Capítulo 13



A primeira reação de Severus foi se paralisar de surpresa.

Ele havia desejado aquele beijo por meses, anos... havia até mesmo tentado - e sido rejeitado. E ele ainda era feio, estranho, e nenhuma garota costumava olhar duas vezes para ele. De forma que simplesmente não conseguia compreender como tal beijo acontecia, agora. Mas estava acontecendo, era o que importava. Contra todas as apostas.

Sua segunda reação, então, foi não perder mais um segundo que fosse e aproveitar aquela chance, porque ainda não a via se repetindo num futuro próximo. Ergueu a mão esquerda e apoiou-a contra a nuca ruiva, trazendo-a para bem perto de si. Sentiu o cheiro do shampoo que ela costumava usar, desfazendo qualquer resquício de dúvida que ele ainda pudesse ter quanto à identidade da pessoa que o beijava e quanto ao ato em si. Sentiu o nariz gelado dela junto à lateral de seu próprio nariz, e o frio se dissipando aos poucos, sendo substituído pelo calor, quando inclinou a cabeça para beijá-la melhor. Fechou os lábios com um pequeno estalo, exatamente sobre os dela. E beijou-a, de verdade e sem dúvida alguma, finalmente. Como havia sonhado, durante tantas noites e dias. Havia esperado e imaginado tanto aquele momento que, a princípio, não foi capaz de captar os detalhes do beijo real, detalhes que o diferenciavam daqueles que fazia acontecer repetidamente em sua cabeça. Porque o beijo real era infinitamente melhor do que qualquer um que pudesse ter inventado. Constatava agora, por exemplo, que passara longe de adivinhar o formato exato dos lábios dela, por mais que os tivesse examinado disfarçadamente durante tanto tempo. Eram muito mais consistentes, mas, ao mesmo tempo, suaves, do que conseguira supor, mas, ainda assim, não existiam palavras que os descrevessem com perfeição. Assim como o gosto dela, a coisa mais doce que ele já provara, e que não encontrava similar em nada mais naquele mundo. A forma com ela se movia, ao mesmo tempo atrevida e suave. Era diferente de qualquer outra garota que ele já havia beijado. E mesmo que tivessem sido apenas duas ou três, ele sabia que não haveria no mundo inteiro outra igual a Lily. Sabia que não haveria beijo como aquele, antes ou depois.

Severus nunca pensou que seu coração fosse capaz de bater àquela velocidade sem explodir, nem que fosse sentir tamanhas pontadas no estômago. E ela continuava beijando-o, repetidas vezes, como se experimentasse a sensação da boca dele contra a sua. Então, ela entreabriu os lábios. Severus sentiu o gosto doce e fresco de sua saliva, e suspirou do mais puro prazer. Imediatamente a imitou, forçou com a língua os lábios dela a se separarem, sorveu seu gosto incomparável. Sentiu o toque aveludado da língua dela junto à sua. Suspirou outra vez. Forçou-a a chegar mais perto, pressionando ainda mais a mão em sua nuca e trazendo a outra junto ao rosto. Passou a beijá-la com tanto desepero que era como se tentasse transmitir todo o amor e o desejo que vinha guardando dentro de si durante anos. Colou os lábios sobre os dela de forma que nada, nem um único instante daquele beijo, pudesse escapar dele. Ouvia as respirações muito aceleradas de ambos, seus gemidos baixos e, então, a voz dela, abafada, porque ele ainda a beijava vorazmente.

"Sev", ela chamou, tentando se desvencilhar dos braços e da boca dele.

"Hm?", ele perguntou, ainda extasiado, abrindo os olhos lentamente, e deixou-a ir por fim.

Lily ofegava, buscando ar, mas sorria, inclusive com os olhos, que não se desviavam dele por um segundo que fosse.

"Uau", ela disse, passando a língua pelos lábios. "Foi um beijo e tanto."

Foi impossível para ele evitar um pequeno sorriso, e um franzir de sobrancelhas, incrédulo. Ela havia gostado. Olhava para ele com indubitável satisfação, com os olhos levemente arregalados e a respiração ainda ofegante. A sensação de irrealidade assaltou-o outra vez, e ele estreitou os olhos. Então, "não entendo", Severus sacudiu a cabeça, tornando-se subitamente sombrio.

Foi a vez do rosto dela assumir uma expressão de incredulidade, ainda que levemente divertida.

"Não entende?", ela perguntou, arqueando uma sobrancelha. "O que há pra se entender num beijo?"

Ele a fitou, calado, intensamente, por alguns segundos, antes de responder que havia muita coisa. Agora que finalmente havia acontecido, ele não podia deixar de se fazer várias perguntas, o que a havia levado àquilo, se o que o tornava tão pouco atraente aos olhos do sexo oposto ainda permanecia; o que ela havia querido dizer o beijando... estaria... apaixonada? O amava? Ou era simplesmente uma recompensa? Mas, principalmente, o que aconteceria depois? Porque ele não queria, nunca quisera, apenas um mísero beijo. Mas Severus não queria parecer fraco e tolo fazendo todas aquelas perguntas, então se calou.

"Você nunca me deixou dizer", ela disse, agora séria, aproximando-se dele e afastando o cabelo negro de seu rosto, "que recusei aquele beijo porque sentia... repugnância, Sev, por você ter se tornado tão sombrio, tão estranho e distante do Severus que sempre conheci. Era simplesmente impossível sentir ou pensar em qualquer outra coisa. Eu até podia tentar, mas as Artes das Trevas estavam sempre lá, me impedindo de ver além, como uma muralha negra e intransponível."

O expressão pessimista deu lugar a uma neutra, nos traços dele. Ela respirou fundo, e continuou:

"Mas você mudou, e se tornou simplesmente mais adorável do que já foi em qualquer outra época", ela confessou, fitando-o com intensidade. "Tão mais adulto do que qualquer outro garoto nessa escola. E voltou a ser apenas alguém cujos mistérios me fascinam, e que tem um ponto de vista sobre tudo que simplesmente me desafia", ela disse, num tom que denunciava empolgação cada vez maior, assim como as pupilas que pareciam crescer a ponto de quase engolirem as íris verdes. Ele a fitava de volta, ainda parecendo neutro e indiferente, mas pontas de orgulho e incredulidade e desconfiança começavam a surgir. "Apenas isso. Apenas!", ela exclamou, em tom de quem se corrige, sacudindo a cabeça. "Isso é simplesmente raro e eu... estou tão, tão feliz, Sev!", ela exclamou, abraçando-o e recostando a cabeça em seu peito.

Ele ergueu novamente as mãos e pousou-as sobre as costas e os cabelos dela. Um pouco mais aliviado, era fato, mas ainda havia várias questões sem resposta.


*


"Eu não acredito!", a boca de Marlene se abriu comicamente alguns bons centímetros, e permaneceu nessa posição por um tempo tão maior do que seria normal que Lily riu. "Não é o Potter, é?", ela perguntou, atônita, enquanto tentava colocar de volta no cabide o vestido que ameaçava despencar no chão.

Lily riu ainda mais, mas, agora, uma risada de pura ironia. Depois ficou muito séria.

"Claro que não. Ainda prefiro sair com um trasgo do que com o Potter."

"Por que não conta logo de uma vez?", Alice perguntou, ajoelhada sobre a cama e abraçando uma almofada.

"Porque é uma supresa, eu já disse. Vocês vão ter de esperar o baile pra saber. E mesmo que eu contasse, vocês não acreditariam."

As duas amigas suspiraram de impaciência, e até tentaram arrancar de Lily a identidade do acompanhante misterioso, mas acabaram por desistir. Sabiam como ela era irredutível quando determinada ao que quer que fosse.

"Ele é bonito?", Alice perguntou.

"Não."

"Ai, um cara feio, Lily?", a outra disse, com um muxoxo, espalhando dois ou três vestidos sobre sua cama.

"Não disse que ele é feio", ela replicou, e acrescentou "Na verdade, ele não é o que você ou a maioria das pessoas achariam bonito... o que não quer dizer que alguém não possa achar."

De fato. Vinha pensando naquilo com alguma freqüência nas últimas semanas, desde que a mudança palpável em Severus, fazendo-a voltar a se interessar pelas características dele mais do que apenas lutar para manter a amizade que tinham, e ainda, o fato dele amá-la, desde que todas aquelas peças se encaixaram, levando a apenas uma conclusão, tão lógica, e fazendo-a olhar para ele de uma maneira como jamais havia olhado. Ele não possuía a beleza óbvia de um campeão de concursos de beleza, e haviam sido tão próximos durante tantos anos que ela jamais havia parado para pensar na aparência dele. Quando resolveu fazê-lo, foi com surpresa que descobriu não ser difícil sentir-se atraída, afinal. Primeiro, aqueles olhos intensos, penetrantes, que não podiam ser de outra cor que não negro. Assim como o cabelo dele que, ela se recordava bem, só precisava de algum cuidado para revelar-se bonito. A pele pálida em contraste, e quanto ao nariz dele... ela sempre o havia considerado cheio de personalidade. Havia ainda aquela expressão quase sempre séria, e carregando algo mais que ela não sabia definir muito bem, mas que era algo que só ele possuía. De qualquer forma, ultimamente, bastava pensar nele, no novo-velho Severus, na beleza que descobrira nele, para sentir bem claros todos os indícios de que estava apaixonada.

"Ele tem charme", Lily disse, por fim, abrindo as portas de seu guarda-roupa e dando uma olhada no que havia ali.

"Ele é legal, pelo menos?"

Lily segurou o riso quando respondeu que era, porque sabia que nenhuma delas considerava Severus qualquer coisa sequer próxima de legal. Para elas, ele era sempre esquisito, repulsivo, difícil, e havia ainda aquelas tiradas ácidas e impacientes que ele soltava de vez em quando, que não colaboravam em nada para torná-lo alguém mais agradável. 'Não entendo o que você vê nele' era uma das frases que mais ouvia sobre ela e ele. Severus até podia não ser uma pessoa fácil, mas ela apreciava sua companhia e aquilo era suficiente para considerá-lo 'legal'. Acrescentou:

"E faz mais o tipo quieto e inteligente. E é... sério. Adulto. Tão real. Ele simplesmente não se parece com ninguém mais que eu conheça", completou, sonhadora, arrancando das amigas mais uma enxurrada de pedidos insistentes.

Mas, como Lily havia prometido, foi apenas uma semana depois, no Hall de entrada do castelo, que ela revelou quem era seu acompanhante: um Severus Snape anormalmente arrumado, com as vestes parecendo novas, e os cabelos limpos e brilhantes. Um Severus que parecia sério e tenso como sempre, andando de um lado para o outro e abrindo e fechando os punhos enquanto aguardava, mal reparando nas piadas e comentários depreciativos que todos a seu redor faziam sobre ele. Severus, cuja expressão se iluminou visivelmente quando ela caminhou na direção dele, com um vestido verde vaporoso e uma capa em um tom mais escuro, os cabelos repartidos ao meio, a testa cingida por uma tiara, usando o mínimo possível de maquiagem, apenas para realçar seus pontos fortes.

A expressão dela também pareceu se iluminar, e o abraço que ela deu nele, assim como o beijo que depositou em seu rosto, pareceram simplesmente longos demais em comparação com qualquer outro que já tivesse sido presenciado.



*


Poucos passos, Salão adentro, foram suficientes para atrair diversos olhares para o casal. Se Severus não estivesse tão mergulhado em pensamentos e olhasse em volta, teria sentido uma pequena satisfação com aquele acontecimento.

"... e como eu sei que dança não é o seu forte", Lily tagarelava enquanto alcançava dois copos com cerveja amanteigada da bandeja de um dos garçons contratados para o evento, "vamos combinar: metade do tempo a gente passa fazendo o que você quiser, e a outra metade...", e então, se interrompeu. Ele não parecia estar prestando a menor atenção ao que ela dizia.

"Sev", ela disse, interrompendo os passos.

"O quê?", ele perguntou, virando a cabeça rapidamente, como se só agora notasse que ela o havia acompanhado para dentro do Salão Principal.

"O que foi?"

"Nada, ora", ele deu de ombros.

Ela sacudiu a cabeça.

"Posso não conseguir imaginar o que se passa dentro da sua cabeça, mas sei quando esconde algo de mim."

Ele hesitou, e acabou dizendo:

"Não é nada. Mesmo."

"Hm", ela disse, com um muxoxo e uma expressão de quem não havia acreditado por completo na resposta.

O salão se enchia rapidamente, agora, e Lily não parava de acenar pra conhecidos, meio distraída, no entanto, porque a maior parte de sua atenção estava voltada para ele.

"Não está se sentindo legal, é isso?", ela perguntou, aparentando preocupação e uma ponta de culpa. ""Forcei a barra, insistindo pra você vir?"

Ele sacudiu a cabeça, "não, nada disso."

Ela tomou um longo gole de sua cerveja enquanto o observava.

"Você... prefere ir embora?", ela perguntou, por fim.

Ele a fitou por um instante, pensativo, e durante esse instante sua expressão passou de preocupada para levemente alarmada.

"Você... quer ir? Se arrependeu?", ele perguntou, antes que pudesse evitar.

Ela deixou escapar um pequeno muxoxo de impaciência.

"Não me arrependi. Fui eu quem ficou insistindo quase uma hora inteira pra você vir. Só quero entender o que te preocupa."

"Não é nada, Lily", ele suspirou, exasperado. "Eu já falei..."

"... então vamos mudar de assunto", ela decidiu, colocando-se bem na frente dele e, levando as mãos ao rosto magro, apoiou uma mão sobre cada lado da face, acariciando as têmporas, a linha dos cabelos, com as pontas dos dedos. Ele suspirou, e pareceu relaxar um pouco. Uma música lenta havia começado.

"Dança comigo", ela pediu, com a voz baixa e rouca. Suas mãos escorregaram pescoço abaixo até se acomodarem uma sobre cada ombro dele, coberto pelo tecido grosso, que havia sido refinado e rico algum dia, muitos anos atrás, e cuja aparência, agora, realmente fazia jus a seu passado. As pupilas dela cresciam outra vez, e ele se proibiu de pensar em qualquer outra coisa que não fosse ela, e ele, a forma como os olhos verdes o fitavam sem piscar, a forma como seus corpos apenas ameaçavam se tocar, a maneira como a respiração dela escapava por entre os lábios entreabertos e caía em cheio sobre seu pescoço. Mas, diabos. Ele não sabia dançar. O que é que estava fazendo mesmo ali? Antes sequer que seus punhos se fechassem de raiva e frustração ela deu um pequeno passo para o lado, fazendo pressão com as mãos, para que ele a acompanhasse. Ele obedeceu, instintivamente.

"Me abraça", ela pediu, recostando a cabeça sobre o ombro direito dele - a mão que antes estivera ali havia deslizado até a omoplata dele.

Severus sentia-se tenso e estranho, sendo observado ali, dançando. Mas não era com qualquer uma, era Lily. Lily, linda, inteligente, popular. Mas, acima de qualquer coisa, aquela que o fazia viver, que o alimentava com a própria chama, que era essencial, enfim. Ele a obedeceu outra vez, e apoiou as mãos em suas costas, uma mais acima, a outra, quase em sua cintura. Ela deu mais um pequeno passo, agora, para o outro lado, e ele não teve escolha se não a seguir. Ela continuou naquilo por um ou dois minutos, a cabeça deitada no ombro dele, as mãos acariciando suavemente as omoplatas, dando pequenos passos ao ritmo da música. Aquilo não era muito difícil, ele pensou, sentindo-se menos tenso, tentado não pensar em todas as pessoas em volta, porque aquele era simplesmente o melhor momento de sua vida até então, e nem mesmo ele queria estragá-lo. Um novo melhor momento não demorou a acontecer, quando ela ergueu a cabeça e tornou a fitá-lo de forma insistente e, agora, apenas poucos centímetros os separavam. Os pés dele não demoraram a se tornar pesados e recusar a acompanhar as leves pisadas dela, talvez porque ele tivesse sido hipnotizado. E Lily não pareceu achar ruim a súbita imobilização dele, porque ela também parecia haver se perdido nos olhos dele. Uma pequena parte dele ainda foi capaz de se perguntar se aquilo estava mesmo acontecendo, ela olhando para ele daquela forma, na frente de toda a escola... a ponto de beijá-lo, era o que diziam os pés dela, espichados, mesmo de salto, era o que dizia a pressão cada vez maior das mãos sobre o corpo dele, era o que gritava a distância cada vez menor entre seus rostos, e os lábios dela.

Mas sua vida parecia uma interminável e desagradável seqüência de cenas repetidas: havia sempre alguém ou alguma coisa interrompendo algum momento promissor. Naquela noite, foi a banda, não só encerrando de repente a música lenta como começando uma em ritmo completamente oposto no segundo seguinte.

Ambos se afastaram um do outro, ao mesmo tempo, como se houvessem combinado. Ainda foi possível notar olhares que variavam de surpresa a desagrado ao redor, antes que todos começassem a pular e atirar braços e pernas para todos os lados. Lily suspirou, aborrecida, e ele a puxou pela mão, para longe dali, cada vez mais longe, das pessoas, do movimento, até chgarem ao local do Salão onde costumava ficar a mesa dos professores - naquela noite, ela não estava ali, de forma que não foi difícil enxergar uma pequena porta, que levava a um corredor escuro.

"Uau, você realmente quer um lugar reservado", ela comentou. Ele olhou para trás, deu-lhe um pequeno sorriso, que pareceu travesso visto apenas parcialmente, à luz quente mas insuficiente da lareira, e então parou.

Do sorriso restava apenas um vestígio, e aquele franzir de testa do começo da noite havia retornado.

"Muito bem, Sr. Severus Snape. Qual é o seu problema?"

Ele suspirou.

Ela suspirou de volta.

"Estou começando a achar que a minha companhia deve ser muito chata."

"Lily", ele disse, em tom de repreensão.

Ela o examinou por alguns instantes outra vez, pediu que esperasse ali, saiu pela porta e retornou, com dois copos cheios de um líquido vermelho-escuro. Sentou-se em um sofá meio oculto nas sombras, e chamou-o para sentar-se a seu lado, o que ele fez sem demora. Ele bebeu um gole de seu vinho, com os olhos fixos nela. Lily não fazia mais do que apenas imitá-lo; e não demorou a deixar o copo sobre o primeiro móvel que encontrou e beijá-lo na boca. Ele suspirou de prazer, passou um braço em torno dos ombros dela, fazendo-a ficar o mais próximo possível perto dele, mas... ao mesmo tempo em que desejava tão ardentemente aquele contato, ele também não o queria. Diabos, estava tão dividido... e ainda apesar de temer ouvir os motivos que a levavam a estar ali, com ele, em seus braços, Severus descobriu que alguma coisa, provavelmente o vinho, fazia as questões serem feitas em voz alta com mais facilidade:

"Por que tudo isso, Lily?"

Ela ergueu os olhos para ele, confusa.

"Por que... está saindo comigo?"

"Por que você mudou, ora", ela começou, num leve tom de impaciência porque achava que aquilo fosse óbvio, mas, depois, o tom de voz se tornou doce e compreensivo. "As coisas entre a gente também não são as mesmas... e porque... fiquei a fim", ela concluiu, beijando-o de leve.

Ele suspirou, parecendo contrariado por algum motivo que ela não conseguiu entender.

"E o que... vai acontecer?"

Ela fraziu a testa.

"Acontecer? Eu não sei, Sev. Realmente não sei", ela suspirou, buscou a mão dele e apertou-a. "Não posso mentir pra você. Ainda é cedo pra saber no que isso vai dar... você não concorda?"

A forma como ele desviou o rosto para a parede em frente, evitando olhar para ela, lhe disse que ele não pensava exatamente daquela maneira. Ele não sabia se seria capaz de suportar uma tentativa que resultara em erro.

"Então, se for pra não dar certo... talvez... seja melhor..."

"Quem disse que não vai dar certo?", ela o interrompeu.

Ele suspirou.

"Sev... eu jamais te beijaria se não estivesse mesmo disposta a tentar... não sabendo o que você sente... logo você, Sev! Eu jamais ia simplesmente... te usar pra passar o tempo. Que coisa mais horrível de se fazer", ela dissse, sacudindo a cabeça. Ele comprimiu os lábios, ela segurou seu queixo e o fez olhar para ela. "Eu quero tentar, Sev. Porque você é simplesmente o único que me interessa, hoje. Amanhã. E na próxima semana, também. Muito provalmente, no próximo mês... porque sei que ainda há muito o que ser descoberto aí dentro", ela ergueu uma sobrancelha e inclinou a cabeça na direção dele.

Ele cerrou os punhos por um instante, deu um pequeno arquejar, de alívio ou talvez, até mesmo de dor, porque a forma como a expressão tensa e pessimista se desfez foi tão rápida, tão intensa... ele relaxou, embora ainda permanecesse bastante sério. E resoluto.

"Apenas... não me deixa. Nunca. Dando certo ou não."

Ela sacudiu a cabeça.

"Não vou deixar você, Sev. Nem penso nisso. As coisas estão só começando."

Ele a fitou com aquela intensidade que a fazia corar, até que ela não aguentasse mais e pedisse:

"Vai em frente, Sev", e ele foi, inclinando-se na direção dela e a beijando. Beijo que foi interrompido não muito depois, quando ele afastou a cabeça alguns centímetros e tornou a fitá-la, a analisá-la, como se quisesse ter certeza de que era ela mesma ali, e certeza do que ela havia acabado de dizer. Como se estivesse lendo os pensamentos dele, ela repetiu baixinho, antes de beijá-lo outra vez:

"As coisas estão só começando."


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agora eu deixo vocês dizerem "aaaw, que fofo!" :) ah, ok. tenho que confessar: adoro o livro e o filme "carrie, a estranha", e meus planos originais pro fim desse baile seriam algo mais... trágico >:D mas, awwn, o sev merece algumas coisas boas, de vez em sempre <3 (agora, quanto aos clichês-de-baile, já nao tenho a mesma opinão... :P)

e to tããão feliz com essa versão da fic, finalmente! tá tão canon, ainda que seja uma realidade alternativa \o/

agradecimentos a xará (ah, meo, ce sbe como o sev é... todo contraditório. o fato dele ter dito já é uma vitória ;D), beca (esse ficou ainda mais fofo XD), bizinha, morgana (bom, o sev ainda é cabeçudo e inseguro, vamos ter que esperar mais um tempinho pra descobrir se ele e a lily se entendem ou não ;D), chrono (livrou. mas só por causa da pressão =P); e aos leitores-mudinhos :)

ah, aviso: continuando minha tradição de trocar meu nome a cada um ou dois anos, não vou mais assinar como devilicious, por que essa história de *licious já deu... banalizou tanto que meodeos (e não, meu nome não surgiu por causa da fergie, a propósito). muito provavalmente vou mudar pra "sexy sadie"... eu diria... 90 porcento de chances.

e vam'lá, povo, comentando, comentando...

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