capítulo 20 (editado)
Tomar café com os Weasley, ainda mais na manhã de Natal, foi realmente uma experiência memorável e única. A casa inteira, ou melhor, a Toca, era ainda mais impressionante que nos livros ou filmes, e Sarah se sentiu tão ou mais maravilhada que o próprio Harry, quando estivera ali pela primeira vez, aos 12 anos. Como se aparatar abraçada a Snape já não tivesse sido uma experiência e tanto...
Tinha que se lembrar de perguntá-lo como conseguira autorização do Ministério da Magia, sempre tão preocupado com os trouxas, para ela circular assim e presenciar tantos feitiços...
Mas era tanta novidade, tantas caras novas.. que ela esqueceu-se disso. A nova geração Weasley já prometia: crianças corriam daqui pra lá, exibindo presentes completamente inimagináveis para Sarah, mesmo já conhecendo “alguma coisa” do mundo bruxo. Os gêmeos espalhavam novos produtos, sob a vigilância desconfiada de sua mãe. Alan que chegara ntes pela rede flu, estava todo sorridente e veio até ela assim que a viu, mostrando o presente que ganhara de Lady Marjorie antes de vir para a Toca:
- Olha, tia! Que maravilha este telescópio novo que ganhei! O meu quebrou no semestre passado...Pirraça o derrubou do pedestal... Você sabe quem é o Pirraça, não sabe?
Sarah fez que sim, divertida, embora ainda um pouco incomodada com a facilidade cm que o garoto a chamava de “tia”. E teve certeza de que Pirraça era um personagem que estava fora de sua lista dos que gostaria de conhecer.
Em dado momento, viu Snape conversando com o Sr. Weasley, e os dois olharam em sua direção por um instante, com ar preocupado. Depois disso, notou que todos da família evitavam fazer-lhe perguntas de ordem pessoal, e achou bom que fosse assim. Estava cada vez menos à vontade, e até arrependida de ter aceitado aquele emprego... Estava tentada a telefonar para André assim que voltasse, ou então, pediria uma coruja emprestada.
Este pensamento lhe causou tanta estranheza, que começou a rir de si mesma, e riu alto sem perceber.
Apenas quando Snape lhe perguntou o que acontecera, ela percebeu.
- É que... pensei uma coisa tão engraçada que... – ela olhou em volta, encabulada por ter chamado a atenção da família.
Alguém que chegava a tirou de seu constrangimento e monopolizou as atenções, para seu alívio: Harry e Gina, que ostentava os sinais evidentes de uma gravidez.
Depois dos efusivos abraços de toda a família e amigos, o jovem auror chegou até eles. Cumprimentou Snape com um breve aceno, surpreso por encontrá-lo ali, e depois voltou-se para Sarah:
- Como vai? – ele perguntou com um sorriso, que ela respondeu timidamente – desculpe não ter me apresentado direito na festa, mas... não tínhamos autorização para isso. Do Ministério, já que você parece que já tinha um conhecimento prévio de nossa existência... os livros...er... desculpe, não podemos citá-los.
- Compreendo. – ela disse, vacilante, imaginando que o Ministério da Magia já teria conhecimento do “vazamento” sobre eles e teria tomado alguma providência inibidora.
Alguém se aproximou neste instante, uma mulher magra e mais ou menos da sua altura, de cabelos negros e encaracolados, a pele levemente bronzeada, seguida por um provável Weasley, pois era ruivo.
- Oi, você deve ser Sarah. Sou Ana Weasley. Prazer em conhecê-la. – a mulher disse, em português, cumprimentando-a.
O choque por ouvir sua própria língua foi imenso. Então, se lembrou de Molly dizendo alguma coisa sobre ter uma nora brasileira. Sorriu para a recém-chegada, também respondendo em português.
- Oi, muito prazer. Desculpe, mas estou ainda meio perdida por aqui. Tudo é novidade e... começo a pensar que é melhor o Snape me aplicar um novo obliviate e me deixar voltar sossegada para o Brasil.
- Não diga isso! – Ana falou em tom brincalhão, depois de um olhar rápido para Snape, que parecia ter sido petrificado com o susto da afirmação de Sarah – Você se acostuma logo. Até seu irmão está se acostumando... Venha, vamos caminhar um pouco, deixar essa balbúrdia para trás... E vamos sozinhas, senhores, por favor.
A firmeza com que dissera as últimas palavras fez os homens estacarem o movimento que já faziam para segui-las.
- Isso mesmo. Fiquem aí. Eu e Sarah temos muitas figurinhas pra trocar, e queremos fazer isto sozinhas. Tenho coisas importantes a perguntar, tipo... como terminou a última novela das oito que consegui assistir até a metade... – e virando-se para Sarah – Você já deve saber que aqui não tem tv. Aliás, nem pega sinal de tv. Magia demais.
Sarah admirou-se por até Snape obedecê-la sem dizer nada. Que mulher incrível era essa?
Caminharam em silêncio por alguns minutos, até estarem um pouco distantes da casa. Ana conjurou duas cadeiras de jardim com a varinha, causando estranheza em Sarah, que pensou que a outra fosse uma trouxa como ela.
Ana riu quando ela comentou isso, e tinha uma estranha expressão, mas Sarah quase se acostumara com isso também. Todos pareciam estranhos por ali. Devia ser normal, ela é que estava fora de lugar, afinal.
- Calma. Uma coisa de cada vez. – Ana disse, enquanto vasculhava o terreno em volta, explicando rapidamente – Orelhas extensíveis. Nesta casa, sempre pode haver uma por perto...
Finalmente se dando por satisfeita em sua vistoria, voltou sua atenção para a conterrânea.
- Vejo que você está ainda meio assustada com tudo... Como estão indo, você e o “Morcegão”?
- Você o chama assim? E ele não briga?
- Na verdade, só longe dele. Só pra quebrar o gelo um pouco... Olha, pode contar comigo a qualquer hora, ok? Pra mim foi difícil, quando caí aqui, literalmente...– ela observou o local em que haviam parado - É, foi mais ou menos aqui. Desabei em cima da tenda do casamento de Gui e Fleur, trazida por um livro que era uma chave de portal.
- eu vim de avião mesmo... quer dizer, até Londres. Pra cá, aparatei com... Snape.
- Pensei que você o tratasse por Severus. Afinal, são...
- Ele é meu patrão, ou era... estou mesmo pensando em desistir disso tudo... não o chamo de Professor, porque ele se zangou... Mas chamá-lo de Severus seria muita intimidade, não é? Antes... não sei, era diferente. Eu tive é que desaprender a chamá-lo de John...
- É... eu soube que você o tinha colocado em minha família... Sou uma Smith.
- Não fui eu, foi... – Sarah arregalou os olhos – Mas você não é brasileira?
- Sim, minha mãe era inglesa, e bruxa, da família dos Smith. Meu pai também era bruxo, mas de ascendência ameríndia. Fui criada no Brasil, só descobri que era bruxa há... mais ou menos 8 anos. Praticamente no fim da guerra, depois de ter caído aqui, como disse. Mas... E você? Já conseguiu aprender algum feitiço? Já tem uma varinha?
- Mas eu não sou bruxa! – Sarah exclamou.
- Não? Que estranho... pensei que fosse. Afinal, parece que foi você que acionou a chave de portal, pelo que Harry nos contou. A chave que levou Snape para o Brasil. E como é... – Ana interrompeu o que ia falar e ficou pensativa por alguns instantes, depois mudou de assunto - Você é de onde, mesmo? Eu sou de Santa Catarina, mas morava em Brasília, antes de vir pra cá.
- Eu sou mineira. Morava em Belo Horizonte, mas minha família era de Monlevade... Quer dizer, eu fui adotada por eles, mas na verdade, não sei nada de minha origem. Tenho algumas pistas pra seguir mas...
- Ah, isso me lembra. André comentou conosco que você está com uma pesquisa pra fazer. É sobre isso?
- Sim. Tivemos... algumas pistas que apontam pra Inglaterra...
Ana pareceu pesar muito as palavras seguintes, mas Sarah não deu importância a isso.
- Se precisar, pode falar. Além de já conhecer as coisas por aqui, sou uma auror. Posso ver se tem algum registro no Ministério. E, claro, era agente da Inteligência, no Brasil, ainda tenho uns contatos lá, se for preciso. Trouxas, claro.
- Eu agradeço muito. Snape me prometeu folga até dia 02 de janeiro, então vou tentar usar esses dias... Isto é, se ficar mesmo no emprego... Volto hoje mesmo para o apartamento do André, acho que me precipitei saindo de lá...
Ana percebeu que Sarah estava realmente confusa com tudo aquilo. Teria uma conversinha com Snape, ele a estava pressionando muito, isto podia não ser bom.
As duas caminharam de volta, falando de coisas do Brasil, Ana comentando que sua sobrinha estava em Hogwarts, Sarah curiosa sobre a escola, enfim, aquele velho jeito de conversar que só mulher tem, associando um assunto com outro, voltando ao ponto inicial, indo embora de novo...
Quando chegaram junto aos outros, Snape estava visivelmente preocupado. Ana falou baixinho alguma coisa com ele, que Sarah não ouviu, mas não deu importância. Só notou que Snape não ficara satisfeito.
Sua atenção foi atraída por uma coruja, que entrou direto pela janela, vindo pousar à sua frente. Sem saber o que fazer, com medo de levar uma bicada, deixou que Ana olhasse do que se tratava.
- É pra você, de seu irmão. Ele soube que viria pra cá. – Ana lhe entregou o pequeno embrulho e um envelope.
- Meu Deus, ele se lembrou de me mandar um presente, e eu nem pensei nisso! – Sarah comentou, emocionada, abrindo a pequena caixa, que continua um bonito par de brincos verdes – Mas que mania que todo mundo está agora, de só me dar coisas verdes... – ela riu, olhando para Snape, e depois se lembrou – Com exceção da Lili, que me deu um cachecol...
- Amarelo e vermelho, grifinório! – Rony, que se aproximara ao ver a coruja, terminou – mamãe nos contou que você tinha um cachecol da Grifinória.... Bem... quer dizer... parecido.
- Ah, então foi isso? – Sarah riu – Pobre Aline... Será que poderei contar pra ela que quem reconheceu o cachecol foi o Rony, e não o Harry, como ela pensara? – sua expressão se suavizara, lembrando-se da menina, e se entristeceu de repente. Talvez não conseguisse adotá-la, afinal. Mas voltou sua atenção para a carta, pedindo licença aos que estavam próximos e se afastando para ler com calma e um pouco de privacidade.
Sentada próxima à janela, leu com um misto de alegria e surpresa:
“Querida mana do meu coração,
Feliz Natal!
É uma pena não podermos nos ver hoje, ainda estou fora da cidade. Mas não podia deixar de te mandar o que achei. Susan também ajudou um pouco, pesquisando no jornal deles. Então, isto é tudo que encontramos. Espero que lhe seja útil.
Ah, sobre o brinco, comprei-o de uma artesã brasileira, acredita? Está tentando a sorte por aqui, também. Então, é como se estivéssemos em casa, não é?
Saber que você está perto de mim, e que posso compartilhar com você tanta novidade (porque, acredite, ainda custo a acreditar que me casei com uma bruxa de verdade, um personagem de um livro que eu li).
Olha, vá com calma. Se precisar de ajuda, pode contar com a Ana, ela é super legal, é uma espécie de polícia deles, uma auror, lembra o que é isso?
E vou repetir o que já te disse: seja lá o que descobrir, mesmo achando sua família biológica, eu serei sempre, sempre, seu irmão.
Te amo muito.
Um beijo
André
P.S.: Susan lhe manda um grande beijo de cunhada do coração.”
Emocionada, Sarah dobrou a carta novamente, sem ao menos olhar as duas folhas anexas. Até aquele momento, conseguira segurar a falta que sentia de toda a família. Agora, porém, estava difícil. Deu curso às lágrimas, embora silenciosas. Quando deu por si, Molly Weasley colocava o braço em seus ombros, sentando-se ao seu lado e lhe oferecendo uma xícara de chá.
Ela aceitou, agradecendo num murmúrio, e a cada gole foi sentindo-se mais calma. Desconfiou até que tivessem colocado alguma poção, mas deixou a suspeita de lado. Não ia ficar agora com medo de beber ou comer qualquer coisa que lhe oferecessem...não era “Morgana no país das fadas”!
- Olha, pode contar comigo, está bem? Eu ficaria feliz em ter mais uma “filha brasileira”.
- Obrigada, Molly. Você é realmente a mulher especial que todos dizem. Obrigada mesmo.
Molly deu mais uma palmadinha em seu ombro e se levantou.
Sozinha novamente, pois todos pareciam ter concordado em deixá-la à vontade, resolveu conferir os documentos que o irmão lhe mandara.
O primeiro, era um anúncio de desaparecimento em um jornal londrino. O segundo falava aparentemente do mesmo caso, só que era no jornal bruxo “O Profeta Diário”. Mas os dois, com certeza se referiam a uma mesma criança: uma menina de poucos meses de idade fora raptada. A diferença era que no jornal “trouxa”, davam a descrição de uma louca não identificada, que fora vista rondando a casa dos pais da criança. Já o jornal bruxo, divulgava a foto de uma bruxa, que era a principal suspeita do crime. Como a foto conferia com a descrição do outro jornal, Sarah concluiu que podia ser a mesma pessoa. Incomodou-a o fato da foto parecer viva, a mulher ora gargalhando como louca, ora cobrindo o rosto comas mãos e se virando, tentando se esconder. Quando se acostumaria com as fotos bruxas?Talvez nunca... Entretanto, o que impressionou a Sarah foi que a bruxa era exatamente como a descrição que Martinho Laurent fizera da mulher em cujos braços fora encontrada. Porém, deveria haver algum engano: a data do jornal... março de 1960... Mas ela nascera em 1971, fora registrada com a mesma data de Berenice, 01 de março de 1971...
Intrigada, porque André não se enganaria tanto, resolveu ler o corpo da reportagem. Talvez a tal bruxa fosse uma dessas loucas que repetem sempre a mesma ação, talvez ela tivesse seqüestrado mais de uma criança no decorrer de vários anos, sem nunca ser capturada. Lia com atenção, quando sentiu o ar lhe faltar. A menina era descrita como de pele clara, cabelos muito lisos e pretos, mesmo com a tenra idade. Quando desaparecera usava roupinhas de bebê verdes, com seu nome – Serenna – gravado.
Parou de ler, procurando Snape com os olhos. Ele logo estava ao seu lado, preocupado.
- O que foi?
- Lembra do que papai contou, sobre quando me achou? Veja isto.
Snape pegou o recorte de jornal, mas apenas relanceou os olhos por ele, e disse:
- Acho melhor irmos para casa, agora. – ele olhou em volta, fez sinal para Ana, que se aproximou.
- Aconteceu alguma coisa? – ela perguntou, preocupada ao ver a expressão de ambos.
- Sim... Por favor, desculpe-se com os Weasley por nós... tenho que levá-la pra casa.
Dizendo isso, abraçou Sarah com força, e aparatou, provocando espanto nos presentes.
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