Capítulo 1



Capítulo 1


 


O outro lado não era nada do que ele esperava. Não que Draco tivesse tido tempo para esperar alguma coisa. Ainda estava assustado e cansado, com a adrenalina correndo em suas veias. O que teria acontecido com Severo? Ele teria escapado? O garoto preferia pensar que sim. Ao seu redor o mundo começava a entrar em foco e ele pôde perceber vários vultos ao seu redor.


- Ele está bem? – perguntou uma voz feminina.


- Não sei. – disse um rapaz. – Como será que chegou aqui? Vou chamar os Mestres.


Draco ouvia vozes conversando a sua volta e começou a abrir os olhos. A claridade o cegou momentaneamente, mas pessoas se voltaram para ele. Uma jovem morena, com cabelos lisos e castanhos e olhos mel, disse, ajudando-o a sentar:


- Não se preocupe, os mestres já estão vindo.


- Onde estou? - balbuciou ele.


- Somos nós que fazemos as perguntas, estranho. – falou outra jovem, mais afastada. Ela tinha a pele muito branca, com bochechas levemente coradas, e olhos e cabelos castanho-escuros.


- Agnes, cadê a sua educação? – perguntou uma loira à garota.


- Ora, não devemos revelar nosso paradeiro para desconhecidos, ou você não se lembra dessa regra, Lauren? – o tom de voz era irônico, mas tinha uma ponta de diversão.


- Ah... Esquece, você é muito chata.


Agnes se preparou para responder, mas uma voz séria calou-a:


- Já chega, meninas. Esse rapaz precisa de cuidados, não de discussões.


Uma mulher, já por volta dos 40 anos, aproximou-se dele e perguntou:


- Como se sente?


- Estou tonto pela queda, mas é só.


- Que bom. Quem é você? E como chegou até aqui?


- Meu nome é Draco. Sou um renegado. Meu antigo professor, Severo Snape, me salvou e por ordem de Dumbledore me mandou aqui. Eu atravessei um portal conjurado por ele.


- Sim, agora sei quem é. Mas estávamos esperando-o há mais de um ano... O que aconteceu? – ela o ajudava a se levantar.


- Tivemos que nos esconder durante meses em uma cidade trouxa para escapar das perseguições e fizemos a viagem como trouxas para não levantar suspeitas.


- O que houve com Severo Snape? – eles caminhavam até uma casa de pedra, não muito longe, com as garotas seguindo-os.


- Não sei. Assim que o portal se abriu, nos fomos atacados. Ele me empurrou e acho que lacrou o portal.


- Sim, deve ter sido isso. Vamos descobrir o que aconteceu depois. Julie! – chamou a mulher. – Pegue uma bacia. Deve procurar por Severo Snape, ex-professor de poções de Hogwarts. Não creio que será difícil encontrá-lo, mas tenha cuidado.


- Sim, mestra. – a morena disse. Draco pôde reparar como seu cabelo era comprido e como ela era bonita.


- Lauren! – a loira se apresentou. – Avise na cozinha que teremos mais um para o jantar e traga um lanche para nosso novo amigo, que deve estar faminto.


Aquilo era verdade. Draco não comia nada há dois dias. Com um balanço suave, a garota foi fazer o quê lhe havia sido pedido.


- Draco, eu sou Cailleach, Mestra de Gia. Gia significa terra e foi como nomearam esse lugar. Ninguém sabe realmente onde fica e existe apenas um encantamento capaz de trazê-lo aqui. Poucos o conhecem, sendo um deles meu querido amigo Alvo, que já está nos braços dos Deuses. Aqui você está em segurança, mas terá de voltar ao seu mundo para cumprir a missão que lhe foi designada. – Lauren voltou e estendeu-lhe um pequeno prato de madeira com um pão e duas maçãs. – Bem, é isso. Agnes! Leve-o para conhecer os dormitórios e apresente-o para Galen. Seja bem vindo, Draco. Que os Deuses o ajudem.


O rapaz apreciou a comida e agradeceu à mulher. Algumas respostas já haviam sido suficientes. Ainda queria saber sobre Severo, mas sabia que teria que esperar. Durante esse tempo que passara foragido, ele aprendera a ter um pouco mais de respeito e paciência. Foram duas novas qualidades que o mantiveram vivo por tanto tempo em meio à guerra. Draco seguia a garota e tentava decorar os locais que ela mostrava. Salão, Casa da Cura, Pomar, Horta, Casa de Armas, Casa da Magia... Parecia uma vila antiga. Reparou então nas roupas que todos usavam por ali. A todo o momento encontravam uma moça ou um rapaz, que cumprimentavam Agnes e acenavam para ele. Vestidos de verde e marrom, em diversas combinações e em vários tons. Porém, a Mestra usava um longo vestido prata e as três meninas que ele havia visto primeiro, inclusive sua guia, usavam branco. Aos poucos, uma enorme casa foi aparecendo à sua frente. Tinha três andares e, pela quantidade de janelas, parecia ser um dormitório.


- Aqui é o Dormitório. – eles entraram e ela apontou dois corredores. – Direita, meninos. Esquerda, meninas. Seu quarto vai ser no último andar, só temos mais um vago. – entraram no corredor da direita, cheio de portas dos dois lados, e subiram a escada. No segundo andar, tudo era igual ao primeiro. Enfim, o terceiro. Também cheio de portas, mas Draco foi guiado à última, no fim do corredor. Agnes abriu a porta e entrou para abrir as janelas. – Nós não temos chaves por aqui, mas você pode deixar sua porta fechada. Existe um banheiro por andar e eu sugiro que tome um banho antes do jantar, está fedendo como um porco. – Ela foi até um baú e o abriu. – Nesse baú tem roupas que servirão em você. Preste atenção que só vou explicar uma vez: roupas brancas para o jantar e para os rituais. Para todo dia, tem alguns conjuntos nas cores daqui, verde e marrom. Entendeu?


Draco acenou com a cabeça, como um sim. Entretanto perguntas fervilhavam em sua mente. Agnes sentou-se na única cadeira do quarto e falou:


- Certo, pode perguntar. Só não garanto que vou poder responder.


Impressionado, ele perguntou:


- Você é legilimente?


A garota riu.


- Claro que não! Aqui nós aprendemos além de magia e luta, sobre os seres, humanos e animais, e você é como um livro aberto para todos.


- Nossa... Por que você e as outras meninas usam branco?


- Por que sim.


- Quantas pessoas vivem aqui?


- Atualmente... Deixe-me ver: temos os Mestres, Cailleach e Galen. Temos os mais velhos: Arion, Caleb, Alísia e Karim. São eles que dão as aulas. Nós, aprendizes, contando com você, somos 26 pessoas, entre meninos e meninas de várias idades.


- O que os aprendizes fazem?


- Principalmente nós estudamos. Lutas, Magias, Línguas, Cura... Tudo que possa nos ajudar na vida lá fora. E nos revezamos nos trabalhos.


- Como assim, trabalhos?


- Como você viu, Julie, Lauren e eu somos ajudantes da Mestra. Galen também têm três ajudantes. Os menores trabalham na horta ou no pomar, com alguma supervisão. Já os maiores estão na cozinha ou na Casa da Cura. E uma vez por semana todos os aprendizes se reúnem para a limpeza geral.


- Que tipo de magia se aprende aqui?


- Toda a magia que você estuda, mas de uma maneira diferente, mais ligada à natureza. Tudo tem o mesmo efeito, mas não precisamos de varinha.


- Que bom! – disse Draco.


- Que bom por quê? – perguntou ela, intrigada. Essa sempre era a parte que assustava os novatos.


- É que já faz mais de um ano que eu perdi minha varinha.


Ela sorriu... Ele falara de modo tão espontâneo e sem preocupação!


- Você está muito diferente, Draco. Acredito que amadureceu bastante nestes dois anos.


O jovem não entendeu... Como ela sabia disso?


- Você já me conhecia?


- Não exatamente. A Mestra nos contou tudo que o tal de Dumbledore havia dito e nos mostrou as lembranças que ele enviou. – Agnes disse. – Que bom que você não é mais aquele garoto arrogante e metido, por que não iria sobreviver aqui se fosse.


Apesar do ar de descontração, o brilho dos olhos prata se apagou. Draco passara por muita coisa, coisas que ele sequer imaginara serem possíveis. Vira mortes, sangue, fome, doença. Tinha machucados exteriores e interiores para provar. A garota percebeu a mudança de humor dele e disse:


- Olha, desculpa... Não pretendi que soasse daquele jeito, mas eu não vou mentir sobre isso. Sei que passou por muita coisa e, acredite, eu também passei. A maioria aqui sofreu muito, mas está se recuperando. Alguns são órfãos, outros fugiram de abusos. Alguns perderam tudo com a guerra. Se precisar conversar, sempre terá um ombro amigo e quando descobrir sua missão, todos iremos te ajudar.


Draco ficou impressionado pelas palavras da garota. Ela parecia tão jovem...


- Sugiro que vá logo para o banho, os meninos já estão voltando para se prepararem para o jantar. – disse Agnes, empurrando algumas roupas e uma toalha. – O que mais você precisar tem no banheiro. Estarei esperando na sala de entrada.


- Só mais uma pergunta. – disse ele. – Por que você foi tão grossa, primeiro, e agora está sendo tão gentil?


- Grossa? Ah! Já sei, naquela hora em que você surgiu do nada?


- É.


- Porque eu sou assim. Especialmente com estranhos. Talvez um dia eu te conte o motivo.


A garota saiu e ele ficou mais confuso ainda.


O banheiro era simples. Todo branco e imaculadamente limpo. Muito diferente dos últimos em que estivera. Ali havia um chuveiro, um objeto trouxa adaptado pelos bruxos, e a água era bem quente. Deixou o corpo magro, mas forte, relaxar sob a água. Os cabelos loiros, agora longos – muito parecidos com os do pai – foram lavados e cortados. Em menos de meia hora, Draco pôde finalmente se reconhecer no espelho. Vestiu as roupas brancas e saiu. Já havia dois garotos esperando do lado de fora, e o primeiro da fila correu para dentro. Será que demorara tanto?


 


Agnes já havia tomado banho e se arrumado, assim como Julie e Lauren. As três conversavam, animadas, com os ajudantes de Galen: Phelan, um garoto de 17 anos com cabelos cacheados, Isar, com a pele negra e cabelos lisos e Daros, um loiro alto. Draco estava demorando. – pensava ela. Naquele momento uma menininha de quase cinco anos entrou correndo e abraçou Julie.


- Ju, Ju!! Me levanta!


Todos riram e Julie fez a vontade da menina. Ela tinha cabelos escuros, como a mãe, e olhos azuis, como o pai. Era uma perfeita boneca e Julie se divertia com a tarefa de tomar conta dela. A porta se abriu novamente e Galen, Mestre de Gaia, entrou no alojamento dos aprendizes.


- Micel?


Os seis fizeram reverências, mesmo Julie com a menina nos braços.


- Olá, meus jovens. Vejo que minha filha os encontrou novamente. Espero que Micel não esteja atrapalhando seus afazeres, Julie.


- Impossível, Mestre! É um prazer brincar com ela. – disse a morena, piscando para a menina.


Galen, um homem alto e largo, com cabelos ruivos e os mesmos olhos da filha, colocava medo naqueles que não o conheciam. Mas, para os aprendizes, ele era como um pai e sua gentileza era sua característica mais marcante. Julie colocou a menina no chão, que correu para o pai.


- Soube que temos um aprendiz novo. – disse ele, passando os olhos pelos jovens.


- Ele está tomando banho, Mestre. – falou Lauren. – Agnes achou que ele estava fedendo demais.


Agnes corou, mas se defendeu:


- Não posso permitir que Draco fique solto pela vila naquele estado. Não via água há semanas... Que exemplo daria para os mais jovens?


Todos riram, inclusive o mestre.


- Acho que ela tem toda razão. – Draco disse. – Eu realmente precisava de um banho.


O cabelo voltara a ser loiro claro e os olhos pratas voltaram a ter brilho. O rosto estava limpo e algumas cicatrizes finas e claras podiam ser vistas nas laterais do rosto e no pescoço.


Galen se adiantou, ainda com Micel nos braços e disse:


- Seja bem vindo, Draco. Que os Deuses o ajudem. Sou Galen, Mestre de Gaia. O que precisar, pode pedir para qualquer um de seus novos amigos que eles mesmos o ajudarão ou o levarão a mim, certo?


- Sim, obrigado.


- Muito bem, agora preciso ir para o Salão. – colocando a menina no chão, ele saiu.


Micel correu para dar a mão para Julie, enquanto Draco era apresentado para o resto do grupo.


Alguns minutos depois, vários aprendizes foram chegando e Draco foi sendo apresentado.


- Duvido que eu lembre os nomes de todos. – sussurrou ele para Agnes.


A menina riu e disse:


- Sem problema, você aprenderá com o tempo... Foi igual para todos nós.


Enquanto isso Isar e Lauren conferiam se todos estavam presentes. Quando a última aprendiz chegou, Lauren pediu:


- Gente! Formem as filas, por favor! Não podemos atrasar!


Dos menores para os maiores, as filas foram arrumadas. Meninos na direita e meninas na esquerda. Lauren ia à frente e Isar, por último.


- Isso é todo dia? – perguntou Draco.


Agnes fez que sim com a cabeça.


- É uma tradição. Na maioria das vezes todos se organizam sozinhos, mas a chegada de alguém novo sempre causa confusão.


As enormes portas duplas do Salão se abriram juntas, fazendo Draco se lembrar de Hogwarts. Agnes disse:


- Isso foi presente de Dumbledore há seis anos.


O próprio Salão o fazia lembrar-se de Hogwarts. Uma mesa retangular num patamar ao fundo e duas mesas compridas no meio. Em uma escala bem menor, era o próprio Salão Principal da escola. Lauren separou as filas: em uma mesa, os pequenos. Na outra, os maiores. A refeição foi servida e os Mestres abençoaram a todos, agradecendo por aquela dádiva. Disseram também algumas palavras sobre a chegada de Draco e então todos puderam comer. O garoto se esforçou para ser educado, comendo devagar, mas a fome ainda persistia, fazendo-o repetir várias vezes.  Ao seu lado estavam sentados os discípulos de Galen e à sua frente, as discípulas de Cailleach. Ele realmente estava se sentindo um estranho deslocado ali. Agnes ria de uma piada que ele não ouvira, junto com Julie, enquanto Lauren conversava com Daros em voz baixa. Todos no Salão conversavam com os vizinhos, ninguém apenas comia – excluindo Draco. De repente, Agnes virou-se para ele e disse, brincando:


- Não se preocupe, nós também temos café-da-manhã! – fazendo os mais próximos rirem. Julie falou:


- Agnes, pare de brincar com a cara do Draco. O coitado está desnutrido!


- Calma, maninha! Foi só uma brincadeira inofensiva!


Draco balançou a cabeça e sorriu:


- Obrigado Julie, mas pode deixar... Afinal, é difícil esquecer que eu existo, não é Agnes?


A risada foi geral e o rosto da menina parecia que ia explodir, de tão vermelho que ficou. Quando as pessoas se acalmaram, ela disse:


- Muito bom, Draco... Um adversário à minha altura.


Ele apoiou os cotovelos na mesa e se aproximando do rosto dela, falou:


- Na verdade, eu sou mais alto que você.


Dessa vez, apesar de corada, até Agnes riu.


A refeição acabou e um dos anciões começou a tocar uma canção em um violão. Draco conversava em voz baixa com alguns dos novos amigos, mas viu quando Lauren e Julie, furiosas, puxaram Agnes para uma conversa particular. Com a desculpa de que ia ao banheiro, seguiu-as.


- Agnes, preste atenção!


- Gente, eu estou ouvindo! Não tem nada entre nós, o que vocês estão pensando? Draco acabou de chegar, nem o conheço!


- Daros está muito chateado, maninha. – falou Lauren. – Você deixou que ele viesse na fila sozinho!


Agnes riu.


- Ele não está grande demais para se preocupar com essas coisas?


- Nós seis, discípulos diretos dos Mestres, devemos ficar juntos! – continuou Lauren.


- Meninas, Daros e eu nunca vamos dar certo! Julie está com Phelan e eles se entendem. Eu só estou fazendo o que Cailleach me mandou... Estou ajudando-o.


- Cuidado. – disse Julie. – Lembram da profecia que fiz para você Agnes?


- Lembro.


- É ele. Um pouco mais novo, mas é ele mesmo. Reconheci-o na hora em que o vi, mas achei melhor ficar calada.


Agnes abraçou as amigas e disse:


- Gente, está tudo bem. Vai dar tudo certo. Estamos unidas. Sadine logo estará aqui. Então só faltará uma de nós. Vamos cumprir nossos destinos e rezar aos Deuses.


- Só mais uma coisa. – disse Julie, com uma Lauren emburrada atrás. – Minha visão teve uma variável. Draco é fundamental. Ou você fica com ele, ou você não irá sobreviver à batalha final.


- Julie, será como a Deusa quiser. – falou Agnes, serenamente. – E mesmo assim, sempre posso mudar meu caminho, você já deveria saber disso!


- É crime eu me preocupar com a minha irmãzinha caçula? – perguntou a morena.


- Claro que não, maninha do meio! - disse Agnes novamente. - Vocês sabem que eu amo vocês, né? Agora vamos! Eu adoro as músicas do Arion! – a menina soltou as amigas e correu de volta para o Salão, por pouco não esbarrando em Draco.


Enquanto isso, Lauren e Julie voltavam devagar e Lauren comentou:


- Ela não cresce.


- Ainda tem tempo. É difícil deixar a infância sem um bom motivo. Phelan foi o meu. Ela só tem que achar o mais adequado.


Draco fingia ouvir as canções tocadas, mas sua mente trabalhava sem descanso. O futuro daquela menina estava ligado ao dele? Ela morreria por sua causa? Daros, que parecera tão simpático, teria ficado com raiva dele?


- Oi. – Lauren sentara à sua frente. – Eu sei que você ouviu nossa conversa.


- Como? – ele perguntou, enquanto ecoava em sua cabeça: Droga! Ela me ouviu!


- Não, você não fez barulho algum.


- Ok, não é possível. Você lê mentes?


- Sim.


- Droga. Sim, eu ouvi a conversa. Desculpe.


- Você está desculpado. Mas já que ouviu, sabe o quê vim falar com você.


- Para ficar longe de Agnes?


O semblante da menina se fechou.


- Eu jamais lhe diria uma coisa dessas. Vim falar que as visões de Julie são extremamente precisas. Daqui a poucos meses Julie voltará para nosso mundo e depois serei eu. Agnes tem uma missão que envolve você, então, tudo o que lhe peço, é para mantê-la segura. Minhas irmãs são o mais próximo de uma família que posso ter. Meus pais vivem na França e são trouxas. Eu tenho um irmão que vi nascer, mas não vejo desde que era um bebê. Mesmo depois da Guerra, se vencermos, não sei se poderei vê-los. Elas são minha família... E pretendo manter todas bem.


Draco estava surpreso, mas Agnes lhe dissera que havia muitas dessas estórias naquele lugar. O olhar escuro e profundo da loira o fez dizer, sem sequer pensar a respeito:


- Eu prometo. Vou mantê-la segura.


Lauren pareceu voltar a respirar e foi até Julie. Elas voltaram a conversar, mas parecia ser sobre outras coisas. Agnes conversava com Daros ali perto, mas todos os outros prestavam atenção ao músico. Em alguns minutos, a última canção terminou e Cailleach mandou todos para a cama:


- Boa noite, meus jovens. Amanhã começaremos cedo. Não se atrasem.


 


A noite estava muito bonita. O céu estava estrelado e a lua cheia aparecia sobre as cabeças dos jovens. A organização da ia estava terminada e eles voltavam em pequenos grupinhos alegres, conversando. Draco voltava sozinho, até alguém segurá-lo pela larga manga da túnica.


- Oi Draco. – disse Agnes. – Tudo bem?


- Tudo. E você?


- Tudo certo.


- Resolveu as coisas com seu namorado?


- Com quem? – perguntou ela, surpresa.


- Seu namorado, Daros, não é?


- Ele não é meu namorado, mas não que isso seja da sua conta. Eu devo te ajudar, mas se não for educado pode esquecer. Não vou ficar aturando esses comentários tolos. – disse Agnes, brava, já se distanciando. Draco a alcançou e falou:


- Desculpe, não sei o que aconteceu, mas não foi minha intenção te deixar brava ou chateada.


- Tudo bem, mas que isso não se repita. Sou sua amiga, brinco com você e te ajudo quando precisa, mas não quero certos comentários inúteis.


- Ok, entendi. Não vai se repetir. Amigos? – perguntou ele, estendeu a mão.


- Amigos. – disse ela, sem aceitar a mão estendida.


- Ora, não vai selar nosso pacto? – brincou ele.


- Só se você quiser se queimar. – disse Agnes.


 


O dia ainda não havia amanhecido quando Draco foi acordado por uma batida na porta. Levantando-se no escuro, ele deu sorte por não haver muitos móveis no quarto, caso contrário teria tomado um tombo feio. Foi até a porta e abriu-a. Lauren estava ali e disse:


- Vista-se. O café-da-manhã começa em poucos minutos. Depois temos aulas. Não sei se Agnes lhe disse, mas deve colocar as roupas verdes e marrons para treinar.


- Sim ela me disse, obrigado. Mas, por que você está de branco?


- É diferente. Troque-se, estamos esperando lá embaixo.


- Ok, obrigado.


O café foi bem mais divertido e calmo. Parecia que todos ainda cochilavam e, assim que saíram do Salão, o Sol começava a aparecer. Julie, Lauren, Agnes, Isar, Daros e Phelan estavam com grupos separados, levando-os para as aulas. Agnes levava as crianças menores para o pomar. Isar ia para a horta com um grupo de seis crianças. Daros e Phelan levavam os que iam para a Casa de Armas e Julie e Lauren se dirigiam para a Casa da Magia. Perdido, ele teve que esperar um sinal de Lauren para saber aonde deveria ir.


- Fique mais atento Draco. Você tem 18 anos, então fique com quem tem sua idade. Ouvindo o que a garota dizia, ele reparou ao redor e viu que estavam separados realmente por idade. Era uma boa dica para ele seguir.


A Casa da Magia possuía dois andares, sendo o primeiro uma sala de treino e o segundo algumas salas de aula. Ali eles foram divididos e Arion chegou. Julie, Lauren, Draco e mais um aprendiz deveriam ficar ali. Os outros deveriam subir para ter aulas teóricas com Alísia. Eles trocariam em turnos.


O professor mandou-os praticar feitiços de batalha em alguns bonecos de pano. Seguindo o exemplo dos demais, Draco lançou um feitiço... Destruindo toda a lateral de seu boneco. Lauren estava impressionada com o que viu. Draco já fazia feitiços de batalha sem a ajuda da varinha! Ela fora encarregada de ensiná-lo isso e, pelo visto, seria bem mais fácil do que ela imaginara.


- Nossa Draco! Não sabia que você fazia magia sem varinha. – comentou Lauren.


Ele sorriu, um pouco cínico, e respondeu:


- Existem muitas coisas que você não sabe.


- Posso dizer o mesmo pra você. Apesar de estar impressionada com seu avanço, seus feitiços ainda são muito previsíveis.


- Como assim? – perguntou ele, com um pouco de curiosidade aparecendo em seu olhar.


- Do seu jeito, mesmo sem falar, você mostra ao adversário o que vai fazer. Precisa ser muito, muito mais sutil.


Como para provar o que falara, Lauren acertou o boneco com o mesmo feitiço que ele estava treinando, porém Draco nem sequer viu o encantamento ser lançado. Surpreso e impressionado, o rapaz pediu:


- Me ensine a fazer isso.


A garota sorriu e começou a explicar sobre os feitiços, enquanto Arion se concentrava em seus outros alunos.


 


Eles passaram a manhã inteira praticando, mas foram liberados quase uma hora antes do almoço. Draco se sentia acabado, mas já havia dominado vários feitiços não-verbais e sem varinha... O que era um grande avanço!


 


Julie se encontrava em um lago próximo a vila e encarava sua superfície calma. Ainda não conseguira localizar Severo Snape e começava a achar que ele estivesse morto. Phelan sentou-se ao seu lado, sem perturbá-la. A menina percebeu a presença do namorado e voltou a realidade. Precisava contar à ele sobre seu futuro, sobre os planos da Deusa para ela.


- Atrapalhei? – perguntou ele.


- Não. Mas eu preciso te contar uma coisa.


- O que? Aconteceu alguma coisa?


- Mais ou menos. Cailleach me deu a minha data de partida. Vou voltar ao nosso mundo em cinco meses.


O garoto ficou com lágrimas nos olhos.


- Você não vai voltar, não é?


- Você sabe que jamais poderei voltar.


- Não vá. Fique aqui.


- Não é minha escolha. Devo seguir as vontades dos Deuses.


- Vamos ficar juntos então. Pelo menos nesses meses que faltam.


- Nós vamos ficar machucados, Phe.


- Você prefere terminar agora?


- Eu não prefiro nada. Acho que você sente mais por mim do que sinto por você. Sinto que somos diferentes demais, que queremos coisas diferentes demais. Para quê insistir nisso se nunca mais vamos nos ver?


- Você tem razão. Não que eu concorde em você ir para aquela guerra, devia ter feito como eu... Deram-nos a escolha de ir ou não. Por que você disse sim?


- Porque foi preciso. Porque meu destino não é aqui. Porque meu destino não é você.


- Esse é o fim? – perguntou ele, vendo-a se levantar.


- Sim, Phelan. É o fim do nosso namoro, mas podemos ser amigos.


- Me dê algum tempo, Ju. Voltaremos a ser amigos, mas preciso de paz agora.


- Desculpe por isso.


- Não, a culpa é minha lembra? Você me avisou que não teríamos futuro e eu insisti mesmo assim... Mas você sabe que sempre terá um lugar no meu coração, certo?


- E você no meu. – disse ela, abaixando-se para abraçá-lo.


Pouco depois ela o deixou ali, sozinho com seus pensamentos e foi procurar Cailleach.


Precisava avisar que Severo Snape estava morto.


 


Draco passeava pelo pomar. Algo o tinha puxado naquela direção e ele simplesmente seguira o impulso. Caminhando pelo meio das árvores, o rapaz viu Agnes com quatro crianças pequenas que corriam em todas as direções. Percebeu que a filha de Galen estava lá, de mãos dadas com a garota mais velha. Eles brincavam de pega-pega e Draco riu enquanto Agnes tentava pegar alguma das crianças, tendo que carregar Micel.  Quando estava quase alcançando um dos meninos, ela olhou bem na direção onde Draco estava e acenou para ele, chamando-o. Como ela sabia que eu estava aqui? – pensou ele.


- Gente, olhem quem estava nos espionando! – falou Agnes brincando com as crianças. – Vamos contar para o Draco o que nós fazemos com espiões?


A brincadeira despertou péssimas lembranças nele. A época, pouco antes de ele fugir, em que Voldemort achava que ele era um espião da Ordem. Foram intermináveis torturas físicas e mentais, além de castigos humilhantes e tarefas odiosas. E quando tentara pedir ajuda à Ordem fora rechaçado e tratado como espião. As memórias lotaram sua cabeça, numa confusão sem limites. Então, ele desmaiou.


- Draco... Draco... – uma voz suave o estava chamando. Será que tinha morrido?


Abriu os olhos e as crianças ao seu redor o lembraram de onde estava. Uma mão suave e branca tirou as mechas que estavam caídas em seu rosto. Estava com a cabeça apoiada no colo de Agnes e as crianças, ao verem que ele estava bem, voltaram a brincar.


- Você está bem? – perguntou ela. – Desmaiou do nada!


- Estou melhor, obrigado. Foram apenas lembranças ruins. – respondeu ele, levantando-se. – Então, posso brincar com vocês?


- Claro!


 


Da janela da cozinha, Julie observava a cena. Não havia nada que pudesse fazer, mas ela não tinha certeza de que Agnes já entendera o que estava acontecendo. E esse era o maior perigo. Lauren juntou-se a ela, e viu os dois jovens brincando com as crianças. Draco carregava Micel e Agnes tentava pegá-los.


- Isso vai dar certo? – perguntou a loira à amiga.


- Sabe que eu não sei... – a morena fez uma pausa. - Tenho que contar uma coisa pra você.


- Fala. – disse Lauren, ainda olhando através da janela.


- Eu vou embora, em cinco meses a partir da semana que vem.


- Eu sei. – disse a menina, encarando-a. – Sua mente jogou essa informação para a minha assim que soube. Só que eu achei que você iria preferir me contar, por isso não disse nada.


Elas se abraçaram.


- A Agnes já sabe? – perguntou Lauren.


- Ainda estou reunindo coragem. – respondeu Julie.


- O quê está havendo? – perguntou Daros, entrando na cozinha com um saco de legumes nas mãos. Vendo ambas olhando o pomar, ele olhou também. E o que viu não o agradou. Draco estava tentando pegar Agnes, que carregava duas crianças pelas mãos. A raiva tomou seus olhos e ele fechou os punhos.


- Ela não é sua, Daros. – disse Lauren.


- Mas deveria ser.


 


As três se reuniram após o jantar no quarto de Julie. A menina já havia contado que terminara com Phelan e precisava cumprir duas missões naquele momento: contar que iria embora dali a alguns meses e que o mentor de Draco estava morto.


- Agnes, eu preciso te contar uma coisa.


- O quê?


- Promete que não vai ficar triste nem fazer um escândalo?


- Prometo... Ou será que não deveria? – perguntou ela com uma das sobrancelhas levantadas.


- Eu vou voltar, maninha. E Sadine não virá para cá. Ela foi transferida para Hogwarts e eu vou voltar ao nosso mundo a tempo do início do próximo ano letivo.


- Mas... Ju, faltam menos de seis meses!


- Eu sei.


Agnes fez cara de choro, mas agüentou. Sua amiga precisava de força naquela hora, não de lágrimas.


- Boa sorte, amiga. Mas não esqueça que logo estaremos com você!


As meninas riram. Ia ficar tudo bem.


- Tem mais uma coisa.


- Minha Deusa, só falta ela dizer que está grávida! – brincou Agnes.


- Não, eu não estou grávida... Mas Severo Snape está morto.


- O mentor de Draco? – perguntou Lauren.


- Ele mesmo. E Cailleach disse que é melhor uma de nós dar a notícia. Não acho que eu seja uma boa opção.


- Nem eu. – disse a loira. – Me deixa fora dessa.


As duas encararam Agnes.


- Como vocês esperam que eu faça isso? Eu não tenho tato lembra?


- Tem sim, maninha! Com o Draco você tem! Vai ser difícil, nós sabemos... Mas ele gosta mais de você.


- Gente, ele viu o amigo vivo há poucos dias. Vai ser um choque muito grande. Não é melhor pedir a Cailleach que fale com ele? Ou talvez Galen?


- Eu acho melhor você, Agnes. – falou Lauren.


- Eu também. – completou a morena.


- Vamos deixar para amanhã então?


 


Quase sendo arrastada pelas amigas, Agnes parou na porta de Draco. Ela bateu na porta e as meninas desapareceram escada abaixo. O loiro abriu a porta e disse:


- Oi.


- Oi. –Agnes engoliu em seco. - Draco, preciso te contar uma coisa séria.


- Entra. – ele abriu mais a porta e deu passagem para a garota.


Para a surpresa dela, ele estava apenas de calça. Marcas e cicatrizes eram visíveis em seu tronco e em suas costas, a pele clara completamente machucada.


- Não são bonitas, eu sei. – disse ele, colocando uma camisa.


- São suas, Draco. Mostram sua vida e tudo o que você já suportou. Não tenha vergonha delas.


- Não sei se tenho. Mas, o que você ia me falar mesmo?


- É um assunto delicado, Draco. É sobre Severo Snape.


- Julie o encontrou? Ele está bem? Está vivo? – o rapaz a segurou pelos ombros, a ansiedade visível em seu rosto.


- Não. Ele está morto desde que você cruzou o portal. Sinto muito.


Agnes sentiu as mãos dele ficarem frias. Draco sentou-se na beirada da cama.


- Obrigado por me contar.


- Você vai ficar bem? – perguntou ela, sentindo algo doer muito em seu interior.


- Sim. – ele apertava as mãos, machucando as palmas.


Draco sentiu Agnes colocar suas mãos entre as dela e um calor suave tomou conta de seu corpo.


- O que é isso? – perguntou ele.


- Lembra quando eu não podia apertar sua mão?


- Você disse que ia queimar.


- Ia mesmo. Eu controlo o fogo, mas ele controla as minhas emoções. Por isso algumas vezes eu queimo coisas. Além da Mestra e de Julie e Lauren, ninguém sabe disso. Peço para guardar segredo, por favor.


- Eu vou.


Draco se levantou e abraçou-a. Sentia dor, muita dor pela perda do amigo. Ele morrera para salvar sua vida. Mas naquele momento, Draco se sentia em casa.


 


No corredor, Lauren e Julie tentavam ouvir alguma coisa.


- O que está acontecendo? – perguntou uma voz atrás delas. – Vocês não podem ficar aqui.


- Estamos esperando Agnes. A Mestra pediu para passar uma informação importante para Draco.


Daros, Phelan e Isar não detectaram mentira nas garotas e acabaram indo para seus próprios quartos. Mas a raiva era um sentimento muito poderoso. E crescia em Daros e em Phelan.


 

N/A: A fic está sendo reescrita a todo vapor. Espero que gostem! Bjks

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