Frustração
Capítulo 29 – Frustração
Harry não teve tempo de pensar. Viu Cho Chang mudar a trajetória da própria vassoura, jogando-se para o lado direito, saindo do alcance do balaço. Tudo pareceu ficar em câmera lenta. Por puro reflexo Harry puxou a vassoura para a esquerda, jogando o corpo juntamente com a vassoura. Não fora rápido o suficiente. Sentiu o pesado balaço bater com força contra o seu ombro direito, jogando-o para trás e para longe de sua vassoura. Para sua sorte, ele havia descido até o chão, para seguir a apanhadora adversária. Harry se mexeu no chão, sentiu que seu ombro estava fora do lugar, provavelmente deslocara com a pancada do balaço. Uma dor lacinante tomava conta de seu ombro e braço, chegando a encher os olhos de Harry de lágrimas. Piscou tentando enxergar e sentiu grossas e pesadas gotas de chuva caindo contra seu corpo. Seus óculos estavam embaçados e seus olhos molhados, impossibilitando que enxergasse qualquer coisa, mas ainda conseguiu ouvir Lino Jordan narrando:
-GOL DA CORVINAL... PELO JEITO O GOLEIRO DA GRIFINÓRIA, RONY WEASLEY, SE DISTRAIU COM ALGO... UHHHH... ELE DEVE TER SE DISTRAIDO COM A QUEDA DE SEU CAPITÃO E APANHADOR DA GRIFINÓRIA, HARRY POTTER. PELO QUE PARECE, HARRY FOI ATINGIDO POR UM BALAÇO.
Fiiiiiiiiiiiiiiiii. – tocou o apito.
-E MADAME HOOCH ANUNCIA UM INTERVALO PARA QUE O APANHADOR DA GRIFINÓRIA SEJA EXAMINADO. O JOGO RECOMEÇARÁ EM 5 MINUTOS.
Depois de ouvir essas palavras, Harry pôde ver a imagem difusa e embaçada de várias pessoas com vestes escarlates, ao seu redor.
-Você está bem Harry? – perguntou Gina quando o mesmo se sentou.
-Estou. – resmungou mal-humorado pela pergunta sem sentido. Tirou os óculos, enxugou as lentes, piscou algumas vezes e depois de recolocar os óculos viu Hermione e Guilherme se aproximando com Minerva.
-Você está bem Potter? – perguntou McGonagall.
-Estou ótimo.
-Não está não. – disse Guilherme para Minerva.
-Eu estou bem. Posso continuar jogando.
-Harry, acho melhor você ir para a enfermaria. – disse Hermione em voz baixa. O jeito de Hermione falar quase o convenceu, levando-o a considerar a opção.
-Não. Eu estou ótimo. Quero continuar jogando.
-Ótimo? Ótimo? Harry, você já viu o estado do seu ombro? – perguntou Hermione com a voz fina.
Harry já imaginava que a garota fosse dizer algo parecido para convencê-lo. A chuva estava ficando mais pesada a cada minuto. Virando a cabeça levemente para a direita Harry viu. Hermione estava certa, com certeza ele não estava ótimo. Seu ombro estava em um ângulo estranhamente distorcido. Estava para cima e meio para trás, mostrando visível deslocamento.
-Harry... – começou Guilherme se ajoelhando ao seu lado. – Tem dois jeitos de resolver isso. Um deles é você abandonar o jogo, ir à enfermaria e deixar a enfermeira cuidar do seu ombro...
-Não. Quero terminar esse jogo.
-Certo, o que nos leva diretamente ao outro jeito: você continua jogando, vai doer e você terá que usar uma tala no braço e ombro pelo resto do jogo.
-Ok. Faça isso, então.
-É você quem sabe Harry... – Guilherme pegou a mão direita de Harry, fazendo com que o garoto reprimisse um gemido. – Deixe-me ver. Ah... eu já te contei da vez em que fui esquiar em Aspen?
-Não. – disse Harry reprimindo outro gemido ao sentir o rapaz segurando sua mão firmemente.
-Que bom. Eu estava esquiando em uma montanha sabe, e tinha uma garota linda esquiando ao meu lado. E bem... quando eu fiquei olhando pra ela, me distrai e CLAQ...
-AHHHHHHHHHH.
-Quebrei a perna... – disse Guilherme se levantando. Sorriu. Sua tática dera certo. A idéia era bastante simples: distrair Harry com a história enquanto segurava sua mão e aí na hora que gritasse "CLAQ" puxava a mão do garoto com força, fazendo com que seu ombro deslocado voltasse ao lugar. Teoricamente, a idéia deveria dar certo, visto que o susto produzido pelo grito repentino de "CLAQ" liberaria adrenalina no sangue do rapaz, diminuindo consideravelmente a dor de ter o ombro colocado à força de volta no lugar. Depois disso, era apenas a questão de usar um feitiço para conjurar uma tala que prendesse o ombro e braço do garoto no lugar, e foi o que Minerva fez.
***
-E O JOGO RECOMEÇA. NÃO É NENHUMA SURPRESA QUE O CAPITÃO E APANHADOR DA GRIFINÓRIA AINDA ESTEJA JOGANDO. PELO QUE SABEMOS, HARRY POTTER TEM UM GRANDE HISTÓRICO DE ACIDENTES NO QUADRIBOL, MAS ISSO NÃO O IMPEDE DE VOLTAR SEMPRE AO CAMPO PARA MAIS UMA VITÓRIA... O JOGO? CERTO PROFESSORA... E A GOLES ESTÁ COM A NOVA ARTILHEIRA DA GRIFINÓRIA, SUSAN PETERSON. E QUE LINDA É ESSA GAROTA... E UM TALENTO E TANTO NO QUADRIBOL.
-EI... TIRE O OLHO QUE ELA TEM DONO! – berrou uma voz conhecida de Harry: Guilherme.
Harry sorriu fracamente observando o rapaz berrar a plenos pulmões com Lino Jordan. Segurou um gemido ao se firmar melhor na vassoura. Seus braço e ombro direitos estavam amarrados ao corpo, imobilizados. A pesada chuva não ajudava-o a se firmar na vassoura, fazendo com que frequentemente escorregasse no cabo.
-E SUSAN PETERSON MANDA A GOLES PARA GINA WEASLEY E ESTA A MANDA PARA KATIE BELL QUE A MANDA DE VOLTA PARA SUSAN. SERÁ OUTRA JOGADA ENSAIADA? O QUE ESTARÁ HAVENDO? AS ARTILHEIRAS DA GRIFINÓRIA SE DIRIGIRAM ÀS BALIZAS DA GRIFINÓRIA, APENAS PARA PEGAR VELOCIDADE... ELAS AVANÇAM VELOZMENTE EM DIREÇÃO ÀS BALIZAS DA CORVINAL... O GOLEIRO DA CORVINAL SE PREPARA PARA A DEFESA... E A GOLES SOBRA PARA A JOVEM WEASLEY... E ELA VAI LANÇAR E LANÇA: E É PONTO PARA A GRIFINÓRIA! QUARENTA A DEZ PARA A GRIFINÓRIA. SE NÃO ME ENGANO, ESSE FOI UM "ARREMESSO DE NEWTON"... A GRIFINÓRIA ESTÁ SE SUPERANDO ESSE ANO... PARECE QUE O TIME DOS LEÕES ESTÁ ESPERANDO UMA VITÓRIA E SE A SITUAÇÃO NÃO MUDAR, CONSEGUIRÁ.
E então Harry viu. O pomo voando baixo próximo às balizas da Corvinal. Firmou-se novamente com a mão esquerda na vassoura e disparou para as balizas. Ouviu o assovio da vassoura de Cho logo atrás de si. O pomo estava mais à frente... Harry estava quase lá, e então... desviou bruscamente para a esquerda: o enorme batedor da Corvinal entrara em sua frente, pronto para rebater sua cabeça como se fosse um balaço.
Perdera o pomo de vista. Irritado, Harry voltou a sobrevoar o campo à procura do pomo. Estava irritado pela manobra do Time da Corvinal. Não era o tipo de jogo que estavam acostumados a fazer. Normalmente essa manobra de jogar sujo era reservada à Sonserina. Sabia que se pudesse usar os dois braços, teria capturado o pomo antes do batedor aparecer. Embora irritado pela falta de punições aos adversários, Harry sabia que algumas jogadas no Quadribol serviam apenas para atrasar ou inutilizar o adversário de certas maneiras. Uma dessa jogadas era a que Cho usara e outro exemplo era a famosa Finta de Wronski, que Vitor Krum usara na Copa Mundial de Quadribol. Com esses pensamentos em mente, Harry sorriu triunfantemente. Iria dar o troco em Cho e no time da Corvinal. Segurou firmemente no cabo de sua Firebolt e disparou para o solo, num mergulho vertical. Sabia que se não estivesse em velocidade, escorregaria pelo cabo da vassoura, caindo de cara no chão. Manteve sua Firebolt em uma velocidade mediana, pois a idéia era que Cho o alcançasse, o que ela fez, pensando que o garoto vira o pomo. Harry e Cho disputavam a corrida vertical, Harry à frente, e então quando estavam a 5 metros do chão, Harry puxou o cabo de sua Firebolt para cima, saindo do mergulho bem a tempo de ouvir os comentários de Lino Jordan:
-E PARECE QUE OS APANHADORES VIRAM MESMO O POMO DE OURO...
-UHHHHHHHH. – gemeu a torcida.
-OU NÃO... EU NÃO ACREDITO... QUANTAS EMOÇÕES SERÁ QUE O CORAÇÃO DESSE POBRE LOCUTOR PODE AGUENTAR? HARRY POTTER ACABOU DE EXECUTAR A FINTA DE WRONSKI... É INACREDITAVEL. A CAPITÃ E APANHADORA DA CORVINAL, CHO CHANG, ACABOU DE BATER EM ALTA VELOCIDADE CONTRA O CHÃO. PELO JEITO, O APANHADOR DA GRIFINÓRIA DEVOLVEU A BOFETADA DE CHANG, QUE FEZ COM QUE SEU OMBRO SE DESLOCASSE... O QUÊ? OUTRA PAUSA, PROFESSORA? CERTO, CERTO... TEREMOS OUTRA PAUSA DE 5 MINUTOS PARA QUE POSSAM EXAMINAR CHO CHANG.
Harry pousou sorrindo, sendo seguido pelos colegas de time. Entraram em uma barraca montada para o descanso do time. Harry pegou um copo de chá quente e ficou observando a chuva cair pelo campo enquanto várias pessoas formavam uma roda em volta de Cho, para examiná-la.
-Foi uma boa jogada. – disse Gina parando ao seu lado com um copo de chá também.
-Obrigado. – disse Harry sorrindo. Por algum motivo, desde que Cho caiu no chão, ele não conseguia parar de sorrir.
-Sabe Harry... você me surpreendeu. – disse ela sorrindo também.
-Surpreendi? – perguntou surpreso.
-Sim. Você me surpreendeu com aquela atitude. Eu não esperava que você agisse dessa forma.
-De que forma? – perguntou ele sem entender.
-Bem... é que você teve um romance com a Cho. Eu não esperava que agisse com tanta maturidade e profissionalismo.
-Isso foi um elogio Gina? – perguntou Harry confuso.
-Uhum... foi sim. – disse ela rindo.
-Hum... nesse caso, obrigado Gina. – agradeceu um sorridente Harry, fazendo a ruiva sorrir e depois se afastar.
***
-E RECOMEÇA O JOGO. PARECE QUE A APANHADORA DA CORVINAL AINDA CONSEGUE FICAR SOBRE A VASSOURA, MAS SEM DÚVIDA FOI UM PROGRESSO PARA A GRIFINÓRIA. E TAMBÉM DEVEMOS COMENTAR A EXCELENTE JOGADA DE HARRY POTTER, QUE ESTÁ SE SUPERANDO A CADA ANO. O QUE? AH CLARO PROFESSORA... O JOGO CONTINUA NA MESMA... UHHHHHHH... BOA TENTATIVA WEASLEY... E É GOL DA CORVINAL. QUARENTA A VINTE PARA A GRIFINÓRIA. E A GOLES SOBRA PARA KATIE BELL QUE A MANDA PARA SUSAN PETERSON... NOSSA ESSA FOI POR POUCO PETERSON... PRESTE MAIS ATENÇÃO NOS BALAÇOS GAROTA...
Harry sobrevoava o campo seguido de perto por Cho. Seu braço esquerdo, ainda amarrado, estava dormente devido à posição e à chuva fria que molhava Harry por inteiro.
-Foi uma jogada impressionante, Harry. – disse Cho logo atrás do garoto.
-Que bom que gostou... – resmungou Harry, sarcástico, sem lhe dar atenção.
-Gostei mesmo. Fiquei preocupada que o nosso envolvimento prejudicasse o seu desempenho na partida de hoje.
-"Nosso envolvimento"? Que envolvimento? Nós não temos nada... – disse o garoto, finalmente se virando para a oriental.
-Você não se lembra do ano passado? – perguntou a garota o encarando firmemente.
-Sim... me lembro que no final do ano passado, você ficou com o Miguel Corner.
-O que voc... Como você ficou sabendo disso? – perguntou a morena, corando.
-Isso não vem ao caso. A questão é que nós não temos nada. Entendeu? N-A-D-A.
-Eu entendi. Você está ficando com alguma outra garota. É isso? – perguntou Cho, apertando ainda mais os olhos puxados.
-Não, não estou ficando com ninguém. E se estivesse, isso não seria da sua conta. E tem mais, porque você não vai arranjar alguém com quem se agarrar e me deixa em paz?
A garota abriu a boca e a fechou várias vezes, sem pronunciar uma só palavra. Ficou lá parada apenas o olhando, estática. Harry sem dar importância à garota, se virou e começou a procurar o pomo com os olhos.
-Você vai me pagar, Harry Potter. Eu vou acabar com você. Como se atreve a me dizer essas coisas e... – começou ela, fazendo o garoto revirar os olhos de impaciência.
-Como se atreve você a ficar me enchendo. Não tem mais o que fazer garota? Vai ver se eu estou na esquina... – e depois de dizer essas palavras, disparou pelo estádio, à procura do pomo. Rapidamente localizou um brilho dourado próximo ao chão e disparou velozmente atrás da bolinha alada. Por causa da discussão com Cho, perdera totalmente a concentração e não ouvira mais a locução de Lino Jordan. Voltou a se concentrar, fazendo curvas e giros atrás do pomo. Podia ouvir nitidamente Cho reclamando da baixa velocidade da própria vassoura, logo atrás de si.
-E É MAIS UM GOL DE PETERSON PARA A GRIFINÓRIA. CENTO E TRINTA A CEM PARA A GRIFINÓRIA. E PARECE QUE OS APANHADORES VIRAM O POMO... E LÁ VÃO ELES...
Harry sorriu internamente, pois seu time estava ganhando. Entretanto, se Cho pegasse o pomo, Grifinória perderia. Não admitindo tal possibilidade, Harry acelerou sua Firebolt ao máximo, transformando tudo ao seu redor em um borrão colorido. O pomo virou à esquerda nas balizas da Corvinal, dando a volta na haste da baliza central. Harry gemeu levemente, pois aquela curva beneficiava Cho. Acelerou novamente e sentiu sua Firebolt vibrar ao chegar ao máximo de sua velocidade. Cho estava à sua frente, beneficiada pela curva do pomo, e em questão de segundos ele a passara e o pomo estava logo à frente. Tirou a mão esquerda que estava segurando a vassoura e a esticou, tateando em busca do pomo. A chuva batia contra seu rosto, impossibilitando que enxergasse perfeitamente. O uniforme estava molhado e pesado e o estava puxando, o vento e a chuva o empurravam para trás, juntamente com a velocidade da vassoura. Harry tentou enxergar o melhor que pôde e viu um difuso brilho dourado, estava subindo lentamente. Ia sair de seu alcance em segundos. Decidido a acabar com o jogo naquele instante, Harry colocou os dois pés sobre o cabo da vassoura, se equilibrando, esticou a mão e saltou. Estava a uns 5 metros do chão, em grande velocidade. Sentiu que voava de verdade, sem apoio algum. Pairou no ar por um segundo, no qual sua mão se fechou sobre a bolinha fria e molhada, para depois cair, num mergulho espetacular. Aterrissou sobre o braço recém deslocado e gemeu de dor. Para sua sorte, a forte chuva provocou grandes poças que amaciaram sua queda. Se virou no chão, o corpo todo sujo de lama, molhado, cansado, com frio, mas ainda assim triunfante. Assim que se sentou pôde ouvir novamente a narração de Lino Jordan:
-ACABA A PARTIDA. E HARRY POTTER CAPTURA O POMO DE OURO. GRIFINÓRIA VENCE POR DUZENTOS E OITENTA A CENTO E VINTE. UM EXCELENTE INÍCIO PARA A GRIFINÓRIA QUE TEM GRANDES CHANCES DE FATURAR A COPA DE QUADRIBOL NOVAMENTE ESSE ANO.
Harry se levantou, ainda sentindo dor no ombro. Viu todos os companheiros voarem em sua direção e depois o abraçarem fortemente, gritando e comemorando. Havia acabado de dar a vitória ao seu time. O time que ele próprio escalara acabara de vencer seu primeiro jogo.
-Vem Harry... Vamos à Ala Hospitalar dar um jeito no seu ombro. – disse Rony o abraçando e o puxando.
-Certo. – resmungou Harry. Quando começou a andar em direção aos vestiários, viu Cho Chang pousando ali perto, parecendo zangada. Harry se aproximou e jogou algo pra ela. Como a garota tinha bons reflexos, ela levantou a mão rapidamente, pegando o objeto lançado. Abriu a mão e olhou para o pomo de ouro recém-capturado e depois para Harry, sem entender.
-Guarde... como lembrança de um jogo inesquecível. – Harry sorriu sarcástico. – Pode ter certeza que eu não vou esquecer. – e depois se dirigiu com seu time para o vestiário, sorrindo para todos e deixando a oriental espumando de raiva no campo molhado.
***
Ao mesmo tempo em que Harry se dirigiu à Ala Hospitalar com Rony, Hermione e Guilherme, Gina se dirigiu ao vestiário com os batedores e as outras artilheiras. Todos conversavam, riam e comemoravam a primeira vitória do time. Gina estava bastante sorridente, apesar do visível cansaço. Tudo o que queria era tomar um banho quente e ir para a Sala Comunal, e talvez se sentar em frente à lareira com um bom livro. Ao tirar a parte de cima do uniforme escarlate encharcado, sentiu uma fisgada aguda no pulso. Reprimiu um gemido enquanto passava a mão de leve pelo pulso vermelho. Já fazia algum tempo desde que o torcera, mas mesmo assim vez ou outra ele voltava a doer. Chegara até a ir falar com Madame Pomfrey, mas ela dissera-lhe que se voltasse a doer, ela deveria parar de jogar Quadribol até o pulso melhorar. A idéia de abandonar o Quadribol não agradava Gina nem um pouco, pois a única coisa que a fazia relaxar era o esporte bruxo e visto que andava extremamente nervosa e estressada com os inevitáveis NOMs que se aproximavam cada vez mais, abandonar o esporte, mesmo que temporariamente, estava fora de questão. Suspirou cansada, enquanto se sentava no comprido banco de madeira e tirava as botas sujas de lama. Podia ouvir as sonoras conversas das outras garotas rindo e falando alto do outro lado do vestiário, juntamente com os batedores Coote e Peakes.
Pegou uma felpuda toalha branca no seu armário e deixou cair uma camisa branca de mangas curtas que pretendia vestir ao sair do banho. Resmungou, por deixá-la cair na pequena poça de água e lama no chão, enquanto se abaixava para pegar.
-Belo jogo Weasley. – murmurou uma arrastada voz, vindo da entrada do vestiário. Pega de surpresa, Gina escorregou na água do chão e para se apoiar colocou a mão na frente. Para seu azar, colocou justamente a mão direita, que era a mão do pulso dolorido. Tendo se apoiado no pulso lesionado, a garota só piorou a situação e por reflexo, puxou a mão do chão, caindo com tudo no piso do vestiário. Xingando, se virou para ver quem era o dono da voz e não se surpreendeu ao ver que estava correta ao supor que era Malfoy.
-O que quer aqui, Malfoy? – perguntou a menina se sentando no chão.
-Parabenizá-la pelo ótimo jogo. – disse o rapaz loiro simplesmente. – Você jogou incrivelmente bem. – completou ele, esticando a mão para que ela se levantasse.
Inevitavelmente a garota se lembrou do beijo que o sonserino lhe dera no corredor da enfermaria. Ele tinha uma estranha expressão no rosto que indicava que ele estava se lembrando da mesma coisa.
-Não vai aceitar minha ajuda? – perguntou ele se referindo à própria mão que ainda estava esticada, esperando que a garota a pegasse para que ele a ajudasse a se levantar.
Gina sentiu suas próprias bochechas esquentarem, corando. Dispensou a mão do garoto com um gesto para se por de pé num salto.
-Não, obrigada. O que dizia Malfoy? – perguntou a garota, se recompondo e voltando à sua postura firme.
-Eu disse que vim lhe dar os Parabéns pelo ótimo jogo.
-Ótimo. Já deu, pode ir embora.
-Está falando sério? – perguntou surpreso. – Vai me expulsar assim?
-Você esperava o que? – perguntou ela levantando uma sobrancelha. – Que eu me jogasse nos seus braços, chorando de alegria por esse cumprimento?
O garoto a olhou sem fala, estático. Por fim murmurou:
-Algo assim... você pareceu gostar do que aconteceu no outro dia.
A garota corou novamente. Realmente ela havia adorado o beijo de Malfoy, mas não assumiria nem sob tortura.
-Pois... pois você está enganado. Eu não gostei do que aconteceu no outro dia. – disse ela, tentando parecer impassível.
-Mas não foi o que pareceu... – disse Malfoy, começando a sorrir.
-O caso... é que você me pegou de surpresa. Estava desprevenida, mas não vai acontecer novamente.
-Não vai? – perguntou o sonserino se aproximando da ruiva e encurralando-a nos armários.
-Exatamente. Não vai. - disse ela escapando por baixo do braço dele, que estava apoiado no armário.
-E por quê? – perguntou o loiro, se virando para ela.
-Como... como assim por quê? – retrucou a garota tentando pensar, sem sucesso, devido à proximidade do rapaz.
-Por que não vai acontecer de novo? Me dê um motivo. – disse ele, encurralando a moça novamente nos armários e se aproximando dela. Gina sentiu que seu ar estava acabando. Estava quase sem fôlego, pois o nariz de Malfoy já se encostara lentamente ao dela. O rapaz fechara os olhos e se aproximava mais a cada instante que se passava.
-Não... não vai acontecer de novo por que... – tentou a garota uma última vez.
-Por que...? – sussurrou ele ainda de olhos fechados, a centímetros dos lábios dela.
-Porque se você me beijar de novo, eu não me responsabilizo pelos meus atos, Malfoy! – disse a garota em voz alta. Malfoy parou onde estava e abriu os olhos. Os lábios da moça estavam a 3 cm de seus próprios lábios. Eles ficaram parados, apenas se encarando nos olhos.
-Algum problema aqui, Gina? – perguntou uma voz grossa. Gina e Malfoy se afastaram em um milésimo de segundo, extremamente corados. Ambos olharam para o dono da voz: era Peakes. Ele estava segurando seu brilhante bastão de batedor e estava acompanhado de Coote, também com seu bastão, Susan e Katie.
Os batedores grifinórios seguravam seus bastões ameaçadoramente, batendo-os de leve contra a palma da mão, num movimento intimidante.
-Hum... não. Está tudo bem, rapazes. – disse Gina, abaixando os olhos, sem jeito. Os outros integrantes do time da Grifinória pareceram em dúvida e Susan insistiu:
-Tem certeza, Gina?
-Tenho sim...
-Certo. Se precisar é só chamar... – completou Coote. – Vamos estar logo ali. – e depois os quatro companheiros se dirigiram ao outro lado do vestiário, sumindo de vista.
Gina olhou corada para Malfoy, sem saber o que dizer ou fazer. Malfoy pigarreou e murmurou algo que soou como:
-Onde estávamos...? – Gina olhou bem para a cara do loiro e sorriu brevemente antes de responder:
-Eu estava te expulsando, se lembra?
-Ah... é mesmo. Não quer continuar a me expulsar? – ele deu um sorriso tão maroto e brincalhão, que Gina se surpreendeu.
-Com todo o prazer: FORA MALFOY!
-Eu vou... mas eu voltarei Weasley. – e dizendo isso, ele saiu do vestiário.
Gina se sentou no banco de madeira e colocou a mão no peito. Ainda sentia como se seu coração quisesse sair pela boca. Não sabia por que Malfoy a fazia se sentir desse jeito. Sentia que quando ele se aproximava daquele jeito, ele era carinhoso e sincero com ela. E o beijo. Que beijo fora aquele. Gina nunca sentira tantas sensações em um beijo antes daquele com Malfoy. Sabia que ele só queria provocá-la... ou será que não?
"Será que Malfoy está gostando de mim?" pensou Gina antes de suspirar uma última vez.
Gina balançou a cabeça, tentando espantar esses pensamentos e por fim entrou no banho. Apenas quando entrara embaixo da água quente é que voltara a sentir o cansaço do jogo de Quadribol. E pensar que quando chegasse à Sala Comunal haveria uma festa de comemoração. Saiu do chuveiro pensando seriamente em ir dormir mais cedo. Apesar da vitória no Quadribol, sentia-se incrivelmente frustrada e com uma inexplicável raiva de Peakes, seu colega de time. Vestiu-se lentamente ouvindo os risos e a conversa de seus companheiros do outro lado do vestiário.
Assim que saiu do banho, não demorou muito a se vestir. Colocou uma justa calça jeans e a, agora seca, camisa branca de mangas curtas. Vestiu uma leve capa de frio, pois ainda podia ouvir uma leve chuva molhando o gramado que a levaria ao castelo. Resolveu deixar os cabelos molhados soltos sobre os ombros e deu uma olhada em si mesma no espelho do armário. Gina Weasley se surpreendeu com a imagem que era refletida no espelho. Fazia muito tempo que não parava para se analisar em frente a um espelho. Estava muito mais bonita do que se lembrava. Os olhos castanhos estavam brilhantes e ressaltavam as leves sardas de suas bochechas e faziam uma combinação perfeita seus cabelos rubros e que chegavam um pouco abaixo dos ombros. Sua pele, antes muito branca, estava ligeiramente bronzeada pelos intensivos treinos de Quadribol. Seu corpo antes magro, agora ganhava curvas, acentuadas pelo Quadribol. Pela primeira vez, notara que deixara realmente de ser uma garotinha, para se tornar uma atraente mulher. Sorrindo com esse pensamente, se dirigiu rapidamente para se despedir dos amigos para depois cruzar os gramados vazios. Surpreendeu-se ao perceber que apenas Coote e Peakes ainda estavam lá. Susan e Katie já haviam ido ao castelo há muito tempo, segundo os colegas grifinórios. Assim que saiu dos vestiários, se arrependeu por se demorar tanto no banho. Os gramados estavam escuros e não havia ninguém à vista no jardim. Uma leve e fina chuva ainda caia pelos gramados, obrigando a ruiva a se proteger com a capa. Pôde ver ao longe as luzes acesas na cabana de Hagrid e os vultos indistintos das árvores na Floresta Proibida. Se apressou a cruzar os jardins que a separavam do castelo. Não demorou muito e logo adentrava o Saguão de Entrada. Puxou a varinha e murmurou um feitiço para que ficasse seca novamente, depois da leve chuva. Subiu as escadas de mármore sem pressa, imaginando a balburdia que provavelmente havia na Sala Comunal. Notou que o castelo estava anormalmente vazio. Não encontrou ninguém pelos corredores exceto Pirraça, o poltergeist, que passou por ela, zombando. Entrou no corredor que a levaria ao sétimo andar com um suspiro. Aquele corredor lhe pouparia o trabalho de subir cinco lances de escada, mas, por outro lado, ela tinha que percorre-lo o que significava andar sozinha por um corredor bastante longo, escuro e isolado. Puxou a varinha e murmurou "Lumus" para poder enxergar o caminho. Haviam inúmeras salas não utilizadas naquele corredor e todas elas transmitiam um aspecto sombrio. Gina caminhou o mais rápido que pôde e quando se achava mais ou menos na metade do corredor, ouviu uma porta bater. Gina parou de andar imediatamente. Tivera certeza absoluta de que a porta que batera pertencia a uma sala do mesmíssimo corredor onde se encontrava, porém tivera igual certeza de que o corredor e as salas estavam vazias. Olhou para os dois lados do corredor, encontrando apenas o silêncio e a escuridão a fazer-lhe companhia. Disse com a voz mais alta e firme possível:
-Tem alguém aí? – sua voz ecoou solitariamente pelo corredor deserto. Incerta, ela recomeçou a caminhar, lentamente. A garota olhou novamente para ambos os lados do corredor, se sentindo vigiada. Por fim decidiu-se que daquele dia em diante ela percorreria os cinco lances de escada, mas não entraria novamente naquele corredor sombrio. Decidida, começou a dar passos mais firmes e rápidos, forçando-se a pensar que era apenas a sua imaginação que a estava fazendo sentir-se vigiada. Foi com certa alegria e alívio que pôde ver o fim do corredor se aproximando. Mais duas salas e poucos metros e estaria no corredor do quadro da Mulher Gorda. Mais uma sala. No momento em que passava pela última porta do corredor, Gina ouviu um estranho ruído. Parou, ligeiramente curiosa, olhando para a porta fechada. A madeira era gasta e suja e um som abafado vinha de dentro da sala. O som parecia o ruído do arrastar de cadeiras ou algo assim. Gina sentiu-se tentada a olhar. Uma fina vozinha em sua cabeça, a voz de Hermione, lhe dizia que era mais prudente ela se dirigir rapidamente à Sala Comunal; uma outra voz, que se parecia muito com as vozes de Fred e Jorge, lhe dizia para abrir a porta e dar uma espiada. A curiosidade da garota aumentava a cada instante, assim como o medo de escancarar a porta e adentrar a sala. Decidindo-se por ir direto à Sala Comunal, Gina ignorou a porta e deu mais um passo. Assim que o primeiro passo foi dado, a porta se abriu lentamente, rangendo. Gina sentiu um calafrio passar por suas costas e sua nuca se arrepiar quando olhou para a sala. Esperava ver Pirraça ou algum outro fantasma flutuando pacificamente na sala, mas seu desejo não se realizou. Ela podia ver apenas poucos metros dentro da sala, o resto estava encoberto pela escuridão. Respirando fundo, a garota se voltou para a entrada da sala e disse com a voz alta e ligeiramente tremida:
-Tem alguém aí? – novamente a voz da garota ecoou pela sala vazia, dando a impressão de se perder na escuridão.
Insegura, Gina apertou a varinha mais firmemente na mão e entrou na sala. Não conseguia ver muito mais do que um metro à sua frente. Tudo o que via eram carteiras quebradas e uma mesa grande sem duas pernas, ambas as coisas estavam espremidas em um canto da sala. Gina soltou a respiração, sentindo o alívio invadi-la. Se virou, dirigindo-se de volta para o corredor, para fora da sala. Já estava à porta quando uma mão agarrou seu pulso firmemente e a puxou, girando-a e fazendo com que ela ficasse presa à parede. Com o susto e a surpresa, a varinha da grifinória caiu no chão, iluminando ambos de baixo e deixando a situação ainda mais macabra.
Gina se sentiu presa à parede pelo corpo da pessoa. Ele estava com as mãos pousadas aos lados do corpo da garota, prendendo-a na parede. Aquela estranha posição lhe lembrou algo e num instante inspirado, Gina percebeu quem era. Estreitou os olhos murmurou firmemente:
-Você!?
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N/A:Bom aí está o novo cap... Espero q gostem... Queria agradecer à minha Beta2, Pri, por betar tão rápido esse cap, terminado ontem, a ponto de eu postá-lo hj... Alguns avisos:
1)Espero que gostem da cena do Quadribol... Com eu havia dito antes, eu nunca havia escrito um jogo... Espero que de pra entender, como eu imaginei...
2)Uma coisa q talvez alguns não saibam é que Aspen é uma cidade nos EUA onde tem várias pistas de esqui...
3)A jogada "Arremesso de Newton" é baseada na 1ª Lei de Isaac Newton: a Inércia... Essa lei diz que todo corpo parado tende a ficar parado e todo corpo em movimento tende a ficar em movimento... Essa jogada foi inventada por mim e a idéia é que o artilheiro voe do seu campo até o campo adversário em alta velocidade e qndo está à frente dos aros adversários ele simplesmente solta a Goles, que pela lei da Inércia segue até o gol sozinha...
4)Espero q todos gostem da briga entre Harry e Cho, pq eu particularmente não suporto ela...
5)Acho q jah deu pra notar q eu apoio D/G... Jah deu pra entender q tah rolando um clima entre eles neh...
6)Sobre o "Corredor escuro" ou "Corredor sombrio", espero que de pra entender... É um atalho... Quis dizer que o corredor é meio ingreme e bastante longo, o que justifica ser um atalho que poupe o trabalho de subir varios e cansativos lances de escada...
7)Eu to realmente atarefado com a escola e tenho vestibular no fim desse ano, mas não pretendo para essa fic... Vou usar todo o pouco tempo livre q tiver e assim que o proximo cap estiver pronto, e estiver betado, postarei ele aqui...
Chega neh... Essa foi a N/A mais longa q eu ja escrevi... Espero q não tenham cansado de ler... Eh isso... Assim que possivel eu volto a postar... Comentem...
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