo, eu disse. Bem, bem... Estou impressionado.

Harry me olhou francamente surpreso, e eu sorri. O brilho curioso de seus olhos era exatamente igual ao de Lílian.

- Isto sugere que o que você mais teme é o medo. Muito sensato, Harry, eu disse.

Ele ficou em silêncio, bebendo mais chá. Imediatamente me ocorreu o que eu pensaria, e decidi jogar verde:

- Então você andou pensando que eu não acreditava que você tivesse capacidade para enfrentar o bicho-papão?

- Bem... é, disse o garoto, mais à vontade agora. Prof. Lupin, o senhor sabe que os dementadores...

Alguém bateu à porta.

- Entre, falei.

Justamente quem eu esperava: Severo, trazendo a Poção de Acônito.

- Ah, Severo, eu disse, tentando ser agradável. Muito obrigado. Pode deixar aí na mesa para mim?

Severo colocou o cálice com a poção na mesa, olhando para Harry, e depois para mim, como se cobrasse uma explicação.

- Eu estava mostrando a Harry o meu grindylow, eu disse, sabendo que Severo também se interessava por Defesa Contra as Artes das Trevas.

- Fascinante, ele disse maquinalmente. Você devia beber isso logo, Lupin.

- É, é, vou beber, eu disse.

Ele só estava interessado em sair dali, parecia.

- Fiz um caldeirão cheio, disse Severo. Se precisar de mais...

- Provavelmente eu deveria tomar mais um pouco amanhã. Muito obrigado, Severo.

- De nada, disse Severo, olhando estranhamente para mim. Eu sabia que ele ainda não tinha superado as feridas do passado. Para mim era óbvio que ele não parava de lançar suspeitas contra mim, especialmente em relação a Sirius, mas eu não o culpava. Até o entendia, e sentia pena de um homem que não podia esquecer feridas tão pequenas.

Harry olhava estranhamente para Severo, desconfiado. Este se retirou, de costas, como se receasse algo. Ouvi seus passos deslizantes sumirem pelo corredor. Quando vi, Harry olhava curioso para o cálice. Sorri encorajador.

- O Prof. Snape teve a bondade de preparar esta poção para mim, expliquei, pensando em quanto poderia lhe contar. Nunca fui um bom preparador de poções, e esta daqui é particularmente complexa.

Peguei o cálice e cheirei a poção. Aquele cheiro amargo de sempre.

- É pena que o açúcar estrague o efeito da poção, comentei, tomando um gole e sentindo minha garganta queimar. Aquilo era extremamente amargo, como se alguém tivesse feito café com dez colheres bem cheias de pó.

- Por quê...?, disse o garoto.

Entendi e respondi, omitindo alguns fatos.

- Tenho me sentido meio indisposto. Esta poção é a única coisa que me ajuda. Tenho a sorte de estar trabalhando ao lado do Prof. Snape; não há muitos bruxos que saibam prepará-la.

Tomei outro gole e vi Harry me olhando muito estranhamente.

- O Prof. Snape é muito interessado nas Artes das Trevas, ele disse.

Igualzinho ao pai nesse aspecto. Mas não era nenhuma novidade.

- É mesmo?, eu disse apenas para ser educado.

- Tem gente que supõe que ele faria qualquer coisa para ocupar o cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Tomei todo o conteúdo do cálice de uma vez, sem me importar muito, fazendo uma careta.

- Horrível, resmunguei. Bem, Harry, é melhor eu voltar ao trabalho. Vejo você mais tarde na festa.

- Certo, disse o garoto, lançando outro olhar desconfiado à poção.

Ele saiu, e eu ri. Não era como Tiago, um perfeito exibicionista arrogante. Mas, sim, se parecia com ele quando maduro. Imagino o que Tiago diria se soubesse que seu filho aos 13 era mais maduro que ele aos 17. Voltando a preparar as aulas, fiquei pensando na nossa amizade.

¬¬¬

À noite, chegou a festa do Dia das Bruxas. Eu estava alegre e bem-disposto. Pela primeira vez em muitos anos, eu iria tornar a passar o Dia das Bruxas em Hogwarts, ver os morcegos vivos esvoaçando pelas nossas cabeças, e as centenas de abóboras iluminadas. Lógico, não haveria nem Claire nem Marotos, mas haveria Hogwarts... Pois certas coisas em Hogwarts nunca mudam; ou, pelo menos, você não vive para ver as mudanças.

Madame Pomfrey, como sempre, me recomendara alimentação reforçada, e eu estava seguindo sua ordem com o maior prazer. A comida estava uma delícia, mais do que ultimamente, e eu encetei uma conversa divertida com Flitwick sobre Espíritos Agourentos, na qual ele acabou por me contar um longo e engraçadíssimo caso sobre um Espírito Agourento que invadiu uma casa de trouxas. Eu estava me sentindo mais saudável com a Poção de Acônito, e animado pela conversa com Harry. Sirius nem passava remotamente pela minha cabeça e a mim pareceu que eu, pelo menos por um momento, poderia esquecer as preocupações.

Estava enganado.

Lá fui eu, para minha sala, calmamente, depois de ter comido muito, desejando apenas uma boa noite de sono, quando ouvi batidas apressadas na porta da minha sala. Bocejando, fui atender. Era Percy Weasley, filho do bom Arthur Weasley, irmão de Rony e monitor-chefe.

- Percy?, falei. O que está fazendo aqui? Dumbledore lhe deu algum encargo?

O garoto inchou por parecer digno de um encargo de Dumbledore; mas, quando falou, sua voz era baixa e ansiosa:

- Precisamos de ajuda nas buscas, professor. Black entrou no castelo.

Eu senti o chão me faltar por um momento, me apoiando na porta.

- Professor?, chamou Percy. O senhor está bem?

- Estou sim, só um pouco tonto, obrigado, agradeci, me erguendo. O que Black fez?

- Parece que perdeu a noção do tempo, professor. Dizem que está querendo atacar Harry Potter, mas, em vez de ir ao salão, foi até a Torre da Grifinória e pediu à Mulher Gorda para entrar. Ela não deixou, óbvio. Então, ele destruiu seu quadro a machadadas.

Típico de Sirius Black. Não consegue suportar que as pessoas o impeçam de fazer algo por muito tempo. Especialmente quando é uma questão de vida ou morte.

- E ele está no castelo?

- Achamos que sim. Ele não poderia ter escapado. Mas precisamos de todos que possamos, para ajudar. Olhe aí a sua sala, e depois venha conosco, professor.

- Eu vou.

Percy tomou outro caminho, para revistar o corredor dos Feitiços. Eu olhei a minha sala por cima. Eu sabia que Sirius não se escondera lá. Só haveria um lugar onde ele poderia ter se escondido.

Desci as escadas incólume, pegando alguns atalhos que evitavam minha passagem por corredores eventualmente movimentados, e, sem ser incomodado, cheguei ao Saguão de Entrada e fui aos jardins.

Atravessei o gramado e fui até a Floresta Proibida. Sem medo de nada, acendi a varinha e saí procurando, em silêncio, por aquele cão preto.
Fui adentrando cada vez mais a Floresta, vasculhando cada matagal.

Estava bem ciente que era uma busca infrutífera e idiota, que eu só estava fazendo aquilo por causa da raiva, que eu não tinha nem certeza se o idiota do Sirius estava escondido ali, e, se estivesse, não seria nada difícil para ele se camuflar, se esconder. Mas procurava assim mesmo, movido por um ímpeto de raiva.

Subitamente, ouvi barulhos estranhos de cascos e me virei subitamente, erguendo a varinha, esperando talvez encontrar um Testrálio ou qualquer coisa do tipo. Mas, felizmente, o que encontrei foi um dos centauros, da tribo que vive em Hogwarts.

- Bom dia, humano, disse o centauro. Ele tinha cabelos bem claros e olhos azuis, num semblante sábio porém amigável.

Não era a primeira vez que eu encontrava um centauro em Hogwarts, mas aquele ali me parecia mais novo do que Ronan ou Magoriano, os centauros que eu e os Marotos víamos mais freqüentemente.

- Bom dia, cumprimentei, cortês. Não teria visto um cachorro negro de olhos claros por aí, teria?

- Ocasionalmente, ele me disse.

- Hoje viu algum?, eu perguntei imediatamente.

- Não. Hoje o cachorro se esconde, ele me disse, depois fitou o céu. Sirius está brilhante hoje.

- O quê?, estranhei.

- Sirius, repetiu o centauro, apontando para o céu.

Imediatamente compreendi, ao fitar a cintilante estrela da constelação de Cão Maior. Realmente, estava mais brilhante do que ultimamente.
Ficamos lá, eu e o centauro, observando a constelação de Cão Maior por alguns minutos. Eu pensando em como aquela estrela era tão bonita e cintilante, mas que não conseguira iluminar os caminhos de seu representante na Terra. Ou talvez iluminasse? Lembrei-me de um tempo em que eu, Tiago e Sirius (Pedro sempre acabava dormindo) nos sentávamos para admirar as estrelas. Como não havia constelação do cervo, Tiago escolhera para si a constelação de Pegasus; Sirius admirava a constelação de Cão Maior, onde brilhava sua estrela-guia; e eu a constelação de Lupus, do Lobo, pensando nos meus problemas e nas minhas transformações. E então nos olhávamos e sorríamos por ter representantes no céu.

Enfim, o centauro falou:

- Deve voltar para a escola, humano, e repensar.

- Repensar?, eu sussurrei, como que acordando de um sonho.

- Pense porque Sirius está brilhante. Pense que talvez você possa mudar o rumo das coisas, se não do mundo, pelo menos de sua vida. Destinos humanos não tem espaço entre as estrelas. Então cabe aos humanos mudá-los. Agora vá.

Eu olhei para o centauro, me despedi com um aceno de cabeça e saí, os passos incertos, pela floresta, sem olhar para os lados.

Atravessei os jardins à luz da lua crescente, e então, enfim, olhei para trás. Tive a impressão de ver os olhos de Sirius.

¬¬¬

Dois dias depois do ataque de Sirius à torre da Grifinória (comentado por todos até o assunto ficar escasso), eu passei por um período de lua cheia, trancado em meu quarto. E perdi algumas coisas.

Primeiro, o fato de que Severo, meu substituto, andou ensinando sobre lobisomens ao terceiro ano. Tão óbvio... O primeiro dia em que me visse fora do caminho, iria partir para o ataque. Me senti levemente alterado, por saber que um colega de trabalho meu desejava minha demissão, mas eu sequer podia culpá-lo. Então respirei fundo, disse aos alunos que não precisavam fazer os dois rolos de pergaminho de Snape sobre lobisomens e iniciei o estudo dos hinkypunks.

A segunda coisa que eu perdi foi a primeira derrota da Grifinória em dois anos, para a Lufa-lufa. Cedrico Diggory, capitão da equipe, apanhador e muito hábil, foi enfrentar Harry pela equipe da casa. Segundo me contaram, Harry tem um talento igual ao do pai para quadribol, a ponto de ter sido o jogador da casa mais novo do último século, entrando para apanhador com seus míseros 11 anos. Quando McGonagall, toda inchada, me relatou isso, pensei em duas coisas: primeiro no orgulho que Tiago sentiria; em segundo, como McGonagall continuava sendo fã de quadribol.

Bem, o fato é que, durante o jogo da Grifinória X Lufa-Lufa, os dementadores invadiram o estádio. Harry, que, por causa do que já passou, é muito sensível a dementadores, desmaiou e sofreu uma queda de quinze metros de altura, da vassoura, e Diggory apanhou o pomo. Ao que parece, a vassoura de Harry continuou numa trajetória errante até meu amigo Salgueiro Lutador, e este a destruiu. Me entristeceu foi ver a cara de enterro de Harry, quando entrou na sala, segunda-feira.

Quando a sineta tocou, chamei-o. Estava meio que me sentindo responsável, afinal, eu era a causa daquele Salgueiro estar em Hogwarts.

- Soube do que houve no jogo, eu disse, sem encará-lo. Presumi que ele leria na minha testa "Eu sou o culpado", se olhasse dentro de seus olhos. E sinto muito pelo acidente com a sua vassoura. Há alguma possibilidade de consertá-la?

- Não, disse Harry com uma voz de túmulo. A árvore arrebentou-a em mil pedacinhos.

Suspirei, e me peguei falando:

- Plantaram o Salgueiro Lutador no ano em que cheguei em Hogwarts. Os alunos costumavam brincar de se aproximar do tronco e tocar a árvore com a mão. No fim, um garoto chamado Davi Gudgeon quase perdeu um olho e fomos proibidos de chegar perto do salgueiro. Uma vassoura não teria a menor chance.

- O senhor soube dos dementadores também?, ele perguntou, a voz saindo pior que antes.

Lancei um olhar ao seu rosto um tanto decepcionado e aflito.

- Soube, disse. Acho que nenhum de nós tinha visto o Prof. Dumbledore tão aborrecido. Há algum tempo, eles estão ficando inquietos... furiosos com a recusa do diretor em deixar que entrem na propriedade... Suponho que tenham sido eles a razão da sua queda.

- Foram, disse ele sério. Por quê? Por que eles me afetam desse jeito? Será que sou apenas...?

Nessas horas, pensar no que eu pensaria se estivesse no seu lugar se mostrara útil para descobrir o que sentia. E eu me sentiria um fraco. Lendo brevemente a expressão em seus olhos, falei rápido:

- Não tem nada a ver com fraqueza. Os dementadores afetam você pior do que os outros porque existem horrores no seu passado que não existem no dos outros.

Minha garganta se apertou, pensando em Tiago e Lílian.

- Os dementadores estão entre as criaturas mais malignas que vagam pela Terra. Infestam os lugares mais escuros e imundos, se comprazem com a decomposição e o desespero, esgotam a paz, a esperança e a felicidade do ar à sua volta. Até os trouxas sentem a presença deles, embora não possam vê-los. Chegue muito perto de um dementador e todo bom sentimento, toda lembrança feliz serão sugados de você. Se puder, o dementador se alimentará de você o tempo suficiente para transformá-lo em um semelhante... desalmado e mau.

Pensei em Sirius por um momento breve, para continuar:

- Não deixará nada em você exceto as piores experiências de sua vida. E o pior que aconteceu com você, Harry, é suficiente para fazer qualquer um cair da vassoura. Você não tem do que se envergonhar.

- Quando eles chegam perto de mim..., Harry disse, sem me encarar, ouço Voldemort assassinando minha mãe.

O nó na minha garganta ficou mais apertado, pensando em Lílian. O que será que aquele garoto escutava, meu Deus? Estendi a mão para colocá-la em seu ombro, mas uma luz de lucidez se acendeu no meu cérebro, me alertando para não ressuscitar um passado esquecido, e retesei meu corpo. O silêncio pairou entre nós, e foi Harry quem o quebrou:

- Por que é que eles tinham que ir ao jogo?

A amargura de sua voz me lembrou Tiago e sua obsessão por quadribol, e, por um momento, tive vontade de rir. Pelo menos me acalmei.

- Estão ficando famintos, expliquei. Dumbledore não permite que eles entrem na escola, então o suprimento de gente com que contavam secou... Acho que eles não conseguiram resistir à multidão em torno do campo de quadribol. Toda a excitação... as emoções exarcebadas... é a idéia que fazem de um banquete.

- Azkaban deve ser horrível.

Eu concordei com a cabeça.

- A fortaleza foi construída em uma ilhota, bem longe da costa, mas não precisam de paredes nem de água para manter os prisioneiros confinados, não quando eles já estão presos dentro da própria cabeça, incapazes de um único pensamento agradável. A maioria enlouquece em poucas semanas.

Como que lendo meus pensamentos, Harry disse:

- Mas Sirius Black escapou. Fugiu...

Perdi momentaneamente o controle sobre as minhas mãos e a minha maleta escorregou da escrivaninha. Sempre tive reflexos rápidos e a apanhei antes que caísse, evitando olhar para Harry. Sirius. Sempre o maldito Sirius.

- É, eu disse, tentando aparentar indiferença. Black deve ter encontrado uma maneira de combatê-los. Eu não teria acreditado que isto fosse possível... Dizem que os dementadores esgotam os poderes de um bruxo que conviver um tempo demasiado longo com eles...

Eu contive um gemido. Quem dera fosse verdade. Afinal, de que modo maluco Sirius tinha escapado? Só podia ser com a ajuda das Artes das Trevas, sem varinha para executar seu patrono... Como meu amigo tinha se perdido.

- O senhor fez aquele dementador no trem recuar, disse Harry.

- Há... certas defesas que se pode usar, falei, vagamente. Mas no trem havia apenas um dementador. Quanto maior o número, mais difícil é resistir a eles.

Subitamente, Harry disse:

- Que defesas? O senhor pode me ensinar?

"Perigo, perigo", avisou minha cabeça.

- Não tenho a pretensão de ser um especialista no combate a dementadores, Harry... muito ao contrário...

- Mas se os dementadores forem a outro jogo de quadribol, preciso saber lutar contra eles...

Maldita vontade fraca. Harry, como Tiago, já estava me vencendo.

Considerei algumas coisas, como o quadribol, e como Tiago ficaria feliz se eu pudesse ensinar algo a Harry, e também os horrores que aquele garoto passava quando dementadores se aproximavam. Algo pior que eu, que me apunhalava constantemente. Tudo isso me derrubou.

- Bem... está bem. Vou tentar ajudar. Mas receio que terá que esperar até o próximo trimestre. Tenho muito que fazer antes das férias. Escolho uma hora muito inconveniente para adoecer.

E, com essas palavras, fiz Harry se dirigir para o almoço. Depois fiquei avaliando minhas posições. Talvez de algum modo eu poderia me reparar com Harry, pela vassoura; se não lhe dando uma nova vassoura, ajudando-o a se prevenir.

Olhei pela janela, e uma questão que me vinha assaltando a mente constantemente, depois do ataque de Sirius à Mulher Gorda; se eu devia contar a Dumbledore sobre Sirius ser um animago. Me senti terrivelmente desesperado com tal possibilidade. E se a omissão de tal informação desse margem para Sirius matar Harry, aquele garoto ao qual eu já me afeiçoara tanto?

No entanto, meus instintos derrubavam minha vontade e meu senso do que é certo. Tenho um senso de regras muito frágil, já percebi. Bastava um golpe de Tiago, Sirius ou mesmo Harry, que eu me encolhia e cedia. Droga. Droga, droga, droga.

- Sirius está entrando por meio das Artes das Trevas que aprendeu como Comensal, disse para mim mesmo. O fato de ser animago não tem nada a ver com isso. Não destrua as poucas pessoas que confiam em você.
E eu merecia confiança?

¬¬¬

Depois dessa minha promessa para Harry, seguiram-se dias tortuosos e insones. Hogwarts já não era mais um lugar feliz, e sim, insegurança. Pois, para mim, só existia insegurança. Passava noites em claro debatendo se eu deveria contar a Dumbledore que Sirius era um animago, e imaginando como ele poderia se aproveitar dessa sua capacidade desconhecida para escapar aos dementadores. Mas eu não entendia tanto assim sobre dementadores... Não como afastá-los sem varinha. Não podia imaginar como Sirius fizera.

- Artes das Trevas, Remo. Artes das Trevas. Pare de se torturar.

Era o que meu coração repetia incessantemente, mas minha razão não conseguia concordar. Queria saber quem foi o infeliz que inventou a razão.
Fui impedido de aproveitar o Natal em Hogwarts, por um novo período de lua cheia. Me desviando de Sibila Trelawney pelos corredores, evitando a todos, principalmente a Dumbledore, com medo que ele lesse meus pensamentos, fiquei recluso em meu quarto, admirando a lua. Ouvia uivos na floresta, e pensava em Sirius. Maldita a hora em que Sirius entrara na cabine em que eu ocupava no Expresso de Hogwarts.

Assim o período lunar passou, iniciei longos passeios pela Floresta Proibida, à tarde, assim que acabava o jantar. O que eu esperava encontrar, não sei. Uma ou duas vezes, Hagrid me acompanhava. Havia tristeza em seus olhos inchados.

- E Bicuço?, perguntei-lhe, certa vez.

- Bem, coitadinho. A Comissão determinou que eu devo mantê-lo preso... A culpa é minha, claro. Hipogrifos para a primeira aula de terceiro ano. Hipogrifos. Só eu mesmo.

- Calma, eu disse, dando uma palmadinha no braço de Hagrid. Tudo vai dar certo. Bicuço tem grandes chances, se conseguirmos provar que ele foi provocado, o que é óbvio...

- Foi o que Dumbledore disse, choramingou Hagrid. Grande homem, o Dumbledore. Disse que vai me apoiar no que for preciso, e que se quiser ele pode dar testemunho sobre o que eu precisar.

- Então. Se Dumbledore diz que vai dar certo, vai dar. Podemos confiar no que ele pensa.

Hagrid sorriu lacrimoso.

Nesse instante, ouviram-se alguns latidos grossos e altos. Eu me pus em alerta, e, para minha surpresa, Hagrid também, erguendo o arco.

- Tem alguma coisa nova rondando essa floresta, ele me explicou. Não sei exatamente o que é, mas enxerguei algo esses dias, quando estava indo cuidar dos Testrálios. Parecia um urso.

Senti um calafrio ao me lembrar do tamanho do cachorro em que Sirius se transformava.

- Era um urso?

- Não. Latiu pra mim. Não sei se é um lobo, ou um cachorro... ou até mesmo um lobisomem, sem ofensa.

- Não me senti ofendido, apressei-me a dizer.

Na verdade, estava por demasiado aturdido para me sentir ofendido com qualquer coisa que fosse. Era realmente a confirmação. Sirius estava vivendo na Floresta.

Depois dessa conversa com Hagrid, o remorso se tornou pior. Eu não sabia se contava. Se eu contasse, Hagrid estaria prevenido na próxima vez que encontrasse tal cachorro, e Sirius voltaria para Azkaban. Mas será que eu queria que ele voltasse antes de falar com ele? Ou preferiria assassiná-lo em vez de levá-lo preso? Minha mente me aprontava armadilhas e eu batia em contradições.

Na semana seguinte, Harry me lembrou da promessa que eu fizera de ensiná-lo o Patrono, o que para mim foi ótimo, pois eu tinha uma preocupação que me afastava todas as caraminholas da cabeça. Saber como faria para representar um dementador para Harry e eu podermos treinar.
Justamente uma noite dessas, Filch me chamou para cuidar de uma detenção que eu dera a Draco Malfoy, por pegá-lo enfeitiçando um calouro.

- Espero que você me dê motivos para usar novamente as minhas correntes, resmungou o zelador.

Algumas coisas em Hogwarts nunca mudam.

- Não é para tanto, Sr. Filch.

O zelador resmungou.

- No meu tempo, se prendia os alunos no teto. Dor, castigo físico, esses são os melhores mestres. Agora, com essa nova política de Dumbledore, ninguém mais aprende nada. Não há mais respeito, não há mais moral, não há mais...

E ele ficou com seu discurso que, como Maroto reconhecido, eu já conhecia decor e salteado.

Nesse instante, ouviram-se batidas furiosas e estrondos no andar de cima. Filch parou e soltou um urro fenomenal:

- PIRRAÇA!!!!

E saiu correndo como um maluco atrás do poltergeist. Eu fiquei ali, contendo o riso, e decidi ir sozinho para a sala de Filch, assinar a detenção de Draco Malfoy, que eu seria forçado a supervisionar, no sábado à noite.

Após escrever em uma ficha que Malfoy ajudaria Hagrid a cuidar dos grindylows do lago (sendo punido, mas aprendendo), dei uma olhada em volta. A sala não mudara nada desde a última vez em que eu estivera ali, em companhia de Tiago e Sirius, respondendo por mais alguma travessura, e ouvindo que um monitor não deveria fazer tais coisas. Nostálgico, me aproximei do arquivo de Filch, esperando talvez encontrar algumas fichas velhas onde meu nome e o de meus amigos figurasse.

Para minha extrema surpresa, Sirius saiu do arquivo.

- Sirius?, sussurrei, sentindo meu estômago congelar. Como?...

Sirius ergueu a varinha e se aproximou de mim com uma expressão voraz. Eu recuei.

- Não, Sirius...

- Eu entreguei Lílian e Tiago, ele me disse com a voz sussurrante. Eu os entreguei deliberadamente, eu os entreguei para servir ao meu único mestre.
Eu estava apertado contra a parede. Não podia acreditar no que estava ouvindo.

- Mas e Chloe?, perguntei, sentindo lágrimas descerem dos meus olhos. E Pedro?

- Dane-se a Chloe. Dane-se a amizade. E eu matei Pedro porque ele estava me impedindo. Sempre foi um fraco.

Eu não conseguia parar de soluçar e ele não parava de se aproximar.

Foi quando Filch entrou.

Ele olhou atônito para mim, e de mim para Sirius. Então se aproximou um passo, ao mesmo tempo em que eu deslizava para fora do alcance do outro.
Para a minha ainda mais completa estupefação, Sirius se transformou num outro bruxo, que começou a rir e gritar, sacudindo a varinha:

- Argo é um aborto, Argo é um aborto, lá lá lá!

Os olhos de Filch deram um 360º completo, juro, e ele caiu pesadamente sobre o chão de pedra. Entendendo, dei um passo à frente e exclamei:

- Riddikulus!

Sirius se transformou em uma barata, e eu o prendi no arquivo de Filch de novo. Isso é o que dá não limpar os arquivos. Eu ainda estava aturdido, pensando no que tinha se revelado ser meu atual maior medo. Súbito, me ocorreu uma idéia brilhante.

- Harry... Achei o dementador para você.

¬¬¬

Pensei muito naquela minha estranha cena nos dias que se seguiram, e concluí que, naquela hora, meu maior medo era aceitar a verdade sobre sua forma mais inquestionável, perder o fiapo de esperança que ainda vivia em meu peito. Quando reconheci isto, senti como se uma influência maligna me deixasse para sempre. Não adiantava negar a realidade. Sirius entregara Lílian e Tiago. Sirius matara Pedro. E eu me enganando, como se negar a realidade fosse ajudar em alguma coisa. O medo me abandonou, mas a esperança também, e me senti perdido num túnel sem fim.

Fazendo o teste, deixei o bicho-papão escapar quando fui passá-lo do arquivo de Filch para minha caixa. Para meu completo alívio, meu maior medo voltara a ser a Lua Cheia. E foi aquele globo prateado que eu enfiei numa caixa para levá-lo até a sala de História da Magia, onde ficara combinado que seriam as minhas aulas antidementadores com Harry.
Quando cheguei lá, ele já estava me esperando, denotando traços de ansiedade.

- O que é isso?, ele perguntou.

- Outro bicho-papão. Andei passando um pente fino no castelo desde terça-feira e por sorte encontrei este aqui escondido no arquivo do Sr. Filch.

Não foi totalmente uma mentira. Foi mais uma omissão das estranhas circunstâncias que me levaram a encontrar aquele bicho-papão. Isso geraria perguntar incômodas, pois eu não queria contar a Harry todo o meu passado com seu pai e Sirius.

- É o mais próximo que chegaremos de um dementador de verdade, continuei. O bicho-papão se transformará em um dementador quando o vir, então poderemos praticar. Posso guardá-lo na minha sala quando não estiver em uso; tem um armário embaixo da minha escrivaninha de que ele irá gostar.

- Tudo bem, disse Harry. Sua voz tremeu um pouco.

Concluí que seria melhor nada dizer.

- Então..., eu apanhei a varinha e Harry fez o mesmo. O feitiço que vou tentar lhe ensinar faz parte da magia muito avançada, Harry, muito acima do Nível Normal da Bruxaria. É chamado o Feitiço do Patrono.

- O que é que ele faz?, perguntou Harry, nervoso.

- Bem, quando funciona corretamente, ele conjura um Patrono, que é uma espécie de antidementador, um guardião que age como um escudo entre você e o dementador.

Lembrei daquela enorme águia que viera me levar para o Largo Grimmauld naquele dia fatídico. Desde sua fuga, todos os meus pensamentos e falas acabavam culminando em lembrar-me de Sirius.

Continuei a explicação:

- O Patrono é um tipo de energia positiva, uma projeção da própria coisa de que o dementador se alimenta: esperança, felicidade, desejo de sobrevivênmcia, mas ele não consegue sentir desesperança, como um ser humano real, por isso o dementador não pode afetá-lo. Mas preciso preveni-lo, Harry, de que o feitiço talvez seja demasiado avançado para você. Muitos bruxos habilitados tem dificuldade de executá-lo.

Vi nos olhos de Harry o mesmo brilho dos olhos de Tiago quando este era desafiado. Era óbvio que, antes de desistir, ele iria tentar e tentar.

- Que aspecto tem um Patrono?, ele perguntou.

- Cada um é único para o bruxo que o conjura.

- E como se conjura?

- Com uma fórmula mágica, que só fará efeito se você estiver concentrado, com todas as suas forças, em uma lembrança feliz.

Percebi que Harry ficou silencioso por um momento.

- Certo, disse após alguns instantes.

- A fórmula é a seguinte. Fiz um esforço para que a voz soasse clara: Expecto patronum!

Harry repetiu algumas vezes a fórmula, mas nada aconteceu.

- Está se concentrando com todas as forças em sua lembrança feliz?, perguntei.

- Ah... estou, respondeu Harry, mas vi que a fórmula agora soava mais claramente.

Subitamente, um fiapo de gás prateado, que eu reconheci como sendo um vislumbre de Patrono, surgiu da varinha de Harry.

- O senhor viu isso?, perguntou Harry, excitado. Aconteceu uma coisa!

Eu sorri vendo o entusiasmo do garoto.

- Muito bem. Certo, então, está pronto para experimentar com um dementador?

- Estou, disse Harry corajosamente, indo para o meio da sala de aula.

Eu fui até a caixa e abri-a, recuando.

Um dementador se ergueu lentamente da caixa, virado para Harry, erguendo uma mão coberta de feridas em direção ao garoto. As luzes se apagaram, e eu acendi um feixe de chamas, muito atento para a hora em que eu devia intervir.

- Expecto patronum!, ouvi Harry gritar em desespero. Expecto patronum! Expecto...

Ouvi um baque que significava que Harry tinha caído no chão.

Imediatamente avancei e o dementador se transformou numa lua.

- Riddikulus!, e uma joaninha caiu obediente em minhas mãos.

Coloquei-a dentro da caixa e fechei-a. As luzes imediatamente se acenderam, e corri para Harry, que estava estirado no chão, desmaiado, muito pálido.

- Harry!, exclamei, tentando acordá-lo.

Ele abriu os olhos subitamente e olhou para o lado. Vi seu rosto corar.

- Desculpe, disse sua voz num murmúrio, enquanto ele se sentava.
Senti aflição.

- Você está bem?

- Estou...

Prevendo as dificuldades que teríamos, eu havia comprado vários chocolates da última vez em que fora à Dedosdemel. Tirei um Sapo de Chocolate do bolso e estendi a Harry.

- Tome aqui. Coma isso antes de tentarmos outra vez. Eu não esperava que você conseguisse da primeira vez; de fato, ficaria assombrado se tivesse conseguido.

- Está piorando... Eu a ouvi mais alto dessa vez... e ele... Voldemort...

O garoto tremia, e eu sentia meu estômago afundar. Pensar em Lílian, tão radiante em seu casamento, gritando e suplicando pela vida de seu filho, me fazia sentir muito mal.

- Harry, se você não quiser continuar, vou compreender muito bem...

Vi o brilho de coragem cintilar novamente naqueles olhos verdes.

- Eu quero!, ele exclamou. Tenho que continuar! O que vai acontecer se os dementadores aparecerem na partida contra Corvinal? Não posso me dar ao luxo de cair outra vez. Se perdermos a partida, perderemos a Taça de Quadribol!

Lógico. O quadribol. Céus, eu havia convivido com os Potter todos aqueles anos e ainda não havia aprendido que o quadribol é sempre o mais importante?

- Muito bem, então..., eu disse, tentando não rir. Talvez queira escolher outra lembrança, uma lembrança feliz, quero dizer, para se concentrar... Essa primeira parece que não foi bastante forte...

Vi o garoto franzir a testa, tentando se lembrar de algo feliz. Eu teria mais dificuldade, visto que todas as minhas lembranças felizes foram maculadas pela traição de Sirius.

- Pronto?, perguntei, indo até a caixa e segurando sua tampa.

- Pronto, disse Harry, a expressão muito concentrada.

- Já!, exclamei, destampando a caixa.

O dementador surgiu novamente, com sua inspiração violenta. Harry começou a gritar:

- Expecto patronum! Expecto patronum! Expecto pat...

Ouvi o ruído surdo da queda de Harry, e novamente avancei para trancar o bicho-papão. Harry estava muito suado.

- Harry! Harry, acorde..., cutuquei-o, dando tapinhas em seu rosto, no mesmo modo que eu usava para acordar Tiago antigamente.

Harry abriu os olhos e ficou me fitando com um olhar vago por algum tempo, até dizer:

- Ouvi meu pai. É a primeira vez que o ouço, ele tentou enfrentar Voldemort sozinho, para dar à minha mãe tempo de fugir...

Harry começou a amarrar os sapatos, o que foi ótimo para que ele não visse minha expressão. Eu estava rígido, o punhal abrindo mais uma vez as feridas da minha alma. Pensar em Tiago, Tiago lutando desesperadamente, tentando impedir que Voldemort avançasse... E o pior, pensar que Sirius era o causador daquilo...

- Você ouviu Tiago?, disse num quase sussurro.

- Ouvi..., Harry ergueu a cabeça. Por quê... o senhor conheceu meu pai?

- Eu..., falei num quase gemido, lembrando da minha decisão de ocultar meu passado, para falar a verdade, conheci. Fomos amigos em Hogwarts. Escute, Harry... talvez devêssemos parar por hoje. Este feitiço é absurdamente avançado... eu não devia ter sugerido que você se submetesse a essa...

- Não!, exclamou Harry, se levantando.

Não adianta, Remo Lupin, você nunca vai conseguir resistir a uma ordem de um Potter. Vi o rosto de Harry mais uma vez se franzir em concentração.

- Pronto?, perguntei, cedendo, indo em direção à caixa. Concentrou-se com firmeza? Muito bem... já!

Tirei a tampa da caixa pela terceira vez, e o dementador novamente se levantou. A sala escureceu, e ouvi os gritos de Harry mais altos que nunca:

- EXPECTO PATRONUM! EXPECTO PATRONUM! EXPECTO PATRONUM!

Dessa vez, foi diferente. O dementador parou, e vi a expressão de Harry, mais determinada que nunca; um vulto prateado irrompeu de sua varinha, pairando entre ele e o dementador. Percebi que ele se esgotava, mas senti um triunfo me invadir; ele não havia caído.

- Riddikulus!, gritei, tomando a frente.

O Patrono desapareceu, e o dementador também; Harry caiu sobre uma cadeira, e eu fiz esforços para colocar a minha Lua Cheia de volta na caixa.

- Excelente!, exclamei, após ter fechado a caixa. Excelente, Harry! Decididamente foi um começo!

- Podemos tentar mais uma vez? Só mais umazinha?, perguntou ele, com aquela voz que Tiago usava para me convencer.

- Agora, não, eu disse, tentando forçar o bom senso. Você já fez o bastante por uma noite. Tome...

Estendi a Harry mais um chocolate, uma barra gigantesca que eu havia comprado na Dedosdemel.

- Coma bastante ou Madame Pomfrey vai querer me matar. À mesma hora na semana que vem?

- OK, disse Harry, comendo o chocolate. Senti uma grande ternura por ele, enquanto desligava as luzes.

Então, ouvi sua voz, rompendo as fibras do meu coração.

- Prof. Lupin, se o senhor conheceu meu pai, então deve ter conhecido Sirius Black, também.

Me virei tão rápido que quase me desequilibrei. De onde ele tirara aquilo? Será que sabia de algo?

- Que foi que lhe deu essa idéia?, perguntei, e minha voz soou mais áspera do que eu pretendia.

- Nada... quero dizer, eu soube que eles também eram amigos em Hogwarts...

Lógico. Quem iria se esquecer do melhor amigo de Tiago Potter. Senti um alívio me invadir, mas não estava disposto a conversar com Harry sobre aquilo.

- É, eu o conheci. Ou pensei que o conhecia. É melhor você ir andando, Harry, está ficando tarde.

Harry cedeu instantaneamente, me deixando sozinho naquela sala escura. Tão escura quanto meus pensamentos. O que eu faria se, de algum modo, Sirius se aproveitasse da animagia para matar Harry? Será que eu devia contar? Deus, por que eu era tão fraco?

¬¬¬

O tempo passava e os dias se tornavam mais agradáveis, muito frios. A neve brilhava na sua brancura imaculada, e eu olhava e me sentia estranhamente calmo. Sempre gostei de neve.

Além dos problemas de licantropia comuns, acabei adquirindo um resfriado, em troca da minha saudável mania de ficar saindo à noite, na floresta coberta de neve. Resultado: tive que começar a evitar sair do castelo, o que foi muito bom para meus nervos e curou em cerca de uma semana minhas doenças.

Até que um dia, numa bela quinta-feira, o Prof. Flitwick lia o Profeta Diário. Educadamente, pedi:

- Professor, depois que ler o jornal, você pode me passar, por favor?

- Claro, Remo, disse Flitwick.

Logo, eu estava de posse do Profeta. E, assim que a li a manchete, me engasguei com o suco e o cuspi todo em cima da mesa.

- Anapneo!, disse a Profª Sprout, a meu lado. Na mesma hora, minhas vias respiratórias se desobstruíram e eu ofeguei.

- O que aconteceu, Remo?, perguntou Flitwick, preocupado.

- Nada, falei, tentando tomar fôlego. Mau jeito... Sou muito sujeito a engasgar, menti.

Os professores se contentaram com a desculpa, enquanto eu voltava a ler a manchete:

BEIJO DO DEMENTADOR ESPERA SIRIUS BLACK

A perseguição a Sirius Black está ficando cada vez mais acirrada. Cornélio Fudge, Ministro da Magia, declarou oficialmente hoje de manhã que deu permissão aos dementadores para executarem o beijo em Sirius Black.

"Black é uma ameaça a bruxos e trouxas. Vários fatores evidenciam isso: ele ter escapado de Azkaban, a sua falta de remorso, os ataques que cometeu. De modo que, para combatê-lo, devemos usar fogo contra fogo.", disse o Ministro quando inquirido pelos repórteres.

O Beijo do Dementador é a pior arma dos dementadores. Consiste em sugar a alma da pessoa pela boca, de modo que ela fique apenas sendo um corpo vazio. Resta saber se os dementadores conseguirão pegar Sirius Black antes que ele tente se juntar Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado.

Matéria completa nas págs 3 e 4


Deixei meus membros afrouxarem na cadeira. Iam tirar a alma de Sirius. Sirius Black, aquele garoto alegre e um tanto egocêntrico, que completava Tiago Potter, levantava o meu ânimo e sorria com a babação de Pedro, Sirius Black iria deixar de existir.

Novamente, as milhares de dúvidas surgiram na minha mente. Será que Sirius merecia perder a alma?

Olhei para os alunos no salão. Conversavam calmamente, alegremente. Será que ninguém sabia que Sirius Black iria perder a alma? Será que a alma dele faria falta? "A alma de um assassino e traidor não faz falta no mundo", podia ouvi-los dizendo. Será?

- Remo, você está bem?, perguntou uma voz a meu lado. Era Dumbledore, saindo da mesa.

- Estou, professor... quero dizer, Alvo, eu disse. Só preciso sair da mesa.

- Está certo. Remo, eu gostaria que você me acompanhasse até a minha sala antes que a sineta bata. Queria conversar com você.

- Tudo bem, concordei.

Levantei-me. Sentia uma terrível agonia, e uma vontade de sair correndo dali, me ocultar em algum canto escuro e me debulhar em lágrimas. Mas eu podia me esconder dos meus pensamentos?

Dumbledore me fez um sinal para que eu o seguisse. Cada passo me era difícil, tal o peso de minha cabeça, que fazia o grande favor de vibrar de enxaqueca. Como se eu precisasse de mais alguma coisa para me sentir o último entre os homens.

Chegamos até a gárgula que abria o caminho para o escritório de Dumbledore. Tudo me parecia vagamente distante, como se fosse um livro, onde havia algum personagem parecido comigo, vivendo aquela situação. Desejava desesperadamente fugir.

- Caldeirões de Chocolate, disse Dumbledore para a gárgula e ela se abriu, revelando a famosa escada, em que eu subi.

Entramos no escritório de Dumbledore, e diretores e diretoras antigos me olharam dos quadros. Dumbledore piscou para eles. Os vi fechar os olhos quase imediatamente.

- Sente-se, Remo, me disse o diretor, indicando a cadeira em frente a sua escrivaninha.

Obedeci. Minha mente estava como um rádio mal-sintonizado: ia, voltava, ia, voltava de novo. Como um bloqueio mental.

- Aconteceu alguma coisa, diretor?, perguntei, num dos breves momentos em que minha mente estava ali na sala de Dumbledore. Eu fiz algo que o senhor não aprovou?

- Excetuando esquecer de me chamar de Alvo, não, disse Dumbledore gentilmente.

Eu sacudi a cabeça.

- Desculpe, pro... Alvo. É o costume.

- Tudo bem, disse Dumbledore.

- Então por que me chamou aqui?, eu disse, tentando não deixar transparecer que o pensamento de me atirar da janela da Torre de Astronomia me parecia extremamente atraente.

Dumbledore me fitou por um momento com seus olhos extremamente azuis. Incomodado, desviei o olhar. Eu sabia que Dumbledore era competente em Legilimência, e não queria que ele visse o que estava em minha mente.

- Remo, tem algo que queira me contar? Nem que seja para desabafar?, perguntou ele.

Milhares de pensamentos me atravessaram a mente. A traição de Sirius... as visões do cachorro negro na Floresta... o centauro... a estrela brilhante... Harry... Tiago e Lílian... a matéria do Profeta... Indecisões, inseguranças, minha vontade fraca, a sensação constante de que me faltava chão... tateando no escuro...

- Não, Alvo, eu disse, tentando fazer cara de levemente intrigado. Não há nada.

- Nem sobre Sirius?, insistiu Alvo.

Uma luz vermelha e piscando se acendeu em meu cérebro. Será que ele sabia?

- Não... não há nada. Eu.. esqueci Sirius, Dumbledore.

- E não te perturba o fato de ele estar aí fora?

- Um pouco, confessei. Mas... os dementadores vão resolver, não vão?, minha voz saía com dificuldade. Eles vão dar um jeito... Sirius será pego... Daí não existirá mais.

Eu olhava, muito interessado no tampo da mesa da escrivaninha de Dumbledore.

- Tem certeza, Remo?

- Tenho, eu disse.

Naquele momento, em algum lugar provavelmente a milhares de quilômetros dali, a sineta tocou.

- Eu... eu tenho que ir, Alvo.

- Está certo, disse Dumbledore gentilmente. Se houver algo de que precise...

- O procurarei imediatamente, falei, sabendo que não o faria.

Dumbledore assentiu com a cabeça.

- Tenha um bom dia, Remo.

- O mesmo para você, Alvo, desejei.

Saí da sala de Dumbledore. Muitas coisas se confundiam na minha cabeça. Desmerecer tudo o que eu sou. Acabar com a confiança de Dumbledore. Como eu não tinha coragem de fazer isso? Como eu não tinha coragem de contar que Sirius era um animago? Acabar de uma vez com aquilo tudo?

- Sirius... Por que você tinha que fazer isso?, perguntei para o vazio. O vazio dentro do meu coração.


N.A.: Obrigada por todos que comentaram!!!!

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