As Pessoas Mudam



N.A.: Fiquei um tempo sem olhar a fic, e me surpreendi quando abri de volta! Quanta gente nova comentando! Valeu pelos comentários, e eu ri muito... chupa-cabra... Ah, gente, o Remo é tão tristinho, não dá pra pensar que a vida dele foi um mar de rosas, né? Bem... não posso dizer que estou reservando alegrias próximas... Mas continuem lendo!



Os dias que se passaram a seguir foram apenas um longo e contínuo pesadelo do qual parecia não haver acordar. Lílian e Tiago tinham escapado mais uma vez às garras de Voldemort… E eu tinha perdido um pedaço de mim mesmo.

O ciúme que antes eu sentia de Sirius se transformou em compaixão. Ele parecia mais acabado do que eu… Tinha perdido sua filha e sua esposa naquele maldito ataque. Pensei, por um momento, que ele podia acabar como Anthony Queen, mas Sirius Black sempre foi um homem de fibra. Houve muitos momentos em sua vida nos quais ele podia ter simplesmente desistido de tudo e se matado, mas ele fazia o contrário: apegava-se mais às coisas que lhe restavam, fossem elas pessoas ou deveres.

Foi assim que ele se apegou ao Tiago e à Lílian ainda mais do que antes. Naqueles dias, os dois conseguiram reviver a antiga amizade de quando nada mais queriam a não ser fazer farra. Lógico que já eram homens maduros e não saíam por aí fazendo as pessoas voarem, mas a amizade deles era tão estreita quanto naquele tempo.

Eu fiz o contrário de Sirius. Enquanto ele se apegava mais aos amigos, se aproximava mais das pessoas, eu ficava no meu canto, desejando que a morte viesse ceifar minha vida por algum acaso. Me afastei de todos, até mesmo de Tiago e Sirius, e só a Pedro é que eu me animava a fazer confidências. Talvez tenha sido esse afastamento que levou os outros a pensarem que eu era o espião, não sei.

Por essa época, Lílian adoeceu, e Tiago a levou para o St. Mungus, acompanhado de Sirius. A alegria com que Sirius entrou em casa naquele dia foi algo surpreendente.

— A Lílian doente e você feliz assim?

— A Lílian não está doente, Remo!

Respirei aliviado. Os ataques dos Comensais da Morte já eram um prato cheio sem doenças.

— Então o que ela tinha?

— A Lílian está grávida!

Entrei em choque. Sirius cantarolava pela sala, e eu ali, sorrindo, sem saber o que fazer.

Harry nasceu no dia 31 de julho do ano seguinte, um dia depois do nascimento de Neville, o filho de Frank e Alice Longbottom.

Eu estava na maternidade do St. Mungus quando Harry nasceu, e Tiago veio mostrá-lo a nós, muito emocionado.

— É a cara do pai — atestei.

— Tomara que a cabeça seja um pouquinho melhor — riu Sirius, meio trêmulo, vendo aquele menino frágil nos braços do amigo.

Sirius foi escolhido para padrinho de Harry, e também para tutor do menino.

Ah, nem imaginávamos tudo o que o nascimento de Harry representava, até que, cerca de três meses depois, Dumbledore fez uma reunião, em seu escritório, na qual estavam presentes apenas eu, Tiago, Sirius, Pedro, Lílian, Alice e Franco. Ele também exigiu a presença de Harry e Neville.

— E então, Dumbledore? — perguntou Sirius inquieto, após todos os membros terem chegado. — Qual é o assunto?

Dumbledore olhou Sirius com sua habitual calma.

— Já entrarei no assunto, Sirius. Primeiro, quero fazer uma introdução.

Ele olhou a todos longamente, se detendo principalmente em Tiago e Lílian, que estavam distraídos olhando o pequeno bebê.

— Todos vocês sabem que, até hoje, esperamos ansiosos o homem que poderá nos libertar da ameaça de Voldemort.

— Esse homem é o senhor, professor — atestei.

— Não, Remo, não sou eu. Eu não sou capaz de derrotar Lord Voldemort.

Todos nos entreolhamos. Eu olhei para Harry e para Neville, condenados talvez a viver num mundo sob o jugo das forças das trevas. Meu medo não era por mim, e sim pelos amigos que me eram tão caros.

— Se o senhor não é capaz de deter Voldemort, quem será? — perguntou Sirius.

— É sobre isso que eu queria falar.

“Há algum tempo agora, estive entrevistando uma pessoa que queria se candidatar a um certo cargo de Hogwarts. Eu fiquei decepcionado, pois pensei que decididamente ela não era a pessoa apta a assumir o cargo para o qual estava se candidatando. Eu já estava partindo… quando ela fez uma profecia.”

— Profecia? — repeti um tanto cético, pois não costumava acreditar nestas coisas.

— Sim, Remo. E, pelo que estou vendo em seu olhar, você não acredita em profecias. Mas esta, caro amigo, lhe asseguro que esta é verdadeira.

Eu pus-me a escutar, afinal, se Dumbledore garantia…

— Esta profecia dizia o seguinte... Aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas se aproxima… nascido dos que o desafiaram três vezes, nascido ao final do sétimo mês… e o Lorde das Trevas o marcará como seu igual, mas ele terá um poder que o Lorde das Trevas desconhece… e um dos dois deverá morrer na mão do outro pois nenhum irá viver enquanto o outro sobreviver… aquele com o poder de vencer o Lorde das Trevas nascerá quando o sétimo mês terminar…

Todos fomos atingidos pelo silêncio. Quem o quebrou foi Sirius:

— Você está querendo dizer… que Harry e Neville…

— Sim, Sirius. Harry e Neville podem ter o poder de derrotar o Lorde das Trevas.

Sirius coçou a cabeça, sem saber o que pensar. Lílian se abraçou a Harry, e Alice apertou Neville junto ao peito. Eu estava atordoado.

— Ainda tem algo que eu devo contar… — murmurou Dumbledore.

A expressão no seu rosto era ainda mais séria.

— Quando a profecia foi revelada… Havia mais alguém escutando.

Gelei.

— Voldemort?

— Não, Remo. Ele não viria me procurar em pessoa.

— Então… foi um dos Comensais?

Dumbledore fez que sim. Agora, o que pairava na sala era um clima de agonia e medo. Eu próprio estava tonto.

— Voldemort acredita que o menino que tem poder para derrotá-lo é Harry.

Tiago empalideceu. Eu nunca tinha visto ele ficar pálido daquela maneira, quando tocou os ombros de Lílian e apertou-a junto a si. Olhei para Sirius, ele também parecia pálido. Pedro estava terrivelmente agitado, suando, vermelho.

— E o que fazemos, diretor? — perguntou Tiago.

— Vocês devem se esconder, com Harry. Voldemort fará tudo para acabar com as nossas chances. Ele fará tudo para acabar com Harry.

— E Neville? — perguntou Alice.

— É melhor que vocês o escondam também. Pode ser que os planos de Voldemort mudem, e queremos estar preparados para tal. Porém, há outra coisa que eu devo informar, Lílian, Tiago.

Os dois ficaram em silêncio, à espera.

— Alguém muito próximo de vocês passou para o outro lado.

Eu, Sirius e Pedro nos entreolhamos. Uma sombra de desconfiança passou
no olhar do meu amigo Almofadinhas.

— Como assim, Dumbledore? — perguntou Tiago, olhando para nós.

— Há relatórios de um espião de Voldemort. Passando cada informação dos dois… Portanto, cuidado a quem contam seus problemas. Cuidado.

E ele olhou demoradamente para mim, para Pedro e para Sirius.

A partir daí, Tiago e Lílian pararam de sair de casa, e também pararam com as missões da Ordem. Ficavam todo o tempo em casa. Venderam a loja, e quem a comprou foi Sirius, que deixou o emprego no Ministério e transmitia quase toda a renda mensal para o casal, vivendo comigo na Ordem.

Pedro andava esquisito. Quando passeávamos na rua, ele não parava de olhar para trás. Parecia se sentir perseguido. Uma vez, quando estávamos na sede da Ordem e Sirius saíra, lhe perguntei:

— Pedro, o que você tem? Desde que Harry nasceu você tem andado esquisito!

— Esquisito, eu? — perguntou Pedro nervoso. — Imagine. Está enxergando coisas demais, Remo.

— Não, não estou — repliquei. — É medo?

— Medo? Do que eu teria medo?

— Oras bolas, de Voldemort.

Ele se encolheu como se eu tivesse brandido um chicote contra ele.

— Viu só! — exclamei. — Você está com medo sim, não adianta negar!

Pedro sentou-se no sofá.

— Ah, Remo, tenho medo sim. Nunca fui corajoso como você, Sirius e Tiago. Desculpe falar isso, mas sinto medo do que possa acontecer.

“Pedro sempre foi um covarde”, não pude deixar de pensar, mas, como ainda assim eu o considerava um amigo fiel, pus-me a consolá-lo.

— Ora, Pedro, não fique assim. Seremos fortes. Pode deixar, sempre que estiver conosco, nós o protegeremos. Você também é forte, você também será capaz de resistir se ele atentar contra sua vida.

Pedro se debulhava em lágrimas.

— Não, Remo, não sou forte, sou um fraco, um covarde inútil, é isso que eu sou! Não sou capaz de lançar um feitiço corretamente nem pra salvar minha vida! Se Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado vier, ele me matará num instante!

Ele estava inconsolável, e eu o abracei para demonstrar minha amizade.

— Não posso dizer que seu medo é infundado, Pedro. Mas também não
concordo que você é um fraco. Você poderia fazer muito mais se quisesse.

Pedro continuou a soluçar, me dando pena.

Alguns meses se passaram. Lílian e Tiago tentavam se esconder, e acabavam mudando freqüentemente de casa, até irem parar em Godric’s Hollow, a última casa onde viveriam. Nisto, Harry já tinha um ano, e Lílian e Tiago fizeram uma reunião íntima para comemorar. Fomos eu, Sirius, Pedro, Dumbledore, o Prof. Flitwick, a Profª McGonagall, e o casal Longbottom, com Neville. Durante a festa, após cantarmos parabéns para o simpático garoto que nada entendia e partirmos o bolo, Lílian anunciou:

— Nós já resolvemos como faremos para nos esconder definitivamente.

Tiago envolveu os ombros da esposa, e acariciou a cabeça do filho. Vê-lo tão responsável e adulto despertava lembranças em mim, da nossa época de alunos de Hogwarts, quando ele azarava quem passasse no seu caminho e ficava brincando com aquele pomo.

— Como vocês farão? — perguntei.

Eles olharam de um modo estranho para mim. Aliás, todos estavam me olhando de um modo estranho ultimamente. Como se soubessem de alguma coisa; como se eu estivesse fazendo alguma coisa errada, seria mais adequado.

— Usaremos o feitiço Fidelius — disse Lílian.

Assobiei.

— Boa idéia — elogiei. — Assim, não haverá modo de Voldemort encontrar vocês. O velho vilão vai se decepcionar!

Eles tornaram a olhar para mim daquele modo que tanto me desagradava, e eu, incomodado, me calei. Por que eles estavam olhando daquele jeito para mim?

— O fiel do segredo será Sirius — disse Tiago, batendo no ombro do amigo.

Sirius, que obviamente estava a par do plano, sorriu encabulado. Dumbledore disse, sério:

— Se quiser, eu próprio posso ser o fiel do segredo, Tiago.

— Não, Prof. Dumbledore — disse Tiago sem titubear. — Sirius está se
escondendo também, e é de confiança. O senhor não deve ficar se preocupando com nossos problemas… Amanhã faremos o feitiço.

Dumbledore estava apreensivo, mas eu não via o porquê; Sirius era o mais fiel amigo de Tiago. Antes de traí-lo, morreria.

Pelo menos era o que eu pensava.

Uma semana após eles terem feito o feitiço, Sirius andava inquieto na sede da Ordem. Eu, sentado tranqüilamente a ler um livro, o vi passar para lá e para cá e perguntei:

— O que você tem, Sirius? Não pára de se mexer, parece até o Pedro!

Sirius olhou para mim como se eu fosse a causa de todos os seus problemas.

— É justamente isto. O Pedro. Onde ele está?

— Ora, onde o Pedro está. Na casa dele, onde estaria?

— Bem, vou visitá-lo.

Fiquei apreensivo.

— Você não devia sair de casa, Sirius. Depois um Comensal da Morte o pega por aí e lhe arranca o segredo…

Sirius riu sombrio.

— Terão que me matar se quiserem tirar o segredo de mim — disse, com um olhar muito significativo.

Apanhou a capa e saiu. Eu suspirei e voltei à leitura.

Passaram-se algumas horas. Como a casa de Pedro não era muito longe, fiquei nervoso quando anoiteceu. E se tivesse acontecido alguma coisa com Sirius? Nesse caso, o feitiço seria desfeito… Tiago e Lílian morreriam… Tentei afastar esses pensamentos de minha cabeça.

Sentei-me no sofá e recomecei a ler o livro, mas não conseguia me concentrar. Inquieto, larguei o volume e pus-me novamente a andar para lá e para cá.

¬¬¬

A noite já ia alta. Vencido pelo cansaço — acabara de sair de uma noite de lua cheia —, dormi no sofá. Tive pesadelos horríveis. Num deles, pareceu-me ver uma grande fogueira, e dela surgia a cabeça de Dédalo Diggle…

De repente acordei, e descobri que não era um pesadelo. A cabeça de Dédalo Diggle estava na lareira.

— Dédalo? — perguntei, sonolento. — Por que você não usou o espelho?

— Esqueceu que quebraram o meu?

— Ah, é. Espera aí.

Fui procurar num papel qual era a senha de Dédalo Diggle. Após a morte de Camille Rain, eu não caía naquele erro.

Achei o papel dentro do livro que eu lia.

— Er… como é mesmo? O que aconteceu quando você tinha 11 anos e pegou a vassoura de sua mãe?

— Eu voei até um aeroporto de trouxas, quase bati num daqueles, como é, aviões, e tiveram que lançar feitiços obliviadores em pelo menos 50 trouxas que me viram voando.

— E as bandeirinhas eram? — perguntei, me referindo àquelas bandeiras que os trouxas abanam para sinalizar que os aviões podem pousar.

— Vermelhas e amarelas.

— Tá certo. O que aconteceu?

— Remo, é melhor sentar.

Sentei ainda tonto de sono, sem suspeitar de nada. Dédalo me olhava com pena, e eu senti raiva. Detesto que olhem assim para mim.

— O que foi, Dédalo?

— Remo… Você-Sabe-Quem atacou Tiago e Lílian.

Foi como se alguém tivesse derramado em mim um balde de água fria.

— Como? — perguntei, agora inteiramente desperto, pensando que não entendera direito.

— Você-Sabe-Quem os achou em Godric’s Hollow, Remo. Tiago e Lílian estão… mortos.

Senti um frio se espalhar dos dedos das mãos até os dedos dos pés, e lágrimas desceram dos meus olhos. Tremendo muito, consegui gaguejar:

— E-e o menino? Harry?

— É aí que está o surpreendente. Harry sobreviveu. Harry derrotou Você-Sabe-Quem.

— Hã?

— Remo, Você-Sabe-Quem não existe mais.

Minha mente estava confusa demais para entender.

— Como assim? Ele morreu? Como?

— Ninguém sabe direito o que aconteceu. Ao que parece, ele matou Tiago
e Lílian. Depois, quando foi atacar Harry, o feitiço voltou, sei lá. O que eles sabem é que Harry está vivo e Você-Sabe-Quem desapareceu. Você-Sabe-Quem foi derrotado, Remo!

Tonto, esfreguei os olhos. Voldemort tinha sido derrotado. O velho vilão tinha desaparecido por causa de um garotinho!

— Mas, como Harry fez isso? Onde ele está?

— Não sei, e não sei. Parece que Hagrid o levou, por ordem de Dumbledore. Vão entregá-lo a uns parentes, sei lá quem.

A menção de que Harry tinha sido levado a parentes me fez lembrar de Sirius.

— E Sirius? Acharam o corpo dele? — pois me parecia óbvio que ele tinha
morrido.

— Que corpo? Sirius está morto?

— E não está?

— Não que a gente saiba.

— É melhor procurar, Sirius era o Fiel do Segredo de Tiago e Lílian…

— Eles fizeram o Feitiço Fidelius?

— Sim, e Sirius era o Fiel do Segredo. Temos que procurar, ele deve ter morrido.

— Remo… acho que Sirius não está morto.

Eu ri um tanto desequilibrado.

— É claro que está. Sirius preferiria morrer a entregar Tiago e Lílian.

— Sirius pode ter traído Tiago e Lílian.

— Tá, e os porcos voam.

— Depende do porco, javalis da Sibéria voam.

— Javalis da Sibéria não são porcos, Dédalo.

— São sim…

— Por que estamos discutindo isso? — perguntei, me dando conta do que dizíamos.

Ficamos quietos por um momento. Eu tremia ainda.

— Eu vou até Godric’s Hollow, Dédalo — decidi. — Tenho que averiguar. E dar um enterro decente a Tiago e Lílian…

Comecei a soluçar.

— Calma, Remo. Veja, Tiago e Lílian morreram como heróis, eles foram em parte responsáveis pela derrota de Voldemort…

— Ele era meu melhor amigo, Dédalo. Ele era meu melhor amigo…

Eu tremia.

— Moody está em Godric’s Hollow. Ele vai cuidar de tudo. É melhor você descansar.

— Não vou conseguir, tenho que ir lá. Tenho que ver.

— Você que sabe. Estarei em minha casa, se precisar…

— Obrigado.

A cabeça de Dédalo sumiu da lareira. Mortificado, saí da sede e aparatei até Godric’s Hollow.

Levei um choque. O sobrado tão bonito de Lílian e Tiago estava em ruínas. Pedras espalhadas por todos os lados. Telhas encobrindo tudo. Os móveis reduzidos a pó. Abri caminho no meio da multidão de trouxas e vi Moody.

— Alastor — murmurei.

— Remo — ele disse.

— Onde… onde eles estão?

Moody podia não ser o bruxo mais sensível do mundo, mas entendeu o que eu estava sentindo, e levou-me até uma casa vizinha.

— Os trouxas recolheram os corpos, eu supervisionei. Estou esperando
Emelina Vance, Héstia Jones e Elifas Doge. Eles vão me ajudar a remover os corpos. Os levaremos para a sede da Ordem.

— Ele realmente se foi, Alastor?

Moody suspirou.

— Não acho que tenha realmente morrido… Mas aquele garoto deu um
jeito nele. Ele simplesmente desapareceu. Suponho que… por um bom tempo… Não precisaremos nos preocupar com ele.

Eu ainda estava atordoado demais para me alegrar com a notícia, quando
entramos na casa dos trouxas. Me olharam com surpresa, mas Alastor disse:

— É um amigo dos dois.

Sentia uma grande opressão no meu peito, quando aqueles trouxas, tão bondosos, me levaram à sala. Em cima da mesa, dois corpos encobertos por um grande lençol. Tremendo, descobri os corpos.

Tiago e Lílian estavam em cima da mesa. Pálidos. Frios. No rosto de
Tiago, gravada para sempre uma expressão de estranha serenidade. Já no rosto de Lílian, intenso desespero. A vida não pulsava mais naqueles corpos. Senti um grande vazio, como se uma ferida tivesse se aberto no meu peito e o sangue escapasse. Lílian e Tiago mortos. Lílian e Tiago mortos.

Sem me conter, comecei a soluçar em cima dos corpos daqueles amigos que me eram tão caros.

— A casa desabou… — murmurou uma trouxa atrás de mim.

De repente, vendo os corpos, me lembrei de Sirius.

— Alastor — eu chamei, limpando os olhos, evitando olhar para aquela
mesa onde estavam duas das mais fantásticas criaturas que eu já conhecera —, Alastor, onde está o Sirius? Já acharam o corpo dele?

— Sirius não está morto, Remo.

— É lógico que está. Sirius preferiria morrer a entregar Tiago e Lílian. Devem tê-lo matado, eu tenho certeza.

— Não. Sirius foi visto agora à noite, Remo. Estava conversando com Hagrid, pelo que eu pude deduzir ouvindo uma trouxa. Chegou na sua moto, viu os corpos, falou com Hagrid, deu a ele a moto, e, ao que parece, Hagrid saiu voando.

Nem me preocupei se a trouxa tinha visto Hagrid voar com o filho dos Potter; estava tonto.

— Alastor, como Voldemort pode ter atacado Tiago e Lílian se Sirius está vivo?

— Sirius os entregou, Remo.

— E a minha maior ambição é ser uma bailarina.

— Então vá comprando um saiote logo. É a única explicação. Sirius entregou Tiago e Lílian nas mãos de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado. Para salvar sua pele.

— Não pode ser… — eu murmurei.

— Olha, Remo, eu sei que você está abalado, mas enxergue a verdade. Não havia outro modo dele ter entrado. Você ouviu quando Tiago e Lílian falaram que Sirius seria o Fiel do Segredo. Se Sirius está vivo…

Atordoado, dei alguns passos para trás e caí no sofá da sala dos trouxas. Alastor sorriu para eles, e disse que eu estava me sentindo mal. Nada encaixava na minha cabeça. Sirius, um traidor.

¬¬¬

Eu ajudei Doge, Vance, Jones e Moody a levarem os corpos para o velório. O enterro seria no dia seguinte, em Godric’s Hollow mesmo, pois não conhecíamos outro lugar para enterrá-los. Minha mente tinha virado de ponta-cabeça.

Fui me arejar em Londres. Todos estavam contentes, e havia um bom número de trouxas desconfiados, pois as pessoas saíam nas ruas sem nem ao menos vestirem roupas de trouxas. Eu andava sem saber para onde ia. Só eu não estava feliz. Só eu havia perdido dois dos seres mais caros de minha vida.

Acabei entrando no Caldeirão Furado, anormalmente cheio, e pedi um copo de uísque de fogo. Estava agoniado e irritadiço.


Era o meu terceiro cálice de uísque de fogo, quando, de repente, um bruxo entrou no Caldeirão gritando:

— Sirius Black explodiu uma rua a algumas quadras daqui!

Todos imediatamente partimos em debandada até a dita rua, eu na frente.

Nunca vou me esquecer daquela visão. Até hoje, ela atormenta os meus
sonhos mais escuros. O asfalto da rua rachado. O encanamento vazando. Cadáveres de trouxas para todos os lados, sendo removidos pelas ambulâncias trouxas. E, no meio daquilo tudo, de toda aquela desolação, Sirius Black. Rindo. Rindo como eu nunca pensei que veria ele rindo, histérico, como se achasse graça naquilo tudo. Meu mundo caiu ao ver uma coisa tão deprimente.

Sirius foi agarrado por dois aurores e levado ao camburão do Ministério, ainda rindo. Por que um camburão?, pensei. Podiam tê-lo levado com uma chave de portal… Todos os trouxas já viram tudo mesmo…

Incrível como, em horas decisivas de nossa vida, a nossa mente se ocupa com tais bobagens.

Tonto, me apoiei numa parede. Foi quando ouvi a voz alta de uma bruxa que presenciara a cena:

— Ele matou doze trouxas e um bruxo com um feitiço…

— Um bruxo? Quem? — perguntou outra, angustiada.

— Não lembro bem… Acho que era outro amigo dos Potter… Alguma coisa como Petrogred…

— Pettigrew? — falei.

— Isso mesmo, isso mesmo — disse a bruxa. — Pedro Pettigrew, é esse o nome.

Os pensamentos voavam em turbilhão pela minha cabeça. Sirius Black era um traidor, Tiago e Lílian Potter estavam mortos, e Pedro também. Era como se, de repente, Dumbledore se aliasse a Voldemort.

Senti o chão me faltar e vi o mundo escurecer. Desmaiei.


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