A Verdade
- Ainda pensando nisso, Ron?
Então ele saiu de seu devaneio. Olhou para a sua esposa, Hermione não mudara muito depois desses cinco anos, parecia aquela mesma menina que estava feliz por se formar, mas que sabia das responsabilidades que estavam por vir. Ela tinha apenas uma aparência mais cansada, coisa que, na guerra, todos apresentavam.
Se achando um dos homens mais sortudos do mundo, sorriu. E ela lhe sorriu de volta, puxando-o para si, abraçando-o e fazendo com que ele recostasse a cabeça em seu peito.
- Sei que já falei muitas e muitas vezes, mas não gosto de te ver assim. Pensando nisso novamente... - ela falava baixinho, como num sussurro, enquanto brincava com os cabelos de fogo dele entre os dedos. - Não peço para você esquecer... Sei que não há como. Só queria que você voltasse a ser o Rony que era, sabe? Ou pelo menos tentasse... Supere isso...
Ela não admitia, mas se sentia muito magoada ao vê-lo assim. Não queria que ele achasse que, como os outros, ela estava pensando em deixá-lo pela sua mudança. Ela não queria isso. Queria exatamente o contrário: queria que ele mesmo se deixasse, abrindo espaço para o Rony que ela conhecia, o Rony por quem se apaixonara.
- Você dificilmente sorri, não faz mais aquelas piadinhas inconvenientes a todo momento, não sai mais... Ron, é a sua vida em jogo. Você não pode desistir dela dessa maneira.
Ele não respondeu. Ouviu tudo que ela tinha a dizer, tudo que sempre dizia quando percebia que seu olhar recaia sobre um ponto fixo e sua mente deixava este plano. Mais uma vez ela estava certa, não havia o que discutir. E então ele a beijou, calma e carinhosamente, pedindo desculpas por pensar naquilo de novo.
- Você sempre faz isso... – ela disse, suspirando, vendo que ele fechara seu olhos e tentaria dormir.
Sim, ele sempre fazia isso. Sabia que ela estava certa, mas não havia como deixar de pensar, começar a viver. E, nem dois minutos depois, lá estava ele pensando de novo.
FLASHBACK
Aquele era mais um fim de tarde, assim como todos os outros. Pelo menos era isso que eles achavam.
CRACK.
Estavam na cozinha, lanchando, quando um Percy afoito, vermelho, óculos tortos e sujo de poeira aparatou. Todos olhavam para ele, esperando uma explicação. Ele tremia, dos pés a cabeça, gaguejava, nervoso.
- Ma... Mãe... Minis-té... tério.
Ela se levantou, depressa. Os garotos até pensaram que tinha aparatado na frente de Percy tanto foi sua rapidez.
- Diga! Fale logo! Por Merlin, Percy, me diga o que houve!
Ela sacudia seu filho pelos ombros, desesperada por informações. Mas isso só piorava a situação. Eles viram que Percy se descontrolava mais ainda vendo a ansiedade de sua mãe e, de repente, começou a chorar.
Ninguém falava nada, o silêncio parecia até mesmo poder ser tocado, tamanha intensidade. Apenas a Sra. Weasley continuava a balbuciar algumas coisas sem nexo algum enquanto continuava a sacudir Percy, cada vez mais lentamente e, como ele, caiu no choro também.
Harry e Hermione se entreolharam, era mais um momento família e eles se sentiam desconfortáveis com isso. Por mais que, desde o primeiro ano, eles tivessem a certeza de que os Weasley também os considerassem da família, sabiam que esse era um momento muito delicado.
Harry indicou a porta e assim, ele e Hermione, se levantaram. Rony, Gina, os gêmeos nem ao menos repararam. Olhavam fixamente para a mãe e o irmão, que agora se abraçavam, chorando.
Ele não precisava dizer, sabiam exatamente o que havia acontecido.
Já estavam a meio caminho da porta quando ouviram a Sra. Weasley:
- Onde é que vocês pensam que vão? Nem pensem que é coisa de família e que por isso devem se retirar – a voz dela falhava -, pois os dois são como filhos para mim e vocês sabem muito bem disso.
Sem escolha, mas ainda assim se sentindo um tantinho incomodados, sentaram-se novamente à mesa.
Fred e Jorge olhavam uma panela velha e a maçaneta da dispensa respectivamente, com os olhos marejados. Gina abaixara a cabeça em seus braços, sobre a mesa. E Rony olhava de um amigo para o outro, como quem queria abraçá-los, sem dizer nada, apenas retirando toda a força que o abraço transmitiria e que, sabiam, ele tanto precisava agora.
Então o fez.
Ele abraçou Hermione, como quem queria se proteger do mundo. E ela, com um sorriso frouxo nos lábios, o acolheu.
Harry olhou para aquela cena e pensou consigo mesmo que talvez, finalmente, seus amigos se entendessem. Vinha querendo que isso acontecesse há um certo tempo mas, com certeza, não queria que fosse assim. Não queria que só algo desse tipo fizesse com que os dois se aproximassem.
Desviando o olhar de seus amigos, este recaiu sobre Gina. A garota ainda estava de cabeça baixa, soluçando. Como no primeiro dia que a beijara, não pensou muito no que estava fazendo e, quando percebeu, já estava ao lado da garota, abraçando-a pelas costas, acariciando seus cabelos.
- Não chora, fica calma, Ginny... - dizia perto de seu ouvido.
A Sra. Weasley, ao ver seus filhos com Harry e Hermione, sorriu. Bem, talvez não pudesse considerar os dois como seus filhos agora...
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