Baile



Capítulo 30 – Baile

Gina teve certeza absoluta de quem era o vulto que a segurava. Aqueles olhos cinzentos eram inconfundíveis. Juntando toda a força que possuía, Gina colocou as mãos nos ombros fortes do rapaz e o empurrou com toda sua força, fazendo com que o rapaz recuasse alguns passos. Se abaixou velozmente e pegou sua varinha apontando para o rosto de Malfoy. O rapaz colocou a mão na frente da luz para proteger os olhos e sorriu.
-Malfoy, seu imbecil... você me assustou! – resmungou a garota com a foz mais firme que conseguiu depois do susto. Malfoy a olhou e gargalhou gostosamente.
-Desculpe Weasley, eu não consegui resistir... – e depois riu mais ainda. Gina sentiu o rosto corar. "Ás vezes ele consegue ser tão imbecil" pensou a moça.
-Argh... – bufou a garota se dirigindo para fora do corredor. – Como você consegue ser tão... tão... tão idiota, Malfoy?
-É um talento natural. – brincou ele, fazendo a ruiva sorrir de leve. – Ora vamos Gina, foi só uma brincadeira...
-De muito mau gosto, devo dizer.
-Ora vamos...
-Como sabia que eu tomaria esse caminho? – perguntou ela, erguendo a varinha para poder enxergar o rosto do sonserino.
-Eu te vi pegando este atalho uns dias atrás...
-Andou me seguindo Malfoy? – perguntou a moça ruiva, fazendo o rapaz loiro corar.
-É claro que não, eu vi sem querer e...
-E veio para cá me esperar para me assustar batendo portas, arrastando cadeiras e fazendo as portas rangerem...
-Ei... em primeiro lugar, não dá para fazer as portas rangerem, elas simplesmente rangem, se não gosta, peça ao Filch para colocar óleo nas dobradiças; em segundo lugar eu só arrastei uma cadeira e foi para esperar até você aparecer; e em terceiro lugar eu não bati porta alguma.
-Ah tá... e... você não bateu porta alguma? – perguntou ela, estreitando os olhos e olhando bem para a cara do rapaz.
-É eu não bati porta alguma. Deve ter sido o vento. – murmurou o rapaz se encostando à parede do corredor enquanto a ruiva firmava a varinha acesa na mão. Gina olhou bem para Malfoy e percebeu que ele não estava mentindo.
-Mas... Malfoy... Nesse corredor não venta. – disse ela.
-Como assim?
-Eu soube que Fred e Jorge tentaram fazer algumas coisas e eles enfeitiçaram para que não ventasse aqui. E eles me disseram que o feitiço ainda continua funcionando, pois eles se esqueceram de tirá-lo...
-Mas se não venta e não fui eu quem bateu a porta... então como...? – antes de Malfoy terminar de falar, uma porta bateu do outro lado do corredor. Apesar do breu em que o corredor estava mergulhado, uma movimentação era visível. Gina apertou os olhos tentando enxergar o fim do corredor, mas não obtivera sucesso. Um arrepio percorreu a nuca de Gina. Um mau pressentimento. O que quer que estivesse se movendo no corredor, estava se aproximando deles. Passos abafados eram ouvidos no sujo chão de pedra fria. Gina pôde ouvir um farfalhar de capa, e no mesmo instante, um impaciente Malfoy deu um passo na direção do desconhecido. Instintivamente Gina levantou o braço, batendo sua mão contra o peito de Malfoy e impedindo-o de avançar. Seus instintos gritavam para que ela fugisse dali o mais rápido possível, mas a garota os ignorou. O círculo de luz projetado pela sua varinha era amplo naquele escuro corredor, iluminando uns cinco metros corredor adentro. Finalmente o vulto encapuzado chegou ao circulo de luz. Ele parou de andar, exatamente no lugar em que a luz o alcançava, fazendo com que seus pés fossem iluminados pela tênue luz da varinha da garota. Gina sentiu como se gelo derretido a estivesse invadindo. Tudo no interior da garota gelou. A luz iluminava tenuemente a barra escura de uma calça negra, sapatos bem lustrados, a barra de uma capa de viagem, que se arrastava no chão e também iluminava, com um brilho mortal, a lâmina de uma espada. A lâmina estava sendo apontada para o chão de pedra, o que permitia que a ponta da espada fosse vista. Assim que o cérebro de Gina captou aquela imagem, a garota pegou Malfoy pelo pulso e caminhou de costas lentamente em direção ao fim do corredor, que saía atrás de uma tapeçaria no corredor da Mulher Gorda.
-Vamos sair daqui... – foi o que a garota conseguiu murmurar para Draco. Gina começou a dar lentos passos para trás, trazendo Malfoy arrastado pelo pulso. A cada passo que a garota dava, o vulto encapuzado dava um passo também, como se estivesse acompanhando-a, mas mantendo-se à margem do circulo de luz projetado pela varinha. Assim que Gina sentiu o pano macio e fino da tapeçaria às suas costas, ela se virou, empurrou a tapeçaria para o lado e se jogou velozmente para o corredor iluminado do sétimo andar. Todos os fatos seguintes aconteceram em câmera lenta: Gina e Malfoy caíram de costas no chão, olhando preocupados para dentro do corredor escuro e no mesmo segundo, a tapeçaria ficou suspensa pelo movimento repentino e o vulto encapuzado apareceu na divisa entre o escuro corredor e o corredor iluminado que levava diretamente até o quadro da Mulher Gorda. Aquela cena pareceu congelar momentaneamente. Gina e Draco caídos no chão, a tapeçaria suspensa no ar e na entrada do corredor sombrio estava a pessoa, coberta por uma pesada capa negra, segurando uma espada brilhante e de aspecto letal. No momento seguinte, a tapeçaria voltou ao lugar, cobrindo a entrada para o corredor e a imagem arrepiante do vulto espadachim.
Gina e Malfoy ficaram no chão imóveis, ofegantes, o suor frio escorrendo pelo rosto. Se entreolharam e se levantaram lentamente. Malfoy puxou a varinha e decidido, executou um movimento que fez a tapeçaria levitar, mostrando um escuro, isolado e vazio corredor.
-Mas... havia alguém... bem... ali... – murmurou Gina apontando atônita para o corredor escuro e vazio.
-Isso é muito estranho Weasley. Sugiro que saiamos daqui logo... – murmurou o rapaz, mais pálido do que normalmente.
-Certo. – disse a garota firmemente. Se virou e caminhou alguns metros ao lado de Malfoy, até que chegou a uma escada. Ambos pararam, pois o rapaz seguiria o rumo das escadas e a moça continuaria até a Torre Norte.
-Hum... Gina... Weasley... sobre o que aconteceu naquele corredor... me desculpe pelo susto...
-Não tem problema Draco. – a garota deixou escapar, sem perceber. – O problema foi aquele homem encapuzado depois...
-Ah sobre isso, pode deixar que eu vou agora mesmo falar com a McGonagall e contar sobre...
-Você vai até a McGonagall contar sobre isso? – interrompeu a menina estreitando os olhos e olhando desconfiada para o sonserino.
-Vou. – disse o rapaz convicto. E vendo a cara de desconfiança da moça, completou – Eu juro.
-Eu vou falar com ela amanhã para ter certeza de que você conversou com ela. – disse a moça o encarando ainda mantendo a cara de desconfiança.
-Você não confia em mim? – perguntou Malfoy erguendo as sobrancelhas.
-O que você acha? – perguntou a moça com tom óbvio na voz.
Assim que Gina resmungou a última frase, a expressão de Malfoy mudou ligeiramente, embora a grifinória não tenha percebido.
-Bom, mas agora eu vou indo Malfoy. Já me demorei muito. Boa noite. – continuou a garota se despedindo do rapaz.
-Ah, certo... Boa noite, Weasley. – disse o loiro desanimado, começando a descer as escadas.
Gina o observou sumir escadaria abaixo para depois se dirigir ao retrato da Mulher Gorda. Assim que entrou, se surpreendeu ao encontrar uma verdadeira baderna. Uma grande bandeira da Grifinória fora afixada à parede e havia uma grande mesa cheia de garrafas de variadas bebidas e muitas guloseimas. Só então a garota se lembrou que seu time vencera o jogo de Quadribol. Depois dos acontecimentos no corredor, o jogo lhe parecia tão distante quanto um sonho. Gina sentindo a boca seca se dirigiu rapidamente à mesa e apanhou uma garrafa de Cerveja Amanteigada, para depois se dirigir à lareira onde encontrou os amigos reunidos.
-Gina Weasley... onde é que você se meteu? Você está sumida há quase uma hora e meia...
-Uma hora e meia...? – Gina preocupada, puxou o pulso de Hermione, para olhar em seu relógio. Não percebera quanto tempo se passara desde o término do jogo. – É que eu me demorei tomando banho... e depois essa chuva me atrasou também... – inventou a garota se sentando em uma poltrona. Olhou de soslaio para Susan que a estava encarando, aparentemente não entendendo o porquê da mentira encobrindo sua conversa com Malfoy no vestiário.
-Ah sei... – resmungou Rony, dando-se por satisfeito com aquela desculpa e voltando a beber sua cerveja amanteigada.
Gina sentiu sua garganta secar com o olhar acusador que Susan lhe lançava. Para ocupar sua boca, sorveu um grande gole de cerveja da garrafa que segurava. Olhou o restante do grupo para não ter que encarar os olhos azuis penetrantes da moça morena. Susan estava sentada em um sofá e o namorado, Guilherme, estava deitado com a cabeça sobre suas pernas; Hermione estava deitada sobre o tapete em frente à lareira, escrevendo concentrada em um comprido rolo de pergaminho; Harry estava sentado ao lado de Rony, segurando uma prancheta e discutindo táticas para o próximo jogo. Todos estavam bem próximos à lareira e aparentemente tentavam ignorar a festa que os rodeava. Gina sem ter o que fazer, se deitou em frente à lareira, ao lado de Hermione, que lia atentamente o que havia escrito no pergaminho. Gina ficou em silêncio olhando para o fogo, esperando que Mione puxasse conversa, pois sabia que a amiga odiava ser interrompida quando estava lendo. Longos minutos depois de se deitar, Hermione começou a falar com ela:
-E então Gi... me conte a verdade: por que demorou? – disse Hermione virando a cabeça para olhar a ruiva. Gina olhou à volta para ver se havia alguém ouvindo e murmurou surpresa:
-Eu nem sabia que você estava ouvindo... - e riu baixinho. – Eu... hum... fiquei conversando com o...
-Com o...? – insistiu a outra.
-Hum... – enrolou a ruiva, sentindo um nó na garganta. – Com o... Malfoy. – disse a última palavra tão baixo que nenhum som saiu de sua boca.
-Quem? – insistiu Hermione, por não ter ouvido.
-Malfoy. – sussurrou Gina novamente, apertando os olhos fechados como se não quisesse ver a reação da garota, mas dessa vez Hermione fora esperta o suficiente para fazer leitura labial na garota.
-O QUE? – falou Hermione em voz muito alta, atraindo momentaneamente a atenção de todos para si. Assim que a atenção se dissipou de volta para a festa, Hermione voltou a sussurrar: - Com o Malfoy, Gina? O que você tinha pra conversar com aquele... aquele...
-Não foi nada, Mione. Ele só queria me parabenizar pela vitória no Quadribol.
-Só? – perguntou a morena desconfiada. – Só isso?
-É. Só isso... – mentiu Gina fazendo a cara mais inocente possível.
-'Tá bom. – consentiu a amiga sem muita convicção, voltando à sua carta.
-Pra quem está escrevendo? – perguntou Gina tentando, inutilmente, ler a carta na mão da amiga.
-Quem é a única pessoa pra quem eu escrevo Gina? – perguntou Hermione sarcástica.
-Krum? – arriscou Gina em voz baixa.
-Bingo! – ironizou Hermione novamente. Gina parou pensativa e teve uma idéia: perguntou a Hermione se podia usar a pena e o pergaminho extra da garota, que estavam no chão, no que a morena consentiu.
Começou a escrever uma longa carta e nem percebeu o tempo passando. Sua concentração só foi quebrada minutos depois pela voz do irmão.
-E então Gina... não vai dormir?
-Agora não... vou terminar de escrever essa carta. – murmurou a ruiva automaticamente.
-Carta? E pra quem está escrevendo? – perguntou o irmão curioso.
-Isso realmente não é da sua conta Rony... mas já que está tão interessado em saber, é para Luna.
-Para... Luna? – perguntou ele, desentendido. – E para que escrever uma carta? Por que você não fala com ela amanhã no Salão Principal?
-Falar com ela amanhã no Salão Principal, Rony? – perguntou a ruiva se virando para ele com uma cara que lembrava nitidamente ódio. – Você não escuta as coisas que eu falo, Ronald Weasley?
-O que... eu... eu...
-Luna Lovegood não estuda em Hogwarts desde novembro passado, Ronald. – murmurou Hermione que estava ao seu lado balançando a cabeça negativamente, com uma cara que dizia claramente "Não acredito nisso. Como se pode ser tão obtuso?".
-Ela não... estuda? – perguntou ele confuso, olhando de uma para outra.
-Como você consegue ser tão... tão... idiota, Rony? – perguntou a ruiva sem se dar conta de que era a segunda vez no dia em que xingava alguém da mesma coisa. Sem esperar nem mais um instante, a ruiva pegou a pena e o pergaminho e se dirigiu para seu dormitório.
-Você é a pessoa mais insensível e sem tato de que já ouvi falar, Ronald. Francamente... – e depois de dizer essas palavras, Hermione se dirigiu ao dormitório feminino batendo os pés.
-Você sabia disso...? – perguntou Rony se dirigindo à Harry.
-Hum... é... eu sabia sim. Aliás, você estava do meu lado quando fiquei sabendo...
-Estava?
-Aham... acho que você não estava prestando muita atenção.
-É... talvez tenha sido isso. Bem, vou me deitar... você vem? – perguntou o ruivo parando à frente das escadas e olhando para Harry.
-Agora não. Estou sem sono, e acho que vou terminar esse capítulo também. – disse o moreno apontando para o grosso livro, que havia acabado de começar a ler, sobre Quadribol.
-Certo. Boa noite. – despediu-se o ruivo.
-Boa noite. – respondeu Harry pegando seu livro para retornar à leitura. Antes de voltar seus olhos para as páginas do livro, passou-os pela Sala Comunal e a encontrou deserta, exceto por um casal de namorados que conversavam aos cochichos num sofá perto da lareira. O silêncio reinou no amplo ambiente, fazendo com que simples sussurros ecoassem ruidosamente pela sala vazia.
-O que você quer dizer com isso, Guilherme? – perguntou Susan, no que o namorado bufou.
-Será que é tão difícil de entender? Essas expedições são perigosas... não quero que nada aconteça a você...
-Pois então digo o mesmo... você corre tanto perigo quanto eu... talvez mais. – retrucou a moça de olhos azuis, se levantando.
-Ah... eu desisto... não há maneira de conversar com você... você é muito teimosa... – resmungou ele, se deitando no sofá. Susan sorriu de um jeito cínico e maldoso:
-Sem argumentos para me persuadir, Sr. McKinnon? – Guilherme sorriu, sentindo-se provocado pelo tom da garota.
-Na verdade ainda tenho um argumento na manga... – disse ele se levantando e se aproximando da garota.
-Tem é? E qual seria?
-Eu vou... – murmurou o rapaz se aproximando da namorada lentamente. A moça enlaçou as mãos na nuca do rapaz enquanto ele colocou suas mãos na cintura da moça. Se aproximou lentamente enquanto Susan fechava os olhos esperando o beijo, que não aconteceu. Guilherme se aproximou até ficar a milímetros de tocar os lábios de Susan, suas respirações se encontrando, para depois se soltar e se afastar da moça. Ela abriu os olhos e o fitou interrogativamente. Ele riu e terminou de falar: - ...fazer greve dos seus beijos.
-Como é? – perguntou ela colocando as mãos na cintura, irritada.
-Isso mesmo que você ouviu, Srta. Se você não desistir dessa idéia de ir nas expedições, eu farei um greve contínua e permanente de seus beijos. – disse ele confirmando com a cabeça.
-Você não faria isso... – disse ela fazendo uma cara de ameaça.
Guilherme riu novamente, o que pareceu provocar ainda mais a garota. Sentou-se no sofá e cruzou as pernas:
-Ah... eu faria sim, e farei.
-Você não teria coragem... – disse ela apertando os olhos brilhantes.
-Você duvida? – ironizou o namorado. Ela bufou e se afastou em direção às escadas, batendo os pés:
-Guilherme McKinnon... se você não morrer nessa expedição, prepare-se, pois eu mesma vou matá-lo! – e depois sumiu nas escadas.
Assim que a moça parou de falar, Harry viu Guilherme se deitar no sofá, as mãos atrás da cabeça, rindo muito do último comentário da namorada.
Harry parou seu olhar um segundo analisando o estranho casal. Apesar das brigas e discussões que sempre estavam presentes, Harry achou que eles combinavam e formavam um par perfeito.
Pensou um segundo na discussão que tiveram e pensou que ela ocorrera pelo medo de perderem a pessoa de que gostavam. O medo de que a pessoa de que gostavam morresse e nunca se tivesse a chance de dizer o que realmente se sentia. Esse medo da morte era algo que atormentava muito a Harry nos últimos tempos. Não medo de ele próprio morrer, medo de que seus amigos morressem naquela inútil e sem sentido guerra.
-Ainda acordado, Harry? – perguntou Guilherme se sentando na poltrona ao lado da poltrona do garoto. Harry piscou por um instante. Estivera perdido em seus pensamentos e nem notara o amigo ali.
-Ah é... estava meio sem sono. – disse o rapaz voltando a atenção ao livro, sem lê-lo, ainda pensando na morte.
-Ah sei... – murmurou o outro rapaz, voltando seu olhar para o fogo. A fina cicatriz que cortava sua face brilhava estranhamente perolada à luz do fogo.
Harry continuou a pensar que a morte o assombrava há muito tempo. Sofrera muitas perdas e mesmo assim, não conseguia sentir medo da morte. Sentia apenas um vazio ao pensar no que aconteceria se morresse sem ter a chance de derrotar Voldemort. O pensamento da morte em si, não o assustava, mas o pensamento de morrer e deixar Voldemort vivo, esse sim era uma idéia apavorante. Se virou para o colega e perguntou a primeira coisa em que pensou:
-Você tem medo de morrer?
Guilherme se virou para ele surpreso, com as sobrancelhas arqueadas e o analisou um segundo antes de responder:
-Sabe o que os antigos gregos diziam sobre a morte? – perguntou o rapaz no que Harry negou. – Eles diziam que: Se a morte fosse um bem, os deuses não seriam imortais.
Harry parou um segundo para absorver a frase do rapaz.
-Mas você não respondeu a minh...
-É, eu sei disso Harry. – ele fez outra pausa e depois continuou: - Sabe o que os antigos romanos, guerreiros naturais, diziam sobre a morte? Eles diziam que: Aquele que não teme a morte, é o primeiro a morrer em batalha. Por isso, sim Harry. Acho que tenho certo medo da morte. Não um medo de morrer, entenda bem. Um medo do que pode acontecer às pessoas a quem eu amo, se eu não estiver aqui. Entende?
-Entendo. – concordou o garoto de olhos verdes.
-Sabe Harry... acho que todos temem a morte a seu próprio modo. Uns temem sua própria morte; outros temem a morte das pessoas a quem amam; e outros ainda temem o que aconteceria se morressem e deixassem amigos e familiares para trás. Cada um teme a morte a seu modo, mas isso não torna as pessoas menos especiais ou nobres. Nós, humanos, tendemos a temer o que desconhecemos. – Por fim o moreno se levantou, meio pensativo. – Acredito na filosofia de um grande homem que certa vez, lutou pelo seu ideal. Ele foi assassinado Harry, mas ele deixou seus ensinamentos... – fez outra pausa - ...a frase que eu mais gosto dele é a seguinte: Se você não tem um bom motivo para morrer, não está preparado para viver. Eu acredito nessa filosofia. – e depois de dizer essas palavras, Guilherme se retirou, deixando um pensativo Harry para trás.

***

O dia seguinte era Domingo e amanheceu frio. Harry abriu os olhos e olhando para o relógio constatou que eram pouco mais de sete horas da manhã. Apesar do conforto de sua cama, o rapaz se levantou para se arrumar para o passeio a Hogsmeade.
Não demorou muito e Harry já estava agasalhado e pronto para ir. Acordou Rony e o apressou para que se aprontasse e depois desceu até a Sala Comunal e a encontrou com certo movimento. A maioria dos estudantes ficaria no castelo, talvez por causa do vento frio ou por causa do medo de serem atacados em Hogsmeade. A minoria que iria ao passeio se aglomerava pela Sala, esperando seus companheiros. Harry se sentou em uma poltrona ao lado de um pensativo Guilherme. O rapaz o cumprimentou com um aceno de cabeça, para depois voltar a escrever freneticamente em um pergaminho. Havia um outro pergaminho já lacrado sobre a mesa, mas o endereço do destinatário não estava visível. Guilherme estava mais arrumado do que normalmente, embora Harry não soubesse a ocasião. Usava uma calça jeans normal, uma camisa vermelha e um casaco marrom claro para se proteger do frio. Dispensara as muitas correntes de prata no pescoço e naquele dia usava um simples crucifixo preso a uma fina correntinha. O bracelete dourado estava escondido pela manga do casaco que lhe cobria todo o braço. Por fim o rapaz terminou de escrever no pergaminho e o lacrou para depois pegar o outro pergaminho e leva-los até uma coruja-das-torres e uma coruja negra de olhos claros que estavam pousadas na janela. Entregou o primeiro pergaminho escrito para a coruja negra que partiu imediatamente, para depois entregar o segundo pergaminho a coruja-das-torres, no que a mesma saiu voando. O rapaz voltou a se sentar ao lado de Harry:
-E então... dormiu bem Harry?
-Na medida do possível... sim. – disse o moreno se referindo à insônia que insistia a atormentá-lo na noite anterior.
-Que bom. Então você está pronto para hoje?
-Pronto para que?
-Oras... para a festa do Dia dos Namorados. – disse Guilherme em tom óbvio, apontando para o quadro de avisos. – Pelo que parece, a visita a Hogsmeade vai ser mais curta e teremos um Baile hoje à noite. – disse ele e depois acrescentou. - À fantasia.
-Baile? – disse Harry arregalando os olhos, em pânico. – Hoje?
-Pois é... Segundo Dumbledore, nesses tempos difíceis, precisamos de um pouco de diversão...
-Mas... não é meio em cima da hora? – perguntou Harry entrando em pânico. Na última vez que houvera um baile em Hogwarts ele tivera semanas para se preparar e convidar uma garota e dessa vez teria apenas um dia.
-Acho que não. Assim, de surpresa, fica mais divertido, não acha? Bem, de qualquer maneira há muitas lojas de fantasias em Hogsmeade e Minerva também tem um monte de roupas para alugar. – disse Guilherme obviamente pensando que Harry estava preocupado com as fantasias.
-Mas... não vai dar tempo de arranjar um par...
-Ah... isso... não se preocupe... muitas pessoas vão sozinhas a esse tipo de baile e arranjam companhia por lá... e por outro lado, esse baile não é obrigatório... acho que alguns alunos nem mesmo vão...
Harry murmurou algo para Guilherme e se dirigiu ao quadro de avisos e começou a ler o aviso afixado sobre o baile. Enquanto estava lendo, Rony apareceu e começou a conversar com Guilherme, e logo Hermione e Gina se juntavam a Harry no quadro de avisos.
-Um Baile à Fantasia? Parece interessante... – disse Hermione mais para si mesma do que para os outros, enquanto se dirigiam para tomar café da manhã no Salão Principal.
-É... acho que vai ser divertido. Estamos muito entretidos com essa busca por Excalibur e precisamos relaxar um pouco... – disse Gina a eles, enquanto se sentava à mesa.
Minutos depois Guilherme e Susan chegaram e se sentaram à mesa também. A garota de olhos azuis estava muito corada e segurava um perfumado buquê de rosas vermelhas.
-O que houve... onde você estavam? – perguntou Rony vendo a cara dos namorados.
-Estávamos fazendo as pazes... – disse Guilherme rindo, no que Susan corou mais ainda e deu um tapa no ombro do namorado. Harry sorriu brevemente vendo a cena. Seus pensamentos se desviaram do casal quando Dumbledore se levantou pronto a fazer um breve discurso.
-Bom Dia a todos. Espero que estejam apreciando o café da manhã. Tenho apenas alguns avisos rápidos a dar a todos, por isso peço sua atenção por alguns minutos. Provavelmente todos ou a grande maioria de vocês já estão sabendo que haverá um Baile à Fantasia hoje à noite. A todos aqueles que vão a Hogsmeade, procurem uma das muitas lojas e aluguem uma fantasia para a ocasião. A todos que pretendem permanecer no castelo durante o dia, procurem a Profª. McGonagall e escolham uma das muitas fantasias que ela disponibilizou para a festa. O Baile do Dia dos Namorados começará às 20 horas em ponto, o que significa que o passeio à Hogsmeade deverá ter se encerrado no mais tardar até às 17 horas. Para a segurança de todos os alunos, haverá Aurores do Ministério de guarda por toda Hogsmeade, por isso não se preocupem e aproveitem o passeio. Era só o que eu tinha a dizer. Bom dia a todos.
E depois se sentou, voltando à sua conversa com McGonagall.
Minutos depois, Harry caminhava rapidamente em direção à Hogsmeade, juntamente com Rony, Hermione, Gina e também Guilherme e Susan que vinham de mãos dadas.
-Para onde agora? – perguntou Harry ao chegarem à rua principal do vilarejo.
-Acho melhor o Três Vassouras, não?
-Concordo... vamos. – disse Harry em voz alta, quase tendo que gritar por causa do vento que insistia em ensurdecê-lo.
Caminharam rapidamente em direção ao pub, e o adentraram com igual velocidade para fugir do frio. Sentaram-se em uma mesa ao fundo do apinhado bar. Rony se levantou e foi pedir as bebidas, juntamente com Guilherme. Quando voltaram estavam carregando várias pequenas garrafas de cerveja amanteigada e uma garrafa grande cheia de um líquido vermelho-fogo. Rony distribuiu as cervejas e Guilherme abriu a garrafa vermelha, servindo seu conteúdo em um pequeno copo.
-Estão servidos? – perguntou ele aos outros. Hermione e Gina negaram com a cabeça enquanto bebiam suas cervejas; Susan não respondeu, apenas o encarou apreensivamente; Rony aceitou e Harry ficou na dúvida. Por fim perguntou:
-O que é isso, exatamente?
-Ah... desculpe Harry... é Uísque de Fogo. Quer? – perguntou o rapaz oferecendo um copo pequeno com a substância que fumegava.
-Guilherme... você agora quer transformá-lo num alcoólatra? – perguntou a namorada.
-Ei... que é isso... ele nunca saberá se gosta se não experimentar. Vai querer ou não Harry? – perguntou o rapaz.
-Ah... vamos lá, não é tão ruim assim. – disse Rony virando o pequeno copo e fazendo uma careta. – E esquenta para valer.
-Certo. Vou experimentar um pouco... – disse Harry pegando o copo que Guilherme lhe estendia.
-Ótimo. Um brinde então: a nós! – disse ele levantando o copo no que foi imitado pelos amigos. Harry levou o copo à boca no mesmo instante que Guilherme e viu o rapaz virando o copo de uma vez. Ele engoliu o líquido e sequer mudou a expressão do rosto, enchendo seu copo novamente. Harry respirou fundo e jogou o líquido na boca. Sentia como se o líquido fosse morno e tinha um sabor levemente adocicado e muito azedo. Um sabor difícil de descrever do ponto de vista de Harry, só o que o garoto sabia era que aquela bebida ardia muito a garganta. Tentou engolir de uma única vez e sentiu o líquido queimando e ardendo sua garganta. Não pôde reprimir uma careta e algumas leves tosses para desengasgar.
-Viu só... – disse Susan apontando Harry tossindo para Guilherme.
-O que tem? – perguntou Guilherme indiferente. – Todo mundo engasga na primeira vez que bebe Uísque de Fogo. Todo mundo. Sem exceção. – ele riu um pouco pegando a garrafa, já pela metade, e a aproximou do copo de Harry. – E então, Harry? Vai outra dose?
-Não... – disse o rapaz sentindo a garganta ainda quente. -...obrigado. Acho que vou ficar com a cerveja amanteigada.
-Você é quem sabe. E você Weasley? – perguntou à Rony.
-Pode encher... – riu o ruivo empurrando o copo na direção da garrafa.
-Era só o que faltava Rony. Você virar um bêbado. – disse Gina fazendo uma careta enquanto bebia outro gole de sua garrafa.
-Olha aqui... – começou o irmão, erguendo a voz.
-Ei... não vão começar a brigar vão? – perguntou Hermione que estava entre os dois e acabara de servir uma cerveja amanteigada para Harry.
-É claro que não. – disse Gina se levantando e pegando a própria bolsa. – Brigar com bêbados não tem graça. Eles não têm argumentos, por isso partem para a ignorância. Nos vemos depois. – e depois se dirigiu para fora do bar.
-Contente agora, Guilherme? – perguntou a namorada olhando feio para o garoto.
-Ei... como eu poderia adivinhar...?
-Para começo de conversa você nem deveria ter comprado essa bebida. Sabe que somos menores de idade.
-Mas... eu sempre...
-Você é uma coisa Guilherme. Você está acostumado a beber. Sempre bebe vodca, uísque, conhaque, etc. Mas eles não estão acostumados...
-Ei... espere aí... porque está brigando comigo? Ele bebeu por que quis... eu não o obriguei a nada.
-Ah... mas você é sempre assim. Não tem bom senso? – a morena se levantou e jogou uma moeda dourada sobre a mesa, pegou sua bolsa e foi embora.
Todos os rostos do bar se viraram para o rapaz e se surpreenderam ao vê-lo sorrir. Um sorriso triunfante e sóbrio apareceu no rosto do rapaz e todos entenderam menos ainda quando ele murmurou uma simples palavra:
-Perfeito!

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N/A: Bem... Aqui está o novo capítulo... Não tive tempo de mandar pra minha beta pq acabei de terminá-lo, por isso desculpem se houver algum erro, não queria deixar vcs esperando ainda mais tempo...
Esse cap é bem simples... Nada de grandes emoções nem nada de muito emocionante, apenas um cap. "ponte" entre uma ação e outra... Uma coisa q eu tenho q dizer é que o filósofo que foi assassinado pelo seu ideial se chamava Martin Luther King, um americano que queria dar mais liberdade aos negros e foi morto por isso...
Minha fic tbm é cultura tah...
Espero comentários...
Abraços

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