Minha amada Claire
NA: Para aqueles que estão gostando, agora a história pega fogo... Continuem lendo! Marcella, obrigada pelo apoio!
Nas férias daquele ano, eu já podia aparatar e era um bruxo formado. Por isso, quando Sirius conseguiu montar sua casa (no ano anterior ele fugira da casa dos Black, e naquele ano recebera uma herança), e chamou todos para uma festa a fim de comemorar o aniversário de Tiago naquele mês, eu pude ir aparatando.
Quando chegamos no trem a Hogwarts, tanto Sirius quanto Tiago já tinham licença para aparatar. Pedro não passara no teste, e teria que tentar com os alunos do sexto ano. Rimos muito da cara dele.
Nada muda tão fácil em Hogwarts. Sirius e Tiago continuavam sendo causadores de confusões, mas estavam bem mais moderados. Tiago porque estava tentando conquistar Lílian, e Sirius porque levara um susto com a quase morte de Snape. Eu estava feliz. Parecia que finalmente estava tudo dentro dos conformes.
Foi naquele ano que Tiago e Lílian saíram pela primeira vez, na primeira saída a Hogsmeade. Foi uma cena surreal: Tiago viu Lílian na Sala Comunal, se aproximou muito sério, tomou as mãos dela num gesto arrebatado, e sussurrou:
- Lílian, quer sair comigo no próximo passeio a Hogsmeade?
Nós olhávamos do outro lado da sala, rindo para dentro. Estávamos esperando a explosão quando, para a nossa surpresa, Lílian murmurou:
- Quero.
Eu olhei para Sirius que olhou para Pedro que me olhou. Os três boquiabertos.
- Realmente, o importante é não desistir nunca - constatou Sirius, espantado.
Quando Tiago e Lílian saíram, nós ficamos seguindo eles por toda Hogsmeade, só pra ver o que eles iriam fazer. Até o fim do dia, estavam aos beijos no Albergue do Christian Garcia. Sirius tirou uma foto pra se convencer de que não estava sonhando.
Era também o ano do N.I.E.M., e nós afundávamos a cabeça nos estudos. Até Tiago Potter e Sirius Black eram vistos estudando, e muitas vezes eu vi colegas de turma pararem como estátuas, de olhos arregalados, frente àquela visão de outro mundo.
Mas não era por causa disso que este ano seria o meu melhor ano em Hogwarts. Claire é quem faria o meu melhor ano em Hogwarts...
¬¬¬
Alguns dias antes de nosso segundo passeio até Hogsmeade, Claire conversava nervosamente com Lílian, olhando para Sirius. Parecia prestes a tomar algum tipo de decisão, e eu estranhei, porque não imaginei o motivo. Em vez de ficar quebrando minha cabeça imaginando tais coisas, preferi fechar os vidros da Sala Comunal, pois um vento gelado vinha do lago, anunciando que o passeio para Hogsmeade não seria, de maneira nenhuma, quente.
Eu estava indo para Hogsmeade, naquele dia, quando a Profª McGonagall me parou.
- Lupin, avise o Black que a detenção dele está programada para amanhã a noite, e que ele irá acompanhar o Hagrid até a Floresta Proibida.
- Está certo, professora, eu disse solícito.
Foi um azar dos diabos aquela tempestade ter caído justo no dia em que tinha passeio para Hogsmeade. Para os estudantes e para os lojistas, menos, lógico, pra Madame Rosmerta, porque todos os estudantes de Hogwarts que tinham se aventurado a sair tiveram que se abrigar no Três Vassouras para não morrerem congelados. Eu também tive que ir correndo ao Três Vassouras. Achei, sentados no chão — porque todas as mesas estavam ocupadas —, o Tiago e a Lílian.
— Esse lugar tá cheio hoje, né, Pontas? - perguntei, à guisa de cumprimento.
— Pois é… Mas aqui no chão está quentinho, especialmente com a minha Lílian do lado…
A Lílian riu e abraçou o Tiago. Nem parecia aqueles dois que havia menos de dois anos estavam se matando por causa do Snape. Se, naquela época, alguém me tivesse dito que eles iriam ficar juntos, eu pensaria que essa pessoa teria bebido quentão demais.
— Alguém viu o Almofadinhas? — perguntei. — A Profª McGonagall me achou em Hogwarts e me mandou “avisar o Sirius Black de que sua detenção está programada para amanhã à noite e ele vai acompanhar o Hagrid até a Floresta Proibida…”.
Tiago riu pelo nariz.
— Grande coisa, nós dois entramos na Floresta e saímos do lado de Hogsmeade…
— Mas obviamente a Profª McGonagall não deve saber disso, sorriu a Lílian.
Todos nós rimos.
— Mas então, sabem onde está o Almofadinhas?
— O Rabicho deve saber, disse o Tiago. Ele tá ali, ó.
Eu me despedi com um aceno de cabeça e sai atrás do Pedro. Fui encontrá-lo do outro lado do Salão, num banco solitário, tomando uma cerveja amanteigada.
— Aí, Rabicho, viu o Almofadinhas?, perguntei.
— Ih, Aluado, não vai querer interromper ele..., ele riu.
— Por quê?
— Eu vi ele no albergue do Christian Garcia. Com a Katie Heart.
Eu suspirei. Quando Sirius se enfurnava no albergue, era melhor não incomodá-lo.
— Bem, parece que vou ter que falar com ele depois. E a Claire, você viu?
— Saiu, disse o Pedro como se fosse a coisa mais banal do mundo.
- O quê?, eu disse horrorizado. Nesse frio? Ela vai morrer congelada!
— Fala isso pra ela..., comentou Pedro. Foi lá fora com uma determinação que parecia que tava indo tirar o pai da forca.
Saí a toda e nem me despedi do Pedro. Saí correndo porta afora. Imagine, a Claire nesse frio, metida naquela neve...
Foi mal sair na rua e o vento quase congelou meu rosto. Logo ele estava insensível de tanto frio, mas eu resisti e lancei um feitiço nele.
- Impervius!
Isso melhorou um pouco o frio, e também a minha visão. Me encolhi todo no casaco e fui andando, gritando:
— CLAIRE! CLAIRE!
Mas minha voz não podia ser ouvida com a neve assobiando nos ouvidos de todos.
Fui andando e cheguei até o albergue do Christian Garcia, quase no fim da rua. Tempos depois, ele venderia aquele albergue para uma certa Amelia Puddifoot, que era seis anos mais velha que nós, e faria um salão de chá que eu, quando vi, classifiquei de repugnante. O albergue era bem mais aconchegante.
Mas naquela hora eu nem pensava em nada disso. Fiquei parado, estático, olhando.
A Claire estava sentada na frente do albergue, na calçada, a neve congelando os ombros dela, toda encolhida. Chorando.
Eu fui.
- Claire!
Quando eu cheguei perto, ela ergueu a cabeça. Pareceu feliz em me ver.
— Remo...
Eu coloquei a mão na testa dela.
— Claire, você tá ardendo em febre. Vamos pro castelo! O que aconteceu?
Com um soluço, a Claire apontou para a vidraça da casa de chá. Eu olhei.
O Sirius estava lá, praticamente devorando a Katie Heart, da nossa turma. Os dois estavam tão agarrados na cadeira que nem dava pra ver que mãos eram de quem.
— Ah, Claire..., eu murmurei, sentindo o meu coração apertar.
Eu a amava muito. Demais. Eu soube, desde o primeiro dia em que a vi, que eu a amava, e que ela amava o Sirius. Ela tinha onze anos e ela olhava para o Sirius.
— Calma, Claire, eu disse. Eu sei que você gosta do Sirius...
— Eu não gosto dele, eu o amo!
— Tá certo. Mas eu diria que ele não aprendeu ainda a pessoa maravilhosa que você é. Quer dizer, ele gosta de você, te acha uma menina legal, mas ele não gosta de você como você quer.
Claire chorou mais.
— Eu procurei ele hoje para falar que eu o amo... Eu saí do Três Vassouras, fui andando nesse frio desgraçado, procurando ele, e é isso que eu vejo! Eu pensando que ele poderia me esquentar, me tomar nos braços... E ele abraçando outra, e eu aqui no frio precisando do abraço dele…
Eu tomei uma decisão. Levantei ela e a abracei com força.
— Você pode não ter o abraço do Sirius, mas sempre terá o meu, eu disse com firmeza.
Ela olhou para mim muito surpresa, e eu contei o que me estava entalando a garganta:
— Claire, eu te amo. Eu sei que você ama o Sirius, mas eu te amo desde que te vi, desde que te conheci. Eu te amo como nunca amei ninguém, como nunca vou amar depois. Eu nasci pra você, mesmo que você não goste de mim.
— Remo...
Eu também solucei. De vergonha.
— Desculpa... Eu não consegui me conter..., eu disse com a voz embargada. Vamos... voltar para o castelo., minha voz foi ficando mais firme, e eu a soltei. Você precisa ir tomar um remédio para a febre. Vamos.
— Espera, Remo.
Eu olhei bem pra ela.
— Eu... Eu não sei o que pensar.
Eu também não sabia o que pensar. Parecia que meu cérebro tinha sido estuporado. Só podia ter sido, pra eu dizer o que disse:
— Eu sei que você ama o Sirius, você pode continuar amando ele, eu não me importo. Só deixa eu te aquecer com meu abraço...
Ela estava frágil nos meus braços. E eu, Remo Lupin, Aluado para os íntimos, fiz algo que nunca pensei que faria: beijei ela. Beijei como se fosse num dos meus sonhos com ela...
Depois, simplesmente a abracei, e ela sorriu pra mim. Aquele sorriso encantador, com aquela pintinha no rosto. Ela continuava amando Sirius. Mas era minha. E eu a apoiei no meu braço e fomos caminhando para o castelo.
¬¬¬
A febre de Claire passou logo, Madame Pomfrey foi milagrosa. Quando voltávamos para a torre, perguntei a Claire:
- Quer namorar comigo?
Ela sorriu indecisa.
- Não sei...
Mas dessa vez eu sabia. Eu sabia muito bem o que queria, e era namorar com a Claire.
- Claire, se dê uma chance. Você não pode ficar a vida toda chorando pelo Sirius. E...
Ela pôs o dedo na frente dos meus lábios, e olhou bem fundo nos meus olhos. Então, me beijou de novo, longamente.
- Eu quero.
Pedro e Lílian ficaram surpresos quando souberam que estávamos namorando, porque todo mundo sabia que a Claire era louca pelo Sirius. A Lílian pediu para eu cuidar bem dela, até. Já Tiago nem sabia de nada e só ficou um pouco surpreso.
Sirius, o mais sem noção de toda a história, foi o primeiro a nos dar os parabéns. Lembro que a Claire ficou meio estranha, mas sorriu divinamente. Talvez os parabéns de Sirius fossem uma vitória para ela.
Só que lógico, a Claire começou a se preocupar com as minhas ausências, assim como os meus amigos também fizeram. Eu comecei a ficar preocupado e irritado de novo. Inventava desculpas, uma pior que a outra. Morria de medo que ela descobrisse. Andava muito estressado, porque era a preocupação de que a Claire pudesse descobrir, mais os N.I.E.M. — eu estava indo mal em Feitiços, e Slughorn me tratava muito friamente em Poções, além do fato que eu cursava umas três matérias a mais que eles —, mais o medo de sair de Hogwarts no ano que vem — o que é que eu iria fazer da minha vida? —, e de que Dumbledore descobrisse as minhas aventuras com Tiago, Sirius e Pedro. Eu tive um acesso numa aula de Transfiguração e tive que tomar uma Poção Calmante de Madame Pomfrey.
A poção serviu para me acalmar, mas não me ajudou a evitar a Claire, e um dia ela me bloqueou no dormitório.
- Remo, você não sai daqui até me contar aonde vai uma vez por mês.
Eu estava agitado e tentei me desviar dela.
- Desculpe, Claire, daqui a pouco tenho uma aula de Poções, e...
- Eu já disse: você não sai daqui.
A voz dela tinha uma determinação inflexível, e eu percebi que realmente não sairia dali. Suspirei.
- Eu já disse, foi uma série de problemas, e...
- Chega de desculpas. Eu conversei ontem com a Lílian, e ela lembrou que você some uma vez por mês desde o primeiro ano.
Eu tentei sair do quarto novamente.
- Por favor, Claire, eu tô atrasado e...
- Eu sou sua namorada. Você pode confiar em mim.
A minha voz saiu amarga:
- Você não entende. Eu não posso contar. Você iria me deixar.
- É outra garota?, perguntou ela.
Eu ri.
- Claire, é só de você que eu gosto. Quisera Deus que o meu problema fosse tão simples quanto outra garota. Mas, se eu contar, você vai ficar com medo de mim, e eu não quero.
- Por que eu teria medo de você? Você é tão gentil...
- Mas você não sabe nada de mim. Ou melhor, o mais importante você não sabe.
- Porque você não me contou. E você sabe que pode contar comigo.
- Por favor, Claire, não me faça contar..., eu disse cheio de desespero.
Ela silenciou por alguns instantes. Pensei que ela havia desistido, mas logo começou de novo:
- Seus amigos sabem?
Eu tremi, e evitei encará-la.
- Descobriram sozinhos. Eu não queria contar.
Senti as mãos dela pousarem sobre meu ombro. A idéia de perder aquele apoio era insuportável. Eu não podia contar.
- Então é algo pra se descobrir, ela disse sorrindo. O que será que eu devo investigar?
- Não brinque, pedi, súplice.
Ela me abraçou firme, e eu me abandonei no seu abraço, tentando encontrar forças para revelar o meu mais terrível segredo.
Ouvi a voz dela, tímida, suave como uma brisa de primavera:
- Naquela noite, você pediu pra me aquecer com o seu abraço. Por que você não deixa eu te aquecer com o meu abraço?
Eu a abracei também, encostando sua cabeça em meu peito, acariciando seus cabelos castanhos. Ela era tão quente... Eu solucei, me sentindo um miserável.
- Eu conto...
Ela me soltou e olhou bem para mim. E eu olhei bem para ela, tentando arrumar coragem para contar o meu “probleminha peludo”. As palavras simplesmente não saíam de minha boca. Tentei falar, mas o que saíram foram arremedos de frases:
- E-eu... e-eu... s-s-sou... u-u-um...
- Um gago?
Não ri, e percebi que não teria coragem de falar. Apanhei um pergaminho, e, dolorosamente, escrevi a palavra com dificuldade. Cada letra era um suplício. Terminei e deixei o pergaminho em cima da cama.
- ...Lê.
E me sentei na cama do Tiago, de costas pra ela. Não queria nem ver.
Passados alguns segundos, nos quais imperou o mais absoluto silêncio, falei com a voz embargada e dolorida:
- Agora pode terminar comigo.
Senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e passei as mãos por ele tentando secá-las. Não queria que ela me visse chorar e sentisse pena. Detesto que me olhem com pena. Foi quando eu senti os braços dela me enlaçando suavemente.
- Me desculpe por ter te pressionado... Deve ser difícil pra você... Você deve sofrer muito.
Eu olhei para ela espantado. No seu rosto aquele sorriso lindo, que só ela tinha, aquele sorriso que povoava meus melhores sonhos.
- Você não vai me deixar?, perguntei atônito.
- Claro que não, disse ela, parecendo surpresa. Como é que você pode pensar isso de mim? Te abandonar só porque você tem um problema?
- Não é um simples problema, eu disse. É um problema que causa perigo para as pessoas que estão perto de mim.
- Não, não causa, sorriu ela. Só quando estamos em lua cheia. E pode deixar que eu tomo cuidado quando estivermos.
Eu chorava de emoção e de alívio. Uma grande carga tinha sido retirada do meu peito, e eu me sentia leve, muito leve. Olhei para ela e só consegui murmurar, a voz embargada:
- Você é maravilhosa.
Ela sorriu tão encantadora, tão doce, tão bonita... e eu fiquei tão orgulhoso de pensar que ela era minha namorada, que a puxei e a beijei longamente.
De repente o Tiago entrou no quarto:
- Aluado, tá na hora da aula de Poções...
Ele ficou nos olhando por um instante.
- Nossa, Aluado, você tá quase engolindo a Claire. Interrompi alguma coisa?
Eu ri. Estava leve como uma pluma. Me dirigi à escrivaninha, peguei meus livros na mala e saí atirando no Tiago escada abaixo, rindo muito.
¬¬¬
Uma incrível nostalgia se apoderou de nós durante aqueles últimos meses em Hogwarts. Tiago e Sirius eram vistos nos jardins, olhando para o céu, pensativos. Eu estava decididamente apavorado. O que eu iria fazer da minha vida lá fora? Ali em Hogwarts, todos me aceitavam... Mas quem faria o mesmo quando eu fosse procurar um emprego?
Claire tentava me consolar, e ela era maravilhosa. Andávamos de mãos dadas por aí, apreciando nossos últimos dias, quando não estávamos mergulhados em revisões, lendo sete anos de anotações de todas as matérias.
O mais importante nesse último mês de Hogwarts, além dos NIEMs, é lógico, foi um fato que nos entristeceu muito: Filch conseguiu confiscar o Mapa do Maroto.
Nós quatro andávamos à noite no castelo, fazendo zoeira. Já tínhamos tanto nos acostumado a não ser pegos, que acabamos descuidando. Quando eu vi, havia um pontinho a nossa frente, rotulado Argo Filch. Só tive tempo de apagar o mapa.
Levamos a última detenção do ano. Filch tentou nos fazer confessar para que servia o dito mapa, ameaçando, como sempre, arrancar as nossas tripas. Fomos firmes e nada dissemos, mas Filch colocou nosso querido pergaminho dentro de uma gaveta, onde estava escrito: "Confiscado e Muito Perigoso". Ficamos dois dias arrasados. Voavam pela janela nossos sonhos de ajudar futuros trangressores.
Mas, enfim, tínhamos outras coisas para se preocupar, como as provas do NIEM. Confesso que, tirando Poções (a minha Solução da Euforia ficou creme, em vez de amarelo-sol), fui bem em tudo, mas, mesmo assim, ficamos todos ansiosos quanto aos resultados.
No nosso último ano de Hogwarts, houve um baile de formatura, só para sétimo ano e convidados de outras séries. Foram todos muito elegantes. Sirius fazia as meninas da Corvinal se derreterem com suas vestas de gola alta, e Tiago exibia um conjunto azul escuro que dava inveja. Exibia também uma Lílian radiante em um vestido vermelho, sorrindo, seus olhos verdes brilhando.
Pedro ficou num canto do salão. Comia, comia e comia mais ainda, as vestes a rigor negras mal ocultando sua forma de barril. Eu fui com vestes castanhas que, segundo Claire, combinavam com meus cabelos e realçavam meus olhos. Já minha namorada estava deslumbrante com seu vestido violeta tomara-que-caia, todo bordado de fios dourados, um diadema sobre seus lindos cabelos. Eu olhei para ela e novamente senti orgulho de saber que era minha namorada.
Todos aqueles colegas estavam lá. Snape, que tinha milagrosamente dado um jeito nos cabelos, que estavam amarrados num rabo-de-cavalo até elegante; Lúcio, com seus cabelos longos e louros, ao lado de Narcisa, a prima de Sirius, que sorria insossa para o namorado. Avery e Lestrange, muito elegantes de vestes cinzas. Franco, nosso amigo da Lufa-Lufa, de braços dados com Alice MacStorm, uma menina encantadora de rosto redondo, nossa amiga. Fábio Prewett, que, altruísticamente, tinha convidado seu irmão Gideão, do quinto ano, para participar. Estúrgio, muito elegante, alisando os cabelos cor-de-palha, e Dédalo, encantando um grupo de garotas fazendo pombas voarem de sua cartola de festa. Marlene e Emelina, duas grandes bruxas, a um canto rindo. Shacklebolt, capitão do time de quadribol da Corvinal, conversando com o exótico Max Lovegood, que assustava o colégio inteiro com suas teorias malucas.
Ver todos eles, ali, e saber que nossos caminhos se separariam... Saber que muitos eu jamais reveria... Tudo isso me dava uma nostalgia, e uma imensa vontade de chorar. E, por incrível que pareça, sim, eu chorei naquele dia, enquanto Dumbledore fazia o seu discurso de encerramento.
E lágrimas desceram dos meus olhos novamente ao contemplar Hogwarts pela última vez, suas torres e torrinhas, suas passagens e fantasmas, e desejando suplicante que eu pudesse ser tão feliz em algum outro lugar como fora naquele castelo.
Mas eu nunca mais teria aqueles abençoados tempos de paz.
¬¬¬
Os nossos resultados do NIEM foram ótimos. Excetuando Poções, em que eu tirei Excede Expectativas, tirei Ótimo em todas as matérias. Claire também, excetuando Trato das Criaturas Mágicas, pois, durante o exame, ela fora arranhada por um tronquilho bem na frente da Profª Marchbanks. Tiago e Sirius, os inteligentes do ano, tiraram Ótimo em tudo. Lílian tirou Ótimo em quase tudo, tirando Transfiguração. Já Pedro tirou Aceitável em Transfiguração e Feitiços, Péssimo em Poções e Excede Expectativas no resto. Ele ficou muito deprimido.
Não tanto quanto eu. Tirei várias copias dos meus boletins de NOMs e NIEMs, e levei a vários lugares. Eles pareciam gostar, até que eu mencionava minha verdadeira condição; daí, os rostos se fechavam, os cenhos se franziam e eu acabava com um "Entraremos em contato". Só que eles nunca entravam em contato.
Era o que eu estava comentando com minha mãe, a velha Joanne Lupin, naquela memorável manhã ensolarada de setembro.
- E, do jeito que as coisas estão, mamãe, vou ser forçado a ficar aqui por um tempo, concluí comendo uma torrada.
- Fique o tempo que precisar, Remo querido, disse minha mãe, tomando um gole de café. Você vai arranjar um emprego, seu currículo é ótimo.
- Pode até ser, mãe, mas eu tenho uma mancha irreparável nele...
Minha mãe olhou com pena para mim - detesto que me olhem com pena. Naquele momento, a campainha tocou. Aliviado por terminar essa conversa, fui atender.
Para minha surpresa, era Claire.
- Claire!, exclamei. Desde quando você sabe meu endereço?
- O Tiago me deu, disse Claire. Posso entrar?
E, à porta, me beijou longamente.
- Quem está aí, Remo querido?, perguntou minha mãe, vindo espiar da cozinha. Ao ver Claire, exclamou: Mas quem é essa moça bonita?
- É Claire, mãe, apresentei corado. Minha namorada.
Eu ainda não havia contado para minha mãe que estava namorando, temendo sua reação. Felizmente, porém, ela aceitou a notícia muito bem.
- É mesmo? Que bom gosto, filho. Qual é o seu nome, menina?
- Claire.
Eu sou Joanne Lupin, a mãe desse ingrato que nem para me contar que estava namorando, disse minha mãe, puxando minha orelha.
As duas riram, enquanto eu, encabulado, disse:
- Desculpe, mamãe... Tive medo de sua reação.
- O que me importa é ver você feliz e bem. Vocês se amam, é isso que interessa.
- Ela é o amor da minha vida, declarei sorrindo.
Claire, encabulada, escondeu o rosto no meu braço.
- Bem, seja bem vinda, Claire. Adorei te conhecer. Agora tenho que ir... O dever me chama.
Ela foi até a lareira e apanhou um bocado de Pó de Flu. Jogando-o na lareira, ainda me disse:
- Remo, tem comida na geladeira. Se for sair, não esqueça de trancar a porta!
- Está certo, mamãe. Tchau.
- Tchau, Sra. Lupin.
- Tchau, meninos. Ministério da Magia!
E, com um estalo, ela desapareceu nas chamas. Assim que ela foi, eu disse a Claire:
- Nós não tínhamos combinado de você me esperar no Beco Diagonal?
- Tínhamos, mas eu ia perder essa chance de conhecer minha sogrinha?
Eu ri.
- Ah, Claire...
- Fiz mal?
- De maneira alguma, meu doce, eu disse, beijando sua testa.
- Posso conhecer sua casa?, perguntou ela naquele tom pidonho e persuasivo ao qual eu não conseguia resistir.
- Tá certo, falei.
Levei ela até o quarto da mãe e à biblioteca que nós mantínhamos. Ela disse que queria conhecer meu quarto, mas eu disse:
- Ah, não, Claire, o meu quarto...
- O que é que tem?, perguntou ela, me arrastando até meu quarto. Não ligo pra bagunça...
- É que...
Ela abriu a porta, e nós dois ficamos em silêncio.
Tirando minha cama, que era constantemente refeita, os móveis do meu quarto estavam todos quebrados e arranhados. Em cada parede, em cada metro, podia-se ler o sofrimento de minhas transformações. Sofrimento que ficava gravado como um fantasma naquele lugar.
- Por isso eu não queria que você visse, falei para ela.
Ela tocou pensativa as paredes arranhadas, depois sentou na cama, e sussurrou para mim:
- Ah, Remo, eu... nem sei o que dizer.
- Não precisa dizer nada. Eu já me acostumei, Claire. Já superei.
Ela me abraçou, aninhando a cabeça em meu peito.
- Você é tão corajoso...
- Não sou tanto assim, respondi correspondendo ao abraço. Eu tenho medo até de mim mesmo.
- As pessoas dizem que corajoso é aquele que não tem medo de nada. Na verdade, corajoso é aquele que enfrenta seus medos.
Cada vez mais ela mostrava como era maravilhosa. Arrebatadamente, eu a puxei e a beijei longamente.
Senti algo que nunca tinha sentido antes. Meu corpo vibrava de desejo. Li isso nos olhos dela também, enquanto eu deslizava minhas mãos pelos seus braços finos.
Beijei-a novamente, minhas mãos correndo seu corpo, enquanto as mãos dela corriam o meu. Ela se deitou...
Cheio de volúpia, desabotoei sua blusa, botão por botão, enquanto ela procurava tirar minha camisa e alisava meu peito nu.
Desafivelei com cuidado seu sutiã e o retirei com um movimento sinuoso. Vi olhando para mim a beleza casta de minha namorada, representada em dois seios alvos, redondos, cujos biquinhos rosados subiam e desciam com sua respiração.
- Remo, eu... eu... nunca fiz isso antes... eu tenho medo, murmurou ela.
- Confie em mim, eu disse.
- Eu estou em suas mãos.
Acariciei seus seios, beijando-os. Fui paciente e carinhoso, até que senti que seu corpo vibrava como o meu, totalmente inebriado e quente de prazer.
E, quando a possuí, sabia que ela era finalmente minha. Para sempre minha.
¬¬¬
Infelizmente, tudo na vida tem um fim: o tormento, a dor, a felicidade... Assim teve um fim meu namoro com Claire.
Era uma noite de lua cheia. Ignorando meus protestos veementes, Claire, que estava passando uma temporada em minha casa, negou-se a ir embora, preferindo dormir na sala. Mamãe havia ido para o Ministério, resolver um problema urgente com uma leva de vassouras contrabandeadas e enfeitiçadas, que tinham sido vistas voando na cidade por uma centena de trouxas. Eu e Claire estávamos sozinhos e eu tinha medo.
O que segue aqui me foi relatado depois por Claire, porque minha memória irracional não alcança todos os detalhes.
Ela foi à sala e ficou acordada, temendo por mim e pelos meus gritos cavernosos. Depois de me ouvir gritar alucinado e quebrar móveis, distinguiu batidas furiosas na porta, como se ela estivesse prestes a cair das dobradiças. Era eu tentando abri-la como em todas as noites de lua cheia.
Geralmente, minha mãe enfeitiça a porta com um Alorromora, mas, dessa vez, se distraiu por causa do problema no Ministério. Erro fatal.
Eu arrebentei a porta e saí para o corredor, destruindo tudo em meu caminho infeliz. Até farejar sangue humano e sair para matar ou amaldiçoar o amor da minha vida.
Ao me ver assim, transformado e irracional, Claire sentiu medo, e, assustada, correu. Eu a persegui, faminto e incansável. Ela correu pela casa toda, suplicando por socorro. Atirou em mim um vaso, que eu de prontidão despedacei com minhas garras. Até que arrancou a perna de uma cadeira, e se armou para me enfrentar.
Claire era batedora da equipe de quadribol da Grifinória, uma descoberta muito aplaudida de Max Cahill. Tinha reflexos rápidos com um bastão nas mãos, e foi uma das grandes responsáveis pela conquista do título por cinco anos seguidos.
Cada vez que eu tentava me aproximar, Claire golpeava meu nariz ou minha cabeça, me forçando a recuar para novo ataque. Provocou um corte no meu ombro, cicatriz essa que eu tenho até hoje, e que me lembra a responsabilidade que eu tenho.
Ficamos horas nesse jogo, até eu me apoderar do bastão e estraçalhá-lo. Daí Claire tornou a correr desesperada, dessa vez para a cozinha. Trancou a porta, enfeitiçou-a com um Alorromora, e lá ficou até o raiar da aurora.
Quando os primeiros raios de sol tocaram minha pele como facas, me forçando a virar de novo o velho Remo Lupin, imediatamente percebi que algo tinha acontecido. Desesperado, vendo a destruição que havia causado, saí alucinado atrás de Claire.
Ela dormia um sono sereno na cozinha, deitada no chão de pedra. O alívio me invadiu e fiquei observando aquele sono livre de pesadelos, emocionado. Levei-a cuidadosamente para a cama de minha mãe, a cobri, e deixei com que dormisse.
Claire só acordou horas mais tarde, quando eu já tinha arrumado a maior parte dos objetos quebrados. Saiu do quarto e me abraçou.
O que ela não sabia é que aquela fora a gota d'água. Eu não podia pôr ela em perigo.
- Me solta, Claire. Precisamos conversar.
- Desculpa ter te machucado, eu não...
Incrível como ela ainda conseguia se sentir culpada! Só mesmo um ser tão cheio de pureza para pedir desculpas por ter salvado sua própria vida...
- A culpa não foi sua, eu disse. Eu poderia ter matado você se você não tivesse feito isso.
Sentamos no sofá e eu segurei suas mãos pequenas e delicadas entre as minhas, sangrando por dentro. Era difícil, mas eu tinha que fazer isso. Eu tinha que fazer isso.
- Minha querida..., sussurrei, sem saber como começar. Não dá mais pra gente ficar junto.
- Por quê?!, ela exclamou com veemência.
Eu olhei ao redor e ela acompanhou meu olhar. Ainda se viam vestígios da minha aventura noturna, inclusive os pedaços daquele improvisado bastão com que Claire me atacou.
- Eu quase te matei hoje.
- Mas foi só uma distração...
- Distração que podia ter feito você morrer, ou pior, ter feito você se tornar um monstro como eu!, disse, cheio de angústia. E, se, na próxima vez, você estiver dormindo, indefesa? E se, um dia, se tivermos um filho, eu o atacar?
Ela se calou, e eu continuei:
- Eu sou um monstro sem controle, Claire. Não consigo distinguir amigo de inimigo. Uma vez, quase matei Tiago e Sirius. Não quero te machucar, eu não quero que você morra por minha causa... Minha simples presença é um perigo!
- E se eu quiser correr esse perigo?
- Não!, exclamei. Você é a coisa mais importante dessa minha vida desgraçada! Se você morrer, nada mais faz sentido... Nada... E se for minha culpa, nunca saberei me perdoar...
A abracei, sentindo muita dor.
- Por favor, vá embora...
- Não quero te deixar sozinho, Remo!
Amargo, olhei bem para aqueles olhos violeta, toquei seu rosto suave. Aquele ser imaculado não conhecia a dor e a tristeza... E não merecia ficar acorrentada a um barco sem destino como eu. Um barco que terminaria naufragando por algum lugar...
- No momento em que os dentes daquele lobisomem se fecharam sobre mim, o destino decretou que eu seria para sempre um ser solitário...
Levantei e lhe dei as costas. Não suportava mais olhar.
- Agora vá.
- Mas...
- VÁ!!!, vociferei ameaçador.
Ela me olhou com aquela mágoa nos olhos, e eu tornei a lhe dar as costas. Só me virei quando ouvi a porta da rua se abrir, para vê-la partindo pela última vez.
No momento em que seus pés deixaram a soleira da minha porta, senti-me o ser mais arruinado do mundo, e gritei para os céus:
- Ó, Destino, por que não acaba de vez com essa vida infeliz?! Por que insiste em manter a minha vida?! Pra me torturar, é isso?
E caí de joelhos na sala, sentindo as forças me faltarem.
Então, com um estalo das chamas verde-esmeralda, minha mãe apareceu. Olhou a sala, olhou os vestígios, me olhou ali destruído e adivinhou.
- Remo..., ela murmurou com a voz partida, acariciando meus cabelos castanhos.
Senti um enorme conforto nas mãos de minha mãe, e me joguei chorando no colo dela.
- Mãe... Eu estou condenado a morrer sozinho...
E debulhei-me em lágrimas no seu colo, enquanto ela, chorando também, murmurava uma cantiga de ninar.
NA:Agora eu tenho uma pergunta a fazer para quem está lendo a fic. Se você leu e não se manifestou, se manifeste!
Com quem a Claire deve ficar?
a) Remo?
b) Sirius?
c) outra pessoa?
Obrigado desde já!
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