Penseira
- Bom dia, meu amor.
Como ela gostava de acordá-lo, beijando-o delicadamente. Ele sorria, fraquinho, enquanto ela mexia em seus cabelos, seu nariz e orelhas. Fazendo com que ele se virasse na cama, tentando se desvencilhar das mãos e beijos dela.
- Bom dia para você também, maluca.
Ela sorriu e o abraçou. Ficaram uns instantes encarando o sol pela janela, nascendo preguiçosamente.
Hermione estava satisfeita. Havia dias em que Rony acordava simplesmente insuportável, mas, por sorte, esse não era um desses dias. Talvez não por enquanto...
- Ron... Você sabe que dia é hoje?
- Nosso aniversário de casamento não é. Desde que você me fez engolir as rosas que a Gina me deu para dar a você eu não esqueço. Sei que é dia 23 de janeiro.
- Que bom que você não esquece mais, porque, francamente, “por que dar essas flores a ela, Gina?” foi a gota d’água.
- Era nosso primeiro ano – ele disse rindo -, não estava acostumado aos aniversários de casamento. Tanto que desde então nunca mais te dei rosas. Uma pena... Até que as pétalas são gostosas, mas os espinhos... – ele disse, fazendo uma careta, se lembrando de Hermione fazendo um feitiço para que todas as rosas fossem para cima dele, parecendo estar vivas e querendo sufocá-lo.
- Se você quiser, eu mato a sua saudade.
- Não, obrigado, acho que já fiz a dieta das flores.
Ela riu, batendo de leve no ombro dele.
- Mas, afinal, que dia é hoje? – ele perguntou curioso.
- É o aniversário da sua mãe.
Parecia que ele se encontrava num carrinho de montanha-russa, descontrolado, que dava loopings e guinadas repentinas. Ele empalideceu. Parecia que o bom humor daquela manhã havia, há muito, passado.
- Eu não vou. – respondeu ele, secamente.
- Ah vai! Eu já disse a todos que você ia.
- Isso é problema seu, não meu. Você não pode me obrigar a ir onde eu não quero.
- Ronald Weasley! É a SUA família e o senhor vai!
- Não vou, não. – e, com isso, se virou na cama, se cobrindo.
- Vai e vai! – ela puxava os cobertores dele, em vão. Ele resolvera se enrolar neles e, sendo muito mais forte que ela, não chegava a fazer o menor esforço para impedí-la.
Então ela pareceu desistir. Se levantou e ele pôde ouvir o som do chuveiro sendo ligado. Mais uma vez ela iria sem ele, mais uma vez ele vencia.
- Você realmente não pensou que esse ano seria tão fácil, não? – ela disse, sorrindo para o marido que agora se encontrava flutuando a uns bons 2 metros da cama. – E nem adianta procurar por sua varinha no bolso do pijama – ela disse balançando-a na mão esquerda -, aliás... Pijama?
E, com outro movimento de sua varinha, o pijama dele rapidamente deixou o seu corpo.
- Mione, se você queria me ver de cueca era só pedir, não precisava isso tudo.
- Não, não quero te ver de cueca. – o que parecia ser verdade, ela evitava olhá-lo mas ele nem ao menos percebeu – Quero você com o menor número de peças possível para...
- Para...? – ele ria.
- Isso. – e ela apontou a varinha em direção ao banheiro. Rony, aos trancos e barrancos, finalmente se encontrava debaixo do chuveiro agora.
- Vai ter volta, Granger! – ele dizia embaixo d’água. Pois ela parecia ter enfeitiçado tudo: sabonete, shampoo, etc. Tudo para que ele não resolvesse se trancar no banheiro sem fazer nada.
Ela suspirou na cama, estava cada vez mais difícil lidar com ele.
Já ele nem percebia. Mesmo com o que algumas pessoas falavam. Essas diziam que ele estava estragando um casamento perfeito, que ele estava deixando Hermione muito magoada. Mas ele parecia não pensar em outra coisa. Se ela me ama como sempre disse, vai entender. E ela é, acima de tudo, minha amiga. Repetia sempre que falavam coisas desse tipo para ele, sem dar ouvidos aos outros.
Mas parecia que ele esquecia que, acima de tudo também, ele era o marido e melhor amigo dela. Esquecia também que eles tinham uma vida, dividiam uma vida.
E, pior, esquecia que ele tinha que ser Rony Weasley e parar de pensar sobre coisas que há tanto o atormentavam para, finalmente, seguir sua vida com Mione. A vida que ela ansiava ter com ele.
FLASHBACK
Subitamente tomada de energia, Molly saiu da cozinha sem dirigir uma palavra a ninguém. Isso não foi surpresa para nenhuma das pessoas ali presentes, já que se encontravam perdidos em seus próprios pensamentos e nem ao menos perceberam a sua saída.
Ela voltou alguns minutos depois, carregando uma bacia muito velha e gasta, com um conteúdo nem líquido nem gasoso que conheciam muito bem: ela vinha trazendo uma penseira. Assim como quase tudo naquela casa, a penseira parecia já ter pertencido a algum membro da família. As suas bordas estavam lascadas e havia muitos arranhões.
A Sra. Weasley depositou-a em cima da mesa e então se virou para Percy.
- Já.
Mas os Weasley começaram a protestar. Sabiam que ela queria ver a lembrança de Percy e sabiam que isso a abalaria mais que tudo, mais do que a todos na cozinha.
Até Harry e Hermione entraram na discussão. Não queriam vê-la nem estado pior do qual ela já se encontrava.
Mas ela sequer parecia escutá-los. Olhava para Percy com os olhos apertados, indicando a penseira com a mão. Então ele foi andando, ainda sob protestos, até que...
- CALADOS! TODOS VOCÊS!
Mais uma vez o silêncio se instalara no aposento.
Percy se aproximou e levou a varinha a sua têmpora, afastando a varinha lentamente, puderam ver um fio prateado. Ele olhou para sua mãe e esta acenou para ele, como confirmando que era exatamente aquilo que queria, mesmo que tremesse muito.
Ele depositou a lembrança na penseira e se afastou para que sua mãe se aproximasse. Mas antes que ela pudesse fazer qualquer movimento, Fred e Jorge se levantaram.
- Queremos ver.
- Também temos o direito.
Estava pronta para negar quando Rony, que se encontrava abraçado a Hermione até então, se levantou.
- Eu também quero ver mãe.
Ele não chorava, mas tinha os olhos vermelhos e sua voz estava falhando.
Gina o seguiu, levantando-se. Não disse nada, mas talvez nem conseguisse. Grandes e pesadas lágrimas desciam pelo rosto da garota e caíam, silenciosamente, em sua blusa.
A Sra. Weasley então pareceu relevar o pedido dos filhos, olhou para cada um deles e ainda para Harry e Hermione.
- Também podem vir, se quiserem, é claro. - os dois se levantaram prontamente.
Postaram-se ao redor da mesa e já iam tocar seu conteúdo quando Molly pediu para que esperassem. Ela olhou para Percy. Depois que este fizera o que sua mãe havia pedido, voltara-se a um canto da cozinha, encarando o nada.
- Você não vem? – ela perguntou.
Ele se limitou a balançar a cabeça, negativamente, sem ao menos olhá-la.
- Ok... – continuou – Então vamos. – ela falava calmamente, mas seu tom de voz denunciava todo o nervosismo que sentia naquele momento.
Então finalmente eles tocaram no conteúdo da penseira, se dirigindo à lembrança de Percy.
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