somewhere a clock's ticking
- Bem... Lílian sabia fazer isso muito bem, eu nunca fui muito bom nisso... – desculpou-se Lupin estendendo a mão sobre a mesa da cozinha. – Mas...
- Bom no que? – questionou Rony, cuja ansiedade era praticamente palpável.
- Veja... – replicou Sirius calmamente e continuou a observar a palma da mão do amigo que se mantinha estendida sobre a mesa. Harry esperou um tempo. Nada aconteceu.
- Eu não vejo nada. – disse Harry com uma impaciência mal disfarçada. Quem visse o grupo acreditaria que das duas uma, ou algo muito incrível estava prestes a acontecer, ou todos ali tinham sérios problemas. Visto que a atenção de todos agora se voltava para a palma da mão de Lupin que parecia fazer um esforço tremendo.
Mas então... Ele viu. Um aglomerado de pontinhos luminosos começou a surgir, se unindo numa bolinha maciça e dourada que flutuou levemente no meio deles.
- Viu? – perguntou Sirius.
- O que é isso? – perguntou Rony com os olhos no ponto luminoso.
- O que isso tem haver com Hermione? – questionou Harry indo diretamente ao ponto. Lupin respirou fundo.
- Vocês... – começou - É um pouco complicado... – acrescentou procurando as palavras mais adequadas para que os meninos entendessem.
- Vocês nunca se perguntaram de onde vem a magia que vocês utilizam? – instigou Sirius. Harry piscou. Nunca se perguntara aquilo, entretanto... Exceto pelo momento que a seu ver não era muito propício para uma pergunta sem pé nem cabeça como aquela, até que era uma questão interessante...
- Não. – respondeu Rony parecendo tão confuso quanto Harry.
- Bem.. Vejam bem... – iniciou Lupin novamente. – Existe algo, que alguns bruxos chamam de “Quintessência”.
- O que é isso? – cortou Harry.
- Isso. – apontou Sirius. Harry voltou os olhos para a bolinha dourada, a qual se esvaiu alguns segundos depois.
- Me desculpem por isso, novamente eu nunca fui muito bom em... – Lupin se interrompeu ao ver a confusão estampada nos olhos dos meninos.
- Então... Isso fica, tipo... Dentro da gente? – arriscou Rony.
- Não. Bem, também... – acrescentou Sirius. – Na verdade ela está em todo lugar, em tudo. Inclusive você, ou eu.
- Quando você libera um feitiço, ou qualquer tipo de mágica, na verdade você não está criando nada, mas sim controlando essa... Energia... Por assim dizer. – acrescentou Lupin após a explicação. – Harry forçou a si mesmo a absorção das últimas palavras que ouvira...
- Certo... – falou Harry. – Mas eu ainda não vejo o qu...
- Ouça. – recomeçou Lupin. – O que diferencia um trouxa de um bruxo, é que mesmo num nível muito ordinário, um bruxo é capaz de manipula-la. Enquanto um trouxa não é. Algumas pessoas simplesmente nascem mais sensíveis a isso como nós. – explicou lentamente. – No caso de Hermione... – aqui Lupin parou e seus olhos encontraram os do amigo que continuou a explicação:
- Existem alguns casos... Relatos, muito raros na verdade... Bem, mais boatos. Não registrados, eu quero dizer... De certos bruxos... Que, bom...
- Que atingiram certo nível de controle... Bom, meio que, além do normal... – completou Lupin.
- A questão é que para que alguém chegue a isso, é preciso uma quantidade extrema de estudo e experiência... Pelo menos que eu conheça, só duas pessoas conseguiram atingir um patamar como esse... – continuou Sirius.
- Dumbledore...? – arriscou Rony. Lupin acenou positivamente. – E quem mais?
- Voldemort. – respondeu Harry com uma certeza absoluta e arrasadora.
- Isso... – confirmou Sirius com ar sombrio.
- Então o que vocês estão dizendo é que Hermione, ela... – tentou Rony sem esconder a admiração. - Isso é bom não? Quero dizer... Ela está mais... Bom, forte, certo? – Harry se voltou para o amigo em silêncio. Não tinha certeza se concordava com Rony nesse ponto. Até mesmo porque, se o ocorrido no bosque despertara algo nele, certamente não fora admiração...
- Na realidade Rony... Não é tão simples assim. – falou Sirius.
- Hermione não... Bom, ela não tem condições, mentais, até mesmo físicas de suportar tanto... Bom, poder... Por isso ela entrou em colapso.
- Veja bem... Isso pode ser muito perigoso se você não tiver total controle do que está acontecendo. No caso de Hermione, eu duvido que ela tenha experiência suficiente para tanto... – explicou Sirius.
- Eu não entendo... – rebateu Rony, cuja admiração, ao que parecia havia se esvaído totalmente. – Como ela acabou ficando assim?
- Nós achamos... – começou Lupin, olhando de relance para Harry e em seguida para Sirius. – Nós achamos que foi... – Harry já sabia, não era preciso que Lupin lhe dissesse a cena ainda estava bastante vívida em sua memória...
- Quando você voltou, certo? – cortou se voltando para o padrinho. Ele não respondeu. Não era preciso.
- A questão é que nós não podemos dar garantia a vocês ou até mesmo a ela sobre quais seriam as conseqüências se isso acontecesse de novo...
- Por isso vocês queriam que ela parasse de fazer mágica? – questionou Rony, obviamente ligando finalmente os pontos.
- É mais seguro dessa forma... Entretanto, nós não podemos forçá-la a fazer nada que ela não queira... – acrescentou Lupin.
- Então, tudo isso, basicamente é você dizendo que ninguém sabe se ela vai ficar bem ou não? – perguntou Harry incisivamente.
- Harry, nós sentimos muito mesmo, mas... Nós não sabemos... - respondeu Sirius. Harry desviou os olhos do padrinho. Sabia que ele insistiria em conversar. Entretanto, não havia nada que ele dissesse que pudesse fazer com que Harry se sentisse melhor...
Hermione respirou fundo, sentindo uma leve pontada de cansaço no peito. Duvidava que alguém imaginasse que ela estava acordada, até mesmo porque, pelo que falavam...
Estava prestes a entrara na cozinha quando ouviu a voz de Lupin falando algo que a princípio não compreendera muito bem... Até perceber com um crescente desconforto que o assunto da conversa era ninguém menos que ela.
Menos de meia hora depois, não tinha exata certeza se era arrependimento por ter ouvido aquilo tudo ou se simplesmente lhe irritava absurdamente o fato de falarem assim pelas suas costas, mas... Definitivamente, não se sentia muito bem...
- Hermione? Querida? – Sra. Weasley se aproximou da garota que se virou surpresa:
- Er...? Eu... – titubeou Hermione ainda confusa sobre a conversa que acabara de ouvir.
- Você está bem? – perguntou a mulher se apressando em acudi a menina. Hermione esforçou-se em murmurar um “sim”. Entretanto, a Sra. Weasley parecia tão preocupada com seu estado, que nem lhe deu atenção. – Meu anjo, você está tão pálida! Venha... Você acordou agora?! Nós estivemos tão preocupados!
- Sra. Weasl... – começou Hermione, mas a mulher já empurrava a menina cozinha à dentro.
- Você tem que comer alguma coisa! – resmungou a mulher alheia aos protestos da menina. – Talvez Harry coma alguma coisa também! Pobre garoto... Não piscou o olho desde que vocês... Bom... – se interrompeu a mulher - Venha.
Um momento de silêncio pairava no local quando a porta da cozinha se abriu para dar espaço às duas. Os olhares se voltaram para entrada. E Hermione os sentiu recaírem rapidamente sobre ela:
- Hermione! – exclamou Rony, sendo o primeiro a se levantar. – Você... Você está bem?
- Eu... – começou Hermione voltando os olhos para a mesa. – Estou... Eu estou bem. – respondeu caminhando para a mesa e sentando-se. Harry fitava-a. Não conseguia lê-lo. Entretanto, parecia óbvio que hesitava em se aproximar... Uma súbita noção da última conversa que haviam tido no trem veio à sua memória. Hermione sentiu o rosto corar.
- Você tem certeza de que está se sentindo bem? – perguntou Lupin com cautela. Hermione piscou, voltando sua atenção de Harry para o homem ao seu lado:
– Eu estou cansada... Só isso. – respondeu sem esconder certa frieza. Sirius esperou até que Sra. Weasley desse as costas e se voltasse para o fogão para interrogar:
- Você se lembra de alguma coisa? – questionou. Hermione franziu o cenho. Deveria dizer que ouvira a conversa às escondidas? Não tinha certeza se fizera certo... E mesmo a conversa sendo sobre ela... Talvez estivesse melhor sem total noção da sua situação...
- Não... – respondeu com sinceridade. – Por quê? O que houve? – emendou.
- Bom... – começou Lupin. Mas Sra. Weasley se voltou com ar leve e aliviado:
- Agora, coma! – disse pondo um prato de comida na frente da garota. – Você também Harry! – acrescentou pondo um segundo prato na mesa. Sem desculpas agora, viu? Hermione está bem! Agora comam. – insistiu com um sorriso. Foi vez de Harry corar.
Hermione baixou os olhos e encarou o próprio prato ao ouvir as últimas palavras da mulher.
A casa estava praticamente vazia. O que significava que a guerra que ocorria nas ruas era maior do que poderiam imaginar. E eles estavam completamente isolados de tal. Harry suspeitava que houvessem sido de Dumbledore as ordens para que Lupin e Sirius ficassem de olhos neles. Talvez... – raciocinou – Achassem que fosse fugir novamente. Harry não podia culpá-los...
- Hei... – Giny entrou na cozinha sentando-se à sua frente:
- Hei... – respondeu Harry com um pequeno sorriso. – Como ela está?
- Bem, eu acho... – acrescentou em seguida. – Ela está lá em cima... Com Lupin.
- Certo... – respondeu voltando sua atenção para a mesa novamente. Imaginava que Lupin conversaria com a amiga, entretanto, ele próprio, junto com Rony, pediu para que falasse a verdade a ela mesmo assim... Na realidade, preferia que fosse ele junto com o amigo que explicasse, entretanto...
- Por que você mesmo não vai lá? – perguntou Giny com um ar triste. Harry soltou um esgar:
- Eu não acho que... Eu acho que ela não quer conversar comigo... Por enquanto... – respondeu Harry.
- Talvez... – começou Giny, com ar de consolação. – Você devesse dar um tempo a ela... Sabe? – e acrescentando logo em seguida. – Até ela... Bom, ela só precisa de tempo, eu acho...
- Certo... Tempo, eu... Eu entendo. – murmurou Harry em resposta.
Rony havia dito a mesma coisa... Tempo. Era fácil dizer certo? Mas... Mesmo não tendo dito ao amigo, ou mesmo à Giny... O fato era, que uma sensação crescente dentro dele... Uma vozinha que insistia em lhe recordar, como um agouro, que talvez, não tivesse tanto tempo assim...
Hermione observou Edwiges que num rasante veio buscar migalhas de pão na sua mão.
Lupin havia acabado de sair. Surpreendentemente, lhe explicara tudo que segundo ele, havia explicado aos meninos... Tecnicamente, ela não podia mais praticar mágica certo? Então... Ela era uma bruxa que não podia praticar magia... Como se as coisas não pudessem ficar piores... Pelo menos, ninguém lhe escondera nada dessa vez. - Acrescentou mentalmente com amargor, enquanto via a ave voltar para seu posto no braço de uma poltrona verde e mofada.
- Ele não moveu um passo da sua cabeceira sabe? – disse Rony com ar sugestivo - Então...? – insistiu Rony após alguns minutos de silêncio. O garoto viera lhe fazer companhia assim que Lupin saíra. Ao que parecia, ele e Harry haviam se acertado nos últimos dias... Desde o ataque à Hogwarts pra ser mais exato. Motivo pelo qual, suspeitava, estava tomando partido do garoto...
Segundo Giny, Durante o tempo que ela estava desacordada, até mesmo parecia... Bom... “Como antes.”. Já Hermione, apesar de não compartilhar seu ponto de vista, não achava que as coisas estavam bem, “como antes”. De fato, pelo menos entre ela e Harry, elas estavam longe disso... E a prova era justamente a forma com a qual Rony passava o dia todo de um lado a outro da casa, revezando sua companhia entre os dois amigos, que, diga-se de passagem, apenas se encontravam durante refeições, ou ocasiões das quais ela não podia escapar.
Hermione sabia que a decisão de manter distância partira dela, e que se fosse por ele... – um ligeiro arrepio perpassou pelo seu corpo à possibilidade de... – Ultimamente... Não era preciso que ele lhe dissesse, para que soubesse exatamente o que lhe passava em mente cada vez que por um acaso, seus olhares se cruzavam. Hermione poderia dizer, simplesmente pela forma como ele a fitava...
– Eu sei que você está pensando sobre isso... – falou ele em seguida.
- No que? – rebateu Hermione se fazendo de desentendida. Quando na verdade, passara os últimos dias remoendo aquilo sem cessar...
- Não se faça de sonsa. – replicou simplesmente. – Não combina com você. – Hermione respirou fundo, entretanto não houve resposta. Rony continuou:
- Então, você não vai mais falar com ele, é isso? – Hermione fitou o amigo com impaciência:
- Ele mentiu pra mim Ronald! Ele mentiu pra você! – disse com rudeza. – E quando ele decidiu falar a verdade pra você, ele continuou mentindo pra mim!
- Talvez ele tivesse uma razão pra isso...
- Eu merecia saber! Depois de tanto tempo... Eu... Eu merecia saber Ronald. – disse cruzando os braços e voltando sua atenção para a coruja novamente.
- Você devia falar com ele. – falou Rony com seriedade. Hermione se voltou novamente contra ele e antes que pudesse se conter:
- Desde quando você faz tanta questão de que eu me acerte com Harry? – Rony piscou. Hermione sentiu uma onda de arrependimento assim que terminou a sentença. – Rony eu...
- Porque você está tão irritada com ele Hermione? – ela se calou, visto que o amigo acabara de se levantar. Obviamente fora longe demais. – Tudo isso... É realmente porque ele mentiu? Ou talvez, porque você sabe que não pode fazer nada com relação à Profecia? – retrucou Rony elevando o tom de voz. Hermione se manteve em silêncio, não sabia se por surpresa, devido à reação dele, ou se porque realmente havia um pouco de verdade nas palavras do amigo.
A Hermione, pareceu que Rony tinha muito mais a dizer, e fez esforço para refrear o que quer que fosse. Visto que após alguns segundos, ele se virou e seguiu em direção à porta.
Estava prestes a fechar a porta atrás de si quando pareceu mudar de idéia, se voltando contra a garota, ainda mais impaciente e irritado:
- Sabe? Eu... Eu não te entendo! – exclamou Rony – Se fosse eu... E eu soubesse que podia perder alguém que eu gostasse... Eu iria passar o máximo de tempo que pudesse com ela!
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