capítulo 13



Sarah observara preocupada, quando Felipe chamara Snape e, em companhia também de seu pai, eles entraram para a biblioteca e fecharam a porta, antes que ela conseguisse alcançá-los e entrar.
Quando eles saíram de lá, porém, quase uma hora depois, Felipe e Martinho riam pra valer de algo que Snape fizera ou dissera.
Ele ria com os dois homens, mas sua expressão não enganava a Sarah, algo muito grave fora dito ou acontecera naquela sala. Mas eles conversavam descontraídos, Martinho perguntava sobre os planos do filho de ir para o exterior no próximo ano.
Snape veio sentar-se no seu canto favorito da varanda, enquanto a casa se enchia de gente a chegar e a sair.
Sarah, mesmo contra a vontade, pois queria sentar-se ao seu lado e perguntar sobre o que haviam conversado por tanto tempo a portas fechadas, se viu cumprimentando amigos, parentes, contando e ouvindo casos, sorrindo e brincando com todos. Mas seu olhar sempre se dirigia para o canto silencioso da varanda, de onde Snape observava a todos em silêncio, sorrindo educado quando alguém se dirigia a ele.

Ele tinha muito em que pensar, e não achava conveniente, pelo menos por enquanto, revelar a Sarah o teor daquela conversa, as suspeitas que Felipe levantara e investigara por própria conta. Suas descobertas eram surpreendentes. Sua própria vida, as convicções que tivera durante grande parte dela, precisariam ser revistas. Evidentemente,usara um obliviate sobre os dois homens, era mais seguro assim. Entretanto, o que mais o intrigava ainda era como tinha ido parar ali, com um espaço de tempo tão grande.

Lembrava-se agora exatamente daquela noite, a sua última noite “normal”: recebera um chamado urgente de Harry Potter, um dos comensais ainda soltos fora visto em Londres, e causara algum estrago por lá. Após a derrota de Voldemort, muitos haviam enlouquecido verdadeiramente, alguns se fingiam de loucos, mas todos davam trabalho à equipe de aurores e também aos membros da Ordem da Fênix.
E ele, mais uma vez, era necessário para auxiliar na captura de um dos mais perigosos. Isso só era possível, porque praticamente nenhum dos comensais soubera que traíra o Lord, ou melhor, fora sempre um espião no meio deles.
Isso tornava mais fácil para ele, se aproximar sem que eles ficassem alertas, e, quando possível, dar o sinal para os aurores.
Mesmo a marca negra tendo sumido de sua pele, graças a uma poção desenvolvida por Dumbledore, com a ajuda preciosa de Flamel, usando apenas duas gotas do Elixir da Vida conjugadas com uma lágrima de Fawkes, e sua pele se reconstituíra, eliminando a marca negra.
Por dezesseis anos, ele guardara aquele precioso frasco, aguardando o momento oportuno de usá-lo, já que Dumbledore sempre suspeitara de que Voldemort ainda ressurgiria, como de fato aconteceu.

Compreendeu então que a marca rosada que ainda permanecia era pela necessidade de forjar a marca ainda por algumas vezes, prejudicando assim a recuperação total de sua pele.

Enquanto ouvia a voz suave de Sarah, conversando com suas primas na sala ao lado, ele se lembrou...

***
Depois de passar pela casa dos Weasley, para pedir a Molly um pequeno favor, aparatara direto no Caldeirão Furado. O comensal fora visto indo para o Beco, Lupin e outro membro da Ordem o seguiram. Apenas Harry recebeu Snape. Sentaram-se afastados, não apenas pela necessidade do disfarce, mas porque ainda não se suportavam.
Inesperadamente, o comensal voltara para o Caldeirão Furado, encaminhando-se para a porta. Snape ergueu-se para segui-lo rapidamente. O homem, porém, já percebera que era seguido, então se virou, lançando feitiços pra todos os lados, correndo para a saída.
Saiu tão intempestivamente, que se chocou com uma mulher que passava ou se preparava para entrar, derrubando-a.
Snape saiu em seu encalço, Harry o alcançou. O homem percebeu ser uma cilada e tentou reagir. Mas Snape e Harry se defendiam bem, e pareciam não querer feri-lo de morte. Queriam capturá-lo vivo, mas ele também se defendia bem.
De repente, viu a mulher caída, ela se ferira. Ou perdera a varinha, ou estava zonza pelo tombo, ou era uma trouxa, para ter continuado no meio da luta daquele jeito. E ele viu que poderia distrair aqueles dois idiotas que pensavam que ele não era esperto o suficiente... eles iriam ver... Não queriam tanto defender toruxas e sangues-ruins? Que o fizessem então...
Atacou-a com um feitiço mortal, mas Snape, percebendo sua intenção, pulou à sua frente. A mulher, parecendo despertar de um rápido desfalecimento, gritou algo, erguendo os braços, como se imaginasse que Snape caía sobre ela e tivesse a intenção de aparar sua queda. E aconteceu.
Snape foi atingido pelo feitiço, uma cópia mal arranjada de seu “sectumsempra” enquanto luzes explodiam ao seu redor, e que, estranhamente, pareciam partir da mulher caída. Harry lançara um feitiço sobre o comensal, interrompendo-o, mas o maior mal já estava feito... e Snape viu tudo se apagar à sua volta, tendo a sensação de estar caindo num poço em chamas... até acordar naquele hospital...
***

- Você etá bem longe, hein, amigo? – Martinho bateu em seu ombro, despertando-o de suas lembranças.
Snape o fitou, meio perdido. Mas depois sorriu, disfarçando sua preocupação.
Acompanhou-o para dentro de casa, participando de forma discreta da conversa na sala, mas intimamente, tinha certeza de uma coisa: precisava recuperar aquela jóia que estava com Sarah. Aquilo era algum tipo de chave de portal, que o trouxera para este mundo, para este tempo... Não apenas reconhecera o rosto jovem de Sarah em suas próprias lembranças, como também se lembrara do que ela mesma lhe contara, na ocasião em que um filme que assistiam juntos a fizera recordar algo daquela noite...
Assim, planejou em silêncio o momento certo para recuperá-la, e mantê-la em seu poder, sem que Sarah desconfiasse. Ela o retirara na noite anterior e o guardara novamente, não falando mais do assunto. E ele acharia um jeito de pegá-lo entre suas coisas, sem que ela percebesse.

A oportunidade chegou, antes que ele esperava: ela saiu com Berenice e as primas, então foi fácil dar uma desculpa, recolher-se ao seu quarto e, de lá, aparatar para o quarto ao lado. Então, em silêncio, usou a varinha para encontrar a jóia, guardada em uma caixinha de veludo, e aparatou de volta para seu quarto, de lá retornando à sala, a caixinha disfarçada com um feitiço desilusório, em segurança, no bolso de suas vestes.
Quando ela voltasse para casa, daria um jeito de lhe confundir a lembrança, para que ela não se lembrasse de usar a jóia outra vez.

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