Capítulo 14






Ficava louco quando se lembrava. Furioso. E doía, como nunca nada jamais havia doído em sua vida. Era o que mais o desesperava, a ponto de querer chorar de pura angústia. E daquela sensação horrível de estar perdido. Frustrado. Não conhecera o significado real de frustração até aquele instante, e preferia jamais ter conhecido. Era Lily, raios! Lily. E Ranhoso. Dançando juntos no baile. Trocando olhares apaixonados. Beijando-se em um canto escuro, onde pensavam estar a salvo de olhares indiscretos. Mas eles não contavam com a raiva e o ciúme que James sentiu quando os viu entrando juntos no Salão e não se desgrudando um instante que fosse. Não contavam que estivessem sendo seguidos, espionados, e que houvessem corrido um alto risco de serem 'desmascarados'.

A vontade de chorar se convertia em raiva, muita raiva, e desejo de vingança.

Vingança.

A palavra possuía um gosto tão doce que ele duvidava ser possível encontrar em qualquer outro lugar. Com exceção, talvez dos lábios dela. Sentiu outro ímpeto de se erguer dali e acabar com alguém. Com aquele infeliz que não deveria jamais ter nascido daquele Snape, para ser mais exato. Sev, como ela o chamava, ele pensou com amargor. Sev. Ranhoso! Beijando... Lily. A simples formulação da sentença em sua mente o deixava trêmulo de ódio outra vez. Não teria compaixão com aquela aberração. Nenhuma. Ele precisava aprender de uma vez por todas a tirar aquele enorme nariz em negócios que não lhe diziam respeito. Fora preciso muita insistência por parte de Remus e até mesmo de Sirius, mais tarde, para que ele não saísse simplesmente correndo no meio do baile e quebrasse aquele nariz abissalmente grande com as próprias mãos, à maneira trouxa, sim, apenas para sentir com mais intensidade a humilhação e o fim de Ranhoso.

Mas ele ia dar um jeito de se vingar, ora, se ia. E não ia demorar muito, porque ele não fazia o tipo que esperava calmamente que alguma coisa acontecer. Preferia ele mesmo fazer a própria oportunidade. Chutou a canela de Sirius, sentado a seu lado na cama, e seus olhares se cruzaram, e um terceiro olhar, o de Remus, um olhar reprovador e sério, se intrometeu - assim como o quarto par de olhos, azuis, lacrimosos e ansiosos pela aventura que viria a seguir.

"Pontas", Remus começou, depois de suspirar. "Será que não está claro o suficiente?"

"Que Ranhoso finalmente resolveu usar seus dons e enfeitiçar Lily com uma Poção do Amor, está claríssimo."

"Ela não me parecia nada enfeitiçada, ontem. Não dessa forma. E eu... eu saberia a hora de desistir, no seu lugar."

James, igualmente sério, avaliou o amigo. 'No seu lugar', Aluado desistiria. Mas ele não era Aluado, sensível e passivo, ah, não. Não conseguia sequer sentir raiva da insinuação dele. Bolas, James se pegou sorrindo, mas logo tornou-se sombrio outra vez. Seria impossível sentir-se de outra forma, enquanto aquele pesadelo continuasse.

"Não existe essa possibilidade, Aluado. Achei que isso, também, já estivesse bem claro."

Remus suspirou outra vez, e ergueu as duas mãos, como quem se entregava.

"Faça como quiser. Vocês só devem se lembrar da última..."

"Expulsão, blablablá", Sirius o interrompeu, com ar de tédio. "Isso aconteceu há meses, Aluado. Meses! Dumbledore nem deve mais se lembrar, não com uma guerra pronta pra explodir aí fora", ele argumentou.

"É! E duvido que ele vá preferir seus preciosos alunos, ou seja, nós, perdidos e desprotegidos, à mercê dos amiguinhos do Ranhoso...", James acrescentou.

"Desprotegidos", Remus repetiu, com ar de riso. Mas seu semblante se tornou pesado em seguida. "Simplesmente não posso compactuar com isso. Não posso fingir que não estou aqui, vendo e ouvindo vocês três planejando se vingar de Snape... sendo que ele... bem, ele mudou."

James e Sirius, principalmente, ameaçaram revirar os olhos e emitir ruídos de impaciência.

"Mudou. Vocês mesmos testemunharam..."

"Ele pode muito bem ter mentido pra impressionar a Lily", Peter sugeriu.

"Já discutimos isso", Remus replicou. "Ele... pareceu mesmo... sincero", completou, com ar agradecido e comovido.

"Aluado", Sirius se aproximou, "Ranhoso é esperto. Infelizmente, ele é."

"... e é claro que, se ele fosse mentir, o faria de uma maneira convincente."

"Não sei, não", o outro discordou, olhando para o relógio, apoiando ambas as mãos sobre o colchão e colocando-se de pé. "Hora da ronda de monitor."

"Ataque o Ranhoso por nós, se você o vir por aí."

Peter riu, Remus sorriu mas negou com um movimento de cabeça.

"Comportem-se... embora eu saiba que seja pedir demais", suspirou, conformado. "Apenas entendam... não quero perder meus amigos e... acho que seria injusto. Snape não é mais o mesmo."

"Você não vai nos perder, Aluado", Sirius deu uma piscadela. "Confie em mim."

Remus apenas sorriu, de maneira incrédula, e saiu pela porta do dormitório.

"Tem horas em que eu simplesmente amo o fato do Aluado ser monitor, vocês não?", James cochichou, inclinando-se para a frente, no que foi imediatamente seguido pelos outros dois.


*


Ele não sabia quanto tempo, exatamente, tudo aquilo iria durar. Sabia apenas que um dia sua sorte mudaria, como sempre, e aquilo chegaria ao fim. Claro que não gostava de pensar no que aconteceria quando tudo terminasse; tinha uma ligeira impressão de que tê-la e perdê-la era infinitas vezes pior do que se frustrar por jamais ter havido uma chance. E agora, que sabia o que aconteceria se cedesse a seu lado negro, a primeira hipótese parecia pior do que nunca. De qualquer forma, era impossível se acostumar, se acomodar, até mesmo acreditar que estava acontecendo: os olhos dela o fitando lá do outro lado do Salão - e não apenas naquela noite, mas em todas as noites e todos os dias, no Salão Principal, durante as aulas, ou em qualquer outro encontro ocasional pelo castelo, durante as últimas semanas.

E ao mesmo tempo em que seu lado racional o alertava para não acreditar por completo que aquilo duraria para sempre, havia um outro lado seu que, ao contrário de como sempre havia sido, queria ignorar a lógica, a razão, quaisquer pensamentos que fossem, e simplesmente mergulhar nos olhos dela, em seus beijos, no que Lily dizia sentir por ele. Porque ia totalmente de encontro a um lado que ele tentava trazer à tona, ou criar dentro de si mesmo, porque nunca soubera possuir um lado bom e iluminado. E naquela noite, naquele exato instante, era aquele lado que o dominava. Severus retribuía os olhares com a mesma intensidade, e apesar dos vários metros que os separavam, sabia que ela conseguia notar claramente tal intensidade. Parecia alheia às tentativas das amigas de lhe chamarem a atenção, e continuava fitando Severus, até que ele começasse a sorrir, por trás da colher de sopa que levava aos lábios sem ao menos ter vontade. Lily o estava provocando, ele sabia, ao sorrir daquela forma; podia até mesmo ouvir a voz dela lhe perguntando porque estava tão sério e preocupado, podia sentir seus dedos o cutucando e, depois, deslizando por sua pele, fazendo-o se arrepiar. Deus. Mal podia esperar que o jantar chegasse ao fim. Severus, então, iria até a biblioteca ou ficaria andando a esmo pelo castelo até que dessem as nove horas e ele, ao contrário de todos os outros alunos, continuaria a vagar pelo castelo até que a monitora da Grifinória o encontrasse e o "obrigasse" a voltar para a Sonserina, fazendo questão de acompanhá-lo até as masmorras. Fazendo questão de retardarem os passos o máximo que pudessem, de absorverem o máximo possível um do outro antes da despedida, de...

O fio dos pensamentos se partiu de repente, quando Severus foi arremessado de seu assento, direto para o chão. O prato de sopa acompanhou o vôo desajeitado e aterrisou exatamente em seu colo, espalhando o conteúdo por toda sua roupa e pele. As risadas explodiram na mesa da Sonserina e não demoraram a tomar conta de quase todo o Salão. Severus deu-se conta, tarde demais, de que provavelmente não havia sido apenas ela quem notou a intensidade de seu olhar. O autor da brincadeira, Wilkes, girava de forma displicente a varinha entre os dedos da mão direita, enquanto sorria da mais pura zombaria, fitando Snape bem nos olhos. Severus sentiu a velha raiva ameaçando despertar e tomar conta de si, fazê-lo revidar. Chegou a cerrar os punhos enquanto imaginava a panela de sopa inteira sendo despejada sobre os cabelos cuidadosamente aparados de Wilkes, mas então, o que havia sentido ao compartilhar a mente de seu eu mais velho atingiu-o com tudo, controlando, mais que isso,
pulverizando a vontade de se vingar. Não podia, simplesmente não podia, deixar seu lado negro dominá-lo novamente, nunca, jamais... respirou fundo, tentando se controlar, mas a visão de Lily, correndo em seu encontro, séria e furiosa, o abalou.

Por que ela continuaria com ele enquanto era feito de saco de pancadas daquela forma? Que garota poderia querer alguém tão estúpido? Sentiu-se a ponto de se rasgar em dois, de um lado, o orgulho, de outro, o medo de perdê-la. Ergueu-se de forma rápida e desajeitada, hesitou quando ela o tocou, quis fugir por um instante, mas então recordou-se: ele não poderia refutá-la jamais. Ofegou da mais pura angústia, ensopado com os restos da refeição, ao lado dela, tendo como música de fundo as risadas da maioria esmagadora dos alunos. Era humilhação demais para ele.

"Estou bem", murmurou por entre os dentes cerrados, evitando olhar nos olhos dela e tentando não ser rude demais ao escapar da mão que apertava com firmeza seu pulso.

Ouviu-a bufar atrás de si enquanto caminhava apressado para fora do Salão, com certeza irritada com os Sonserinos; mas Lily preferiu segui-lo a brigar com seus colegas.

"Sev", ela chamou, quando já se encontravam nos corredores desertos.

Ele suspirou, da mais pura dor, porque sabia que não seria capaz de repeli-la, por mais humilhado que se sentisse, por mais que sua única vontade vontade no momento fosse se isolar em algum lugar abandonado e escuro. Severus interrompeu os passos e esperou por ela, ainda de costas, no entanto. O que não foi de grande utilidade, porque ela simplesmente deu uma volta em torno dele até estarem frente a frente. Sem nada dizer Lily sacou a varinha e secou as roupas ensopadas com um feitiço não-verbal, e logo elas estavam mais limpas do que antes do incidente. Nada, porém, parecia ser capaz de recuperar a paz de espírito dele; nem mesmo o longo abraço que ela lhe deu, ou o beijo suave que depositou em sua face. Sentia-se tão angustiado, dividido, humilhado, que nem mesmo aquele contato lhe dava satisfação.

"Sev. Você precisa fazer alguma coisa."

Ele deixou escapar um pequeno gemido. Fazer o quê? Deixar o desejo de vingança tomar conta dele, e arrastá-lo de volta àquele círculo vicioso de ódio, escuridão e Artes das Trevas? Sabia que aquilo tudo ainda existia dentro de si, sentia-os palpitando debaixo de todos os bons pensamentos que se forçava a ter, e temia que um único escorregão fosse suficiente para fazê-lo perder o controle. E então, seus caminhos se separariam, ele mergulharia cada vez mais nas sombras, e terminaria por matá-la. Não, ele ofegou, angustiado. Era claro que não poderia fazer nada.

"Vem cá", ela pediu, pegando-o pela mão e levando-o até uma sala de aulas, vazia àquele horário. "Você não pode deixar fazerem esse tipo de brincadeira idiota, Sev! Estou feliz, muito feliz que tenha mudado, mas reagir é completamente diferente de Artes das Trevas, é um direito..."

Ele se desligou do que ela dizia, mergulhando nos próprios pensamentos. Não era diferente. Com ele, era exatamente a mesma coisa. E estava resolvido a não ceder. O que significava, ele gemeu outra vez, não reagir, e se tornar cada vez um saco de pancada. Sentir sua auto-estima, que nunca havia sido grande coisa, caindo a níveis abissais. E valia a pena tudo aquilo? Ah, deus, fosse apenas alguns meses antes ele teria sérias dúvidas, mas depois de conhecer o horror de perdê-la, definitivamente, por meio de sua própria ambição e sonhos de grandeza e vingança... mas mesmo a recompensa não o fazia se sentir melhor, menos diminuído, menos ferido em seu orgulho. Lily agora apertava suas mãos, e parecia ao mesmo tempo aborrecida, revoltada e à beira das lágrimas.

"... não pode deixar as coisas continuarem como estão, não pode", ela repetia. Então, abraçou-o com força. "Ah, Sev... você tem que fazer alguma coisa."

Ou o quê? Ou ela iria se cansar de ter um pateta como namorado e o abandonaria? E qual teria sido, então, a vantagem de escolher o caminho bom e afastado das Artes das Trevas? Ele buscou com intensidade o ponto entre o pescoço e o ombro dela, apenas porque ali era mais escuro e ela não veria a dor e a humilhação em sua face. Ah, deus, como queria ser capaz de esquecer todos os seus problemas, ainda que por um mísero minuto, e concentrar-se apenas no calor e no perfume dela...

"Promete que vai reagir", ela pediu, afastando-se e olhando-o bem nos olhos.

Ele hesitou, pensou em mentir como sempre havia feito. Mentir. Mentiras eram mais inofensivas, não tão soturnas. E um caminho bem mais fácil do que ter de se explicar, contar sobre o homem e tudo o que ele havia lhe contado e feito sentir, contar sobre o que Severus faria se não mudasse, a vergonha e a culpa que carregaria a partir de então.

"Eu... eu vou, Lily", ele disse, tentando ocultar a hesitação em sua voz. "Vou..."

"Sr. Snape...", o diretor, Albus Dumbledore, surgiu pelo vão da porta entreaberta. "Está tudo bem?"

Severus procurou manter-se neutro e responder em tom de voz indiferente que sim, estava tudo bem, mas Lily o contradisse:

"Como poderia estar?"

O velho suspirou.

"O responsável sairá direto do jantar para uma detenção com o Prof. Slughorn... não que eu ache que uma detenção vá realmente resolver esse problema... ele já vem se arrastando há meses, não é mesmo? Venho o observando, Sr. Snape..."

"E o que resolveria, diretor?", Lily perguntou, desanimada.

"Esta é uma boa pergunta", o diretor respondeu, fitando pensativo Severus enquanto passava um dedo sob o lábio inferior.

Severus remexeu-se, desconfortável, não apreciando a forma como o outro o olhava.

"Preciso ir. Ah, trabalhos pra fazer, pra aula de amanhã...", ele disse, tomando a direção da porta e só então se atrevendo a olhar para Lily, despedindo-se e pedindo, numa súplica muda, que ela o seguisse. E ela o fez:

"Na Biblioteca, por favor, Sev", disse, e acenou para o diretor.

Dumbledore despediu-se com um movimento de cabeça, permaneceu ali por mais alguns minutos e por fim tomou a direção de sua sala, o tempo todo pensando



*


"Por que não deixamos simplesmente os Sonserinos acabarem com ele por nós?", Peter perguntou, um pouco mais tarde naquela mesma noite. "Não vamos precisar nem sujar nossas próprias mãos."

"Nah", James replicou. "Aí é que está a graça, fazê-lo com nossas próprias mãos. Só ver o Ranhoso se ferrar não é suficiente."

"O problema é", Sirius interveio, "o quê, exatamente, fazer com as nossas mãos, varinhas, o que seja."

James suspirou.

"Se nem o fiasco do final do ano passado, quando Ranhoso mostrou as cuecas pra quem quisesse ver, foi suficiente pra fazer ele cair na real e pra quebrar o encanto dela... pelo contrário", ele cerrou os dentes e seu semblante se tornou sombrio e perigoso, "resolveram ficar se pegando por aí... mas existe uma saída, só precisamos encontrá-la!", ele tornou a se animar e fechou o punho e deu um soco na outra mão, aberta, e se pôs a andar de um lado para o outro no quarto.

"Talvez a gente deva tentar uma outra abordagem. Usar mais o cérebro, que a gente tem de sobra, inclusive", Sirius disse, também ficando de pé. Então, caminhou até a janela, e a luz prateada da lua cheia banhou-o por completo. "Mas depois pensamos nisso. Tá na hora da diversão."

James parou, hesitou, como se pretendesse continuar pensando em um plano pelo resto da noite, mas acabou por abaixar-se, abrir o malão e tirar de dentro dele a Capa da Invisibilidade.

Poucos minutos depois, embora ninguém os visse, três Grifinórios cruzavam o castelo, na direção das grandes portas de carvalho que levavam até o lado de fora.


*


"Eu realmente preciso ir."

"Tudo bem", ele respondeu, e não esperou mais nem um segundo para curvar-se para baixo e beijá-la, ansioso, faminto.

Severus sentia como se fosse impossível que os beijos dela se tornassem algum dia costumeiros, sem-graça ou cansativos; cada beijo parecia surpreendente, até mesmo pelo fato de estar acontecendo. Lily, às vezes, fazia algum comentário sobre quão intensa era a forma dele beijá-la, mas ele podia perceber, pela forma como os olhos dela brilhavam, que ela gostava daquilo. Podia perceber, também, pela forma como ela retribuía o ato: passava os braços por trás de seu pescoço, apoiando uma das mãos em sua nuca e acariciando os cabelos com a outra. Erguia-se na ponta dos pés e ora esmagava seus lábios contra os dele, ora dava-lhe pequenos e delicados beijos. E quando, como agora, ela entreabria os lábios e suas línguas deslizavam uma contra a outra, ele simplesmente mal conseguia se controlar, aumentava ainda mais a pressão dos braços em torno dela, e tudo o que passava a existir eram os lábios dela contra os dele. Quando o beijo chegava ao fim, ela geralmente se acomodava contra o peito dele, abraçando-o com mais ternura e Severus, então, mergulhava o rosto no cabelo dela, sentindo a suavidade e o perfume que se desprendia deles, pensando que jamais havia sido tão... feliz, apesar de tudo.

"Vai mesmo ficar por aqui?", ela sussurrou, no ambiente mal-iluminado próximo às masmorras.

"Uhum", ele respondeu.

O feriado de Natal se aproximava, e de maneira alguma Severus pretendia retornar à casa de sua mãe, pequena e escura, com seu clima pesado e cheio de desesperança. Havia memórias ruins demais naquele lugar, mesmo que ele pudesse passar o tempo todo em seu quarto, e evitar Eileen. Desde o final das últimas férias, e do último encontro com o homem, Eileen andava extremamente desconfiada; e sua preocupação só aumentou no decorrer daquele ano. Embora se houvessem comunicado apenas por meio de cartas, ela dizia notar o quanto o filho estava cada vez mais diferente, cada vez mais distante, se é que não havia desprezado por completo, do futuro que haviam planejado juntos. Bem, se ela sequer desconfiasse que era por causa de uma... 'sangue-ruim'... por mais que Lily houvesse se mostrado gentil e adorável com Eileen, nos poucos encontros que haviam acontecido desde que se conheciam, a mãe não era capaz de ver além do rótulo de nascida-trouxa. Bem, era claro que ele não iria abrir mão de Lily por causa de sua mãe, ou de qualquer outra pessoa ou situação. E sequer pretendia contar à mãe, era claro. Mas sabia que ela não o deixaria em paz, e, por mais próximo que estivesse da casa dos Evans, em Spinner's End, Lily estava preocupadíssima com o pai. O Sr. Evans não vinha se sentindo bem nas últimas semanas e, até aquele momento, nenhuma doença havia sido descoberta, apesar de ele estar internado em um hospital havia dois dias. Era ele o motivo de Lily estar indo, afinal, e Severus não se sentiria muito à vontade acompanhando a família naquele momento, o que o deixaria quase que completamente a sós com a mãe.

As três semanas seguintes pareceram transcorrer em apenas poucos minutos, e lá estava Lily dando-lhe o beijo de despedida e, depois, afastando-se, acenando-lhe do meio da multidão, correndo para beijá-lo uma última vez e então correndo para fora do castelo, para não perder o trem. Severus suspirou, sentindo-se mais solitário do que nunca, e até mais que isso, sentindo-se murchar, como aquela planta criada no escuro faria após conhecer o sol e este se pôr. FIcou ali parado no Hall de Entrada durante algum tempo, ainda, até que o castelo estivesse quase que completamente silencioso e não houvesse mais nenhuma possibilidade de ela retornar. Então, subiu até a Biblioteca, à procura de distração. As duas semanas seguintes pareceram se arrastar, embora de forma relativamente agradável. Severus havia ficado sozinho em seu dormitório, descoberto livros interessantes de Poções, e o Prof. Slughorn o havia deixado usar uma sala e os ingredientes que precisasse, sempre que ele quisesse. Sentia-se em paz consigo mesmo, e só não se sentia completo porque Lily estava longe (embora as cartas que recebesse dela, de quando em quando, compensassem um pouco sua frustração). Ele se perguntava porque a vida não podia ser sempre daquela forma, e então, recordava-se de que faltava ainda metade do ano letivo, e depois mais um ano inteiro de perseguição, e dúvidas, e de sentir-se dividindo em dois, mais confuso do que nunca, sem ver nenhuma solução para o que sofria.

Diabos.

Então ele se aferrava às cartas dela, quase como se agarrasse Lily em pessoa impedindo-a de fugir, e fechava os olhos repetindo para si mesmo e tentando acreditar que estava valendo a pena. Foi fácil durante aquelas duas abençoadas semanas de paz. Mas quando o feriado de final de ano acabou, todos voltaram com ânimo renovado, inclusive e principalmente para as velhas rixas de sempre. E até mesmo os quatro malditos Grifinórios (tudo bem, três, já que o lobisomem tentara impedir os três amigos cretinos em duas ou três oportunidades) pareciam dispostos a atazaná-lo outra vez. E embora os professores Dumbledore e Slughorn o houvessem aconselhado a procurá-los sempre que fosse atacado, Severus achava simplesmente desprezível a idéia de correr para os dois, como um garotinho frouxo que não fosse capaz de se defender. Aquilo só pioraria sua situação e sim, ele era extremamente capaz de se defender - só que havia escolhido não fazê-lo. De forma que, quando não estava com Lily, estava solitário na Biblioteca, ou vagando pelos terrenos do castelo, logo que o tempo esquentou o suficiente para derreter a neve.

Claro que ele não ficava sempre a salvo de ataques, e não era raro Lily encontrá-lo debaixo de uma árvore, próxima ao limite da Floresta, com um livro aberto no colo mas esquecido, porque Severus estava fitando o nada, com a expressão mais angustiada que ela já havia visto. Sentia-se quase tão angustiada quanto ele; corria para junto dele e o abraçava, e só o largava quando o sentia menos tenso e enxergava um pequeno sorriso em seus lábios.

"Não está sendo fácil", ela comentou, séria e inconformada, durante uma tarde já no final do semestre, enquanto limpava o sangue dos joelhos ossudos dele e, em seguida, remendava as calças, em farrapos depois de Severus ter sido atirado sobre o chão das estufas.

"Não me importo", ele mentiu, "desde que possa ficar em paz".

Ela suspirou, contrariada.

"Você tem que se impor, Sev", repetiu, pelo que devia ser a milésima vez, quase como se estivessem de volta à época em que ele teimava em se envolver com as Artes das Trevas e ela, em retorno, insistia até se cansar para que ele desistisse.

Ele não queria se impor. Depois de meses daquilo, sentia-se cínico e, a cada vez que resistia à vingança e a seu lado sombrio, sentia-se também mais forte, quase como que se zombasse deles. Só não havia, ainda, descoberto, o que fazer com a sensação de humilhação e destruição de seu amor-próprio, ainda mais quando Lily presenciava um dos ataques; nem com o medo de que ela finalmente desistisse dele. Severus suspirou. Ela o envolveu em mais um longo abraço, enquanto sussurrava em seu ouvido:

"As coisas vão mudar. Você vai ver só."


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hey ya _o/

certo, demorei horrores, inclusive com direito a uma crise de TPM durante esse tempo (já fiz notinha mental pra nem chegar perto de fic nesse período, já quase deletei a "enfeitiçando a mente" numa dessas fases, enfim, não é uma boa idéia =P).

hm, bem. uma das mudanças que falta fazer nos capítulos 7/8/9/10 (e que eu vou fazer só depois que terminar a fic) é exatamente sobre isso: resolvi que o snape não vai mais morar com os avós, blabla, viagem demais, blabla, e não tinha muita utilidade pro resto da história (mas como gosto da eilleen e da relação que criei com os pais dela, talvez isso retorne em algum outro momnto, ou fic, vamos ver), so... um pequeno aviso, só pra não faltar continuidade na fic ;D

well. e é claro que a vida dele não viraria um mar de rosas, mesmo com lily - quem temia isso, pode ficar tranquilo. ele ainda é o snape, afinal. claro que vão rolar cenas fofas e piegas e até nauseantes, haha, afinal, o objetivo da fic é exatamente esse: dar um pouco de alegria e amor pro morceguinho (e falando em objetivo dei um pequeno update no FAQ).

respostas aos comentários:

ana: well, a lily não ia ficar esperando o cara tomar uma atitude, néam? =P e sim, tenho planos, todos, haha >:D (mas sou m á como tia jo e só vou dar pistas misteriosas)

beca: ficou gracinha, né? beejo!

morg: =X

chrono: não vai entrar em hiatus, prometo :*

e é isso. próximo capítulo já está no forno, não deve demorar ;D

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