Livre



Cap 11


Livre


 


Desta vez ela estava de pé, andava vagarosamente com os pés descalços na neve, a túnica branca balançava em suas canelas e o longo cabelo negro cobria a frente de seu corpo, ela cantarolava a mesma melodia sombria e em seus braços escorria um liquido escarlate. A garota avistou-o e se aproximou, tocou sua bochecha com as mãos ensanguentadas e tocou seus lábios com os dela, mas eles não mais tinham gosto de álcool, tinham um gosto ferroso, metálico. Os lábios dela tinham gosto de sangue.


Harry acordou com sua cicatriz ardendo muito, os primeiros raios de sol estavam começando a iluminar o entorno do castelo, era possível ouvir o distinto ronco de Ron na cama ao lado. O garoto limpou o suor da testa e tentou acalmar sua respiração, ainda sentia aquele gosto repulsivo em sua boca, ele tateou cegamente em sua mesa de canto a procura de sua caixa de feijõezinhos de todos os sabores. Adormeceu antes de perceber qual sabor havia pegado.


oOo


Harry caminhou ao Salão Principal imerso em pensamentos, muitos deles levavam a uma raiva irracional de Myra, aqueles sonhos o estavam deixando maluco! O dia estava bonito apesar do frio de novembro, seria uma boa oportunidade para treinar quadribol, relaxar sua cabeça, mas...


- Já viu a quantidade de dever que temos, Harry? – disse Hermione apontando a faca coberta de geleia para ele.


Harry olhou para Ron que fez uma expressão de “não dá pra discutir” e em seguida se viu enredado em alguma historia fútil de Lilá.


- Sem chances pra mim – disse Myra terminando de mastigar – Tenho que estudar runas e dois rolos de pergaminho sobre a revolta dos elfos na América do Norte para o Binns.


- Por que você faz essa matéria tão sem utilidade? – Lilá chamou a atenção de todos quando entrou na conversa.


- Por que Ron namora você? – retrucou Myra com um sorriso de deboche – A vida é cheia de mistérios inexplicáveis.


Dito isso a garoto pegou sua bolsa e saiu com sua meia torrada do salão, deixando Lilá furiosa, Ron com as orelhas pegando fogo de vergonha e Hermione tentando conter uma risada.


oOo


O mau-humor de Harry piorou ao longo do dia, Hermione não dava uma folga para ele e Ron e ainda por cima o fez ir até a biblioteca buscar livros com “informações complementares”, como se eles já não tivessem coisas suficiente pra estudar!


- Para, Draco! – uma voz tão conhecida falou na estante a frente da sua.


Harry puxou dois livros da estante para poder olhar, o casal estava mais a direita dele, Draco estava atrás da garota, os cabelos dela jogados para um lado enquanto queixo do garoto descansava no outro ombro. Ele movia a cabeça de modo que seus lábios roçavam no maxilar da garota.


Harry pensou no que havia achado na Sala Precisa dias atrás, sentiu vontade de atirar no lago.


- Eu estou procurando um livro sabia? – disse a garota se fazendo de séria, mas com um sorriso brincando nos lábios.


- Eu sei – disse ele puxando-a mais para perto.


-As pessoas estão começando a olhar, Draco – disse ela tentando se soltar dos braços do loiro.


- Deixe eles olharem!


A garota virou-se para encará-lo e segurou-o seu rosto com uma das mãos, suas sobrancelhas se uniram em sua testa, ela parecia preocupada, e levemente chateada.


- Não pense em me usar como um troféu, Draco Malfoy.


Ela puxou um livro da prateleira e partiu sem se despedir.


Harry tratou de pegar os livros e virar de costas para a prateleira quando a garota passou por ele para passar os livros por Madame Pince.


- Estudando, huh? – disse ele sem perder a oportunidade de cutucá-la


- Espiando, huh? – retrucou ela com a sobrancelha erguida, antes de puxar os livros e largá-lo como havia largado Malfoy.


oOo


Harry passou a tarde toda emburrado, faz seus trabalhos e ralhou sem motivos com todos que o atrapalharam sem motivo. A noite estava nublada, gordas nuvens se acumulavam no céu e Harry as via pairando ao longe, acima do lago. Ele não conseguia dormir, se revirou de todas as formas em seu colchão sem saber o que o incomodava. Eram 23:30, em 30 minutos seria o aniversario de Myra, talvez ele estivesse se sentindo culpado por tudo o que ele dissera a ela nos últimos dias, Sirius deveria significar tanto para ela quanto para ele.


O garoto pegou o mapa do maroto, sussurrou as palavras e o pergaminho ganhou vida, ele encontrou o nome “Myra Black” vagando nada menos do que na Torre do Relógio. Ele colocou o roupão por cima de seu pijama e foi atrás da garota, ele correu por entre as paredes de pedra com um estranho peso dentro de si. Chegou a Torre arfando e descabelado, ela estava com uma calça xadrez e uma camiseta vermelha larga, encostada na grade, a sua frente apenas o trovão e o abafado sufocante que precedia a chuva.


- Me desculpe – foi a primeira coisa que Harry disse, isso fez o peso que sentia diminuir, mas não todo. Ela não respondeu de pronto, continuou fitando léguas a sua frente.


- Eu estou tão nervosa – disse ela baixo – Está prestes a acontecer e eu estou tão assustada.


- O que vai acontecer? – perguntou Harry se aproximando, não entendia nada do que a garota estava dizendo.


A garota parecia em uma espécie de transe virou de costas para ele e levantou seus cabelos ao alto da cabeça.


- Me diga – disse ela tremendo – O que você vê?


Harry se aproximou das costas dela, e viu uma marca na nuca da garota, se parecia um ‘A’ com um olho no meio, a imagem estava ficando menos nítida conforme o tempo passava, Harry tocou a imagem e sentiu a pele da garota se arrepiar.


- Estranho – indagou Harry – Parece que está sumindo...


Antes de Harry terminar a frase ela já havia virado de frente para ele e seus olhos azuis estavam cheios de algo que Harry nunca vira: alegria.


Não só alegria, aquilo era mais que isso era uma esperança praticamente consumada.


- Você tem certeza? – a respiração dela estava acelerada, sua mão direito segurava o ombro dele com força.


O relógio deu a primeira badalada da meia-noite e a garota perdeu o fôlego, Harry a segurou pelos cotovelos enquanto ela pareceu sufocar por um minuto.


- Eu estou livre – sussurrou ela olhando para suas mãos com incredulidade – Sem mais poderes, sem mais pesadelos. Livre, pra escolher minha vida, pra escolher quem eu posso ser, livre pra ser humana. Você consegue entender isso?


Harry olhou para ela sem ter certeza do que responder, ele não entendeu nada do que acontecera nessa última meia hora, a sua cabeça girava e poucas coisas pareciam fazer sentido, ao que parecia Myra não tinha mais os poderes que tanto espantaram o garoto quando ele a conheceu e isso pareceu libertar um tipo de felicidade inimaginável na garota.


- Eu acho que sim – sussurrou o garoto como resposta


Ela sorriu de uma maneira que ela jamais havia sorrido antes e o abraçou, forte, ele sentia o coração dela bater forte contra o seu peito e sentiu conforto naquilo.


- Bom, não sei se o meu presente vai ser importante depois de tudo isso – o garoto enfiou as mãos nos bolsos do roupão e tirou uma pulseira de prata – Desculpe, eu não tive tempo de embrulhar, ia ficar uma droga mesmo se eu tentasse.


Myra sorriu de novo e olhou o objeto com curiosidade, ela prendeu a respiração quando percebeu a inscrição no pingente, uma placa em formato de coração onde lia-se: “Anneliss + Sirius”.


- Onde..? – começou a garota confusa olhando pra ele – Onde achou isso? Minha mãe procurou em todo o castelo, ela nunca encontrou.


- Você gostou? – ele tinha olhos esperançosos.


- E-Eu não sei nem o que dizer... – disse a garota.


- Diga “Obrigada” – disse Harry humorado.


A garota deu um passo à frente. Seu nariz quase encostou-se ao de Harry


- Obrigada


E tocou seus lábios nos dele por breves segundos antes de recuar e continuar com os olhos azuis trancados com os verdes.


- Obrigada – disse ela mais uma vez.


Harry foi mais rápido e antes dela se afastar ele já tinha prendido seus lábios nos dela, ela levou as mãos para o rosto dele enquanto ele aproximava seus corpos. Eles poderiam estar cometendo um grande erro, mas era difícil se concentrar no que era certo, o abafado que precedia a chuva nublava tanto os pensamentos quanto o céu lá fora.

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