Parte II - Primeira aula com a

Parte II - Primeira aula com a



Após o café e a entrega dos horários de aula pela Prof. McGonagall, eles se encaminharam com ansiedade para a sala de Defesa contra as Artes das Trevas, a primeira aula do dia, e Harry não pôde deixar de se lembrar do terrível ano anterior.
Mas, ao entrarem, entre temerosos e curiosos, se depararam com a jovem professora (porque afinal era mais jovem que a média dos professores de Hogwarts) sentada sobre a mesa, em posição de lótus, as longas saias coloridas agora visíveis sob as vestes, como que forrando toda a mesa, os cabelos muito negros caindo em cascata sobre suas costas, enquanto dedilhava calma e indolentemente uma guitarra cigana, as pulseiras douradas em seus braços tilintando suavemente.
Apenas quando o último aluno se sentou e a turma fez um silêncio repleto de curiosidade, é que ela levantou a cabeça e lhes sorriu. Com uma batida forte nas cordas, capaz de dissipar qualquer improvável cochilo, ela pôs o instrumento de lado e, descendo graciosamente da mesa, falou com uma voz estranha que assustou a todos.
- Guardem as varinhas. Não vão precisar delas – ao ver a expressão de terror no rosto da maioria, riu com vontade e continuou, já com sua voz normal – por enquanto...Desculpem a brincadeira, não pude resistir.
Um suspiro geral de alívio se seguiu a isso, mas alguns, como Neville, a fitavam como se dissessem: não teve graça nenhuma.
- Antes de qualquer coisa: não tenho o costume de tratar as pessoas tão formalmente, então vamos facilitar. Aqueles que preferirem serem tratados pelo primeiro nome, o enunciem, por favor. Não precisa ser agora... podem esperar pra me conhecer melhor. Alguns, como uma amiga que tenho, podem não gostar de seu nome de batismo, então, quero que se sintam à vontade. E aí? Combinado? Vamos lá. – ela correu os olhos pela sala – Longbottom, o que você pode me dizer dessa matéria, vejamos... no seu 4º ano?
- Eu... de mais importante vimos as Maldições Imperdoáveis – ele pareceu engasgado ao dizer isso, sem dúvida se lembrando de seus pais.
- Interessante! – ela pareceu meditar alguns instantes, olhando-o estranhamente. Mas quando continuou, falava para a turma inteira. – Alguém se recorda de mais alguma coisa sobre os anos anteriores que gostaria de mencionar? Sim? –ela olhou para Parvati, que levantara a mão.
- Parvati, professora – a garota sorriu timidamente – No 3º ano, tivemos o Prof. Lupin, nosso melhor professor... até agora – completou como se temesse estar sendo grosseira – Ele nos mostrou vários seres mágicos perigosos e como nos defender deles. Nos ensinou o feitiço contra o bicho-papão.
- Ah! – exclamou Sarah – O Remo é ótimo, mesmo. Acredito que tenham surgido alguns muito interessantes! Contem-me depois. – após uma breve pausa, em que avaliava o grupo, caminhou pela turma, observando cada um de modo especial.
Por uma boa parte da aula, testou seus conhecimentos teóricos, fazendo perguntas a quase todos, divertindo-se de modo especial com a descrição que fizeram do “bicho-papão Snape” e lamentando que ninguém tivesse fotografado tal coisa. Depois, mais séria, comentou:
- Sei que muitos dessa turma – ela olhou significativamente para Harry – participaram no ano anterior de um grupo... clandestino... de treinamento de defesa. Pra falar a verdade, encontrei a lista dos participantes entre o material que minha... antecessora deixou para trás. – e mostrou a todos o pergaminho em que se via no alto o nome: “Armada Dumbledore”.
Um murmúrio de indagação correu pela turma, notadamente os que não faziam parte do grupo. Mas, sem esperar resposta dos alunos parou ao lado de Hermione – Você poderia me dizer exatamente a que ponto chegaram? Qual o seu nome?
- Eh... Hermione – ela falou após alguns instantes em que provavelmente avaliava se quebrava ou não mais essa regra, tão contrária ao que tivera no ano anterior, um martírio para todos – Bem, Harry era o líder da AD, Armada Dumbledore, e nosso... instrutor. Começamos com o feitiço de desarmamento, passamos ao estuporante, de impedimento, escudo e várias outras azarações. O último que vimos foi o patrono, mas nem todos já conseguiam um patrono corpóreo.
- Entendo... e acredito que tiveram oportunidade de, digamos... testar seus conhecimentos?
- Sim. – Hermione respondeu com firmeza, causando mais uma série de exclamações de assombro entre os colegas – Eu, Rony, Harry e Neville, mais Gina Weasley e Luna Lovegood, que estão no 5º ano, participamos de um... duelo com os Comensais da Morte, chefiados por Lúcio Malfoy – ela esperou que os alunos da Sonserina se aquietassem e continuou lenta mas firmemente – e o próprio Voldemort, dentro do Departamento dos Mistérios, no Ministério da Magia.
- E, obviamente, se saíram bem, apesar de alguns dias na ala hospitalar, não é mesmo? – Sarah lhe sorriu, antes de se voltar para os outros, que sussurravam, assustados e surpresos – Esse breve retrospecto, pessoal, foi só para mostrar que, basicamente, vocês já sabem o que fazer, só precisam se aprimorar. A informação sobre a batalha no DM deveria permanecer sigilosa, mas acredito ser de suma importância pra vocês e não poderia ser-lhes negada. Ora, seis jovens estudantes enfrentando os piores partidários do Lord das Trevas de que se tem notícia? Isso não é pouco. Mas também não é motivo pra se inflarem de orgulho, pois foi uma ação temerária que quase lhes custou a própria vida, senão a de outrem...
Na pausa que se seguiu, ela própria parecia precisar se recompor, fato que não passou despercebido a Harry, apesar da própria dor pela lembrança súbita da perda de Sirius.
- Mas não é isso que vamos discutir agora, vocês terão todo o tempo dos intervalos para comentar isso por vários dias. Em nosso tempo juntos, veremos algo diferente. Uma magia antiga, que Dumbledore pediu que lhes fosse ensinada, e meu povo deliberou que nas atuais circunstâncias, seu pedido era válido. Mas seu aprendizado só se tornará possível para aqueles que realmente estão voltados para o mesmo objetivo que esta casa, outros não conseguirão penetrar seus mistérios, justamente porque a própria magia se defende, em épocas como esta, e eu mesma estou preparada para selecionar os que, digamos, ainda não estejam devidamente preparados para aprender essa matéria. Pois é preciso que a mente já esteja suficientemente amadurecida.
Ela esperou que suas palavras fossem apreendidas, antes de continuar, fitando alguém no fundo da sala, que ainda não fora percebido pelos alunos, pois entrara silenciosamente e observava a classe visivelmente contrafeito.
- Algumas vezes, teremos a participação do Prof. Snape conosco, como agora, e, tenham certeza, ele conhece essa técnica em especial tanto quanto é possível a um bruxo... que não seja de minha raça – ela disse as últimas palavras com uma entonação de orgulho e desafio, o olhar instintivamente passando pelos alunos da Sonserina.
Harry quase podia ver faíscas voando pela sala. Praticamente todos, até mesmo Rony, que geralmente era alheio a essas sutilezas, percebiam a tensão no ar, algo mais vibrando sobre a classe. Harry só sentira coisa semelhante no confronto entre Sirius e Snape, embora mais do que ódio e desprezo parecesse vibrar ali. Quase que imediatamente, se viu a indagar mentalmente se algo de grave acontecera entre eles no tempo em que Sarah estudara em Hogwarts. Afinal, Snape já era professor há 14 anos. Era impossível não terem se conhecido.
Correndo os olhos pela turma, até fixar-se brevemente em Harry, Snape caminhou lentamente até a frente da sala. Só então, em um tom baixo e levemente irônico, comentou:
- Vou considerar suas palavras como um elogio, Miranda.
Desta vez, ela é que se ruborizou por brevíssimos instantes, perceptíveis a Snape, que lhe sorriu o mais inocentemente possível. Então, ela recuperou o sangue frio e respondeu.
- Claro que sim, professor. O senhor, mais do que ninguém, sabe o quanto isso é verdade, não? – e, mudando para um tom doce e nem por isso menos perigoso - Mas, por favor, obedeçamos às regras de convivência “pacífica”, sim? Me chame de Prof. Sarah, ou de McGonagall, como preferir, mas NUNCA de Miranda.
- Acho que essa não é uma discussão para termos na frente dos alunos... – ele sorriu, algo malicioso, ao que ela retrucou, propositadamente forçando um tom meigo e sedutor:
- Claro, Severo. Você está certíssimo. Então? Na sua sala ou na minha? Porque, você sabe, minhas acomodações estão um pouco... digamos... provisórias, e meu querido irmãozinho, acho que você se lembra dele, pode resolver verificar se estou “bem”...
O zumzumzum na classe foi inevitável. Hermione olhava para o teto, exasperada, enquanto Parvati e Lilah deixavam escapar gritinhos quase histéricos. Será que apenas Harry ouvira o sinal de alarme? Estavam ambos segurando as varinhas em seus bolsos, ou fora só uma impressão sua, levado pelas lembranças de confrontos semelhantes que já presenciara ou vivera?
- Com licença, professora? – ele chamou, timidamente, mas em voz alta o suficiente, como quem dizia: alô, ainda estamos aqui!
Os dois fitaram a turma como se realmente tivessem se esquecido de onde estavam. Então, recuperando-se mais rápido, Sarah fez um “hemhem” que fez todos rirem por ser uma imitação perfeita da Umbridge, quebrando assim o clima estranho, depois murmurou um “um a zero pra mim” e sacou a varinha com tal rapidez que Snape só pôde dar um salto para trás. Mas ela apenas conjurou uma belíssima cadeira para ele, com braços almofadados como de um trono, e pediu que ele se sentasse para que ela pudesse continuar a sua aula.
- Já que estou sendo “supervisionada”... espero que a palavra seja essa mesma! Me contaram horrores do último período letivo... Bom, voltemos ao ovo do dragão. – ela sorriu ao ver a expressão curiosa dos alunos – É uma expressão... lá de onde eu venho. Pois bem, quem sabe me dizer o que é oclumência?
Como não poderia deixar de ser, ignorando o levantar de sobrancelhas costumeiro de Snape, Hermione ergueu a mão.
- Sim, Hermione? – Sarah lhe sorriu, também ignorando outro levantar de sobrancelhas carregado de surpresa de Snape.
- Oclumência é a capacidade de fechar a sua mente à penetração exterior.
- Obrigada. Cinco pontos para Grifinória. Mais alguém aqui pode me dizer por que é importante conhecê-la? Sim, Harry – ela lhe sorriu igualmente, quando o garoto corajosamente ergueu a sua.
- Porque... – ele pensou se valeria a pena alfinetar Snape mais um pouco, mas o olhar do professor lhe preveniu que não o fizesse – porque Legilimência, que é a capacidade de penetrar a mente e ver as lembranças e sentimentos das pessoas, é uma das especialidades... do Lord das Trevas.
Mesmo não repetindo o nome de Voldemort, deu pra sentir a inquietação ainda presente nos colegas. A professora sorriu.
- Mais cinco pontos. Isso mesmo, Harry. E é disso que vamos tratar nesses primeiros três meses. Até o Natal, esperamos que todos vocês já possam pelo menos perceber quando estão sofrendo alguma, digamos assim, invasão mental. Nem sempre um bom oclumente é também bom legilimente, mas esse não é o caso do Prof. Snape, estejam certos disso. – ela lhe sorriu com expressão estranha – Mas não precisam ficar apavorados. Não serão testados, enquanto não alcançarem um piso mínimo de condições de se defenderem.
- Não foi isso que ele fez comigo – pensou Harry, e imediatamente, a professora completou, como se tivesse “lido” os seus pensamentos.
- Naturalmente, “alguns” de vocês já passaram por experiências diferentes, mas eu posso lhes assegurar que, dentro desta escola, não terão seus sentimentos devassados por aqueles encarregados de instruí-los. Isso não é uma fala minha, é uma determinação do Prof. Dumbledore. Em momento algum – ela deu uma ênfase especial a estas palavras – vocês terão sua privacidade invadida, pelo menos intencionalmente. Por isso, meninas, me desculpem e... podem ficar calmas! Não vou contar pra ninguém qual de vocês acha o Malfoy um fofo, apesar de mal caráter. Haha! Não se denuncie ficando vermelha! – e, como todos olhassem à volta, curiosos, e mais de uma garota, e não apenas da Sonserina, estivesse meio sem jeito, ela completou – Outra brincadeirinha, gente! Vocês vão ter que se acostumar com meu senso de humor. E, com o tempo, vão aprender que ele também é uma importante arma de defesa... ou de ataque. Certo, Severo? – ela lhe fez uma reverência matreira, ao que Snape respondeu com um aceno e um sorriso amarelo.
Ele parecia querer dizer alguma coisa mas o sinal tocou encerrando a aula.
- Bem, pessoal. Obrigada pela aula, e desculpem pelas brincadeiras... Prometo me controlar. – ela deu uma piscadela divertida para eles, e todos saíram, um pouco mais rápido do que seria o normal, olhando de soslaio para Snape.
Harry segurou Hermione pelo braço e Rony esperou pelos dois. Assim, eles foram os últimos a sair da sala, deixando a porta entreaberta. Assim, do corredor ainda ouviram os dois professores.
- Então, Miranda? Já tão cedo querendo por as garrinhas de fora? Pensei que fosse demorar mais pra lhe tirar do sério...
- Você não me tirou do sério. E, por favor, não me chame de Miranda, já lhe pedi isso.
- Por que? Mái-ran-da...(ele propositadamente, usava a pronúncia inglesa para a sílaba inicial) É tão mais sonoro! – ele riu, mas uma nota de mágoa manchava o seu riso, e foi com um tom intencionalmente tristonho que ele continuou – Antigamente, você não se opunha...
- Porque era só uma adolescente boba que ficava encantada com as... atenções... de seu professor fav – ela se calou abruptamente.
- Ora, ora! Isso é novidade pra mim. Pensei que sua querida tia fosse sua professora favorita! – seu tom era de surpresa genuína, como se achasse impossível algum aluno realmente admirá-lo como professor.
- Olha... – Sarah silenciou e, de alguma forma, Harry, encostado na parede do corredor, percebeu que ela sabia que estavam sendo ouvidos – Eu preferia, e acho que você também, Snape, que nós mantivéssemos nosso... relacionamento, no nível profissional. É claro que estou numa posição de acatamento à sua supervisão, sujeita à sua... interferência nas aulas, mas não posso e não vou permitir que vá além disso... Eu devia ter escutado o Antonio. Não devia ter deixado o Prof. Dumbledore me convencer de que coisas como essa não aconteceriam...
- Você está sendo ingênua, minha cara! – Snape riu mais uma vez, porém não havia satisfação ou vitória em seu riso desta vez – Até nossos alunos... é claro que os mais perspicazes e você sabe de quem estou falando, perceberam os planos de Dumbledore. Ele acha que podemos... resolver nossas diferenças. Assim como pensou que eu e aquele... pulguento pudéssemos trabalhar juntos.
- Não fale do Sirius assim! Eu... ah, você é impossível.
- Então, agora são “um a um”. – ele sussurrou, enquanto saía da sala, quase atropelado pelos alunos que chegavam para a próxima aula.
Harry, Rony e Hermione aproveitaram para correr, antes que Snape os visse, até a próxima aula, felizmente, de História da Magia, onde eles puderam entrar sorrateiramente, sem o velho professor fantasma ao menos perceber que não estavam lá antes.

Só após o almoço puderam conversar a respeito do que tinham ouvido, sentados no seu cantinho habitual do jardim, uma vez que a chuva tinha dado uma trégua.
Para Hermione, não havia mais dúvidas: os dois tiveram alguma coisa!
- O Snape com uma namorada? Aluna e ainda por cima bonita desse jeito? – Rony retrucou, e Hermione o fuzilou com o olhar – Desculpe... você sabe que tenho razão! – ele se defendeu.
- O que será que o Dumbledore achou disso? E a McGonagall, então? Não me parece que ela deixaria a sobrinha à mercê de Snape... – Harry ponderou.
- Vai ver o Dumbledore via alguma coisa que não vemos... é típico dele. E a McGonagall, talvez não tenha sabido. Pode ter sido um romance secreto... Entre os trouxas existem inúmeros filmes e livros falando de situações assim... – Hermione falou em tom velado.
- Eca! – exclamou Rony, mas se calou com outro olhar que a garota lhe lançou.
Harry, pensativo, olhava em torno, e então cutucou os colegas. Sarah acabara de deixar o castelo, encaminhando-se para os lados da cabana de Hagrid, caminhando lentamente, com uma expressão preocupada. Gina saiu em seguida, chamando em voz alta pela professora, que se virou e a aguardou. Abraçadas como velhas companheiras, as duas continuaram a caminhada. Resolvido, Harry se levantou e as seguiu, não deixando a Hermione e Rony outro remédio a não ser fazer o mesmo.
Sarah logo percebeu sua aproximação e lhes sorriu, enquanto esperava que eles a alcançassem. Umas vez que chegaram perto, cumprimentaram-na meio que receosos, mas ela os tranqüilizou.
- Gina queria conhecer “minha casa”. Vocês também são bem-vindos. Está ali. – ela apontou para o lugar próximo à cabana de Hagrid onde, há dois anos, ficara a carruagem de Madame Máxime. Em vez da grande carruagem azul, havia algo parecido a uma pequena casa sobre rodas. As paredes pintadas com flores e símbolos, cortinas no lugar da porta, uma autêntica carroça cigana fazia um alegre contraste, como uma casa de bonecas, com a cabana rústica de Hagrid. Este, que se aproximava vindo da floresta lhe acenou e se aproximou, sorridente:
Depois de cumprimentar os garotos, garantiu a Sarah que seus animais eram ótimos e estavam bem tratados, então se despediu e foi pra sua cabana, seguido por Canino, saltitante e brincalhão.
Com um gesto gracioso, Sarah abriu as cortinas e convidou-os para entrar. Harry, decididamente, não esperava por aquilo. Como no acampamento da Copa Mundial, o espaço interno era muito maior do que se imaginaria do lado de fora. Parecia mais uma tenda, com almofadas e pufes coloridos, um dossel de véus coloridos escondendo e revelando ao mesmo tempo o que parecia uma cama, só que direto no chão, e mais atrás uma cortina de contas coloridas parecia levar a outro “quarto”, provavelmente o ocupado por Antonio, como ela sugerira. De um lado, instrumentos e objetos pessoais, do outro livros e objetos mágicos os mais variados. Bisbilhoscópios e espelhos, além de baralhos e bolas de cristal. A um olhar interrogativo de Hermione, ela explicou:
- Não sou concorrente de Trelawney, posso garantir. Embora eu tenha uma amiga que é uma adivinha nata, uma vidente de verdade. Mas esses são objetos queridos, que pertenceram à minha mãe... Mas, vamos, fiquem à vontade! Vou providenciar algo refrescante.
E, usando a varinha, longa e fina, de um tom dourado-avermelhado, conjurou algumas garrafas de cerveja amanteigada. Depois, fez soar uma música de guitarra, um pouco melancólica mas bonita, bem baixinho.
- Então, Gina? Gostou? – ela sorriu
- Claro! É tudo lindo! – a garota não se cansava de observar tudo com atenção, indo pra lá e pra cá.
Os outros, ainda meio sem jeito, sentaram-se em silêncio. Sarah os observou por alguns instantes, então limpou a garganta sugestivamente e perguntou:
- O que vocês querem perguntar primeiro?
Harry olhou para os outros, e antes que Rony abrisse a boca pra perguntar sobre Snape, indagou:
- Como é que você e seu irmão conseguem... ler a mente, sem usar o feitiço de legilimência, quero dizer...
- Não precisamos da varinha, se é isso que você quer saber, porque é um dom natural. Por isso, também podemos fazê-lo sem que a pessoa perceba. No seu caso, é um pouco diferente, mas acho que você já está acostumado, não? As coisas com você nunca são normais, não é mesmo?
- É... geralmente não são. – ele constatou.
- Bem, como você tem um talento para isso, talvez nato ou talvez pelo inusitado episódio entre você e... Voldemort, você pode perceber quando tentam entrar em sua mente. Só que demora um pouco para reagir e impedir isso. Basicamente, é o que viemos lhe ensinar.
Ao perceber a estranheza dos garotos, aponta para o outro lado da “tenda”.
- Antonio te ajudará mais diretamente, sempre que puder estar conosco. Ele não pode e não quer permanecer o tempo todo em Hogwarts... Mas virá todos os finais de semana, e vocês dois terão um tempo para treinarem juntos. O Prof. Dumbledore nos contou que sua experiência com Snape não foi muito positiva, por motivos óbvios. É extremamente importante que você aprenda oclumência com segurança, agora mais do que nunca. Para os outros, é mais uma ação preventiva, que vai lhes render maior segurança no futuro, mas... – ela fitou os quatro com expressão significativa – Aqueles mais chegados a você, e isso inclui seus outros amigos Neville e Luna, que estiveram no Ministério aquela noite, precisam aprender a detectar e repelir essas investidas, pois se tornaram alvo em potencial dos Comensais e de seu líder, talvez até mais que outros aliados mais velhos de Dumbledore. Vocês deram um recado importante: a nova geração é bem mais forte e determinada. - Bem, - ela disse depois de longos minutos de silêncio, em que os garotos tentavam digerir essas importantes informações. Ela, pelo menos, não se negava a lhes explicar as coisas, diferente dos membros da Ordem, que tinham sempre a mesma resposta: vocês ainda são muito jovens. – Mais alguma coisa?
Eles se entreolharam. Apenas Gina, que não presenciara o duelo verbal entre ela e Snape, permanecia serena. Mas, nem mesmo Rony tinha coragem de perguntar algo.
Sarah sorriu tristemente, então pegou o violão e começou a tocar uma música, cuja letra falava de um amor cheio de desencontros, mal entendidos, rupturas, mas interrompeu bruscamente, o que deixou o trio mais sem jeito ainda.
- Desculpem... – ela disse, afinal – O que fizemos na classe, Snape e eu, foi imperdoável. Mas só porque eu baixei a guarda, e ele conseguiu me atingir. Mas não vai acontecer mais, prometo. – ela soltou um grande suspiro – sem querer, mostrei a ele o jeito que encontrei de me defender, e ele usou as minhas próprias armas pra me atingir... Sinal de que também arranhei sua superfície de vidro. Ele não é mais tão inacessível, sua mente não está tão fechada como antes. Talvez não queira estar.
- É um truque. – a voz de Antonio se fez ouvir. Não o viram chegar, por isso todos se assustaram.
- O que você faz aqui? – Sarah também se assustara.
- “Senti” que você estava triste... – ele a fitava de cenho carregado, procurando literalmente ver dentro dela – Não se feche, Sarita, ou vou ser forçado a acreditar que o pior aconteceu... ou terei que ver pelos garotos? Ele olhou para Harry e os outros, que instintivamente desviaram o olhar.
- Bravo! – Sarah riu – Vocês já aprenderam alguma coisa!
- Não mude de assunto! – ele falou, incisivo.
- Ah, Antonio, não quero mais discussões... a última me esgotou.
- Então houve uma discussão?
- Nada de grave, garanto. Só um “medir forças” que não levou a lugar nenhum.
Antonio fitou a irmã por mais alguns segundos, e então pareceu se dar por vencido. Pegou para si uma cerveja amanteigada, comentando que não via uma dessas desde os tempos da escola.
- Nossos costumes são outros. – explicou com um sorriso divertido, repentinamente determinado a agir como se estivesse ali a passeio. Sua fala parece que destravou a língua do Rony que começou a perguntar o que faziam, se jogavam quadribol e coisas do gênero.
A conversa só foi interrompida, quando a cabeça de Hagrid apareceu na porta.
- Ah, vocês ainda estão aí! Já está na hora de recomeçar o trabalho, vamos lá! Gina, sua turma já está descendo, a próxima aula é comigo. Os outros, já para as estufas! E... Professora? – ele sorriu – Ainda não me acostumei, acredite. Você também tem uma aula pra dar... Antonio, meu velho, como vai? Quer vir comigo? Vou mostrar os testrálios, quer me ajudar?
- Será um prazer, Hagrid.
Assim, logo todos estavam fora da “casa” de Sarah, e durante a aula de Herbologia foi impossível para Harry comentar alguma coisa com os amigos.
E os demais professores já haviam entrado no ritmo bem rapidinho: o primeiro dia terminou com uma infinidade de deveres para fazer. Nenhum deles conseguiu fazer outra coisa que não fosse consultar livros e copiar longos pergaminhos.

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