O Mapa do Maroto



Sexto ano. Eu, patrulhando corredores, me virando com os NIEMs (felizmente, consegui Excede Expectativas em todas as matérias, e Ótimo em Defesa Contra as Artes das Trevas e Transfiguração), tentando dar conta de todos os meus deveres e cada vez mais sonolento, pois nós quatro continuávamos saindo durante a noite, explorando cada canto de Hogwarts.
Foi de mim que surgiu a idéia:
- E se fizéssemos um mapa de Hogwarts?
- Hã?, disse Pedro sem entender.
- Poderíamos fazer um mapa de Hogwarts, para ajudar os alunos que vierem depois de nós a descobrir as passagens secretas, expliquei. Nós conhecemos todas, tenho certeza, e poderíamos fazer um mapa para ajudar os... transgressores do futuro.
Os três parecerem gostar da idéia, mas Tiago acrescentou:
- Não vai adiantar nada deixarmos só passagens. E se aparecerem outras pessoas no meio do caminho, antes que nossos futuros aprendizes possam se esconder?
- E o que você sugere?, Sirius disse, sabendo que Tiago devia ter uma boa idéia.
- E se... sei lá, lançássemos uma magia... para que o mapa localize qualquer pessoa que esteja no castelo!
- Boa!, disse Pedro. O mapa será útil para nós também!
Eu comecei a pesquisar o feitiço, e achei uma receita de poção, na Seção Reservada, que servia mais ou menos para aquilo. Depois de cinco meses fazendo a poção na Casa dos Gritos (e retirando-a a cada véspera de lua cheia), conseguimos terminá-la. Então, apanhamos um pedaço de pergaminho velho e o mergulhamos na poção, para depois deixá-lo secar ao luar (a poção deveria ser concluída no quarto dia da lua crescente, para que o pergaminho fosse banhado pela luz dessa lua).
Durante aqueles cinco meses, além de fazermos a poção, fomos transformando aquele pergaminho em um mapa de Hogwarts. Exploradores, nós íamos atrás de cada passagem, cutucávamos cada quadro (sempre encobertos pela capa de Tiago), abríamos cada espelho, cutucávamos cada estátua, falando todo o tipo de palavras malucas em qualquer lugar que nossa magia nos indicasse em que havia um espaço aberto.
Aos poucos, conseguimos descobrir várias passagens. No mínimo, sete iam para fora da escola, mas só três eram seguras: a passagem para a Casa dos Gritos, a passagem para a Dedosdemel que eu descobrira no terceiro ano e uma passagem enorme atrás de um espelho no quarto andar, que só se abria se você mexesse a torneira da última pia à esquerda cinco vezes. As outras nós sabíamos que Filch conhecia.
Descobrimos muitos atalhos atrás de tapeçarias, inclusive aquele por onde pulara o sonserino que atacara Stars no nosso segundo ano, que ia dar direto no dormitório do sexto ano da Sonserina. Conseguimos dar uma boa olhada em toda a torre da Sonserina, durante as aulas, e descobrimos aonde ficava a passagem para a entrada.
Nos informando com alunos da Lufa-lufa e da Corvinal, conseguimos também descobrir onde era a passagem para seus dormitórios. Inclusive, conseguimos entrar em suas Salas Comunais, e em cada uma descobrimos uma passagem secreta. Na Lufa-lufa, o atalho desembocava na torre da Astronomia. Na Corvinal, o atalho desembocava num corredor onde só havia quadros retratando comidas, onde descobrimos se localizar as cozinhas. Conseguimos também descobrir como entrar nas cozinhas, o que nos foi muito útil, quando queríamos arrumar um lanchinho.
Também havia um atalho que saía da torre da Grifinória, e conseguimos descobri-lo atrás de uma tapeçaria no dormitório das meninas do sétimo ano. Ele ia direto para os jardins por uma porta lateral.
Cada atalho, cada passagem, cada ínfima possibilidade, nós íamos atrás, e percorríamos, e marcávamos. Uma vez, aterrissamos em pleno quarto de McGonagall no meio da noite, através de um enorme quadro que retratava Godric Gryffindor. Rimos muito ao ver que ela estava com uma poção verde de hidratação na pele, dormindo como um anjinho.
Enfim, até o final de cinco meses, terminamos o Mapa do Maroto. Com a nossa poção, conseguimos transformar o Mapa numa verdadeira mão na roda, poís saíamos a noite até sem Capa da Invisibilidade.
Graças a nossos amplos conhecimentos de passagens secretas (creio que era maior que o conhecimento de Filch), era muito fácil fugir. Qualquer mínimo sinal de alguém à vista, nós sumíamos no ato, por um atalho, atrás de uma tapeçaria, ou indo até Hogsmeade mesmo. Foi assim, que, um dia, nos jardins, surpreendemos Lílian beijando Anthony Queen, na época aluno do sétimo ano. Tiago quase partiu para cima de Queen, mas os nossos esforços somados conseguiram evitar uma tragédia mais grave.
A popularidade de Sirius e Tiago conseguía atrair várias pessoas, que nos bajulavam e nos tratavam como se fôssemos príncipes (sim, incluo a mim nisso, por incrível que pareça), na esperança de conseguir um pouco de popularidade. Fábio Prewett era entre eles o nosso preferido. Pertencendo à equipe de quadribol da Corvinal, ele, Sirius e Tiago estavam sempre examinando táticas. As garotas mais jovens e da nossa idade babavam pelos dois.
Sirius aproveitava, saindo com quem quisesse. A cada semana, trocava de ficante. As garotas mais bonitas se rendiam ao seu sorriso... E eu ficava observando. Queria ser como ele, seguro, bem resolvido. Quem sabe Claire iria me querer.
Claire era participante freqüente da pequena corte que nos cercava. Ela se debruçava para ouvir as palavras de Sirius. Muitas vezes, eu a surpreendi contemplando o garoto com um ar de tristeza. E eu me sentia o último entre todos os homens cada vez que via isso.
Tiago desprezava todas as garotas. Só havia uma que lhe interessava, uma garota de cabelos ruivos e olhos verdes, que ele vivia espreitando, como um animal prestes a dar o bote. Quando ele percebeu que o que fazia Lílian desprezá-lo era seu comportamento infantil, resolveu mudar, e parar de azarar as pessoas para se divertir, o que muito me alegrou.
Sirius, infelizmente, não compartilhava do pensamento de Tiago. E continuava aprontando com Snape e com quem atravessasse seu caminho quando estava entediado, excetuando eu, Tiago, Clara, Lílian e Pedro. Qualquer um poderia ser vítima da animada varinha de Sirius.
Eu só não poderia prever que as brincadeiras de Sirius chegariam a um ponto no qual ultrapassariam os limites da sensatez para quase provocar uma morte... E muito menos que eu, involuntariamente, seria o instrumento dessa peça...

¬¬¬

Era um dia tranqüilo. À noite, eu já sabia: lua cheia. Significava mais uma aventura emocionante pelos terrenos de Hogwarts, explorando Hogsmeade e a Floresta Proibida. Há muito tempo deixara de ser doloroso se transformar.
Na aula de Poções, a minha última aula do dia, pedi permissão a Slughorn:
- Professor, posso ir?
- Pode sim, Sr. Lupin, ele confirmou, ocupado como estava em bajular a Lílian porque ela havia feito uma excelente Solução da Euforia.
Passei rápido pela mesa do Snape, que me lançou um olhar voraz e desconfiado; ele sempre queria saber onde eu havia ido. Mas eu de nada poderia suspeitar.
Corri pelos corredores até a enfermaria, e ouvi tocar a sineta de aula. Madame Pomfrey, me olhando com pena - detesto que me olhem com pena -, disse:
- Vamos, meu querido. Aproveitar que vão todos jantar e ninguém vai estar lá fora...
Fomos por uma passagem na enfermaria que dava direto nas estufas. Eu olhava para todos os lados, com medo de que alguém me visse. Madame Pomfrey, notando minha inquietação, me tranqüilizou:
- Calma, não há ninguém.
Mas eu percebi que ela mesma procurava observar tudo a fim de não deixar que ninguém me visse.
Ela se aproximou com sua varinha, incomumente longa, e tocou o nó na raiz do Salgueiro Lutador. Eu imediatamente deslizei para dentro da passagem, correndo pelo túnel que levava a Casa dos Gritos.
O que segue aqui me foi relatado com detalhes por Tiago e Sirius:
Sirius, no dia anterior, encontrara Snape espiando o Salgueiro Lutador de longe, na esperança de saber o que eu fazia ali dentro. Sim, pois ele já concluíra que eu me escondia uma vez por mês no Salgueiro Lutador. Só lhe faltava saber como fazer para paralisar a árvore.
Vendo aquilo, Sirius decidira mexer com ele:
- E aí, Ranhoso?
Snape se virara imediatamente, levando a mão na varinha.
- Calma, Ranhoso, dissera Sirius. Vim em paz. O que é que você tanto olha no Salgueiro Lutador?
- Não é de sua conta, dissera Snape.
- Veio espiar pra ver se descobre o que Remo faz aí uma vez por mês, não é?
- Hã?, dissera Snape, se fazendo de desentendido.
- Não adianta, eu sei muito bem o que você quer. Mas você não sabe como paralisar o Salgueiro Lutador.
Snape teve que confessar que não.
- Então. É só levar uma vara longa. Tem um nó ali, naquela raiz, apontou Sirius. Se você encosta nele, ele fica parado. Daí você entra atrás do Remo. Não é uma proposta vantajosa?
E, rindo, Sirius deixara Snape ali.
No dia seguinte, logo após a aula, Tiago comentou:
- Vamos sem jantar, ou vamos jantar primeiro?
- Vamos jantar primeiro, respondera Pedro imediatamente.
- Ah, Pedro, você não vale, você só pensa em comer. O que acha, Sirius?
- Vamos jantar primeiro. Snape está lá e não quero que ele saiba que vamos.
Tiago demorou uns dois segundos para absorver o que Sirius dissera. Depois perguntou:
- Como assim, Snape está lá?
- Eu contei a ele como se faz para abrir o Salgueiro Lutador, disse Sirius com displicência. Ele vai ter uma surpresa nada agradável quando entrar...
Tiago ficou pálido. Daí exclamou:
- Sirius, você é doido?!
- Hã?
- Sirius, o Snape pode morrer, seu idiota! Remo quando está transformado não vê nada, ele vai matar o Snape!
E, antes que Sirius pudesse dizer alguma coisa, Tiago exclamou:
- Pedro, chame Madame Pomfrey!
E desembestou pelos corredores de Hogwarts, abrindo a porta do Saguão. Sirius o seguiu, ressabiado.
Snape se aproximava do Salgueiro Lutador. Tiago saiu correndo atrás dele:
- Snape, seu retardado, saí daí! É perigoso!
Snape não ligou para o que Tiago disse, pegando uma vara longa e tocando no nó da árvore.
- Saí daí, Snape, saí daí!, gritou Tiago, se aproximando.
O sonserino entrou no túnel e se deparou com a apavorante visão de me ver transformado.
Tiago correu e entrou atrás de Snape. Eu vi os dois, e, irracional, avancei.
Tiago agarrou Snape e se atirou para fora do túnel. Eu parti para cima dos dois, e Tiago gritou:
- Remo, sou eu! Sou eu, cara, vai embora!
Lógico que eu não escutei, que nada senti.
Puxando Snape, que estava paralisado como uma pedra anormalmente nariguda, Tiago tentou sair de perto do Salgueiro Lutador, que, a essa altura, já recuperara os movimentos e começou a castigar os dois com suas chicotadas. Tiago gemia de dor, arrastando Snape, que continuava paralisado de horror me olhando avançar.
- Sirius!, berrou Tiago para o rapaz que estava mais adiante. Me ajuda, cara!
Sirius avançou incólume e com um rubor no rosto, desviando entre os galhos e pressionando o nó no Salgueiro Lutador. Enquanto me encarava com a varinha em punho, decidido a me afastar, Tiago arrastava Snape até um lugar onde pudesse ficar seguro. Depois, puxou Sirius e pressionou o nó. Eu tentei sair do túnel, mas o Salgueiro Lutador me acertou uma chicotada no nariz. Fugi, dolorido, para dentro do túnel.
Nesse instante, chegaram McGonagall, Dumbledore e Madame Pomfrey. Tiago, todo cortado, sacudia Snape:
- Acorda, coisa!
Snape sacudiu levemente a cabeça, horrorizado, e pareceu despertar.
- Eu vi, sussurrou para os professores. Eu vi. Lupin é um lobisomem, eu vi!
Dumbledore e McGonagall se olharam preocupados. Sirius parecia não saber onde enfiar a cara.
Levaram Snape, Tiago e Sirius, que também se ferira um pouco, até a Ala Hospitalar. Lá, disseram a Snape que, se ele mencionasse o fato para alguém, seria expulso, e que saberiam se ele falasse. Snape concordou. O mesmo disseram a Sirius, a Tiago e a Pedro. Deram uma detenção de duas semanas para Sirius e o suspenderam dos jogos de quadribol até o fim do ano, para a irritação de Tiago, capitão daquele ano, que precisou contatar Anne Key para jogar como artilheira.
Quando voltei à consciência, percebi que, aquela noite, tinha ocorrido algo, e que eu quase tinha matado Tiago e Snape. Quando fui falar com eles e descobri o que tinha acontecido, fiquei um bom tempo sem falar com Sirius.
- Ah, Aluado, eu já fui punido por causa disso, porque você também faz isso comigo?, ele me dizia.
- Porque você pensou em mim quando disse aquilo a Snape? Pensou se eu ia gostar de acordar e ver que matei alguém? Pensou no que aconteceria comigo, Almofadinhas?, eu respondia, furioso. Eu podia ter matado Snape naquela noite, seu idiota.
Só o perdoei quando, quase um mês depois daquele nefasto acontecimento, ele fez para mim uma festa de aniversário na Sala Comunal da Grifinória, e depois me pediu desculpas muito sinceras. Disse que estava arrependido daquilo. Como Sirius não era uma pessoa que pensava nas conseqüências mesmo, e não seria assim até o fim da vida, eu o perdoei, e ficamos amigos de novo.
Mas Snape já sabia. Ele me olhava de um jeito esquisito. Quando eu me aproximava, para falar sobre aquela noite e pedir desculpas por tê-lo atacado, ele se afastava de imediato. Parecia com medo de mim, o que me deixou entristecido. Pior do que quando as pessoas tem pena é quando elas tem medo de você.
Naquele ano, o tratamento de Lílian para com Tiago melhorou muito, depois que correu pela escola o ato heróico de meu amigo, alterado em sua essência - o que comentavam era que Snape tinha ficado preso nos galhos do Salgueiro Lutador, e Tiago tinha libertado-o antes que se ferisse mais gravemente. Ela voltou a chamá-lo de Tiago depois disso, mas ainda se irritava quando Tiago prometia que iria casar com ela.
Clara continuava olhando Sirius à distância, tímida, sem coragem de se aproximar. Era impressionante ver como seu semblante ficava iluminado de alegria se Sirius falava com ela ou simplesmente sorria pra ela. E era impressionante ver como eu gritava de angústia no meu íntimo durante esses momentos. Remo ama Clara que ama Sirius que ama o mundo.
Ela tinha um jeito tão meigo, um olhar doce e triste. Era de uma gentileza incomparável com todos, ajudando sempre que possível. Monitora da Grifinória, cumpríamos tarefas juntos, e eram momentos de uma rara alegria os que eu passava com ela. Exceto quando ela falava de Sirius.
Mas, um dia ela teria que esquecer Sirius. E eu estaria ali nesse dia.




NA: Se tem alguém acompanhando minha fic, eu aviso: eu vou viajar, e só vou voltar daqui a uns quatro dias, por isso vou ficar um tempo sem atualizar. Obrigado e comentem, please!

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