Lembranças
- Ah, Rony! Que bom te ver! Não é que a Hermione consegue mesmo tudo o que quer? – uma Fleur alegre os recebia n’A Toca. Nem a careta que Rony fez ao ouvir o que sua cunhada dissera pareceu afetá-la. Seu inglês melhorara muito desde então.
Essa era mais uma daquelas festas de família em que ele se sentia extremamente desconfortável.
“Não interessa, Ron. É a sua família.”
Hermione não cansava de lembrar. Sim, era sua família. Eram pessoas que ele conhecia desde sempre talvez. Amigos de infância, que jogavam quadribol escondendo-se dos trouxas, amigos de Hogwarts. Havia ainda seus irmãos – que, por mais que brincassem e ralhassem com ele, sempre seriam seus irmãos –, cunhadas e sobrinhos. A família Weasley sempre seria uma grande família.
- Mas não é que ele finalmente resolveu aparecer? – Fred disse virando-se para ele, sorrindo, com Josh, seu filhinho de apenas sete meses, no colo.
- Se você não parar de virar bruscamente de um lado para o outro e gritar como se a minha presença fosse a coisa mais extraordinária do mundo, merecendo assim uma Ordem de Merlin, Primeira Classe, nunca vai conseguir fazer com que ele durma. – disse se referindo a Josh, cujo os olhinhos se fechavam lentamente, mas rapidamente se abriam de modo assustado cada vez que o pai se empolgava com algo, pulando e gritando.
Fred o olhou, sorrindo. Ele podia estar passando pelo que fosse, as dificuldades que fossem, mas este sempre seria o seu irmão mais novo, sempre seria o sarcástico Ron, mesmo que só por alguns breves momentos.
- Hermione, minha amada cunhada – ele disse, num tom falsamente galanteador, fazendo com que Rony a abraçasse mais forte pela cintura –, alguém aqui está querendo a vaga de pai do ano. Não acha que já está na hora de fazer jus ao sobrenome que carrega?
Ela sorriu, sem graça. Mas Rony, pelo contrário, apenas apoiou seu queixo no ombro de Hermione, suspirando baixo. Mas Fred nem ao menos percebeu. Jorge o chamava do alto da escada, parecia realmente desesperado.
- É, parece que a Anny dá mais trabalho do que o Josh aqui. É melhor o profissional ir ajudá-lo. Cuida aqui do futuro batedor do Chudley Cannons, Roniquito.
Dizendo isso Fred entregou o bebê a Rony. Josh pareceu não se importar, na verdade achou que finalmente conseguiria dormir e sorriu fracamente para o tio.
Fred não sabia, mas Rony, por mais que amasse, cuidasse, olhasse todos os seus sobrinhos, não desejava uma aproximação maior.
Hermione já estava farta de ouvi-lo falar: “Mione, eu não quero me aproximar de algo tão puro e inocente. Essas crianças não conhecem o mundo e eu não quero ser o responsável por passar toda tristeza de uma vida frustrada à elas.”
Conversar sobre possíveis filhos então...
Ele a fazia chorar. Dizia que nunca teria um filho com ela, que ele já tinha gente demais com quem se preocupar e que não precisava de mais ninguém, obrigado. Ela nem tocava mais no assunto. Era o tipo de conversa que sempre terminava em briga. Mas algumas vezes, mesmo que ela não tivesse nenhuma intenção, ele chegava a acusar Hermione de tentar enganá-lo. Fosse por um pedido de um passeio terminando num jantar romântico, um beijo mais apaixonado seguido de um “eu te amo, até mesmo de carinhos e carícias no meio da noite. A desculpa era sempre a mesma: “Não quero trazer uma criança para esse mundo injusto.”
E como ela sofria com isso.
Seu casamento definitivamente mudara da água para o vinho. Eles não eram mais um casal, não eram mais amantes. Eram amigos. Dividindo o mesmo teto, a mesma cama.
E ela o desejava tanto. Desejava ter o homem com que se casara de volta. Desejava aquela barriga que cresceria mais a cada mês, desejava os enjôos, desejava Rony falando baixinho perto de seu umbigo, desejava vê-lo todo atrapalhado e preocupado quando fosse a hora do bebê nascer, desejava presenciar o momento em que, com lágrimas nos olhos, ele soubesse o sexo da criança, desejava, tarde da noite, ver Rony andando para lá e para cá com seu filho no colo, fazendo com que este dormisse.
Mesmo que seus olhos brilhassem de esperança toda vez que ela o via com alguma criança. Era algo natural, ela via nele um ótimo pai. Mas suas palavras, apelos e desejos tinham um preço. Ele se fechava, se excluía, ignorava a presença dela. Ele podia ter crescido, se tornado um homem, mas continuava teimoso e cabeça dura como sempre fora em tempos de escola.
Então que os filhos e os desejos de tê-los ficassem para depois. Afinal, desejava mais do que tudo salvar seu casamento e, por isso, enquanto ele precisasse, seria apenas o que fora por muito tempo, seria só a amiga que Rony precisava.
Rony, por outro lado, via seu relacionamento de uma perspectiva totalmente diferente. Achava que se casara com a melhor pessoa do mundo: sua amiga, sua confidente, sua companhia de todos os momentos, fossem esses bons ou ruins. Que, como todas as pessoas, tinha seus momentos de “egoísmo”. Ele achava que a vontade dela de ter filhos vinha só pela pressão do nome Weasley, que quando ela parava, chorando quieta, num canto, só estava pensando nela e não ajudava-o a superar o maior dos seus problemas.
Mal sabia que ela chorava por ele.
- Então quer dizer que nem mesmo a aniversariante merece vê-lo?
A Sra. Weasley parecia muito mais velha do que realmente era. Sua aparência mudara muito: ela emagrecera até demais, seus olhos viviam marcados por enormes olheiras, seu tom de voz não era mais o alegre e mandão de sempre.
- Mamãe... – Rony levantou-se e a abraçou. Talvez só ela o entendesse.
FLASHBACK
Imediatamente se viram sendo projetados para frente. E aquela sensação de ser sugado por um redemoinho negro era sentida por cada um deles.
Muitos estavam receosos sobre o que veriam ao aterrissarem no Ministério, qual não foi a surpresa ao encontrarem o local naquela estranha calma, onde cada um queria transmitir paz e segurança ao outro, mas não podiam mentir a si mesmos: era um clima de tensão. Olharam em volta e viram Percy, conversando com alguém numa mesa à esquerda. Era o segurança.
A primeira a reparar que algo estranho estava para acontecer foi Gina. Ela indicou as lareiras da Rede de Flu do Ministério. Acumuladas ali, várias pessoas se perguntavam o que estaria acontecendo, já que essas pegavam o pó, diziam o destino ao que pretendiam chegar, mas continuavam onde estavam.
Os que aparatavam logo se foram, mas muitas pessoas dependiam das lareiras: jovens sem 17 anos, idosos cansados demais para aparatar, crianças acompanhadas pelos pais.
Então eles ficaram olhando a longa fila que se formou para saírem dali pela cabine de telefone na rua trouxa. Era algo demorado. Por cautela os funcionários mandavam pessoas num espaço de tempo que não podia ser chamado de curto. Alegavam que não queriam que os trouxas tivessem consciência daquela cabine, ou de como ela havia se tornado popular de um tempo para cá.
Levaram um susto ao ouvirem um grito que vinha do meio do Átrio. Parecia que estavam fechando o cerco.
O grito viera de um homem, que, ao aparatar – ou tentar -, fora dividido. Uma de suas pernas ficara no lugar enquanto o resto do corpo encontrava-se recostado à parede, olhando para a sua perna.
Umas pessoas correram para ele, perguntando o que acontecera.
- Eu não sei, não... Não sei. Aparatar... Sem perna... Tortinhas de caramelo... Sei?
Alguns dos funcionários ficaram num canto, conversando sobre as saídas do Ministério. Ou até mesmo sobre a sanidade do homem que acabara de tentar aparatar. Alguém mais deveria tentar? Afinal, se acontecera com a Rede de Flu, também poderia ter acontecido algo com o lugar. Não era Hogwarts que era protegida da mesma maneira?
A pergunta era: quem faria isso? Será que acontecia o mesmo em todos os outros andares do Ministério? Por que?
Os Weasley, Harry e Hermione se entreolhavam agora.
De repente a fila que se encontrava cada vez maior para sair do Ministério recuou, rápida demais, derrubando várias pessoas que não esperavam por isso. Gritos histéricos e pessoas chorando. Crianças chamando pelos pais. Homens e mulheres, olhando, pasmos, para o que se encontrava no Ministério.
Começara.
Algumas pessoas nem mesmo sabiam o que eram aquelas coisas, mas não podia ser coisa boa. Seria coincidência elas aparecerem logo depois de todas as saídas serem bloqueadas?
O que veio depois aconteceu muito rápido. Três Chimaeras avançavam contra as pessoas. E, ao terminarem, o que se via ao chão era apenas um corpo sem vida e cheio de sangue. A visão de tudo aquilo se tornou insuportável. A Sra. Weasley já havia começado a chorar, Gina se abraçava a Harry, com seu rosto colado no peito do garoto. Fred e Jorge olhavam tudo, mas apenas porque pareciam incapazes de se mover pelo medo. E Rony e Hermione estavam de mãos dadas, olhando tudo.
O Ministério já se encontrava em caos. Pessoas correndo, tentando se salvar. Ou até mesmo pessoas que pareciam ter desistido da vida, pois se postavam ao lado de parentes (maridos, filhos, etc.) mortos no chão sem ao menos se importar se eles seriam os próximos.
De repente o elevador parou no Átrio. Várias pessoas que saíram dele pareceram aliviadas. Isso antes de olharem ao redor.
O Sr. Weasley estava no meio dessas pessoas. Ele olhava, de um lado para o outro, vendo sangue, ouvindo gritos, sentindo a dor de muitos. Sabia que seu filho estava ali, tinha que encontrá-lo, tinha que... ter certeza.
Ele engoliu em seco e saiu correndo, junto com muitas outras pessoas.
O elevador não parava de descer, trazendo mais e mais gente para o Átrio. Fred disse, voltando para perto de todos depois que se deslocara para o elevador, que todos os andares estavam pegando fogo. E que cada vez que um bruxo tentava apagar as chamas, elas irrompiam com mais e mais força.
E então ele o viu. Abaixado, atrás de uma mesa virada, estava seu filho, chorando. Nem de longe parecia o Percy que se gabava por seu alto escalão no Ministério, que se gabava por dizer que seria o primeiro a enfrentar, qualquer coisa que viesse a acontecer.
O Sr. Weasley não pode segurar uma pontada de desgosto que surgia em seu peito. E logo pensou em Rony que, ao lado de Harry, já enfrentara muitas coisas também.
Rony olhava seu pai. Estava com lágrimas nos olhos agora. Ele não sabia, mas seu pai estava orgulhoso dele.
- Não podemos aparatar aqui. Um homem tentou e foi dividido. – Percy dizia rapidamente para o pai. Parecia muito apavorado.
- Então está como nos outros andares...
Os que visitavam a lembrança de Percy se assustaram com mais uma onda de gritos. Bem perto de onde se encontravam Percy e Arthur.
Eles recuaram, assustados. Mesmo que não soubessem o que eram aquelas coisas, estavam ali pelo mesmo motivo das Chimaeras.
Sem aviso algum ele seguiu em frente, na direção de Percy e do Sr. Weasley. Enterrou seu chifre na mesa em que os dois e mais algumas pessoas se protegiam e saiu. Os dois não entenderam porque o animal se retirara. De repente a mesa explodiu, lançando-os longe.
Separados pela força da explosão tentavam desesperadamente se encontrarem. Não era uma tarefa fácil. Outras pessoas estavam como eles, muitas outras.
A situação ficou ainda pior. O que descobriram que eram Erumpents – depois que Hermione dissera suas características e modo de agir – estavam perfurando pessoas também. Fazendo com que elas também explodissem e ferissem aos que se encontravam próximos da vítima.
O Sr. Weasley estava ferido na cabeça. Fora lançado mais uma vez para longe depois que um Erumpent atacou uma velhinha bem na sua frente. Meio tonto ergueu a cabeça e conseguiu ver percy, que corria ao seu encontro, abaixado.
- Pai! Pai, você está bem? – ele perguntava. Parecia completamente fora de si. Numa imagem deplorável. Chorando, os óculos tortos, roupa suja.
- Estou... Nós... Nós temos que sair daqui.
- Como? Não há como sair!
- A cabine. Temos que conseguir entrar na cabine. – disse o Sr. Weasley, fraco. Que se apoiava em Percy para andar agora.
Hermione deu um muxoxo alto e apontou para uns bruxos que se escondiam entre a fonte. Eles estavam com as varinhas empunhadas e soltavam os mais variados feitiços.
- Isso só vai piorar a situação... – ela disse. E os outros a olharam como quem se pergunta se haveria como aquela situação piorar.
Mas os olhares realmente deixaram suas faces. Era verdade.
Os feitiços lançados nas Chimaeras pareciam não produzir efeito e ricocheteavam no couro dos Erumpents, acertando pessoas e fazendo com que elas tombassem, tornando-as vítimas dos animais.
O pânico se instalara. Tudo parecia estar revirado, tudo estava manchado de sangue.
Tomando mais cuidado que nunca os dois iam, lentamente em direção à cabine. Não era bem sorte não haver fila. Muitas pessoas estavam se escondendo, preocupadas com suas vidas e a dos outros. E o Sr. Weasley via em seu próprio filho a falta de racionalidade. O medo fazia que as pessoas não pensassem muito bem.
Os Weasley, Harry e Hermione agora caminhavam atrás deles. Levavam sustos continuadamente quando pessoas os atravessavam, devido às explosões, quando os animais corriam rapidamente em sua direção, etc.
Eles chegaram à cabine. Tentaram a todo custo entrar, mas só havia lugar para mais um. Resolvendo não insistir mais e deixar que os outros fossem logo, o Sr. Weasley empurrou Percy para dentro e fechou a cabine.
A voz da mulher da cabine desejou a eles que voltassem sempre, o que fez umas pessoas sorrirem sarcasticamente. Enquanto um homem discava os números para a cabine começar a se movimentar o Sr. Weasley dizia:
- Diga a Molly que quero um jantar bem gostoso para hoje, acho que merecemos depois disso. Diga a Gina que eu me orgulho dela, que ela sempre foi minha princesa – nesse momento a Sra. Weasley e Gina se abraçavam, chorando –, diga para Gui honrar o nome da família Weasley e me dar vários netos...
- Não vou d-dizer nad-a pai... Diga você-ê! – Percy soluçava ao ver o pai do outro lado da cabine, com lágrimas nos olhos, como se ele estivesse se despedindo.
- Escute! Eu sei que vou sair daqui, mas... Caso algo venha a acontecer, quero que diga isso a eles. Me escute Percy! – ele disse aumentando o tom quando Percy abrira a boca para retrucar. – À Carlinhos que não deixe sua mãe desgostosa por aparecer cada vez com uma namorada nova, aos meus gêmeos – Fred e Jorge sorriram, fraquinho. – que eu os amo, que se pudesse riria com eles de cada piada, mas vocês sabem como é a mãe de vocês... – ele sorria agora, parecendo lembrar das coisas. – E ao meu menino caçula, peça para ele arrumar o tabuleiro de xadrez, é hoje que eu o derroto e diga que... - o que fez com que Rony abaixasse a cabeça, tentando conter as lágrimas.
Mas nem ao menos terminou de falar.
Ele não vira, mas Percy viu pelas costas do pai um Erumpent correndo, em sua direção, com o chifre preparado para golpear o Sr. Weasley.
Percy, tomado por uma coragem sem tamanho, abriu novamente a cabine sob os protestos das pessoas lá dentro. Apontou a varinha para o animal e...
- Petrificus Totalus!
O Sr. Weasley tinha razão. As pessoas realmente não pensam quando são tomadas pelo medo.
O que aconteceu a seguir foi muito rápido. Arthur, que levara um susto com o filho saindo repentinamente da cabine, pulou para o lado. Saindo assim do campo de visão do Erumpent, porém o feitiço de Percy batera em seu couro e acertou em cheio seu pai, fazendo-o cair, duro no chão. Logo o Erumpent cravou-lhe o chifre, levantando-o e se foi.
As pessoas de dentro da cabine rapidamente puxaram Percy para dentro, que se encontrava sem reação. Fora culpa sua...
Lentamente a cabine foi subindo e a última coisa que vira fora seu pai explodindo, dentro do Ministério.
Chegaram à rua trouxa e algumas pessoas disseram para ele aparatar logo, havia acabado. Diziam que era melhor que ele fosse para casa logo.
Achando melhor voltarem para A Toca devido ao estado da Sra. Weasley, saíram da lembrança de Percy.
O garoto continuava parado, onde estivera, chorando.
E Rony foi o primeiro a se postar em sua frente.
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