Sirius de Volta Às Ruas



N.A.: Obrigado pelo apoio, gente! Depois de muito tempo, aqui está o 11º capítulo!!!!!!!!! E, quanto à formatação, eu tenho sérios problemas com html, então, nem liguem...


Acordei num leito da enfermaria do St. Mungus. Ao meu lado, Dumbledore e a Profª McGonagall.

- Professores!..., exclamei, me sentando na maca.

- Enfim acordou, Remo..., disse McGonagall. Parecia agitada. Quando encontramos você na calçada, pensamos que Black tinha lhe feito alguma coisa também. Felizmente não.

Como soava diferente o “Black”... Até alguns dias atrás ela o chamava de Sirius. Decidi naquele momento chamá-lo apenas de Black. É o tratamento que se dispensa a uma pessoa que não conhece, e eu não conhecia Sirius... Como eu poderia conhecer seu íntimo e descobrir que aquele garoto tão inteligente, companheiro, astuto e sincero, poderia matar seu melhor amigo? Como Sirius podia ter entregado Tiago?

- Eu me senti fraco, só isso, eu disse. Há quantas horas estou aqui?

- Dois dias, respondeu Dumbledore gentilmente.

Eu pus a mão na cabeça, e esfreguei os olhos.

- Parece que colocaram meu cérebro numa batedeira, comentei. Nada encaixa. Está tudo virado.

Várias lembranças de Tiago afloraram à minha mente.

"- Ah, finalmente, Hogwarts! Sonhei tanto com isso!"

"- Remo, por que você não contou pra gente?"

"- Grande coisa, nós entramos pela Floresta e saímos do lado de Hogsmeade..."

"- Nossa, Aluado, você tá quase engolindo a Claire. Interrompi alguma coisa?"

"- Você acha que eu não sei?, replicou Tiago. Eu tinha que vir salvar vocês. Vocês tinham sumido, Dumbledore estava preocupado, Queen trouxe notícias nada animadoras..."

Eu não agüentei e comecei a chorar. Dumbledore e McGonagall me olharam com pena e eu parei de encará-los. Detesto que me olhem com pena.

- Calma, Remo, calma..., disse Dumbledore.

- Como ter calma?!, exclamei, histérico.

Precisava desabafar, o mundo dentro de mim era um inferno.

- Tiago está morto, Lílian está morta, Pedro está morto e Si... Black é um
traidor! De um dia para o outro, tudo mudou, como posso estar me sentindo?!

- Sei que está confuso, disse Dumbledore, mas a realidade é esta. O que mais o chocou foi a traição de Sirius, não foi?

Ele continuava chamando-o de Sirius.

- Como, professor? Como a gente pode conhecer uma pessoa por 20 anos, viver com uma pessoa por 20 anos, e não suspeitar de nada? Como ele pode ter traído Tiago? Como, meu Deus, como?. Eu não conseguia encontrar as palavras exatas. Se fosse qualquer um, qualquer um, eu acreditaria, mas não ele!!!

Dumbledore ficou em silêncio, enquanto eu, desesperado e impotente como um barco que é arrastado por uma onda, continuei a soluçar.

Ainda iria acontecer algo que me deixaria mais infeliz e mais desesperado.
Eu fui morar na velha casa da minha mãe, após o encerramento das atividades da Ordem. Vivia no inferno, praticamente. A única pessoa de quem eu ainda conseguia algum alento era Frank.

Frank me ajudou muito naqueles dias. Ele e Alice vinham me visitar frequentemente, e ele me consolava quanto ao que tinha acontecido. Ele também não conseguia acreditar.

- Céus, a gente pensa que conhece as pessoas... Quem, quem diria que Sirius Black não era quem pensávamos que era?, ele costumava dizer.

Conversávamos bastante, e tínhamos uma amizade firme, tão grande quanto a do tempo de Hogwarts.

Até aquele dia.

Eu tinha combinado de jantar com Frank e Alice, para comemorar o aniversário de casamento dos dois. Já fazia quase um ano que Voldemort tinha partido. Quase um ano desde que Lílian e Tiago tinham morrido naquele dia ingrato. Quase um ano desde que Sirius Black havia matado Pedro Pettigrew e sido levado para Azkaban. E as minhas feridas não cicatrizavam.

E, para piorar, eu recebia novos golpes sucessivamente. Como aquele.

Cheguei à casa de Frank Longbottom sem suspeitar de nada. Toquei a campainha uma, duas, três vezes. Ninguém atendia. Estranho, pois tínhamos combinado... E Frank nunca deixaria de avisar se quisesse desmarcar o compromisso, ele era tão centrado e organizado...

Senti o velho terror da época dos Comensais da Morte me invadir e comecei a bater na porta, nervosíssimo.

De repente, ouvi passos atrás de mim. Era Kingsley Shacklebolt, o antigo capitão do time de quadribol da Corvinal, e atualmente um dos aurores mais guardados do Quartel-General de Aurores.

- Kingsley!, cumprimentei, reconhecendo-o.

- Remo, disse ele. Você já soube, então?

- Soube do quê?, eu perguntei.

- Do que aconteceu com Frank e Alice.

Eu olhei para ele sem entender, sentindo a familiar sensação de congelamento.

- Eu... marquei um jantar com os dois hoje... Íamos comemorar o aniversário de casamento deles... Aconteceu alguma coisa?

Quim ficou sério.

- Os outros aurores já estão vindo. Vimos sinais de Maldições Cruciatus executados aqui, e interceptamos uma ligação de uma trouxa à polícia, falando da balbúrdia e dos gritos no apartamento vizinho.

- Fale logo, Kingsley, o que houve com Frank e Alice?!, eu perguntei, nervoso. Eles morreram?

- Quatro Comensais, me disse Kingsley, ao que parece.

Eu comecei a tremer.

- Primeiro Tiago e Lílian, depois Pedro, agora Frank e Alice?!, exclamei, a voz embargada.

- Eles não estão mortos, Remo.

- Não?, eu me surpreendi. Escaparam?

- Ao que parece, estes Comensais estavam tentando encontrar a atual localização de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, e acreditaram que, por algum motivo, Frank e Alice saberiam... E os torturaram. Muito. Muito mesmo.

Meu cérebro parecia incapaz de raciocinar.

- Onde eles estão?

- No St. Mungus, Remo. Os curandeiros... acham difícil que eles se recuperem. Enlouqueceram. Não reconhecem ninguém, não reconhecem o próprio filho...

Fiquei ali escutando o silêncio. O silêncio cruel da vida que, mais uma vez, me arrancava o pouco que me restava.

¬¬¬

Passaram-se muitos anos. Eu, o único remanescente do quarteto que marcara presença em Hogwarts, vivia como um animal num bairro afastado de Londres, cheio de trouxas. Minha falta de dinheiro era tanta que, todos os dias, de manhã, eu era forçado a transfigurar minha escrivaninha numa vaca para ter um pouco de leite. Uma vez fiquei nervoso e o leite saiu com ripas de madeira.

Eu nunca acreditei realmente no que acontecera. Tudo o que tinha se passado para mim era como se fosse um sonho ruim, e eu me alimentava diariamente dessas lembranças, tendo um estranho prazer em me apunhalar várias vezes.

Eu só não morri de fome porque sempre fui bom em Transfiguração, embora minha matéria preferida fosse Defesa Contra as Artes das Trevas. Mas não tinha dinheiro para nada. Minhas roupas eram cada vez mais velhas. Em cada rasgo, eu fazia um remendo com a agulha, desajeitado e pensando em Claire, que executava aquele trabalho tão bem. Eu era roto, remendado, infeliz, e ainda por cima um lobisomem. E, como se não bastasse, Dolores Umbridge, uma mulher que entrou no Ministério de braços dados com o novo ministro, Cornélio Fudge, conseguiu aprovar uma lei que tornava quase impossível para mim arrumar um emprego. Eu não tinha dinheiro nem para comprar o Profeta Diário.

Daquela época conturbada, eu só conservava dois amigos: Dédalo Diggle, o velho Dédalo, com suas estrelas cadentes e seu chapéu púrpura berrante, e Estúrgio Podmore, sempre ponderado, sempre calmo e pensativo. Vinham freqüentemente me visitar, pela lareira, e me davam notícias do mundo dos bruxos, porque o meu rádio, que anteriormente fora um besouro que eu encontrara no jardim, era muito instável: podia transmitir os sinais da RRB, ou apenas um zumbido indefinido e irritante, que me lembrava pernilongos.

A casa em que eu vivia era a velha casa que minha mãe me legara. Mobiliei-a bem, considerando que todos os meus móveis anteriormente eram vasos de plantas ou animais, excetuando minha escrivaninha — o único pertence que eu trouxera da Ordem.

Enfim, passaram-se doze anos, em que eu vivi uma vida superficial e aparente, mas, no fundo, estava morto para todos os prazeres que essa benção poderia me oferecer. Com a traição de Sirius, selara-se um grande portal que me separaria do mundo exterior... E eu não ofereci a chave para ninguém. Diggle e Podmore poderiam ser companheiros — mas jamais eu deixaria alguém penetrar tão fundo minhas defesas como Tiago, Sirius e Pedro. Como Claire. Ninguém mais poderia desvendar os segredos de minha alma. Nunca mais eu teria amigos tão fiéis, pois a amizade provara deixar feridas profundas. A amizade provara que podia ser falsa e cruel. Pelo menos era o que eu pensava.

Então, num belo dia, doze anos depois daquele conturbado episódio, consegui alguns galeões por meio de um “bico”. Resolvi aproveitar e fui ao Beco Diagonal comprar umas vestes novas na loja de Madame Malkin. Depois, dei uma passada no bar, até que folheei um exemplar do Profeta Diário. Olhando na Seção de Classificados, deparei-me com um anúncio extremamente sedutor:

A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts necessita de um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas. Interessados devem possuir Ótimo no N.I.E.M. Contatar Alvo Dumbledore, em Hogwarts.

Abandonei o que estava fazendo e fui para Hogwarts no mesmo instante, gastando o pouco dinheiro que tinha me restado na passagem do Noitibus Andante. Nunca me lembro porque parei de andar nesse ônibus maldito até tomá-lo de novo.

- Professor, gostaria de me apresentar ao cargo, eu disse a Dumbledore, apresentando animadamente meus N.O.M.s e N.I.E.M.s e avaliações que eu tinha feito com Smith e os outros quatro professores que tinham se seguido depois dele.

- Remo... Você está ciente dos boatos sobre a suposta maldição que paira sobre o cargo?, perguntou Dumbledore, anormalmente sério.

Respondi que sim. E como não poderia estar? Desde Stanley Smith, que saíra ao final do meu terceiro ano por sofrer de uma forte dor lombar, nenhum professor de Defesa Contra as Artes das Trevas mais parara um ano em Hogwarts. Gilderoy Lockhart, o meu antecessor, perdera a memória após tentar lançar um feitiço obliviador em um aluno com uma varinha avariada e agora estava no St. Mungus.

- E ainda assim pretende assumir o cargo.

- Claro, respondi. Primeiro, porque sempre adorei Defesa Contra as Artes das Trevas. Segundo, porque acho que o velho Stan ia gostar disso. Terceiro, porque não me intimido com maldições. E quarto porque estou desesperado para arrumar um emprego.

Lembrar do velho Stan me deixou muito emocionado. O melhor professor de Defesa que alguém como eu poderia ter tido. Me apoiou muito, eu, um simples aluno sedento de saber. Ninguém nunca soube que eu caí em prantos na noite em que soube da morte dele. Só Claire, que abriu uma brecha em sua indiferença, ficou junto comigo, me consolando, acariciando meus cabelos castanhos.

Dumbledore pareceu compreender, e disse simplesmente:

- Está certo, Remo, o cargo é seu. Você me parece o mais indicado...
independente de ser o único candidato.

Eu suspirei aliviado. Tinha conseguido, finalmente, depois de muitos e muitos anos de desemprego, arrumar uma colocação para a qual eu tinha estudado tanto.

- Mas..., lembrei, vou precisar comprar a Poção de Acônito todo mês.

- Não será preciso, Remo. Severo a fará para você.

Eu o olhei em dúvida. Snape dedicava um ódio tão intenso a Tiago, que este ódio se estendia a Sirius, a Pedro e a mim. Ele não devia esquecer daquela fatídica noite em que quase morrera estraçalhado pelas minhas garras...

- Tem certeza que ele aceitará, professor?, perguntei, incerto.

Dumbledore sorriu.

- Remo, agora você é meu colega. Pode me chamar de Alvo. E, quanto a Severo, sim, ele aceitará. Eu garanto.

0 Uma grande tranqüilidade se apossou de mim quando ouvi isso, e Dumbledore pareceu perceber, pois riu. Depois, me convidou para tomar sorvete de limão, um doce trouxa. Nunca comi nada mais gostoso.

¬¬¬

Era uma noite de tempestade, uma tempestade que persistia há três dias. Eu, que achara vinte libras de trouxa na rua, saí para um mercadinho próximo a fim de comprar sorvete. Parece ridículo, sair de noite no meio da chuva apenas para comprar sorvete, mas eu iria receber Estúrgio dali a meia hora e queria ter algo para lhe oferecer.

Desde que começara essa tempestade, eu não tinha qualquer contato com o mundo bruxo. Meu rádio ficava muito irritado em dias de chuva, e eu só conseguia ouvir o zumbido irritante quando o ligava. O tempo ruim me impedia de ir a Londres.

Eu voltava do mercadinho, quando tive uma horrível sensação de estar sendo seguido. Naquela noite fantasmagórica, era realmente apavorante. Eu ainda não sabia que Sirius tinha fugido de Azkaban. E sentia sua presença, ali, firme e nítida.

Estava nervoso e perturbado. Cada passo me parecia difícil. A cada momento eu esperava que alguém me atacasse — e, de alguma forma que eu não podia compreender, Sirius estava envolvido nisso. Sirius era a causa disso. Ele estava ali, e eu não podia suportar que estivesse. A tensão era muito forte, o medo era muito intenso.

Não sei que espíritos do além me fizeram gritar:

- VENHA ME MATAR, SIRIUS BLACK!!!

Como que atendendo ao meu chamado, um relâmpago iluminou o terreno vazio à minha frente. E surgiu, envolto pela luz, um enorme cachorro negro de olhos claros.

- Sirius!..., exclamei.

Num arroubo de loucura, parti para o campo, mas, quando o iluminei com minha varinha, Sirius não estava mais lá. Alucinado, corri até minha casa. Felizmente ainda trazia o sorvete.

Dentro da minha casa quente e iluminada, a salvo dos relâmpagos e da chuva, foi muito mais fácil acreditar que o que eu tinha visto era apenas uma alucinação ou era um cão vadio qualquer, que, pelo meu estado de nervos, eu tomara por Sirius. Foi quando, me assustando mais ainda, ouvi um grito vindo da minha lareira:

- Remo!!! REMO!!!

Saí correndo e vi a cabeça de Estúrgio pairando nas chamas. Ele pareceu muito aliviado em me ver. Estava nervoso.

- Nossa, pensei que tinha acontecido alguma coisa, ele comentou. Esqueceu da hora que marcamos?

- Não, eu achei vinte libras na rua ontem, e fui ao mercadinho dos trouxas comprar sorvete.

- Sorvete?

- É, sorvete de limão. Acho que só os trouxas tem... Quer provar? Pode vir, não precisa ficar aí ajoelhado na lareira da sua casa.

Estúrgio então entrou, esfregando as cinzas de seu terno impecável, que contrastava com minhas vestes puídas e remendadas.

- Firme e forte com seu trabalho no Profeta Vespertino?, perguntei.

- Pois é, ele disse.

Apesar de ser um repórter, Estúrgio era uma pessoa extremamente discreta. Não obstante, tinha galgado cargos no Profeta Vespertino com uma rapidez extraordinária, e hoje era editor do jornal.

Nós dois sentamos e começamos a conversar, enquanto eu conjurei umas taças e colheres para podermos comer o sorvete. Estúrgio apreciou muito.

- Eu já vou indo, ele disse, após esvaziarmos juntos o pote de sorvete. Só queria te dizer que estou aqui para o que precisar, Remo, e para não ficar com medo, você está protegido.

Estranhei.

- Por que está dizendo isso?

- Vai me dizer que você não sabe?

- Do quê?

Estúrgio deu um tapão na testa.

- Céus, Remo, faz três dias que aconteceu e você não sabe?

- Meu rádio está dando interferência por causa da chuva e eu não pude ir a Londres... O que houve? Aconteceu alguma coisa séria?

Ele suspirou. Parecia embaraçado e até ansioso, o que geralmente não combinava com seu espírito calmo e equilibrado.

- Não queria ter que ser eu a te contar, Remo... Decididamente não queria... Mas simplesmente não posso deixá-lo desprevenido.

- Fale então, Estúrgio! Afinal, o que é que houve?!

- Bem... Fugiram de Azkaban.

Fiquei estupefato, mas cheguei a me aliviar um tanto. Estúrgio parecia estar fazendo tempestade em copo d'água.

- Você diz de Azkaban? Nossa! Mas com os dementadores e tudo?

Com os dementadores e tudo. Ninguém sabe como.

Não senti nenhuma alteração no meu emocional. Ao contrário de tantos, não tinha medo dos Comensais da Morte. Eles já tinham tornado minha vida tão desgraçada que tanto fazia se aparecessem para arrancar minha cabeça ou não.

- Bem, alguém tinha de ser o primeiro. Quem foi o prodígio?, perguntei, até displicente.

- Black.

Senti a surpresa e a total paralisação me invadir. Ouvia meu sangue latejando nas minhas orelhas e pulsando em cada parte do meu corpo, tal foi o silêncio que pairou na sala.

Então, no segundo seguinte, a cena da rua me atravessou o cérebro como um raio e compreendi que ele estava ali fora. Corri para fechar as janelas e lacrei a porta com um “Alorromora”.

- Credo, Remo, não é para tanto, disse Estúrgio, impressionado com tamanha correria.

- Eu vi Black agora há pouco.

Estúrgio congelou, olhando para os lados como se Sirius fosse pular de um
armário em cima de nós.

- Como?

- Eu disse que fui ali no mercadinho... Estava nervoso... Então, um relâmpago o iluminou... Pensei que fosse outro cão preto qualquer, mas agora vejo que era ele... Está rondando!

- Como assim, um "cão preto"?, perguntou Estúrgio sem entender.

Percebi o que dissera e corrigi-me imediatamente:

- É o termo local para mendigos. A gente convive tanto com os trouxas que adota algumas figuras de linguagens...

Estúrgio pareceu satisfeito com minha explicação, mas continuava a olhar para os lados nervosamente.

- Remo, você acha que é seguro ficar aqui? Se quiser, há uma vaga lá em casa até você ir para Hogwarts...

- Não, Estúrgio. Não quero incomodar você... Ficarei aqui mesmo. Black não me fará mal.

- Ora, só porque ele foi seu amigo...

- Não, não é por isso. Se ele quisesse me fazer mal, teria me feito mal há doze anos, no dia em que se despediu de mim para ir entregar Tiago e Lílian. Agora há pouco, ele também poderia ter me matado.

- Bem..., ele disse, inseguro. Saiba que, sempre que precisar, estarei aqui.

- Obrigado.

- Ah, outra coisa. Dizem que ele está atrás de Harry.

- O filho de Lílian e Tiago?

- Esse mesmo, Harry Potter. É informação confidencial do ministério, mas dizem que, antes de fugir, Black começou a falar durante o sono... Sempre as mesmas palavras... Ele está em Hogwarts... Ele está em Hogwarts...

Estúrgio era realmente um homem discreto. De posse de uma bomba dessas, que podia estourar o Profeta Vespertino, ele se calava.
Minha cabeça estava levemente desnorteada.

- O que ele pretende com isso?

- Parece que Black acha que vai fazer Você-Sabe-Quem voltar. Acho que ele ficou louco em Azkaban. Bem, quem não ficaria...

Se mexendo estranhamente, Podmore entrou pela lareira com um pouco de Pó de Flu que tinha trazido (eu estava em tanta falta de dinheiro que não tinha Pó de Flu), e desapareceu. Eu fiquei lá, sozinho. Pensando que até seria melhor que Sirius viesse me matar. Pelo menos eu poderia ouvir o que ele tinha a dizer.

¬¬¬

Eu recebi uma coruja de Dumbledore, onde ele falava que eu deveria, por medida adicional de segurança, pegar o Expresso de Hogwarts, afinal, parecia que dementadores iam fazer uma revista adicional no trem, e eu deveria estar lá para afastá-los se fosse o caso. Como era o primeiro prisioneiro foragido de Azkaban, os dementadores pareciam estar considerando um caso pessoal. Isso tirando o fato de que Sirius era conhecido como o servo mais fanático de Voldemort, e que matara treze pessoas.

Fiquei mais aliviado, principalmente porque eu não vi mais Sirius rondando minha casa, mas a sensação de perigo não passou. Me sentia estranho, acuado, olhando para trás toda vez que saía para ir a Londres. Dédalo veio três vezes numa semana para ver se eu estava bem. Sim, era um ótimo amigo, se é que algum dia outra pessoa poderia ter para mim todo o amplo significado dessa palavra.

Entrei no Expresso de Hogwarts, no dia 1º de setembro, e tudo me despertava doces reminiscências. Aquele castelo seria novamente o meu lar. Eu tornaria a pegar aquele trem que eu supunha que nunca mais veria quando saí da Plataforma 9 1/2 com dezoito anos. E os aluninhos... Quem sabe, naquele mesmo instante, quatro garotos inocentes não estivessem se encontrando para formar uma grande amizade?

Fui atrás da última cabine do trem, a que eu, Tiago, Sirius e Pedro costumávamos sempre ocupar. Porém, assim que sentei, senti um sono avassalador me derrubar. Nada mais vi. Que professor útil eu sou.

Só acordei horas depois. Quando abri os olhos, porém, pensei que continuava dormindo. O trem estava num blecaute total, e parecia que outras pessoas tinham ocupado minha cabine. As vozes eram barulhentas e o que se ouvia era uma grande confusão.

Mas no meio da confusão, escutei vozes, vozes desesperadas que vinham de dentro de mim...

“— Por que você fez isso, meu amor, por quê? Você devia ter deixado que eu morresse… Por quê? — choramingou Sirius.”

Percebendo imediatamente o que estava acontecendo, levantei.

- Silêncio!

As vozes silenciaram. Iluminei minha varinha, e examinei lentamente os adolescentes que tinham ocupado minha cabine. De repente, pensei ter visto Tiago, mas um Tiago com olhos verde-vivos como os de Lílian... “Harry…”, pensei, sentindo um arrepio me atravessar as costas.

- Fiquem onde estão, eu disse, nervoso.

Avancei para a porta da cabine. Antes que eu pudesse alcançá-la, porém, um vulto encapuzado a abriu.

Um frio intenso me atingiu e milhares de vozes e imagens irromperam em minha mente.

“- Camille… Fale comigo! Camille!”

“- Parabéns, Srta. Rain… A senhorita vai ser mãe.”

“- Voldemort acredita que o menino que tem poder para derrotá-lo é Harry.”

“- Remo… Você-Sabe-Quem atacou Tiago e Lílian.”

“- Sirius os entregou, Remo.”

“- Não lembro bem… Acho que era outro amigo dos Potter… Alguma coisa como Pettrogred…
- Pettigrew?”


Sacudi minha cabeça. Quando vi, havia um garoto no chão; era Harry, que se contorcia como tomado de uma convulsão. Imaginando o que acontecera, saltei por cima dele, e exclamei para o dementador:

- Nenhum de nós está escondendo Sirius Black dentro da capa. Vá.

O dementador não se mexeu. A presença dele fazia os garotos ficarem pior, e uma menina num canto tremia tanto que pensei que seria a próxima a desmaiar. Então murmurei:

- Expecto patronum!

Um cão prateado avançou para o dementador. Felizmente, antes que os adolescentes pudessem distingui-lo, ele espantou o dementador pelas cabines.

As luzes tornaram a se acender, e eu vi os garotos no chão. Uma menina, de cabelos cacheados e armados, e um garoto ruivo e sardento se ajoelharam junto dele, enquanto um outro, de rosto redondo, se aproximou de mim hesitante, pálido e nervoso. Harry acordou, e pareceu confuso.

- Você está bem?, perguntou o menino ruivo.

- Estou, disse Harry. Que aconteceu? Onde está aquela... aquela coisa?
Quem gritou?

- Ninguém gritou, disse o menino ruivo.

Na frente dos meus olhos, bailavam os corpos de Tiago e Lílian, Lílian com aquela expressão de intenso desespero... O quanto ela não deve ter lutado...

Peguei uma barra de chocolate que trazia no bolso, comprada com o meu primeiro salário de professor. Parti-a em pedaços e ofereci um a Harry.

Ele apanhou, mas não comeu.

- Que era aquela coisa?

- Um dementador, respondi, distribuindo o chocolate aos outros garotos. Um dos dementadores de Azkaban.

Coloquei a embalagem amassada no meu bolso. Olhei para Harry, e vi que ele ainda segurava o chocolate nas mãos.

- Coma. Vai lhe fazer bem... Preciso falar com o maquinista, me dêem licença.

E saí. Por todo o trem, garotos pálidos olhavam nervosamente para os corredores. Fui até a cabine do maquinista, um bom homem chamado Johnnes, que eu e os outros três conhecêramos no quarto ano.

- Olá, Sr. Johnnes!, cumprimentei.

- Ora, ora, se não é o Remo Lupin!, exclamou ele, me deixando feliz por ter se lembrado. Não está um pouco grande demais para estar nesse trem?

- Sou professor agora, Sr. Johnnes, eu ri. Vim no trem, medida adicional contra os dementadores... Tem alguma coruja aí? Um aluno passou mal lá atrás.

- Tem a minha velha Angus, ali, ele disse, apontando para sua velha coruja branca, sempre encarapitada acima de sua cabeça. Pode usar.

Apanhei um pergaminho dentro da minha maleta e escrevi o melhor que pude, com o trem em movimento, especificando o assunto. Mandei a coruja, sorri para Angus e voltei à cabine.

Sorri por dentro. Nenhum dos garotos havia ainda comido o chocolate.

- Eu não envenenei o chocolate, sabem...

Só aí eles perceberam e voltaram a comer. Examinei a paisagem e falei:

- Vamos chegar a Hogwarts dentro de dez minutos. Você está bem, Harry?

- Muito bem, disse o menino, aparentemente constrangido.

Imaginei que ele deveria estar envergonhado, então não insisti, preferindo examinar a paisagem pela janela e fazer uma nova patrulha pelo corredor, perguntando aos monitores se nenhum aluno passara mal. Estava chegando ao meu lar.

¬¬¬

Desci do ônibus e a primeira pessoa que vi foi Hagrid, chamando os alunos do primeiro ano. Realmente, em Hogwarts, certas coisas nunca mudam.

Acenei para o guarda-caça, agora professor — Dumbledore me contara que
Kettleburn tinha se aposentado, e que ele tinha chamado Hagrid, o que eu achei muito merecido.

Vi Harry, Rony e Hermione (agora eu sabia o nome dos garotos) pegarem uma carruagem à frente. Apanhei outra, vendo aqueles enormes Testrálios guiando-as. Eu sempre soubera que eram Testrálios que puxavam as carruagens, mas só depois da morte de Camille pude vê-los claramente.
Estão sempre por aí, sabe. Voando pelo céu, passando por cima da cabeça das pessoas. Mas poucos podem vê-los.

Cheguei um pouco depois dos meninos, e vi que eles pareciam estar em uma situação de tensão com um garoto, de cabelos louro-platinados e um rosto fino que me lembrava muito Lúcio Malfoy. Como antigo Maroto e ex-monitor, sempre tive um faro infalível para confusão, como a Profª Minerva.

- Algum problema?, perguntei, me aproximando.

O menino me examinou e, pelo visto, não concluiu nada bom, pois disse com um ar insolente e desagradável:

- Ah, não... hum... professor...

E saiu rindo com outros dois garotos. Não me senti perturbado nem sequer alterado. Eu estava voltando a Hogwarts, e nada poderia derrubar o meu ânimo, nem um garoto insolente, nem um dementador. Era quase como se uma nova energia nascesse dentro de mim.

Fui até o Salão Principal, e sentei-me na Mesa Principal. Era uma sensação decididamente estranha, olhar de outro ângulo para as mesas, e ver tantos alunos, como eu, Tiago, Sirius e Pedro, estudantes que nada sabiam do mundo lá fora... De como aquele mundo podia ser cruel.

Olhei para o outro lado. Snape me olhava, com aquela expressão de desprezo que não mudara nada desde a última vez em que nos vimos, com nossos míseros dezessete anos... Será que já superara o fato de eu quase tê-lo matado?

Assisti a seleção, que me provocou uma doce nostalgia. Olhando para cada garotinho, eu podia pensar no que eles iriam fazer em Hogwarts... Se algum dia, quatro amigos iriam sacudir esse castelo como eu e meus amigos tínhamos feito. Aplaudi a entrada de cada aluno, vendo o nervosismo deles, lembrando do meu próprio nervosismo.

Dali de onde eu estava, podia ver Harry, Rony e Hermione, que conversavam aos cochichos. Harry e Hermione tinham entrado cerca de dez minutos depois dos outros, e eu sabia os motivos: o meu aviso sobre Harry e o vira-tempo de Hermione. De passagem, a Profª McGonagall me falar sobre ela, que tinha decidido cursar todas as matérias, e como que me reconheci na garota. De repente, Dumbledore se ergueu e eles se calaram. Era como ver Tiago olhando para o diretor...

- Sejam bem-vindos, começou Dumbledore. Sejam bem-vindos para mais um ano em Hogwarts. Tenho algumas coisas a dizer a todos, e uma delas é muito séria. Acho que é melhor tirá-la do caminho antes que vocês fiquem tontos com esse excelente banquete...

Eu me sentia novamente um aluno de Hogwarts. A emoção de rever aquele castelo tão querido, com aquele diretor tão amado fazendo seus discursos, era mais que eu podia suportar no meu coração. Senti meus olhos queimando.

- Como vocês todos perceberam, depois da busca que houve no Expresso de Hogwarts, a nossa escola passou a hospedar alguns dementadores de Azkaban, que vieram cumprir ordens do Ministério da Magia.

Dumbledore parecia levemente insatisfeito, e uma sombra mínima de irritação passou pela sua voz naquele instante.

- Não faz parte da natureza deles entender súplicas nem desculpas. Portanto, aviso a todos, e a cada um em particular, para não darem a esses guardas razão para lhes fazerem mal. Apelo aos monitores, e ao nosso monitor e monitora-chefes, para que se certifiquem que nenhum aluno entre em conflito com os dementadores.

Estavam todos muito quietos.

- Agora, falando de coisas mais agradáveis, continuou Dumbledore, tenho o prazer de dar as boas-vindas a dois novos professores este ano. Primeiro, o Prof. Lupin, que teve a bondade de aceitar ocupar a vaga de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Eu me ergui, e ouvi alguns aplausos pouco entusiásticos. O maior número de aplausos vinha da mesa da Grifinória, dos garotos que eu tinha ajudado na cabine, e Harry aplaudia entre eles. Olhei para os outros alunos, que olhavam para as minhas vestes e prometi para mim mesmo: eu iria mostrar a eles que não são as vestes que fazem um bruxo.

- Quanto ao nosso segundo contratado, continuou Dumbledore quando cessaram as palmas para mim. Bem, lamento informar que o Prof. Kettleburn, que ensinava Trato das Criaturas Mágicas, aposentou-se no fim do ano passado para poder aproveitar melhor os membros que ainda lhe restam. Contudo, tenho o prazer de informar que o seu cargo será preenchido por ninguém menos que Rúbeo Hagrid, que concordou em acrescentar essa responsabilidade docente às suas tarefas de guarda-caça.

Aplaudi entusiasmado com os alunos, porque eu sabia que Hagrid merecia aquele cargo. Era emocionante ver seu rosto vermelho-rubi, baixo, e suas mãos enormes e trêmulas de emoção, e eu pensava em como aquele homem era bom e fiel a Dumbledore. Pensava em como Tiago teria ficado feliz de saber que Hagrid tinha sido promovido.

O Prof. Dumbledore recomeçou a falar:

- Bem, acho que, de importante, é só o que tenho a dizer. Vamos à festa!

¬¬¬

Depois, rumei para a minha sala. Larga, espaçosa, e devidamente mobiliada, com uma escrivaninha que, felizmente, eu não teria que transfigurar numa vaca todas as manhãs. Sem sono, me sentei e comecei a preparar as aulas da semana.

Fiquei até altas horas da noite escrevendo e planejando. Quando finalmente senti meus olhos pesarem, já tinha escrito três semanas de aula.

E, quando fui dormir, dormi o mais tranqüilo dos sonos: o sono de quem se sente finalmente em casa.

N.A: Comentem!! :)

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